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Poderemos curar doenças genéticas reescrevendo o ADN?

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    O presente mais importante
  • 0:03 - 0:06
    que a vossa mãe e o vosso pai
    alguma vez vos ofereceram
  • 0:06 - 0:08
    foram dois conjuntos
    de 3 mil milhões de letras de ADN
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    que compõem o vosso genoma.
  • 0:10 - 0:13
    Mas como qualquer coisa
    com 3 mil milhões de componentes,
  • 0:13 - 0:14
    esse presente é frágil.
  • 0:15 - 0:18
    O sol, o fumar,
    uma alimentação pouco saudável,
  • 0:18 - 0:21
    até mesmo erros naturais
    das vossas células,
  • 0:21 - 0:23
    tudo provoca mudanças no vosso genoma.
  • 0:25 - 0:28
    O tipo mais comum de mudança no ADN
  • 0:28 - 0:32
    é a troca simples de uma letra,
    ou base, como um C,
  • 0:32 - 0:36
    por uma letra diferente,
    como um T, um G ou um A.
  • 0:37 - 0:40
    Num dia comum, as células do corpo
    acumularão, no seu conjunto,
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    milhares de milhões dessas trocas
    de uma letra,
  • 0:44 - 0:46
    também chamadas de "mutações pontuais".
  • 0:46 - 0:49
    A maioria dessas mutações é inofensiva.
  • 0:49 - 0:51
    Mas de vez em quando,
    uma mutação pontual
  • 0:51 - 0:54
    perturba uma aptidão importante
    numa célula,
  • 0:54 - 0:57
    ou faz com que uma célula
    tenha um comportamento nocivo.
  • 0:58 - 1:01
    Se essa mutação fosse herdada
    dos vossos pais,
  • 1:01 - 1:04
    ou ocorresse cedo o suficiente
    no vosso desenvolvimento,
  • 1:04 - 1:07
    então o resultado seria que muitas,
    ou todas as vossas células,
  • 1:07 - 1:09
    conteriam essa mutação nociva.
  • 1:09 - 1:12
    Então, vocês estariam
    entre as centenas de milhões de pessoas
  • 1:12 - 1:14
    com uma doença genética,
  • 1:14 - 1:17
    como a anemia falciforme, a progéria,
  • 1:17 - 1:20
    a distrofia muscular
    ou a doença de Tay-Sachs.
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    As doenças genéticas graves
    causadas por mutações pontuais
  • 1:25 - 1:28
    são especialmente frustrantes
    porque sabemos frequentemente
  • 1:28 - 1:30
    a exacta alteração de letra
    que causa a doença
  • 1:30 - 1:35
    o que, em teoria, poderia curar a doença.
  • 1:35 - 1:38
    Há milhões de pessoas
    a sofrer de anemia falciforme
  • 1:38 - 1:41
    porque têm mutações pontuais
    de um A para um T
  • 1:41 - 1:44
    em ambas as cópias
    do seu gene da hemoglobina.
  • 1:46 - 1:51
    As crianças com progéria nascem com um T
    numa posição única no seu genoma,
  • 1:51 - 1:53
    onde nós temos um C,
  • 1:53 - 1:57
    com a devastadora consequência
    de estes miúdos maravilhosos e brilhantes
  • 1:57 - 2:01
    envelhecerem muito rapidamente
    e falecerem por volta dos 14 anos.
  • 2:02 - 2:04
    Ao longo da história da medicina,
  • 2:04 - 2:07
    não temos tido uma forma
    de corrigir eficazmente
  • 2:07 - 2:09
    as mutações pontuais em sistemas vivos,
  • 2:09 - 2:12
    para mudar aquele T,
    que os adoece, para um C.
  • 2:13 - 2:15
    Talvez até agora,
  • 2:15 - 2:20
    porque recentemente o meu laboratório
    conseguiu desenvolver essa capacidade,
  • 2:20 - 2:22
    a que nós chamamos "edição de bases".
  • 2:23 - 2:26
    A história de como desenvolvemos
    o editor de bases
  • 2:26 - 2:28
    começou, na verdade,
    há três mil milhões de anos.
  • 2:29 - 2:32
    Nós pensamos nas bactérias
    como fontes de infecção,
  • 2:32 - 2:35
    mas as bactérias propriamente ditas
    também são propensas a ser infectadas,
  • 2:35 - 2:37
    em particular por vírus.
  • 2:38 - 2:40
    Então, há cerca de 3 mil milhões de anos,
  • 2:40 - 2:42
    as bactérias desenvolveram
    um mecanismo de defesa
  • 2:42 - 2:44
    para combater a infecção viral.
  • 2:46 - 2:49
    Esse mecanismo de defesa é agora
    mais conhecido por CRISPR.
  • 2:49 - 2:52
    E a bomba do CRISPR
    é esta proteína roxa
  • 2:52 - 2:56
    que age como uma tesoura molecular
    para cortar o ADN,
  • 2:56 - 2:58
    quebrando a hélice dupla em duas partes.
  • 2:59 - 3:03
    Se o CRISPR não conseguisse distinguir
    entre ADN bacteriano e viral,
  • 3:03 - 3:06
    não seria um sistema de defesa muito útil.
  • 3:06 - 3:09
    Mas a característica
    mais incrível do CRISPR
  • 3:09 - 3:14
    é que a tesoura pode ser
    programada para procurar,
  • 3:14 - 3:17
    ligar e cortar
  • 3:17 - 3:20
    apenas uma sequência específica de ADN.
  • 3:21 - 3:24
    Quando uma bactéria encontra
    um vírus pela primeira vez,
  • 3:24 - 3:28
    ela pode armazenar um pequeno fragmento
    do ADN desse vírus
  • 3:28 - 3:31
    para ser usado como um programa
    para direccionar a tesoura CRISPR
  • 3:31 - 3:35
    para cortar essa sequência de ADN viral
    durante uma infecção futura.
  • 3:36 - 3:41
    Cortar o ADN de um vírus perturba
    a função do gene viral cortado
  • 3:41 - 3:44
    e, portanto, interrompe
    o ciclo de vida do vírus.
  • 3:46 - 3:51
    Pesquisadores extraordinários, incluindo
    Emmanuelle Charpentier, George Church,
  • 3:51 - 3:54
    Jennifer Doudna e Feng Zhang
  • 3:54 - 3:58
    mostraram, há seis anos, como a tesoura
    CRISPR poderia ser programada
  • 3:58 - 4:00
    para cortar sequências de ADN
    à nossa escolha,
  • 4:00 - 4:03
    inclusive sequências no vosso genoma,
  • 4:03 - 4:06
    em vez das sequências de ADN viral
    escolhidas pelas bactérias.
  • 4:07 - 4:09
    Mas os resultados são semelhantes.
  • 4:10 - 4:12
    Cortar uma sequência
    de ADN no vosso genoma
  • 4:12 - 4:16
    normalmente, também perturba
    a função do gene cortado,
  • 4:17 - 4:21
    geralmente gerando a inclusão e a exclusão
    de misturas aleatórias de letras de ADN
  • 4:21 - 4:23
    no local do corte.
  • 4:25 - 4:29
    A interrupção de genes pode ser
    muito útil para algumas aplicações.
  • 4:30 - 4:34
    Mas, para a maioria das mutações pontuais
    que causam doenças genéticas,
  • 4:34 - 4:37
    o simples corte do gene
    que já sofreu mutação
  • 4:37 - 4:39
    não beneficiará os pacientes,
  • 4:39 - 4:43
    porque a função desse gene
    precisa de ser restaurada,
  • 4:43 - 4:45
    não ainda mais perturbada.
  • 4:45 - 4:48
    Assim, cortar esse gene da hemoglobina
    que já sofreu mutação
  • 4:48 - 4:51
    e que causa a anemia falciforme
  • 4:51 - 4:54
    não restaurará a capacidade dos pacientes
    de produzir hemácias saudáveis.
  • 4:56 - 5:00
    Embora, às vezes, possamos introduzir
    novas sequências de ADN nas células
  • 5:00 - 5:03
    para substituir as sequências de ADN
    ao redor de um local de corte,
  • 5:03 - 5:08
    infelizmente esse processo não funciona
    na maioria dos tipos de células,
  • 5:08 - 5:11
    e os consequentes genes perturbados
    ainda predominam.
  • 5:12 - 5:14
    Como muitos cientistas,
    sonhei com um futuro
  • 5:15 - 5:17
    em que conseguiríamos tratar,
    ou até mesmo curar,
  • 5:17 - 5:19
    doenças genéticas humanas,
  • 5:19 - 5:23
    mas vi a inexistência de uma forma
    de corrigir as mutações pontuais,
  • 5:23 - 5:26
    que causam a maioria
    das doenças genéticas humanas,
  • 5:26 - 5:29
    como um grande obstáculo.
  • 5:29 - 5:32
    Como sou químico, comecei
    a trabalhar com os meus alunos
  • 5:32 - 5:37
    para desenvolver formas de usar a química
    directamente numa base de ADN individual
  • 5:37 - 5:43
    e realmente corrigir,
    em vez de interromper,
  • 5:44 - 5:46
    as mutações que causam doenças genéticas.
  • 5:46 - 5:49
    Os resultados de nosso esforço
    são máquinas moleculares
  • 5:49 - 5:50
    chamadas "editores de bases".
  • 5:50 - 5:55
    Esses editores usam o mecanismo
    de busca programável da tesoura CRISPR,
  • 5:55 - 5:58
    mas, ao invés de cortar o ADN,
  • 5:58 - 6:03
    convertem directamente uma base em outra
    sem perturbar o restante do gene.
  • 6:05 - 6:07
    Se pensarmos em proteínas CRISPR
    naturalmente existentes
  • 6:07 - 6:09
    como tesouras moleculares,
  • 6:09 - 6:12
    podemos pensar
    nos editores de bases como lápis,
  • 6:12 - 6:15
    capazes de substituir directamente
    uma letra de ADN por outra,
  • 6:16 - 6:20
    reorganizando realmente
    os átomos de uma base de ADN
  • 6:20 - 6:23
    para, em vez disso,
    se tornar numa base diferente.
  • 6:24 - 6:26
    Os editores de bases
    não existem na natureza.
  • 6:27 - 6:30
    Na verdade, projectámos o primeiro
    editor de bases, mostrado aqui,
  • 6:30 - 6:34
    a partir de três proteínas independentes
    que nem sequer vêm do mesmo organismo.
  • 6:34 - 6:39
    Começámos por pegar em tesouras CRISPR
    e desactivar a capacidade de cortar ADN,
  • 6:39 - 6:44
    mantendo, porém, a sua capacidade
    de procurar e ligar uma sequência de ADN
  • 6:44 - 6:46
    de uma maneira programada.
  • 6:46 - 6:49
    A essas tesouras CRISPR alteradas,
    mostradas a azul,
  • 6:49 - 6:52
    anexamos uma segunda proteína,
    a vermelho,
  • 6:52 - 6:56
    que realiza uma reacção química
    na base C do ADN
  • 6:56 - 7:00
    convertendo-a numa base
    que se comporta como T.
  • 7:01 - 7:04
    Terceiro, tivemos de anexar
    às duas primeiras proteínas
  • 7:04 - 7:05
    a proteína mostrada a roxo,
  • 7:05 - 7:09
    que evita que a base editada
    seja removida pela célula.
  • 7:10 - 7:13
    O resultado final é uma proteína
    manipulada de três partes
  • 7:13 - 7:17
    que nos permite, pela primeira vez,
    converter Cs em Ts
  • 7:17 - 7:20
    em localizações especificadas no genoma.
  • 7:21 - 7:25
    Mas mesmo nesta fase, o nosso trabalho
    estava apenas a meio,
  • 7:25 - 7:27
    porque, para ser estável nas células,
  • 7:27 - 7:31
    os dois filamentos de uma dupla hélice
    de ADN têm de formar pares de bases.
  • 7:32 - 7:36
    Como C faz par apenas com G,
  • 7:36 - 7:39
    e T só faz par com A,
  • 7:40 - 7:43
    a simples mudança de um C para um T,
    num filamento de ADN,
  • 7:44 - 7:45
    cria uma incompatibilidade,
  • 7:45 - 7:48
    um desacordo
    entre os dois filamentos de ADN
  • 7:48 - 7:52
    que a célula tem de resolver
    decidindo o filamento a substituir.
  • 7:53 - 7:57
    Percebemos que poderíamos, além disso,
    projetar essa proteína de três partes
  • 7:59 - 8:03
    para sinalizar o filamento não editado
    como aquele a substituir
  • 8:03 - 8:05
    pelo corte desse filamento.
  • 8:05 - 8:08
    Esse pequeno corte engana a célula
  • 8:08 - 8:13
    para substituir o G não editado por um A,
  • 8:13 - 8:15
    uma vez que recria o filamento cortado,
  • 8:15 - 8:19
    completando assim a conversão
    do que costumava ser um par de bases C-G
  • 8:19 - 8:22
    num par de bases T-A estável.
  • 8:25 - 8:26
    Após vários anos de trabalho árduo
  • 8:26 - 8:30
    liderado por uma das pós-doutorandas
    do laboratório, Alexis Komor,
  • 8:30 - 8:33
    conseguimos desenvolver
    esta primeira classe de editor de bases,
  • 8:33 - 8:37
    que converte Cs em Ts, e Gs em As,
  • 8:37 - 8:39
    em posições específicas à nossa escolha.
  • 8:41 - 8:46
    Entre as mais de 35 mil mutações pontuais
    conhecidas, associadas a doenças,
  • 8:46 - 8:50
    os dois tipos de mutações que esse
    primeiro editor de bases pode reverter
  • 8:50 - 8:54
    são, juntos, responsáveis por cerca de 14%
  • 8:54 - 8:57
    ou cerca de 5 mil mutações
    pontuais patogénicas.
  • 8:57 - 9:01
    Mas corrigir a maior fracção de mutações
    pontuais causadoras de doenças
  • 9:01 - 9:05
    exigiria o desenvolvimento
    de uma segunda classe de editor de bases,
  • 9:05 - 9:09
    uma que pudesse converter
    As em Gs, ou Ts em Cs.
  • 9:11 - 9:15
    Liderados por Nicole Gaudelli,
    outra pós-doutoranda do laboratório,
  • 9:15 - 9:18
    começámos a desenvolver
    esta segunda classe de editor de bases,
  • 9:18 - 9:21
    que, em teoria, poderia corrigir
  • 9:21 - 9:24
    até quase metade
    das mutações pontuais patogénicas,
  • 9:24 - 9:28
    incluindo a mutação que causa progéria,
    a doença do envelhecimento rápido.
  • 9:30 - 9:33
    Percebemos que poderíamos
    pedir emprestado, mais uma vez,
  • 9:33 - 9:37
    o mecanismo de direccionamento
    da tesoura CRISPR
  • 9:37 - 9:43
    para trazer o novo editor de bases
    para o local certo num genoma.
  • 9:44 - 9:47
    Mas rapidamente encontrámos
    um problema incrível:
  • 9:48 - 9:51
    não há uma proteína conhecida
  • 9:51 - 9:55
    que converta A em G, ou T em C, no ADN.
  • 9:57 - 9:59
    Diante de um obstáculo tão sério,
  • 9:59 - 10:02
    a maioria dos alunos provavelmente
    procuraria outro projecto,
  • 10:02 - 10:04
    ou outro orientador de pesquisa.
  • 10:04 - 10:04
    (Risos)
  • 10:05 - 10:07
    Mas a Nicole concordou
    em prosseguir com um plano
  • 10:07 - 10:10
    que, na época, parecia
    desmesuradamente ambicioso.
  • 10:10 - 10:14
    Dada a ausência de uma proteína natural
    que realize a química necessária,
  • 10:15 - 10:18
    decidimos desenvolver a nossa própria
    proteína em laboratório
  • 10:18 - 10:22
    para converter A numa base
    que se comporta como G,
  • 10:22 - 10:27
    a partir de uma proteína que realiza
    uma química parecida sobre o ARN.
  • 10:27 - 10:31
    Montámos um sistema de selecção darwiniano
    de sobrevivência do mais apto,
  • 10:31 - 10:35
    que explorou dezenas de milhões
    de variantes de proteínas
  • 10:35 - 10:37
    e permitiu apenas aquelas variantes raras
  • 10:37 - 10:40
    que poderiam realizar a química
    necessária para sobreviver.
  • 10:42 - 10:44
    Acabámos com uma proteína mostrada aqui,
  • 10:44 - 10:47
    a primeira que pode converter um A do ADN,
  • 10:47 - 10:49
    numa base parecida com G.
  • 10:49 - 10:53
    Quando anexámos essa proteína à tesoura
    CRISPR desactivada, mostrada a azul,
  • 10:54 - 10:56
    produzimos o segundo editor de bases,
  • 10:56 - 10:59
    que converte As em Gs
  • 10:59 - 11:03
    e utiliza, depois, a mesma
    estratégia de corte de filamento
  • 11:03 - 11:04
    que usámos no primeiro editor de bases
  • 11:04 - 11:10
    para enganar a célula na substituição
    do T não-editado por um C,
  • 11:10 - 11:12
    conforme recria o filamento cortado,
  • 11:12 - 11:16
    completando assim a conversão de um par
    de bases A-T num par de bases G-C.
  • 11:17 - 11:19
    (Aplausos)
  • 11:19 - 11:20
    Obrigado.
  • 11:20 - 11:22
    (Aplausos)
  • 11:23 - 11:26
    Como cientista académico nos EUA,
  • 11:26 - 11:28
    não estou habituado
    a ser interrompido por aplausos.
  • 11:28 - 11:30
    (Risos)
  • 11:31 - 11:36
    Desenvolvemos estas duas primeiras
    classes de editores de bases
  • 11:36 - 11:39
    apenas há três anos e há um ano e meio.
  • 11:39 - 11:41
    Mas mesmo neste curto período,
  • 11:41 - 11:44
    a edição de bases tornou-se
    amplamente usada
  • 11:44 - 11:46
    pela comunidade de pesquisa biomédica.
  • 11:46 - 11:50
    Os editores de bases foram enviados
    mais de 6 mil vezes
  • 11:50 - 11:54
    a pedido de mais de mil
    pesquisadores em todo o mundo.
  • 11:55 - 11:59
    Já se publicou uma centena de trabalhos
    de pesquisa científica
  • 11:59 - 12:02
    usando editores de bases em organismos
  • 12:02 - 12:06
    que variam desde bactérias
    a plantas, ratos e primatas.
  • 12:08 - 12:10
    Embora os editores sejam muito novos
  • 12:10 - 12:12
    para entrarem em ensaios clínicos
    com seres humanos,
  • 12:12 - 12:18
    há cientistas que conseguiram alcançar
    um marco decisivo rumo a esse objectivo
  • 12:18 - 12:20
    usando editores de bases em animais
  • 12:21 - 12:25
    para corrigir mutações pontuais
    que causam doenças genéticas humanas.
  • 12:26 - 12:27
    Por exemplo,
  • 12:27 - 12:31
    uma equipa colaborativa de cientistas
    liderada por Luke Koblan e Jon Levy ,
  • 12:31 - 12:33
    dois estudantes do meu laboratório,
  • 12:33 - 12:37
    usou recentemente um vírus para alcançar
    essa segunda edição de bases
  • 12:37 - 12:40
    num rato com progéria,
  • 12:40 - 12:43
    mudando o T causador da doença
    para um C,
  • 12:43 - 12:48
    invertendo as suas consequências
    no ADN, no ARN e nos níveis de proteína.
  • 12:49 - 12:52
    Os editores de bases também
    têm sido usados em animais
  • 12:52 - 12:55
    para inverter as consequências
    da tirosinemia,
  • 12:56 - 12:59
    da beta-talassemia, da distrofia muscular,
  • 12:59 - 13:03
    da fenilcetonúria, de uma surdez congénita
  • 13:03 - 13:05
    e de um tipo de doença cardiovascular,
  • 13:05 - 13:10
    em cada caso, pela correcção directa
    de uma mutação pontual
  • 13:10 - 13:12
    que causa ou contribui para a doença.
  • 13:14 - 13:16
    Nas plantas, os editores de bases
    têm sido usados
  • 13:16 - 13:20
    para introduzir mudanças individuais
    de uma única letra do ADN
  • 13:20 - 13:22
    que podem levar a melhores colheitas.
  • 13:22 - 13:25
    Os biólogos têm usado editores de bases
  • 13:25 - 13:27
    para investigar o papel
    de letras individuais
  • 13:27 - 13:30
    em genes associados
    a doenças como o cancro.
  • 13:31 - 13:36
    Duas empresas que ajudei a fundar,
    a Beam Therapeutics e a Pairwise Plants,
  • 13:36 - 13:39
    estão a usar a edição de bases
    para tratar doenças genéticas humanas
  • 13:39 - 13:42
    e aperfeiçoar a agricultura.
  • 13:42 - 13:47
    Todas essas aplicações da edição de bases
    ocorreram em menos de três anos,
  • 13:47 - 13:49
    o que, na escala de tempo
    histórica da ciência,
  • 13:49 - 13:51
    seria um piscar de olhos.
  • 13:53 - 13:54
    Há mais trabalho pela frente
  • 13:54 - 13:57
    antes de a edição de bases
    poder concretizar todo o seu potencial
  • 13:57 - 14:01
    para melhorar a vida de pacientes
    com doenças genéticas.
  • 14:01 - 14:04
    Embora muitas dessas doenças
    sejam consideradas tratáveis
  • 14:04 - 14:06
    pela correcção da mutação subjacente,
  • 14:06 - 14:09
    mesmo numa modesta fracção
    de células de um órgão,
  • 14:09 - 14:12
    a distribuição de máquinas moleculares
    como editores de bases
  • 14:12 - 14:14
    em células de um ser humano
  • 14:14 - 14:16
    pode ser desafiadora.
  • 14:17 - 14:20
    A escolha de vírus da natureza
    para distribuir editores de bases,
  • 14:20 - 14:23
    em vez das moléculas
    que causam uma constipação,
  • 14:23 - 14:25
    é uma das várias estratégias
    promissoras de distribuição
  • 14:25 - 14:27
    que tem sido usada com sucesso.
  • 14:28 - 14:31
    Continuar a desenvolver
    novas máquinas moleculares
  • 14:31 - 14:33
    que possam tornar todos os restantes modos
  • 14:33 - 14:35
    de converter um par de bases em outro
  • 14:35 - 14:40
    e minimizar a edição indesejada
    em locais fora do alvo nas células
  • 14:40 - 14:42
    é muito importante.
  • 14:42 - 14:46
    E envolver-se com outros cientistas,
    médicos, eticistas e governos,
  • 14:47 - 14:51
    para maximizar a probabilidade
    de que a edição de bases seja aplicada
  • 14:51 - 14:54
    de modo ponderado, seguro e ético,
  • 14:54 - 14:56
    continua a ser um dever crucial.
  • 14:58 - 14:59
    Apesar desses desafios,
  • 14:59 - 15:03
    se alguém me tivesse dito,
    há apenas cinco anos,
  • 15:03 - 15:04
    que pesquisadores em todo o mundo
  • 15:05 - 15:08
    usariam máquinas moleculares
    desenvolvidas em laboratório
  • 15:08 - 15:12
    para converter directamente
    um par de bases noutro par
  • 15:12 - 15:15
    num local específico do genoma humano,
  • 15:15 - 15:19
    de forma eficaz e com um mínimo
    de outros resultados,
  • 15:19 - 15:20
    eu ter-vos-ia perguntado:
  • 15:20 - 15:23
    "Que livro de ficção científica
    andam vocês a ler?".
  • 15:24 - 15:27
    Graças a um grupo de alunos
    continuamente dedicados,
  • 15:27 - 15:32
    criativos o suficiente para construir
    o que nós mesmos poderíamos projectar
  • 15:32 - 15:35
    e corajosos o bastante para desenvolver
    o que não conseguíssemos,
  • 15:35 - 15:40
    a edição de bases começou a transformar
    essa aspiração de ficção científica
  • 15:40 - 15:42
    numa nova realidade empolgante,
  • 15:42 - 15:45
    na qual o presente mais importante
    que damos aos nossos filhos
  • 15:46 - 15:49
    não são apenas
    3 mil milhões de letras de ADN,
  • 15:49 - 15:52
    mas também os meios
    para protegê-las e repará-las.
  • 15:52 - 15:53
    Obrigado.
  • 15:54 - 15:56
    (Aplausos)
Title:
Poderemos curar doenças genéticas reescrevendo o ADN?
Speaker:
David R. Liu
Description:

Numa história de descoberta científica, o biólogo químico David R. Liu partilha um progresso feito pelo seu laboratório: o desenvolvimento de editores de bases capazes de reescrever o ADN. Este passo decisivo na edição do genoma eleva a promessa do CRISPR ao nível seguinte: se as proteínas CRISPR são tesouras moleculares, programadas para cortar sequências específicas de ADN, então os editores de base são lápis, capazes de reescrever o ADN e transformar uma letra do ADN noutra. Saibam mais sobre como essas máquinas moleculares funcionam e o potencial delas para tratar ou até mesmo curar doenças genéticas.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
16:12

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