Nós não somos tão diferentes: raça e identidade cultural | Seconde Nimenya | TEDxSnoIsleLibraries
-
0:11 - 0:14Há três anos, eu ia me apresentar
em uma conferência, -
0:14 - 0:19e o orador principal estava falando,
duas horas antes de mim, -
0:19 - 0:22então eu tinha tempo de sobra.
-
0:22 - 0:24Nesse discurso em particular,
-
0:24 - 0:28eu não queria ir ao auditório
escutar a fala. -
0:28 - 0:33Eu não queria ir porque o assunto era algo
-
0:33 - 0:35com o qual eu não achava
que podia me identificar. -
0:36 - 0:42Era sobre as experiências do palestrante
como um homem gay e judeu. -
0:42 - 0:44(Risos)
-
0:44 - 0:47Eu sabia que eu não podia aprender
nada com esse homem. -
0:47 - 0:48(Risos)
-
0:48 - 0:52Afinal, eu não sou gay,
-
0:52 - 0:56eu não sou judia e não sou um homem.
-
0:56 - 1:01Então o que eu poderia aprender com ele?
-
1:01 - 1:04Mas eu não tinha nada mais para fazer
antes da minha apresentação, -
1:04 - 1:09então eu decidi que sentaria no auditório
e brincaria com o meu celular. -
1:10 - 1:15Quando o palestrante começou
a compartilhar sua mensagem, -
1:15 - 1:17eu fui instantaneamente surpreendida,
-
1:17 - 1:21tanto que até esqueci que estava
lá para brincar com meu celular. -
1:22 - 1:28Primeiro, fiquei chocada com quantas
coisas esse homem havia passado -
1:28 - 1:31apenas para ser aceito pela sociedade.
-
1:32 - 1:37E então eu percebi que, embora
suas experiências fossem diferentes -
1:37 - 1:42da minha própria jornada,
nós não éramos tão diferentes assim. -
1:42 - 1:45Naquele dia, aprendi
-
1:45 - 1:49que se você é gay ou hetero,
-
1:49 - 1:51branco ou negro,
-
1:51 - 1:55judeu, cristão ou muçulmano,
-
1:55 - 1:58democrata ou republicano,
-
1:58 - 2:04seres humanos, na sua essência,
estão buscando a mesma coisa: -
2:04 - 2:07serem aceitos pelo que são.
-
2:08 - 2:11Nos primeiros dias,
quando cheguei nos Estados Unidos, -
2:11 - 2:16foi difícil, pois eu era diferente.
-
2:16 - 2:19Quando as pessoas me perguntavam:
"Qual seu nome, querida?" -
2:19 - 2:23Eu dizia: "Meu nome é Seconde",
-
2:23 - 2:27e elas diziam: "Oh, você tem
um sotaque lindo", -
2:27 - 2:30e eu respondia: "Obrigada".
-
2:30 - 2:36Mas eu tinha consciência
de que o meu sotaque tinha um sotaque. -
2:36 - 2:42Então eu já sabia a próxima pergunta,
que era: "De onde você é?" -
2:43 - 2:46Eu parava, pensava,
-
2:46 - 2:50e então dizia: "Sou canadense".
-
2:50 - 2:53(Risos)
-
2:54 - 3:00Mas elas refletiam sobre a minha resposta,
me olhavam de novo e perguntavam: -
3:00 - 3:06"Mas de onde você é originalmente?",
com uma grande ênfase em "originalmente". -
3:07 - 3:14Até que, um dia, minhas duas filhas
adolescentes sentaram-se comigo, -
3:14 - 3:18me olharam nos olhos e,
com uma atitude adolescente, disseram: -
3:18 - 3:24"Mãe, nós notamos que cada vez
que as pessoas perguntam de onde você vem, -
3:24 - 3:25você mente".
-
3:25 - 3:28(Risos)
-
3:28 - 3:31É, foi como uma pequena
intervenção, ou algo assim. -
3:31 - 3:33(Risos)
-
3:35 - 3:37O que minhas filhas não sabiam
-
3:37 - 3:40era por que eu estava tentando
esconder minhas origens. -
3:40 - 3:43Naquela época, elas eram muito jovens
-
3:43 - 3:49para entender completamente as muitas
cicatrizes que eu carregava dentro de mim, -
3:49 - 3:53cicatrizes de uma infância vivida
em um país devastado pela guerra. -
3:55 - 3:57Eu nasci e cresci no Burundi,
-
3:57 - 4:01um pequeno país na África Centro-Leste.
-
4:01 - 4:06Desde os seis anos, eu vivi guerras civis,
-
4:06 - 4:09instabilidade constante
e destruição no meu país, -
4:09 - 4:13assim me sentia envergonhada
pelo estigma da guerra -
4:13 - 4:18e pelas muitas feridas
invisíveis infligidas em mim. -
4:19 - 4:24E, como resultado de contínuas guerras
civis, me tornei uma refugiada de guerra, -
4:24 - 4:30e vivi no Canadá por 12 anos antes
de me mudar para os Estados Unidos. -
4:31 - 4:36Me mudar da África para o Canadá,
e depois para os Estados Unidos, -
4:36 - 4:41significava que eu tinha de lidar
com um conjunto de novas expectativas -
4:41 - 4:45de pessoas e culturas diferentes.
-
4:45 - 4:48Como recém-chegada, havia sempre um lugar
-
4:48 - 4:52onde o meu ser diferente era apontado,
-
4:52 - 4:55e nem sempre de uma maneira boa,
-
4:55 - 4:59e por isso eu estava tentando
esconder minhas origens -
4:59 - 5:02quando as pessoas
me perguntavam de onde eu vinha. -
5:02 - 5:06Eu queria pertencer
e ser totalmente aceita. -
5:08 - 5:13Hoje, me considero afortunada
por ter experienciado a vida -
5:13 - 5:16nesses diferentes cenários culturais.
-
5:16 - 5:20Eles me deram um novo
senso de apreciação, -
5:20 - 5:26e novas perspectivas em relação
a diversidade e inclusão. -
5:26 - 5:32Agora, eu não estou dizendo
que foi tudo tranquilo, -
5:32 - 5:37mas o que eu aprendi veio de algumas
das situações mais difíceis, -
5:37 - 5:40especialmente como mãe.
-
5:41 - 5:47Como quando minhas filhas
vieram da escola chorando -
5:47 - 5:51porque seus colegas
lhes chamaram de nomes, -
5:51 - 5:53quando elas começaram a escola;
-
5:55 - 5:59nomes como "chocolate";
-
5:59 - 6:04ou perguntaram se a mãe delas
bebeu muito café preto, -
6:04 - 6:06quando estava grávida.
-
6:07 - 6:11Verdade, essas palavras
tinham uma conotação racial, -
6:11 - 6:18mas crianças de cinco, seis
e sete anos não são racistas. -
6:18 - 6:22Aquelas crianças estavam apenas agindo
em cima de algo que não conheciam, -
6:22 - 6:25e algo que não lhes foi ensinado.
-
6:26 - 6:31Eu poderia ter culpado seus pais,
seus professores, ou o diretor, -
6:31 - 6:34e para ser honesta com vocês, eu culpei.
-
6:36 - 6:42Mas depois de algum tempo eu percebi
que nenhuma quantidade de culpa -
6:42 - 6:46poderia ter restaurado
a autoestima das minhas filhas -
6:46 - 6:49ou reduzido minha própria dor.
-
6:50 - 6:53Quando as pessoas pensam:
"Diferente é ruim para você", -
6:53 - 6:56e você acredita nisso,
antes que você se dê conta, -
6:56 - 7:01você pode começar a negar
seu próprio valor -
7:01 - 7:05e identidade própria,
como eu estava fazendo -
7:05 - 7:08antes que minhas adolescentes
me endireitassem. -
7:09 - 7:14Foi aí que eu decidi que a única coisa
que eu realmente poderia controlar -
7:14 - 7:17era escolher como responder.
-
7:18 - 7:21Eu poderia ser amarga,
-
7:21 - 7:23ou eu poderia ser melhor.
-
7:23 - 7:25Era a minha escolha.
-
7:26 - 7:29Assim, em vez do medo, comecei a usar
-
7:29 - 7:32minhas diferenças e minhas adversidades
-
7:32 - 7:36para alimentar minha
compaixão pelos outros. -
7:36 - 7:40Eu escolho defender e educar
sobre a diversidade, -
7:40 - 7:45e superar a lacuna cultural
entre nossas comunidades. -
7:45 - 7:49Essa tornou-se a minha paixão e missão.
-
7:50 - 7:54Hoje, eu vejo como o medo
das nossas diferenças -
7:54 - 7:58está afetando a juventude
nas escolas e comunidades -
7:58 - 8:00por todos os Estados Unidos,
-
8:00 - 8:04e a crescente discrepância
que os jovens sentem -
8:04 - 8:07em relação às suas identidades sociais.
-
8:08 - 8:11Quando eu falo com alunos no ensino médio,
-
8:11 - 8:14ou em faculdades e universidades,
-
8:14 - 8:17o obstáculo número um
que eles têm em comum -
8:17 - 8:20não é em relação ao sucesso acadêmico.
-
8:21 - 8:25Não, é em relação
ao medo de serem diferentes, -
8:25 - 8:28e às ameaças que às vezes eles encaram
-
8:28 - 8:32nas suas universidades
ou nas suas comunidades, -
8:32 - 8:35em maior parte por causa
de sua raça, gênero, -
8:35 - 8:38identidade sexual e religião.
-
8:40 - 8:46Alguns de vocês já foram estereotipados,
-
8:46 - 8:50talvez por causa da sua
aparência, de quem você ama, -
8:50 - 8:55da religião você pratica,
ou de como soa o seu nome. -
8:56 - 9:00Por vezes, todos nós já
fomos vítimas e autores -
9:00 - 9:04de estereótipos e preconceitos.
-
9:04 - 9:10Mas quando nós desencadeamos nossa
capacidade para conexão e empatia humanas, -
9:10 - 9:15damos aos outros o dom
de viver na sua própria verdade. -
9:16 - 9:20Agora eu olho o racismo, sexismo,
-
9:20 - 9:25ou qualquer outro tipo de discriminação
que afeta a nossa sociedade hoje, -
9:25 - 9:28com essas duas perspectivas:
-
9:29 - 9:35um, o que isso faz para a pessoa
contra a qual é cometida, -
9:35 - 9:39e dois, o que faz para o autor
-
9:39 - 9:42daquela discriminação.
-
9:42 - 9:46Eu verdadeiramente acredito
que tanto a vítima quanto o autor -
9:46 - 9:50são feridos e precisam de cura.
-
9:51 - 9:54No fundo do meu coração,
-
9:54 - 9:58eu sei que somos mais parecidos
do que diferentes, -
9:58 - 10:04então eu tenho a esperança de que podemos
construir um mundo ainda mais lindo -
10:04 - 10:08se escolhermos usar nossas
diferenças como um catalisador -
10:08 - 10:10para elevar uns aos outros.
-
10:10 - 10:15Se escolhermos ver os outros
por quem são e não pelo que são, -
10:15 - 10:18podemos até mudar o mundo.
-
10:20 - 10:23Às vezes pessoas me perguntam: "Seconde,
-
10:23 - 10:27então o que podemos fazer
para que a nossa próxima geração -
10:27 - 10:31possa viver em mundo no qual
as diferenças são celebradas?" -
10:32 - 10:37Então deixe-me compartilhar três coisas
que você pode começar a fazer hoje. -
10:38 - 10:42Número um, comece onde você está,
-
10:42 - 10:47e onde você tem maior poder pessoal
para impactar uma mudança. -
10:47 - 10:50Pode ser na sua casa, escola,
-
10:50 - 10:53sua comunidade ou seu local de trabalho.
-
10:54 - 10:57E número dois, seja corajoso.
-
10:57 - 10:59O que eu quero dizer com isso?
-
11:00 - 11:03Seja corajoso tendo conversas
-
11:03 - 11:06que às vezes são desconfortáveis.
-
11:06 - 11:10Questões raciais, por exemplo,
nos Estados Unidos, -
11:10 - 11:14é um tópico desconfortável
para muitas pessoas. -
11:14 - 11:19Mas elas não desaparecem
apenas ignorando-as. -
11:19 - 11:23Então vamos ter uma conversa sobre raça,
-
11:23 - 11:27e buscar entendimento uns com os outros
-
11:27 - 11:29e curar um ao outro.
-
11:30 - 11:33E número três, seja flexível.
-
11:33 - 11:38Mesmo com algo que não
entenda ou não concorde, -
11:38 - 11:42tenha uma mente aberta
e aprenda o que você não sabe. -
11:43 - 11:47No fim, tudo se resume
-
11:47 - 11:52a dar um sorriso amável para um estranho,
-
11:52 - 11:55um cumprimento de mão ou de cabeça
-
11:55 - 11:58para reconhecer alguém e dizer:
-
11:58 - 12:00"Eu te vejo".
-
12:00 - 12:02"Eu te amo."
-
12:03 - 12:04"Você importa."
-
12:05 - 12:07Obrigada.
-
12:07 - 12:10(Aplausos)
- Title:
- Nós não somos tão diferentes: raça e identidade cultural | Seconde Nimenya | TEDxSnoIsleLibraries
- Description:
-
Americana nascida em Burundi, Seconde Nimenya descobriu, por conta da sua migração para a América, que as similaridades das pessoas ao redor do mundo vencem as coisas que nos separam.
Seconde viaja pelo mundo compartilhando uma mensagem de tolerância e paz, trabalhando para preencher lacunas entre comunidades multiculturais, e incitando os outros a usar a adversidade na vida para tornarem-se pessoas melhores. Ela defende a diversidade e inclusão no local de trabalho e sistema educacional. Seconde é autora de "Evolving Through Adversity". Seu segundo livro, "A Hand To Hold", é um romance sobre amor e redenção.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 12:25