Há três anos, eu ia me apresentar
em uma conferência,
e o orador principal estava falando,
duas horas antes de mim,
então eu tinha tempo de sobra.
Nesse discurso em particular,
eu não queria ir ao auditório
escutar a fala.
Eu não queria ir porque o assunto era algo
com o qual eu não achava
que podia me identificar.
Era sobre as experiências do palestrante
como um homem gay e judeu.
(Risos)
Eu sabia que eu não podia aprender
nada com esse homem.
(Risos)
Afinal, eu não sou gay,
eu não sou judia e não sou um homem.
Então o que eu poderia aprender com ele?
Mas eu não tinha nada mais para fazer
antes da minha apresentação,
então eu decidi que sentaria no auditório
e brincaria com o meu celular.
Quando o palestrante começou
a compartilhar sua mensagem,
eu fui instantaneamente surpreendida,
tanto que até esqueci que estava
lá para brincar com meu celular.
Primeiro, fiquei chocada com quantas
coisas esse homem havia passado
apenas para ser aceito pela sociedade.
E então eu percebi que, embora
suas experiências fossem diferentes
da minha própria jornada,
nós não éramos tão diferentes assim.
Naquele dia, aprendi
que se você é gay ou hetero,
branco ou negro,
judeu, cristão ou muçulmano,
democrata ou republicano,
seres humanos, na sua essência,
estão buscando a mesma coisa:
serem aceitos pelo que são.
Nos primeiros dias,
quando cheguei nos Estados Unidos,
foi difícil, pois eu era diferente.
Quando as pessoas me perguntavam:
"Qual seu nome, querida?"
Eu dizia: "Meu nome é Seconde",
e elas diziam: "Oh, você tem
um sotaque lindo",
e eu respondia: "Obrigada".
Mas eu tinha consciência
de que o meu sotaque tinha um sotaque.
Então eu já sabia a próxima pergunta,
que era: "De onde você é?"
Eu parava, pensava,
e então dizia: "Sou canadense".
(Risos)
Mas elas refletiam sobre a minha resposta,
me olhavam de novo e perguntavam:
"Mas de onde você é originalmente?",
com uma grande ênfase em "originalmente".
Até que, um dia, minhas duas filhas
adolescentes sentaram-se comigo,
me olharam nos olhos e,
com uma atitude adolescente, disseram:
"Mãe, nós notamos que cada vez
que as pessoas perguntam de onde você vem,
você mente".
(Risos)
É, foi como uma pequena
intervenção, ou algo assim.
(Risos)
O que minhas filhas não sabiam
era por que eu estava tentando
esconder minhas origens.
Naquela época, elas eram muito jovens
para entender completamente as muitas
cicatrizes que eu carregava dentro de mim,
cicatrizes de uma infância vivida
em um país devastado pela guerra.
Eu nasci e cresci no Burundi,
um pequeno país na África Centro-Leste.
Desde os seis anos, eu vivi guerras civis,
instabilidade constante
e destruição no meu país,
assim me sentia envergonhada
pelo estigma da guerra
e pelas muitas feridas
invisíveis infligidas em mim.
E, como resultado de contínuas guerras
civis, me tornei uma refugiada de guerra,
e vivi no Canadá por 12 anos antes
de me mudar para os Estados Unidos.
Me mudar da África para o Canadá,
e depois para os Estados Unidos,
significava que eu tinha de lidar
com um conjunto de novas expectativas
de pessoas e culturas diferentes.
Como recém-chegada, havia sempre um lugar
onde o meu ser diferente era apontado,
e nem sempre de uma maneira boa,
e por isso eu estava tentando
esconder minhas origens
quando as pessoas
me perguntavam de onde eu vinha.
Eu queria pertencer
e ser totalmente aceita.
Hoje, me considero afortunada
por ter experienciado a vida
nesses diferentes cenários culturais.
Eles me deram um novo
senso de apreciação,
e novas perspectivas em relação
a diversidade e inclusão.
Agora, eu não estou dizendo
que foi tudo tranquilo,
mas o que eu aprendi veio de algumas
das situações mais difíceis,
especialmente como mãe.
Como quando minhas filhas
vieram da escola chorando
porque seus colegas
lhes chamaram de nomes,
quando elas começaram a escola;
nomes como "chocolate";
ou perguntaram se a mãe delas
bebeu muito café preto,
quando estava grávida.
Verdade, essas palavras
tinham uma conotação racial,
mas crianças de cinco, seis
e sete anos não são racistas.
Aquelas crianças estavam apenas agindo
em cima de algo que não conheciam,
e algo que não lhes foi ensinado.
Eu poderia ter culpado seus pais,
seus professores, ou o diretor,
e para ser honesta com vocês, eu culpei.
Mas depois de algum tempo eu percebi
que nenhuma quantidade de culpa
poderia ter restaurado
a autoestima das minhas filhas
ou reduzido minha própria dor.
Quando as pessoas pensam:
"Diferente é ruim para você",
e você acredita nisso,
antes que você se dê conta,
você pode começar a negar
seu próprio valor
e identidade própria,
como eu estava fazendo
antes que minhas adolescentes
me endireitassem.
Foi aí que eu decidi que a única coisa
que eu realmente poderia controlar
era escolher como responder.
Eu poderia ser amarga,
ou eu poderia ser melhor.
Era a minha escolha.
Assim, em vez do medo, comecei a usar
minhas diferenças e minhas adversidades
para alimentar minha
compaixão pelos outros.
Eu escolho defender e educar
sobre a diversidade,
e superar a lacuna cultural
entre nossas comunidades.
Essa tornou-se a minha paixão e missão.
Hoje, eu vejo como o medo
das nossas diferenças
está afetando a juventude
nas escolas e comunidades
por todos os Estados Unidos,
e a crescente discrepância
que os jovens sentem
em relação às suas identidades sociais.
Quando eu falo com alunos no ensino médio,
ou em faculdades e universidades,
o obstáculo número um
que eles têm em comum
não é em relação ao sucesso acadêmico.
Não, é em relação
ao medo de serem diferentes,
e às ameaças que às vezes eles encaram
nas suas universidades
ou nas suas comunidades,
em maior parte por causa
de sua raça, gênero,
identidade sexual e religião.
Alguns de vocês já foram estereotipados,
talvez por causa da sua
aparência, de quem você ama,
da religião você pratica,
ou de como soa o seu nome.
Por vezes, todos nós já
fomos vítimas e autores
de estereótipos e preconceitos.
Mas quando nós desencadeamos nossa
capacidade para conexão e empatia humanas,
damos aos outros o dom
de viver na sua própria verdade.
Agora eu olho o racismo, sexismo,
ou qualquer outro tipo de discriminação
que afeta a nossa sociedade hoje,
com essas duas perspectivas:
um, o que isso faz para a pessoa
contra a qual é cometida,
e dois, o que faz para o autor
daquela discriminação.
Eu verdadeiramente acredito
que tanto a vítima quanto o autor
são feridos e precisam de cura.
No fundo do meu coração,
eu sei que somos mais parecidos
do que diferentes,
então eu tenho a esperança de que podemos
construir um mundo ainda mais lindo
se escolhermos usar nossas
diferenças como um catalisador
para elevar uns aos outros.
Se escolhermos ver os outros
por quem são e não pelo que são,
podemos até mudar o mundo.
Às vezes pessoas me perguntam: "Seconde,
então o que podemos fazer
para que a nossa próxima geração
possa viver em mundo no qual
as diferenças são celebradas?"
Então deixe-me compartilhar três coisas
que você pode começar a fazer hoje.
Número um, comece onde você está,
e onde você tem maior poder pessoal
para impactar uma mudança.
Pode ser na sua casa, escola,
sua comunidade ou seu local de trabalho.
E número dois, seja corajoso.
O que eu quero dizer com isso?
Seja corajoso tendo conversas
que às vezes são desconfortáveis.
Questões raciais, por exemplo,
nos Estados Unidos,
é um tópico desconfortável
para muitas pessoas.
Mas elas não desaparecem
apenas ignorando-as.
Então vamos ter uma conversa sobre raça,
e buscar entendimento uns com os outros
e curar um ao outro.
E número três, seja flexível.
Mesmo com algo que não
entenda ou não concorde,
tenha uma mente aberta
e aprenda o que você não sabe.
No fim, tudo se resume
a dar um sorriso amável para um estranho,
um cumprimento de mão ou de cabeça
para reconhecer alguém e dizer:
"Eu te vejo".
"Eu te amo."
"Você importa."
Obrigada.
(Aplausos)