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Da vergonha ao orgulho, e tudo que há no meio | Kris Barz Mendonça | TEDxCSU

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    Olá a todos.
  • 0:11 - 0:13
    (Aplausos) (Vivas)
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    Olá. Preparados para uma história de drag?
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    Plateia: Estamos!
    Kris Barz Mendonça: Ótimo.
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    Olá.
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    Meu nome é Kris Barz Mendonça,
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    pelo menos a pessoa
    que está debaixo disso tudo aqui.
  • 0:25 - 0:28
    Sou quadrinista e artista.
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    Hoje, gostaria de falar com vocês
    sobre alguns temas
  • 0:31 - 0:32
    e, com o auxílio dos meus quadrinhos,
  • 0:32 - 0:35
    adoraria que se juntassem a mim
    nesta minha pequena jornada:
  • 0:35 - 0:37
    a minha infância no Brasil.
  • 0:38 - 0:40
    Eu nasci em 1985.
  • 0:40 - 0:43
    Fui criança no início dos anos 1990.
  • 0:44 - 0:47
    Minha família se mudava muito
    por todo o país
  • 0:47 - 0:49
    porque meu pai era militar.
  • 0:49 - 0:54
    Nessa época, vivíamos numa pequena
    cidade do interior do Sul do Brasil.
  • 0:55 - 0:56
    Nunca me comportei
  • 0:56 - 1:01
    como meus pais e outras crianças esperavam
    que um menino comum se comportasse.
  • 1:01 - 1:08
    Eu era sensível, nada agressivo
    e, por isso, era considerado afeminado.
  • 1:09 - 1:13
    Por ser como eu era, pela primeira vez
    fui chamado de "veado",
  • 1:13 - 1:19
    que é um xingamento usado
    para ofender pessoas gays no Brasil,
  • 1:19 - 1:20
    equivalente à palavra com "f" aqui,
  • 1:20 - 1:24
    e também de "mariquinha", "mulherzinha",
  • 1:26 - 1:28
    antes mesmo de saber
    o que isso significava.
  • 1:28 - 1:33
    Aí, aprendi que, se eu não me comportasse
    como os demais meninos,
  • 1:33 - 1:35
    não me encaixaria no grupo deles.
  • 1:35 - 1:39
    De vez em quando, meu pai saltava
    de paraquedas com amigos.
  • 1:39 - 1:42
    Ele dizia que seu maior
    medo era o de altura
  • 1:42 - 1:45
    e que, saltando, ele o enfrentava.
  • 1:46 - 1:49
    Aí, aprendi que os meninos
    tinham que fazer coisas perigosas.
  • 1:49 - 1:52
    Mas acho que o maior medo dele
    não era o de altura.
  • 1:52 - 1:57
    Acho que o maior medo dele
    era que eu me tornasse "veado".
  • 1:58 - 1:59
    Mas ele nunca disse isso.
  • 1:59 - 2:03
    Então, aprendi que os meninos
    não só não poderiam ter medo,
  • 2:03 - 2:04
    mas, acima de tudo,
  • 2:04 - 2:08
    não podiam deixar que os outros
    soubessem dos seus medos.
  • 2:08 - 2:11
    Ele era muito rígido comigo
    em relação a isso.
  • 2:11 - 2:17
    Passei minha infância com medo
    de não me comportar como ele esperava
  • 2:17 - 2:22
    e com medo de me tornar um "gay",
    o que quer que aquilo significasse.
  • 2:22 - 2:24
    Na época, eu só sabia que era algo ruim.
  • 2:24 - 2:26
    Também tinha medo dos outros meninos.
  • 2:26 - 2:28
    Eles implicavam comigo
  • 2:28 - 2:32
    por qualquer coisinha que eu fizesse
    ou dissesse que não fosse masculina.
  • 2:32 - 2:37
    Aí, aprendi que, se não me comportasse
    de forma masculina,
  • 2:37 - 2:40
    eu seria automaticamente
    considerado feminino.
  • 2:41 - 2:44
    Eu vivia em estado de vigilância,
  • 2:44 - 2:47
    principalmente por parte
    de meninos e homens.
  • 2:47 - 2:50
    Por fim, eu me tornei
    meu próprio controlador.
  • 2:50 - 2:55
    Fui criado numa caixinha minúscula,
    tão apertada, tão nada a ver comigo,
  • 2:55 - 2:59
    que tornou triste a minha infância.
  • 3:00 - 3:04
    Fui uma criança e um adolescente triste
    porque eu não podia ser eu mesmo.
  • 3:05 - 3:08
    Nem sequer podia descobrir
    o que eu era realmente,
  • 3:09 - 3:14
    que eu não era apenas gay,
    o que aceitei finalmente aos 19 anos,
  • 3:14 - 3:16
    mas também "queer".
  • 3:17 - 3:20
    Eu gostava de futebol
    e de carrinhos no início,
  • 3:20 - 3:23
    mas também queria brincar
    de casinha e bonecas.
  • 3:23 - 3:28
    Como qualquer outra criança,
    eu era curioso e queria explorar tudo.
  • 3:28 - 3:31
    No início, não havia barreiras
    na minha mente.
  • 3:31 - 3:34
    Foram me ensinando
    sobre elas gradualmente.
  • 3:34 - 3:37
    Passei a evitar carros, armas e futebol
  • 3:37 - 3:41
    porque brincar com os meninos
    envolvia agressão física e verbal.
  • 3:41 - 3:43
    Ficar isolado era mais seguro,
  • 3:43 - 3:48
    então eu me isolei
    e comecei a desenhar e a escrever.
  • 3:49 - 3:51
    Eu disse a vocês que meu nome é Kris,
  • 3:51 - 3:55
    mas meu primeiro nome inteiro é Krisagon;
  • 3:55 - 3:57
    nada comum no Brasil, aliás.
  • 3:58 - 4:01
    Cresci num país que fala uma língua
    oriunda do latim: o português.
  • 4:01 - 4:04
    Nossos substantivos e adjetivos
    variam em gênero.
  • 4:04 - 4:06
    Para tornar as palavras
    masculinas ou femininas,
  • 4:06 - 4:10
    acrescentamos um "o"
    ao final das palavras masculinas
  • 4:10 - 4:12
    e um "a" ao final das palavras femininas.
  • 4:12 - 4:16
    Como eu era considerado afeminado
    pelos outros meninos,
  • 4:16 - 4:19
    uma das coisas que eles faziam
    para implicarem comigo
  • 4:19 - 4:21
    era acrescentar um "a"
    ao final do meu nome.
  • 4:21 - 4:25
    Então, "Krisagon" virava "Krisagona".
  • 4:25 - 4:28
    Aí, aprendi que,
    para ofender outro menino,
  • 4:28 - 4:33
    tudo que eu precisava fazer era chamá-lo
    de qualquer coisa que lembrasse uma menina
  • 4:33 - 4:38
    e, sempre que isso acontecia comigo,
    eu devia me sentir superofendido
  • 4:38 - 4:39
    porque nada poderia ser pior
  • 4:39 - 4:43
    do que ser chamado de menina
    ou ser comparado a uma menina.
  • 4:46 - 4:51
    As coisas de menino tinham que ser
    rudes, agressivas, insensíveis.
  • 4:51 - 4:52
    Eu não era assim,
  • 4:52 - 4:56
    então ficava brincando com as meninas
    ou com "coisas de menina".
  • 4:57 - 4:59
    As meninas eram muito receptivas comigo,
  • 4:59 - 5:02
    mas, sempre que queriam
    me afastar por qualquer motivo,
  • 5:02 - 5:04
    me diziam: "Isso é coisa de menina".
  • 5:04 - 5:08
    Aí, aprendi que eu também
    não me encaixava com as meninas.
  • 5:10 - 5:12
    Eu tinha um primo da mesma idade que eu.
  • 5:12 - 5:15
    Ele morava a um hora de distância
    e, de vez em quando,
  • 5:15 - 5:18
    a família dele vinha nos visitar
    e passar o fim de semana.
  • 5:18 - 5:23
    Como eu, ele também era chamado
    de "veado", "mulherzinha", "mariquinha",
  • 5:23 - 5:25
    pelos outros meninos.
  • 5:25 - 5:28
    A família dele era
    conservadora como a minha,
  • 5:28 - 5:31
    mas ele tinha algumas
    liberdades que eu não tinha.
  • 5:31 - 5:36
    Ele podia imitar a nossa apresentadora
    de TV infantil favorita, a Xuxa.
  • 5:36 - 5:39
    Ele tinha a bicicleta
    e o microfone oficiais dela,
  • 5:39 - 5:42
    ambos cor-de-rosa, com plumas.
  • 5:42 - 5:46
    Quando estava com ele, eu também tinha
    algumas daquelas liberdades.
  • 5:47 - 5:49
    Ele podia brincar de boneca.
  • 5:49 - 5:54
    Eu o invejava muito
    porque ele devia se divertir bastante,
  • 5:54 - 5:59
    e eu nem sequer podia sonhar em chegar
    perto de coisas de menina sozinho.
  • 6:00 - 6:02
    As bonecas não eram dele, é claro.
  • 6:02 - 6:04
    Eram das primas dele.
  • 6:04 - 6:08
    Ele tinha algumas liberdades,
    mas não tinha nenhuma boneca própria.
  • 6:09 - 6:14
    Aí, aprendi que meninos não podiam gostar
    de cor-de-rosa, nem de bonecas,
  • 6:14 - 6:16
    nem brincar de casinha.
  • 6:16 - 6:18
    Só meninas podiam fazer isso.
  • 6:19 - 6:21
    Todas essas regras
    estavam lá, de alguma forma.
  • 6:21 - 6:26
    Era como se houvesse
    um manual de como ser menino.
  • 6:28 - 6:31
    Muitas dessas regras eram faladas;
  • 6:31 - 6:32
    muitas vezes eram impostas.
  • 6:32 - 6:34
    Um monte de outras regras eram veladas,
  • 6:34 - 6:37
    mas dava pra sentir
    que elas existiam mesmo assim.
  • 6:38 - 6:42
    Eu tinha cada vez menos identidade
  • 6:43 - 6:47
    à medida que mais e mais regras
    eram acrescentadas àquele manual.
  • 6:47 - 6:48
    Por exemplo...
  • 6:48 - 6:51
    A regra de não chorar
    foi, é claro, uma das primeiras:
  • 6:51 - 6:53
    "Meninos não choram".
  • 6:53 - 6:57
    Meninos não podiam cruzar as pernas,
    nem sentados, nem em pé.
  • 6:57 - 7:00
    Não podiam pôr a mão na cintura.
  • 7:00 - 7:03
    Os punhos tinham que ficar firmes,
    nunca soltos demais.
  • 7:03 - 7:06
    Do contrário, era coisa de menina.
  • 7:07 - 7:09
    Eu não podia ter cabelo comprido.
  • 7:10 - 7:16
    Também aprendi que devia evitar
    tudo que tivesse o número 24
  • 7:16 - 7:19
    porque esse era um número gay no Brasil.
  • 7:20 - 7:22
    Sim, um número gay.
  • 7:22 - 7:24
    (Risos)
  • 7:25 - 7:26
    Ainda é.
  • 7:26 - 7:32
    No Senado brasileiro,
    as salas pulam do número 23 para o 25.
  • 7:32 - 7:36
    Jogadores de futebol evitam
    ter esse número em suas camisas do time.
  • 7:37 - 7:41
    Também aprendi que, embora
    as meninas pudessem usar calça,
  • 7:41 - 7:46
    os meninos nunca, jamais,
    podiam usar saia ou brincos.
  • 7:47 - 7:52
    Na adolescência, aprendi que, em cada nova
    escola para a qual eu era transferido,
  • 7:52 - 7:57
    eu tinha que beijar logo um menina,
    antes que começassem a me chamar de gay.
  • 7:58 - 8:01
    Também aprendi que,
    se eu não falasse de forma agressiva,
  • 8:01 - 8:03
    eu não seria temido pelos outros meninos,
  • 8:03 - 8:09
    e que, se eu falasse de forma branda,
    o que era considerado "feminino",
  • 8:09 - 8:11
    eu não seria respeitado.
  • 8:13 - 8:16
    Talvez você também tenha tido
    seu próprio manual.
  • 8:16 - 8:18
    Era parecido com o meu?
  • 8:19 - 8:21
    Você ainda o segue?
  • 8:23 - 8:25
    Me lembro de um fim de semana de verão
  • 8:25 - 8:29
    em que meu primo e família
    vieram nos visitar.
  • 8:29 - 8:33
    Meu pai e outros homens tinham planejado
    saltar de paraquedas no domingo à tarde.
  • 8:34 - 8:35
    As famílias fizeram piqueniques
  • 8:35 - 8:40
    enquanto assistiam àqueles homens
    corajosos e másculos no céu.
  • 8:40 - 8:42
    Naquela tarde,
  • 8:42 - 8:46
    vi a oportunidade perfeita
    para brincar de boneca.
  • 8:48 - 8:52
    As mães prepararam sanduíches.
  • 8:52 - 8:56
    Naquela altura, minha irmã
    provavelmente já tinha se dado conta
  • 8:56 - 9:00
    que, como menina,
    aquilo era função dela também.
  • 9:00 - 9:01
    Como éramos homens,
  • 9:01 - 9:05
    meu primo, o pai dele,
    o irmão mais velho dele e eu
  • 9:05 - 9:09
    ficamos com as tarefas
    que eram esperadas de nós:
  • 9:09 - 9:11
    nenhuma.
  • 9:11 - 9:13
    (Risos)
  • 9:13 - 9:16
    Então, tudo que tínhamos
    que fazer era brincar.
  • 9:17 - 9:20
    Aí, aprendi que, por eu ser menino,
  • 9:20 - 9:23
    não precisava ajudar
    com a comida nem com a limpeza.
  • 9:24 - 9:28
    Meu pai estava a milhares
    de metros do chão,
  • 9:28 - 9:30
    sendo machão,
  • 9:30 - 9:36
    enfrentando seu medo para receber elogios
    de sua família por sua coragem.
  • 9:36 - 9:40
    Hoje eu sei que tudo
    que ele precisava era de amor.
  • 9:41 - 9:43
    Ser admirado era a forma dele de obtê-lo
  • 9:43 - 9:47
    porque ele não sabia
    como expressar seus sentimentos.
  • 9:48 - 9:51
    Meu primo e eu
    fomos direto para o milharal.
  • 9:51 - 9:53
    Tínhamos uma missão
  • 9:53 - 9:59
    e, para realizá-la, tínhamos que usar
    nossa criatividade e imaginação.
  • 10:00 - 10:04
    Ali, as espigas de milho,
    ainda um pouco verdes,
  • 10:04 - 10:08
    se tornaram bonecas
    com lindos cabelos lilás
  • 10:08 - 10:12
    e roupas verde-amarelo incríveis.
  • 10:13 - 10:17
    De longe, parecia que só estávamos
    brincando com espigas.
  • 10:17 - 10:22
    Poderiam ser aviões, armas, espadas.
  • 10:23 - 10:27
    Estávamos acima de qualquer suspeita,
    mesmo que sob os olhos do meu pai
  • 10:27 - 10:30
    que, ironicamente, podia ver tudo do céu.
  • 10:31 - 10:33
    Foi uma tarde feliz.
  • 10:35 - 10:39
    A opressão pode nos impedir
    de descobrirmos quem somos.
  • 10:39 - 10:44
    Os estereótipos de gênero e o machismo
    condicionam nossa mente,
  • 10:44 - 10:45
    a forma como tratamos os outros,
  • 10:45 - 10:49
    as ideias que criamos
    a favor ou contra alguém.
  • 10:49 - 10:54
    Ditam a forma como fazemos sexo,
    independentemente da nossa sexualidade.
  • 10:54 - 10:58
    Influenciam nossas escolhas
    em períodos de eleições.
  • 10:58 - 11:02
    Moldam nossa identidade,
    queiramos nós ou não.
  • 11:02 - 11:05
    E não estou falando de ser gay ou hétero.
  • 11:05 - 11:08
    Estou falando de não ter liberdade.
  • 11:10 - 11:13
    No fim da tarde, meu pai voltou.
  • 11:13 - 11:16
    A diversão dele tinha acabado,
    e a minha também.
  • 11:17 - 11:18
    Ninguém tinha como saber
  • 11:18 - 11:23
    que tínhamos brincado de boneca
    e sido "mariquinhas".
  • 11:23 - 11:26
    Eram só espigas largadas no chão.
  • 11:27 - 11:30
    Eu e meu primo nos afastamos
    ao longo dos anos.
  • 11:30 - 11:33
    Hoje eu vivo no Colorado;
    ele vive na Estônia.
  • 11:33 - 11:36
    Hoje, na casa dos 30 anos,
    ambos temos orgulho de sermos LGBTQ.
  • 11:38 - 11:42
    Graças à internet, eu liguei para ele
    dois anos atrás para nos reconectarmos.
  • 11:43 - 11:48
    Eu o visitei na Estônia e compartilhamos
    nossas recordações e momentos difíceis,
  • 11:48 - 11:53
    finalmente podendo ser nós mesmos juntos,
    primos LGBTQ, sem preocupação alguma.
  • 11:54 - 11:58
    Nós nos divertimos bastante no caraoquê,
  • 11:58 - 12:02
    quebrando uma daquelas infinitas regras
    daquele maldito manual.
  • 12:02 - 12:05
    Cantamos e dançamos
    aos som das Spice Girls.
  • 12:05 - 12:06
    (Risos)
  • 12:06 - 12:09
    (Aplausos)
  • 12:14 - 12:15
    E...
  • 12:16 - 12:17
    eu era a Baby Spice, aliás.
  • 12:17 - 12:19
    (Risos)
  • 12:21 - 12:23
    Embora tenhamos progredido
    enquanto sociedade,
  • 12:23 - 12:26
    o bullying contra LGBTQs e a vergonha
    em torno de ser LGBTQ ainda existem
  • 12:26 - 12:28
    nos EUA, no Brasil
  • 12:28 - 12:32
    e em muitos outros países
    onde não é mais ilegal ser LGBTQ.
  • 12:32 - 12:36
    O bullying pode ser
    uma das causas de traumas,
  • 12:36 - 12:38
    e pode se interseccionar
    com muitas outras coisas.
  • 12:38 - 12:40
    A homofobia é uma delas.
  • 12:42 - 12:44
    Ao mesmo tempo,
  • 12:44 - 12:47
    pessoas que cresceram
    enfrentando opressões desse tipo
  • 12:47 - 12:50
    geralmente ouvem dizer
    que, no fim das contas,
  • 12:50 - 12:54
    aquelas experiências horríveis na verdade
    foram boas para o seu crescimento.
  • 12:55 - 12:56
    Eu já ouvi isso.
  • 12:56 - 12:59
    Parece aquele tapinha nas costas:
  • 12:59 - 13:04
    "Olha, você passou por isso tudo,
    mas está bem e está vivo".
  • 13:05 - 13:06
    Bem,
  • 13:06 - 13:09
    muitos LGBTQs não estão vivos.
  • 13:09 - 13:14
    Muitos LGBTQs estão vivos,
    mas será que estão bem?
  • 13:14 - 13:16
    A que custo?
  • 13:16 - 13:17
    Ao custo de sua autoestima?
  • 13:17 - 13:19
    Ao custo de sua saúde mental?
  • 13:20 - 13:23
    Será que eu e você estamos realmente bem?
  • 13:24 - 13:27
    Ninguém devia ter vergonha
    de dizer que não.
  • 13:29 - 13:31
    Como você se cura de traumas, então?
  • 13:31 - 13:33
    Não posso dar soluções, lamento.
  • 13:33 - 13:39
    Tudo que posso fazer é compartilhar
    minha própria experiência e história.
  • 13:40 - 13:43
    A cura, para mim,
    certamente não tem sido fácil
  • 13:43 - 13:47
    e, sem dúvidas, não tem sido
    um caminho reto e tranquilo.
  • 13:47 - 13:48
    Acima de tudo,
  • 13:48 - 13:54
    curar-se de traumas de bullying homofóbico
    não é uma coisa definitiva.
  • 13:54 - 13:55
    É um processo.
  • 13:55 - 13:57
    Alguns dias, parece que você conseguiu.
  • 13:57 - 14:01
    Outros dias, parece que você
    voltou à estaca zero.
  • 14:01 - 14:05
    É frustrante, é cansativo,
    mas é preciso continuar tentando.
  • 14:06 - 14:09
    A arte e a terapia
    têm me ajudado bastante.
  • 14:09 - 14:11
    Escrever e desenhar minhas histórias
  • 14:11 - 14:16
    me torna mais poderoso
    do que o que aconteceu comigo na infância.
  • 14:16 - 14:22
    A terapia, que só comecei
    a fazer aos 29 anos,
  • 14:22 - 14:27
    me ajuda a entender, destrinchar
    e lidar com o que aconteceu comigo.
  • 14:28 - 14:33
    Aquelas experiências ruins
    vão ficando menores e mais fracas
  • 14:33 - 14:36
    a cada vez que crio
    algo novo a partir delas,
  • 14:36 - 14:38
    o que inclui a arte drag.
  • 14:39 - 14:43
    Lembram-se do meu nome, Krisagon,
    e do apelido maldoso que me deram?
  • 14:43 - 14:46
    Bem, já adulto,
  • 14:46 - 14:50
    decidi pegar algo que havia sido
    doloroso e traumático pra mim
  • 14:50 - 14:51
    durante muito tempo
  • 14:51 - 14:55
    e transformar em algo belo e criativo.
  • 14:55 - 15:01
    A minha drag é aquele menino dentro de mim
    finalmente podendo brincar de boneca.
  • 15:02 - 15:05
    Mais do que isso,
    eu posso ser a própria boneca.
  • 15:05 - 15:08
    Posso virar as regras ao avesso,
  • 15:08 - 15:11
    ou até jogar aquele
    maldito manual pela janela.
  • 15:11 - 15:16
    A personagem que está falando
    com vocês agora se chama Krisa Gonna.
  • 15:17 - 15:18
    Muito prazer.
  • 15:19 - 15:22
    (Aplausos)
  • 15:28 - 15:31
    Não tenho mais vergonha daquele apelido.
  • 15:31 - 15:35
    Eu o ressignifiquei e posso criar
    minhas próprias regras,
  • 15:35 - 15:37
    estando ou não na personagem drag.
  • 15:37 - 15:40
    Espero que os que implicavam comigo
    da primeira série à faculdade
  • 15:40 - 15:42
    tenham encontrado a liberdade.
  • 15:42 - 15:46
    Sabe, quem faz bullying
    odeia a liberdade que outros têm.
  • 15:46 - 15:48
    Por isso, fazem bullying.
  • 15:49 - 15:51
    Na verdade, cabe somente a eles...
  • 15:51 - 15:53
    Sabe, não é minha obrigação
    ensinar a eles,
  • 15:53 - 15:57
    e eles têm que se dar conta
    de que esse comportamento também os fere,
  • 15:57 - 15:59
    mas espero que eles
    assistam a esta palestra.
  • 16:00 - 16:05
    A arte e a psicoterapia são recursos
    que deviam ser acessíveis a todos
  • 16:05 - 16:08
    porque todos precisam.
  • 16:08 - 16:11
    Todos temos algo a ser
    trabalhado em nós mesmos.
  • 16:11 - 16:12
    Eu sei que eu tenho.
  • 16:12 - 16:15
    Afinal, fui socializado como menino.
  • 16:16 - 16:19
    Minha família era tradicional.
  • 16:20 - 16:22
    Ela também era muito dividida
  • 16:22 - 16:26
    por causa do que chamamos
    de masculinidade tóxica.
  • 16:26 - 16:29
    Talvez seja esse o significado
    de "família tradicional".
  • 16:29 - 16:35
    Só tive exemplos heterossexuais,
    supermasculinos e impostos a seguir.
  • 16:35 - 16:39
    Vai além do meu pai,
    além do pai do meu pai.
  • 16:41 - 16:46
    Muitos homens passam por formas
    diferentes de condicionamento
  • 16:46 - 16:49
    em relação ao que significa ser homem.
  • 16:50 - 16:55
    Não é de se admirar que hoje,
    estatisticamente e com base em pesquisas,
  • 16:55 - 16:56
    haja menos homens fazendo terapia
  • 16:56 - 17:00
    porque não falam sobre seus sentimentos
    e não procuram ajuda.
  • 17:00 - 17:04
    Há menos homens que se sentem naturalmente
    preparados para serem bons pais
  • 17:04 - 17:07
    porque cuidar de filhos
    é "coisa de mulher".
  • 17:07 - 17:11
    Se lembram de quem podia brincar
    de casinha e de boneca na infância?
  • 17:11 - 17:14
    Há mais homens lidando com o suicídio -
  • 17:14 - 17:18
    se lembram de quem era ensinado a ser
    forte e não demonstrar sentimentos? -
  • 17:18 - 17:21
    lidando de forma inconsequente
    com o uso de drogas
  • 17:22 - 17:26
    como forma de anestesiar seus sentimentos
    de medo, raiva e tristeza.
  • 17:26 - 17:32
    Bem, eu não sou psicólogo,
    nem sociólogo, nem assistente social.
  • 17:32 - 17:35
    Sou apenas uma pessoa queer
    socializada como menino,
  • 17:35 - 17:38
    assumidamente gay e queer,
  • 17:38 - 17:41
    que confia nos cientistas e pesquisadores
  • 17:41 - 17:44
    que estudam todas essas coisas
    sobre as quais falei.
  • 17:44 - 17:46
    Todos devíamos confiar neles.
  • 17:46 - 17:50
    Lembrem-se: em nossa sociedade,
    a vergonha vem de graça.
  • 17:50 - 17:54
    Mas lembrem-se também
    de que ninguém precisa sentir vergonha
  • 17:54 - 17:57
    para saber como é ter orgulho de si mesmo.
  • 17:58 - 18:04
    Mudar a forma como criamos filhos homens
    não vai mudar a sexualidade deles.
  • 18:04 - 18:09
    Ter permissão e incentivo para brincar
    com diversos tipos de brinquedo
  • 18:09 - 18:11
    só vai tornar os filhos mais criativos,
  • 18:11 - 18:15
    mais preparados para os desafios da vida
  • 18:15 - 18:19
    e mais tolerantes com os outros
    e consigo mesmos.
  • 18:20 - 18:22
    Eles serão livres.
  • 18:22 - 18:23
    Obrigado.
  • 18:23 - 18:24
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Da vergonha ao orgulho, e tudo que há no meio | Kris Barz Mendonça | TEDxCSU
Description:

A homofobia ocorre de formas diferentes no mundo inteiro, mas seu modus operandi, em geral, tem raízes na misoginia e na masculinidade tóxica. As consequências para as pessoas LGBT normalmente são vergonha e a autoaversão. Precisamos nos curar. A arte e a terapia podem funcionar como ferramentas importantes no enfrentamento do transtorno do estresse pós-traumático decorrente do bullying homofóbico.

Kris Barz Mendonça é um artista brasileiro que vive no Colorado, nos EUA. Seu trabalho inclui e mescla ilustração, quadrinhos, contação de histórias, drag e dança. Por meio da arte, ele questiona, desafia e reinterpreta os papéis tradicionais de gênero, a heteronormatividade e a masculinidade tóxica, curando-se, ao mesmo tempo, dos traumas da vergonha que lhe foi imposta por seu gay e do bullying homofóbico.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
18:37

Portuguese, Brazilian subtitles

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