< Return to Video

O que há no fundo do oceano — e como lá chegar

  • 0:01 - 0:04
    David Biello: Então, Victor,
    o que tens andado a fazer?
  • 0:05 - 0:08
    Victor Vescovo: Isto é o fundo
    do Oceano Atlântico.
  • 0:08 - 0:11
    Devo ter lido muito
    Júlio Verne, em miúdo.
  • 0:11 - 0:14
    porque há quatro anos que lidero
    uma equipa para desenhar e construir
  • 0:15 - 0:18
    o que é, agora, o submersível
    mais avançado e sofisticado do planeta
  • 0:18 - 0:21
    e também sou eu que o posso pilotar.
  • 0:21 - 0:23
    Aqui somos nós
    em dezembro do ano passado,
  • 0:23 - 0:26
    pela primeira vez, no fundo
    do Oceano Atlântico.
  • 0:26 - 0:28
    DB: Nunca ninguém viu isto, pois não?
  • 0:28 - 0:29
    Só tu.
  • 0:29 - 0:31
    VV: Não. Bem, agora já toda a gente viu.
  • 0:31 - 0:34
    DB: Quem é que faz isso?
  • 0:35 - 0:38
    VV: Penso que toda a gente já viu
    a evolução dos últimos 10, 15 anos.
  • 0:38 - 0:42
    Temos empresas espaciais
    que têm os meios para explorar o espaço,
  • 0:42 - 0:45
    como a SpaceX ou a Blue Origin
  • 0:45 - 0:47
    mas nós vamos na direção oposta.
  • 0:47 - 0:50
    Estamos numa era espantosa em que
    privados gastam os seus recursos
  • 0:50 - 0:53
    para desenvolver tecnologias
    que nos podem levar a locais
  • 0:53 - 0:55
    que nunca foram explorados,
  • 0:55 - 0:57
    É quase um "cliché" dizer
  • 0:57 - 1:01
    que os oceanos mundiais
    constituem 70% do planeta
  • 1:01 - 1:03
    dos quais 95% nunca foram explorados.
  • 1:03 - 1:06
    O que estamos a tentar fazer
    com a nossa expedição
  • 1:06 - 1:08
    é construir e experimentar um submersível
  • 1:08 - 1:10
    que possa chegar a qualquer ponto
    no fundo do planeta,
  • 1:10 - 1:14
    para explorar os 60% deste planeta
    que ainda estão por explorar.
  • 1:15 - 1:18
    DB: É preciso um instrumento
    especial para isso, não é?
  • 1:18 - 1:19
    VV: Correto.
  • 1:19 - 1:21
    A ferramenta é o submarino,
    o Limiting Factor.
  • 1:21 - 1:23
    É um barco da última geração,
  • 1:23 - 1:26
    sustentado pelo barco de apoio,
    o Pressure Drop.
  • 1:26 - 1:28
    Tem uma esfera de titânio
    com 90 mm de espessura
  • 1:28 - 1:30
    que mantém constante
    a pressão atmosférica
  • 1:30 - 1:32
    e capaz de mergulhar repetidamente
  • 1:32 - 1:35
    ao ponto mais profundo do oceano.
  • 1:35 - 1:39
    DB: Tal como o SpaceX
    mas para exploração do oceano?
  • 1:39 - 1:42
    VV: Sim, é como o SpaceX
    da exploração oceânica
  • 1:42 - 1:44
    mas sou eu que piloto os meus veículos.
  • 1:44 - 1:45
    (Risos)
  • 1:46 - 1:47
    DB: Vais levar o Elon ou...?
  • 1:49 - 1:51
    VV: Sim, posso levar alguém lá abaixo.
  • 1:51 - 1:53
    Por isso, Elon, se estás a ouvir,
  • 1:53 - 1:55
    dou-te uma boleia no meu,
    se me deres uma boleia no teu.
  • 1:55 - 1:57
    (Risos)
  • 1:58 - 2:01
    DB: Diz-nos como é aquilo lá em baixo.
  • 2:01 - 2:04
    Estamos a falar de um local
    em que a pressão é tão forte
  • 2:04 - 2:07
    que é como colocar a Torre Eiffel
    apoiada no dedo grande do pé.
  • 2:07 - 2:10
    VV: É mais do que isso.
    São cerca de 16 000 psi.
  • 2:10 - 2:12
    Mas temos a esfera de titânio
  • 2:12 - 2:14
    que nos permite mergulhar
    a essa profundidade extrema
  • 2:14 - 2:16
    e voltar acima, repetidamente.
  • 2:16 - 2:17
    Isso nunca foi feito.
  • 2:17 - 2:20
    O Challenger Deep
    mergulhou duas vezes.
  • 2:20 - 2:23
    uma vez em 1960 e outra em 2012,
    com James Cameron.
  • 2:23 - 2:26
    Foram lá abaixo e voltaram,
    eram veículos experimentais.
  • 2:26 - 2:29
    Este é o primeiro submersível
    certificado comercialmente,
  • 2:29 - 2:32
    que pode mergulhar e subir
    milhares de vezes, com duas pessoas,
  • 2:32 - 2:33
    incluindo um cientista.
  • 2:33 - 2:36
    Sentimo-nos orgulhosos
    por termos levado, há três semanas,
  • 2:36 - 2:39
    o britânico que fez o mergulho
    mais profundo da História
  • 2:39 - 2:41
    o Dr. Alan Jamieson,
    da Universidade de Newcastle
  • 2:41 - 2:44
    que desceu connosco à Fossa de Java.
  • 2:44 - 2:48
    DB: Portanto, suponho que não leves
    contigo pessoas demasiado caprichosas.
  • 2:48 - 2:50
    VV: Bom, há pessoas muito diferentes
    a mergulhar.
  • 2:50 - 2:53
    Quem é claustrofóbico
    não quer entrar num submarino.
  • 2:53 - 2:54
    Descemos uma grande distância,
  • 2:54 - 2:57
    e as missões costumam durar
    oito a nove horas num espaço fechado.
  • 2:57 - 3:00
    É muito diferente do que eu
    fazia anteriormente
  • 3:00 - 3:03
    que era subir a montanhas
    onde estamos em espaços abertos,
  • 3:03 - 3:05
    com ventos fortes e muito frio.
  • 3:05 - 3:07
    Isto é o oposto, é muito mais técnico.
  • 3:07 - 3:10
    Tem a ver com a precisão
    na utilização dos instrumentos
  • 3:10 - 3:12
    e com solucionar problemas.
  • 3:12 - 3:15
    Mas, se alguma coisa correr mal
    no submersível, não daremos por isso.
  • 3:15 - 3:17
    (Risos)
  • 3:17 - 3:19
    DB: Estás a dizer que tens medo
    de fugas?
  • 3:19 - 3:23
    VV: As fugas não são nada boas,
    mas, se o que acontecer for uma fuga,
  • 3:23 - 3:25
    não é assim tão mau
    porque, se fosse mesmo mau,
  • 3:25 - 3:27
    também não daríamos por isso.
  • 3:27 - 3:29
    Um incêndio na cápsula
    também não seria bom,
  • 3:29 - 3:31
    mas este submersível é muito seguro.
  • 3:31 - 3:34
    Costumo dizer que não confio
    em muitas coisas na vida,
  • 3:34 - 3:36
    mas confio no titânio,
    confio na matemática
  • 3:36 - 3:38
    e confio na análise dos elementos finitos
  • 3:38 - 3:39
    que é como nos certificamos
  • 3:40 - 3:41
    se estas coisas podem sobreviver ou não
  • 3:41 - 3:44
    a estas pressões e condições
    extraordinárias.
  • 3:44 - 3:47
    DB: Essa esfera está fabricada
    de modo perfeito, não está?
  • 3:47 - 3:49
    É uma verdadeira obra de arte.
  • 3:49 - 3:52
    VV: O verdadeiro desafio
    foi construir uma esfera de titânio
  • 3:52 - 3:55
    com o rigor duma máquina de 0,1%.
  • 3:55 - 3:59
    O titânio é difícil de trabalhar
    há muita gente que não consegue
  • 3:59 - 4:00
    mas tivemos imensa sorte.
  • 4:00 - 4:03
    A nossa equipa conseguiu fazer
    uma esfera quase perfeita
  • 4:03 - 4:05
    que, quando sujeita
    a uma coisa como a pressão,
  • 4:05 - 4:07
    é a forma geométrica mais forte que temos.
  • 4:07 - 4:10
    Quando entro no submersível
    e se fecha a escotilha,
  • 4:10 - 4:13
    tenho toda a confiança
    de que vou descer e vou voltar.
  • 4:13 - 4:16
    DB: Verificas duas vezes
    que a escotilha está fechada?
  • 4:16 - 4:18
    VV: Há duas regras
    para mergulhar num submarino.
  • 4:18 - 4:20
    Número um é fechar a escotilha
    com segurança.
  • 4:20 - 4:22
    Número dois é repetir
    a regra número um.
  • 4:23 - 4:26
    DB: Ok, então
    Oceano Atântico: verificado.
  • 4:27 - 4:29
    Oceano Sul: verificado.
  • 4:29 - 4:32
    VV: Nunca ninguém mergulhou
    no Oceano Sul. E eu sei porquê.
  • 4:32 - 4:35
    É mesmo muito hostil.
    O tempo é péssimo.
  • 4:35 - 4:37
    A palavra colisão vem à cabeça.
  • 4:37 - 4:41
    Mas já fizemos isso, sim.
    Ainda bem que acabou.
  • 4:41 - 4:42
    Obrigado.
  • 4:42 - 4:43
    (Aplausos)
  • 4:43 - 4:45
    DB: Parece que estavas com pressa.
  • 4:45 - 4:47
    E agora o Oceano Índico,
    como Kelly referiu.
  • 4:48 - 4:49
    VV: Sim, isso foi há três semanas.
  • 4:49 - 4:52
    Tivemos imensa sorte
    de resolver o mistério.
  • 4:52 - 4:53
    Se me perguntassem há três semanas:
  • 4:53 - 4:56
    "Qual é o ponto mais profundo
    do Oceano Índico?"
  • 4:56 - 4:58
    ninguém sabia.
  • 4:58 - 4:59
    Havia dois candidatos,
  • 4:59 - 5:01
    um a ocidente da Austrália
    e um na Fossa de Java.
  • 5:01 - 5:03
    Temos um navio
    com um sonar espetacular.
  • 5:03 - 5:05
    Mapeámos ambos.
  • 5:05 - 5:07
    Enviámos módulos lá abaixo
    e verificámos
  • 5:07 - 5:10
    que fica na parte central
    da Fossa de Java
  • 5:10 - 5:12
    onde ninguém julgava ficar.
  • 5:12 - 5:14
    Sempre que completamos
    um dos mergulhos principais,
  • 5:14 - 5:17
    tivemos de ir à Wikipedia e alterá-la,
  • 5:17 - 5:19
    porque estava totalmente errada.
  • 5:19 - 5:20
    (Risos)
  • 5:21 - 5:23
    DB: Provavelmente, demora mais tempo
    chegar lá abaixo
  • 5:23 - 5:25
    do que o tempo que passam lá em baixo?
  • 5:25 - 5:29
    VV: Não. Passamos lá em baixo
    bastante tempo.
  • 5:29 - 5:31
    Temos oxigénio para quatro dias, no barco.
  • 5:31 - 5:33
    Se eu estiver lá em baixo quatro dias,
  • 5:33 - 5:35
    qualquer coisa correu tão mal
    que já não vou usá-lo
  • 5:35 - 5:39
    mas demora umas três horas
    até chegar à parte mais profunda do oceano
  • 5:39 - 5:41
    e, depois, passamos ali
    umas três ou quatro horas
  • 5:41 - 5:43
    e mais três horas para subir.
  • 5:43 - 5:45
    Não queremos demorar
    mais de 10 ou 11 horas.
  • 5:45 - 5:46
    Pode ficar um bocado apertado.
  • 5:46 - 5:49
    DB: Ok, portanto, o fundo
    do Oceano Índico.
  • 5:50 - 5:54
    Isto é uma coisa que ninguém,
    a não ser tu, já tinha feito.
  • 5:54 - 5:58
    VV: Estas são imagens de um
    dos nossos módulos robóticos.
  • 5:58 - 6:01
    Em baixo à direita, vemos
    um robusto "Acanthonus armatus"
  • 6:01 - 6:03
    — é assim que se chama.
  • 6:03 - 6:06
    Mas à esquerda, podem ver uma criatura
    que nunca tinha sido vista.
  • 6:06 - 6:10
    É uma medusa de profundidade,
    da classe das Ascídias.
  • 6:10 - 6:12
    Nunca tínhamos visto nada
    com este aspeto.
  • 6:12 - 6:15
    Esta tem uma pequena cria
    na ponta da cauda
  • 6:15 - 6:18
    e andava à deriva de forma muito bonita.
  • 6:18 - 6:20
    Em cada um dos mergulhos
    que fizemos,
  • 6:20 - 6:22
    embora só tenhamos estado
    lá em baixo umas horas,
  • 6:22 - 6:24
    encontrámos três ou quatro novas espécies
  • 6:24 - 6:28
    porque são locais que têm estado
    isolados há milhares de milhões de anos
  • 6:28 - 6:31
    e nenhum ser humano
    já esteve lá em baixo para os filmar
  • 6:31 - 6:32
    ou colher amostras.
  • 6:33 - 6:35
    Isto, para nós,
    é uma coisa extraordinária.
  • 6:35 - 6:36
    (Aplausos)
  • 6:37 - 6:38
    Temos esperança
  • 6:38 - 6:43
    — o principal objetivo da nossa missão
    é construir esta ferramenta, esta porta.
  • 6:43 - 6:45
    porque, com esta ferramenta,
  • 6:45 - 6:46
    podemos construir mais
  • 6:46 - 6:49
    e levar cientistas
    a fazer milhares de mergulhos,
  • 6:49 - 6:51
    para abrir esta porta à exploração
  • 6:51 - 6:54
    e encontrar coisas
    que não tínhamos ideia que existissem.
  • 6:55 - 6:59
    DB: Têm estado mais pessoas no espaço
    do que no fundo do oceano.
  • 6:59 - 7:01
    Tu és um entre três.
  • 7:01 - 7:04
    Vais aumentar esse número
    ou vais desistir?
  • 7:04 - 7:07
    VV: Já três pessoas mergulharam
    até ao fundo do Oceano Pacífico:
  • 7:07 - 7:09
    O batiscafo USS Trieste, em 1960,
    com duas pessoas;
  • 7:09 - 7:12
    James Cameron, em 2012,
    com o seu Deep Sea Challenger
  • 7:12 - 7:14
    — obrigado, Jim, um grande submarino.
  • 7:14 - 7:16
    Isto é uma tecnologia de terceira geração.
  • 7:16 - 7:18
    Vamos mergulhar dentro de duas semanas
  • 7:18 - 7:20
    e vamos tentar fazê-lo muitas vezes,
  • 7:20 - 7:22
    o que nunca foi feito até agora.
  • 7:22 - 7:24
    Se pudermos fazer isso,
    teremos comprovado a tecnologia
  • 7:24 - 7:27
    e essa porta não só se abrirá,
    como ficará aberta.
  • 7:27 - 7:30
    (Aplausos)
  • 7:31 - 7:32
    DB: Fantástico. Boa sorte.
  • 7:32 - 7:34
    VV: Muito obrigado.
    DB: Obrigado.
  • 7:34 - 7:35
    VV: Obrigado a todos.
  • 7:35 - 7:38
    (Aplausos)
Title:
O que há no fundo do oceano — e como lá chegar
Speaker:
Victor Vescovo
Description:

Victor Vescovo lidera a primeira expedição pilotada pelo homem ao ponto mais profundo de cada um dos cinco oceanos mundiais. Conversando com o curador TED David Biello, Vescovo analisa a tecnologia que permite as explorações — um submersível de titânio concebido para suportar condições extremas — e mostra sequências filmadas de uma criatura nunca antes vista, feitas durante a sua viagem até ao fundo do Oceano Índico.

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
07:51

Portuguese subtitles

Revisions