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(Som de vento a soprar)
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(Música animada)
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(A música toca)
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Olá. Bem-vindos.
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Bem-vindos a esta sessão especial
"Regresso ao Coração da Floresta".
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Vamos ter um momento
de contemplação e reflexão em silêncio,
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aqui hoje, no conforto das árvores.
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E para orientar esta sessão, tenho o prazer de dar as boas-vindas
ao Irmão Abraço (Embrace) e ao Irmão Espírito (Spirit),
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do mosteiro de Plum Village.
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Obrigada.
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Boa tarde e bem-vindos, queridos amigos.
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É tão maravilhoso estarmos juntos.
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Sentimo-nos um bocadinho longe de vocês.
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Gostava de aproximar isto um pouco.
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Queremos sentir-nos próximos.
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Assim está melhor.
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Aí está.
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Mmmh, que espaço maravilhoso.
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É tão bom sentir a qualidade do ar.
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Oxigénio. Fresco.
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Então, esta tarde, queríamos apenas
criar um espaço e um tempo para nos conectarmos
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uns com os outros, connosco próprios,
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com a Mãe Terra, que está sempre presente para nós,
mas talvez nós nem sempre estejamos presentes para ela.
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Este é um momento para, sim,
encontrarmos formas concretas, práticas,
-
coisas que possamos integrar no nosso dia
para tornar essa ligação algo muito concreto,
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algo prático, algo a que possamos
recorrer a qualquer momento da nossa vida,
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estejamos nós presos
num arranha-céus, num escritório,
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ou a caminhar descalços pela floresta.
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Por isso, sim, estamos muito felizes
por estarmos aqui convosco hoje.
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Estamos em Glasgow
há cerca de dez dias,
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a caminhar devagar, com atenção plena, a levar sorrisos
e suavidade à zona azul, na COP.
-
E a caminhar depressa também.
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(Risos) Às vezes é preciso andar depressa
para chegar a uma reunião.
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E está tudo bem.
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O corpo corre, mas nós não corremos por dentro.
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Acho que vamos então começar
com uma meditação sentada guiada.
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Sim, antes de começar, queremos partilhar convosco
uma prática que gostaríamos de vos oferecer,
-
para que a possam experimentar um pouco.
-
Temos partilhado muito,
ideias e assim por diante,
-
por isso, esta é uma oportunidade
para experienciarmos um pouco,
-
de regressar
e tocar na natureza que está dentro de nós.
-
Vou guiar-vos para reconhecerem
que nós somos a Mãe Terra.
-
Às vezes separamos,
-
pensamos que a Mãe Terra, a natureza,
está lá fora, à espera que a salvemos,
-
mas na verdade ela está dentro de nós.
-
Somos água, somos terra,
somos fogo, somos ar.
-
Isto é muito importante
no nosso trabalho, na nossa... vá, “corrida”,
-
(pequena risada)
-
mas eu acho que a Mãe Terra está bem,
-
são os humanos
que precisam de cuidar de si próprios,
-
e quando cuidamos de nós,
estamos presentes em nós,
-
e já não precisamos das coisas materiais.
-
Já não precisamos de consumir.
-
A nossa felicidade estará mais alinhada
com quem realmente somos — que é a Mãe Terra.
-
Por isso, sentem-se confortavelmente.
-
E para alguns de vós, isto pode ser novo,
-
mas vou apenas dizer
umas palavras para vos guiar.
-
E parte da meditação é sentir.
-
Pensamos muito e temos muitas ideias,
por isso pode ser difícil para alguns de nós,
-
mas vamos começar com o sentir, está bem?
E eu vou ajudar-vos nisso.
-
Então, sentem-se. Se puderem,
façam um “check-in” convosco próprios,
-
com a vossa coluna, e alinhem-na,
a coluna vertebral — sintam como está.
-
Talvez estejam demasiado para a frente ou para trás.
-
Vamos então realinhar a coluna
e sentir a gravidade da Mãe Terra, do planeta.
-
O peso do nosso corpo.
-
E talvez possamos fechar os olhos,
-
porque temos outro olho, um terceiro olho,
o olho da consciência.
-
Por isso, não precisamos dos nossos dois olhos de carne.
-
Fechamos os olhos e vemos
com o nosso terceiro olho, e começamos a sentir.
-
Ao inspirar, sentimos a inspiração,
a entrar pelas narinas.
-
Ao expirar, sentimos a expiração
pelas narinas.
-
Ao inspirar,
-
sentimos aquele pequeno espaço debaixo das narinas,
levamos toda a nossa atenção mental para aí,
-
e sentimos a respiração.
-
Inspiro.
Expiro.
-
Simplesmente levamos
toda a atenção da mente para aí.
-
Se surgir um pensamento,
deixamo-lo passar como uma nuvem.
-
Inspiração.
-
Sigo a inspiração até ao fim,
pelos pulmões abaixo, até ao abdómen,
-
sentindo a barriga a subir
com a entrada do ar.
-
Expiração, sinto a barriga a descer
à medida que o ar sai.
-
Inspiro.
-
Expiro.
-
O corpo pode sentir-se inquieto,
basta reconhecer isso.
-
Ao inspirar, eu incorporo este corpo.
-
Sinto a presença deste corpo sentado,
sinto a gravidade da Mãe Terra.
-
Ao expirar, eu solto.
-
Solto os ombros,
deixo a gravidade atuar sobre os ombros.
-
Permito que a Mãe Terra puxe a tensão
do rosto, das bochechas, da testa.
-
Sinto o abraço da Mãe Terra,
a gravidade a puxar-nos, a sustentar-nos.
-
A relaxar qualquer tensão.
-
A soltar, especialmente
à volta do pescoço, dos ombros.
-
Inspiro.
-
Expiro.
-
Deixamos simplesmente os ombros cair.
Deixamos o rosto suavizar.
-
Não precisamos de segurar tudo tão intensamente,
-
com este corpo que corre,
anda de um lado para o outro todo o dia.
-
Agora oferecemos a este corpo,
o corpo da Mãe Terra, o nosso amor, o nosso cuidado.
-
Inspiro, consciente deste corpo.
-
Expiro, relaxando este corpo.
-
Inspiro, vejo-me como uma flor,
uma visão no jardim da humanidade.
-
Sou uma flor.
-
Sou uma manifestação da Mãe Terra.
-
Vim da Mãe Terra,
-
o meu rosto como uma margarida a desabrochar
ao sol da manhã.
-
Vejo o orvalho sobre a flor, fresco.
-
Sinto-me fresco como uma flor.
-
Que bonito é estar vivo,
manifestado nesta forma.
-
Inspiro, sou uma flor.
Mãe Terra, tu és em mim.
-
Expiro, sinto-me fresco como uma flor.
-
Ao inspirar, vejo-me como uma montanha.
-
O elemento terra dentro deste corpo,
o alimento que ingiro, a nuvem, a água.
-
Sou uma montanha, estável e imóvel.
-
Tenho emoções que vêm e vão.
-
Tenho pensamentos que vêm e vão,
mas não reajo.
-
Permaneço imóvel, sólido, como uma montanha.
-
Mãe Terra, tu estás em mim
como montanha.
-
Sinto a tua solidez debaixo dos meus pés.
-
Todo este drama da humanidade
não perturba a montanha.
-
A montanha intemporal.
-
Estou para além do calendário e dos horários.
-
Montanha intemporal.
-
Inspiro, vejo-me como montanha.
-
Expiro, estou sólido, estável como a montanha.
-
Ao inspirar, também vejo água em mim.
-
Sou um lago sereno, nas alturas da montanha.
-
Vejo-me a refletir as nuvens,
a floresta. Tão límpido.
-
Ao expirar, sinto a mente
mais clara, mais aberta,
-
a refletir a beleza da Mãe Terra,
a refletir a beleza dentro de mim.
-
Sou suficiente.
-
Sou belo o suficiente,
ser apenas eu já é beleza suficiente.
-
Refleto a beleza da Mãe Terra,
que me deu esta vida.
-
Mãe Terra em mim, como água,
este lago sereno.
-
Inspiro, sou um lago calmo e sereno.
-
Expiro, reflito a beleza.
-
Ao inspirar, sinto todo o espaço,
-
o ar dentro de mim, à minha volta,
em cada célula deste corpo.
-
Não sou limitado por esta forma.
-
Sou espaçoso para além deste planeta,
para além de tudo o que podemos ver.
-
Sinto-me amplo, a maravilha de estar aberto,
espaço ilimitado.
-
Inspiro, vejo-me vasto.
-
Expiro, sinto-me livre, ilimitado.
-
Queridos amigos, podem abrir os olhos.
-
Queridas árvores sagradas,
obrigado por estarem connosco.
-
Obrigado por oferecerem a vossa frescura,
a vossa presença,
-
e espero que... que isso tenha sido útil,
que tenham conseguido tocar isso
-
— que a Mãe Terra não é apenas
um elemento fora de nós —
-
e que mesmo que por vezes sintamos
momentos de desconexão,
-
de desenraizamento,
de perda do nosso “coração de madeira”,
-
nos lembremos de que nós somos a Terra,
-
viemos da Terra
e regressaremos à Terra.
-
Gosto de fazer essa meditação
para me lembrar do que é importante,
-
por isso, nas vossas reuniões, nas vossas...
-
no nosso drama humano, se sentirem essa necessidade,
podem sempre recordar esta prática.
-
Basta algumas respirações,
quatro ciclos de inspiração e expiração,
-
e conectamo-nos com a terra,
com o fogo, o ar, o espaço, a água.
-
Obrigado pela vossa prática.
-
Nestes últimos dias,
-
temos encontrado muitas pessoas
na zona azul da COP
-
— dentro e fora da zona azul —
-
e estamos conscientes de que
há muita ansiedade e dor
-
sobre a condição em que nos encontramos.
-
Um verdadeiro estado de alerta vermelho
para a nossa sociedade.
-
Os danos que causámos
e de que fomos co-responsáveis,
-
alguns mais do que outros.
-
Olho para a minha própria sociedade
-
e para como ela beneficiou
do colonialismo.
-
Olho à minha volta, para estes edifícios,
e sim, vejo... vejo os traços.
-
Vejo as provas dessa história
e a dor que carrega,
-
e trazemos isso no coração.
-
Talvez neste momento,
se eu sentir o meu próprio coração,
-
e vos convidar a fazer o mesmo
— a sintonizar com o vosso coração neste momento —,
-
possam sentir talvez essa...
-
essa vibração de preocupação, de ansiedade,
por vezes até de um medo avassalador.
-
E se for tarde demais?
-
E se não conseguirmos um acordo forte
nesta COP?
-
E se for apenas mais do mesmo,
mais “greenwashing”, mais promessas vazias?
-
Isso pode trazer muita raiva,
muita dor,
-
e por isso, quando estamos em contacto com isso,
a nossa prática não é negar esse sentimento,
-
mas também ter o cuidado
de não reagir com raiva,
-
encontrar uma forma de...
de estar com esse sentimento,
-
de o acolher com ternura,
-
de deixar que vibre em nós
mesmo que doa,
-
sem o anestesiar,
sem o encobrir com consumo.
-
Esse é o risco da nossa sociedade atual.
-
Há tantas formas
de nos anestesiarmos,
-
tantas formas de evitar sentir
essa dor e ansiedade coletiva,
-
o luto pela perda da biodiversidade,
-
a solidão das espécies,
-
à medida que os nossos irmãos e irmãs
do mundo não humano se extinguem.
-
Há muita dor, e tantas formas
de nos distrairmos e encobrir isso,
-
e talvez, na zona azul da COP,
sinta-se uma tendência para achar que
-
não podemos expressar esse luto,
nem mostrar vulnerabilidade a essa dor,
-
porque temos de ser profissionais,
-
temos de, bem,
citar os dados e os números,
-
e...
e claro, isso também é importante — mas não só.
-
Para mim, a ciência é... é essencial,
temos de confiar nela,
-
mas o que gostamos de propor
é que existe a possibilidade
-
de combinar o coração
com a cabeça e o espírito e que, er,
-
é possível acolher
esses sentimentos de luto e ansiedade,
-
e não afogar-nos, não ser sobrecarregados.
-
Então nós, quando estamos com as pessoas, tentamos...
tentamos permitir que isso aconteça,
-
e para mim, é uma parte essencial do meu dia,
-
quando acordo de manhã,
tenho de me conectar com o meu corpo,
-
e ver onde está isso,
onde isso está no meu corpo,
-
sinto isso (respiração com os dentes),
essa ansiedade?
-
Essa dor?
-
Quero dizer, como é que eu encontro uma forma digna de lidar com isso,
sem apenas empurrá-lo para longe e dizer:
-
"ok, tenho de seguir com o meu dia"?
-
Eu não... sabem, é...
-
se eu me conectar com isso, vai ser demais,
não vou conseguir lidar com isso.
-
Tenho de saber como
me relacionar com isso de forma hábil,
-
e, hum, o que aprendi com o meu mestre
é que é possível,
-
exatamente tendo a coragem
de estar com essa dor,
-
de começar a metabolizá-la,
de começar a permitir que ela se mova,
-
para se transformar em raiva,
em vergonha,
-
vergonha coletiva pelo...
os danos causados pela nossa sociedade,
-
em compaixão, e em ação,
-
a energia para continuar na luta,
-
e voltar, sabem, para as tarefas que temos pela frente,
-
mas com esse sentimento.
-
Então talvez agora, eu vos convido a,
sim, a conectar-se com isso,
-
e, quer, sabem, estamos a segurar isso,
-
seguramos isso um pouco para nós mesmos,
a nossa própria dor,
-
mas também somos feitos do coletivo,
-
então, tocamos a dor coletiva
dos nossos irmãos, irmãs, amigos,
-
humanos e não-humanos.
-
A dor que sentimos é também
a dor da Terra,
-
e temos de ter, hum,
a coragem de enfrentá-la,
-
e quando o fazemos juntos,
num espaço como este,
-
ficamos conscientes de que
estamos rodeados por... amigos,
-
então essa dor também é partilhada,
torna-se mais fácil de suportar,
-
e uma das formas em que...
nos treinamos para lidar com a dor,
-
é também ser capaz de gerar
um sentimento de alegria quando precisamos,
-
porque se for só a dor
e vamos diretamente para ela, pode ser demais.
-
Então onde encontramos essa alegria?
-
Onde está ela?
-
Há tantas formas.
-
Isso é o maravilhoso,
torna-se como, uh...
-
é muito criativo, sabem,
entrar em contacto com a vossa criatividade,
-
e têm de partilhar uns com os outros
-
o que nos permite
entrar em contacto com a alegria em qualquer momento do dia.
-
Então vou dar-vos alguns exemplos.
-
Na próxima vez que segurarem
um copo de água na vossa mão,
-
antes de darem o primeiro gole,
notem o milagre que é a água.
-
Toquem a vossa gratidão.
-
Beber
água limpa e fresca é um milagre,
-
e sabemos que a gratidão
é uma fonte maravilhosa de alegria.
-
Tão simples.
-
Quando têm gratidão no vosso coração,
a alegria está lá.
-
Há a alegria de simplesmente estar vivo,
neste momento.
-
Aquela meditação que fizemos.
-
Podem sentir a vibração da vida
no vosso corpo, em cada célula,
-
dos pés, subindo pelas pernas,
tronco, braços, mãos, e rosto,
-
e passamos muito tempo nas nossas cabeças,
a pensar, a preocupar, a planear, a lamentar,
-
mas no momento em que trazemos a nossa atenção
de volta apenas para as sensações no nosso corpo,
-
neste momento, se prestarem atenção
às sensações na vossa mão,
-
podem pegar uma mão com a outra,
e simplesmente notar a sensação nos dedos.
-
Conseguem sentir o vosso pulso?
-
Sente-se quente ou fresco?
-
Há uma sensação de formigueiro
nas pontas dos vossos dedos?
-
Conseguem permitir que a vossa mente se assente
na consciência das sensações?
-
E talvez sintam um pequeno momento
de perceber: "Estou vivo! Ainda estou vivo!"
-
E nas minhas mãos estão as mãos da minha mãe,
as mãos do meu pai, as mãos dos meus antepassados,
-
e ainda estou vivo,
e através de mim todos eles estão vivos,
-
e podemos continuar a agir com bondade,
com suavidade, com compaixão.
-
Isso tem de ser alegria.
-
Então, encontramos todas estas formas
de nos nutrirmos,
-
novamente e novamente, ao longo do dia.
-
Quando recebemos comida,
-
quando cumprimentamos um amigo
e olhamos nos seus olhos.
-
Para mim, às vezes, sento-me em meditação
-
e só preciso de visualizar os rostos
do meu sobrinho e da minha sobrinha,
-
eles são jovens e estão
cheios de alegria,
-
e a sua alegria torna-se a minha alegria, instantaneamente.
-
Muito simples.
-
E quando sabemos como fazer isso,
criamos um espaço maior para a nossa dor.
-
É um, é um contexto para a nossa dor,
uma forma de um abraço mais amplo.
-
Então a nossa dor pode ainda estar lá, mas está dentro
desse abraço de alegria, de vida, de paixão, de amor,
-
e assim podemos começar a falar com a nossa dor,
e podemos dizer:
-
"Olá, olá minha tristeza,
olá minha ansiedade,"
-
"Sei que estás aí,
vou cuidar bem de ti,"
-
"Vou-te segurar com carinho,
permitir-te ser abraçada."
-
E podes estar aí o tempo que precisares.
-
Não tentem fazer com que isso vá embora,
não tentem negar,
-
simplesmente permitam que esteja aí,
-
e podem sentir
algo a libertar-se no vosso corpo.
-
Podem sentir-se bem,
-
tudo ainda está lá, sabem,
a situação continua lá,
-
o mundo continua
no estado de crise em que o encontramos,
-
mas talvez esteja
um pouco mais gerível,
-
porque se entrarmos em pânico,
-
se nos deixarmos levar para a luta ou fuga,
ou entorpecimento, ou paralisia,
-
podemos piorar a situação,
-
ou podemos falhar em agir
por causa dessa sobrecarga emocional,
-
então é essencial para nós aprendermos
algumas destas muito simples tecnologias espirituais,
-
algumas destas muito simples técnicas,
-
para que possamos começar a mover-nos com a nossa dor,
deixar que flua através de nós, não deixar que fique presa,
-
e assim podemos trazê-la para esses espaços,
para as reuniões,
-
e estar lá no painel
com uma lágrima no olho, sabem,
-
e até ir para a negociação com isso,
com o nosso coração um pouco vulnerável,
-
mas segurado no calor
da nossa própria alegria e celebração da vida.
-
Então, isso são algumas das coisas
que temos partilhado nestes, nestes espaços
-
e que queríamos partilhar convosco também,
-
e, uh, sim, gostava de convidar o meu irmão
para continuar a partir daqui.
-
Eu só partilho que, uh,
um pouco da minha jornada pessoal.
-
A minha família fugiu do Vietname em 1979,
por causa de uma guerra, uma guerra causada por ideologia.
-
Não tínhamos nada a ver com isso, mas de alguma forma
o nosso país foi um campo de batalha,
-
um campo de jogo para os rapazes e as suas armas.
-
(Sorriso breve)
-
A nossa família,
procurou refúgio na América,
-
e eu tinha oito anos,
e cresci no Ocidente,
-
fui educado no sistema educativo americano,
-
e tornei-me arquiteto,
-
trabalhei e, sabem,
tornei-me muito, uh, como todos:
-
tentando ter esse sonho de sucesso,
e ter todas as coisas que desejamos,
-
o carro, a casa e as contas bancárias,
o plano de reforma,
-
mas acho que através do sistema
tornei-me muito egoísta, uh,
-
cresci na era Reagan,
que era muito competitiva,
-
e é como, uh,
sabem, a curva de Bell,
-
então a minha educação era sempre, eu estava sempre,
tinha de estar à frente da curva de Bell.
-
(Sorriso breve)
-
Então, no meu trabalho, eu me tornei muito,
uh, protetor das minhas ideias, do meu...
-
Então, eu me tornei bem-sucedido,
-
e depois o sucesso
me fez ficar mais com medo, uh...
-
e a minha segurança era muito...
Eu tinha muito medo de perder a minha segurança,
-
a minha conta bancária
tinha que estar sempre a aumentar,
-
e eu também era muito consumista—
eu consumia muito também.
-
Comprava muitos— tinha muitos sapatos,
muitos Armani e, sabes, essas coisas todas,
-
muitas, como é que se chama, as colónias, as colónias,
-
não consigo acreditar que gostava de pôr isso,
-
e cheirar de uma maneira que não era natural.
-
(Risos)
-
Peço desculpa, não é para todos,
-
uh, não é um comentário sobre a nossa civilização,
mas é a minha jornada pessoal,
-
e, uh, recentemente, fui apresentado como líder espiritual,
-
o que eu reagi um pouco,
-
sinto-me, sinto-me mais no meu coração como um rebelde,
e sou um resistente,
-
e quando escolhi este caminho,
que acham que pode ser budista, religioso, uh,
-
mas o que realmente me move no meu coração,
-
como jovem, quando escolhi este caminho,
-
é, na verdade, rebeldia,
porque vi esta guerra:
-
Acordei e vi que há uma guerra
a acontecer pela minha mente.
-
A cultura em que cresci,
em que fui educado,
-
estava a fazer-me
tão ocupado e a correr atrás das coisas.
-
Eu não sabia porquê, estava tipo,
todas as sextas-feiras, com medo de estar em casa.
-
Tinha de sair, gastar dinheiro,
e sentia-me horrível se ficasse em casa.
-
Tinha de estar a gastar e a ir a esses lugares
que, sabes, não me preenchiam realmente.
-
Sentia-me, voltava,
sentindo-me mais vazio, sozinho.
-
Então, para mim, há, uh,
para esta mudança climática,
-
para este, uh, reequilíbrio da nossa
cultura de produção e consumo,
-
precisamos também de uma mudança cultural,
da forma como nos comportamos,
-
e isso é, uh,
uma coisa muito importante a salientar.
-
Portanto, para mim, olho e vejo,
onde quer que vá,
-
vou ao aeroporto, vou a lugares,
-
e vejo que há uma guerra
pela nossa mente, pela nossa atenção.
-
Os seres humanos agora estão tão...
-
temos de resistir tanto para, tipo, realmente estar
com os outros sem tocar nesta coisa,
-
e já não estamos realmente presentes,
-
e então, para mim, há algo
muito fundamental que está, uh, a faltar,
-
e isso faz-nos sentir vazios porque já não estamos a ter
a conexão de coração para coração com os outros,
-
com os nossos entes queridos, com a Mãe Terra,
com a nossa comida, com a água.
-
Portanto, sentimos-nos muito, sabes, perdemos,
ficamos alienados e tornamo-nos solitários
-
e é exatamente isso que
a guerra está a levar-nos.
-
O mercado, a publicidade,
eles sabem como te fazer sentir sozinho,
-
e depois consumimos,
estimula-se, entretém-se.
-
Então, fui assim, era assim,
-
e para mim, em vez de ser visto
como um líder espiritual, ou assim—
-
na verdade sou, uh,
mais ligado à rua
-
e na verdade viemos da tradição
de sair das nossas casas,
-
e ir para as ruas,
e pedir comida.
-
Claro que agora provavelmente
seríamos postos na prisão ou algo assim,
-
mas, uh, antigamente, na Índia,
íamos de casa em casa,
-
pedir comida,
-
e é uma forma de reconhecer
a nossa interconexão,
-
a nossa dependência de vocês para o nosso sustento,
-
dependência da Mãe Terra
para o nosso sustento, para a nossa alimentação,
-
portanto, isso é um símbolo de, tipo,
deixar todas as coisas materiais,
-
para que possamos depender e confiar
que o cosmos vai providenciar
-
quando nos movemos a partir de um lugar de conexão,
de não-separação, do coração,
-
e isso é uma revolução na educação,
nos meios de comunicação, no que produzimos como—
-
o que supostamente deveríamos fazer
como seres humanos, como civilização humana,
-
e se não tivermos cuidado,
se não— não estivermos atentos,
-
se não tivermos a nossa atenção,
-
eles vão manipular
e dizer-te que isto é—
-
e é muito fácil agora,
porque eles sabem da nossa fraqueza:
-
quando estamos sozinhos, quando estamos infelizes,
é quando— sabes, na altura do Natal:
-
toca-se uma música muito bonita,
fazem-te sentir bem,
-
e o que acontece?
Queres comprar coisas para os teus entes queridos.
-
Portanto, esta é a cultura que é—
é muito difícil resistir a isso,
-
e então, para mim, eu estou a lutar—
-
os meus pais escaparam de uma guerra do Vietname,
que chamamos os Comunistas.
-
Agora eu escapo de outro tipo de sistema.
-
Não sei como o chamas,
eles chamam-lhe Capitalismo, mas eu vejo—
-
vejo-o muito mais no material
e dinheiro e bancos, mas é pela nossa mente.
-
Há outra guerra pela nossa atenção.
-
Portanto, para mim— eu sinto-me mais próximo do que,
porquê, er, estamos a fazer o que estamos a fazer,
-
e então convido-te a testar-te
neste próximo feriado:
-
resistir à guerra pela nossa atenção,
-
resistir a expressar o nosso amor
comprando coisas materiais, tenta— testa isso,
-
e depois a tua— a tua família,
os teus entes queridos, dizem:
-
"Mas, estás a brincar comigo, só
me vais dar um abraço no Natal?"
-
"Agora quero, realmente, algo
que me mostre o teu amor", certo?
-
Vês essa cultura?
-
E se fizeres isso,
provavelmente serás criticado.
-
Portanto, esta é, er, a guerra de que estou a falar
-
e é exatamente a raiz
do porquê temos este problema,
-
que está a destruir outras culturas,
destruindo outros, er, grupos que estamos a explorar,
-
e há buracos na terra na Indonésia
só porque gostamos desta pedrinha brilhante,
-
chamada— chamamos-lhe "Diamantes", certo?
-
Vi esse buraco eu mesmo,
é incrível,
-
e gostaria que todos vocês estivessem lá
nesse buraco na terra,
-
e então isto é, er, o que estamos a resistir,
-
e isto é o que trouxemos,
tão quanto pudemos, para a conversa.
-
É difícil, porque, sabes,
er, ok, isso tudo está bem, sabes, e estamos—
-
vamos fazer a coisa verdadeira de adulto:
vamos resolver o problema,
-
é tudo bonito e fantástico—
sabes, meditação e tudo isso
-
(Risos)
-
mas, er, sim, há—
essa é a dificuldade, er, nisto,
-
e vemos isso em, er, até nesta organização
que estamos, er, a organizar para resolver o problema.
-
Toda a gente está tão desconectada,
do seu corpo,
-
então ajudamos as pessoas a simplesmente abrandar
-
e reconhecer que estamos, por baixo de tudo isso,
é o nosso amor, e o nosso cuidado,
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e então vamos por aí, abraçamos as pessoas,
e damos as mãos,
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e eles resistem no início e dizem
"deixa— uh— vamos higienizar depois, sim?"
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(Risos)
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Sabem, e isto é, er,
esta é a conexão, que—
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todos nós queremos a mesma coisa,
mas por causa das maneiras como a sociedade
tem projetado,
e fazem-nos sentir separados
uns dos outros e da Mãe Terra,
do chão abaixo de nós.
Então, deixo-vos com isso, para vos deixar saber,
e por favor, er, ajudem-nos, e espalhem essa notícia,
espalhem esse vírus, ok.
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Esse vírus de atenção— de despertar, de estar empoderado,
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de ter a tua própria soberania,
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e não deixar que outros te colonizem
com o seu próprio dogma, sim.
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Obrigado.
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Então gostaríamos de convidar o nosso bom amigo Nick
para o palco, para nos oferecer uma música,
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é também para nutrir
a nossa alegria e a nossa conexão.
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Esta é uma parte tão importante
da nossa cura,
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e isso também está um pouco a faltar
na zona azul ali,
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er, mas pelo menos aqui podemos,
podemos oferecer isso,
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e depois, er,
pensámos que podíamos partilhar convosco
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a prática da meditação a andar,
porque queremos tornar isto experiencial,
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e já que este é um espaço tão bonito,
acho que gostaríamos de tentar, se quiserem,
fazer uma meditação a andar
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aqui, neste espaço.
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É algo— uma habilidade muito transferível,
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para que a possam levar de volta para casa,
para o vosso local de trabalho, onde quer que vão, então, er, sim.
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Vamos desfrutar.
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Obrigado irmãos
por partilharem esta plataforma comigo.
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Olá a todos, o meu nome é Nick,
e esta é uma música chamada "A Prece Minha".
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De alguma forma o meu amor
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De alguma forma o meu amor
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Mantém-me com o coração aberto no inferno
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Dá-me a coragem de sentir tudo
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A beleza da queda
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Quando quero fugir
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Quando desejo fugir
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Oh, Senhor, ajuda-me a ficar
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Olho em volta, olho para longe
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Ei, ei, há demasiado para aguentar
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Encho o meu coração a cada dia
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Encho o meu coração sempre que digo
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Que não sei como partir
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Que estou melhor assim
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Anda, Senhor, ajuda-me a ficar
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De alguma forma o meu amor
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De alguma forma o meu amor
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Podemos suportar o insuportável?
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Como suportar o insuportável?
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Como suportar o insuportável?
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Encontrar na cor da minha raiva,
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Dar à nossa raiva um lugar,
oh, a besta tem um rosto,
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Com uma careta e tanta graça
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E um coração aberto no inferno
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Bem, bem,
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Coragem para sentir tudo
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Sustenta-nos, mantém-nos parados,
quando queremos fugir
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Anda, Senhor, ajuda-nos a ficar
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E fazemos isso pelo nosso próprio bem
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Pelas nossas meninas, pelos nossos meninos
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E fazemos isso pela nossa casa
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Se fizermos isso pelo mundo
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Então deixa sair, e deixa entrar
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Conhece a besta dentro de mim
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Dá-lhe amor e traz-o para dentro
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Não, não é um inimigo, mas um amigo
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E na fúria do fogo
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Nesse fogo intemporal
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Encontro o meu amigo antigo,
Senhor, vem ajudar-me uma vez mais
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Então deixa sair, e deixa entrar
-
Conhece a besta dentro de mim
-
Dá-lhe amor e traz-o para dentro
-
Não, não é um inimigo, mas um amigo
-
Na fúria do fogo
-
Nesse fogo intemporal
-
Encontro o meu amigo antigo,
Senhor, vem ajudar-me uma vez mais, sim
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(Cantando sem palavras)
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Obrigado.
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Isto também é uma meditação guiada.
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Obrigado, Nick. Uau. Obrigado.
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Alguém nos pode dizer a hora?
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Temos um minuto?
Dois minutos? Nenhum minuto?
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Dois minutos, mesmo dois minutos? Ok.
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Então talvez... (Fala muito baixa)
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Então não temos tempo para andar, talvez.
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E que horas são agora?
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Literalmente dez minutos. Ok.
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É possível. Cinco minutos?
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Sim.
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Ok, queres liderar?
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Sim, gostaríamos de, er,
partilhar convosco, er, este espaço aqui.
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Não tenho a certeza se podemos fazer algum tipo de ciclo,
mas, por favor, levantem-se.
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Deixem as vossas malas aqui.
Acho que vamos voltar.
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Temos dez minutos,
mas quero que experimentem isto
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porque temos praticado isto
na, er, conferência enquanto andávamos por aí.
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E é, er, muito— muito mais fácil do que,
er, a meditação sentados, é a meditação a andar.
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Então, simplesmente tornem-se conscientes de
as vossas, er, pernas, os vossos pés, em pé,
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e larguem os vossos braços.
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Na verdade, vai ser muito curativo, na verdade,
para, er, ok, levantem os braços.
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In, estiquem para cima, e para fora.
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Uau, preciso mesmo disto.
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In, estiquem para cima, para fora.
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Claro, aqui está a tradução:
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O nosso corpo é como uma esponja, ok.
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Então, in, apertam a esponja.
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In. Apertem todo o corpo,
puxem o pescoço, empurrem a cabeça para cima.
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Out, relaxem.
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In, e baixem a palma
devagar, na mesma velocidade.
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E sintam algo
quando passa pelo vosso coração.
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In
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Out, mesma velocidade, não se apressam.
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É um pouco de, er, Qigong para vocês.
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Voltem à energia da terra.
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In, apertam, out, prestem atenção,
quando passa pelo vosso coração.
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Se estão vivos,
deviam sentir um pouco de formigueiro,
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agora, com os dedos,
e a palma da mão.
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In, estão vivos?
Sentem algum calor?
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In, e continuem.
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Estamos, para o nosso lado esquerdo.
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E respirem para fora.
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Cima.
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In, para o nosso lado direito.
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E imaginem que somos erva,
somos erva no campo.
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Sintam o vento da nossa respiração.
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In
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Out
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In
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Out
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Desfrutem do movimento.
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Um dia, não seremos capazes de fazer isto,
então desfrutem realmente deste momento.
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Fazemos isto pela nossa avó, pelo nosso avô,
e larguem os braços.
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Então, convido todos a, er— vai ser—
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Três minutos.
Ok, mais um movimento. Ok.
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Então, fiquem com os pés, respirem in,
levante-se nas pontas dos pés.
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Pés em V.
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Sim, e se puderem,
baixem um pouco o joelho.
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In
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Out
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In
-
Out
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Hmm, obrigado.
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Espero que tenha revivido essa energia em vocês.
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Por favor, continuem a nossa, er, nossa prática.
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Obrigado por nos receberem,
e por favor, desfrutem do resto do vosso dia, hein.
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Obrigado.
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Obrigado a todos por estarem connosco.
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(Aplausos.)