Em breve curaremos uma doença com uma célula, em vez dum comprimido.
-
0:01 - 0:04Quero falar do futuro da medicina.
-
0:05 - 0:08Mas, antes disso, quero falar
um pouco sobre o passado. -
0:09 - 0:13Durante grande parte
da história recente da medicina, -
0:13 - 0:17pensámos na doença e nos tratamentos
-
0:17 - 0:20em termos dum modelo
profundamente simples. -
0:20 - 0:23Com efeito, o modelo é tão simples
-
0:23 - 0:26que podemos resumi-lo em seis palavras:
-
0:26 - 0:30ter doenças, tomar um comprimido,
matar algo. -
0:31 - 0:36A razão para o predomínio deste modelo
-
0:36 - 0:39é, obviamente, a revolução do antibiótico.
-
0:39 - 0:41Muitos de vocês podem não saber isto,
-
0:41 - 0:46mas estamos a celebrar o centenário
da introdução dos antibióticos nos EUA. -
0:46 - 0:48Mas sabem, com certeza,
-
0:48 - 0:52que esta introdução foi transformadora.
-
0:53 - 0:57Tínhamos um químico,
do mundo natural -
0:57 - 1:00ou sintetizado artificialmente
em laboratório, -
1:00 - 1:03que percorria o nosso corpo,
-
1:03 - 1:06encontrava o seu alvo,
-
1:06 - 1:07agarrava-se a esse alvo
-
1:07 - 1:10— um micróbio
ou uma parte de um micróbio — -
1:10 - 1:13e fechava-o à chave
-
1:14 - 1:18com uma destreza,
uma especificidade requintada. -
1:18 - 1:22E acabámos por ter uma doença
que anteriormente era fatal, era letal -
1:22 - 1:25— pneumonia, sífilis, tuberculose —
-
1:25 - 1:29e transformámo-la numa doença
curável ou tratável. -
1:30 - 1:32Temos uma pneumonia,
-
1:32 - 1:34tomamos penicilina,
-
1:34 - 1:36matamos o micróbio
-
1:36 - 1:38e curamos a doença.
-
1:38 - 1:41Esta ideia era tão sedutora,
-
1:41 - 1:45tão potente esta metáfora
de "fechar à chave" -
1:45 - 1:47e de matar qualquer coisa
-
1:47 - 1:49que se espalhou pela biologia.
-
1:49 - 1:51Foi uma transformação como não há memória.
-
1:52 - 1:55E passámos os últimos 100 anos
-
1:55 - 1:59a tentar aplicar esse modelo
vezes sem conta -
1:59 - 2:01nas doenças não infecciosas,
-
2:01 - 2:05nas doenças crónicas como o diabetes,
a hipertensão e as doenças cardíacas. -
2:05 - 2:09E funcionou, embora parcialmente.
-
2:09 - 2:11Vou mostrar.
-
2:11 - 2:14Se agarrarmos no universo total
-
2:14 - 2:17de todas as reações químicas
do corpo humano, -
2:17 - 2:21todas as reações químicas
de que o nosso corpo é capaz, -
2:21 - 2:23pensamos que esse número
é da ordem de um milhão. -
2:23 - 2:25Digamos que é um milhão.
-
2:25 - 2:27Vocês perguntam-me agora:
-
2:27 - 2:30"Qual é o número ou fração das reações
-
2:30 - 2:31"que podem ser atingidas
-
2:31 - 2:36"por toda a farmacopeia,
por toda a química medicinal?" -
2:36 - 2:39Umas 250.
-
2:40 - 2:42O resto é uma escuridão química.
-
2:42 - 2:49Por outras palavras,
este mecanismo de fechar à chave -
2:49 - 2:53só atinge 0,025% de todas
as reações químicas do nosso corpo. -
2:54 - 2:57Se pensarmos na fisiologia humana
-
2:57 - 3:01como uma rede telefónica global,
-
3:01 - 3:05com nós e peças interativas,
-
3:05 - 3:08toda a nossa química medicinal
-
3:08 - 3:11funciona a um cantinho, à margem,
-
3:11 - 3:13a margem exterior dessa rede.
-
3:13 - 3:17É como se toda a nossa química farmacêutica
-
3:17 - 3:20fosse um operador num poste,
em Wichita, Kansas -
3:20 - 3:24que manipula 10 a 15 linhas telefónicas.
-
3:25 - 3:27O que fazemos com esta ideia?
-
3:28 - 3:31E se reorganizássemos esta abordagem?
-
3:32 - 3:35Acontece que o mundo natural
-
3:35 - 3:41dá-nos um sentido de como
podemos pensar na doença -
3:41 - 3:43duma forma radicalmente diferente,
-
3:43 - 3:46diferente de doença, medicamento, alvo.
-
3:47 - 3:51O mundo natural está organizado
hierarquicamente para cima -
3:51 - 3:53— não é para baixo, é para cima —
-
3:53 - 3:57e começamos com uma unidade
autorreguladora, -
3:57 - 3:59semiautónoma, chamada célula.
-
4:00 - 4:03Estas unidades autorreguladoras,
semiautónomas -
4:03 - 4:08dão origem a unidades autorreguladoras,
semiautónomas, chamadas órgãos. -
4:08 - 4:11Estes órgãos juntam-se para formar coisas
chamadas seres humanos. -
4:12 - 4:16Estes organismos acabam
por viver em ambientes -
4:16 - 4:20que são em parte autorreguladores
e, em parte, semiautónomos. -
4:21 - 4:24O que é bom neste esquema,
o esquema hierárquico, -
4:24 - 4:26construído para cima e não para baixo
-
4:26 - 4:30é que nos permite pensar também na doença
-
4:30 - 4:32de forma um tanto diferente.
-
4:32 - 4:35Por exemplo, uma doença como o cancro.
-
4:36 - 4:38A partir dos anos 50
-
4:38 - 4:43tentámos desesperadamente aplicar
no cancro este modelo de fechar à chave. -
4:43 - 4:46Tentámos matar células
-
4:46 - 4:50usando uma série de quimioterapias
ou terapias direcionadas, -
4:50 - 4:53e, como sabemos, isso funcionou.
-
4:53 - 4:55Funcionou para doenças como a leucemia.
-
4:55 - 4:57Funcionou para certas formas
do cancro da mama, -
4:57 - 5:01mas, por fim, chegámos ao fim
dessa abordagem. -
5:01 - 5:03Só de há uns 10 anos para cá
-
5:03 - 5:07começámos a pensar em usar
o sistema imunitário, -
5:07 - 5:10lembrando-nos de que as células cancerosas
não crescem no vácuo. -
5:10 - 5:12Crescem num organismo humano.
-
5:12 - 5:14Seria possível usar
a capacidade do organismo -
5:14 - 5:17— o sistema imunitário dos seres humanos —
para atacar o cancro? -
5:17 - 5:22Isso levou a alguns dos novos medicamentos
mais espetaculares para o cancro. -
5:22 - 5:26Por fim, há o nível do ambiente, não é?
-
5:26 - 5:29Não pensamos no cancro como uma coisa
que altere o ambiente. -
5:29 - 5:34Mas vou dar-vos um exemplo
dum ambiente profundamente cancerígeno. -
5:34 - 5:36Chama-se uma prisão.
-
5:36 - 5:41Há solidão, há depressões, há isolamento
-
5:41 - 5:44e, a acrescentar a tudo isso,
-
5:44 - 5:47embrulhado numa fina folha de papel,
-
5:47 - 5:51um dos mais poderosos neuroestimulantes
que conhecemos, chamado nicotina, -
5:51 - 5:56que é também uma das substâncias aditivas
mais potentes que conhecemos, -
5:56 - 5:59e temos um ambiente pró-cancerígeno.
-
6:00 - 6:02Mas também temos
ambientes anticancerígenos. -
6:02 - 6:05Há tentativas para criar ambientes,
-
6:05 - 6:08modificar o meio hormonal
para o cancro da mama, por exemplo. -
6:08 - 6:12Estamos a tentar alterar o meio metabólico
para outras formas de cancro -
6:12 - 6:15Vejamos outra doença, como a depressão.
-
6:15 - 6:17De novo, a funcionar para cima.
-
6:17 - 6:21A partir dos anos 60 e 70,
tentámos desesperadamente -
6:21 - 6:25desligar moléculas que funcionam
entre as células nervosas -
6:25 - 6:27— serotonina, dopamina —
-
6:27 - 6:30e tentámos curar a depressão por essa via.
-
6:30 - 6:32Isso funcionou, mas depois
chegámos ao limite. -
6:33 - 6:36Sabemos hoje que, provavelmente,
-
6:36 - 6:39precisamos de alterar
a fisiologia do órgão, o cérebro, -
6:39 - 6:41voltar a ligá-lo, remodelá-lo.
-
6:41 - 6:43Sabemos isso porque os estudos mostraram
-
6:43 - 6:46que é exatamente isso
o que a psicoterapia faz. -
6:46 - 6:48Os estudos têm mostrado que a psicoterapia
-
6:48 - 6:51aliada aos medicamentos, aos comprimidos
-
6:51 - 6:54é muito mais eficaz do que qualquer
das duas coisas isoladamente. -
6:54 - 6:58Podemos imaginar um ambiente
mais envolvente para alterar a depressão? -
6:58 - 7:02Podemos fechar à chave os sinais
que provocam a depressão? -
7:02 - 7:07Continuemos a subir
pela cadeia hierárquica de organização. -
7:08 - 7:10Provavelmente, o que está aqui em jogo
-
7:10 - 7:14não é a medicina, mas uma metáfora.
-
7:14 - 7:16Em vez de matar qualquer coisa,
-
7:16 - 7:20no caso das grandes doenças
degenerativas crónicas -
7:20 - 7:23— insuficiência renal, diabetes,
hipertensão, osteoartrite — -
7:23 - 7:25o que talvez tenhamos que fazer
-
7:25 - 7:27é mudar a metáfora
para crescer qualquer coisa. -
7:27 - 7:29Talvez seja essa a chave
-
7:29 - 7:31para reenquadrar o nosso pensamento
sobre a medicina. -
7:31 - 7:35Esta ideia de alterar,
-
7:35 - 7:38de criar uma viragem perceptual,
em relação ao que existia, -
7:38 - 7:40entrou em mim de forma
muito pessoal, há uns 10 anos. -
7:40 - 7:43Há cerca de 10 anos
— tenho feito corrida quase toda a vida — -
7:43 - 7:45fui fazer uma corrida, sábado de manhã.
-
7:45 - 7:48Voltei para casa e acordei
sem conseguir mover-me. -
7:48 - 7:50Tinha o joelho direito inchado
-
7:50 - 7:54e fazia aquele ruído terrível
de osso contra osso. -
7:54 - 7:57Um dos privilégios de ser médico
-
7:57 - 8:00é que receitamos a nós próprios
uma ressonância magnética. -
8:00 - 8:03Fiz esse exame na semana seguinte
e tinha este aspeto. -
8:03 - 8:08O menisco de cartilagem
que está entre o osso -
8:08 - 8:11estava totalmente destruído
e o osso estava estilhaçado. -
8:11 - 8:14Não olhem para mim com pena de mim.
-
8:14 - 8:16Vou contar-vos uns factos.
-
8:16 - 8:19Se eu fizer ressonâncias magnéticas
a todas as pessoas da plateia, -
8:19 - 8:2360% mostrarão sinais de degeneração óssea
-
8:23 - 8:25e degeneração de cartilagens como esta.
-
8:25 - 8:2885% das mulheres com 70 anos
-
8:28 - 8:32mostrarão degeneração de cartilagens
entre moderada a grave, -
8:32 - 8:3550 ou 60% dos homens na plateia
também mostrarão esses sinais. -
8:35 - 8:37Portanto, é uma doença muito vulgar.
-
8:37 - 8:39A segunda vantagem de ser médico
-
8:39 - 8:42é que podemos fazer experiências
com os nossos padecimentos. -
8:42 - 8:45Portanto, começámos há 10 anos,
-
8:45 - 8:47levámos este processo para o laboratório
-
8:47 - 8:49e começámos a fazer experiências simples,
-
8:49 - 8:52tentando fixar mecanicamente
esta degeneração. -
8:52 - 8:56Tentámos injetar químicos nos espaços
dos joelhos, em animais, -
8:56 - 8:59para tentar inverter
a degeneração da cartilagem. -
8:59 - 9:04Abreviando, um procedimento
muito prolongado e doloroso -
9:04 - 9:05não deu em nada.
-
9:05 - 9:07Não aconteceu nada.
-
9:07 - 9:12Há cerca de sete anos, recebemos
um estudante de investigação da Austrália. -
9:12 - 9:13Uma coisa boa nos australianos
-
9:13 - 9:17é que estão habituados a ver o mundo
de pernas para o ar. -
9:17 - 9:18(Risos)
-
9:18 - 9:20Então, Dan sugeriu:
-
9:20 - 9:22"Talvez não seja um problema mecânico.
-
9:22 - 9:24"Talvez não seja um problema químico.
-
9:24 - 9:27"Talvez seja um problema
de células estaminais". -
9:28 - 9:30Por outras palavras, havia duas hipóteses.
-
9:30 - 9:33Número um, há uma coisa que é
uma célula estaminal do esqueleto -
9:33 - 9:37— uma célula estaminal do esqueleto
que constrói todo o esqueleto vertebrado, -
9:37 - 9:40o osso, a cartilagem
e os elementos fibrosos do esqueleto, -
9:40 - 9:42tal como há uma célula estaminal no sangue,
-
9:42 - 9:44uma célula estaminal no sistema nervosa.
-
9:44 - 9:45E número dois, pode acontecer
-
9:45 - 9:48que a degeneração ou disfunção
dessa célula estaminal -
9:48 - 9:51seja o que provoca a artrite osteocondral,
uma deficiência muito vulgar. -
9:51 - 9:54Portanto, a questão era
se estávamos à procura dum comprimido -
9:54 - 9:57quando devíamos estar
à procura duma célula. -
9:57 - 10:00Por isso, mudámos os nossos modelos
-
10:00 - 10:03e começámos a procurar
células estaminais do esqueleto. -
10:04 - 10:06Para resumir uma longa história,
-
10:06 - 10:09há cerca de cinco anos,
encontrámos essas células. -
10:10 - 10:12Vivem dentro do esqueleto.
-
10:12 - 10:15Este é um esquema e ao lado
uma fotografia real duma dessas células. -
10:15 - 10:17A parte branca é osso
-
10:17 - 10:21e as colunas vermelhas
e as células amarelas -
10:21 - 10:24são células que surgiram
duma única célula estaminal do esqueleto -
10:24 - 10:27— colunas de cartilagem, colunas de osso,
saindo duma única célula. -
10:27 - 10:30Estas células são fascinantes.
Têm quatro propriedades. -
10:31 - 10:34Vivem onde se espera que vivam.
-
10:34 - 10:36Vivem mesmo por baixo
da superfície do osso, -
10:36 - 10:38por baixo da cartilagem.
-
10:38 - 10:41Em biologia, é localização, só localização.
-
10:41 - 10:45Movem-se para as áreas adequadas
e formam o osso e a cartilagem. -
10:45 - 10:46Aqui está uma.
-
10:46 - 10:48Aqui há uma propriedade interessante.
-
10:48 - 10:50Podemos retirá-las do esqueleto vertebrado,
-
10:50 - 10:54podemos fazer culturas com elas
em placas de Petri, no laboratório, -
10:54 - 10:56e elas vão morrendo
para formar a cartilagem. -
10:56 - 10:58Nós não conseguíamos formar cartilagem,
de modo algum. -
10:58 - 11:01Estas células vão morrendo
para formar a cartilagem. -
11:01 - 11:03Formam volutas de cartilagem à sua volta.
-
11:03 - 11:07Também são as reparadoras
mais eficazes de fraturas -
11:07 - 11:09que já encontrámos.
-
11:09 - 11:12Isto é um ossinho,
um osso de rato que partimos -
11:12 - 11:14e depois deixámos
que se curasse a si mesmo. -
11:14 - 11:17Estas células estaminais avançaram
e repararam quase totalmente -
11:17 - 11:19— a amarelo, o osso
e a branco, a cartilagem. -
11:19 - 11:23De tal forma que, se as marcássemos
com tinta fluorescente, -
11:23 - 11:26podíamos vê-las como uma espécie
de cola celular especial -
11:26 - 11:29a avançar pela área duma fratura,
-
11:29 - 11:31consertando-a localmente
e depois suspendendo o trabalho. -
11:31 - 11:34A quarta propriedade é a mais perigosa,
-
11:34 - 11:38é que o número delas diminui rapidamente,
-
11:38 - 11:42rapidamente, 10 vezes, 50 vezes,
com o envelhecimento. -
11:43 - 11:44O que aconteceu, na realidade,
-
11:44 - 11:47é que nos encontrámos
numa viragem percetiva. -
11:47 - 11:50Tínhamos partido à procura de comprimidos
-
11:50 - 11:52e acabámos por encontrar teorias.
-
11:52 - 11:56De certa forma, tínhamo-nos
agarrado a esta ideia -
11:56 - 11:59de células, organismos, ambientes,
-
11:59 - 12:02porque estávamos a pensar
em células estaminais de osso, -
12:02 - 12:05estávamos a pensar em artrite,
em termos de doença celular. -
12:06 - 12:08Depois, a pergunta seguinte era:
"Serão órgãos?" -
12:08 - 12:11"Poderemos construí-las
como um órgão fora do corpo? -
12:11 - 12:14"Poderemos implantar cartilagem
em áreas de trauma?" -
12:14 - 12:16E talvez ainda mais interessante:
-
12:16 - 12:19"Poderemos subir de escala
e criar ambientes?" -
12:19 - 12:22Sabemos que o exercício remodela o osso,
-
12:22 - 12:24mas nenhum de nós vai fazer exercício.
-
12:24 - 12:27Então, será possível imaginar formas
-
12:27 - 12:30de carregar e descarregar osso,
passivamente, -
12:30 - 12:33para podermos recriar
ou regenerar cartilagens -
12:33 - 12:34que estão em degeneração?
-
12:34 - 12:37Talvez ainda mais interessante
e mais importante, a pergunta é: -
12:37 - 12:40"Podemos aplicar este modelo
mais globalmente, fora da medicina?" -
12:40 - 12:44O que está em jogo, como já disse,
não é matar qualquer coisa, -
12:44 - 12:46mas fazer crescer qualquer coisa.
-
12:46 - 12:51Isto levanta uma série de questões
mais interessantes -
12:51 - 12:54sobre como pensamos na medicina no futuro.
-
12:55 - 12:59A nossa medicina poderá ser uma célula
em vez dum comprimido? -
12:59 - 13:01Como fazemos crescer essas células?
-
13:01 - 13:04Que faremos para fazer parar
o crescimento maligno destas células? -
13:04 - 13:08Ouvimos falar dos problemas
do crescimento desenfreado. -
13:08 - 13:11Poderemos implantar genes suicidas
nestas células -
13:11 - 13:13para impedi-las de crescer?
-
13:13 - 13:17O nosso medicamento poderá ser
um órgão criado fora do corpo -
13:17 - 13:19e depois implantado no corpo?
-
13:19 - 13:22Poderá isso deter a degeneração?
-
13:22 - 13:24E se o órgão precisar de ter memória?
-
13:24 - 13:28No caso de doenças do sistema nervoso,
alguns desses órgãos têm memória. -
13:28 - 13:31Como podemos implantar neles
essas memórias outra vez? -
13:31 - 13:33Poderemos armazenar esses órgãos?
-
13:33 - 13:36Cada órgão terá que ser desenvolvido
para um ser humano individual -
13:36 - 13:38e reposto nele?
-
13:39 - 13:41Talvez o mais intrigante,
-
13:41 - 13:44o nosso medicamento
poderá ser um ambiente? -
13:44 - 13:46Poderemos patentear um ambiente?
-
13:46 - 13:49Em todas as culturas,
-
13:49 - 13:53os xamãs têm usado os ambientes
como medicamentos. -
13:53 - 13:55Conseguem imaginar isso no futuro?
-
13:56 - 14:00Falei muito sobre modelos,
comecei esta palestra com modelos. -
14:00 - 14:03Vou acabar com uns pensamentos
sobre a construção de modelos. -
14:03 - 14:05Isto é o que fazemos, enquanto cientistas.
-
14:05 - 14:08Quando um arquiteto constrói um modelo,
-
14:08 - 14:11tenta mostrar-nos um mundo em miniatura.
-
14:11 - 14:14Mas, quando um cientista
constrói um modelo, -
14:14 - 14:17tenta mostrar o mundo numa metáfora.
-
14:18 - 14:21Tenta criar uma nova forma de olhar.
-
14:21 - 14:26O primeiro é um modelo à escala.
O segundo é um modelo percetivo. -
14:27 - 14:32Os antibióticos criaram
esse modelo percetivo -
14:32 - 14:36na nossa forma de pensar a medicina
que, na realidade, é colorido, distorcido, -
14:36 - 14:40com muito êxito, a forma como pensámos
na medicina durante os últimos cem anos. -
14:40 - 14:45Mas precisamos de modelos novos
para pensar na medicina do futuro. -
14:45 - 14:47É isso que está em jogo.
-
14:47 - 14:50Há uma metáfora popular:
-
14:51 - 14:55A razão por que não tivemos
o impacto transformador -
14:55 - 14:57no tratamento de doenças
-
14:57 - 15:00é porque não temos drogas
suficientemente fortes. -
15:00 - 15:01Isto, em parte, é verdade.
-
15:02 - 15:04Mas talvez a verdadeira razão
-
15:04 - 15:08seja que não temos formas suficientemente
poderosas de pensar em medicamentos. -
15:09 - 15:11É bem verdade
-
15:11 - 15:15que seria ótimo ter novos medicamentos.
-
15:15 - 15:19Mas talvez que o que está realmente em jogo
sejam as três pontas mais intangíveis: -
15:20 - 15:23os mecanismos, os modelos, as metáforas.
-
15:23 - 15:25Obrigado.
-
15:25 - 15:28(Aplausos)
-
15:34 - 15:37Chris Anderson:
Gosto muito desta metáfora. -
15:37 - 15:39Como é que ela se liga?
-
15:39 - 15:42Fala-se muito do país da tecnologia
-
15:42 - 15:44quanto à personalização da medicina.
-
15:44 - 15:47em que nós temos estes dados todos
e em que o tratamento médico futuro -
15:47 - 15:50será especificamente
dirigido ao nosso genoma, -
15:50 - 15:52ao nosso contexto atual.
-
15:52 - 15:56Isso aplica-se a esse modelo que aí tem?
-
15:56 - 15:58Siddhartha Mukherjee:
É uma pergunta muito interessante. -
15:58 - 16:01Temos pensado muito
na personalização da medicina -
16:01 - 16:03em termos de ciência genómica.
-
16:03 - 16:05O gene é uma metáfora tão dominante,
-
16:05 - 16:08para usar, uma vez mais, a mesma palavra
na medicina atual, -
16:08 - 16:12que pensamos que o genoma vai induzir
a personalização da medicina. -
16:12 - 16:15Mas, claro, o genoma é apenas a base
-
16:15 - 16:19duma longa cadeia do ser, como sempre.
-
16:19 - 16:22Nessa cadeia do ser, a primeira unidade
organizada é a célula. -
16:22 - 16:26Portanto, se formos exercer
medicina dessa forma, -
16:26 - 16:29temos que pensar em personalizar
terapias celulares, -
16:29 - 16:32e depois personalizar órgãos
ou terapias de órgãos, -
16:32 - 16:36e, por fim, personalizar terapias
de envolvimento para o ambiente. -
16:36 - 16:38Por isso, penso que, em cada fase,
-
16:38 - 16:41"há sempre tartarugas
por baixo de tartarugas". -
16:41 - 16:44Nisto, há sempre personalização
por baixo de personalização. -
16:44 - 16:47CA: Quando diz que o medicamento
pode ser uma célula, -
16:47 - 16:48em vez dum comprimido,
-
16:48 - 16:50está a falar possivelmente
das suas células. -
16:50 - 16:52SM: Sem dúvida.
-
16:52 - 16:54CA: Portanto, convertido
às células estaminais, -
16:54 - 16:57talvez testadas contra todo o tipo
de drogas e preparadas. -
16:58 - 17:00SM: Não há talvez.
É isso que estamos a fazer. -
17:00 - 17:04É o que se passa e estamos
a avançar lentamente, -
17:04 - 17:08sem nos afastarmos da ciência do genoma,
mas incorporando-a -
17:08 - 17:12no que chamamos sistemas multi-ordenados,
semiautónomos e autorreguladores, -
17:12 - 17:15como as células, como os órgãos,
como os ambientes. -
17:15 - 17:16CA: Muito obrigado.
-
17:16 - 17:18SM: Foi um prazer. Obrigado.
-
17:18 - 17:22(Aplausos)
- Title:
- Em breve curaremos uma doença com uma célula, em vez dum comprimido.
- Speaker:
- Siddhartha Mukherjee
- Description:
-
O atual tratamento médico resume-se a seis palavras: ter doenças, tomar comprimidos, matar algo. Mas o médico Siddhartha Mukherjee aponta para um futuro da medicina que transformará a forma como curamos.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:31
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