Poesia em prisões de segurança máxima | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom
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0:14 - 0:17Phil Kaye: Olá a todos.
Plateia: Olá. -
0:18 - 0:22PK: Meu nome é Phil,
e componho poesia falada. -
0:22 - 0:26Se você está imaginando
o que exatamente isso significa, tudo bem. -
0:26 - 0:29Muitas vezes as pessoas
me perguntam como ganho a vida, -
0:29 - 0:30e se eu digo: "Sou um poeta",
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0:30 - 0:34elas pensam que é uma espécie de eufemismo
para "estou procurando um emprego". -
0:34 - 0:35(Risos)
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0:35 - 0:37Mas isso não é verdade.
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0:37 - 0:39Eu passo muito tempo trabalhando
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0:39 - 0:43com escolas, organizações e comunidades,
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0:43 - 0:48encenando e ensinando poesia falada
a pessoas de todas as idades e origens. -
0:48 - 0:50Muito desse trabalho é feito
através de uma organização -
0:50 - 0:52chamada projeto VOICE,
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0:52 - 0:57da qual sou codiretor, junto com uma amiga
maravilhosa e poeta incrível, Sarah Kaye. -
0:57 - 1:00Então hoje quero começar com um poema.
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1:01 - 1:03Ele é sobre meu avô.
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1:03 - 1:05Hoje é um dia especial para mim
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1:05 - 1:10porque, apesar de ele ter morrido
há alguns anos, hoje é seu aniversário. -
1:10 - 1:12O poema é assim:
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1:14 - 1:18"Meu avô não é um homem forte,
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1:19 - 1:22mas ele sabe o que significa construir.
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1:23 - 1:28Em 1947, depois que ele e meus tios-avôs
retornaram da Segunda Guerra Mundial, -
1:28 - 1:31eles abriram uma loja
de artigos militares. -
1:31 - 1:35Ela foi chamada 'Union War Surplus Store'.
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1:35 - 1:38Seu slogan: 'De um encouraçado
a uma faca de caça, -
1:38 - 1:40nós temos, ou nós conseguimos'.
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1:41 - 1:43Meu avô não era um homem forte,
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1:43 - 1:45mas manteve sua palavra.
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1:45 - 1:49O lugar era metade loja,
metade enciclopédia; -
1:49 - 1:52abarrotado até o teto
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1:52 - 1:56com estranhos objetos que alguém,
em algum lugar, poderia querer. -
1:56 - 2:00Coturnos, macacões resistentes ao fogo,
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2:00 - 2:04um conjunto dentário
tchecoslovaco de 1947. -
2:04 - 2:07Abarrotado até o porão
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2:07 - 2:11com pessoas de quem alguém,
em algum outro lugar, poderia se esquecer; -
2:11 - 2:13mas não aqui.
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2:13 - 2:16Como o Richard, que não trabalhava lá,
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2:16 - 2:21mas aparecia todo domingo de tarde
em seu uniforme militar completo. -
2:21 - 2:23Ele nunca comprou porcaria alguma".
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2:23 - 2:24(Risos)
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2:24 - 2:29"Mas uma vez, trouxe sua garotinha,
segurou sua mão e disse: -
2:29 - 2:34'Este era o cheiro,
quando o papai era um herói'. -
2:34 - 2:36Meu avô não era um homem forte,
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2:36 - 2:38mas ele nos mantinha a salvo.
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2:38 - 2:41Uma noite caminhávamos juntos pelo parque,
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2:41 - 2:44e um homem com mais tatuagens do que pele
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2:44 - 2:47caminhou na direção do meu avô e disse:
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2:47 - 2:49'Ei, velho!
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2:49 - 2:52Meus pais costumavam me levar
a sua loja, quando eu era criança, -
2:52 - 2:55e uma vez você apertou minha mão,
como se eu fosse um homem. -
2:55 - 2:57Ainda me lembro disso'.
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2:58 - 3:01O escritório do meu avô
era subindo as escadas, -
3:01 - 3:05mas ele gostava de trabalhar embaixo,
oferecendo um sorriso a todos. -
3:05 - 3:08Todos o chamavam 'Al Alegre'.
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3:08 - 3:12Com sua barriga grande, sua careca,
a barba longa e grisalha, -
3:12 - 3:16as crianças diziam
ao vê-lo: 'Papai Noel!'" -
3:16 - 3:17(Risos)
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3:17 - 3:22"Seis anos depois que a Union War
Surplus Store abriu suas portas, -
3:22 - 3:26meu avô teve um filho, meu pai.
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3:26 - 3:30Ele não é um homem forte,
mas ele sabe o que significa construir. -
3:30 - 3:33Um verão, quando ele era
adolescente, ele trabalhou na loja, -
3:33 - 3:37construiu uma porta nos fundos;
ela ainda esta lá. -
3:37 - 3:42Quarenta anos depois que a Union War
Surplus Store abriu suas portas, -
3:42 - 3:44meu pai teve um filho.
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3:44 - 3:46Eu não sou um rapaz forte,
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3:46 - 3:49mas estou tentando aprender
o que significa construir. -
3:49 - 3:52Um verão, quando eu era
adolescente, trabalhei na loja, -
3:52 - 3:56construí um expositor que ia até o teto.
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3:56 - 3:59O mesmo teto no qual meu pai
me ensinou a identificar coisas: -
3:59 - 4:04'Isto? Isto é um antigo
explosivo americano. -
4:04 - 4:08Você pode querer segurá-lo,
mas tenha cuidado, não se machuque'. -
4:08 - 4:12'Ela? Ela é uma jovem americana explosiva.
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4:12 - 4:15Você pode querer segurá-la,
mas tenha cuidado, não se machuque'." -
4:15 - 4:17(Risos)
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4:17 - 4:21"Logo depois que meu pai construiu
sua porta, ele passou por ela, -
4:21 - 4:23e construiu sua própria
metade da enciclopédia; -
4:23 - 4:25deixou meu avô muito orgulhoso.
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4:25 - 4:30Logo depois que construí meu expositor,
corri para o escritório do meu avô -
4:30 - 4:35e mostrei a ele o que eu tinha feito:
'Muito bem, Phil. Muito bem'. -
4:35 - 4:37Quando perguntei a ele o que fazer então,
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4:37 - 4:41ele me entregou um velho pedaço
de papel e uma caneta gasta. -
4:41 - 4:43Quando perguntei a ele
o que fazer com aquilo, -
4:43 - 4:46ele sacudiu os ombros e riu,
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4:46 - 4:51e eu comecei a construir
da única forma que sei." -
4:52 - 4:54(Aplausos)
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4:59 - 5:00Obrigado.
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5:00 - 5:02(Aplausos)
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5:02 - 5:03Obrigado.
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5:03 - 5:07Esse é apenas um exemplo de poesia falada,
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5:07 - 5:11poesia que deve ser encenada,
em vez de ser lida de um pedaço de papel. -
5:11 - 5:15Às vezes as pessoas perguntam sobre
o processo de criação da poesia falada, -
5:15 - 5:18e não é muito diferente
de criar qualquer outra coisa: -
5:18 - 5:20existem rascunhos e revisões
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5:20 - 5:24e, assim espero, um grupo de pessoas
em quem você confia que te dê sua opinião. -
5:24 - 5:28E é sobre isso que quero
falar um pouco hoje. -
5:28 - 5:30Quero voltar um pouco.
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5:30 - 5:34Estamos em 2006,
acabei entrar na faculdade, -
5:34 - 5:37e há alguns anos componho poesia falada,
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5:37 - 5:39mas só dei uns poucos workshops.
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5:39 - 5:42Eu descubro uma oportunidade voluntária
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5:42 - 5:45de ensinar poesia falada
no sistema prisional local. -
5:45 - 5:48Um amigo me estimula
a me inscrever, então faço isso. -
5:49 - 5:51E para ser honesto, nessa hora,
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5:51 - 5:54não penso muito
no que eu estou me metendo, -
5:54 - 5:58não penso nas nuances de ser
um garoto privilegiado do subúrbio -
5:58 - 6:00indo a uma prisão de segurança máxima.
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6:00 - 6:05Mas me dou conta de algumas coisas
a caminho do meu primeiro workshop, -
6:05 - 6:08segurando o volante
e pensando comigo mesmo: -
6:08 - 6:10"Quem diabos penso que sou?
-
6:10 - 6:12O que eu tenho pra dizer?
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6:12 - 6:17Eles vão me levar a sério?
O que eu posso ensinar a esses homens?" -
6:17 - 6:21Quando finalmente chego ao workshop,
os detentos entram, um a um. -
6:21 - 6:23Há 16 deles.
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6:23 - 6:27Nós nos cumprimentamos
e nos apresentamos. -
6:27 - 6:31Há o Marcus, que está aqui porque quer
escrever um poema para sua esposa -
6:31 - 6:34pelo aniversário deles
que será em alguns meses. -
6:34 - 6:37Há o Graham, que nunca
tentou fazer poesia antes, -
6:37 - 6:40mas que gosta de rap e quer experimentar.
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6:40 - 6:41E há o Tim.
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6:41 - 6:46Tim se recosta na cadeira, mas seus ombros
estão tensos, as sombrancelhas franzidas, -
6:46 - 6:49olha diretamente para mim e diz:
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6:50 - 6:53"Meu nome é Tim,
e estou aqui só para ouvir. -
6:53 - 6:58Mas estou curioso: quanto pagam
pra você vir nos ensinar isso?" -
6:59 - 7:03Eu digo a verdade: "Nada, sou voluntário".
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7:03 - 7:06Ele acena com a cabeça e diz: "Certo".
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7:07 - 7:11Avançando. Estamos
na quarta semana do workshop. -
7:11 - 7:14Os caras trabalham
em todo tipo de assunto. -
7:14 - 7:16Alguns escrevem apenas sobre a prisão:
-
7:16 - 7:21a rotina, a espera,
o cheiro de seu beliche. -
7:21 - 7:23Alguns nunca escrevem sobre a prisão.
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7:23 - 7:26Escrevem sobre suas famílias,
sobre seus bairros, -
7:26 - 7:29sobre o churrasquinho da esquina.
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7:29 - 7:33Alguns escrevem sobre sua inocência,
outros escrevem sobre sua culpa. -
7:34 - 7:38Mas sempre que alguém lê,
todos os outros ficam em silêncio. -
7:38 - 7:40Há um cara chamado Gabe.
-
7:40 - 7:42Gabe é italiano.
-
7:42 - 7:45Sua herança aflora
o tempo todo, em seu trabalho; -
7:45 - 7:47suas raízes são importantes para ele.
-
7:47 - 7:50Uma vez, depois de receber feedback,
ele olha em volta e diz: -
7:50 - 7:55"Sabe, eu nunca tinha recebido conselho
de alguém que não fosse italiano, antes, -
7:55 - 7:56(Risos)
-
7:56 - 7:58mas até que vocês são todos bem espertos".
-
8:00 - 8:02Eu vejo acontecer lentamente:
-
8:02 - 8:07as paredes que nos separam começam a ruir,
não somos mais estranhos. -
8:07 - 8:09Vejo isso na quinta semana,
-
8:09 - 8:13quando os caras começam a se sentar
perto de pessoas que não conheciam antes. -
8:13 - 8:14Ou na sétima semana,
-
8:14 - 8:17quando eles tinham tanto retorno
positivo uns pros outros, -
8:17 - 8:20que tiveram que escrevê-los,
pois não tínhamos tempo para todos. -
8:20 - 8:22Ou na nona semana,
-
8:22 - 8:25quando começaram a citar
os poemas uns dos outros. -
8:25 - 8:27Eu ainda sou um forasteiro,
-
8:27 - 8:29um garoto ingênuo,
trabalhando em uma prisão -
8:29 - 8:32com caras que têm o dobro da minha idade,
-
8:32 - 8:36mas gosto do fato de eles
dividirem sua comunidade comigo, -
8:36 - 8:40me deixarem ser apenas quem eu sou
nem que seja por poucas horas na semana. -
8:40 - 8:44Essa é minha primeira experiência
em uma comunidade de escritores, -
8:44 - 8:47sabendo como é ter um grupo de pessoas
que querem te tornar melhor. -
8:47 - 8:51Aprendi como é rasgar uma parte macia sua,
-
8:51 - 8:54entregá-la a um grupo de pessoas
que irão moldá-la gentilmente -
8:54 - 8:57e devolvê-la melhor do que a receberam.
-
8:57 - 8:59É uma prisão de segurança máxima,
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8:59 - 9:01o último lugar em que imaginei
-
9:01 - 9:04que aprenderia a deixar
minha escrita vulnerável. -
9:05 - 9:07Avançando um pouco mais.
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9:07 - 9:13Estamos na 11ª semana; nem todos
trouxeram uma poesia para compartilhar. -
9:13 - 9:18Tim é a fonte mais reflexiva
de opiniões na turma, -
9:18 - 9:21mas ainda não trouxe
nenhuma poesia própria. -
9:21 - 9:23Eu não sei se devo pressioná-lo a trazer.
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9:23 - 9:24Em workshops como esse,
-
9:24 - 9:28há todo tipo de razões para os caras
não trazerem seus trabalhos, -
9:28 - 9:31de dificuldades de aprendizado
a questões de leitura e escrita, -
9:31 - 9:36até o medo do ridículo ou mesmo
de violência fora da sala de aula. -
9:36 - 9:38Mas ao final do workshop da 11ª semana,
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9:38 - 9:40Tim me perguntou
se podíamos caminhar juntos. -
9:40 - 9:42Eu disse: "Claro".
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9:42 - 9:45Mas percebi, assim que eu disse isso,
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9:45 - 9:49que a única caminhada do workshop
à saída é pelo pátio do presídio. -
9:49 - 9:53Caminhar juntos pelo pátio do presídio
é um ato significativo. -
9:54 - 9:57Nossa amizade, na segurança
da sala de aula, é uma coisa, -
9:57 - 10:01mas no espaço público do pátio
do presídio, é um risco para nós dois. -
10:01 - 10:06Para mim, há o risco de parecer
amigável demais com os detentos, -
10:06 - 10:10algo que os guardas não gostam,
e podem até cancelar o workshop. -
10:10 - 10:14Para o Tim, há o risco
de parecer um puxa-saco, -
10:14 - 10:17uma reputação que pode ter
consequências muito reais e danosas -
10:17 - 10:20dentro da estrutura social da prisão.
-
10:21 - 10:23Mas somos dois colaboradores no workshop,
-
10:23 - 10:26trocando ideias, tentando
melhorar um ao outro, -
10:26 - 10:30então abrimos a porta e começamos
a caminhar pelo pátio da prisão, -
10:30 - 10:32lentamente.
-
10:33 - 10:36E para minha surpresa, o Tim me pergunta
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10:36 - 10:40por que eu ainda não trouxe
nenhum poema meu. -
10:40 - 10:41(Risos)
-
10:41 - 10:45Talvez por ser
um facilitador inexperiente, -
10:45 - 10:48ou talvez por uma pequena
falta de autoconfiança, -
10:48 - 10:51mas não pensei que alguém fosse notar.
-
10:51 - 10:54Eu digo a ele que estou travado.
-
10:54 - 10:56Ele me diz que ele também está.
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10:56 - 10:58Então fazemos um pacto
-
10:58 - 11:01de que, na próxima semana, vamos
trazer um trecho nosso para o outro, -
11:01 - 11:02mesmo que seja pequeno,
-
11:02 - 11:06mesmo que o outro
seja a única pessoa a vê-lo. -
11:06 - 11:09Eu me lembro do melhor
conselho que já recebi, -
11:09 - 11:13que foi do meu professor de inglês
do nono ano, Arly Parker. -
11:13 - 11:16O Sr. Parker disse que, quando você sentar
para escrever o primeiro rascunho, -
11:16 - 11:21não deve ficar assustado, mas imaginar
uma cabeça sobre seu ombro, -
11:21 - 11:25a cabeça de alguém que acha que você
é o maior escritor desde Shakespeare, -
11:25 - 11:29e imaginar o que ele diria
ao ler o que você escreveu. -
11:29 - 11:31Para mim, essa pessoa é minha mãe.
-
11:31 - 11:34Deus a abençoe, eu poderia desenhar
um boneco palito horroroso -
11:34 - 11:39num guardanapo sujo, e ela diria:
"Este é o próximo sucesso". -
11:39 - 11:40(Risos)
-
11:40 - 11:43O que o Sr. Parker estava
me ensinando a fazer -
11:43 - 11:47era ouvir aquela voz
dentro da minha cabeça, que diz sim -
11:47 - 11:51para todas as minhas ideias malucas,
para todos os riscos. -
11:51 - 11:54E então o Sr. Parker disse:
"Quando se sentar para revisar, -
11:54 - 11:58para escrever o segundo rascunho,
imagine outra cabeça sobre seu ombro -
11:58 - 12:01de alguém que você respeita,
mas que pode dar uma opinião crítica". -
12:01 - 12:05Para mim, era um outro
professor de inglês, o Sr. Clemson. -
12:05 - 12:07O Sr. Clemson e eu tínhamos
um ótimo relacionamento, -
12:07 - 12:09mas ele era duro comigo.
-
12:09 - 12:11À medida que eu revisava,
podia ouvi-lo dizendo: -
12:11 - 12:15"Esta parte não faz sentido algum".
"O que você está tentando dizer aqui?" -
12:15 - 12:19"Este verso não está nem um pouco
engraçado como você pensa que está." -
12:19 - 12:24E com isso, o Sr. Parker me ensinou
a me arriscar em meu primeiro rascunho -
12:24 - 12:27e ver quais desses riscos
realmente valiam a pena no segundo. -
12:28 - 12:30Na semana seguinte, no início do workshop,
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12:31 - 12:33Tim deslizou um pedaço de papel para mim.
-
12:34 - 12:36Eu deslizei um para ele também.
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12:36 - 12:39E na semana seguinte, ele deslizou
dois pedaços de papel para mim. -
12:39 - 12:42Na próxima semana,
ele compartilhou em voz alta. -
12:42 - 12:45E na semana depois dessa, eu fiz o mesmo.
-
12:46 - 12:47Avançando um pouco mais.
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12:47 - 12:49Estamos na última semana do workshop.
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12:49 - 12:54Todos trouxeram as peças
nas quais trabalharam todo o semestre. -
12:54 - 12:56Eu vejo uma sala cheia
de homens sorridentes, -
12:56 - 13:01cada um deles com uma pequena
pilha de papéis à sua frente. -
13:01 - 13:04A pilha do Tim é ligeiramente
maior do que a da maioria. -
13:04 - 13:09Andamos pela sala, trocando
poemas, retirando as armaduras, -
13:09 - 13:12deixando os outros olharem com atenção.
-
13:12 - 13:14E eu percebo, lá pela metade do workshop,
-
13:14 - 13:16que a maior parte desses poemas
-
13:16 - 13:18será compartilhada em voz alta
apenas essa vez. -
13:18 - 13:21E percebo também que, até aquele ponto,
-
13:21 - 13:24eu só tinha escrito poemas
para compartilhar, -
13:24 - 13:27para as pessoas dizerem "bom trabalho",
para receberem curtidas no YouTube, -
13:27 - 13:31para uma sala cheia de mãos aplaudindo.
-
13:31 - 13:35Eles não escreviam pelo reconhecimento,
eles escreviam pelo amor à escrita, -
13:35 - 13:39para entender algumas coisas,
pela promessa de autodescobrimento. -
13:39 - 13:41O Tim se oferece para ler um poema.
-
13:41 - 13:43É um poema sobre papel,
-
13:43 - 13:46sobre como é maravilhoso,
em um lugar como a prisão, -
13:46 - 13:50ter um espaço onde você possa
ver seus próprios pensamentos, -
13:50 - 13:52segurá-los em sua mão.
-
13:52 - 13:55Compartilhamos poemas
sobre todo tipo de coisas. -
13:55 - 13:58Há um poema sobre aprender a assobiar,
-
13:58 - 14:00um sobre o primeiro beijo,
-
14:00 - 14:05um poema sobre o prazer
de um bom e longo peido. -
14:05 - 14:06(Risos)
-
14:07 - 14:10Compartilhamos nossos cantos empoeirados,
-
14:11 - 14:14partes sobre as quais ninguém pergunta,
-
14:14 - 14:17coisas que não aparecem
em um registro policial -
14:17 - 14:19ou na biografia de um artista.
-
14:19 - 14:23Naquele momento, somos
17 homens compartilhando poesia; -
14:23 - 14:28nossa idade ou passado não nos definem,
apenas as quatro paredes ao nosso redor. -
14:29 - 14:33Ano passado, viajei milhares
de quilômetros compartilhando poesia, -
14:33 - 14:36mas alguns dos artistas
mais talentosos que conheço -
14:36 - 14:38raramente deixam uma cela da prisão.
-
14:38 - 14:43É algo de que não me esqueço,
uma realidade injusta que carrego comigo. -
14:44 - 14:47No fim do último workshop,
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14:47 - 14:49Tim me perguntou
se podíamos caminhar juntos. -
14:49 - 14:50Eu disse: "Claro".
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14:50 - 14:54Abrimos a porta e caminhamos
pelo pátio da prisão. -
14:54 - 14:58Tim me perguntou se eu me lembraria dele.
Eu respondi: "É claro". -
14:58 - 15:03Ele disse: "Bem, chute
uns traseiros lá fora. Por nós". -
15:03 - 15:06E eu disse a ele: "Vou tentar".
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15:07 - 15:10E com isso, eu gostaria de terminar
com um último poema, -
15:10 - 15:14um poema no qual comecei a trabalhar
quando estava trabalhando na prisão. -
15:14 - 15:16Obrigado a todos por estarem aqui
e obrigado por ouvirem, -
15:16 - 15:18é uma honra muito grande.
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15:21 - 15:24"Minha mãe me ensinou este truque:
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15:25 - 15:28se você repetir uma coisa inúmeras vezes,
-
15:28 - 15:30ela perde o significado.
-
15:30 - 15:32Por exemplo: lição de casa,
-
15:32 - 15:36lição de casa, lição de casa,
lição de casa, lição de casa. -
15:36 - 15:38Viu? Nada.
-
15:38 - 15:42'Nossas vidas', ela disse,
'também são assim'. -
15:42 - 15:46Se você olhar o por do sol muitas vezes,
ele se torna apenas seis da tarde. -
15:46 - 15:50Se você repetir o mesmo erro várias vezes,
você pode parar de chamá-lo de erro. -
15:50 - 15:53Se você só acordar, acordar,
acordar, acordar, acordar, -
15:53 - 15:55um dia você vai se esquecer do motivo.
-
15:55 - 15:58'Nada é para sempre', ela dizia.
-
15:59 - 16:02Meus pais se separaram
quando eu tinha sete anos. -
16:02 - 16:06Antes da sua última discussão,
eles me mandaram pra casa do vizinho, -
16:06 - 16:10como um astronauta chutado
para fora da cápsula. -
16:10 - 16:14Quando eu voltei, não havia
gravidade em nossa casa. -
16:14 - 16:17Imaginei que fosse um acidente.
-
16:17 - 16:19Mas, quando eu saí,
eles sussurraram um ao outro: -
16:19 - 16:20'Eu te amo'.
-
16:20 - 16:23Tantas vezes que esqueceram
o que significava. -
16:23 - 16:28Família, família, família, família,
família, família, família. -
16:28 - 16:30Minha mãe me ensinou este truque:
-
16:30 - 16:34se você repetir uma coisa inúmeras vezes,
ela perde o significado. -
16:34 - 16:36Esse se tornou meu jogo favorito.
-
16:36 - 16:38Ele fazia a dor das palavras evaporar.
-
16:38 - 16:40Separação, separação, separação.
-
16:40 - 16:41Viu? Nada.
-
16:41 - 16:43Separado, separado, separado, separado.
-
16:43 - 16:45Viu? Nada.
-
16:45 - 16:47Agora sou um homem habilidoso e ferido.
-
16:47 - 16:50Trabalho com palavras o dia inteiro.
-
16:50 - 16:52Cale a boca. Conheço a ironia.
-
16:52 - 16:54Quando eu era jovem me ensinaram
-
16:54 - 16:57que o truque para dominar a linguagem
-
16:57 - 16:58era quebrá-la,
-
16:58 - 17:01convencendo-a de que não tinha valor.
-
17:01 - 17:05Eu te amo, eu te amo, eu te amo,
eu te amo, eu te amo, eu te amo. -
17:05 - 17:07Viu? Nada.
-
17:08 - 17:12Logo depois que meus pais
se separaram, eu fiquei gago. -
17:13 - 17:17O destino é um professor
cruel e eficiente. -
17:17 - 17:19Não há saída na gagueira.
-
17:19 - 17:22Você consegue sentir
o significado de cada palavra -
17:22 - 17:24arrastar-se por sua garganta.
-
17:24 - 17:27S-s-s-ss-ss-separação.
-
17:28 - 17:31A gagueira é uma jaula de espelhos.
-
17:31 - 17:35Cada 'O que você disse?',
cada 'Não se apresse', -
17:35 - 17:37cada 'Vamos lá, garoto. Fala logo!'
-
17:37 - 17:41é um reflexo evidente de uma existência
da qual você não pode escapar. -
17:41 - 17:44Cada momento ruim tropeça
em seu próprio anúncio -
17:44 - 17:46de novo, de novo e de novo
-
17:46 - 17:49até ficar pendurado no centro da sala
-
17:49 - 17:53como se o que você tinha para dizer
não tivesse importância nenhuma. -
17:53 - 17:58Mãe, pai, eu não esbanjo
mais minhas palavras. -
17:58 - 18:03Mesmo agora, depois de centenas de horas
praticando para acabar com minha gagueira, -
18:03 - 18:07ainda sinto as garras do significado
no fundo da minha garganta. -
18:07 - 18:09Escutem-me.
-
18:09 - 18:12Ouvi dizer que até no espaço
-
18:12 - 18:17é possível ouvir o arranhar
de um 'E-e-e-e-eu te amo'." -
18:19 - 18:20Muito obrigado a todos.
-
18:20 - 18:22(Aplausos)
- Title:
- Poesia em prisões de segurança máxima | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom
- Description:
-
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
Com dois poemas cativantes e seu talento extraordinário para contar histórias, Phil compartilha sua jornada e a experiência de criar poesia com detentos em prisões de segurança máxima.
Phil Kaye é compositor de poesia falada e codiretor do projeto VOICE. Ele tem viajado ao redor do mundo apresentando seu trabalho e ensinando em oficinas práticas. Ele tem aparecido na NPR, uma rede pública de rádio dos EUA, tem se apresentado no Lincoln Center, e recebeu duas vezes o prêmio National College Poetry Slam por "Impulsionar a arte", devido à excepcional inovação na arte de encenar poesia; a única pessoa a receber o prêmio duas vezes. Phil é formado na Brown University, na qual foi o coordenador-chefe do "Space in Prisons for the Arts and Creative Expression", SPACE, e ensinou em oficinas semanais de poesia em prisões de segurança máxima. Seu livro, "A light bulb symphony", foi lançado em 2011, e seu trabalho pode ser encontrado regularmente na revista CHAOS .
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 18:30
Claudia Sander approved Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Leonardo Silva accepted Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Leonardo Silva edited Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom | ||
Claudia Sander edited Portuguese, Brazilian subtitles for Poetry in maximum security prison | Phil Kaye | TEDxFoggyBottom |