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  • 0:00 - 0:06
    -Fome, fome, fome!
    -Não tenho nada, tu tens?
  • 0:07 - 0:09
    -Sim, um pouco.
    -Chouriço?
  • 0:09 - 0:12
    -Não sei, há?
    -Sim, queres ou não?
  • 0:14 - 0:17
    -Sim, mas também para ti
    e para o avó
  • 0:17 - 0:20
    -Há, sim, calma, eu não quero.
    -Ah, é verdade.
  • 0:24 - 0:27
    -Fome, fome...
  • 0:29 - 0:32
    - Hoje fomos à biblioteca, na escola.
    - Como?
  • 0:32 - 0:34
    - A Biblioteca... Mediateca.
    - Quando?
  • 0:35 - 0:36
    - Hoje de manhã.
    - Ah, de manhã?
  • 0:37 - 0:37
    -Sim.
    - E?
  • 0:38 - 0:42
    - Peguei num livro.
    - Para a viagem?
  • 0:43 - 0:47
    - Sim, talvez, sim, ...
    - Muito bem, sim...
  • 0:48 - 0:55
    - Chama-se "Os avós no campamento de verão"
    Os avós no campamento de verão
  • 0:55 - 1:00
    - A ver, Garikoitz, o teu...
    - O avô não come chouriço.
  • 1:01 - 1:04
    - Não, eu nao quero... eu não quero
  • 1:07 - 1:09
    - Como é que está, quente?
  • 1:11 - 1:14
    - Gari, conta-nos
    onde e com quem moras?
  • 1:15 - 1:22
    - Sim, pois... vivo em Biriatu
    com a minha avó e o meu avô
  • 1:22 - 1:24
    -Entre bosques, entre montanhas...
    aqui estás à vontade.
  • 1:24 - 1:26
    - Sim... sim.
    -Porque é que moras com os teus avós?
  • 1:27 - 1:30
    - Porque os meus pais estavam na prisão
    e então, com 3 anos
  • 1:30 - 1:34
    -O meu tio trouxe-me aqui,
    a Biriatu
  • 1:34 - 1:38
    para viver com os meus avós
  • 1:38 - 1:41
    - Tiveste sempre os pais na prisão?
  • 1:41 - 1:44
    -Sim
    -E como é que se lida com isso?
  • 1:44 - 1:50
    -Pois... pufff, um pouco triste.
  • 1:51 - 1:56
    Quando os vejo, muito feliz,
    mas no momento da despedida já um bocado triste
  • 1:57 - 1:58
    -Bom proveito, eh?
    -Muito obrigado.
  • 2:01 - 2:09
    -Depois digo-te onde é que estão as coisas
    na mochila, ok?
  • 2:09 - 2:12
    -Para dizeres à tia
  • 2:13 - 2:19
    -No teu dia a dia em que é que notas
    que os teus pais estão na prisão?
  • 2:19 - 2:22
    que coisas deves mudar porque
    os teus pais estão presos?
  • 2:23 - 2:24
    -Pois...
  • 2:27 - 2:29
    -Calma, Gari.
  • 2:29 - 2:31
    -Ah, e... talvez os trabalhos da
    escola para a viagem
  • 2:31 - 2:34
    -Já o disse antes...
    -Sim.
  • 2:34 - 2:38
    -Para pôr... introduzir... na mochila.
  • 2:39 - 2:40
    -Sim, agora o pomos
  • 2:40 - 2:44
    -Eu disse-te para pores os trabalhos
    da escola, para os fazeres com a Larraitz
  • 2:45 - 2:48
    -E, que trabalhos é que tens?
  • 2:48 - 2:49
    -Matemática
  • 2:49 - 2:51
    -Matemática? Isso é fácil
  • 2:52 - 2:52
    -Sim
  • 2:54 - 2:55
    -Mas, antes disse-te,
    para os meteres, não disse?
  • 2:56 - 2:57
    -Siiiim!
  • 2:59 - 3:03
    -Desculpa, podes
    repetir a pergunta?
  • 3:03 - 3:04
    -Não me lembro...
  • 3:06 - 3:11
    -Sim, queremos saber o que é significa para
    ti ter o pai e a mãe na prisão.
  • 3:12 - 3:18
    -Pois, quer dizer que
    às vezes se passa mal
  • 3:19 - 3:24
    outras vezes não, mas sempre lembrar-se
    deles e amá-los muito
  • 3:27 - 3:31
    -Onde é que nasceste tu?
    -Em Granada, na prisão
  • 3:33 - 3:40
    -Pois, normal, depois quando
    termine farei-o, e assim, pois...
  • 3:42 - 3:46
    -Mikel é muito simpático,
    e às vezes falamos
  • 3:47 - 3:53
    ou brincamos com os miúdos, com a Jare
    -E com a Jare, é muito fixe!
  • 3:53 - 4:02
    Sim, essa rapariga,... e pede ao
    Mikel, como é que se disse... que ponha o wifi
  • 4:02 - 4:05
    no teu tablet.
    -Sim, isso já... sim, sim.
  • 4:09 - 4:11
    -Para brincar um pouco com o tablet.
    -Sim
  • 4:12 - 4:15
    -Se ficas chateado, ou...
    -Sim, ou ouvir música.
  • 4:17 - 4:25
    -Isso é! Ou ver videos... não é?
    -Benito Lertxundi, ou Huntza ou...
  • 4:26 - 4:30
    -Sim, isso.
    -Ah, sim! E a noite um filme.
  • 4:31 - 4:40
    -Em quantas cadeias estiveste?
    -Sete ou cinco, ou... não sei.
  • 4:42 - 4:44
    -Quantos anos passaste na prisão?
    -Três.
  • 4:45 - 4:46
    -Três anos.
    -Três anos.
  • 4:47 - 4:49
    -Dei-te a maior!
    -Avó, eu já sei cortar, calma.
  • 4:49 - 4:52
    -Ok, está bom, corta.
  • 4:52 - 4:57
    -Quando há mudanças de cadeia,
    mudanças de prisão dos pais,
  • 4:58 - 5:04
    como é que se vive isso?
    -Mal, porque se os
  • 5:04 - 5:08
    trouxessem mais perto, mas como
    não os trazem, pois...
  • 5:11 - 5:14
    é mais longe, e mal.
  • 5:14 - 5:18
    -Todos esses movimentos
    foram para ir mais longe?
  • 5:18 - 5:19
    -Sim.
  • 5:21 - 5:26
    -Um dia, estava com o Aitzol,
    o meu primo mais velho, e
  • 5:26 - 5:30
    chegamos ao Cepo para o pequeno
    almoço, não é? E logo com a tia e tal,
  • 5:31 - 5:38
    e disseram "que tal a viagem?"
    E respondeu o primo Aitzol:
  • 5:39 - 5:42
    "Nós a tomar o pequeno almoço em Cepo,
    e o Gari... a dormir "seco" (profundamente)!
  • 6:48 - 6:51
    Bem-vindo. Hoje vamos de
    autocarro até Cádiz.
  • 6:52 - 6:53
    2.000 kilometros de viagem, ida e volta.
  • 6:55 - 6:57
    Ajudaremos a um miúdo que
    tem os dois pais na prisão
  • 6:58 - 7:03
    Gari nesceu na prisão, e viveu na
    cadeia os seus primeiros três anos
  • 7:14 - 7:16
    -Contas que nasceste na prisão?
  • 7:17 - 7:18
    -Sim.
  • 7:19 - 7:21
    -E, o que é que te dizem?
    -Que é muito estranho.
  • 7:32 - 7:38
    Agora tem 9; vive em Biriatu, e viaja uma vez por mês para ir ver os pais.
  • 7:49 - 7:51
    Gari não é a única criança que
    conheceremos hoje no "Ur Handitan"
  • 7:53 - 7:55
    Se querem viajar connosco...
    sejam bem-vindos!
  • 8:07 - 8:09
    -Malen, conheceste ao teu pai na prisão.
    -Sim.
  • 8:10 - 8:13
    -Há quantos anos é que ele está preso?
    -20.
  • 8:14 - 8:16
    -20 anos, e quantos é que tens?
    -18.
  • 8:18 - 8:24
    -Liga ao Aiur duas vezes por semana,
    e a mim outras duas, porque tem oito chamadas.
  • 8:24 - 8:26
    -Nós não lhe podemos ligar.
  • 8:27 - 8:28
    -Nessas viagens de carro...
    -Pois...
  • 8:29 - 8:30
    -Em que pensas?
  • 8:32 - 8:35
    -Em quando é que chegaremos,
    se ele estará bem...
  • 8:37 - 8:41
    -Por que é que temos que pagar
    nós também o castigo dele
  • 8:42 - 8:47
    Por que temos que
    fazer tantos quilômetros.
  • 9:00 - 9:01
    -Tratam-te bem na prisão?
  • 9:03 - 9:07
    -Depende quem, às vezes
    sim, outras vezes são muito duros.
  • 9:09 - 9:11
    -Como descreverias a cadeia?
  • 9:11 - 9:14
    -Suja e velha.
    -Sim?
  • 9:15 - 9:18
    -Escura, não entra luz natural.
  • 9:18 - 9:20
    -Fria e escura.
  • 9:35 - 9:38
    Ur Handitan
    OS MENINOS DA MOCHILA
  • 9:43 - 9:44
    -Gari, espera!
  • 9:44 - 9:45
    -Diverte-te!
  • 9:49 - 9:50
    -Calma, ok?
  • 9:50 - 9:52
    O autocarro sai de Errenteria.
  • 9:52 - 9:54
    Gari hoje viaja com a sua tia Txipi
  • 9:57 - 9:58
    -Pois, bem....
    -Beijinhos!
  • 9:58 - 10:00
    -Adeus!
    -Adeus!
  • 10:00 - 10:02
    -Ajuda a Maite, a avô, sim.
  • 10:06 - 10:08
    -Tia, os trabalhos da escola,
    os trabalhos da escola, sim, sim...
  • 10:09 - 10:11
    -Tens? Mas não trouxeste nada. Faremos os trabalhos no domingo, em casa, não é?
  • 10:12 - 10:13
    -Não, não, sim os trouxe.
  • 10:13 - 10:14
    -Trouxeste os trabalhos da escola?
    -Sim.
  • 10:16 - 10:18
    -E onde os faremos? Em Algeciras?
    -Não, pois...
  • 10:18 - 10:19
    -Tens tudo na mochila?
    -Sim.
  • 10:19 - 10:22
    -Isso pois, bem, bem...
  • 10:24 - 10:27
    -Gari, onde é que nasceste?
    -Em Granada, na cadeia.
  • 10:30 - 10:34
    -E depois, tiveste que te mudar
    a uma outra cadeia?
  • 10:35 - 10:39
    -Acho que sim, a Valencia.
  • 10:41 - 10:45
    -Contas que nasceste na cadeia?
  • 10:45 - 10:46
    -Sim.
  • 10:49 - 10:52
    -E como o contas? Como curiosidade,
    como algo especial...
  • 10:53 - 10:54
    -Como algo especial.
  • 10:54 - 10:56
    -Contas aos amigos?
    -Sim.
  • 10:57 - 11:01
    -E o que é que te dizem?
    -Que é muito estranho.
  • 11:03 - 11:05
    -Que é muito estranho.
    -Sim.
  • 11:06 - 11:08
    -E perguntam muito?
    -Sim, muito.
  • 11:09 - 11:10
    -Que querem saber?
  • 11:11 - 11:16
    -Uma e outra vez, como é que estou,
    como é que faço as viagens,
  • 11:18 - 11:19
    quantos quilómetros... coisas do género.
  • 11:21 - 11:24
    -Disseste que nascer
    na cadeia é especial...
  • 11:24 - 11:25
    -Sim.
  • 11:25 - 11:26
    -Como de especial?
    O que é que achas?
  • 11:29 - 11:29
    -Triste.
  • 11:29 - 11:31
    -Triste?
    -Sim.
  • 11:36 - 11:38
    -Sim, tenho trabalhos da escola.
  • 11:40 - 11:43
    Bom... no autocarro.
  • 11:44 - 11:46
    Para a segunda-feira.
  • 11:49 - 11:54
    -Às vezes, liga quando
    ninguém espera
  • 11:55 - 11:57
    e outras vezes, ficamos à espera
    da chamada.
  • 11:58 - 12:00
    -Podes falar ao telefone com o pai?
  • 12:01 - 12:04
    -Sim, 5 minutos.
  • 12:07 - 12:08
    Aos fines de semana.
  • 12:09 - 12:11
    -Aqui também a chover!
  • 12:16 - 12:18
    Se não, o guardachuvas e o casaco.
  • 12:21 - 12:25
    -Como te comunicas com o pai?
  • 12:26 - 12:28
    -Por telefone, carta o visita.
  • 12:29 - 12:30
    -Quanto duram as chamadas?
  • 12:31 - 12:32
    -5 minutos.
    -5 minutos?
  • 12:33 - 12:35
    -E o que é que achas, são cumpridas ou curtas?
  • 12:37 - 12:38
    -Curtas.
  • 12:39 - 12:40
    -Te parecem curtas.
    -Sim.
  • 12:41 - 12:42
    -Corta-se de repente, não é?
    -Sim.
  • 12:43 - 12:44
    -O pai diz, "vai cortar!",
    e clank, corta-se!
  • 12:45 - 12:46
    -Sim.
    -E ficas como?
  • 12:47 - 12:50
    "Ainda não contei o que é que
    me aconteceu ontem",
  • 12:50 - 12:52
    dizes-me muitas vezes.
    -Sim.
  • 12:53 - 13:03
    -Acaba já? Caraças... quero-te!
    -Sim, beijinho, amo-te!
  • 13:05 - 13:06
    -Já?
    -Sim.
  • 13:08 - 13:09
    -Que é que conta? Também chove lá, em Algeciras?
  • 13:09 - 13:13
    -Sim.
    -Ai é? puxa!
  • 13:14 - 13:16
    -Sabes como é a vida
    deles, na prisão?
  • 13:17 - 13:18
    -Não.
    -Contam-te ou...
  • 13:20 - 13:25
    não perguntas?
    -Às vezes... mas não sei muito.
  • 13:27 - 13:35
    -O que é que te contaram eles?
    -Pois, realmente, contaram-me quase nada.
  • 13:39 - 13:42
    -Calma... por que é que
    achas que não te contam?
  • 13:45 - 13:49
    -Porque para mim não é...
    porque não vou gostar, por isso.
  • 14:00 - 14:03
    -Sim, obrigado.
    Espera, o avô, onde é que ele está?
  • 14:05 - 14:06
    -Olha, estão aqui, olha!
    -Olá!
  • 14:06 - 14:09
    -Olá!
    -Viva!
  • 14:13 - 14:16
    Depois de parar em Donostia
    vem a paragem de Bilbau.
  • 14:16 - 14:18
    Alí está o outro avô de Gari,
    disposto a cumprimentar o neto.
  • 14:19 - 14:21
    -Agora, nesta entrevista,
  • 14:22 - 14:26
    é verdade te entristeces e que
    saem todas as emoções,
  • 14:28 - 14:34
    mas, no dia a dia, és um rapaz forte.
  • 14:34 - 14:37
    -Sim.
    -Alegre... como fazes?
  • 14:39 - 14:46
    -Pensando que voltarão...
    e tentando não ficar nervoso.
  • 14:49 - 14:53
    -O que é que te ajuda a seguir em frente?
    -A avó e o avô.
  • 14:59 - 14:59
    -Olá!
    -Olá!
  • 15:00 - 15:01
    -Diz-lhe.
    -Olá, Ixare!
  • 15:01 - 15:05
    -Olá, tudo bem?
    -Tudo bem.
  • 15:08 - 15:11
    -Ficamos aquí?
    -Não, temos que sentar-nos atrás.
  • 15:12 - 15:13
    -Isso tem que ficar livre,
    é por isso que estamos aqui.
  • 15:25 - 15:26
    -Aos sábados e aos domingos
    tenho torneio, não é?
  • 15:27 - 15:32
    -Sim.
    -E às vezes posso jogar,
  • 15:32 - 15:33
    e outras vezes não,
  • 15:33 - 15:36
    porque vou ver os meus pais.
  • 15:37 - 15:41
    Mas, é lógico, prefiro,
    já terei mais torneios!
  • 15:41 - 15:44
    Prefiro ver os meus pais,
    do que jogar no torneio
  • 15:45 - 15:50
    -Sempre perguntava quando é que ele voltaria.
    E passei um período muito crítico,
  • 15:50 - 15:57
    mal... e os pais disseram-me para
    que eu me acalmasse, que o pai estaria
  • 15:57 - 16:02
    no próximo campeonato
    de bertsolaris comigo. Fiquei feliz,
  • 16:04 - 16:09
    mas com o tempo me apercebi que era mentira,
    que tinham-mo dito para me acalmar.
  • 16:09 - 16:12
    -a mãe te disse que o pai
    estaria no campeonato de bertsolaris.
  • 16:12 - 16:14
    -Sim, comigo.
    -Mas... ele não esteve no
  • 16:14 - 16:17
    último campeonato.
    -Não.
  • 16:17 - 16:26
    -O que e que pensas nas viagens de carro?
    -Quando chegaremos, se ele estará bem...
  • 16:26 - 16:29
    -Se o pai estará bem?
    Porque é que te preocupa isso?
  • 16:30 - 16:33
    -Pois... muitas vezes fica doente.
  • 16:38 - 16:41
    -Ele conta-te as suas dificuldades?
  • 16:42 - 16:44
    -Às vezes sim, outras vezes não.
  • 16:46 - 16:49
    -Achas que não te conta tudo,
    para não te magoar?
  • 16:49 - 16:51
    -Não sei... mas tudo não.
  • 16:55 - 16:56
    -Hize, entrevista.
  • 16:57 - 16:58
    Em Murcia, na cadeia...
  • 16:58 - 17:03
    Combinamos por telefone para ver
    os desenhos animados na mesma hora
  • 17:03 - 17:06
    e para olhar a lua à mesma hora.
  • 17:06 - 17:10
    -Para ver os desenhos animados e olhar
    a lua à mesma hora
  • 17:11 - 17:14
    -Ah! então vêem os mesmos desenhos animados à mesma hora
  • 17:14 - 17:15
    -Sim!
  • 17:15 - 17:17
    -É quase como estar juntos!
  • 17:18 - 17:22
    E olhar para a lua ao mesmo tempo, isso
    também é quase como estar juntos!
  • 17:25 - 17:27
    -Liga para Aiur duas vezes por semana
  • 17:27 - 17:32
    e duas a mim, porque tem oito chamadas.
    Nós não lhe podemos ligar.
  • 17:52 - 17:54
    -E os teus amigos sabem
    onde estão os teus pais, sim.
  • 17:55 - 17:57
    -Sim. Normal... normal.
    -E os professores também?
  • 17:57 - 17:58
    -Sim.
    -E percebem?
  • 17:58 - 17:59
    -Sim.
    -Ok.
  • 18:01 - 18:03
    -Falas com os professores
    sobre isto? Perguntam?
  • 18:03 - 18:04
    -Não.
  • 18:05 - 18:08
    -Alguma vez tive problemas
  • 18:08 - 18:10
    com algum professor, desde o momento em que sabe.
  • 18:10 - 18:14
    Parece... não sei se é medo ou...
    uma preocupação porque
  • 18:15 - 18:19
    muda a relação com o professor.
  • 18:19 - 18:23
    O professor sabe uma coisa
    muito especial da tua vida...
  • 18:23 - 18:25
    Agora se o vêem, ficarão a saber!
  • 18:27 - 18:29
    -Depende de como seja o professor, pode dizer:
  • 18:31 - 18:37
    "Coitada!" ou coisas do género... e não quero
    dar lástima,
  • 18:37 - 18:38
    não gosto.
  • 18:40 - 18:42
    -O que é que pensaste
    quando a professora Nuria
  • 18:42 - 18:44
    se propus para viajar contigo?
  • 18:46 - 18:52
    -Achei bem
    e fiquei feliz.
  • 18:53 - 18:58
    -E quando voltei da primeira visita, lembro-me
    que disse logo de manhã
  • 18:58 - 19:01
    no corro, quando estavamos juntos:
  • 19:01 - 19:04
    "Não sabem como é gira a mãe da Haizea
  • 19:04 - 19:08
    tem anéis tão giros,
    e colares..."
  • 19:11 - 19:14
    E ainda lembro do olhar da criança nesse momento.
  • 19:15 - 19:17
    E a partir desse momento é que ela começou
  • 19:18 - 19:22
    a falar com mais naturalidade
    sobre a sua situação.
  • 19:25 - 19:28
    -A professora disse-nos que
    quando eras mais pequena,
  • 19:28 - 19:34
    ficavas triste quando os outros
    meninos falavam dos seus pais
  • 19:34 - 19:36
    -Sim.
    -Porque?
  • 19:36 - 19:45
    -Porque os pais deles estão na rua,
    e os meus não, então... pois... fico triste
  • 19:46 - 19:53
    -Quando a Haizea entrou na aula,
    pensei, "conheço os outros
  • 19:53 - 19:57
    pais, posso dar a conhecer
    a situação aos outros pais... pois eu com estes pais também
  • 19:57 - 20:02
    quero estar. Como não vou contar a essa mãe, e ao pai neste caso,
  • 20:02 - 20:05
    dizer a essa mãe como é que esta a menina, não é?
    as asneiras que ela faz...
  • 20:05 - 20:10
    Como brinca... como se comporta...
  • 20:12 - 20:18
    -O outros meninos têm pais que se reunem
    com os professores
  • 20:19 - 20:22
    -Sim.
    -E assim tu também tens?
  • 20:22 - 20:23
    -Sim.
  • 20:24 - 20:27
    -Qual foi a reação
    dos pais?
  • 20:27 - 20:33
    -Eu, se calhar por ser mãe,
    quando entrei e vi
  • 20:33 - 20:37
    os dois juntos, não é? o olhar da mãe,
    incrível, sim...
  • 20:41 - 20:45
    -Nunca esquecerás a primeira visita?
    -Jamais, não...
  • 20:46 - 20:52
    -Tens momentos tristes,
    na escola
  • 20:55 - 20:57
    e ela está aí para te ajudar?
    -Sim, sinto-me mal
  • 20:57 - 21:03
    e vou-me embora,
    e às vezes me vê a Nuria
  • 21:03 - 21:06
    -É uma protecão?
    -Sim
  • 21:08 - 21:13
    -Alguma vez te criticaram por este trato especial que tens com os pais da Haizea?
  • 21:13 - 21:15
    -Não, nunca, jamais.
  • 21:17 - 21:21
    -Deve ser difícil manter
    uma distancia ética.
  • 21:21 - 21:23
    -Não é fácil.
  • 21:25 - 21:29
    -Não é fácil.
    -Porque?
  • 21:32 - 21:34
    -... não sei.
  • 21:37 - 21:42
    Às vezes pões uma barreira entre
    o que pensas e o que dizes
  • 21:43 - 21:47
    não é? tens que pôr a barreira, não é?
  • 21:47 - 21:51
    Porque sou a professora e porque
    não se podem misturar as coisas
  • 21:51 - 21:54
    Coisas pessoais, as tuas vivencias,
    a relação com a familia
  • 21:54 - 21:58
    sempre tem que haver certa distancia,
    percebes?
  • 21:59 - 22:01
    -O que é que queres ser de maior?
    -Não sei.
  • 22:02 - 22:03
    -Cocinheiro?
    -Talvez, não sei.
  • 22:04 - 22:05
    -O que?
    -Não sei.
  • 22:06 - 22:07
    -Músico talvez.
    -Se calhar sim.
  • 22:09 - 22:10
    -Gosto muito do grupo Huntza,
    para ouvir, sim.
  • 22:12 - 22:14
    -Sim?
    -Sim, gosto muito.
  • 22:15 - 22:17
    E de Anje Duhalde.
    -A sim?
  • 22:17 - 22:19
    -Sim, sim, e...
  • 22:19 - 22:21
    -Então com as boas notas os
    pais ficaram contentes, não é?
  • 22:22 - 22:23
    -Sim.
    -Fogo!
  • 22:23 - 22:25
    -Pois, acho.
    Amanhã vou-lhes dizer.
  • 22:25 - 22:27
    -Com certeza!
    -Não sabem
  • 22:27 - 22:28
    (Ouve-se a música "Malen" de Ken Zazpi)
  • 23:03 - 23:10
    -Podes contar-nos a istoria da
    música "Malen" de Ken Zazpi'?
  • 23:11 - 23:16
    -Quando a minha mãe estava grávida,
    escreveram a letra e chamaram-lhe "Malen"
  • 23:17 - 23:18
    -E que é o que diz?
  • 23:19 - 23:24
    -Pois, como são as viagens, não é?
    As viagens, e depois, 40 minutos.
  • 23:35 - 23:39
    -Quando era pequena não gostava da música
    ficava envergonhada.
  • 23:40 - 23:43
    Quando, por exemplo,
    íamos ver os Ken Zazpi
  • 23:44 - 23:47
    Quando Ken Zazpi tocava a música, Malen,
    eu me escondia
  • 23:50 - 23:53
    porque sempre diziam, ao microphone:
    "Hoje está aqui a menina Malen"
  • 23:54 - 23:57
    e eu ficava super envergonhada.
    Mas agora,
  • 23:57 - 24:01
    agora cantam-na, e eu
    "aqui, aqui!, sim.
  • 24:28 - 24:32
    -A música diz que o vidro grosso
    não te roubará o sorriso
  • 24:33 - 24:35
    A ti não te robou.
  • 24:35 - 24:38
    -Não, não sei, sempre
    a sorrir, não é?
  • 24:47 - 24:50
    Malen, 18 anos, não
    conheceu o pai fora da prisão
  • 24:50 - 24:54
    Agora está em Almeria, antes em Jaen.
    Agora mais longe.
  • 24:56 - 24:58
    -Como são as lembranças
    da infancia da Malen?
  • 24:59 - 25:04
    -Tens a sensação que já passaram
    os melhores anos com o teu pai?
  • 25:06 - 25:09
    -Os melhores anos com o pai
    foram em Jaen,
  • 25:10 - 25:14
    e o que eu brinquei com o pai,
    e as visitas, e tudo isso...
  • 25:18 - 25:19
    Esses foram os melhores anos.
    Ao fim...
  • 25:20 - 25:23
    Não são como os dos outros meninos:
    "Foi ao parque com o pai
  • 25:23 - 25:27
    e foi o melhor dia da minha vida!"
    Não é? A minha é mais...
  • 25:28 - 25:32
    aqueles anos em Jaen.
  • 25:33 - 25:36
    Para ele foram anos muito duros, mas
  • 25:36 - 25:39
    as minhas lembranças são boas, sim.
  • 25:48 - 25:52
    -Eu estou bem quando estou com ele,
    mas quando saio,
  • 25:52 - 25:53
    a despedida é um pouco triste,
    é um abraço e depois
  • 25:53 - 25:56
    não o vejo durante um mês.
    -De certeza.
  • 25:57 - 25:59
    -É... até Janeiro, nada!
  • 26:00 - 26:05
    -Notas alguma evolução nõ teu carácter,
    nas perguntas, preocupaçoes?
  • 26:08 - 26:12
    -Quanto mais velha, sou
    mais consciente da situação
  • 26:12 - 26:12
    e da realidade, e...
  • 26:13 - 26:15
    e mais perguntas:
  • 26:18 - 26:23
    por que é que temos que
    pagar nós o castigo dele?
  • 26:24 - 26:29
    por que é que nos obrigam
    a fazer tantos quilómetros...
  • 26:30 - 26:37
    -Achas que com a dispersão querem
    que tu também pagues o castigo do teu pai?
  • 26:39 - 26:42
    -Sim, porque ao fim, ele pode estar
    igualmente em Castellón ou em Cordoba
  • 26:44 - 26:48
    como em Zaballa.
    Isso é vingança.
  • 26:59 - 27:03
    -Saber que os teus familiares passam
    8 horas num carro e...
  • 27:04 - 27:09
    que logo têm que voltar,
    com qualquer clima...
  • 27:13 - 27:17
    E saber que fazem essa viagem por ele...
  • 27:17 - 27:21
    Isso, isso é uma carga para os pressos.
    E querer que sejamos os familiares a passar isso
  • 27:22 - 27:25
    só cabe se percebe por o
    ponto de vista do ódio.
  • 27:25 - 27:29
    Como um ódio,
    que nós não temos porque sentir.
  • 27:30 - 27:32
    -Estou com sono.
  • 27:33 - 27:36
    -Sim, estás? um pouco?
  • 27:39 - 27:41
    -Temos familiar as 10:30,
  • 27:42 - 27:44
    logo as 13:00 temos vidros,
  • 27:44 - 27:48
    e tu à tarde tens "convivência" com
    o papá e a mamá, 4 horas a tarde.
  • 27:50 - 27:53
    -E as 8, o autocarro.
    -Sim, saímos as 8
  • 27:53 - 27:55
    volta para o Pais Basco.
  • 27:58 - 28:00
    Levas duas vidas ao mesmo tempo, não é?
  • 28:00 - 28:02
    Porque tens por um
    lado a tua vida aqui
  • 28:02 - 28:08
    e logo tens por outro lado a tua vida:
    visitas, viagens...
  • 28:08 - 28:13
    Tudo, o mês enteiro depende das visitas.
    É como ter duas vidas.
  • 28:14 - 28:17
    -O vidro é pior, por...
  • 28:17 - 28:22
    -Não podes tocar os pais...
  • 28:22 - 28:26
    -Mas a minha mãe trabalha na biblioteca
    cuida da biblioteca,
  • 28:28 - 28:32
    e por cuidar 3 meses da
    biblioteca, dão-lhe pontos,
  • 28:35 - 28:38
    e dão-lhe uma visita extra.
  • 28:39 - 28:40
    -Sim? Jesus!
  • 28:41 - 28:42
    -Nerea...
    -Sim, a sua amiga Nerea...
  • 28:43 - 28:47
    -Foi no outro dia,
    16 anos sem abraçar a minha mãe...
  • 28:47 - 28:50
    porque vinha, mas sempre no vidro!
    -Que bem!
  • 28:51 - 28:54
    -Sim, e 15 anos depois,
    por exemplo, o avô Juanjo.
  • 28:56 - 28:58
    --Sim, sim.
    -Quanto? Mesmo muito!
  • 29:00 - 29:01
    -Sim, com o vidro é muito...
    -E o tio Loren.
  • 29:02 - 29:05
    -Sim, o tio Loren também.
    Claro, não pode
  • 29:06 - 29:09
    -Porque são pessoas, que...
    não vêm muitas vezes.
  • 29:10 - 29:12
    -Claro, claro. E então
    ficam só com o vidro.
  • 29:13 - 29:17
    E todos os amigos, claro.
    Só pode estar com eles a familia.
  • 29:18 - 29:18
    Ao contrario, não.
  • 29:21 - 29:23
    Visitas o pai uma vez por
    mês, em Castellón.
  • 29:25 - 29:28
    -Onde tens que ir ver o pai?
    -A Murcia.
  • 29:29 - 29:31
    -Murcia! Está muito longe, não é?
    -Sim!
  • 29:31 - 29:33
    -Quantas horas?
    -Oito.
  • 29:34 - 29:36
    -Oito horas, e vamos de carro.
  • 29:36 - 29:40
    Jogar com o tablet, olhar
    ao céu e ouvir música.
  • 29:42 - 29:44
    E às vezes fico enjoada.
  • 29:44 - 29:47
    -E às vezes vomito.
    As vezes enjoas-te, não é?
  • 29:47 - 29:49
    -E o Aiur viaja bem?
  • 29:50 - 29:51
    -Sim.
  • 29:52 - 29:53
    -Sim, em realidade portam-se bastante bem, não é?
  • 29:53 - 29:54
    -Sim.
  • 29:55 - 29:59
    -Isso foi feito pelo pai, e vêm
    os pássaros, sabias?
  • 30:00 - 30:04
    -Sim. Mas não cabem, porque o pai
    fez o buraco pequeno de mais.
  • 30:05 - 30:06
    -Já, buitres não vão caber, Aiur.
  • 30:06 - 30:09
    -Entram passarinhos,
    perdizes e assim.
  • 30:09 - 30:10
    -Perdizes?
  • 30:10 - 30:13
    -Não sabes o que é que são as perdizes?
  • 30:13 - 30:15
    -Sim, o que bebe o avô.
  • 30:17 - 30:19
    -E... quando vês o pai
  • 30:19 - 30:21
    depois de atravessar 9 portas,
  • 30:21 - 30:23
    o que é que fazes quando vês o pai?
  • 30:24 - 30:25
    -Salto para acima dele.
  • 30:25 - 30:26
    -Quando e que é
    tens a próxima visita?
  • 30:26 - 30:28
    -No final de Janeiro.
  • 30:28 - 30:31
    -Ele está no sul de França, em Arles
  • 30:32 - 30:34
    numa cadeia... de execução.
  • 30:35 - 30:38
    -Pegar em muita comida, pegar nas malas e embora.
  • 30:39 - 30:41
    -Temos de preparar...
  • 30:41 - 30:45
    as coisas que vamos lhe entregar,
  • 30:45 - 30:47
    Temos que preparar o saco, sempre.
  • 30:48 - 30:49
    -Mas já com ilusão.
  • 30:50 - 30:52
    -Agora quais são as
    tuas preocupações?
  • 30:56 - 31:00
    -Dudas...? Não sei.
  • 31:04 - 31:06
    -Sobre a situação dos teus pais, quero dizer.
  • 31:07 - 31:09
    -A!, Sim, sim...
  • 31:09 - 31:12
    tenho preucupação sobre como estão,
  • 31:13 - 31:14
    o que é que fazem, se...
  • 31:16 - 31:18
    se vivem bem...
  • 31:22 - 31:24
    -Perguntas aos avós sobre isso?
  • 31:24 - 31:26
    -Às vezes sim.
  • 31:26 - 31:27
    -E o que é que te respodem?
  • 31:29 - 31:31
    -Dizem sempre a verdade.
  • 31:33 - 31:34
    -Quais são as preocupaçoes, Hize?
  • 31:34 - 31:37
    -Exatamente, por qué é
    que o pai está na cadeia.
  • 31:37 - 31:41
    -Sim, pergunta isso
    cada vez mais concretamente.
  • 31:41 - 31:45
    Ao princípio respondemos geralmente,
    e ela, pois isso,
  • 31:45 - 31:48
    quanto mais velha, precisa de
    respostas mais concretas
  • 31:48 - 31:52
    e nós damo-as. Acho que se deve
    dizer a verdade às crianças.
  • 31:56 - 31:59
    O que é que quer dizer que a
    mãe de Hize diga a verdade?
  • 31:59 - 32:01
    Sabem estas crianças
    menores da idade o que é que
  • 32:01 - 32:05
    fizeram os seus pais
    antes de entrar na prisão?
  • 32:05 - 32:08
    E, se o sabem, o que é que
    pensam sobre aquilo que fizeram os seus pais?
  • 32:09 - 32:12
    O objectivo deste programa não é
    perguntar às crianças
  • 32:12 - 32:16
    sobre aquilo que fizeram os seus pais.
    O objectivo é analisar o seguinte:
  • 32:17 - 32:21
    quais são as consecuencias da
    política de prisão de excepção
  • 32:21 - 32:23
    nestas crianças.
  • 32:27 - 32:29
    Uma das consecuencias da política de excepção é
  • 32:29 - 32:31
    manter os pressos longe do seu lugar de nascimento:
  • 32:32 - 32:36
    54 pressos,
    entre 100 e 390 quilômetros.
  • 32:37 - 32:43
    103 pressos,
    entre 400 e 690 quilômetros.
  • 32:43 - 32:46
    211 pressos,
    entre 700 e 1.100 quilômetros.
  • 32:49 - 32:53
    Os protagonistas de hoje fazem
    o dobro destes quilômetros
  • 32:54 - 32:57
    para poder estar um tempo com
    os pais e regressar a casa.
  • 32:58 - 33:00
    Hoje estamos a falar desta política de excepção.
  • 33:00 - 33:04
    O quanto que estas crianças sabem sobre o
    que fizeram os pais e
  • 33:04 - 33:06
    o que pensam sobre isso...
  • 33:06 - 33:12
    isso que pertence à intimidade deles...
  • 33:12 - 33:15
    dava para um outro programa.
  • 33:16 - 33:19
    -A mãe disse-nos que com 14 anos, já
    estás a ficar adulta e que começaste a
  • 33:23 - 33:29
    procurar em Internet. O que é que encontraste?
    Quais são as tuas preocupações?
  • 33:31 - 33:39
    -Sim, procurei, com 11-12 anos, e,
    não era algo que precissava, mas
  • 33:39 - 33:43
    por curiosidade...
    começei a procurar
  • 33:48 - 33:54
    sem saber o que podia encontrar.
    -O que é que procuravas?
  • 33:55 - 33:57
    Escrevias o nome do pai em Google?
    -Sim.
  • 33:58 - 34:00
    -E alguma sentencia, ou...
    algum artículo?
  • 34:02 - 34:07
    -Sim, mas, ao fim,
    num jornal punha uma coisa
  • 34:07 - 34:10
    e num outro, outra.. No fim de contas
    estavam a falar do meu pai, não é? então
  • 34:10 - 34:14
    não sabia muito bem...
    em que acreditar, em que não...
  • 34:16 - 34:17
    -Qual foi a tua reação?
  • 34:23 - 34:26
    -Não disse nada, mas depois
    comentei com a mãe, e
  • 34:26 - 34:31
    há diferentes versões...
    é diferente em cada sitio
  • 34:34 - 34:36
    -E a mãe, contou-te tudo?
    -Sim.
  • 34:36 - 34:41
    -Entre as perguntas que fazes à tua mãe,
    há alguma se repita?
  • 34:43 - 34:45
    -Sim, "quando vai voltar?"
  • 34:47 - 34:56
    -E? Qual é a resposta a essa pergunta?
    -Não sei. Em breve. Isso diz ela.
  • 34:58 - 35:01
    -Quántos anos deve de
    passar na prisão o teu pai?
  • 35:02 - 35:04
    -Pois, 40 anos.
  • 35:06 - 35:07
    -Buff, é muito!
    -Sim.
  • 35:10 - 35:15
    -E?
    -Pois...Não sei.
  • 35:17 - 35:19
    -Porque tantos anos?
  • 35:20 - 35:22
    -Os companheiros da escola, as amigas,
    perguntam muito sobre o teu pai?
  • 35:24 - 35:26
    -Quando éramos pequenas sim, perguntavam:
  • 35:26 - 35:29
    "Porque está o teu pai preso?"
    E era-me difícil explicar porque,
  • 35:29 - 35:34
    porque não sabia muito bem,
    elas também não...
  • 35:34 - 35:37
    Ainda só sabemos o que
    nos disseram em casa.
  • 35:37 - 35:41
    A minha mãe sempre me respondia,
    que perguntaram elas na suas casas.
  • 35:41 - 35:46
    Porque ao fim de contas, em
    cada casa explicaram duma maneira
  • 35:46 - 35:51
    e a minha mãe achava que ela não era ninguém
    para explicar nada a outras crianças
  • 35:52 - 35:55
    para entrar nesses temas,
    é mais apropiado para falar em cada casa,
  • 35:55 - 35:57
    e depois, eu dizia aos meus amigos:
  • 35:57 - 36:00
    "Eu não sei, a minha mãe disse-me
    para perguntares à tua mãe".
  • 36:00 - 36:05
    A maioria das vezes respondia isso, e ao fim, isso...
  • 36:05 - 36:09
    Os amigos, a dada altura, deixaram de perguntar
  • 36:09 - 36:14
    então penso que já falaram em casa...
  • 36:16 - 36:20
    -Sim, trouxe o tablet, para passar o tempo
  • 36:21 - 36:24
    os cascos para a música...
    -Novos?
  • 36:24 - 36:26
    -Foi um pressente do avó.
    -Ai é? Que bom!
  • 36:27 - 36:29
    -E os livros para fazer os trabalhos da escola.
    -Que bom.
  • 36:30 - 36:35
    -Sim, farei os trabalhos depois
    depois de ver a minha mãe, no autocarro.
  • 36:35 - 36:36
    -Ai é?
    -Sim, sim...
  • 36:36 - 36:39
    -Bom, tens que levar tudo feito
    para a segunda-feira, não é?
  • 36:39 - 36:42
    -Sim, e não os posso fazer na
    segunda de manhã...
  • 36:43 - 36:44
    -Não, não...
  • 36:47 - 36:52
    -Qual é o ambiente nessas viagens?
    -É bonito, alegre,
  • 36:52 - 36:54
    e às vezes me rio muito.
    -Sim? Com que é que te ris?
  • 36:57 - 36:59
    -Com o motorista.
    -Porque?
  • 37:01 - 37:05
    -Porque tentam me entreter,
    e entretêm-me
  • 37:08 - 37:12
    -És dos mais novos?
    -Sim.
  • 37:14 - 37:16
    (Estão os dois a cantar)
  • 37:30 - 37:32
    -Agora estamos a preparar as camas.
  • 37:32 - 37:35
    Aqui dormirá Garikoitz,
    aqui Maitetxu e aqui eu.
  • 37:35 - 37:36
    E Larraitz. É isso...
  • 37:38 - 37:40
    Preparam os beliches antes de jantar.
  • 37:41 - 37:44
    Agora vamos jantar, e bom...
    Depois chegamos e... até manhá.
  • 37:48 - 37:49
    -Jesus!
  • 37:52 - 37:54
    -E, que tal, Xare, a viagem? Bem?
  • 37:58 - 38:01
    -Desejando para ver o papá, não é?
    -Sim?
  • 38:02 - 38:04
    -Em Larrabetzu estava já a disser
    que queria ver o papá hoje.
  • 38:05 - 38:09
    -Sim?
    -Sim, amanhá de manhã, não falta muito.
  • 38:12 - 38:13
    -Amanhã de manhã vais ver o papá?
    (Diz que não com a cabeça)
  • 38:14 - 38:15
    -Quando?
    -À tarde!
  • 38:15 - 38:16
    -Aaaa!!!
  • 38:18 - 38:19
    -Sim, vem comigo, não é?
  • 38:19 - 38:24
    -Amanhá não, porque temos familiar.
    Vocês convivencia, e nós no quarto pequeno.
  • 38:24 - 38:29
    -E depis "convivencia", e
    vidro, de manhã e de tarde.
  • 38:29 - 38:34
    -Mas o vidro não é...
    O vidro não é...
  • 38:34 - 38:38
    Tão bonito como o familiar.
    -Não, de certeza.
  • 38:38 - 38:41
    Não poder tocar a mamá, nem o papá.
    Claro, é por isso, não é?
  • 38:43 - 38:45
    -Qual preferes tu, Xare?
  • 38:48 - 38:53
    -Aaa! Para tocar, o papá!
    Siiim, e para beijar o papá!
  • 38:53 - 38:54
    -Sim?
  • 38:57 - 38:58
    -Abrimos?
  • 38:59 - 39:03
    Xare, fala como uma criança de 4 anos, eh!?
    não como uma menina pequena.
  • 39:03 - 39:05
    -Quantos anos tens, 4?
    (Mostra 4 dedos)
  • 39:06 - 39:09
    -Que grande!!!
    -Sim, mas agora está um bocado alterada...
  • 39:09 - 39:10
    e parece...
    -se calhar estás cansada, não é?
  • 39:13 - 39:16
    -Xare às vezes fica com raiva, não é?
    quanto tem que dizer adeus ao pai.
  • 39:16 - 39:16
    -Eh?
    (A menina diz que sim com a cabeça)
  • 39:22 - 39:26
    -Não para de fazer de asneiras.
  • 39:31 - 39:34
    Bom, Gari, adeus querido, até manhâ.
    -Boa noite.
  • 40:50 - 40:54
    Alguns familiares saem na prisão de
    El Puerto de Santa Maria.
  • 40:56 - 40:59
    Ainda faltam 110 quilometros para
    chegar a Algeciras. Os últimos.
  • 41:02 - 41:04
    -Já falta pouco, eh!
    -Espero, porque...
  • 41:04 - 41:08
    ... começamos ontem as 5 e
    ainda estamos aqui.
  • 41:08 - 41:13
    -Sim, sim...
    -Ainda falta uma hora ou dois...
  • 41:13 - 41:16
    -Sim. Levamos 14 horas, não é?
  • 41:17 - 41:20
    -Ter que fazer 1.600 km,
    com duas crianças, de carro...
  • 41:20 - 41:23
    e com tantas probabilidades de
    ter acidentes, e dizes uf!
  • 41:23 - 41:26
    melhor de avião, embora pagues muito...
  • 41:29 - 41:32
    Os acidentes são, claro,
    o maior perigo da dispersão.
  • 41:32 - 41:35
    Provocou docenas de mortos e
    feridos nos últimos anos.
  • 41:35 - 41:38
    Os familiares também
    ponderam a opção do avião,
  • 41:38 - 41:40
    mas é muito mais caro.
  • 41:43 - 41:47
    -Também agora os aviões
    mudaram os horários e...
  • 41:47 - 41:50
    muitas vezes não coincide
    com as visitas, não é?
  • 41:50 - 41:56
    -E muitas vezes sai tarde,
    e chegávamos tarde à visita.
  • 41:56 - 42:00
    -Isso é. E que acontece se
    chegas tarde a visita?
  • 42:00 - 42:02
    -Não podes entrar.
  • 42:02 - 42:08
    -Sim, mas outras vezes chegamos à
    horas, e entramos tarde, não é?
  • 42:08 - 42:10
    -Sim!
    -Porque abrem tarde as portas.
  • 42:11 - 42:14
    -Sim... assim é a prisão, não é?
    -É.
  • 42:14 - 42:17
    -Muitas vezes dissemos isso:
    "assim é a prisão!".
  • 42:29 - 42:32
    -Sabes que uma vez contei as portas
    que temos que atravessar desde que
  • 42:32 - 42:35
    entramos na cadeia até que vemos o papá?
  • 42:45 - 42:48
    -Atravessamos uma e ficamos parados,
    não é? Temos que esperar.
  • 42:48 - 42:49
    -Sim!
  • 42:49 - 42:52
    -Abrem-nos outra porta, passamos,
    e outra vez a esperar...
  • 42:52 - 42:53
    E assim nove vezes!
  • 42:53 - 42:56
    -Passar nove portas,
    e esperar muito.
  • 43:13 - 43:15
    -O qué é que acontece
    quando entras na cadeia?
  • 43:15 - 43:21
    -Temos que estar hora e meia antes,
    e aí damos o BI e as marcas digitais.
  • 43:21 - 43:27
    Depois, quando entramos,
    revistam-nos com uma raquete...
  • 43:30 - 43:34
    quando entramos, esperamos numa
    sala, e mais tarde entramos
  • 43:56 - 43:59
    -Aí estão os trabalhadores da prisão, não é?
    Os trabalhadores da prisão.
  • 43:59 - 44:01
    Cómo é a relação com eles?
  • 44:01 - 44:07
    -Bom... há muitos e
    cada um é uma pessoa,
  • 44:07 - 44:12
    normalmente é de respeito, mas
    com alguns temos problemas...
  • 44:14 - 44:16
    Mas normalmente respeituosa.
  • 44:18 - 44:22
    -No verão, estava a olhar aos
    teus trabalhos da escola e
  • 44:22 - 44:26
    encontrei desenhos e testos muito bonitos.
    E muitas vezes contavas isso,
  • 44:26 - 44:28
    "no fim de semana foi ver o meu pai",
    "divertei-me muito..."
  • 44:28 - 44:33
    E havia um desenho que achei
    muito especial. Lembras?
  • 44:33 - 44:36
    -Sim, um oficial zangado,
  • 44:37 - 44:39
    -Cómo é a relação com eles?
  • 44:41 - 44:44
    -Não sei... Não ligo, então...
  • 44:45 - 44:52
    -Dizem "adentro" ou... "espera" ou...
    ou "o que é que tens aí?"
  • 44:55 - 44:57
    -E como desenhaste o oficial zangado?
  • 44:57 - 44:59
    Assim, com dentes grandes e fechados?
    -Sim.
  • 44:59 - 45:03
    -E por que é que estava zangado?
    -Porque sempre estão zangados.
  • 45:03 - 45:05
    -Os oficiais sempre estão zangados?
    Achas?
  • 45:05 - 45:08
    -Sim.
    -Sim? E por que achas isso?
  • 45:08 - 45:11
    -Não sei.
    -Como estão, muito sérios?
  • 45:11 - 45:11
    -Sim.
    -Sim?
  • 45:13 - 45:15
    -Sentes-te bem
    tratada na prisão?
  • 45:15 - 45:20
    -Segundo com quem... às vezes sim,
    outras, duro demais.
  • 46:00 - 46:05
    -Preparas bem cada visita, cada
    hora que passas com o pai?
  • 46:05 - 46:08
    -Sim, mas cada visita é diferente,
    tem coisas diferentes...
  • 46:10 - 46:14
    -É curioso que cada visita, embora
    sejam todas especiais e estejam
  • 46:14 - 46:20
    tão concentradas... é dificil lembrar-te
    duma entre todas outras
  • 46:20 - 46:24
    todas são especiais, mas é difícil
    lembrar-se de uma em especial.
  • 46:36 - 46:38
    -Como é uma cadeia por dentro?
  • 46:38 - 46:44
    -Barrotes, muros, o barulho das portas,
  • 46:44 - 46:49
    e como o pai sempre esteve em isolamento,
    nós temos que ir a zona do isolamento.
  • 46:49 - 46:54
    E é muito pequena, escura,
    não entra luz natural.
  • 46:55 - 46:58
    -Suja e velha.
  • 46:58 - 46:59
    -Fria e escura.
  • 46:59 - 47:01
    -Alguma vez viste o quarto do pai?
    -Não.
  • 47:01 - 47:04
    -Ele contou-te como e que é?
    -Não.
  • 47:04 - 47:07
    -Perguntaste alguma vez?
    -Também não.
  • 47:07 - 47:08
    -Porqué?
  • 47:14 - 47:17
    -Porque... passamos o tempo que
    estamos juntos em outras coisas.
  • 48:13 - 48:17
    -Como é o encontro?
    -Bom, eu desde bem pequena...
  • 48:17 - 48:23
    sempre, quando abrem
    a porta, vou a correr e,
  • 48:23 - 48:25
    apanha-me em braços, sempre.
  • 48:26 - 48:29
    -Aiur e eu saltamos para acima dele
  • 48:29 - 48:32
    e brincamos muito.
  • 48:53 - 48:56
    -A pergunta sempre é como
    e que está o pai. E essa é uma
  • 48:56 - 49:05
    pergunta que respondi tantas vezes...
    e é talvez a pergunta mais difícil.
  • 49:33 - 49:38
    -Para ti, o que é que o mais importante para que digas:
    "aproveitamos bem"?
  • 49:38 - 49:41
    O que lhe tens que transmitir para pensar
  • 49:41 - 49:43
    "foi uma hora e meia
    bem aproveitada"?
  • 49:46 - 49:48
    -Transmitir amor um ao outro,
  • 49:48 - 49:51
    ter bons momentos... Bom, e ter maus momentos também se for preciso.
  • 49:52 - 49:55
    -Sentiste alguma vez a necessidade...
  • 49:57 - 50:05
    de pôr alguma distancia entre ti e o teu pai e as viagens?
  • 50:06 - 50:09
    -Não, nunca.
  • 50:10 - 50:14
    todos queremos ter a melhor
    relação possível
  • 50:14 - 50:17
    com os que estão dentro.
  • 50:28 - 50:32
    -Logo, no fim, vem um oficial e
    te diz: "Acabou".
  • 50:32 - 50:36
    -Sim, ou, "vayan acabando" ou "vayan
    saliendo", e em esse momento
  • 50:36 - 50:38
    uma raiva ou...
  • 50:38 - 50:41
    -Um oficial desde um microphone.
  • 50:41 - 50:44
    -Com ele, como quando era pequena, não é?
    Quero ficar com ele.
  • 50:45 - 50:49
    -Um abraço ao pai,
    e começar a pegar em tudo.
  • 50:50 - 50:56
    -E... esse adeus nunca é fácil.
    Embora queiramos sair da prisão,
  • 50:56 - 51:00
    não queremos que acabe a visita.
  • 51:00 - 51:04
    -Porque tenho que esperar outro mês
    para ver ao pai.
  • 51:16 - 51:21
    -E com os anos, quando vês que o
    aproximação não chega,
  • 51:21 - 51:22
    não te rendes?
  • 51:23 - 51:27
    -Não. Sempre tem
    que haver esperança.
  • 51:29 - 51:33
    Não crês em falsas expectativas,
    mas sempre tens a ilusão:
  • 51:33 - 51:38
    será que o trazem mais
    perto, ou... algo, não é?
  • 51:38 - 51:43
    Será que muda tudo de repente,
    há uma grande mudança... não sei.
  • 51:43 - 51:48
    Sempre tens... esperança.
    A esperança, acho eu, nunca se deve perder.
  • 51:48 - 51:52
    Se perdes a esperança...
    não tens nada..
  • 52:13 - 52:16
    -Tens alguma visita com o pai,
  • 52:16 - 52:18
    que nunca esqueceras?
  • 52:22 - 52:25
    -No ano passado fomos
    no seu aniversario,
  • 52:25 - 52:28
    Foi entre semana,
    perdi a escola,
  • 52:28 - 52:30
    eu queria ir nesse dia.
  • 52:30 - 52:33
    Ele escreve-me bersos no meu
    aniversário, então eu também
  • 52:33 - 52:37
    escrevi um para ele e foi muito bonito.
    -Lembras o berso?
  • 52:37 - 52:40
    -Sim.
    -Podes cantá-lo?
  • 52:44 - 52:52
    -Há anos passados,
    muito tempo,
  • 52:52 - 52:58
    todo o amor que há entre nós,
    guia do dia a dia.
  • 52:58 - 53:05
    A distança ofrece,
    força a nossa relação,
  • 53:05 - 53:11
    não nos verão tristes,
    nós sempre alegres, a cantar,
  • 53:11 - 53:18
    mesmo sejam cuarenta anos,
    ou sejam cento e dois,
  • 53:18 - 53:26
    mesmo sejam cuarenta anos,
    ou sejam cento e dois.
  • 53:56 - 54:02
    -Sim, quero tirar a carta, porque
    não quero ir sempre de autocarro
  • 54:02 - 54:06
    e quero ir pela minha conta,
    e espero que seja bonito.
  • 54:06 - 54:09
    E dizer aos meus pais quando chegue:
  • 54:09 - 54:15
    "fiz a viagem sozinho por primeira vez"
    Tenho essa ilusão.
  • 54:15 - 54:18
    -Para tirar a carta do carro, então.
    -Sim.
Title:
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Video Language:
Basque
Duration:
54:31
  • 2.50 arte sinkronizatuta

  • ok, eskerrik asko,
    bukatuta!

  • Mila esker. Beste itZulpenetan lagundu nahi izanez gero @EHTikmundura jarraitu twiterren.

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