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O poder transformador da música clássica

  • 0:00 - 0:03
    Provavelmente muitos de vocês conhecem
    a história dos dois vendedores
  • 0:03 - 0:06
    que foram à África em 1900.
  • 0:06 - 0:10
    Foram enviados para ver se havia alguma
    oportunidade para vender sapatos,
  • 0:10 - 0:13
    e escreveram telegramas
    de volta para Manchester.
  • 0:13 - 0:16
    Um deles escreveu: "Situação
    desesperançosa. Parem.
  • 0:16 - 0:18
    Eles não usam sapatos".
  • 0:18 - 0:21
    E o outro escreveu:
    "Gloriosa oportunidade.
  • 0:21 - 0:23
    Eles não usam sapatos ainda".
  • 0:23 - 0:24
    (Risos)
  • 0:24 - 0:27
    Bem, existe uma situação similar
    no mundo da música clássica,
  • 0:27 - 0:32
    porque existem algumas pessoas que acham
    que a música clássica está morrendo,
  • 0:32 - 0:36
    e alguns de nós acham
    que vocês não viram nada ainda.
  • 0:36 - 0:40
    Em vez de falar
    sobre estatísticas e tendências
  • 0:40 - 0:43
    e contar a vocês sobre todas
    as orquestras que estão fechando
  • 0:43 - 0:45
    e as gravadoras que estão acabando,
  • 0:45 - 0:49
    acho que deveríamos fazer uma
    experiência esta noite; uma experiência.
  • 0:49 - 0:53
    Na verdade, não é uma experiência
    porque eu sei o resultado.
  • 0:54 - 0:55
    Mas é como uma experiência.
  • 0:55 - 0:57
    Bem, antes que nós...
  • 0:57 - 1:00
    (Risos)
  • 1:00 - 1:02
    Antes de começarmos,
    preciso fazer duas coisas.
  • 1:03 - 1:07
    A primeira é que quero lembrá-los
    de como é uma criança de sete anos
  • 1:07 - 1:08
    tocando piano.
  • 1:09 - 1:11
    Talvez você tenha
    uma criança assim em casa.
  • 1:11 - 1:12
    Ela toca mais ou menos assim.
  • 1:12 - 1:15
    (Piano)
  • 1:32 - 1:35
    Vejo que alguns de vocês
    reconhecem essa criança.
  • 1:35 - 1:38
    Bem, se ela praticar
    por um ano e fizer aulas,
  • 1:38 - 1:40
    agora com oito anos, ela toca assim.
  • 1:40 - 1:42
    (Piano)
  • 1:47 - 1:50
    Aí, ela pratica por mais um ano,
    faz aulas, e agora tem nove anos.
  • 1:50 - 1:53
    (Piano)
  • 1:56 - 2:00
    Aí, ela pratica por mais um ano,
    faz aulas, e agora tem dez anos.
  • 2:00 - 2:02
    (Piano)
  • 2:06 - 2:08
    A essa altura elas geralmente desistem.
  • 2:08 - 2:09
    (Risos)
  • 2:09 - 2:11
    (Aplausos)
  • 2:11 - 2:15
    Bem, se você tivesse esperado
    por mais um ano, ouviria isto:
  • 2:15 - 2:18
    (Piano)
  • 2:24 - 2:27
    O que aconteceu não foi, talvez,
    o que você pensava:
  • 2:27 - 2:31
    ele de repente se tornar
    apaixonado, engajado, envolvido,
  • 2:31 - 2:34
    arranjar um novo professor,
    alcançar a puberdade, ou o que for.
  • 2:34 - 2:38
    O que na verdade aconteceu
    foi que os impulsos foram diminuindo.
  • 2:38 - 2:42
    Veja, na primeira vez, ele estava
    tocando com um impulso em cada nota.
  • 2:42 - 2:44
    (Piano)
  • 2:44 - 2:47
    Na segunda, com um impulso
    a cada duas notas.
  • 2:47 - 2:48
    (Piano)
  • 2:49 - 2:51
    Dá pra ver olhando pra minha cabeça.
  • 2:51 - 2:53
    (Risos)
  • 2:53 - 2:56
    A criança de nove anos
    dá um impulso a cada quatro notas.
  • 2:56 - 2:58
    (Piano)
  • 2:58 - 3:00
    A de dez anos, a cada oito notas.
  • 3:00 - 3:02
    (Piano)
  • 3:02 - 3:06
    E a de 11 anos,
    um impulso para a frase inteira.
  • 3:06 - 3:07
    (Piano)
  • 3:08 - 3:11
    Não sei como chegamos nessa posição.
  • 3:11 - 3:12
    (Risos)
  • 3:13 - 3:15
    Não disse: "Vou levantar
    meus ombros, mexer meu corpo".
  • 3:15 - 3:17
    Não, foi a música que me fez inclinar,
  • 3:17 - 3:20
    e por isso chamo isso
    de "tocando de uma nádega".
  • 3:20 - 3:21
    (Piano)
  • 3:21 - 3:23
    Pode ser a outra nádega.
  • 3:23 - 3:25
    (Piano)
  • 3:26 - 3:30
    Uma vez, um senhor estava assistindo
    a uma apresentação que eu estava fazendo
  • 3:30 - 3:32
    quando estava trabalhando
    com um jovem pianista
  • 3:32 - 3:34
    que era presidente
    de uma corporação em Ohio.
  • 3:34 - 3:36
    Trabalhando com esse
    jovem pianista, eu disse:
  • 3:36 - 3:39
    "O problema é que você
    toca de duas nádegas.
  • 3:39 - 3:40
    Devia tocar de uma nádega só".
  • 3:40 - 3:43
    Fui empurrando ele assim,
    enquanto ele tocava,
  • 3:43 - 3:45
    e de repente a música saiu, decolou!
  • 3:45 - 3:47
    O público ficou surpreso
    ao ouvir a diferença.
  • 3:47 - 3:51
    Aí, recebi uma carta desse senhor,
    que dizia: "Fiquei tão comovido
  • 3:51 - 3:53
    que voltei e transformei
    toda a minha empresa
  • 3:53 - 3:55
    em uma companhia de uma nádega".
  • 3:55 - 3:57
    (Risos)
  • 3:58 - 4:01
    A outra coisa que eu queria
    fazer é falar com vocês sobre vocês.
  • 4:01 - 4:03
    Aqui há 1,6 mil pessoas, eu acho.
  • 4:03 - 4:05
    Calculo que, provavelmente,
  • 4:05 - 4:09
    45 de vocês sejam absolutamente
    apaixonados por música clássica,
  • 4:09 - 4:14
    adoram música clássica, deixam o rádio
    sempre naquela estação de clássicos,
  • 4:14 - 4:17
    têm CDs no carro,
    vão assistir a orquestras,
  • 4:17 - 4:19
    seus filhos tocam instrumentos,
  • 4:19 - 4:22
    não conseguem imaginar
    a vida sem música clássica.
  • 4:22 - 4:24
    Esse é o primeiro grupo, bem pequeno.
  • 4:24 - 4:25
    Aí, tem um outro grupo, maior,
  • 4:25 - 4:28
    das pessoas que não se
    incomodam com música clássica.
  • 4:28 - 4:29
    (Risos)
  • 4:29 - 4:31
    Você chega em casa depois de um dia longo,
  • 4:31 - 4:33
    toma uma taça de vinho
    e põe os pés pra cima.
  • 4:33 - 4:36
    Um pouco de Vivaldi no fundo
    não faria mal algum. (Risos)
  • 4:36 - 4:37
    Esse é o segundo grupo.
  • 4:37 - 4:39
    Aí, vem o terceiro,
  • 4:39 - 4:41
    o das pessoas que nunca
    escutam música clássica.
  • 4:41 - 4:43
    Simplesmente não faz parte da sua vida.
  • 4:43 - 4:46
    Talvez você ouça ao fundo
    num aeroporto, mas...
  • 4:46 - 4:47
    (Risos)
  • 4:47 - 4:50
    Talvez um pouco de uma marcha
    da Aida, ao chegar ao hall.
  • 4:50 - 4:52
    Do contrário, você nunca escuta.
  • 4:52 - 4:54
    Esse é provavelmente
    o maior grupo de todos.
  • 4:54 - 4:55
    E existe um grupo muito pequeno,
  • 4:55 - 4:59
    de pessoas que acreditam
    que não não têm ouvido musical.
  • 4:59 - 5:01
    Muita gente acredita
    não ter ouvido musical.
  • 5:01 - 5:05
    Na verdade, ouço muito: "Meu marido
    não tem ouvido musical". (Risos)
  • 5:05 - 5:08
    Não existe isso de não ter
    ouvido musical. Ninguém é assim.
  • 5:08 - 5:10
    Caso contrário, você não
    conseguiria trocar as marchas
  • 5:10 - 5:12
    de seus carros não automáticos.
  • 5:12 - 5:17
    Você não saberia distinguir
    alguém do Texas de alguém de Roma.
  • 5:17 - 5:19
    E o telefone:
  • 5:19 - 5:24
    se sua mãe te liga naquele
    telefone ruim e diz: "Olá",
  • 5:24 - 5:27
    você não só sabe que é ela, como também
    reconhece seu estado de humor.
  • 5:27 - 5:30
    Você tem um ouvido fantástico.
    Todo mundo tem um ouvido fantástico.
  • 5:31 - 5:32
    Ninguém é desprovido de ouvido musical.
  • 5:32 - 5:37
    Mas digo o seguinte: não funciona
    para mim prosseguir com isso,
  • 5:37 - 5:40
    com um abismo tão grande
    entre aqueles que entendem,
  • 5:40 - 5:43
    adoram e são apaixonados
    por música clássica
  • 5:43 - 5:46
    e aqueles que não possuem
    relação alguma com ela.
  • 5:46 - 5:48
    As pessoas sem ouvido musical
    não estão mais aqui.
  • 5:48 - 5:51
    Mas, mesmo entre aquelas três categorias,
    o abismo é muito grande.
  • 5:51 - 5:56
    Então, não vou continuar
    até que cada pessoa neste salão,
  • 5:56 - 6:00
    nos degraus de baixo, em Aspen
    e todas as demais que estão assistindo
  • 6:00 - 6:05
    vierem a adorar e entender
    a música clássica.
  • 6:05 - 6:07
    É isso que nós vamos fazer.
  • 6:07 - 6:12
    Bem, vocês percebem que não há
    a mínima dúvida na minha mente
  • 6:12 - 6:15
    de que isso vai funcionar,
    olhando pro meu rosto, certo?
  • 6:15 - 6:20
    Uma das características de um líder
    é ele jamais duvidar
  • 6:20 - 6:23
    da capacidade que as pessoas
    que ele está liderando têm
  • 6:23 - 6:26
    de compreenderem o que ele está sonhando.
  • 6:26 - 6:29
    Imaginem se Martin Luther King
    tivesse dito: "Eu tenho um sonho!
  • 6:29 - 6:31
    Mas não sei se eles estão
    preparados pra ele."
  • 6:31 - 6:33
    (Risos)
  • 6:34 - 6:36
    Tudo bem. Então eu vou
    pegar uma peça de Chopin.
  • 6:36 - 6:41
    É um lindo prelúdio de Chopin.
    Alguns de vocês vão reconhecê-lo.
  • 6:42 - 6:44
    (Piano)
  • 7:10 - 7:13
    Sabem o que acho que provavelmente
    aconteceu nesta sala?
  • 7:13 - 7:16
    Quando comecei,
    vocês pensaram: "Que lindo!"
  • 7:16 - 7:18
    (Piano)
  • 7:29 - 7:33
    "Acho que não devemos ir pro mesmo lugar
    nas férias de verão do ano que vem."
  • 7:33 - 7:35
    (Risos)
  • 7:35 - 7:37
    É engraçado, não?
  • 7:37 - 7:41
    É engraçado como esses pensamentos
    surgem na nossa mente quando...
  • 7:42 - 7:43
    e, é claro...
  • 7:43 - 7:45
    (Aplausos)
  • 7:45 - 7:47
    Claro, se a peça é longa
    e você teve um dia cheio,
  • 7:47 - 7:50
    você pode até querer dormir.
  • 7:50 - 7:52
    Então seu companheiro
    vai te cutucar e dizer:
  • 7:52 - 7:55
    "Acorde! É cultura!"
    E aí você se sente ainda pior.
  • 7:55 - 7:56
    (Risos)
  • 7:56 - 7:59
    Mas já te ocorreu que você se sente
    sonolento ao ouvir música clássica
  • 7:59 - 8:02
    não por sua causa, mas por causa de nós?
  • 8:02 - 8:06
    Alguém pensou enquanto eu tocava:
    "Por que ele está dando tantos impulsos?"
  • 8:06 - 8:09
    Se eu tivesse feito aquilo com a cabeça,
    vocês certamente teriam pensado isso.
  • 8:09 - 8:12
    (Piano)
  • 8:15 - 8:19
    E pelo resto da vida, toda vez
    em que ouvirem música clássica,
  • 8:19 - 8:23
    vocês vão conseguir sempre reconhecer
    se escutarem esses impulsos.
  • 8:23 - 8:25
    Vamos ver o que realmente
    está acontecendo aqui.
  • 8:25 - 8:28
    Nós temos um Si. Isso é um Si.
  • 8:28 - 8:32
    A próxima nota é um Dó,
    e a função do Dó é deixar o Si triste.
  • 8:32 - 8:33
    E ele deixa, não deixa?
  • 8:33 - 8:35
    (Risos)
  • 8:35 - 8:36
    Os compositores sabem disso.
  • 8:36 - 8:39
    Se querem música triste,
    simplesmente tocam essas duas notas.
  • 8:39 - 8:41
    (Piano)
  • 8:43 - 8:45
    Basicamente, é só um Si
    com quatro tristezas.
  • 8:45 - 8:47
    (Risos)
  • 8:48 - 8:53
    Agora, ele desce para Lá,
    depois para Sol, e então para Fá.
  • 8:53 - 8:56
    Então, temos Si, Lá, Sol, Fá.
  • 8:56 - 9:00
    E se temos Si, Lá, Sol, Fá,
    qual é a nota que esperamos em seguida?
  • 9:03 - 9:05
    Oh! Deve ter sido sorte.
    Vamos tentar novamente.
  • 9:05 - 9:07
    (Piano)
  • 9:09 - 9:11
    Oh... o coral do TED.
  • 9:11 - 9:13
    (Risos)
  • 9:14 - 9:18
    Percebem que ninguém é desprovido
    de ouvido musical? Ninguém é.
  • 9:18 - 9:20
    Em cada cidade de Bangladesh,
  • 9:20 - 9:25
    cada vilarejo da China, todo mundo sabe:
  • 9:25 - 9:27
    "Da, da, da, da... daa".
  • 9:27 - 9:29
    Todos sabem que se está
    esperando esse Mi.
  • 9:29 - 9:32
    Chopin não queria chegar no Mi lá,
  • 9:32 - 9:35
    porque o que iria acontecer?
    Iria acabar, como Hamlet.
  • 9:35 - 9:39
    Se lembram de Hamlet? Ato 1, cena 3?
    Ele descobriu que o tio matou seu pai.
  • 9:39 - 9:41
    Ele fica indo atrás do tio e quase o mata.
  • 9:41 - 9:44
    Aí, ele volta, vai pra cima dele
    novamente e quase o mata.
  • 9:44 - 9:47
    Os críticos, sentados na fila de trás,
    precisam dar uma opinião,
  • 9:47 - 9:50
    e dizem: "Hamlet é um procrastinador".
  • 9:50 - 9:51
    (Risos)
  • 9:51 - 9:53
    Ou dizem, "Hamlet tem complexo de Édipo".
  • 9:53 - 9:57
    Não, de outra forma a peça
    estaria terminada, estúpido.
  • 9:57 - 9:59
    Por isso, Shakespeare põe
    tudo aquilo em Hamlet, sabe:
  • 9:59 - 10:01
    Ophelia enlouquecendo,
    a peça dentro da peça,
  • 10:01 - 10:03
    a caveira de Yorick e os coveiros.
  • 10:03 - 10:07
    Isso é feito para atrasar, até que,
    no o Ato 5, ele consegue matar o tio.
  • 10:07 - 10:11
    É o mesmo com Chopin:
    ele está para alcançar o Mi,
  • 10:11 - 10:14
    mas diz, "Opa, melhor voltar
    e fazer de novo."
  • 10:14 - 10:16
    Aí, ele faz de novo.
  • 10:16 - 10:19
    Aí, ele fica empolgado.
  • 10:19 - 10:22
    Isso é empolgação.
    Não precisam se preocupar com ela.
  • 10:22 - 10:26
    Aí, ele chega a Fá sustenido
    e, finalmente, ele desce para Mi,
  • 10:26 - 10:29
    mas é o acorde errado porque o acorde
    que ele está procurando é este...
  • 10:29 - 10:31
    (Piano)
  • 10:31 - 10:32
    Em vez disso, ele faz...
  • 10:32 - 10:36
    Nós chamamos isso de cadência
    de engano porque ela nos engana.
  • 10:36 - 10:37
    Sempre digo a meus alunos:
  • 10:37 - 10:41
    "Numa cadência de engano levantem
    as sobrancelhas para que todos percebam".
  • 10:41 - 10:43
    (Risos)
  • 10:43 - 10:45
    (Aplausos)
  • 10:47 - 10:50
    Certo. Aí, ele chega em Mi,
    mas é o acorde errado.
  • 10:50 - 10:53
    Ele tenta Mi de novo.
    O acorde não funciona.
  • 10:53 - 10:55
    E ele tenta Mi novamente.
    O acorde não funciona.
  • 10:55 - 10:58
    E ele tenta mais uma vez o Mi,
    e o acorde não funciona.
  • 10:58 - 11:00
    Então, finalmente....
  • 11:02 - 11:05
    Tem um senhor na primeira
    fila que fez assim: "Humm".
  • 11:06 - 11:09
    É o mesmo gesto que ele
    faz quando chega em casa
  • 11:09 - 11:13
    depois de um longo dia, desliga o carro
    e diz: "Aah, estou em casa",
  • 11:14 - 11:15
    porque todos sabemos como é nossa casa.
  • 11:15 - 11:19
    Então essa é uma peça
    que vem de longe para casa.
  • 11:19 - 11:22
    Vou tocá-la do começo ao fim
    e vocês vão acompanhar:
  • 11:22 - 11:25
    Si, Dó, Si, Dó, Si, Dó, Si;
    desce pra Lá, pra Sol, pra Fá,
  • 11:25 - 11:28
    mas não chega em Mi
    porque a peça terminaria.
  • 11:28 - 11:31
    Ele sobe novamente pra Si, fica empolgado,
    vai pra Fá sustenido, vai pra Mi.
  • 11:31 - 11:36
    Acorde errado, acorde errado...
    e finalmente chega em Mi, e está em casa.
  • 11:36 - 11:39
    E o que vocês vão ver
    é uma execução de uma nádega.
  • 11:39 - 11:41
    (Risos)
  • 11:41 - 11:44
    Porque, pra eu juntar o Si com o Mi,
  • 11:44 - 11:50
    tenho que parar de pensar
    em cada nota ao longo do caminho,
  • 11:50 - 11:55
    e começar a pensar
    na longa linha entre Si e Mi.
  • 11:55 - 11:58
    Sabe, estivemos na África do Sul,
  • 11:58 - 12:03
    e não dá pra ir à África do Sul sem pensar
    em Mandela na cadeia por 27 anos.
  • 12:03 - 12:06
    No que ele ficava pensando? No almoço?
  • 12:06 - 12:10
    Não, ele ficava pensando em sua visão
    pra a África do Sul e pros seres humanos.
  • 12:10 - 12:13
    Trata-se de visão,
    trata-se da longa linha,
  • 12:13 - 12:19
    como o pássaro que voa sobre o campo
    e não se importa com as cercas abaixo.
  • 12:19 - 12:23
    Agora vocês vão seguir a linha,
    do começo ao fim, de Si para Mi.
  • 12:23 - 12:26
    Mas tenho um último pedido
    antes de tocar essa peça inteira:
  • 12:26 - 12:32
    vocês poderiam pensar em alguém
    que adoram e que não está mais aqui?
  • 12:32 - 12:35
    Uma avó querida, um amor,
  • 12:35 - 12:39
    alguém em sua vida que vocês
    amam de todo o coração,
  • 12:39 - 12:42
    mas que não está mais com vocês.
  • 12:42 - 12:46
    Tragam essa pessoa à sua mente
    e, ao mesmo tempo,
  • 12:46 - 12:50
    sigam a linha completa de Si para Mi,
  • 12:50 - 12:54
    e vocês terão ouvido tudo
    o que Chopin tinha a dizer.
  • 12:58 - 13:01
    (Piano)
  • 14:48 - 14:51
    (Aplausos)
  • 14:56 - 14:59
    Agora, vocês podem estar imaginando...
  • 15:01 - 15:07
    Vocês podem estar imaginando
    por que estou batendo palmas.
  • 15:07 - 15:09
    Bem, fiz isso em uma escola em Boston
  • 15:09 - 15:12
    com aproximadamente 70 alunos
    da sétima série, 12 anos de idade.
  • 15:12 - 15:16
    Fiz exatamente o que fiz aqui,
    contei, expliquei a eles e tudo mais.
  • 15:16 - 15:20
    No final, ficaram loucos aplaudindo.
    Eles aplaudiam, eu aplaudia.
  • 15:20 - 15:22
    Aí, eu disse: "Por que estou aplaudindo?"
  • 15:22 - 15:24
    E um deles disse:
    "Porque estávamos escutando."
  • 15:24 - 15:26
    (Risos)
  • 15:28 - 15:31
    Imaginem só: 1,6 mil pessoas,
    pessoas ocupadas,
  • 15:31 - 15:34
    dos mais diversos ramos de atividade,
  • 15:34 - 15:39
    ouvindo, entendendo a sendo
    tocadas por uma peça de Chopin.
  • 15:39 - 15:40
    Incrível.
  • 15:41 - 15:45
    Posso garantir que todos acompanharam,
    entenderam e foram tocados pela peça?
  • 15:45 - 15:47
    Claro que não, mas vou contar
    o que aconteceu comigo.
  • 15:47 - 15:50
    Eu estava na Irlanda durante aqueles
    problemas de dez anos atrás,
  • 15:50 - 15:54
    e estava trabalhando com algumas
    jovens católicos e protestantes
  • 15:54 - 15:56
    em resolução do conflito.
  • 15:56 - 15:57
    E fiz isso com eles.
  • 15:58 - 16:01
    Algo arriscado de se fazer
    porque eram jovens de rua.
  • 16:01 - 16:04
    Um deles veio até mim
    na manhã seguinte e disse:
  • 16:04 - 16:07
    "Sabe, nunca escutei
    música clássica na minha vida,
  • 16:07 - 16:10
    mas, quando você tocou
    aquela peça de 'shopping'..."
  • 16:10 - 16:12
    (Risos)
  • 16:12 - 16:16
    Ele disse: "Meu irmão foi morto a tiro
    ano passado, e não chorei por ele,
  • 16:16 - 16:20
    mas, noite passada, quando você tocou,
    era nele que eu estava pensando.
  • 16:20 - 16:23
    Senti as lágrimas correndo em meu rosto
  • 16:23 - 16:26
    e, sabe, foi realmente bom
    ter chorado pelo meu irmão".
  • 16:26 - 16:28
    Então, me ocorreu naquele momento
  • 16:28 - 16:34
    que a música clássica
    é para todo mundo, todo mundo.
  • 16:35 - 16:37
    Como vocês andariam...
  • 16:37 - 16:42
    Sabe, na minha profissão, o profissional
    de música não vê dessa maneira.
  • 16:42 - 16:45
    Dizem que 3% da população
    gosta de música clássica.
  • 16:45 - 16:49
    Se pudéssemos apenas transformar em 4%,
    nossos problemas estariam resolvidos.
  • 16:49 - 16:53
    Como vocês andariam, falariam
    ou estariam, se pensassem:
  • 16:53 - 16:56
    "Só 3% da população
    gosta de música clássica.
  • 16:56 - 16:58
    Quem dera fossem 4%".
  • 16:58 - 17:01
    Como vocês andariam, conversariam
    ou estariam, se pensassem:
  • 17:01 - 17:04
    "Todos adoram música clássica!
    Só ainda não se deram conta disso".
  • 17:04 - 17:05
    (Risos)
  • 17:05 - 17:08
    Percebem? São mundos
    totalmente diferentes.
  • 17:08 - 17:12
    Eu tive uma experiência
    fantástica. Eu tinha 45 anos.
  • 17:12 - 17:16
    Tinha sido maestro por 20 anos,
    e de repente percebi:
  • 17:17 - 17:20
    o maestro de uma orquestra
    não produz som algum.
  • 17:20 - 17:23
    Minha foto aparece na capa do CD...
  • 17:23 - 17:25
    (Risos)
  • 17:26 - 17:28
    mas o maestro não produz som algum.
  • 17:28 - 17:33
    Seu poder está em sua habilidade
    de tornar as outras pessoas poderosas.
  • 17:33 - 17:37
    E isso mudou tudo para mim.
    Foi uma transformação total.
  • 17:37 - 17:40
    Membros da minha orquestra diziam:
    "Ben, o que aconteceu?"
  • 17:40 - 17:41
    Foi isso que aconteceu.
  • 17:41 - 17:46
    Percebi que minha função era despertar
    possibilidades nas outras pessoas.
  • 17:46 - 17:48
    Claro, eu queria saber
    se eu estava fazendo isso.
  • 17:49 - 17:52
    Sabem como descobrir?
    Olhando para os olhos delas.
  • 17:52 - 17:53
    Se os seus olhos estiverem brilhando,
  • 17:53 - 17:56
    vocês saberão que estão
    fazendo seu trabalho.
  • 17:56 - 17:59
    Dá pra acender uma cidade
    com os olhos desse moço. (Risos)
  • 17:59 - 18:03
    Então, se os olhos estão brilhando,
    vocês sabem que estão conseguindo.
  • 18:03 - 18:07
    Se os olhos não estão brilhando,
    vocês precisam se fazer uma pergunta:
  • 18:07 - 18:09
    "Onde estou errando,
  • 18:09 - 18:12
    já que os olhos de meus instrumentistas
    não estão brilhando?"
  • 18:12 - 18:14
    Podemos fazer com nossos filhos também.
  • 18:14 - 18:19
    "Onde estou errando, já que os olhos
    dos meus filhos não estão brilhando?"
  • 18:19 - 18:21
    É um mundo totalmente diferente.
  • 18:21 - 18:27
    Bem, esta semana mágica
    na montanha já está para acabar,
  • 18:27 - 18:29
    e voltaremos para o mundo real.
  • 18:29 - 18:33
    E eu digo que é apropriado
    fazermos a seguinte pergunta:
  • 18:33 - 18:37
    "Como seremos quando
    voltarmos para o mundo?"
  • 18:37 - 18:40
    Eu tenho uma definição para "sucesso".
  • 18:40 - 18:43
    Pra mim, é bem simples.
    Não se trata de dinheiro fama e poder.
  • 18:43 - 18:46
    Trata-se de quantos olhos brilhando
    eu tenho ao meu redor.
  • 18:46 - 18:49
    Agora, tenho um último
    pensamento, que é:
  • 18:49 - 18:55
    o que dizemos realmente faz diferença,
    as palavras que saem da nossa boca.
  • 18:55 - 18:58
    Aprendi isso com uma mulher
    que sobreviveu a Auschwitz,
  • 18:58 - 19:00
    uma dos raros sobreviventes.
  • 19:00 - 19:03
    Ela foi para Auschwitz
    quando tinha 15 anos de idade,
  • 19:07 - 19:11
    seu irmão tinha oito,
    e seus pais estavam perdidos.
  • 19:12 - 19:16
    E ela me contou o seguinte:
  • 19:16 - 19:19
    "Estávamos no trem indo pra Auschwitz.
  • 19:19 - 19:22
    Olhei pra baixo e vi que os sapatos
    do meu irmão tinham sumido.
  • 19:22 - 19:24
    Eu disse: 'Como você é tonto!
  • 19:24 - 19:27
    Não sabe tomar conta
    das suas coisas? Por deus!',
  • 19:27 - 19:30
    da forma como talvez uma irmã
    mais velha fale com o irmão mais novo".
  • 19:31 - 19:33
    Infelizmente, foi a última coisa
    que ela disse pra ele
  • 19:33 - 19:37
    porque nunca mais o viu.
    Ele não sobreviveu.
  • 19:37 - 19:40
    Ao sair de Auschwitz,
    ela fez uma promessa.
  • 19:40 - 19:47
    Ela disse: "Saí de Auschwitz com vida
    e eu fiz uma promessa,
  • 19:47 - 19:50
    que foi a seguinte:
    jamais direi qualquer coisa
  • 19:50 - 19:54
    que não possa ser
    a última coisa que eu diga".
  • 19:54 - 19:56
    Bem, será que podemos fazer isso?
  • 19:56 - 20:00
    Não, vamos errar
    e fazer os outros errarem,
  • 20:00 - 20:03
    mas podemos tentar
    aplicar isso em nossa vida.
  • 20:04 - 20:05
    Obrigado.
  • 20:05 - 20:07
    (Aplausos)
  • 20:12 - 20:16
    Olhos brilhando, olhos brilhando.
  • 20:22 - 20:25
    Obrigado, obrigado.
Title:
O poder transformador da música clássica
Speaker:
Benajmin Zander
Description:

Benjamin Zander tem duas paixões viscerais: a música clássica e ajudar-nos todos a despertarmos nosso amor por ela. Adicionalmente, ele nos ajuda a despertar nosso amor por todas as novas possibilidades, novas experiências e novas conexões.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
20:26

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