Dennis Hong: Fazer um carro para condutores cegos
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0:00 - 0:03Muitos acreditam que conduzir é uma actividade
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0:03 - 0:05reservada apenas para aqueles que conseguem ver.
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0:05 - 0:08Um cego a conduzir um veículo de forma segura e independente
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0:08 - 0:11era suposta ser uma tarefa impossível, até agora.
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0:11 - 0:13Olá, eu chamo-me Dennis Hong,
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0:13 - 0:15e estamos a trazer liberdade e independência aos cegos
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0:15 - 0:18construindo um veículo para os deficientes visuais.
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0:18 - 0:21Portanto antes de eu falar sobre este carro para os cegos,
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0:21 - 0:23deixem-me falar-vos de outro projecto em que trabalhei
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0:23 - 0:25chamado DARPA Urban Challenge.
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0:25 - 0:27Este era sobre construir um carro robótico
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0:27 - 0:29que se conduzisse a si mesmo.
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0:29 - 0:31Carregam em começar, ninguém toca em nada,
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0:31 - 0:34e ele chega ao destino de forma completamente autónoma.
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0:34 - 0:37Portanto em 2007, a nossa equipa ganhou meio milhão de dólares
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0:37 - 0:39por ficar no terceiro lugar desta competição.
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0:39 - 0:41Por essa altura,
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0:41 - 0:43a National Federation of the Blind, ou NFB,
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0:43 - 0:45desafiou o comité de pesquisa
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0:45 - 0:47para descobrir quem conseguiria desenvolver um carro
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0:47 - 0:49que deixasse um cego conduzir de forma segura e independente.
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0:49 - 0:51Decidimos experimentar,
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0:51 - 0:53porque pensámos, ei, não pode ser muito difícil.
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0:53 - 0:55Já temos um veículo autónomo.
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0:55 - 0:57É só pôr alguém cego lá dentro e está feito, certo?
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0:57 - 0:59(Risos)
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0:59 - 1:01Não podíamos estar mais errados.
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1:01 - 1:03O que a NFB queria
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1:03 - 1:06não era um veículo que conduzisse um cego,
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1:06 - 1:09mas um veículo onde uma pessoa cega pudesse fazer decisões activas e guiar.
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1:09 - 1:11Portanto, tivemos de atirar tudo pela janela
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1:11 - 1:13e começar do nada.
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1:13 - 1:15Então, para testar esta ideia louca,
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1:15 - 1:17desenvolvemos um pequeno veículo protótipo, um buggy,
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1:17 - 1:19para testar a viabilidade.
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1:19 - 1:21E, no Verão de 2009,
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1:21 - 1:24convidámos dúzias de jovens cegos de todo o país
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1:24 - 1:26e demos-lhes a oportunidade de o conduzir.
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1:26 - 1:28Foi uma experiência absolutamente espetacular.
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1:28 - 1:30Mas o problema com este carro era que
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1:30 - 1:33estava feito apenas para ser conduzido num ambiente muito controlado,
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1:33 - 1:35num parque de estacionamento plano e fechado --
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1:35 - 1:37até as faixas estavam definidas por cones de trânsito vermelhos.
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1:37 - 1:39Portanto, com este sucesso,
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1:39 - 1:41decidimos dar o próximo grande passo,
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1:41 - 1:44desenvolver um carro verdadeiro que pudesse ser conduzido em estradas verdadeiras.
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1:44 - 1:46Então como funciona?
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1:46 - 1:48Bem, é um sistema bastante complexo,
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1:48 - 1:51mas vou tentar explicá-lo, talvez simplificá-lo.
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1:51 - 1:53Temos três passos.
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1:53 - 1:55Temos percepção, computação
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1:55 - 1:57e interfaces não-visuais.
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1:57 - 1:59Obviamente o condutor não consegue ver,
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1:59 - 2:01portanto o sistema tem de perceber o ambiente circundante
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2:01 - 2:03e armazenar informação para o condutor.
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2:03 - 2:06Para isso, utilizamos uma unidade de medida inercial.
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2:06 - 2:08Portanto ela mede aceleração, aceleração angular --
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2:08 - 2:10tal como um ouvido humano, o ouvido interno.
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2:10 - 2:12Fundimos essa informação com uma unidade de GPS
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2:12 - 2:15para obter uma estimativa da localização do carro.
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2:15 - 2:18Também usamos duas câmaras para detectar as faixas da estrada.
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2:18 - 2:20E usamos três telémetros laser.
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2:20 - 2:23Os lasers varrem o ambiente para detectar obstáculos --
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2:23 - 2:25um carro a aproximar-se pela frente, por trás,
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2:25 - 2:28e também quaisquer obstáculos que entrem nas estradas,
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2:28 - 2:30quaisquer obstáculos à volta do veículo.
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2:30 - 2:33E esta vasta quantidade de informação é então inserida no computador,
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2:33 - 2:35e o computador pode fazer duas coisas.
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2:35 - 2:38Uma é, antes de mais, processar esta informação
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2:38 - 2:40para obter uma compreensão do ambiente --
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2:40 - 2:43estas são as faixas da estrada, estão ali os obstáculos --
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2:43 - 2:45e transmitir esta informação ao condutor.
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2:45 - 2:47O sistema também é inteligente o suficiente
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2:47 - 2:49para descobrir a maneira mais segura de conduzir o carro.
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2:49 - 2:51Portanto também podemos gerar instruções
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2:51 - 2:53sobre como operar os controlos do veículo.
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2:53 - 2:55Mas o problema é este: Como transmitimos
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2:55 - 2:57esta informação e instruções
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2:57 - 2:59a alguém que não consegue ver
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2:59 - 3:02de forma rápida e precisa o suficiente para que ele consiga conduzir?
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3:02 - 3:04Então, para isto, desenvolvemos vários tipos diferentes
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3:04 - 3:07de tecnologia de interface não-visual para utilizadores.
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3:07 - 3:09Portanto, começámos por um sistema tridimensional de som,
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3:09 - 3:11um colete de vibração,
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3:11 - 3:14um volante com comandos de voz, uma tira para a perna,
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3:14 - 3:16até um sapato que aplica pressão no pé.
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3:16 - 3:18Mas hoje vamos falar sobre
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3:18 - 3:20três destas interfaces não-visuais.
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3:20 - 3:23A primeira interface chama-se DriveGrip.
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3:23 - 3:25Estas são um par de luvas,
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3:25 - 3:27e têm elementos vibratórios na parte dos nós dos dedos,
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3:27 - 3:30para que seja possível transmitir instruções sobre como virar --
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3:30 - 3:32a direcção e intensidade.
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3:32 - 3:34Outro dispositivo é a SpeedStrip.
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3:34 - 3:37Esta é uma cadeira -- na verdade, é uma cadeira de massagens.
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3:37 - 3:41Nós abrimo-la, e rearranjamos os elementos vibratórios em diferentes padrões.
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3:41 - 3:44E fazemos com que estes transmitam informação sobre a velocidade,
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3:44 - 3:47e também instruções em como usar os pedais de aceleração e travagem.
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3:47 - 3:49Portanto aqui, podem ver
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3:49 - 3:51como o computador se apercebe do ambiente.
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3:51 - 3:53E, como não podem ver a vibração,
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3:53 - 3:56pusemos LEDs vermelhos no condutor, para que possamos ver o que está a acontecer.
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3:56 - 3:58Estes são os dados sensoriais,
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3:58 - 4:01e esses dados são transmitidos para os dispositivos pelo computador.
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4:01 - 4:03Estes dois dispositivos, DriveGrip e SpeedStrip,
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4:03 - 4:05são bastante efectivos.
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4:05 - 4:07Mas o problema é
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4:07 - 4:09que estes são dispositivos de instrução.
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4:09 - 4:11Logo, isto não é liberdade, certo?
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4:11 - 4:13O computador indica como conduzir --
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4:13 - 4:15virar à esquerda, virar à direita, acelerar, parar.
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4:15 - 4:17Chamamos a isto o problema do pendura.
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4:17 - 4:20Portanto estamos a afastar-nos deste tipo de dispositivos,
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4:20 - 4:22e agora estamos a focar-nos mais
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4:22 - 4:24em dispositivos informacionais.
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4:24 - 4:26Um bom exemplo para interfaces de informação não-visual
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4:26 - 4:28chama-se AirPix.
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4:28 - 4:30Pensem nele como um monitor para cegos.
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4:30 - 4:32É uma pequena tábua, tem muitos buracos,
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4:32 - 4:34e sai ar comprimido desses buracos,
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4:34 - 4:36portanto consegue mesmo desenhar imagens.
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4:36 - 4:38E mesmo que sejam cegos, podem pôr a mão sobre ela,
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4:38 - 4:40e ver as faixas da estrada e obstáculos.
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4:40 - 4:43Na verdade, também é possível mudar a frequência do ar a sair
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4:43 - 4:45e possivelmente a temperatura.
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4:45 - 4:48Portanto, é na verdade uma interface multi-dimensional.
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4:48 - 4:51Aqui vê-se a câmara esquerda e direita do veículo
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4:51 - 4:54e como o computador as interpreta e envia a informação para o AirPix.
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4:54 - 4:56Para isto, estamos a mostrar um simulador,
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4:56 - 4:59uma pessoa cega a conduzir usando o AirPix.
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4:59 - 5:02Este simulador também foi muito útil para treinar os condutores cegos
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5:02 - 5:04e testar rapidamente tipos diferentes de ideias
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5:04 - 5:06para tipos diferentes de interfaces não-visuais.
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5:06 - 5:08Portanto basicamente é assim que funciona.
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5:08 - 5:10E apenas há um mês,
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5:10 - 5:12a 29 de Janeiro,
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5:12 - 5:14demonstrámos este veículo pela primeira vez em público
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5:14 - 5:17na mundialmente famosa Daytona International Speedway
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5:17 - 5:19durante o evento de corridas Rolex 24.
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5:19 - 5:22Também tivemos algumas surpresas. Vamos dar uma olhadela.
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5:22 - 5:32(Música)
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5:32 - 5:36(Vídeo) Narrador: Este é um dia histórico [não está claro].
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5:36 - 5:40Ele está a chegar à bancada, caros Federistas.
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5:40 - 5:46(Aplausos)
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5:46 - 5:49(Buzinas)
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5:49 - 5:51Lá está a bancada.
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5:51 - 5:55E ele está a seguir a carrinha que está em frente dele.
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5:55 - 5:57Bem, lá vem a primeira caixa.
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5:57 - 6:00Vamos ver agora se o Mark a evita.
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6:00 - 6:03E evitou. Ele passa-a pela direita.
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6:05 - 6:08A terceira já foi. A quarta já foi.
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6:08 - 6:11E ele está a passar perfeitamente entre as duas.
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6:11 - 6:13Ele está a aproximar-se da carrinha
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6:13 - 6:16para fazer a ultrapassagem.
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6:17 - 6:19Bem é isto que se quer,
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6:19 - 6:23este tipo de demonstração dinâmica de audácia e engenhosa.
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6:24 - 6:27Ele está a chegar ao fim da linha,
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6:27 - 6:32passa entre os barris preparados.
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6:32 - 6:35(Buzinas)
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6:35 - 6:38(Aplausos)
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6:41 - 6:43Dennis Hong: Estou muito feliz por si.
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6:43 - 6:45O Mark vai-me dar uma boleia de volta ao hotel.
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6:45 - 6:47Mark Riccobono: Sim.
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6:50 - 6:59(Aplausos)
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6:59 - 7:01DH: Desde que começámos este projecto,
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7:01 - 7:04recebemos centenas de cartas, e-mails, chamadas telefónicas
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7:04 - 7:06de pessoas de todo o mundo.
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7:06 - 7:09Cartas a agradecerem-nos, mas por vezes também recebemos cartas engraçadas como esta:
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7:09 - 7:13"Agora já percebi porque é que há Braille num ATM de drive-up."
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7:13 - 7:15(Risos)
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7:15 - 7:17Mas por vezes --
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7:17 - 7:19(Risos)
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7:19 - 7:21Mas por vezes também recebo --
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7:21 - 7:23não lhe chamaria cartas de ódio --
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7:23 - 7:25mas cartas de preocupação bastante forte:
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7:25 - 7:27"Dr. Hong, é louco,
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7:27 - 7:29a tentar meter cegos na estrada?
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7:29 - 7:31Não deve bater bem."
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7:31 - 7:33"Mas este veículo é um protótipo,
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7:33 - 7:35e não vai estar na estrada
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7:35 - 7:37até que se prove que é tão, ou mais seguro que os veículos de hoje.
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7:37 - 7:40E acredito verdadeiramente que isto pode acontecer.
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7:40 - 7:42Mas ainda assim, será que a sociedade
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7:42 - 7:44iria aceitar uma ideia tão radical?
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7:44 - 7:46Como vamos tratar dos seguros?
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7:46 - 7:48Como vamos atribuir licenças de condução?
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7:48 - 7:51Há muitos destes obstáculos para além de desafios tecnológicos
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7:51 - 7:54que precisamos de resolver antes de tornar isto uma realidade.
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7:54 - 7:56É claro, o objectivo principal deste projecto
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7:56 - 7:58é desenvolver um carro para os cegos.
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7:58 - 8:00Mas potencialmente mais importante que isto
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8:00 - 8:03é o valor tremendo da tecnologia derivada
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8:03 - 8:05que pode surgir deste projecto.
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8:05 - 8:07Os sensores usados conseguem ver pelo escuro,
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8:07 - 8:09nevoeiro e chuva.
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8:09 - 8:11E juntamente com este novo tipo de interfaces,
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8:11 - 8:13podemos usar essas tecnologias
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8:13 - 8:15e aplicá-las para obter carros mais seguros para pessoas com visão.
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8:15 - 8:18Ou para os cegos, utensílios caseiros --
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8:18 - 8:20na educação, nos escritórios.
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8:20 - 8:23Imaginem, numa aula um professor escreve no quadro
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8:23 - 8:26e um estudante cego pode ver o que está escrito e ler
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8:26 - 8:28usando estas interfaces não-visuais.
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8:28 - 8:31Isto não tem preço.
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8:31 - 8:34Portanto hoje, as coisas que eu vos mostrei hoje, são apenas o começo.
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8:34 - 8:36Muito obrigado.
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8:36 - 8:47(Aplausos)
- Title:
- Dennis Hong: Fazer um carro para condutores cegos
- Speaker:
- Dennis Hong
- Description:
-
Usando robótica, telémetros laser, GPS e ferramentas de feedback inteligente, Dennis Hong está a construir um carro para condutores cegos. Não é um carro que "se conduza a si mesmo", especifica ele cuidadosamente, mas um carro em que um condutor sem visão consiga determinar velocidade, proximidade e o caminho a tomar -- e conduza independentemente.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 08:48