-
Pensando se a gente poderia, tipo-
Você quer botar isso na parede?
-
Sim, só algumas listras na parede.
-
Crescer entre duas culturas e línguas me
permitiu ter uma distância delas.
-
Eu me sinto autêntico em um ambiente,
-
mas troco de ambiente e me sinto tão
autêntico quanto no outro lugar.
-
E o que é essa identidade da qual falamos?
-
Ação.
-
Em um idade bem nova, havia uma
consciência
-
do quanto identidade é de fato uma
performance, um tipo de construção
-
e o quanto narrativas sustentam nossas
sociedades e culturas
-
Ser capaz de mover de um local a
outro
-
também coloca um tipo de foco no "eu" e
essa performance de autenticidade.
-
Existem coisas que flutuam nas
margens do meu trabalho.
-
Isso fica interessante em como se explora
essa dimensão
-
sem escrever um tratado político,
ou um pedaço de jornalismo,
-
mas sim através de um entendimento
de que isso está envolvido
-
em relações pessoais.
-
Eu sempre volto para esse tema.
-
(batida na porta)
-
(porta bate)
-
Tudo bem?
-
Sim.
-
Sim.
-
Eu estou bem.
-
Quando eu encontro os meus participantes,
o processo envolve muitas dúvidas
-
sobre dimensão ética,
-
sobre o que eu estou fazendo, cara a cara
com a história de alguém, a vida de alguém
-
Esses caras precisam estar aqui?
-
Eu não percebi que você estaria
filmando
-
Podemos parar se você está
desconfortável.
-
O tipo de espaço que eu crio para
jogar essas dúvidas
-
e trancar elas é criando esse tipo de
arte doppelganger
-
esse tipo de duplo, que se torna
o alvo para aqueles problemas.
-
Qual é a diferença de você e alguém que
se senta em um avião?
-
Não há diferença entre nós;
-
Nós fazemos o mesmo trabalho.
-
Mas você não é um piloto
de verdade
-
E daí?
-
Você não é um jornalista de verdade.
-
Todos os tipos de papéis de alguém
-
que ouve enquanto forma julgamentos
de forma aparente
-
Você tem certeza de que está bem?
-
Me permitem externalizar dúvidas,
-
e ganhar um pouco de distância de um tema
que pode ser muito seco ou muito pessoal
-
Isso cria uma conversa sobre o direito de
pegar a história de alguém de mudar ela.
-
Você não gosta disso?
-
Por que você não me faz uma
pergunta melhor?
-
Esse projeto é provocado por
-
uma conversa com alguém que trabalha
no programa de drones
-
Drones são aeronaves não tripuladas
controladas remotamente
-
Tem um piloto que controla os movimentos
da aeronave.
-
Outra pessoa é responsável por
tudo óptico.
-
5000 pés é o melhor.
-
A posição é melhor
a 5000 pés.
-
Dá pra dizer que tipo de sapatos você usa
de um milha de distância
-
Nós temos o infravermelho,
-
que podemos ligar automaticamente,
e que capta quaisquer assinaturas de calor
-
ou assinaturas de frio.
-
Quero dizer, se alguém sentar,
-
por exemplo, em um superfície fria por
um tempo e depois levantar
-
você ainda consegue ver
o calor da pessoa.
-
Meio que parece uma flor branca,
só brilhando pro céu.
-
É bem bonita.
-
Quero dizer, cara, se você ver alguém
-
acendendo um cigarro naquilo,
é um grande farol
-
Você está em um caminho predefinido,
voando uma órbita ciruclar
-
vendo eles fumar de 2 a 3 milhas
de distância
-
E o computador descobre a trajetória,
a distância e a velocidade,
-
e acha um tempo estimado que levaria
para um míssil atingir.
-
O piloto vai ter todas as liberações
necessárias para atirar.
-
Ele vai soltar o míssil,
e eu vou guiar ele para o alvo.
-
(batida na porta)
-
Ei, o que você está fazendo?
-
Estamos aqui.
-
Tudo certo?
-
Sim.
-
Sim.
-
Tudo certo.
-
Sobre o que você quer conversar?
-
Era isso que eu ia te perguntar
-
Cara, eu não quero conversar sobre nada.
-
É você que está pagando, lembra?
-
Não pagando tanto.
-
Quer pagar mais?
-
(censura)
-
Tá bem?
-
Ah, sim, só comi porcaria.
-
O trabalho oferece uma reencenação
da conversa e vários flashbacks.
-
Então em cada flashback,
logo vemos uma cena de cima
-
de uma paisagem
-
A voz que acompanha a cena
-
é a voz de operador do sensor de verdade,
descrevendo sua vida e trabalho de verdade
-
O trabalho tenta entrelaçar as memórias
dessa pessoa e suas conversas,
-
reimaginando o encontro várias vezes, como
uma obra não resolvida e que se repete
-
Normalmente, eu não volto para casa até
as 10 da manhã
-
Você pula no banho, pega seu
café da manhã
-
Joga videogames por, sabe, 4 horas e então
tenta dormir.
-
Acho que Predador é parecido com jogar
videogame,
-
mas jogar o mesmo videogame por
4 anos seguidos
-
todo santo dia no mesmo nível.
-
Mas aí você tem os
seus momentos
-
quando há emergências reais,
e aí que estresse vem em cena.
-
Como eu bato aquele caminhão
-
e quão longe deveria colocar o míssil
para acertar caminhão
-
de forma que eu não cause danos
-
aos prédios em volta ou às pessoas ou
machuque mais alguém que esteja por lá?
-
E às vezes eu cometo erros.
-
Quero dizer, há lados horríveis
em trabalhar com Predador
-
Você vê muita morte.
-
Quero dizer, veio um ponto depois, sabe
-
5 anos fazendo isso que,
é só que eu tive que pensar,
-
"uau, há tantas perdas de vida que resultam
diretamente de mim."
-
Quero dizer, teve muita coisa pessoal
que eu tive que passar,
-
muitos chapelães com quem tive que
conversar, e muitas pessoas que ficam tipo
-
"Como você pode ter TEPT se
não estava ativo em uma zona de guerra?"
-
Bem, tecnicamente, eu estava todo dia
ativo em uma zona de guerra
-
Quero dizer, eu podia não estar
pessoalmente em risco
-
mas eu estava diretamente afetando a
vida de pessoas lá
-
todo dia
-
Sabe, não é como um videogame
-
Não posso desligar isso.
-
Está sempre lá.
-
Eu prefiro pensar no trabalho como
um retrato
-
Sabemos que alguém que está pintando
um retrato
-
vai inevitavelmente usar um estilo
particular para representar o tema.
-
O que eu faço, de uma forma, muitas vezes
retratos são retratos, nesse caso,
-
o operador de sensor de drone ou
trabalhadores da indústria de sexo.
-
mas por serem retratos,
-
há alguém que está contando a história
deles e contar as histórias deles
-
cada vez mais interfere
-
com uma recepção mais passiva e fluída
de quem são essas pessoas e o que elas fazem.
-
Então Julia, o que vem depois de cuidar
dos cães?
-
O que você faz?
-
Vou fazer meu shake de café da manhã,
tomar banho
-
A estrutura deste projeto
-
é literalmente mostrar o
cotidiano de trabalhadores
-
da indústria de filmes adultos.
-
Eu queria achar uma forma contatar uma
companhia e filmar eles filmando seus vídeos.
-
Nesse ponto, eu comecei a escrever
vinhetas que eu ia juntar com isso,
-
de modo que tem componente
documental e um ficcional para o curso.
-
Eu queria mostrar ele simultaneamente
-
porque eu queria mostrar como
suas vidas separadas
-
em um ponto convergem por causa de
seus trabalhos.
-
As 4 telas representam uma tentativa
de articular isso espacialmente
-
O trabalho entrança continuamente
-
histórias e indivíduos, e os afasta,
-
e tem um tipo de dinâmica estrutural lá
-
que é sobre movimento e repetição
-
e o potencial em ver beleza em algo
-
que é tão comum quanto 4 pessoas
dirigindo pro trabalho em LA.
-
Quero dizer, o quão entediante
é isso?
-
(música do rádio tocando)
-
Eu dependo bastante da ficção para
o meu trabalho
-
"Tudo Que Ascende Deve Convergir" é o
título da história de Flannery O'Connor,
-
que serviu de inspiração para o que
eu estava pensando na época
-
e como eu iria abordar um tema
em particular
-
Por que eu entrei nos negócios?
-
Foram os meus pais.
-
Seus pais?
-
Sim.
-
Eles também eram diretores de
filmes adultos?
-
Não.
-
Meus pais eram hippies.
-
Oh, os meus também.
-
Não
-
Não, não, não, não.
-
Meus pais eram de verdade.
-
Os meus também.
-
Não, cara, está escrito na sua cara.
-
Seus pais eram a típica família bom tempo,
feliz,
-
hippies não ameaçadores.
-
Há um personagem cujas políticas estão
corretas por um lado,
-
mas que ele é completamente rancoroso
com mãe dele,
-
que representa esse outro lado da história.
-
Democratas Reagan, estou certo?
-
Mais ou menos
-
Eles eram hippies,
e viviam em uma comuna,
-
e nessa comuna eles se ocupavam bastante
indo contra
-
as hierarquias e o tipo de poder que
sustenta a sociedade da época
-
Parte disso é sexo.
-
Parte disso é família e sua relação com sexo,
-
então ele descreve um passado onde 38
pessoas dormiam e trabalhavam juntas.
-
Sexo é algo que você faz com todo mundo.
-
É sua obrigação fazer isso.
-
Se torna, de uma forma, trabalho,
-
algo que define aquela sociedade em particular
e as crianças também estão envolvidas
-
Isso é algo pelo qual esse personagem
passou.
-
Isso é o enigma particular no qual essa
pessoa está presa e que ele representa
-
Okay, momento sexy, pronta?
-
Esse vai ser um pra ficar na história
-
Sinto isso no meu íntimo
-
Aqui vamos nós.
-
Espera, por favor.
-
E momento sexy,
e espera, por favor
-
Quando eles estão atuando na frente
das câmeras
-
para o filme deles,
eles estão em um gênero.
-
Eles tem hábitos.
-
Aqui vamos nós
-
Ação.
-
Na verdade ele tem 70 anos.
-
O que?
-
É, a foto dele era de 1986.
-
Essa mulher é uma deusa.
-
Ela precisa ser apreciada, como vinho fino,
envelhecido até a perfeição
-
Só, só.
-
É um tipo bem estilizado de performance,
que usa um tipo específico de linguagem
-
para um tipo específico de audiência.
-
De um modo eles eram o tipo mais banal
e era isso que eu queria
-
É, mas você é só um-
-
É bem, bem pós-moderno em certo sentido
-
Eles não são atores ruins.
-
Eles só estão atuando de uma
maneira particular
-
É um gênero, e eu gosto de usar
esses gêneros diferentes
-
e meio que desdobrar suas linguagens
e brincar com isso
-
Logo que ela começar a falar,
vai mover
-
Okay.
-
Tom, você se importa se-
-
A primeira página?
-
"Bueno todo estas"?
-
Sim, por favor.
-
Okay.
-
(atriz falando espanhol)
-
Essa personagem te puxa para outro
lugar, que é um estúdio.
-
Ela é sua guia nesse mundo.
-
Ela reaparece quando você está perdido
ou entediado.
-
A leitura dela do roteiro e sua interação
com o diretor
-
constitui um elemento distante
e crítico
-
essa outra narrativa sobre cruzar
a fronteira
-
e migração.
-
(atriz falando espanhol)
-
Mas ela realmente disse tudo isso.
-
Tudo depende de outra coisa.
-
Tudo é para outra coisa.
-
Sim, ela disse.
-
Claro, há um pouco de edição.
-
E tudo aquilo sobre lamber, você sabe,
o cão molhado no começo,
-
e então o lamber o vento e
explosões frias e amargas.
-
Espera, onde fala isso?
-
Quando eles estão no caminhão a caminho
da fronteira
-
Mas é morder, não lamber.
-
Certo.
-
É só uma forma de parar o fluxo.
-
Você sabe, faz você pensar duas vezes
sobre o que está ouvindo.
-
Então vai ter um homem e sua esposa,
que estão no meio de uma crise particular,
-
e talvez um momento de transformação,
ou talvez não.
-
Okay, ação.
-
Esses dois irmãos sobre quem eu te contei,
os que eu fico vendo.
-
Você quer dizer irmãos, como dois caras
negros, ou tipo?
-
Eles eram brancos, Josh.
-
Irmãos biológicos.
-
Talvez gêmeos.
-
Eles se pareciam bastante.
-
O que eles encontram?
-
Um ovo.
-
Que tipo de ovo?
-
Tipo, tipo, como um ovo de galinha?
-
Para resolver a crise
-
eles precisam criar algo,
e assim eles não criam uma criança.
-
Eles criam uma história,
e essa história produz um ovo.
-
Isso foi, tipo, perfeitamente oval.
-
E parecia velho.
-
Confia em mim, Josh.
-
Era um ovo.
-
Além disso, eles tomaram cuidado.
-
As pessoas sempre falam do meu trabalho
em termos de real e ficcional,
-
e isso não é interessante pra mim,
essas noções de verdade e de real
-
são muito importantes para nós quando
estamos falando de um processo de justiça.
-
Eu não sou um jornalista.
-
Meu trabalho não existe no tribunal
de justiça.
-
Ele existe no espaço de arte
-
e o espaço de arte permite
ambiguidades e contradições
-
Esse fetiche todo de verdade e ideal,
-
que é uma coisa adorável para se aspirar,
é de um forma o brinquedo no trabalho
-
Pensar no trabalho em termos de verdade
e mentiras
-
ou verdade e ficção, é matar o trabalho
-
(batida na porta)
-
O que, o que você está fazendo?