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É o reinado dos homens: papéis sexuais e como nos prejudicam | Lilia Fromm | TEDxLincoln

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    O meu tio Eddy é diferente
    de todas as pessoas que já conheci.
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    Cresceu no Oregon
    e parece um lenhador:
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    alto, musculado, barbudo,
    e usa camisas de flanela.
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    Mas o que eu sempre invejei
    é o seu estilo de vida,
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    grandes anéis, brincos,
    e colares fabulosos.
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    Às vezes maquilha-me,
    ao estilo duma "drag queen",
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    com pestanas postiças cintilantes,
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    traz-me bijutarias cintilantes
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    e veste-me com estolas de plumas
    e trajes deslumbrantes.
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    Passamos horas juntos, aperfeiçoando
    a natação sincronizada de Ester Williams
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    e rotinas de canção
    e dança de Judy Garland.
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    Quando era miúda, pensava que o tio Eddy
    era o perfeito homem masculino.
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    Eu não percebia porque é que Eddy
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    se entregava tão entusiasmado
    a estas atividades comigo,
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    enquanto os meus três irmãos mais velhos
    não participavam minimamente.
  • 1:07 - 1:08
    (Risos)
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    Hoje percebo que os meus irmãos
    sentiam que não podiam sair
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    das normas esperadas de masculinidade,
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    enquanto Eddy sempre tinha
    atravessado essas fronteiras.
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    Hoje, sou uma rapariga vulgar de 15 anos,
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    gosto de moda, passo demasiado
    tempo ao telefone,
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    e vejo todos os episódios da Gossip Girl.
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    Mas também sou barulhenta,
    determinada, mandona,
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    gosto de matemática
    e sou péssima cozinheira.
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    Como toda a gente, possuo
    qualidades masculinas e femininas.
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    Podemos aceitar uma mulher
    com características masculinas,
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    embora o mesmo não se possa dizer
    quanto a homens e feminilidade.
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    A masculinidade é sempre definida
  • 1:43 - 1:46
    pela separação e oposição à feminilidade.
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    Dessa forma, a masculinidade
    e a feminilidade definem-se uma à outra,
  • 1:50 - 1:53
    quaisquer que sejam
    as suas expetativas individuais.
  • 1:53 - 1:55
    Em 1991, a psicóloga Monica Biernat
  • 1:56 - 1:58
    descobriu que as crianças, inicialmente,
  • 1:58 - 2:01
    não veem como opostas
    a masculinidade e a feminilidade
  • 2:01 - 2:05
    embora, quando crescem, as suas opiniões
    se tornem progressivamente contraditórias.
  • 2:05 - 2:07
    A ideia de que homens e mulheres
    atuam como opostos,
  • 2:07 - 2:10
    e as suas respetivas características
    é totalmente adquirida.
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    Interiorizámos estas características
    com uma associação concreta macho/fêmea,
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    embora as características
    e qualidades de uma mulher,
  • 2:17 - 2:21
    possam existir facilmente
    em qualquer homem, como o meu tio Eddy.
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    Quando um dos meus irmãos era bebé,
    tinha um Power Ranger preferido,
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    o Power Ranger cor-de-rosa.
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    Era obcecado por ele
    e só se vestia com essa cor.
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    Não achava que o Power Ranger rosa
    era feminino, ele só gostava dessa cor.
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    Hoje morre de vergonha
    sempre que recordamos essa associação
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    a uma coisa tão feminina.
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    Estas identidades são comportamentos
    conscientes, escolhidos,
  • 2:44 - 2:47
    para atuar dentro das nossas
    normas e limites sociais.
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    A masculinidade e a feminilidade
  • 2:49 - 2:51
    são formadas por expetativas
    sociais e culturais,
  • 2:51 - 2:54
    não por diferenças biológicas.
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    Explorámos a feminilidade
    e podemos aceitar
  • 2:56 - 2:59
    uma ampla variedade de personalidades
    fora da norma, enquanto femininas.
  • 2:59 - 3:02
    Usamos calças, fazemos desporto, votamos,
  • 3:02 - 3:04
    e temos as mesmas
    profissões que os homens
  • 3:04 - 3:05
    e continuamos femininas.
  • 3:05 - 3:09
    Esta aceitação e fluidez não existe
    para os homens e para a masculinidade
  • 3:09 - 3:13
    e continuamos a esperar que os homens
    vivam dentro desse estereótipo impossível.
  • 3:13 - 3:16
    Esses ideais de masculinidade
    permitem que os homens mantenham
  • 3:16 - 3:18
    uma posição social dominante
  • 3:18 - 3:20
    sobre as mulheres
    e outras identidades sexuais.
  • 3:20 - 3:22
    Este domínio social de masculinidade
  • 3:22 - 3:24
    é conhecido
    como masculinidade hegemónica.
  • 3:24 - 3:27
    A masculinidade hegemónica
    repousa no privilégio masculino
  • 3:27 - 3:31
    criando uma ideia de superioridade
    e reforçando um domínio
  • 3:31 - 3:33
    sobre as fraquezas dos outros.
  • 3:33 - 3:36
    Esta ideia de superioridade
    por vezes leva à violência,
  • 3:36 - 3:38
    como a violência e a misoginia,
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    como se um homem,
    para compensar a sua masculinidade,
  • 3:41 - 3:44
    tente provar que não é tímido,
    não tem medo
  • 3:44 - 3:46
    ou, o pior de tudo, não é feminino.
  • 3:46 - 3:50
    A heterossexualidade é uma grande parte
    da masculinidade hegemónica.
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    Assim, os homens podem usar
    a sexualidade e a homofobia
  • 3:53 - 3:56
    como uma base de eliminar
    a masculinidade de outro homem.
  • 3:56 - 3:59
    Dizer que alguém é "gay"
    já não se usa
  • 3:59 - 4:01
    para questionar a sua sexualidade.
  • 4:01 - 4:06
    Este termo passou a ser sinónimo
    de burro, estúpido ou pouco masculino.
  • 4:07 - 4:11
    A masculinidade hegemónica causa
    muitos problemas na nossa sociedade,
  • 4:11 - 4:15
    embora a influência mais poderosa
    seja de limitar o nosso potencial.
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    A ideia de que só há
    um tipo de masculinidade,
  • 4:21 - 4:24
    encaixa os homens nessa expetativa
    e mantém de fora as mulheres.
  • 4:24 - 4:28
    Permitimos e até forçamos
    uma dualidade ou um padrão duplo.
  • 4:28 - 4:30
    Os líderes masculinos são fortes,
    poderosos e decididos.
  • 4:30 - 4:34
    Mas uma mulher exatamente na mesma
    posição é considerada uma megera.
  • 4:34 - 4:37
    Chamamos vadias às raparigas
    enquanto admiramos um homem sedutor.
  • 4:37 - 4:41
    A masculinidade hegemónica cria a ideia
    de que os homens são superiores,
  • 4:41 - 4:44
    causando problemas
    de amor próprio às mulheres.
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    Frases como "Pareces uma menina!"
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    são usadas para descrever
    ações mal feitas,
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    dizendo que as raparigas fazem tudo
    mal feito só porque são raparigas.
  • 4:53 - 4:56
    Sempre que se fala de sexos,
    eu sinto-me mal.
  • 4:56 - 4:58
    Será que muitas também se sentem assim?
  • 4:58 - 5:03
    Quantas de nós, nas nossas sociedades
    modernas se debatem com a sua grandeza,
  • 5:03 - 5:06
    porque pomos em causa
    a nossa capacidade de sermos iguais?
  • 5:06 - 5:08
    Eu toco baixo,
  • 5:08 - 5:11
    por isso geralmente sou a única rapariga
    num grupo de baixos, todos rapazes.
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    No ano passado, na Lincoln Youth Symphony
  • 5:13 - 5:16
    fizemos um teste
    para determinar os nossos lugares.
  • 5:16 - 5:19
    Quando divulgaram os resultados,
    eu era a primeira figura.
  • 5:19 - 5:23
    Eu devia ter ficado feliz, eufórica,
    e orgulhosa do que conseguira,
  • 5:23 - 5:25
    mas só senti pânico.
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    Entrei no carro da minha mãe,
    depois do ensaio
  • 5:27 - 5:29
    e comecei imediatamente a chorar.
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    Tinha a certeza e estava aterrorizada
    de que os outros baixos masculinos
  • 5:33 - 5:36
    ficariam zangados comigo
    por eu ser a primeira figura.
  • 5:36 - 5:38
    Pensava que não devia ser
    melhor do que eles
  • 5:38 - 5:41
    e continuava a diminuir
    as minhas capacidades.
  • 5:41 - 5:44
    Com o tempo, não consegui
    perceber porque é que me sentia assim,
  • 5:44 - 5:48
    embora depois tenha percebido
    que era porque a masculinidade hegemónica
  • 5:48 - 5:51
    e o seu domínio social inerente
    estavam tão entranhados em mim
  • 5:51 - 5:53
    que eu sentia que, enquanto rapariga,
  • 5:53 - 5:56
    não me competia demonstrar
    um talento superior.
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    Eu não era considerada menos feminina
    por estar naquele lugar
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    embora eu continuasse
    limitada na minha identidade
  • 6:01 - 6:03
    e naquilo que eu pensava que significava.
  • 6:03 - 6:05
    Não somos robôs com sexos definidos,
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    somos complexos seres humanos
    com inúmeras características
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    que não devem ser limitadas pelos sexos.
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    Mesmo subconscientemente
    preocupa-nos sermos julgados
  • 6:14 - 6:17
    ou ridicularizados por fazermos
    alguma coisa fora das normas esperadas.
  • 6:17 - 6:19
    Como, por exemplo, uma adolescente
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    a fazer uma palestra TEDx
    sobre masculinidade hegemónica.
  • 6:22 - 6:24
    (Risos)
  • 6:26 - 6:28
    Quebrando o estereótipo da masculinidade,
  • 6:28 - 6:31
    podemos aumentar
    a aceitação da feminilidade.
  • 6:31 - 6:35
    Estas identidades diferem com as culturas,
    a região, a religião, as crenças pessoais.
  • 6:35 - 6:38
    Há formas ilimitadas
    de masculinidade e feminilidade
  • 6:38 - 6:41
    e podemos ser abertos
    a aceitá-las todas como um espetro
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    em vez de dois ideais rigorosos.
  • 6:43 - 6:46
    Vejo o meu tio Eddy
    como o homem perfeito
  • 6:46 - 6:50
    e admiro hoje a sua capacidade
    de transcender os estereótipos.
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    Nasci dentro desses limites,
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    e ainda estou a tentar perceber
    quem quero ser neste mundo.
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    Sou uma rapariga, uso vestidos,
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    mas, obviamente, também tenho
    características masculinas.
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    Nenhum de nós pode viver
    ou num lado ou no outro.
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    A minha identidade não é decidida
    pela minha etiqueta,
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    por ser determinada,
    ou pelo meu horror aos saltos altos.
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    Desafio-vos a não se limitarem a ser
    o Power Ranger rosa ou azul.
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    O espetro das possibilidades é infinito.
  • 7:19 - 7:22
    (Aplausos)
Title:
É o reinado dos homens: papéis sexuais e como nos prejudicam | Lilia Fromm | TEDxLincoln
Description:

Um comentário profundo e humorístico, a palestra de Lilia Fromm faz-nos pensar em como os conceitos tradicionais sobre sexos impõem ideias estereotipadas de masculinidade e feminilidade tanto aos homens como às mulheres.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
07:33

Portuguese subtitles

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