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O que acontece quando temos uma doença que os médicos não conseguem diagnosticar

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    Olá!
  • 0:08 - 0:09
    Obrigada.
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    [Como Jennifer Brea é sensível a sons,
    pediu-se à plateia para aplaudir
  • 0:12 - 0:14
    na língua de sinais, em silêncio.]
  • 0:14 - 0:17
    Bem, cinco anos atrás, esta era eu.
  • 0:18 - 0:20
    Eu fazia doutorado em Harvard,
  • 0:20 - 0:22
    e adorava viajar.
  • 0:22 - 0:26
    Tinha acabado de ficar noiva,
    para me casar com o amor da minha vida.
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    Tinha 28 anos e, como muitos de nós
    quando temos uma saúde boa,
  • 0:31 - 0:33
    me sentia invencível.
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    Um belo dia, tive uma febre de 40°C.
  • 0:39 - 0:41
    Eu devia ter ido ao médico,
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    mas como nunca fiquei
    doente de verdade na vida,
  • 0:43 - 0:46
    sabia que, caso fosse um vírus,
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    se ficasse em casa
    e tomasse uma sopa de frango,
  • 0:49 - 0:51
    em poucos dias tudo voltaria ao normal.
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    Mas dessa vez não voltou.
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    Depois que a febre começou,
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    fiquei tão tonta durante três semanas
    que nem consegui sair de casa.
  • 1:01 - 1:04
    Ia direto para os batentes das portas.
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    Para chegar ao banheiro,
    tinha de abraçar os batentes.
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    Naquela primavera, peguei
    uma infecção atrás da outra
  • 1:12 - 1:14
    e, todas as vezes que ia ao médico,
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    ele dizia que não havia nada de errado.
  • 1:18 - 1:19
    Ele pedia exames de laboratório,
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    e eles sempre davam normais.
  • 1:22 - 1:24
    Tudo o que eu tinha eram meus sintomas,
  • 1:24 - 1:26
    os quais eu conseguia descrever,
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    mas ninguém mais conseguia ver.
  • 1:29 - 1:31
    Sei que parece bobagem,
  • 1:31 - 1:34
    mas precisamos achar
    uma explicação para as coisas,
  • 1:34 - 1:38
    então eu achava que talvez
    estivesse ficando velha.
  • 1:38 - 1:42
    Que devia ser assim mesmo
    quando a gente passava dos 25 anos.
  • 1:42 - 1:44
    (Risos)
  • 1:45 - 1:47
    Então, os sintomas neurológicos começaram.
  • 1:48 - 1:51
    Às vezes eu descobria que não conseguia
    desenhar o lado direito de um círculo.
  • 1:52 - 1:56
    Outras vezes, não conseguia falar
    ou me mexer de jeito nenhum.
  • 1:58 - 2:00
    Fui a todo tipo de especialista:
  • 2:00 - 2:03
    infectologistas, dermatologistas,
    endocrinologistas,
  • 2:03 - 2:04
    cardiologistas.
  • 2:05 - 2:07
    Cheguei a ir a um psiquiatra.
  • 2:08 - 2:11
    O psiquiatra falou: "Está claro
    que você está muito doente,
  • 2:11 - 2:13
    mas nada relacionado à psiquiatria.
  • 2:14 - 2:17
    Espero que descubram
    o que há de errado com você."
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    No dia seguinte, o neurologista me
    diagnosticou com transtorno de conversão.
  • 2:23 - 2:25
    Ele me disse que aquilo tudo,
  • 2:25 - 2:28
    as febres, a garganta
    inflamada, a sinusite,
  • 2:29 - 2:32
    todos os sintomas gastrointestinais,
    neurológicos e cardíacos,
  • 2:33 - 2:35
    estavam sendo causados
    por algum trauma emocional distante
  • 2:35 - 2:37
    do qual eu não conseguia me lembrar.
  • 2:38 - 2:40
    Os sintomas eram reais, ele falou,
  • 2:41 - 2:43
    mas não tinham causa biológica.
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    Eu estudava ciências sociais.
  • 2:47 - 2:50
    Tinha estudado estatística,
    teoria da probabilidade,
  • 2:50 - 2:53
    modelagem matemática, design experimental.
  • 2:55 - 2:59
    Eu achava que não podia simplesmente
    rejeitar o diagnóstico do neurologista.
  • 3:00 - 3:01
    Apesar de não me parecer correto,
  • 3:01 - 3:05
    eu sabia, dos meus estudos,
    que a verdade é sempre contraintuitiva,
  • 3:05 - 3:08
    facilmente ofuscada por aquilo
    em que queremos acreditar.
  • 3:08 - 3:11
    Então, tive de considerar
    a possibilidade de ele estar certo.
  • 3:14 - 3:16
    Naquele dia, fiz um pequeno experimento.
  • 3:17 - 3:20
    Andei 3,5 km do consultório
    do meu neurologista até em casa,
  • 3:21 - 3:25
    minhas pernas tomadas
    por uma dor estranha, quase elétrica.
  • 3:26 - 3:28
    Meditei sobre aquela dor,
  • 3:28 - 3:32
    contemplando como minha mente
    poderia ter gerado aquilo.
  • 3:33 - 3:35
    Tão logo passei pela porta,
  • 3:35 - 3:36
    desmontei.
  • 3:37 - 3:40
    Meu cérebro e minha espinha
    estavam queimando.
  • 3:41 - 3:44
    Meu pescoço estava tão duro que eu não
    conseguia tocar o peito com o queixo,
  • 3:45 - 3:47
    e o menor som,
  • 3:47 - 3:49
    o roçar dos lençóis
  • 3:49 - 3:51
    ou meu marido andando descalço
    no quarto ao lado,
  • 3:52 - 3:54
    podiam causar dor excruciante.
  • 3:56 - 3:59
    Acabei passando grande parte
    dos dois anos seguintes de cama.
  • 3:59 - 4:02
    Como meu médico poderia
    ter se enganado tanto?
  • 4:03 - 4:05
    Pensei que tivesse uma doença rara,
  • 4:05 - 4:07
    algo que os médicos nunca tivessem visto.
  • 4:08 - 4:09
    Aí, fui para a internet
  • 4:09 - 4:12
    e descobri milhares de pessoas no mundo
  • 4:12 - 4:14
    vivendo com os mesmos sintomas,
  • 4:14 - 4:16
    tão isoladas
  • 4:16 - 4:17
    e desacreditadas quanto eu.
  • 4:18 - 4:22
    Algumas conseguiam trabalhar, mas passavam
    as noites e finais de semana de cama
  • 4:22 - 4:24
    para conseguirem trabalhar
    na segunda-feira seguinte.
  • 4:24 - 4:26
    No outro extremo do espectro,
  • 4:26 - 4:28
    alguns estavam tão mal
  • 4:28 - 4:31
    que tinham de viver na completa escuridão,
  • 4:31 - 4:34
    incapazes de tolerar o som da voz humana
  • 4:34 - 4:36
    ou o toque da pessoa amada.
  • 4:37 - 4:41
    Fui diagnosticada
    com encefalomielite miálgica, EM.
  • 4:43 - 4:46
    Provavelmente já ouviram falar dela
    como Síndrome da Fadiga Crônica.
  • 4:47 - 4:49
    Por décadas, foi um nome
  • 4:49 - 4:51
    que significou que isto aqui
  • 4:52 - 4:56
    era a imagem dominante
    de uma doença que pode ser séria assim.
  • 4:57 - 4:59
    O principal sintoma em comum
  • 4:59 - 5:03
    é que, sempre que ficamos exaustos,
    física ou mentalmente,
  • 5:03 - 5:05
    pagamos, e pagamos caro.
  • 5:06 - 5:09
    Se meu marido sair para correr,
    ele pode ficar dolorido por uns dias.
  • 5:09 - 5:13
    Se eu tentar andar um quarteirão,
    talvez fique uma semana de cama.
  • 5:13 - 5:16
    É uma prisão personalizada perfeita.
  • 5:16 - 5:19
    Conheço bailarinas
    que não conseguem dançar,
  • 5:19 - 5:21
    contadores que não conseguem somar,
  • 5:21 - 5:24
    estudantes de medicina
    que nunca se tornaram médicos.
  • 5:24 - 5:27
    Não importa o que a gente fazia antes,
  • 5:27 - 5:29
    não conseguimos mais.
  • 5:29 - 5:31
    Já se passaram quatro anos,
  • 5:31 - 5:34
    e nunca mais me senti bem como me sentia
  • 5:34 - 5:37
    no minuto anterior que saí do consultório
    do meu neurologista para casa.
  • 5:39 - 5:42
    Estima-se que cerca de 15 milhões
    a 30 milhões de pessoas no mundo
  • 5:42 - 5:43
    tenham essa doença.
  • 5:44 - 5:47
    Nos EUA, onde vivo,
    são cerca de um milhão de pessoas.
  • 5:47 - 5:51
    Ela é quase duas vezes tão comum
    quanto a esclerose múltipla.
  • 5:52 - 5:55
    Pacientes podem viver
    por décadas com sintomas
  • 5:55 - 5:57
    de alguém com insuficiência
    cardíaca congestiva.
  • 5:57 - 6:00
    E 25% de nós estamos presos
    em casa ou a uma cama,
  • 6:01 - 6:05
    e 75% a 85% de nós não conseguimos
    trabalhar nem meio horário.
  • 6:05 - 6:08
    No entanto, os médicos não nos tratam,
  • 6:08 - 6:10
    e a ciência não nos estuda.
  • 6:11 - 6:15
    Como pode uma doença
    tão comum e tão devastadora
  • 6:15 - 6:17
    ter sido esquecida pela medicina?
  • 6:19 - 6:22
    Quando meu médico me diagnosticou
    com transtorno de conversão,
  • 6:22 - 6:26
    ele estava invocando ideias com mais
    de 2,5 mil anos sobre o corpo feminino.
  • 6:27 - 6:29
    O médico romano Galeno pensava
  • 6:29 - 6:32
    que a histeria era causada
    pela abstinência sexual
  • 6:32 - 6:34
    em mulheres particularmente fogosas.
  • 6:35 - 6:38
    Os gregos achavam que o útero
    literalmente secaria
  • 6:38 - 6:40
    e andaria pelo corpo
    em busca de hidratação,
  • 6:40 - 6:42
    pressionando órgãos internos,
  • 6:42 - 6:43
    isso...
  • 6:45 - 6:47
    causando sintomas,
    desde emoções extremadas
  • 6:47 - 6:50
    até tonteira e paralisia.
  • 6:51 - 6:53
    A cura era o casamento e a maternidade.
  • 6:55 - 6:59
    Essas ideias prevaleceram
    por diversos milênios até os anos 1880,
  • 6:59 - 7:03
    quando neurologistas tentaram
    modernizar a teoria da histeria.
  • 7:03 - 7:05
    Sigmund Freud desenvolveu uma teoria
  • 7:05 - 7:08
    de que a mente inconsciente
    poderia produzir sintomas físicos
  • 7:08 - 7:10
    ao tentar lidar com memórias ou emoções
  • 7:10 - 7:13
    dolorosas demais para a mente consciente.
  • 7:13 - 7:16
    Ela convertia essas emoções
    em sintomas físicos.
  • 7:17 - 7:20
    Isso significava que homens
    também poderiam ficar histéricos,
  • 7:20 - 7:22
    mas, claro, mulheres ainda
    eram as mais suscetíveis.
  • 7:23 - 7:27
    Quando comecei a investigar
    a história da minha própria doença,
  • 7:27 - 7:31
    fiquei impressionada ao descobrir
    como tais ideias ainda estavam enraizadas.
  • 7:31 - 7:32
    Em 1934,
  • 7:32 - 7:37
    198 médicos, enfermeiras e funcionários
    do Los Angeles County General Hospital
  • 7:37 - 7:39
    ficaram seriamente doentes.
  • 7:39 - 7:43
    Eles sentiam fraqueza muscular,
    rigidez no pescoço e nas costas, febre...
  • 7:43 - 7:46
    exatamente os mesmos sintomas
    que sentia quando fui diagnosticada.
  • 7:47 - 7:49
    Os médicos achavam
    que era um tipo de pólio.
  • 7:50 - 7:53
    Desde então, houve mais
    de 70 surtos documentados
  • 7:53 - 7:54
    no mundo
  • 7:54 - 7:57
    de uma doença pós-infecciosa
    incrivelmente parecida.
  • 7:57 - 8:01
    Todos esses surtos tendiam a afetar
    de forma desproporcional as mulheres
  • 8:01 - 8:05
    e, ao longo do tempo, quando os médicos
    não conseguiam descobrir a causa,
  • 8:05 - 8:09
    pensavam que se tratasse
    de histeria em massa.
  • 8:09 - 8:12
    Por que essa ideia foi tão aceita?
  • 8:14 - 8:15
    Penso que tem a ver com sexismo,
  • 8:15 - 8:19
    mas também acho que, antes de tudo,
    os médicos querem ajudar.
  • 8:19 - 8:21
    Eles querem descobrir a resposta,
  • 8:21 - 8:26
    e essa categoria lhes permite tratar
    o que, de outra forma, seria intratável,
  • 8:26 - 8:28
    e explicar doenças sem explicação.
  • 8:29 - 8:32
    O problema é que isso
    pode causar um dano real.
  • 8:32 - 8:36
    Nos anos 1950, um psiquiatra
    chamado Eliot Slater
  • 8:36 - 8:40
    estudou um grupo de 85 pacientes
    diagnosticadas com histeria.
  • 8:41 - 8:45
    E, 9 anos mais tarde, 12 delas estavam
    mortas, e 30 se tornaram incapacitadas.
  • 8:45 - 8:48
    Muitas tinham condições subdiagnosticadas,
    como esclerose múltipla,
  • 8:48 - 8:50
    epilepsia, tumores cerebrais.
  • 8:51 - 8:55
    Em 1980, a histeria foi oficialmente
    rebatizada de "transtorno de conversão".
  • 8:56 - 8:58
    Quando meu neurologista me deu
    aquele diagnóstico em 2012,
  • 8:59 - 9:02
    ele estava reverberando
    as palavras literais de Freud
  • 9:02 - 9:03
    e, mesmo hoje em dia,
  • 9:03 - 9:07
    as mulheres recebem de duas
    a dez vezes mais tal diagnóstico.
  • 9:08 - 9:12
    O problema com a teoria da histeria,
    ou da doença psicogênica,
  • 9:13 - 9:15
    é que não se consegue prová-la.
  • 9:15 - 9:17
    Ela é, por definição,
    a falta de evidência,
  • 9:18 - 9:20
    e, no caso da EM,
  • 9:20 - 9:23
    as explicações psicológicas
    abafaram a pesquisa biológica.
  • 9:24 - 9:27
    No mundo todo, a EM é uma das doenças
    que menos recebem financiamento.
  • 9:27 - 9:34
    Nos EUA, gastamos, por ano,
    uns US$ 2,5 mil por paciente com AIDS,
  • 9:35 - 9:38
    US$ 250 por paciente
    com esclerose múltipla,
  • 9:38 - 9:41
    e apenas US$ 5 por paciente com EM.
  • 9:42 - 9:44
    Isso não foi só um raio na minha cabeça.
  • 9:44 - 9:46
    Não foi apenas falta de sorte.
  • 9:46 - 9:50
    A ignorância em torno da minha doença
    tem sido uma escolha,
  • 9:50 - 9:54
    uma escolha feita pelas instituições
    que deveriam nos proteger.
  • 9:56 - 9:58
    Não sabemos por que a EM,
    às vezes, ocorre em famílias,
  • 9:58 - 10:01
    por que podemos pegá-la
    depois de qualquer infeção,
  • 10:01 - 10:05
    desde os enterovírus
    até o vírus Epstein-Barr ou a febre Q,
  • 10:05 - 10:08
    ou por que afeta duas a três vezes
    mais mulheres do que homens.
  • 10:09 - 10:12
    Esse problema é muito mais amplo
    do que só a minha doença.
  • 10:12 - 10:14
    Logo que adoeci,
  • 10:14 - 10:16
    velhos amigos me procuraram.
  • 10:16 - 10:19
    Depressa me encontrei num grupo
    de mulheres com 20 e tantos anos,
  • 10:19 - 10:22
    cujos corpos estavam entrando em colapso.
  • 10:22 - 10:26
    O chocante foi a dificuldade que estávamos
    tendo para sermos levadas a sério.
  • 10:26 - 10:29
    Soube de uma mulher com esclerodermia,
  • 10:29 - 10:31
    uma doença autoimune do tecido conjuntivo,
  • 10:31 - 10:33
    que há anos lhe diziam
    que era tudo coisa da cabeça dela.
  • 10:33 - 10:36
    No período entre o início
    da doença e o diagnóstico,
  • 10:36 - 10:38
    o esôfago dela ficou tão danificado
  • 10:38 - 10:40
    que ela nunca mais conseguiu comer.
  • 10:41 - 10:43
    A uma outra, com câncer no ovário,
  • 10:43 - 10:47
    foi dito, durante anos, que era apenas
    uma menopausa precoce.
  • 10:47 - 10:49
    Um amigo da faculdade teve
  • 10:49 - 10:53
    um tumor cerebral diagnosticado
    errado por anos como ansiedade.
  • 10:54 - 10:56
    Eis por que me preocupo:
  • 10:57 - 11:01
    desde os anos 1950, a taxa de incidência
    de muitas doenças autoimunes
  • 11:01 - 11:02
    duplicaram e triplicaram.
  • 11:03 - 11:06
    E 45% dos doentes,
    que acabaram diagnosticados
  • 11:06 - 11:08
    com uma conhecida doença autoimmune,
  • 11:08 - 11:10
    inicialmente tinham sido
    tachados de hipocondríacos.
  • 11:11 - 11:14
    Tal como a histeria da Antiguidade,
    tudo isso tem a ver com o gênero,
  • 11:14 - 11:16
    e com as histórias em que acreditamos.
  • 11:17 - 11:21
    Sabemos que 75% dos casos
    de doenças autoimunes são em mulheres
  • 11:21 - 11:24
    e, nalgumas doenças,
    a porcentagem chega aos 90%.
  • 11:25 - 11:28
    Apesar de tais doenças afetarem
    desproporcionalmente as mulheres,
  • 11:28 - 11:30
    não são doenças de mulher.
  • 11:30 - 11:33
    A EM afeta crianças,
    assim como milhões de homens.
  • 11:33 - 11:35
    E, como uma paciente me disse,
  • 11:35 - 11:37
    isso afeta os dois lados:
  • 11:37 - 11:40
    se for mulher, dizem que está
    exagerando os sintomas,
  • 11:40 - 11:44
    mas, se for homem, dizem
    a ele para ser forte, para aguentar.
  • 11:45 - 11:49
    Muitos homens até podem ter
    mais dificuldade em ser diagnosticados.
  • 11:57 - 12:00
    Meu cérebro já não é mais
    o que costumava ser.
  • 12:04 - 12:07
    (Aplausos silenciosos)
  • 12:11 - 12:13
    (Risos)
  • 12:14 - 12:15
    A parte boa é esta:
  • 12:17 - 12:19
    apesar de tudo, ainda tenho esperança.
  • 12:20 - 12:24
    Tantas doenças foram consideradas
    psicológicas no passado,
  • 12:24 - 12:27
    até que a ciência descobriu
    os seus mecanismos biológicos.
  • 12:27 - 12:30
    Os doentes com epilepsia
    podiam ser internados à força
  • 12:30 - 12:35
    até que o EEG conseguiu medir
    a atividade elétrica anormal no cérebro.
  • 12:36 - 12:40
    A esclerose múltipla podia ser
    confundida com paralisia histérica
  • 12:40 - 12:43
    até que as tomografias e ressonâncias
    descobriram lesões cerebrais.
  • 12:44 - 12:45
    Recentemente, julgávamos
  • 12:45 - 12:48
    que as úlceras do estômago
    eram causadas por estresse,
  • 12:48 - 12:52
    até que descobrimos que a culpada
    era a bactéria "H. pylori".
  • 12:53 - 12:56
    A EM nunca se beneficiou
    do tipo de ciência
  • 12:56 - 12:58
    de que outras doenças se beneficiaram,
  • 12:58 - 13:00
    mas as coisas estão começando a mudar.
  • 13:01 - 13:04
    Na Alemanha, os cientistas começam
    a encontrar provas de autoimunidade
  • 13:04 - 13:07
    e, no Japão, de inflamação cerebral.
  • 13:07 - 13:10
    Nos EUA, cientistas em Stanford
    estão descobrindo anomalias
  • 13:10 - 13:12
    no metabolismo da energia
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    que está a 16 desvios padrão do normal.
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    Na Noruega, pesquisadores estão
    realizando um teste clínico de fase 3
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    com uma droga para o câncer que,
    em alguns doentes, provoca remissão total.
  • 13:26 - 13:27
    O que também me dá esperança
  • 13:28 - 13:30
    é a resiliência dos pacientes.
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    Nós nos conhecemos on-line
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    e compartilhamos nossas histórias.
  • 13:37 - 13:40
    Devoramos toda pesquisa existente.
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    Experimentamos em nós mesmos.
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    Nos tornamos nossos próprios
    cientistas e médicos,
  • 13:46 - 13:47
    porque tivemos de nos tornar.
  • 13:48 - 13:52
    E devagar adicionei 5% aqui, 5% ali,
  • 13:52 - 13:54
    até que, num dia bom,
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    fui capaz de sair de casa.
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    Ainda assim tive de fazer
    escolhas ridículas:
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    hoje devo me sentar no jardim
    por 15 minutos ou lavar meu cabelo?
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    Mas isso me deu esperança
    de poder ser tratada.
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    Eu tenho um corpo doente: é só isso.
  • 14:11 - 14:15
    E, com a ajuda adequada,
    talvez um dia eu possa melhorar.
  • 14:16 - 14:19
    Conheci pacientes do mundo todo
  • 14:19 - 14:21
    e começamos a lutar.
  • 14:22 - 14:25
    Temos preenchido o vazio
    com algo maravilhoso,
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    mas não é o suficiente.
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    Ainda não sei se vou ser capaz
    de correr novamente,
  • 14:33 - 14:35
    ou andar qualquer distância,
  • 14:35 - 14:39
    ou fazer qualquer dessas coisas cinéticas
    que consigo fazer apenas em sonho.
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    Mas também sou grata
    por ter chegado tão longe.
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    O progresso é lento,
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    é um sobe
  • 14:47 - 14:48
    e desce,
  • 14:49 - 14:52
    mas estou melhor a cada dia.
  • 14:54 - 14:58
    Me lembro como era ficar
    presa naquele quarto,
  • 14:59 - 15:01
    durante meses, sem ver o Sol.
  • 15:03 - 15:06
    Achei que ia morrer ali.
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    Mas estou aqui hoje
  • 15:09 - 15:11
    com vocês,
  • 15:12 - 15:14
    e isto é um milagre.
  • 15:17 - 15:20
    Não sei o que teria acontecido
    se eu não tivesse tido sorte,
  • 15:20 - 15:23
    se tivesse adoecido
    antes de haver internet,
  • 15:23 - 15:25
    se não tivesse encontrado
    minha comunidade.
  • 15:26 - 15:29
    Provavelmente eu já teria
    tirado minha própria vida,
  • 15:29 - 15:31
    como muitos outros fizeram.
  • 15:32 - 15:35
    Quantas vidas poderíamos
    ter salvo, décadas atrás,
  • 15:36 - 15:38
    se tivéssemos feito as perguntas certas?
  • 15:39 - 15:41
    Quantas vidas podemos salvar hoje
  • 15:42 - 15:44
    se decidirmos começar de verdade?
  • 15:45 - 15:48
    Mesmo quando a verdadeira causa
    da minha doença for descoberta,
  • 15:49 - 15:52
    se não mudarmos nossas
    instituições e nossa cultura,
  • 15:52 - 15:55
    vamos fazer isso de novo com outra doença.
  • 15:56 - 15:58
    Viver com essa doença me ensinou
  • 15:58 - 16:01
    que ciência e medicina são
    empreendimentos profundamente humanos.
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    Médicos, cientistas
    e gestores de políticas públicas
  • 16:04 - 16:07
    não estão imunes aos preconceitos
  • 16:08 - 16:09
    que nos afetam a todos.
  • 16:11 - 16:14
    Precisamos pensar de modo
    diferenciado sobre a saúde da mulher.
  • 16:15 - 16:19
    Nossos sistemas imunes são campos
    de batalha pela igualdade tanto quanto
  • 16:19 - 16:21
    o resto do nosso corpo.
  • 16:21 - 16:24
    Precisamos ouvir a história dos pacientes,
  • 16:25 - 16:27
    e precisamos estar prontos
    para dizer: "Eu não sei".
  • 16:28 - 16:30
    "Eu não sei" é uma coisa bonita.
  • 16:31 - 16:34
    "Eu não sei" é onde a descoberta começa.
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    E, se pudermos fazer isso,
  • 16:37 - 16:41
    podemos abordar a enorme vastidão
    de tudo que não conhecemos
  • 16:41 - 16:43
    e, então, em vez do medo da incerteza,
  • 16:43 - 16:46
    talvez possamos abraçá-la
    com um senso de maravilhamento.
  • 16:46 - 16:48
    Obrigada.
  • 16:48 - 16:51
    (Aplausos silenciosos)
  • 16:52 - 16:53
    Obrigada.
Title:
O que acontece quando temos uma doença que os médicos não conseguem diagnosticar
Speaker:
Jen Brea
Description:

Cinco anos atrás, a Bolsista TED Jen Brea ficou com a saúde cada vez pior com encefalomielite miálgica, EM, vulgo "Síndrome da Fadiga Crônica", uma doença debilitante que incapacita de forma severa as atividades normais e, nos dias ruins, transforma até o roçar dos lençóis em algo insuportável para os ouvidos dos pacientes. Nesta palestra pungente, Brea descreve os obstáculos que encontrou ao buscar tratamento para a sua condição, cujas causas profundas e efeitos físicos ainda não são totalmente compreendidos, assim como nos fala de sua missão para documentar através de filme as vidas de pacientes que a medicina luta para tratar.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:43

Portuguese, Brazilian subtitles

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