Carrie Mae Weems in "Compassion" - Season 5 - "Art in the Twenty-First Century" | Art21
-
0:10 - 0:12Sabe, abrir essa caixa
-
0:12 - 0:14é como abrir uma lata
de minhocas. -
0:15 - 0:18É o projeto mais incrível.
-
0:19 - 0:22Tinha um grupo de
fotografias que eu sabia -
0:22 - 0:23que com certeza tinha que usar.
-
0:23 - 0:26Eu havia pensado sobre
elas por anos e anos. -
0:27 - 0:30Eu havia ensinado sobre elas
em diferentes contextos -
0:30 - 0:32em minhas aulas por
muito tempo. -
0:33 - 0:35E havia um grupo delas
que tinham saído -
0:35 - 0:37dos arquivos de Harvard.
-
0:37 - 0:40Essa era uma delas,
um antigo daguerreótipo -
0:40 - 0:44feito na Carolina do Norte,
Carolina do Sul, -
0:44 - 0:46de uma família de escravos.
-
0:46 - 0:50Mas era o tipo de projeto que me
fazia repensar a história -
0:50 - 0:54dos assuntos negros
na fotografia também, -
0:54 - 0:57como os corpos negros haviam
sido usados em fotografias. -
0:57 - 1:01As peças finais têm texto,
e os textos foram gravados em vidro. -
1:02 - 1:05Elas ficam muito diferentes
quando estão atrás do vidro -
1:05 - 1:09porque o vidro e o texto
se tornam muito importantes -
1:09 - 1:13para como o público deve
interagir com as fotografias. -
1:15 - 1:18Então haviam essas três
imagens iniciais que pareciam -
1:18 - 1:22se cristalizar para mim e
se comprimir em quatro imagens. -
1:22 - 1:27A história dos africanos americanos
e a história da fotografia. -
1:28 - 1:32Há trinta fotografias na série.
-
1:34 - 1:37Todas as fotografias para
a série do Getty são... -
1:38 - 1:43são imagens apropriadas
de outras fontes históricas. -
1:43 - 1:48Harvard ameaçou me processar pelo
uso das primeiras fotografias que mostrei. -
1:49 - 1:55Então pensei "Harvard vai me
processar pelo uso dessas imagens -
1:55 - 1:57de pessoas negras em sua coleção,
-
1:58 - 2:01a universidade mais rica do mundo".
-
2:02 - 2:05Eu penso que talvez não tenha
um caso legal, mas talvez tenha -
2:05 - 2:08um caso moral que pode ser feito
-
2:08 - 2:12e pode ser muito útil publicamente.
-
2:12 - 2:16Então, depois de me preocupar
e pensar sobre isso, -
2:17 - 2:18eu liguei para eles e falei
-
2:18 - 2:21"Eu acho que vocês me processarem
pode ser muito bom. -
2:22 - 2:25Vocês deviam fazer isso,
e nós devíamos ter essa discussão -
2:25 - 2:26no tribunal.
-
2:26 - 2:30Eu acho que poderia ser muito
educativo, por diversas razões -
2:30 - 2:34e certamente para artistas
engajados no ato da apropriação, -
2:34 - 2:37e pensam que há uma
história maior a ser contada". -
2:37 - 2:42Harvard, então, finalmente pensou
"não, acho que não vamos processá-la". -
2:43 - 2:47Então me pediram que,
toda vez que uma peça fosse vendida, -
2:47 - 2:49eu os pagasse pelo
uso das fotografias. -
2:51 - 2:55E então eles compraram as
fotografias para sua própria coleção. -
3:00 - 3:03Então falei, "vocês compraram,
vocês compraram, tenho que -
3:03 - 3:06pagá-los também?"
-
3:06 - 3:07Quero dizer, estou um pouco confusa.
-
3:15 - 3:19Eu venho de uma grande,
incrível, louca família -
3:19 - 3:21de, não sei, trezentas pessoas.
-
3:22 - 3:26Então comecei a pensar sobre
essa relação entre mim e minha família, -
3:26 - 3:28em como mostrar isso.
-
3:29 - 3:32Era importante para mim porque
eu precisava entender algo -
3:32 - 3:35sobre a natureza do meu próprio
ser e da minha própria voz -
3:35 - 3:37e de onde eu realmente venho.
-
3:38 - 3:41Meu pai era um excelente
contador de histórias, -
3:41 - 3:44e narrativa e histórias
estavam no sangue. -
3:45 - 3:48Eu acabei de voltar de uma
reunião familiar, -
3:48 - 3:53e minha tia, Nellie, que é
a cronicista da família, -
3:53 - 3:56fez esse álbum lindo.
-
3:56 - 3:59E eu amo essa foto, eu cresci com
essa imagem. -
3:59 - 4:03Essa é a âncora, a base
da minha família. -
4:03 - 4:07Essa é minha linda mãe e todas
as suas irmãs, -
4:07 - 4:09e eu sou louca por elas.
-
4:11 - 4:15Essa é uma foto do meu avô.
-
4:15 - 4:18Meu avô era um judeu nativo
americano, ele casou com -
4:18 - 4:24minha avó, que era uma mulher negra,
e eles tiveram onze filhos. -
4:25 - 4:28Vovô era esse homem incrível, que...
-
4:28 - 4:34como ele passava por branco, ele foi
capaz de criar toda a sua família em -
4:34 - 4:35Portland, no Oregon.
-
4:35 - 4:41Às vezes ele levava Osie,
minha avó, com ele no trabalho, -
4:41 - 4:43e ele era demitido porque
-
4:43 - 4:45percebiam que ele era casado
com uma mulher negra. -
4:45 - 4:50Ou às vezes quando meu avô tinha
todas as crianças no carro, -
4:50 - 4:52pessoas brancas passavam
e diziam -
4:52 - 4:55"Por que está com todos esses
pretos no seu carro?" -
4:55 - 4:57Eles eram pessoas incríveis.
-
4:57 - 5:00O que eles começaram
ainda está lá. -
5:00 - 5:05E minha mãe e suas irmãs continuaram
essa tradição maravilhosa. -
5:06 - 5:09Eu saí de casa quando
tinha 16 anos. -
5:09 - 5:11Eu fui até meu pai e disse
-
5:11 - 5:14"Pai, acho que estou pronta
para me mudar sozinha". -
5:14 - 5:15Ele disse,
-
5:15 - 5:18"Você acha que está pronta para se mudar,
pagar aluguel, comprar comida -
5:18 - 5:23e tudo isso, sozinha? E não voltar
para casa todo dia para pedir comida, -
5:23 - 5:27ou dinheiro, ou abrigo?"
-
5:27 - 5:29E eu disse "Sim, acho que consigo".
-
5:30 - 5:33Ele disse "se você acha que consegue,
então vá. -
5:34 - 5:39Se, depois de tentar, achar que precisa
voltar, então volte. -
5:39 - 5:43Mas se você acha que consegue cuidar
de si mesma, então cuide". -
5:43 - 5:46Então eu saí de casa e nunca mais voltei.
-
5:49 - 5:52Eu fui para São Francisco
com minha amiga. -
5:53 - 5:56Eu estava interessada em
dança e teatro, até certo ponto. -
5:56 - 5:59Eu sabia dançar muito bem.
-
5:59 - 6:03Então comecei a dançar com a
famosa e extraordinária Ann Halprin. -
6:04 - 6:09Ann já estava muito interessada
em ideias sobre a paz, e usar a dança -
6:09 - 6:13como uma maneira de conectar
diferentes culturas. -
6:15 - 6:18Eu não sabia o que alguém poderia
realmente fazer com dança. -
6:18 - 6:24Eu sabia que as artes visuais
seriam mais minha vocação. -
6:25 - 6:28Eu tinha um namorado, que
era fotógrafo, e filmava -
6:28 - 6:32todas as nossas festas, eventos,
manifestações, passeatas. -
6:32 - 6:35Nós éramos todos radicais
vivendo em São Francisco. -
6:35 - 6:38Ele me apresentou à fotografia.
-
6:46 - 6:51Eu estava sonhando acordada
com as rebeliões de Birmingham -
6:51 - 6:53nos anos 1960.
-
6:54 - 6:56E a imagem começou a se mover.
-
6:56 - 6:59Eu estava pensando sobre uma
fotografia específica, feita por -
6:59 - 7:01Charles Moore, uma fotografia
que eu amava. -
7:01 - 7:04Charles Moore não queria que
eu usasse essa fotografia. -
7:05 - 7:09Então pensei "tudo bem,
então vou trazer vida à fotografia. -
7:10 - 7:11Vou construir aquele momento".
-
7:12 - 7:16Então fui até Birmingham
e falei com alguns alunos. -
7:16 - 7:18Fizemos toda uma série de ações.
-
7:18 - 7:24Dali, veio essa ideia de fazer
uma série inteira de recriações -
7:24 - 7:28ao redor da ideia de 1968.
-
7:29 - 7:32Eu percebi que estávamos em
um momento incrível. -
7:32 - 7:36Que quarenta anos haviam passado,
que Martin Luther King havia morrido -
7:36 - 7:39há quarenta anos, e que seria importante
olhar para algumas coisas que -
7:39 - 7:42aconteceram logo antes disso,
e logo depois disso. -
7:42 - 7:45Você teria que olhar para o
assassinato de Martin. -
7:45 - 7:47Você teria que olhar para o
assassinato de Malcolm. -
7:47 - 7:50Você teria que olhar para o
assassinato de Medgar Evers, -
7:50 - 7:52de Robert F. Kennedy,
de John F. Kennedy. -
7:53 - 7:58Essa ideia de como chegamos
a esse momento incrível. -
7:58 - 8:02Então percebi que Barack Obama
estava, obviamente, concorrendo -
8:02 - 8:04à presidência nos Estados Unidos.
-
8:05 - 8:09Essa história incrível,
tumultuosa, brutal, -
8:09 - 8:12é absolutamente o que
torna isso possível. -
8:13 - 8:17Ele não poderia estar nessa
posição sem a morte de todas -
8:17 - 8:18aquelas pessoas.
-
8:18 - 8:20Então ele está, literalmente,
-
8:20 - 8:23em pé sobre as cinzas e os espíritos
-
8:23 - 8:27de todas aquelas coisas que vieram antes.
-
8:27 - 8:30E pensei que, se eu não olhasse para
essas coisas agora, se eu não -
8:30 - 8:36olhasse para o drama,
o luto, a tristeza -
8:36 - 8:40da história dos últimos 40 anos,
-
8:40 - 8:43então eu não valeria meu sal.
-
8:45 - 8:47Eu não sei se essa trabalho
será importante. -
8:48 - 8:50Mas eu sei que será
importante para mim. -
8:50 - 8:53Foi importante para mim
olhar para essa história, -
8:53 - 8:57realmente pensar sobre
onde estamos agora, -
8:58 - 9:02e foi importante considerar
profundamente, no meu coração, -
9:02 - 9:05como nós chegamos aqui.
-
9:05 - 9:12A ideia que eu pedia para os alunos
assumirem papeis para eles mesmos, -
9:12 - 9:16assim eu passei a saber
algo sobre aquela história. -
9:16 - 9:21É importante que eu faça
todas essas coisas. -
9:22 - 9:24Esse é o assassinato de Robert Kennedy,
-
9:24 - 9:28acho que em 1968.
-
9:28 - 9:31Eu interpretei um menino de recados,
-
9:31 - 9:34acho que seu nome era Juan Ramero.
-
9:34 - 9:37Naquele momento, quando ele
foi baleado, o menino que ele -
9:37 - 9:41havia conhecido antes foi até ele,
perguntou se estava bem -
9:41 - 9:45e o deu um rosário, então
esse foi o papel que eu fiz. -
9:46 - 9:50Como uma filha de imigrantes,
alguém que nunca havia visto isso, -
9:50 - 9:54meus pais não sabem muito sobre
essa história, então para mim foi como -
9:54 - 9:58uma forma de entender o que
realmente aconteceu. -
9:58 - 9:59Acho que esse foi o mais difícil.
-
9:59 - 10:02Isso é em Ken State,
eu sou a menina na fotografia. -
10:03 - 10:06Foi uma situação
muito emocional. -
10:06 - 10:09Carrie tem essa habilidade de
evocar emoção nas pessoas, -
10:09 - 10:10apenas pela voz.
-
10:10 - 10:14Foi tão tranquilizante, mas quando
eu entrei em cena, eu estava -
10:14 - 10:19muito nervosa, não sabia
como ficar triste ou entrar no momento. -
10:19 - 10:23Quando ela começou a falar comigo,
todas as emoções saíram -
10:23 - 10:27e eu chorei muito.
-
10:27 - 10:30Verônica, aquela com Ken State,
eu me lembro disso. -
10:30 - 10:32- Lembra?
- Sim, me lembro. -
10:32 - 10:36Lembro daquela exata foto.
-
10:36 - 10:38Lembro de assistir na televisão.
-
10:38 - 10:44- Sim, algumas são...
- Essas têm outro tom, sabe? -
10:44 - 10:48O que saiu nessas fotografias,
que eu realmente amo, -
10:48 - 10:50é outro modo de trabalhar.
-
10:50 - 10:53Essa ideia de construir história,
-
10:53 - 10:56não só eu queria que
os alunos pesquisassem, -
10:56 - 11:00estudassem a cena, quando
esses alunos da Kent State morreram, -
11:00 - 11:02quem estava lá,
quem eram os outros -
11:02 - 11:05alunos que morreram,
tinham que fazer todo esse trabalho. -
11:05 - 11:06Mas depois eu pensei,
-
11:06 - 11:09"vamos reconstruí-los de forma
lúdica, artifical, -
11:09 - 11:12todos no pódio, vamos colocar todos ali,
-
11:12 - 11:17e depois vamos mostrar todos
os trilhos, todas as luzes, mostrar tudo. -
11:17 - 11:21Vamos mostrar que todas essas
coisas estão sendo construídas". -
11:24 - 11:27Nesse espaço construído,
nossa sala de aula, -
11:27 - 11:30nós visitamos o passado,
-
11:30 - 11:35os alunos examinam os fatos
e participam da reconstução -
11:35 - 11:36da história.
-
11:36 - 11:39Uma história que lhes foi
contada por outros. -
11:39 - 11:42Mas agora, com seus
próprios corpos. -
11:42 - 11:45Eles interagem com sua
própria escuridão, -
11:45 - 11:46seu próprio inverno.
-
11:47 - 11:50O vídeo que acompanha
essas fotografias -
11:50 - 11:53começa e termina com
Hillary Clinton e Barack Obama. -
11:54 - 11:58Então pensei "ah, ah, ah!"
-
12:01 - 12:03Isso também faz parte,
não faz? -
12:03 - 12:04Também faz parte.
-
12:04 - 12:06Então é isso que estamos
fazendo hoje. -
12:06 - 12:09Ok, moças, vamos!
-
12:09 - 12:12Num estilo parecido,
John McCain, Barack Obama, -
12:12 - 12:14Sarah Palin como miss.
-
12:14 - 12:17Miss Alaska!
-
12:17 - 12:19Tenho todas essas
meninas lindas, -
12:19 - 12:21vindo se arrumar com
saltos altos e meias calças, -
12:21 - 12:22e elas vão andar por aí.
-
12:22 - 12:27E agora, eu acho que Obama
é de fato presidente -
12:27 - 12:28dos Estados Unidos.
-
12:28 - 12:33Para mim, isso dá ao trabalho
ainda mais credibilidade. -
12:33 - 12:34Certo?
-
12:34 - 12:38Que tem de fato
um sucesso no final. -
12:38 - 12:42Cada uma, na sua vez,
vai vir em direção à câmera. -
12:46 - 12:47Tá bom?
-
12:47 - 12:50Essa é uma das coisas que faremos,
então temos que nos preparar. -
12:50 - 12:53Vocês vão começar a andar
nessa direção. -
12:53 - 12:56Outro dia, eu voltei
para casa de Chicago, -
12:56 - 12:59e imediatamente liguel
meu gravador e fiz -
12:59 - 13:01uma série de ligações
para várias pessoas. -
13:02 - 13:05Todos os tipos de pessoas
com quem tive contato -
13:05 - 13:07durante os últimos anos
-
13:07 - 13:09para perguntá-las o que
estavam pensando, -
13:09 - 13:12se naquele momento
realmente parecia que -
13:12 - 13:14Barack seria presidente.
-
13:16 - 13:20Eu falei que com pessoas que,
pela primeira vez na vida, -
13:20 - 13:24falaram "meu país,
meu país, meu país". -
13:28 - 13:31Porque eu acho que é
realmente se conectar -
13:31 - 13:35com si mesma, com
certa confiança. -
13:35 - 13:38E todas vocês estão envolvidas
em teatro, então todas vão -
13:38 - 13:39trabalhar em frente
a outras pessoas. -
13:39 - 13:43Mas eu acho que é ainda maior,
acho que é sobre se conectar -
13:43 - 13:46com uma história
maior que você. -
13:47 - 13:49Não é sobre você.
-
13:49 - 13:51Não é sobre você.
-
13:52 - 13:56Estamos usando esses corpos
para falar de outra coisa, -
13:56 - 13:58muito maior do que nós.
-
13:59 - 14:03Então achem confiança
na história para a qual -
14:03 - 14:06estamos usando os seus corpos.
-
14:07 - 14:11Um, dois, um dois.
-
14:11 - 14:14Em um instante,
houve uma grande mudança -
14:14 - 14:16na imaginação americana.
-
14:17 - 14:19Em um instante.
-
14:20 - 14:22Pessoas que...
-
14:22 - 14:25que nunca haviam considerado,
africanos americanos que nunca -
14:26 - 14:29haviam considerado
esse lugar como lar. -
14:30 - 14:32Um lugar que os
representasse. -
14:32 - 14:36De repente, falaram "meu país"
e "meu presidente" -
14:36 - 14:39e "meu, meu meu,
-
14:39 - 14:40nosso".
Show all