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A perspetiva duma planta

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    É uma ideia simples sobre a natureza.
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    Quero dizer uma palavra sobre a natureza
  • 0:04 - 0:07
    porque não temos falado muito dela
    nestes últimos dias.
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    Quero dizer uma palavra sobre o solo
    e as abelhas e as plantas e os animais
  • 0:11 - 0:16
    e falar-vos de um utensílio,
    muito simples, que encontrei.
  • 0:18 - 0:22
    Embora não passe de um conceito
    literário — não é uma tecnologia —
  • 0:23 - 0:27
    é muito poderoso para mudar
    a nossa relação com o mundo natural
  • 0:28 - 0:31
    e com as outras espécies
    de que dependemos.
  • 0:31 - 0:34
    Esse utensílio é muito simples
    — como Chris sugeriu —
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    para olhar para nós mesmos e para o mundo
    na perspetiva das plantas ou dos animais.
  • 0:40 - 0:42
    A ideia não é minha,
    é de outras pessoas,
  • 0:43 - 0:46
    mas tentei levá-la a novos horizontes.
  • 0:46 - 0:48
    Vou dizer-vos onde a levei.
  • 0:48 - 0:52
    Tal como muitas das minhas ideias,
    como muitos dos utensílios que uso,
  • 0:52 - 0:55
    encontrei-o no jardim
    — sou um jardineiro dedicado.
  • 0:56 - 1:00
    Um dia, há sete anos,
    eu estava a plantar batatas.
  • 1:00 - 1:02
    Era a primeira semana de maio,
  • 1:02 - 1:06
    estava na Nova Inglaterra, quando
    as macieiras vibram com flores,
  • 1:06 - 1:09
    são nuvens brancas lá em cima.
  • 1:09 - 1:11
    Eu estava ali, a plantar os rebentos,
  • 1:11 - 1:13
    a cortar as batatas e a plantá-las,
  • 1:13 - 1:16
    e as abelhas andavam
    à volta desta árvore
  • 1:16 - 1:18
    — abelhas que faziam vibrar tudo.
  • 1:19 - 1:21
    Uma das coisas de que gosto
    na jardinagem
  • 1:21 - 1:24
    é que não exige toda a nossa concentração.
  • 1:24 - 1:27
    Não podemos magoar-nos
    — não é como a carpintaria —
  • 1:27 - 1:31
    e temos muito espaço mental
    para a especulação.
  • 1:32 - 1:35
    A pergunta que fiz a mim mesmo
    naquela tarde, no jardim,
  • 1:36 - 1:38
    a trabalhar ao pé das abelhas,
  • 1:38 - 1:42
    foi: "O que é que havia de comum
    entre aquelas abelhas e eu?"
  • 1:42 - 1:46
    Em que é que o nosso papel
    naquele jardim era semelhante e diferente?
  • 1:46 - 1:48
    Percebi que, na realidade,
    tínhamos muito em comum.
  • 1:48 - 1:52
    Ambos andávamos a disseminar
    os genes de uma espécie,
  • 1:52 - 1:54
    e não de outra qualquer.
  • 1:54 - 1:58
    e ambos — provavelmente, visto
    que não sei qual a perspetiva da abelha —
  • 1:58 - 2:01
    pensávamos que nós
    é que ditávamos as regras.
  • 2:01 - 2:04
    Eu tinha decidido qual o tipo
    de batatas que queria plantar
  • 2:05 - 2:08
    — tinha escolhido a Yukon Gold,
    a Yellow Finn, ou lá que era —
  • 2:09 - 2:13
    tinha encomendado aqueles genes
    num catálogo a nível nacional.
  • 2:13 - 2:16
    tinha-os recebido e estava a plantá-los.
  • 2:16 - 2:20
    A abelha, sem dúvida,
    achava que tinha decidido:
  • 2:20 - 2:23
    "Vou para aquela macieira,
    vou para aquelas flores,
  • 2:23 - 2:26
    "vou arranjar néctar e depois
    vou-me embora".
  • 2:27 - 2:31
    Temos uma gramática que sugere
    que é assim que somos;
  • 2:31 - 2:35
    somos sujeitos soberanos na natureza,
    tanto a abelha como eu.
  • 2:35 - 2:41
    Eu planto as batatas, tiro as ervas
    do jardim, domestico as espécies.
  • 2:41 - 2:43
    Mas, naquele dia, ocorreu-me
  • 2:43 - 2:47
    que essa gramática talvez não passe
    de um conceito autossuficiente.
  • 2:48 - 2:51
    Porque a abelha pensa
    que é ela que domina, que reina,
  • 2:51 - 2:53
    mas nós sabemos mais do que ela.
  • 2:53 - 2:56
    Sabemos que o que se passa
    entre a abelha e a flor
  • 2:56 - 3:00
    é que a abelha foi inteligentemente
    manipulada pela flor.
  • 3:00 - 3:03
    Quando digo manipulada,
    falo em sentido darwiniano, ok?
  • 3:03 - 3:07
    Digo que a flor evoluiu uma série
    de características específicas
  • 3:07 - 3:12
    — cor, perfume, sabor, padrão —
    que atraíram aquela abelha.
  • 3:12 - 3:16
    E a abelha foi iludida sabiamente
    a consumir o néctar
  • 3:16 - 3:18
    e a apanhar algum pó nas pernas
  • 3:18 - 3:21
    e a passar para a flor ao lado.
  • 3:22 - 3:24
    A abelha não dita as regras.
  • 3:24 - 3:26
    Então, percebi que eu também não.
  • 3:26 - 3:29
    Eu tinha sido seduzido
    por aquela batata, não por outra
  • 3:29 - 3:33
    para a plantar, espalhar os seus genes,
    dar-lhe um "habitat" um pouco maior.
  • 3:34 - 3:36
    Foi aí que tive essa ideia:
  • 3:36 - 3:39
    "O que aconteceria, se olhássemos para nós
    na perspetiva dessas espécies
  • 3:39 - 3:41
    "que trabalham connosco?"
  • 3:41 - 3:44
    De súbito, a agricultura pareceu-me
    não como uma invenção,
  • 3:44 - 3:46
    não como uma tecnologia humana,
  • 3:46 - 3:48
    mas como uma evolução conjunta
  • 3:48 - 3:51
    em que um grupo de espécies
    muito inteligentes,
  • 3:51 - 3:54
    na sua maioria ervas comestíveis,
    nos exploraram,
  • 3:54 - 3:58
    e imaginaram como nos levar
    a desflorestar o mundo,
  • 3:59 - 4:01
    A competição das ervas, estão a ver?
  • 4:01 - 4:03
    De súbito, tudo me pareceu diferente.
  • 4:03 - 4:07
    De súbito, cortar a relva naquele dia
    foi uma experiência totalmente diferente.
  • 4:07 - 4:11
    Sempre pensara — e até escrevera
    no meu primeiro livro
  • 4:11 - 4:13
    que era um livro sobre jardinagem —
  • 4:13 - 4:16
    que os relvados eram a natureza
    sob a bota da cultura,
  • 4:16 - 4:19
    que eram paisagens totalitárias
  • 4:19 - 4:23
    e que, quando os aparamos,
    estamos a suprimir cruelmente a espécie
  • 4:23 - 4:27
    sem nunca os deixar criar sementes,
    morrer ou fazer sexo.
  • 4:27 - 4:28
    Era isso que era o relvado.
  • 4:28 - 4:33
    Mas depois percebi: "Não, isto é
    o que as ervas querem que façamos.
  • 4:33 - 4:38
    "Sou idiota, sou o idiota dos relvados,
    cujo objetivo de vida
  • 4:38 - 4:42
    "é suplantar as árvores
    com quem competem pela luz solar".
  • 4:43 - 4:47
    Ao obrigar-nos a aparar o relvado,
    impedimos que as árvores regressem,
  • 4:47 - 4:50
    o que na Nova Inglaterra
    acontece muito depressa.
  • 4:50 - 4:53
    Comecei a olhar para as coisas
    sob esta perspetiva
  • 4:53 - 4:55
    e escrevi um livro a que chamei
    "A Botânica do Desejo".
  • 4:55 - 4:58
    Percebi que, tal como
    podemos olhar para uma flor
  • 4:58 - 5:01
    e deduzir todo o tipo
    de coisas interessantes
  • 5:01 - 5:04
    sobre os gostos e os desejos das abelhas
  • 5:04 - 5:08
    — que elas gostam da doçura,
    gostam desta cor e daquela não,
  • 5:08 - 5:09
    que gostam de simetria —
  • 5:09 - 5:12
    o que podemos encontrar em nós
    fazendo a mesma coisa?
  • 5:13 - 5:16
    O que é que um certo tipo
    de batatas, um certo tipo de droga,
  • 5:16 - 5:21
    o cruzamento uma sativa com uma indica
    de canábis, têm a dizer sobre nós?
  • 5:23 - 5:26
    Não seria uma forma interessante
    de olhar para o mundo?
  • 5:27 - 5:29
    Ora bem, o teste de qualquer ideia
  • 5:29 - 5:31
    — eu disse que era um conceito literário —
  • 5:31 - 5:33
    é o que é que ela nos dá?
  • 5:34 - 5:37
    Quando falamos da natureza,
    que é o meu objetivo enquanto escritor,
  • 5:37 - 5:41
    como é que ela resolve
    o teste de Aldo Leopold?
  • 5:41 - 5:45
    Ou seja, torna-nos melhores cidadãos
    da comunidade biótica?
  • 5:45 - 5:46
    Leva-nos a fazer coisas
  • 5:46 - 5:51
    que conduzem
    ao apoio e perpetuação da biota,
  • 5:51 - 5:53
    em vez da sua destruição?
  • 5:53 - 5:55
    E defendo que esta ideia faz isso.
  • 5:55 - 5:59
    Vou referir o que ganhamos quando olhamos
    para o mundo desta forma,
  • 5:59 - 6:02
    para além de algumas opiniões
    divertidas sobre o desejo humano.
  • 6:03 - 6:06
    Enquanto matéria intelectual,
  • 6:06 - 6:10
    olhar para o mundo
    na perspetiva de outra espécie
  • 6:10 - 6:13
    ajuda-nos a lidar
    com uma anomalia esquisita
  • 6:13 - 6:17
    — e continuamos no reino
    da história intelectual.
  • 6:17 - 6:21
    Tibmos a revolução darwiniana há 150 anos
  • 6:21 - 6:23
    Pf! Que pequenino que eu era!
  • 6:24 - 6:26
    (Risos)
  • 6:27 - 6:32
    Tivemos a revolução intelectual,
    darwiniana em que, graças a Darwin,
  • 6:32 - 6:35
    percebemos que somos apenas
    uma espécie entre muitas;
  • 6:35 - 6:36
    a evolução funciona em nós
  • 6:36 - 6:39
    do mesmo modo que funciona
    em todas as outras;
  • 6:39 - 6:41
    somos condicionados,
    tal como condicionamos.
  • 6:41 - 6:45
    Estamos de facto na fibra,
    no tecido da vida.
  • 6:45 - 6:49
    Mas o estranho é que não absorvemos
    esta lição de há 150 anos;
  • 6:49 - 6:51
    nenhum de nós acredita nisso.
  • 6:51 - 6:55
    Continuamos cartesianos
    — filhos de Descartes —
  • 6:55 - 7:00
    que acreditam que a subjetividade,
    a consciência, nos coloca aparte;
  • 7:00 - 7:04
    que o mundo está dividido
    em sujeitos e objetos;
  • 7:04 - 7:07
    que só há natureza de um lado,
    e cultura do outro.
  • 7:08 - 7:12
    Logo que começamos a ver as coisas
    na perspetiva da planta ou do animal,
  • 7:12 - 7:15
    percebemos que o verdadeiro
    conceito literário é esse,
  • 7:15 - 7:19
    é a ideia de que a natureza
    se opõe à cultura,
  • 7:19 - 7:23
    a ideia de que a consciência é tudo.
  • 7:23 - 7:26
    — e isso é outra coisa muito importante.
  • 7:27 - 7:30
    Olhar para o mundo
    na perspetiva de outras espécies
  • 7:30 - 7:34
    é uma cura para a doença
    da autoimportância do ser humano.
  • 7:34 - 7:39
    De repente, percebemos
    que a consciência humana
  • 7:39 - 7:41
    que valorizamos e consideramos
  • 7:41 - 7:45
    a coroa das proezas da natureza,
  • 7:45 - 7:50
    é apenas mais um conjunto de instrumentos
    para avançar no mundo.
  • 7:50 - 7:53
    E é natural pensarmos
    que é o melhor instrumento.
  • 7:54 - 7:56
    Mas há um comediante que disse:
  • 7:56 - 8:00
    "Quem é que me diz que a consciência
    é uma coisa muito boa e muito importante?
  • 8:00 - 8:01
    "É a consciência".
  • 8:02 - 8:03
    Quando olhamos para as plantas,
  • 8:03 - 8:05
    percebemos que elas são
    outros instrumentos
  • 8:05 - 8:07
    e são igualmente interessantes.
  • 8:07 - 8:12
    Vou dar-vos dois exemplos,
    também do jardim: feijão-manteiga.
  • 8:12 - 8:16
    Sabem o que um feijão-manteiga faz
    quando é atacada por traças?
  • 8:16 - 8:19
    Liberta um químico volátil
    que se espalha pelo ar
  • 8:19 - 8:23
    e convoca outras espécies de traças
  • 8:23 - 8:27
    que aparecem e atacam as traças
    defendendo o feijão-manteiga.
  • 8:27 - 8:33
    Enquanto nós temos consciência,
    fabrico de instrumentos, linguagem,
  • 8:33 - 8:35
    as plantas têm bioquímica.
  • 8:35 - 8:39
    E aperfeiçoaram-na a um nível
    muito para além do que julgamos.
  • 8:39 - 8:44
    A sua complexidade, a sua sofisticação,
    é uma coisa que nos maravilha
  • 8:44 - 8:47
    e penso que é o escândalo do
    Projeto do Genoma Humano.
  • 8:47 - 8:52
    Entrámos nele, julgando
    que havia 40 000 ou 50 000 genes humanos
  • 8:52 - 8:56
    e acabámos apenas com 23 000.
  • 8:57 - 9:02
    Só para vos dar um termo de comparação,
    o arroz tem 35 000 genes.
  • 9:03 - 9:06
    Então, quem é a espécie mais sofisticada?
  • 9:06 - 9:08
    Somos todos igualmente sofisticados.
  • 9:08 - 9:10
    Temos evoluído, ao mesmo tempo,
  • 9:12 - 9:14
    ao longo de diferentes caminhos.
  • 9:14 - 9:17
    Portanto, para curar a autoimportância,
  • 9:17 - 9:22
    para percebermos a ideia de Darwin.
  • 9:22 - 9:25
    É isso que eu faço, enquanto escritor,
    contador de histórias,
  • 9:25 - 9:28
    tento que as pessoas sintam o que sabemos
  • 9:28 - 9:32
    e conto histórias que nos ajudem
    a pensar ecologicamente.
  • 9:32 - 9:34
    O outro uso para isto é prático.
  • 9:34 - 9:37
    Vou levar-vos agora a uma quinta
  • 9:37 - 9:41
    porque usei esta ideia para desenvolver
    a minha compreensão do sistema alimentar
  • 9:41 - 9:46
    e aprendi que, neste momento,
    estamos a ser manipulados pelo milho.
  • 9:46 - 9:50
    A conversa que ouviram esta manhã
    sobre o etanol
  • 9:50 - 9:55
    para mim, é o triunfo final do milho
    sobre o bom senso.
  • 9:55 - 9:57
    (Risos)
  • 9:58 - 10:00
    (Aplausos)
  • 10:00 - 10:03
    É uma parte do plano do milho
    para dominar o mundo.
  • 10:03 - 10:04
    (Risos)
  • 10:04 - 10:06
    A quantidade de milho plantado este ano
  • 10:06 - 10:08
    aumentará drasticamente
    em relação ao ano passado
  • 10:08 - 10:10
    e haverá um "habitat" muito maior
  • 10:10 - 10:13
    porque decidimos que o etanol
    vai ajudar-nos.
  • 10:13 - 10:17
    Isso ajudou-me a compreender
    a agricultura industrial
  • 10:17 - 10:18
    que é um sistema cartesiano.
  • 10:18 - 10:21
    Baseia-se na ideia de que
    dominamos as outras espécies
  • 10:21 - 10:22
    conforme queremos
  • 10:22 - 10:25
    e que somos nós que mandamos,
    e criamos aquelas fábricas
  • 10:25 - 10:28
    e temos estas contribuições tecnológicas
    e obtemos comida a partir delas
  • 10:28 - 10:30
    ou o combustível ou o que quisermos.
  • 10:30 - 10:33
    Vou levar-vos a um tipo de quinta
    muito diferente.
  • 10:33 - 10:36
    Esta é uma quinta
    no Vale Shenandoah, na Virgínia.
  • 10:36 - 10:39
    Fui à procura de uma quinta
    onde tivessem implementado essas ideias
  • 10:39 - 10:43
    de olhar para as coisas na perspetiva
    de uma espécie e encontrei-a num homem.
  • 10:43 - 10:46
    O agricultor chama-se Joel Salatin.
  • 10:46 - 10:48
    E passei uma semana,
    como aprendiz, na quinta dele.
  • 10:49 - 10:51
    Obtive daí algumas das notícias
    mais esperançosas
  • 10:51 - 10:54
    sobre a nossa relação com a natureza
  • 10:54 - 10:57
    que já encontrei em 25 anos
    de escrita sobre a natureza,
  • 10:57 - 10:58
    Foram estas:
  • 10:58 - 11:00
    a quinta chama-se Polyface,
    que significa...
  • 11:00 - 11:04
    a ideia é que ele tem seis espécies
    diferentes de animais, assim como plantas,
  • 11:04 - 11:07
    a crescer numa organização simbiótica
    muito elaborada.
  • 11:07 - 11:10
    É permacultura, há aqui quem saiba
    o que isto é.
  • 11:11 - 11:16
    As vacas e os porcos,
    as ovelhas e os perus e...
  • 11:17 - 11:19
    que mais é que ele tem?
  • 11:19 - 11:22
    Todas as seis espécies diferentes
    — e coelhos —
  • 11:22 - 11:25
    todos prestam serviços ecológicos
    uns aos outros,
  • 11:25 - 11:28
    ou seja, o esterco de uns
    é o almoço de outros
  • 11:28 - 11:30
    e tomam conta dos parasitas
    uns dos outros.
  • 11:30 - 11:33
    É uma dança muito elaborada e bela,
  • 11:33 - 11:36
    mas vou dar-vos um grande plano
    duma pequena parte.
  • 11:36 - 11:42
    É a relação entre as vacas
    e as galinhas poedeiras.
  • 11:42 - 11:46
    Vou mostrar-vos, se nos aproximarmos,
    o que é que vemos?
  • 11:46 - 11:48
    Isto é muito mais
    do que produzir alimentos,
  • 11:48 - 11:50
    É uma forma diferente
    de pensar na natureza
  • 11:50 - 11:54
    e uma forma de se afastar
    da noção de soma zero,
  • 11:54 - 11:58
    a ideia cartesiana de que
    ou a natureza ganha ou ganhamos nós.
  • 11:58 - 12:01
    E para obtermos o que queremos,
    a natureza é minimizada.
  • 12:01 - 12:03
    Assim, um dia, as vacas estão num cercado.
  • 12:03 - 12:06
    A única tecnologia envolvida
    é uma vedação eletrificada barata
  • 12:06 - 12:09
    relativamente nova, ligada
    a uma bateria de automóvel;
  • 12:09 - 12:12
    até eu podia acartar uma vedação
    para um cercado de 10 ares
  • 12:12 - 12:13
    e colocá-la em 15 minutos.
  • 12:13 - 12:16
    As vacas pastam durante um dia.
    Mudam de local.
  • 12:16 - 12:18
    Pastam tudo o que veem,
    é pastagem intensiva.
  • 12:19 - 12:21
    Ele espera três dias
  • 12:21 - 12:23
    depois, reboca uma coisa
    chamada Eggmobile.
  • 12:23 - 12:26
    O Eggmobile é uma engenhoca
    muito raquítica
  • 12:26 - 12:29
    — parece uma carroça coberta
    feita de tábuas —
  • 12:29 - 12:32
    mas contém 350 galinhas.
  • 12:32 - 12:37
    Reboca-a para o cercado, três dias
    depois, abre uma rampa,
  • 12:38 - 12:42
    fá-las descer e 350 galinhas
    correm pela passarela,
  • 12:42 - 12:44
    cacarejando, como as galinhas fazem
  • 12:44 - 12:48
    e vão direitas à bosta das vacas.
  • 12:48 - 12:50
    E fazem uma coisa muito interessante
  • 12:50 - 12:53
    esgaravatam entre a bosta das vacas
  • 12:53 - 12:56
    à procura de larvas, larvas das moscas.
  • 12:57 - 12:59
    Ele esperou três dias
  • 12:59 - 13:04
    porque sabe que, ao quarto ou quinto dia
    as larvas vão eclodir
  • 13:04 - 13:06
    e terá um problema enorme de moscas.
  • 13:06 - 13:08
    Mas espera esse tempo todo
  • 13:08 - 13:11
    para elas serem grandes,
    sumarentas e saborosas.
  • 13:11 - 13:15
    porque são a forma de proteínas
    preferidas pelas galinhas.
  • 13:15 - 13:17
    As galinhas fazem uma espécie de dança
  • 13:17 - 13:21
    e andam em volta do esterco
    para apanhar as larvas.
  • 13:21 - 13:24
    Ao mesmo tempo, vão espalhando o esterco.
  • 13:24 - 13:27
    Um segundo serviço
    muito útil para o ecossistema.
  • 13:27 - 13:30
    Terceiro, enquanto estão neste cercado
  • 13:30 - 13:33
    claro que vão defecando,
    loucamente
  • 13:33 - 13:38
    e o seu esterco muito azotado
    está a fertilizar aquele terreno.
  • 13:39 - 13:42
    Depois passam para o seguinte.
  • 13:42 - 13:48
    No decurso de poucas semanas,
    a erva entra num crescimento louco.
  • 13:49 - 13:52
    Ao fim de quatro ou cinco semanas,
    pode voltar a fazer o mesmo.
  • 13:52 - 13:55
    Podem pastar de novo, pode cortá-la,
    pode levar para lá outra espécie,
  • 13:55 - 13:59
    como os cordeiros, ou pode fazer
    feno para o inverno.
  • 14:00 - 14:03
    Gostava que observassem com atenção
    o que acontecia ali.
  • 14:03 - 14:04
    É um sistema muito produtivo.
  • 14:05 - 14:07
    Devo dizer-vos que, em 40 hectares,
  • 14:07 - 14:10
    ele obtém 18 toneladas de carne de vaca,
    14 toneladas de carne de porco,
  • 14:10 - 14:14
    25 000 dúzias de ovos, 20 000 frangos,
    1000 perus, 1000 coelhos
  • 14:14 - 14:16
    — uma quantidade enorme de comida.
  • 14:16 - 14:19
    Ouvimos dizer:
    "O orgânico pode alimentar o mundo?"
  • 14:19 - 14:22
    Vejam a quantidade de comida
    que se pode produzir em 40 hectares
  • 14:22 - 14:25
    se dermos a cada espécie
    aquilo que ela quer,
  • 14:25 - 14:30
    deixá-la realizar os seus desejos,
    as suas diferenças fisiológicas.
  • 14:30 - 14:32
    Ponhamos isto em prática.
  • 14:33 - 14:35
    Mas agora vejam isto
    na perspetiva da erva.
  • 14:36 - 14:38
    O que acontece à erva
    quando fazemos isto?
  • 14:38 - 14:43
    Quando um ruminante pasta a erva,
    a erva passa desta altura a esta altura
  • 14:44 - 14:46
    e faz imediatamente
    uma coisa muito interessante.
  • 14:46 - 14:50
    Todos os que jardinam sabem
    o que é o rácio caule/raiz.
  • 14:50 - 14:53
    As plantas precisam
    de manter a massa da raiz
  • 14:53 - 14:57
    num certo equilíbrio com a massa
    das folhas para ser feliz.
  • 14:57 - 15:00
    Quando perdem muita massa de folhas,
    secam raízes;
  • 15:00 - 15:04
    é como se as cauterizassem
    e as raízes morrem.
  • 15:04 - 15:07
    As espécies no solo
    começam a trabalhar
  • 15:07 - 15:11
    comendo essas raízes,
    decompondo-as
  • 15:11 - 15:16
    — as minhocas, os fungos, as bactérias —
    e o resultado é um novo solo.
  • 15:17 - 15:19
    É assim que se cria o solo.
  • 15:19 - 15:21
    Cria-se de baixo para cima.
  • 15:21 - 15:23
    É assim que se formaram as pradarias,
  • 15:23 - 15:25
    a relação entre bisontes e ervas.
  • 15:26 - 15:29
    O que percebi quando compreendi isto...
  • 15:29 - 15:33
    Joel Salatin dirá que não é
    criador de galinhas,
  • 15:33 - 15:36
    não é criador de ovelhas, não é vaqueiro,
  • 15:36 - 15:38
    é criador de ervas,
  • 15:38 - 15:42
    porque a erva é a espécie fundamental
    daquele sistema.
  • 15:43 - 15:48
    Percebi que isto contradiz totalmente
  • 15:48 - 15:51
    a ideia trágica da natureza
    que temos na nossa cabeça.
  • 15:52 - 15:56
    ou seja, que para nós obtermos
    o que queremos, a natureza é minimizada.
  • 15:56 - 15:59
    Mais para nós, menos para a natureza,
  • 16:00 - 16:04
    Toda aquela comida é proveniente
    daquela quinta e, no fim da estação,
  • 16:04 - 16:10
    há mais solo, mais fertilidade
    e mais biodiversidade.
  • 16:11 - 16:14
    É uma coisa esperançosa notável.
  • 16:14 - 16:16
    Há muitos agricultores
    a fazer isto atualmente.
  • 16:16 - 16:18
    Isto é muito para além
    da agricultura orgânica,
  • 16:18 - 16:21
    que continua a ser, mais ou menos,
    um sistema cartesiano
  • 16:23 - 16:27
    O que nos diz é que, se começarmos
    a preocupar-nos com as outras espécies,
  • 16:27 - 16:34
    a preocupar-nos com o solo,
    nem que seja só com esta ideia
  • 16:35 - 16:38
    — porque não há tecnologia envolvida
    exceto naquelas vedações
  • 16:39 - 16:42
    que são tão baratas que podiam
    estar espalhadas por toda a África
  • 16:42 - 16:44
    num abrir e fechar de olhos —
  • 16:44 - 16:48
    de que podemos tirar da terra
    a comida de que precisamos
  • 16:48 - 16:52
    e curar a Terra, neste processo.
  • 16:52 - 16:55
    É uma forma de reanimar o mundo,
  • 16:55 - 16:57
    e é o que é tão excitante
    nesta perspetiva.
  • 16:57 - 17:01
    Quando começamos a sentir
    a visão de Darwin nos ossos
  • 17:01 - 17:05
    as coisas que podemos fazer
    apenas com estas ideias
  • 17:05 - 17:08
    são uma coisa em que podemos
    ter muitas esperanças.
  • 17:08 - 17:09
    Muito obrigado.
Title:
A perspetiva duma planta
Speaker:
Michael Pollan
Description:

E se a consciência humana não é o mais importante do darwinismo? E se somos todos peões de uma engenhosa estratégia do milho para dominar a Terra? O escritor Michael Pollan pede-nos para ver o mundo na perspetiva de uma planta.

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English
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TEDTalks
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