A Captura de Cristo de Caravaggio: Great Art Explained
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0:01 - 0:04Na viragem para o século XVII,
Roma era o local ideal para um artista. -
0:05 - 0:06[Concílio de Trento]
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0:06 - 0:08A contra-reforma estava no auge.
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0:08 - 0:11e a igreja encomendava
centenas de novas obras de arte -
0:11 - 0:13para serem usadas como poderosas
armas de propaganda -
0:14 - 0:15contra a fé Protestante.
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0:16 - 0:18A arte religiosa tinha perdido o pé
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0:18 - 0:20e pedia-se aos artistas que produzissem
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0:20 - 0:22obras envolventes
emocionalmente e intensas, -
0:22 - 0:26acessíveis e suficientemente realistas
para inspirarem as massas. -
0:26 - 0:30Caravaggio que preferia passar o tempo
numa taberna em vez duma igreja -
0:30 - 0:32compreendia melhor as massas
do que ninguém. -
0:33 - 0:37Tinha chegado a Roma em 1592,
jovem, falido e sem casa, -
0:38 - 0:41depois de ter tido problemas
com as autoridades em Milão. -
0:42 - 0:44Roma era uma cidade
onde freiras e cardeais -
0:44 - 0:47ombreavam com gangues e prostitutas.
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0:47 - 0:50E o recém-chegado encaixava-se bem nela.
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0:51 - 0:53É impossível separar
o Caravaggio criminoso -
0:53 - 0:56do Caravaggio pintor de imagens sagradas.
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0:56 - 0:59Nenhum deles podia existir sem o outro.
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0:59 - 1:03Ele vivia num mundo
em que a honra era tudo, -
1:03 - 1:05o mais pequeno insulto
tinha de ser vingado. -
1:06 - 1:07E Caravaggio, de sangue na guelra,
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1:07 - 1:10andaria sempre a fugir de problemas.
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1:10 - 1:14Caravaggio rompeu com as regras da arte
tal como as da sua vida. -
1:14 - 1:16Olhou para o lado sombrio
da história cristã -
1:17 - 1:20e aproveitou o lado mais sórdido
e menos saboroso. -
1:20 - 1:24A arte de Caravaggio ia representar
o mundo tal como ele é -
1:24 - 1:26e não como ele devia ser.
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1:26 - 1:28Para grande horror do clero.
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1:28 - 1:31acentuava a pobreza
e a humanidade vulgar -
1:31 - 1:33de Cristo e dos seus seguidores
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1:33 - 1:36usando trabalhadores vulgares
como modelos, -
1:37 - 1:40alguns dos quais considerados
como a escumalha da cidade: -
1:40 - 1:44prostitutas, pedintes e jovens a soldo.
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1:44 - 1:46Iria escandalizar Roma
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1:46 - 1:49retratando a Virgem Maria
com os pés sujos, -
1:49 - 1:52São Pedro como um velho
amedrontado e desorientado. -
1:53 - 1:58A Igreja tinha-lhe pedido realismo
e seria o que Caravaggio lhe ia dar. -
1:59 - 2:002. O BEIJO DA MORTE
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2:00 - 2:03A estranha história
da traição com um beijo -
2:03 - 2:06é um tema que tem fascinado
os italianos há séculos. -
2:06 - 2:09O tema tem sido pintado
por centenas de artistas -
2:09 - 2:12mas nunca com uma honestidade tão brutal.
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2:13 - 2:16É vantajoso comparar
a versão de Caravaggio da traição -
2:16 - 2:19com uma versão mais antiga
de um artista também revolucionário, -
2:19 - 2:21mas muito diferente, Giotto.
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2:22 - 2:25Giotto dá-nos uma imagem mais completa
e mais caótica dos acontecimentos -
2:25 - 2:28que resultaram na crucificação de Jesus.
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2:29 - 2:32Caravaggio ignora
as personagens acessórias -
2:32 - 2:35e limita-se às essenciais,
ao núcleo emocional. -
2:37 - 2:40Estamos habitudos a ver o close-up
no cinema e na TV, -
2:40 - 2:45mas era invulgar no século XVII
ter cenas representadas de tão perto. -
2:46 - 2:49A obra de Giotto passa-se
num cenário longínquo. -
2:49 - 2:52A de Caravaggio passa-se
a centímetros da nossa cara. -
2:52 - 2:55Giotto põe Cristo a ser preso
por um exército. -
2:55 - 2:58Com Caravaggio, parece-se mais
com uma briga de rua. -
2:59 - 3:02Ambas as versões ocorrem de noite,
porque os Evangelhos referem -
3:02 - 3:05"depois da refeição da noite
e das orações". -
3:05 - 3:07Mas o ambiente noturno de Caravaggio
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3:07 - 3:10é um mundo em que a violência
se esconde nas sombras. -
3:11 - 3:16Não há pano de fundo, nem arquitetura,
nem jardins, apenas escuridão. -
3:16 - 3:19Só o luar duma lua oculta
ilumina a cena -
3:19 - 3:24— da esquerda para a direita, a direção
da luz preferida que Caravaggio usava. -
3:24 - 3:29É quase como um projetor sobre Jesus
e Judas e sugere uma luz divina. -
3:29 - 3:32Embora o homem mais afastado
esteja a segurar numa lanterna, -
3:32 - 3:35na verdade, é uma fonte de luz sem efeito.
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3:35 - 3:37A luz refletida na armadura
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3:37 - 3:40parece ser proveniente
da direção do espetador. -
3:40 - 3:43Na versão de Giotto, é óbvio
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3:43 - 3:45que estamos a assistir
a um acontecimento religioso. -
3:45 - 3:48Na versão de Caravaggio, ele pergunta-nos:
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3:48 - 3:51"Como seria, se Jesus parecesse
um homem vulgar -
3:51 - 3:52"quando foi preso?"
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3:52 - 3:54"Como é que saberíamos?"
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3:54 - 3:59Cravaggio realça a humanidade de Cristo
em vez da sua divindade como Nosso Senhor. -
4:00 - 4:02Giotto mostra uma grande multidão,
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4:02 - 4:05mas, na versão de Caravaggio,
só há sete personagens. -
4:06 - 4:10Ele limita a multidão a quatro homens
mas está implícito um número maior -
4:10 - 4:12pela forma como eles estão apinhados.
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4:12 - 4:14Se iluminarmos a pintura,
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4:14 - 4:17conseguimos perceber vestígios de lanças,
sugerindo mais soldados. -
4:18 - 4:203. SETE
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4:20 - 4:23As personagens principais
da esquerda para a direita são: -
4:23 - 4:26João, Jesus, Judas, um soldado,
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4:27 - 4:29outro soldado, um homem
a segurar numa lanterna, -
4:29 - 4:32e, por detrás dele, outro soldado.
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4:33 - 4:36Ambas as versões mostram-no
a ser puxado pelo manto, -
4:36 - 4:39referido na Bíblia
por uma personagem sem nome. -
4:40 - 4:43Tem-se discutido a identidade
da figura que foge, em ambas as versões, -
4:44 - 4:46ou, na maioria dos casos,
é apenas ignorada. -
4:47 - 4:51Não há uma informação definitiva
mas penso que Caravaggio e Giotto -
4:51 - 4:54pretendiam que fosse João, o Evangelista.
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4:54 - 4:56João é o discípulo mais novo
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4:56 - 4:59e, por isso, geralmente
é representado imberbe. -
4:59 - 5:03Caravaggio representa-o imberbe,
com trajes vermelhos e verdes -
5:03 - 5:05que, como vemos, são as cores
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5:05 - 5:09quase sempre, mas nem sempre,
associadas a João. -
5:09 - 5:11Na versão de Caravaggio,
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5:11 - 5:15penso que John representa
todos os apóstolos em fuga, -
5:15 - 5:18e, como João era o mais amado,
devia ser visto como contrapartida -
5:19 - 5:21para a traição de Judas.
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5:21 - 5:24O interessante é como João e Jesus
têm cabelo idêntico -
5:24 - 5:28e parecem estar a fundir-se num só ser.
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5:28 - 5:30Cristo vai ser preso e vai ser crucificado
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5:30 - 5:35e João vai escapar e vai ser
o propagador e protetor da fé. -
5:36 - 5:40A imagem sugere que a Igreja,
que será representada pelos apóstolos, -
5:40 - 5:43emana diretamente do próprio Cristo.
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5:44 - 5:47O manto de João parece um halo
por cima de Cristo. -
5:47 - 5:51O vermelho simboliza o "martírio"
ou o sangue de Cristo. -
5:52 - 5:55Giotto também usa o vermelho
simbolicamente. -
5:56 - 6:00Uma das primeiras coisas que nos choca
em Jesus em ambas as imagens -
6:00 - 6:02é a sua falta de emoção.
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6:02 - 6:06Mas, segundo a Bíblia, Jesus sabia
que Judas o ia trair, -
6:06 - 6:11e isso — segundo a tradição cristã —
seria a salvação da Humanidade. -
6:11 - 6:13Portanto, a reação triste de Jesus
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6:13 - 6:15é de resignação mas não de surpresa.
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6:16 - 6:19Penso que na versão de Caravaggio
se nota a aceitação de Cristo -
6:19 - 6:23mas também o receio
do futuro iminente. -
6:24 - 6:26Na versão de Caravaggio,
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6:26 - 6:29Judas é uma figura
muito mais versátil e humana -
6:29 - 6:31do que o vilão que Giotto apresenta.
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6:31 - 6:35A face dele é um estudo poderoso
de emoções contraditórias -
6:35 - 6:38de amor e ciúme, de ódio e orgulho.
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6:38 - 6:41Judas parece atormentado
pelo que vai acontecer. -
6:42 - 6:46Depois de ter traído Jesus,
parece estar arrependido -
6:46 - 6:48e agarra-se a ele para lhe salvar a vida,
-
6:48 - 6:50forçando o soldado a afastar as mãos.
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6:51 - 6:54Até nos Evangelhos, Judas nunca é visto
-
6:54 - 6:57com a complexidade psicológica
que Caravaggio nos mostra. -
6:58 - 7:02Na maioria das representações,
Judas age sob a influência de Satã -
7:02 - 7:04ou por mera ganância.
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7:05 - 7:08Vemos muito pouco
das características dos soldados, -
7:08 - 7:11não têm cara mas são implacáveis.
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7:11 - 7:14O braço revestido a metal polido
do oficial romano -
7:14 - 7:17aparece mesmo no centro da tela.
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7:17 - 7:20O rígido metal preto
serve de poderoso contraste -
7:20 - 7:23com a carne vulnerável
de um Cristo indefeso. -
7:24 - 7:26A composição é ntidamente inspirada
-
7:26 - 7:30numa gravura de Dürer
feita 100 anos antes. -
7:32 - 7:35Há quem sugira que a superfície
refletora da armadura -
7:35 - 7:37serve de espelho.
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7:37 - 7:38Caravaggio pode estar a apresenta
-
7:38 - 7:40um espelho virado
para nós, o espetador, -
7:40 - 7:43para nos lembrar que,
teologicamente falando, -
7:43 - 7:45todos somos pecadores à nascença.
-
7:45 - 7:49O braço do soldado, juntamente
com os panos revoltos do manto de João -
7:49 - 7:51formam "uma imagem
dentro duma imagem" -
7:51 - 7:54sublinhando a história principal.
-
7:54 - 7:57Caravaggio já o fizera antes.
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7:58 - 8:01Este é um autorretrato de Caravaggio.
-
8:01 - 8:04Já tinha havido artistas
que se representavam nas suas pinturas. -
8:04 - 8:07Mas não com um "papel destacado"
enquanto personagem. -
8:08 - 8:10Caravaggio faz isso em diversas pinturas,
-
8:10 - 8:12e nesta de forma mais dramática,
-
8:12 - 8:16pintada numa época em que
tinha a cabeça a prémio. -
8:16 - 8:19Em 1602, estava no auge da sua fama,
-
8:19 - 8:22e seria reconhecível na pintura.
-
8:22 - 8:23Há imensas teorias
-
8:23 - 8:26para explicar porque é que se colocou
tão destacado na pintura -
8:26 - 8:29mas não podemos ignorar
um certo narcisismo. -
8:29 - 8:33A lanterna que segura não consegue
iluminar toda a cena -
8:33 - 8:37mas, simbolicamente, a luz da lanterna
cai sobre a sua mão direita -
8:37 - 8:39o instrumento do seu génio.
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8:39 - 8:43Da mesma forma, vemos a mão de João,
-
8:43 - 8:45a mão com que ele escreve,
-
8:45 - 8:47enquanto autor do Livro das Revelações.
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8:47 - 8:49Nesta composição, Caravaggio
-
8:49 - 8:53traça o paralelo entre si mesmo
e João explicitamente. -
8:54 - 8:56Segundo o pensamento da contra-reforma
-
8:56 - 8:59Caravaggio, enquanto pintor
de imagens cristãs, -
8:59 - 9:01tem como objetivo
a propagação da fé. -
9:01 - 9:04É possível que, na composição,
-
9:04 - 9:07esteja a colocar-se
na linhagem da pregação cristã -
9:07 - 9:10que começa com os apóstolos.
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9:10 - 9:14Caravaggio tinha as suas razões
para acreditar que a redenção -
9:14 - 9:17podia salvar o pecador mais improvável.
-
9:18 - 9:194. TÉCNICAS
-
9:21 - 9:24O uso de Caravaggio do "tenebrismo"
ou seja, o "chiaroescuro" extremo, -
9:24 - 9:26— contrastes violentos —
-
9:26 - 9:28exigia práticas de trabalho
fora do comum. -
9:29 - 9:33Trabalhava num quarto escuro
usando luzes pra dirigir a luz. -
9:34 - 9:36Foi levado uma vez a tribunal
-
9:36 - 9:38por fazer um buraco no teto
do seu apartamento -
9:38 - 9:41para deixar entrar um feixe de luz.
-
9:41 - 9:43Como já vimos em vídeos anteriores,
-
9:43 - 9:46a camada de base tem grande influência
na obra acabada. -
9:46 - 9:50Ao contrário da maioria dos artistas
que usavam uma base de meio tom, -
9:50 - 9:53Caravaggio usava uma base
castanha avermelhada muito escura. -
9:54 - 9:57Podemos reparar nessa base escura
nas bordas da pintura -
9:57 - 9:59onde deve ter existido
antigamente uma moldura. -
10:00 - 10:02Também a vemos
nas sombras e nos meios tons -
10:02 - 10:05numa técnica chamada "a risparmio".
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10:06 - 10:09Os artistas aprendiam que
pintar tons claros numa base escura -
10:09 - 10:11— a forma oposta a como
a maioria dos artistas trabalhava — -
10:11 - 10:13tornavam as cores turvas.
-
10:13 - 10:15Mas Caravaggio usou a base
para criar sombras -
10:15 - 10:18e mostrar o contraste profundo
da luz e sombras. -
10:19 - 10:24As imagens de infravermelhos mostram
que ele não fazia esboços preliminares -
10:24 - 10:28mas pintava diretamente na tela
com uma preparação mínima. -
10:28 - 10:31Não se conhecem desenhos de Caravaggio.
-
10:31 - 10:35Ele trabaljava com modelos vivos
no estúdio, e registava a posição deles -
10:35 - 10:37diretamente na tela,
-
10:37 - 10:40marcando a camada de base com
um estilete ou a ponta afiada do pincel -
10:40 - 10:43par traçar um contorno geral.
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10:44 - 10:48Depois de desenhar essa orientação,
podia voltar a colocar os modelos -
10:48 - 10:51na mesma posição, sempre que necessário.
-
10:51 - 10:54Artistas como Leonardo da Vinci
pintavam vagarosamente. -
10:54 - 10:58camada a camada, deixando secar
cada camada antes de aplicar outra. -
10:59 - 11:02Caravaggio pintava extremamente depressa
-
11:02 - 11:04enquanto a camada base ainda
não tinha secado -
11:04 - 11:08enquanto misturava cores sem esperar
que cada aplicação secasse. -
11:08 - 11:11Ter o modelo que era pago no local
-
11:11 - 11:14contribuía para a velocidade
com que pintava. -
11:14 - 11:17Para os tons de carne,
misturava branco de chumbo -
11:17 - 11:19em pinceladas cada vez mais delicadas.
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11:19 - 11:23e para os retoques finais
usava branco de chumbo puro. -
11:24 - 11:26As imagens a infravermelho revelaram
-
11:26 - 11:29que raramente retocou
"A Captura de Cristo" -
11:29 - 11:31ou alterou a composição
durante o processo d pintura. -
11:32 - 11:35Como exceção é o leve contorno
de uma segunda orelha -
11:35 - 11:38que mostra que a cabeça de Judas
inicialmente estava mais alto. -
11:39 - 11:43"A Captura de Cristo" foi considerada
uma importante obra-prima na sua época, -
11:43 - 11:47mas cedo desapareceu
em misteriosas circunstâncias -
11:47 - 11:49durante 300 anos.
-
11:50 - 11:515. PADRES
-
11:51 - 11:53Embora famoso durante a vida,
-
11:53 - 11:57Caravaggio foi esquecido
quase imediatamente depois de morrer. -
11:57 - 11:59Pura e simplesmente, passou de moda.
-
11:59 - 12:03Mas foi redescoberto pelos críticos
no início do século XX. -
12:03 - 12:06Embora soubessem que ele
tinha pintado "A Captura de Cristo", -
12:06 - 12:08tinham deixado de a ver durante séculos
-
12:08 - 12:12e, na opinião deles,
estava perdida para sempre. -
12:12 - 12:16Ciriaco Mattei tinha encomendado
a pintura a Caravaggio em 1602, -
12:17 - 12:21mas, na altura em que foi vendida
pelos descendentes 200 anos depois, -
12:21 - 12:22a um escocês,
-
12:22 - 12:25julgava-se que era uma cópia
de Gerard van Honthorst. -
12:25 - 12:29Uma mulher irlandesa, de férias
na Escócia em 1921, -
12:29 - 12:32comprou a pintura num antiquário
-
12:32 - 12:34e levou-a para Dublin.
-
12:34 - 12:37Posteriormente, ofereceu a pintura
a sacerdotes jesuítas em Dublin -
12:37 - 12:39que a penduraram na sala de jantar
-
12:40 - 12:43onde ela se manteve, a ganhar pó
durante os 60 anos seguintes, -
12:43 - 12:47Em 1990, os padres mandaram-na restaurar
-
12:47 - 12:49e, para grande espanto do mundo da arte,
-
12:49 - 12:51um especialista descobriu
que não era um cópia -
12:51 - 12:54era um Caravaggio genuíno.
-
12:55 - 13:00Em 1993, a pintura há muito perdida
foi finalmente exposta em público. -
13:02 - 13:05Depois de um assassínio em Roma,
Caravaggio foi para Nápoles, -
13:05 - 13:07depois para Malta, depois par a Sicília.
-
13:08 - 13:10Para onde quer que fosse,
pintou obras-primas -
13:11 - 13:14mas também criou mais inimigos.
-
13:15 - 13:19Depois de passar a vida a fugir,
morreu sozinho numa praia na Toscânia. -
13:20 - 13:24Caravaggio criou obras
profundamente espirituais -
13:24 - 13:26embora vivesse a vida na sarjeta.
-
13:28 - 13:32As suas pinturas são envolventes,
exatamente por causa desta dicotomia. -
13:32 - 13:35Têm uma autenticidade impressionante.
-
13:35 - 13:38que nos atrai
num profundo nível emocional. -
13:39 - 13:42Caravaggio rejeitava
a tradição dominante da pintura italiana -
13:43 - 13:45e pintou cenas cristãs
-
13:45 - 13:48como se estivessem a ocorrer
aqui, neste momento. -
13:49 - 13:51Num estranho paralelo
com "A Captura de Cristo", -
13:51 - 13:54o corpo dele também desapareceu
durante séculos, -
13:55 - 13:58para acabar por ser descoberto em 2010.
-
13:58 - 14:02Novos testes mostraram
que não morrera de sífilis ou de malária -
14:02 - 14:04nem às mãos de nenhum
dos seus muitos inimigos, -
14:04 - 14:06conforme se pensava.
-
14:06 - 14:09Fora envenenado pelo chumbo
das suas pinturas. -
14:09 - 14:11Tradução de Margarida Mariz
(outubro-2022)
- Title:
- A Captura de Cristo de Caravaggio: Great Art Explained
- Description:
-
A Captura de Cristo é uma pintura de Michelangelo Merisi da Caravaggio. O tema é o momento em que o filho de Deus é traído com um beijo e preso no Jardim de Getsémani.
No ano em que pintou este quadro, Caravaggio foi preso por difamação. Um ano depois foi preso por atirar uma travessa de alcachofras quentes a um empregado de mesa,; um ano depois disso, feriu um funcionário e, por fim, em 1606, matou um homem... e passou o resto da vida a fugir.~
Mais do que qualquer outro pintor da História, Caravaggio sabia bem o que era ser perseguido pelas autoridades.
- Video Language:
- English
- Duration:
- 14:12
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Caravaggio's Taking of Christ: Great Art Explained | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Caravaggio's Taking of Christ: Great Art Explained |