-
Sim, Salvatore Di Vita.
-
Como assim, não o conhece?
-
Sim, isso mesmo. Eu sou a mãe.
Estou ligando da Sicília.
-
Tentei o dia todo.
-
Entendi. Não está.
-
Então, por favor, poderia me dar?
-
656-22-056.
-
Obrigada, bom dia.
-
É um telefonema inútil.
-
Está ocupado, sabe-se lá onde está,
e pode ser que nem lembre mais.
-
Ouça o que eu digo, desista.
-
Já faz 30 anos que não aparece.
-
Sabe como ele é.
-
Ele se lembrará. Tenho certeza.
Conheço-o melhor que você.
-
Se descobrir que não o avisamos,
ficará magoado.
-
Gostaria de falar com o Sr. Salvatore.
Sou a mãe dele.
-
Salvatore?
-
Que horas são?
-
É bem tarde.
-
Desculpe...
-
não pude avisar que ia demorar.
-
Durma.
-
Sua mãe telefonou.
-
Confundiu-me com outra.
-
E o que você disse?
-
Nada, não quis desapontá-la.
Conversamos bastante.
-
Ela disse que você
não a visita há 30 anos...
-
e que, quando quer ver você,
ela é que vem a Roma.
-
Telefonou só pra dizer isso?
-
Não. Disse também que
morreu um tal de Alfredo...
-
e o funeral será amanhã.
-
Quem é? Algum parente?
-
Não... Durma.
-
O que vou fazer com esse menino?
-
Totó!
-
Ainda bem.
-
Quando vai entender?
Sem a campainha, eu me perco!
-
Dorme o tempo todo! O que
faz à noite? Fica comendo?
-
Padre Adelfio, lá em casa
não se come nem ao meio-dia!
-
O veterinário concorda!
Por isso tenho sono!
-
Eu explico porque sempre tem sono!
-
Agora faça uma coisa bonita:
Vá embora, tenho o que fazer!
-
- Posso ir também?
- Não pode, não!
-
- Sim! Sim! Sim!
- Totó, xô! Suma!
-
- Eu quero ir!
- Não vai, entendeu? Fora!
-
Alfredo!
-
- Diga.
- Pode começar.
-
Um sinal da cruz, e vamos lá.
-
O enquadramento!
-
"BAS-FONDS"
-
Você sabe que um dia
tudo será nosso, Pepe.
-
Iremos embora juntos
e viveremos sozinhos.
-
Teremos uma vida boa...
-
e ninguém saberá de onde viemos.
-
Pare de sonhar, é inútil.
-
Você já não me ama como antes.
-
Por quê?
-
Não!
-
Dois pares por 100 liras!
Meias finas!
-
Venham, corram!
-
Você não pode vir aqui!
-
O que devo fazer
para que entenda?
-
Se a fita pega fogo, você que
é pequeno queima num segundo!
-
E vou virar carvão.
-
Que língua comprida você tem!
-
Um dia ainda vou cortá-la.
-
Deste jeito.
-
Posso ficar com este?
-
Então, posso?
-
- Posso ficar?!
- Não!
-
Ficou surdo? Preciso devolver
isto junto com a fita!
-
Que diabos!
Você parece um carrapato!
-
Então, por que não
devolveu todos estes?
-
Às vezes não lembro onde cortei,
então ficam aqui.
-
Afinal, beijam-se demais!
-
- Então, posso pegar estes?
- Escute, venha cá.
-
Antes que eu te dê um chute no rabo,
façamos um trato.
-
- Te dou todos aqueles pedaços.
- Obrigado.
-
Nada. Mas: 1º, não apareça mais e,
2º, eu guardo pra você, entendeu?
-
- Está bem.
- Então, de acordo. Suma!
-
Mas que trato é esse?
-
Se os pedaços são meus,
por que ficam com você?
-
Não apareça mais,
ou quebro sua cara!
-
Atire primeiro, pense depois.
-
Este não é um ramo para gente
delicada, seu corno traidor.
-
Ei, você, seu desgraçado.
Abaixe a mão e passe o ouro.
-
Negro sujo.
Fique longe de mim...
-
ou quebro sua cara.
-
Mãe, se a guerra acabou,
por que papai não volta?
-
Vai voltar.
Um dia desses ele volta.
-
Nem lembro mais como ele é.
Onde fica a Rússia?
-
Ir para lá leva anos...
-
e voltar também.
-
Agora vá dormir, é tarde.
-
Pode encher sua mãe, não eu!
-
Trate de conseguir o canudo e
vá ser carabiniere! Desgraçado!
-
Débil mental!
-
E então, quanto é 5 vezes 5?
-
30.
-
Silêncio! Tabuada do 5, seu burro.
-
1 vezes 5 é 5...
-
2 vezes 5 é 10...
-
3 vezes 5 é 15...
-
4 vezes 5 é 20.
-
5 vezes 5?
-
40.
-
Silêncio! Silêncio!
-
Boccia, Boccia! É 25! 25!
-
Se não souberem a tabuada,
nunca acharão trabalho!
-
Pela última vez,
quanto é 5 vezes 5?
-
Natal!
-
- O que é?
- Paguei e quero assistir.
-
Desça daí! Seu diabinho.
-
Não pode ficar aí, vá sentar!
-
Esses infelizes são
piores do que coelhos.
-
Desgraçado...
-
Preciso ir, espere-me
em minha casinha.
-
Esperaria um morto.
-
Um excepcional elenco com
John Wayne e Claire Trevor...
-
garante momentos inesquecíveis.
-
Uma louca corrida por ouro
e também por amor.
-
Quem escapará à selvageria?
-
Boa tarde a todos!
Não posso cumprimentar?
-
- Hoje são duas fitas.
- E daí? Só vim pra dormir.
-
Já decidiu? São americanos.
-
Deixem ver!
-
- Tira isso, Alfredo!
- Ignorante!
-
O INESQUECÍVEL CONGRESSO
DA RESISTÊNCIA
-
A vanguarda de
um povo corajoso...
-
guerreiros clandestinos
que se insurgem...
-
reuniu-se no Teatro Itália, em Roma,
para o Congresso da Resistência...
-
criado pelo CVL e pela ANDI.
Parri presidiu e Sandro Pertini...
-
A TERRA TREME
EPISÓDIO DO MAR
-
INTERPRETAÇÃO DE
PESCADORES SICILIANOS
-
O que está escrito?
-
- Sei lá, sou analfabeto!
- Você também?
-
Sim.
-
Doze horas de cansaço nos ossos...
-
e nem conseguem o bastante
para não morrer de fome.
-
No entanto, quando puxaram
as redes, estavam cheias.
-
Um barco custa 7.750 liras.
-
Parece uma prisão. A gente se
mata de trabalhar, e não tem nada.
-
Fazer o quê? Você sabe
fazer outro trabalho?
-
- Eu sabia!
- Porca miséria!
-
Há 20 anos vou ao cinema!
Nunca vi um beijo!
-
E quando vamos ver?
-
Corno!
-
- Boa noite, Don Vincenzo.
- Tenho trabalho pra vocês.
-
- E eu?
- Você?
-
- Vá pedir pro bigodudo.
- O bigodudo, é? Desgraçado.
-
- Talvez vocês trabalhem.
- Sempre me perseguindo.
-
Bela fita.
-
O menino trabalhava bem.
Pena ser tão azarado.
-
Também, quem mandou
comprar o barco?
-
Cacete! Então, não entendeu nada?
-
Rapazes, entendam:
Aqui se trabalha de sol a sol.
-
E nunca perguntem
quanto vão ganhar.
-
Procurei você o dia todo.
Comprou o leite?
-
- Não.
- Onde está o dinheiro?
-
Roubaram.
-
- Pagou o cinema com ele?
- Sim.
-
O cinema! O cinema!
-
- Dona Maria, o que é isso?
- Ele é tão miudinho!
-
- Miudinho! É um terremoto!
- Por que está dizendo bobagens?
-
Ele entrou de graça.
Vamos, conte à sua mãe.
-
Deve ter perdido
o dinheiro no cinema.
-
- Quanto era?
- 50 liras.
-
O que encontrou hoje
sob as cadeiras?
-
Um pente...
-
duas meias-solas...
-
...uma tabaqueira...
- E...
-
50 liras.
-
Viu?
-
Obrigada. Obrigada, Alfredo.
-
- Boa noite.
- Bom dia.
-
Vamos, ande.
-
- Eu tinha entendido!
- A praça é minha!
-
É meia-noite!
-
Fora! Preciso fechar a praça!
-
Cansa ir a pé, não é, padre?
-
Na ida, que é em descida,
todo santo ajuda...
-
mas, na volta, os santos
ficam só olhando.
-
Seja como Deus quiser.
-
- Até mais, até hoje à noite.
- Até hoje à noite.
-
- Onde dói?
- O pé!
-
O pé? Acontece de
tudo com você, não?
-
O que eu posso fazer?
-
- Alfredo, você conhecia meu pai?
- Conhecia, e muito bem.
-
Era alto, magro e simpático.
Tinha um bigode como o meu.
-
Ria muito.
Parecia com o Clark Gable.
-
- Alfredo!
- Diga.
-
Agora que fiquei maior
e faço a 5ª série...
-
não peço que me deixe
entrar na cabine...
-
mas que tal sermos amigos?
-
Escolho amigos pelo aspecto
e inimigos pela inteligência...
-
e você é esperto demais
para ser meu amigo.
-
Sempre digo aos meus filhos:
-
"Tenham cuidado para escolher
os amigos certos!"
-
Mas você não tem filhos.
-
Mas, quando tiver, é o que direi!
-
Não chore mais, estou aqui!
-
Não tem mais fogo!
Estou aqui, agora.
-
- O que aconteceu?
- Desgraçado!
-
Sua irmã quase morreu queimada!
-
Por sua culpa!
-
Você é a minha ruína!
-
Eu avisei pra não guardar aquilo
debaixo da cama, perto do braseiro!
-
Queimou as fotografias também!
-
- Sempre essa doença do cinema!
- Estava pondo fogo na casa!
-
O que eu fiz pra merecer?!
-
Não se envergonha de brincar
com um menino nessa idade?!
-
Que culpa tenho eu?
-
Quem deu os pedaços de película?
-
Jure que não vai dar mais
essas porcarias! Ele é louco!
-
Fala só de cinema e Alfredo,
Alfredo e cinema!
-
Jure que não o deixará mais
entrar no cinema. Jure!
-
Tem a minha palavra, dona Maria.
-
Só quero uma coisa do Senhor: Que
seu pai volte pra te dar uma surra!
-
O papai não volta mais!
Eu já entendi! Morreu!
-
Não é verdade! Não!
-
Você vai ver como ele volta.
-
Fumam feito turcos!
-
Não, não! Paguem a entrada!
-
Não!
-
O que foi? Se eu não arrebentar um,
que se perca o meu nome!
-
Desgraçados!
-
- Dona Anna!
- Parece bobo!
-
Alfredo.
-
Não é culpa minha. Sua mulher
pediu pra trazer a comida.
-
- Me dá isso!
- Eu contei pra minha mãe...
-
que você não me deu as películas.
Não foi culpa tua.
-
Pensei que essa história de que
pegavam fogo fosse piada.
-
Eu só queria dizer isso.
Vou embora.
-
Totó. Venha cá.
-
Venha cá, sente-se aqui.
-
Ouça bem.
Comecei neste ramo aos 10 anos.
-
Naquela época, não havia
estas máquinas modernas.
-
Os filmes eram mudos.
O projetor era manual, a manivela.
-
O dia todo a girar aquela manivela,
e como era dura!
-
E, se você se cansava...
-
e perdia o ritmo...
-
de repente, tudo pegava fogo!
-
E por que você não me ensina,
agora que é tudo mais fácil?
-
Porque eu não quero.
-
Não deve trabalhar com isto.
É como escravidão.
-
Você fica sempre sozinho...
-
vê cem vezes o mesmo filme,
só faz isso.
-
Conversa com Greta Garbo
e Tyrone Power como louco.
-
Trabalha como um burro, até nos
feriados, na Páscoa e no Natal.
-
Só folga na Sexta-Feira Santa.
-
E, se não tivessem crucificado
Jesus Cristo...
-
até nesse dia eu trabalharia!
-
Por que não muda de emprego?
-
Porque sou um tonto.
-
Quem mais na cidade
pode ser projecionista?
-
Ninguém.
-
Só mesmo o cretino aqui.
-
E eu não tive sorte.
-
Então, quer ser um bobão como eu?
Responda!
-
Não.
-
Muito bem, Totó!
-
Digo isso pelo seu bem.
-
Aqui dentro morre-se de calor
no verão e de frio no inverno.
-
Respira fumaça e gás, e no final...
-
ganha uma miséria.
-
Não gosta de nada neste serviço?
-
Com o tempo, você se acostuma.
-
E, quando ouve daqui
o cinema cheio...
-
e todos riem e se divertem,
fica contente também.
-
Dá prazer ouvi-los rir.
-
É como se rissem graças a você.
-
Faço-os esquecer as
desgraças e misérias.
-
Disso eu gosto.
-
Então, falei em turco?
O que está olhando?
-
Finge ouvir e depois faz como quer?!
Sua mãe tem razão!
-
Você é louco! Sim, louco!
-
Filho da puta, como fez isso?
Aprendeu de tanto olhar! Loucura!
-
Totó! Vou avisar o bilheteiro!
Não entrará nem no cinema!
-
E vou falar com o padre Adelfio!
Não será mais nem coroinha!
-
- Nunca mais, desgraçado!
- Alfredo!
-
Vá tomar no cu!
-
Nossa Senhora!
Acertei os 12!
-
Nossa Senhora!
-
Ciccio Spaccafico, o Napolitano,
ganhou na Loteria!
-
Cacete, molecada! Spaccafico,
o Napolitano, acertou os 12!
-
Sortudos como sempre,
esse povo do Norte!
-
A praça é minha!
-
Parado! Tem bicho-carpinteiro?
-
É um condomínio de piolhos.
Pode ir.
-
O que querem aqui?
Pra casa! Saiam daqui.
-
Um comerciante...
-
possui duas lojinhas.
-
Numa delas vende frutas...
-
Podem sentar.
-
Professor, chegaram os candidatos
externos ao diploma primário.
-
Silêncio. Silêncio!
-
Quietos!
-
Totó. Totó!
-
Desgraçado, filho da puta.
-
- Totó, me ajuda!
- Silêncio!
-
Como se faz esta coisa?
-
- Como faço esta porra de problema?!
- Silêncio!
-
Totó.
-
Sim.
-
Francesco Messana,
está preso em nome da lei.
-
Eu sabia que ele acabaria assim!
-
Corníssimo! E filho da puta!
-
Cuidado, aqui é fácil
que a fita pegue fogo.
-
Se acontecer, parta-a aqui e aqui,
para o fogo não pegar nas bobinas.
-
- Entendeu?
- Sim, Alfredo.
-
Entendeu que lado tem gelatina?
-
O sabor é maravilhoso.
-
- O enquadramento!
- Acerta isso!
-
Estas são as notas de controle
das fitas. Guardamos sempre.
-
- Está bem, Alfredo.
- Jamais esqueça.
-
O que é isso? Parado!
Parado! Socorro! Ladrão!
-
Pronto. Isto é para você.
Agora já pode pôr as bobinas.
-
- Como é alto.
- Assim pode trabalhar sozinho.
-
Parado. Parados!
-
- Caramba, que rabo.
- Me deixa ver.
-
Meninos, despeçam-se de Peppino,
que vai para a Alemanha.
-
De Francesco,
por que não quer se despedir?
-
Porque meu pai diz
que ele é comunista.
-
- Sua bênção, mãe.
- Vão achar trabalho na Alemanha?
-
Como vou saber?
É como uma aventura.
-
É o caminho da esperança.
-
Cidade de merda!
-
Vá tomar no cu na Alemanha,
você e o bigodudo.
-
Adeus, mãe!
-
- Adeus, Peppino! Volte logo!
- Até mais!
-
Adeus, Ciro!
-
Ainda bem que a Alemanha
é mais perto que a Rússia.
-
Após 6 anos,
volta a moda de primavera...
-
sem as hipocrisias
do tempo de guerra.
-
Estes chapéus,
sem constrangimento...
-
- Se não arrebentar um por um...
- Mudo de nome!
-
- Isso!
- Dorminhoco!
-
Abre-se mais uma página de dor na
tragédia de nossos homens na Rússia.
-
O Ministério da Defesa divulgou
mais nomes de soldados mortos...
-
entre os considerados
desaparecidos.
-
A lista será afixada em breve
nos distritos militares.
-
Os familiares serão notificados
diretamente pelas autoridades.
-
Infelizmente ignoramos
em qual cemitério está.
-
Queira assinar o pedido de pensão.
-
Sabia que tenho um admirador?
Então, não contei?
-
Não para de me cortejar.
Bem, não é nenhum Adônis.
-
Está bem, seguirei seu conselho.
-
Fora! Não posso fazer outra sessão!
Já é tarde, não entendem?
-
Não posso fazer outra sessão!
Não empurrem! Pelo amor de Deus!
-
Lá dentro tem gente
que já viu o filme!
-
Não me irritem!
Estão me derrubando também!
-
Estamos aqui há mais de uma hora!
-
Amanhã... estreia outra fita!
-
Vão adorar, dou minha palavra.
Vão dormir!
-
Você também! Vamos, fechem!
Querem derrubar o Paradiso!
-
E esta menina?!
-
Abram! Abram!
-
- Alfredo, resolva você!
- O que posso fazer?
-
Esperamos três horas,
e agora nos mandam embora!
-
"Uma multidão não pensa...
-
não sabe o que faz."
-
O grande Spencer Tracy
disse isso em "Fúria".
-
Então, o que acha?
-
Deixamos esses pobres birutas
ver o filme?
-
Pode ser. Mas como? É possível?
-
Vejo que não crê em
minhas palavras...
-
mas crerá em seus olhos.
-
Agora, levante o traseiro
desse maldito banco.
-
Preste atenção.
-
Abracadabra.
-
Olhe para o outro lado.
-
Saia na janela e olhe, garoto!
-
Alfredo, é lindo!
-
Olhem! O cinema!
-
Muito bem, Alfredo!
-
Obrigado, Alfredo!
-
Quem é esse?
-
O que está acontecendo?
O que querem?
-
Olha só, é o cinema!
-
Vão tomar no cu!
-
- Alfredo, não dá pra ouvir nada!
- Vamos fazer mais esse presente?
-
Sim, sim!
-
Você quer descer?
-
Então vá.
-
- Olhe ali.
- Mas o que é isso?
-
Nunzio.
-
Nunzio, cobre só meia.
-
Sim, como quiser.
-
Caros senhores,
precisam pagar a entrada!
-
- Só meia!
- Vá tomar no cu, a praça é de todos!
-
Não!
-
A praça é minha!
Sem brincadeiras, senão fico bravo!
-
A película pegou fogo!
-
Alfredo!
-
Corram!
-
O que você tem?
-
Alfredo!
-
Alfredo!
-
Socorro! Socorro!
-
Socorro!
-
- Pobre Alfredo, que desgraça.
- Que desgraça.
-
Queimou!
-
Queimou, queimou!
-
O que vamos fazer? A cidade
ficará sem diversão, sem nada!
-
Quem tem dinheiro para
reconstruir o cinema?
-
É o napolitano Spaccafico!
Todo na estica, nem parece ele!
-
Quem tem dinheiro para
reconstruir o cinema?
-
O novo Cinema Paradiso!
-
Vamos, entrem!
-
Aplaudam! Vamos, entrem!
-
Este cinema é para vocês!
-
Mas é uma criança. Como resolveu
a questão da menoridade?
-
Registrei-me, graças aos
meus amigos no AGIS...
-
- Spaccafico!
- ...mas não sei fazer nada.
-
Oficialmente, o projecionista sou eu,
mas Totó ganhará o salário.
-
Totó, tome cuidado.
Nunca pegue no sono.
-
Que não haja mais desgraças. Faça
tudo o que ensinou o pobre Alfredo.
-
- Deus abençoe você, meu filho.
- Obrigada, padre.
-
Que cara de velório é essa?
A vida continua! Alegria! Música!
-
Então ama aquele lavrador?
-
Talvez.
-
Aposto que ele pediu sua mão.
-
Sim.
-
Então é o fim para nós dois?
-
Cacete, como é gostosa.
-
Pai, Filho, Espírito Santo.
-
Cacete! Estão se beijando!
-
Não assisto a filmes pornográficos.
-
Muito bem, Don Ciccio!
-
- Tenho lugar no novo Paradiso?
- Alfredo!
-
Totó, quando fechar,
leve-o até em casa. Eu já vou.
-
Fico feliz que tenha vindo.
-
- E a escola, como vai?
- Bem.
-
Mas, agora que trabalho,
talvez não vá mais.
-
Não, não, Totó.
-
Não faça isso.
-
Cedo ou tarde,
ficará a pegar moscas.
-
- Por quê? O que significa isso?
- Quero dizer...
-
que este...
-
não é o seu trabalho.
-
Por enquanto,
o Paradiso precisa de você...
-
e você, dele,
mas isso não vai durar.
-
Um dia, terá outras coisas a fazer.
-
Outras coisas!
-
Mais importantes.
-
Com certeza. Mais importantes.
-
Eu sei disso.
-
Agora que perdi a visão,
enxergo mais.
-
Vejo o que não via antes...
-
graças a você, que me salvou a vida.
Não esquecerei disso.
-
E não faça essa cara!
-
Ainda não estou caduco.
Quer uma prova?
-
- Sim.
- Então...
-
vejamos, por exemplo...
neste momento...
-
a projeção está
fora de foco. Olhe.
-
Ora...
-
É verdade! Está mesmo!
-
Como sabia?
-
É muito difícil explicar.
-
O que está fazendo?
Assista lá! Safado!
-
Olhe e fique parado.
-
Não falei? Não queima mais.
-
O progresso sempre chega tarde.
-
Trabalhadores...
-
Trabalhadores da massa...
-
Essa aí é nova.
-
Nada mau.
-
- Simpática.
- O pai é o novo diretor do banco.
-
Grana, luxo e conforto.
-
Do tipo que pega no pau só
com a camisa, pra não se sujar.
-
- Mexa-se, vamos!
- Ande logo!
-
Vamos, corra!
-
- Escute...
- Sim?
-
3º B! Para a sala!
-
Deixou isto cair.
-
Obrigada. Que boba, nem percebi.
-
- Meu nome é Salvatore. E o seu?
- Elena. Me chamo Elena.
-
Eu queria dizer...
-
aquele dia, na estação...
-
O que é, um 16 mm?
São suas filmagens?
-
- Sim.
- O que mostram?
-
O matadouro.
Esquartejam um bezerro.
-
O sangue está pelo chão...
-
como um lago...
-
e outro bezerro o atravessa.
Morrerá também.
-
Por que parou de falar?
O que está mostrando?
-
Nada. Este pedaço
está fora de foco.
-
É uma mulher.
-
É uma mulher!
-
Sim. Uma garota que vi na estação.
-
É como ela é? Como é?
-
É simpática.
Tem minha idade.
-
Magra, cabelos castanhos longos...
-
olhos grandes, azuis
e um jeito simples.
-
E uma manchinha no lábio...
-
bem pequena, só se vê de perto.
-
Quando sorri, faz você se sentir...
-
não sei...
-
- ...como se...
- O amor.
-
O amor.
-
Eu entendo você.
-
As de olhos azuis
são as mais difíceis.
-
Você nunca consegue
ser amigo delas.
-
Fazer o quê?
-
"O homem que pesa mais
pisa mais fundo...
-
e, se ama, sofre, pois sabe
que está num beco sem saída."
-
O que você diz é bonito...
-
mas é triste.
-
Não sou eu que digo. Foi John Wayne,
em "Rastros de Ódio".
-
Alfredo, seu vigarista!
-
- Olá, Elena.
- Olá.
-
Por que está correndo?
-
Por nada.
-
Queria dizer...
-
Lembra de quando?
-
Lindo dia, não?
-
Sim, lindo dia mesmo.
-
Desculpe preciso ir.
Tchau, Salvatore.
-
Que cretino. Que cretino!
-
"Lindo dia, não?" Puta merda!
-
Eu avisei.
-
Achou que eu estava
te fazendo de bobo...
-
mas as de olhos azuis
são as mais difíceis.
-
Por quê? Deve haver um
jeito de fazê-la entender.
-
Não pense mais nisso, Totó!
-
Com sentimentos, nada há
para entender ou explicar.
-
- Fala como quem criou o mundo.
- Não desmereço o Senhor...
-
que o fez em uns três dias.
Eu teria levado mais tempo...
-
mas certas coisas, modéstia
à parte, sairiam melhor.
-
Não falei?
Sempre tem uma resposta pronta.
-
Quero deixar você contente.
Vou te contar uma coisa.
-
Vamos sentar um pouco.
Meu Deus, que dor!
-
Um dia...
-
um rei deu uma festa. Convidou
as princesas mais belas do reino.
-
Um soldado da guarda...
-
viu passar a filha do rei.
Era a mais bela de todas.
-
Ele se apaixonou, mas...
-
o que faria um pobre soldado
diante da filha do rei?
-
Finalmente, um dia, conseguiu
encontrá-la, e disse-lhe...
-
que não podia mais viver sem ela.
-
Ela ficou tão impressionada
por esse forte sentimento...
-
que respondeu ao soldado:
-
"Se souber esperar...
-
cem dias e cem noites
sob o meu balcão...
-
então eu serei sua."
-
Cacete!
O soldado foi lá e esperou:
-
Um dia, dois...
-
10 dias, 20 dias!
-
Toda noite ela controlava
pela janela. Ele não saía dali!
-
Com chuva, vento ou neve,
ele continuava ali.
-
Os passarinhos cagavam nele,
as abelhas o comiam vivo...
-
mas ele não se mexia.
-
Depois...
-
de 90 noites...
-
ele estava...
-
todo ressecado e branco.
-
Lágrimas escorriam-lhe
dos olhos...
-
e não podia segurá-las...
-
pois não tinha mais
forças nem para dormir...
-
e a princesa continuava
a olhar para ele.
-
Quando chegou a 99ª noite...
-
o soldado se levantou...
-
pegou a cadeira e foi embora!
-
- Como assim? No final?
- Sim.
-
Bem no finalzinho, Totó.
-
E não me pergunte o significado;
eu não sei!
-
Se entendeu, explique-me você.
-
Só 2 dias? A quem querem enrolar?
Não têm cópias, e daí?
-
"Catene" só vai passar dois dias?
Vou ser linchado!
-
Sim, eu sei, mas, mesmo com
sessões desde 8 da manhã, não dá!
-
A cidade é grande, e vocês sabem!
Vou me queixar na sede, em Roma!
-
Vocês vão ver só! Meu nome
é Spaccafico, mas, se me irrito...
-
arrebento os chifres de vocês!
-
Jurei à Nossa Senhora, meu filho.
-
Aparece o berço com
a menina dormindo.
-
Rosa! Rosa!
-
Vamos, pegue algo. Vamos, pegue!
-
"O advogado me contou,
agora eu sei."
-
O advogado me contou.
Agora eu sei.
-
"Devemos contar a todos."
-
"Todos precisam saber."
-
Todos precisam saber.
-
"Acredita em mim?"
-
Acredita em mim?
-
"Sim, acredito."
-
Sim, acredito.
-
"Nossa casa!
Como sonhei com ela."
-
- Nossa casa.
- Como sonhei com ela!
-
- "Tonino!"
- Tonino! Mamãe!
-
- Meu filho!
- Mãe!
-
- "Mamãe!"
- Mamãe!
-
- "Mamãe!"
- Mamãe! Mamãe!
-
Minha mãezinha!
-
"Fim".
-
Não gostei! Não gostei!
-
Cortei os créditos finais
pra ir mais rápido.
-
Corra, Boccia, traga a 1ª parte,
vou passar o cinejornal.
-
Guardas, por favor!
-
Já assistiu dez vezes!
Um momento! Um momento!
-
Parece colado no assento.
-
Boccia, aqui está a primeira parte!
-
Corra, a sala está lotada!
-
Ande logo com isso!
Acenda o carvão, vamos!
-
Um momento!
Depressa, estão reclamando!
-
Vai ou não vai?
-
Vocês dão nojo! Silêncio!
-
E então, Totó? Estão todos putos!
-
- Faz meia hora que esperam!
- O que posso fazer?
-
Mas quando chega esse corno?
O que vou fazer?
-
- Essa fita começa ou não?
- Não se preocupem. Comam pipoca.
-
Don Ciccio!
-
Fique sabendo que,
pra ter o prazer de ver este filme...
-
negligenciei minha mulher,
que está de cama, doente...
-
e nem consegui vê-lo! Se em
dez minutos não passar o filme...
-
ou reembolsar a mim e
a todos estes senhores...
-
- ...faço um estrago com isto!
- Calma! Calma!
-
Posso dizer uma coisa? Passo
de novo a primeira parte, que tal?
-
Nada disso,
queremos saber como acaba!
-
Eu sei como acaba.
-
Silêncio! Silêncio!
-
Eu já vi o filme!
Vou contar o final!
-
Cala essa boca, animal!
-
Por favor,
não pergunte por que, mas...
-
Segure-o lá enquanto puder!
-
- Alfredo, o que foi?
- Padre Adelfio!
-
O que é? E o sacramento?
-
Preciso muito do senhor!
-
Porque tenho uma dúvida grave,
que me atormenta a alma!
-
- Padre, eu pequei.
- Falamos disso depois.
-
- Quem está aí?
- Quieta, não olhe para o lado.
-
- Por favor, disfarce! É Salvatore.
- O que faz aí?
-
- Alfredo, isso é aterrorizador!
- Eu sei.
-
Mas veja, por exemplo,
o milagre dos pães e peixes.
-
- Dos pães e peixes?
- Penso muito nele.
-
- Como é possível?
- Como assim?
-
Eu precisava falar com você.
-
Você é linda, Elena.
Eu queria dizer isso.
-
Quando vejo você,
fico sem fala, porque...
-
você me dá arrepios.
-
Bom, não sei como agir
nesses casos, o que dizer...
-
é a primeira vez...
-
- ...mas acho que estou apaixonado.
- Padre, eu pequei.
-
Absolvo-a em nome do Pai,
Filho e Espírito Santo. Vá em paz.
-
Quando sorri,
fica ainda mais linda.
-
Salvatore, é muito gentil comigo.
Até acho você simpático...
-
mas não estou apaixonada por você.
-
Não me importa. Vou esperar.
-
- O quê?
- Que se apaixone por mim.
-
Escute...
-
todas as noites, após o trabalho,
irei até sua casa...
-
e esperarei. Todas as noites.
-
Quando mudar de ideia, abra a janela.
Basta isso, e vou entender.
-
- Entendeu agora?
- Sim.
-
Finalmente consigo ver claramente!
-
E não diga mais essas heresias!
-
Sobreviveu ao incêndio do cinema,
mas do fogo eterno...
-
desse ninguém o salvará!
-
Atenção!
-
Faltam só 20 segundos
para o Ano Novo!
-
14... 13... 12...
-
11... 10... 9...
-
8... 7... 6...
-
5... 4... 3...
-
2... 1...
-
Salvatore.
-
Cadê o filme, Totó?
-
O carro é novo, está amaciando.
-
E agora, como voltaremos?
-
Pare! Pare!
-
Meu Deus, é meu pai.
-
Boa tarde, Sr. Mendola.
-
- Boa tarde.
- Boa tarde.
-
A PROGRAMAÇÃO PROSSEGUE
NO TEATRO DE ARENA IMPERIA
-
Vamos! O último a chegar é chifrudo!
-
Lotação esgotada!
-
Fiquem à vontade,
acabou de começar.
-
Bilhete na mão!
-
Salvatore, meu amor...
-
ficarei o verão todo com
minha família, longe de você.
-
Os dias custam a passar.
-
Vejo seu nome em toda parte:
Livros, palavras cruzadas...
-
no jornal...
sempre tenho você sob os olhos.
-
Hoje, infelizmente,
tenho uma má notícia:
-
Em outubro, iremos a Palermo,
pois vou para a universidade.
-
Não nos veremos diariamente,
mas não se preocupe...
-
sempre que puder fugir,
procurarei você...
-
no Cinema Paradiso.
-
Estou cego!
-
Elena. Elena. Elena.
-
O Deus, com sua potência,
ou o homem, com a astúcia?
-
Vamos, cego bêbado! Grite!
-
Acabe logo, verão de merda.
-
Num filme, já teria acabado.
"Fade out" e um belo temporal.
-
Seria legal, não?
-
Cacete!
-
Está chovendo.
-
Diga que foi Ulisses! Ulisses!
Aquele que destruiu Troia!
-
- Elena! Mas quando?
- Voltei hoje.
-
Nem imagina o que tive
de inventar para vir aqui.
-
Farei o serviço militar em Roma.
Parto sexta de manhã.
-
Vou ao Cinema Paradiso me despedir.
Chego quinta, no ônibus das 17h.
-
Totó, o filme é bom, mas ninguém
daqui entende. Um dia só chega.
-
Por favor, à noite,
prepare a fita de amanhã...
-
assim o novo projecionista
vai encontrá-la pronta!
-
Está bem.
-
Ânimo, seu bobo! Eu espero você!
-
Calma, o emprego é sempre seu!
-
Eu vou esperar!
Não faça essa cara!
-
Ânimo!
-
Radioperador Di Vita, 3º batalhão,
9ª tropa, às ordens!
-
Transferiram o pai dela? Como?
Ninguém sabe onde foram parar?
-
Vá tomar no cu! Não quer
me ajudar, desgraçado?!
-
DESTINATÁRIO IGNORADO
-
Vem.
-
Vem cá.
-
Está mais magro.
Vê-se que não passou bem.
-
Disseram-me que você nunca sai
nem conversa com ninguém. Por quê?
-
Sabe como é...
-
cedo ou tarde chega a hora...
-
em que falar ou calar...
-
é a mesma coisa.
-
Então é melhor ficar quieto.
-
Está quente aqui.
-
Totó, leve-me à praia.
-
Na festa de Natal,
um tenente beliscou uma garota.
-
Era a filha do coronel em comando.
-
O tenente disse, apavorado:
-
"Se tem o coração duro como
o que eu toquei, estou acabado!"
-
Tornou a vê-la?
-
Não. E ninguém sabe onde ela está.
-
Então tinha de ser assim.
-
Todos temos uma estrela
para seguir.
-
Vá embora.
-
Esta terra é má.
-
Quando você está sempre aqui...
-
sente-se no centro do mundo.
-
Parece que nada muda, nunca.
-
Aí você fica longe
um ano ou dois...
-
e, ao voltar, mudou tudo.
Algo se quebrou.
-
Você não acha a quem procura.
-
Tuas coisas não existem mais.
-
É preciso ir embora
por muito tempo...
-
por muitos e muitos anos,
para encontrar, na volta...
-
a tua gente...
-
a terra onde nasceu.
-
Agora não é possível.
-
Você está mais cego do que eu.
-
Quem disse isso? Gary Cooper,
James Stewart, Henry Fonda?
-
Não, Totó.
-
Ninguém disse.
-
Isso sou eu que digo.
-
A vida não é como
você viu no cinema.
-
A vida é mais difícil.
-
Vá embora!
-
Volte para Roma! Você é jovem!
O mundo é seu!
-
E eu sou velho.
-
Não quero mais ouvir você falar.
-
Quero ouvir falar de você.
-
Não volte mais!
-
Nunca pense em nós!
Não olhe para trás, não escreva!
-
Não deixe a saudade ferrar
com você! Esqueça nós todos!
-
Se não resistir e voltar, não me
procure. Não entrará lá em casa!
-
Entendeu?
-
Obrigado...
-
por tudo o que fez por mim.
-
Seja o que for que fizer, ame-o...
-
como amou a cabine do Paradiso...
-
quando era pequeno.
-
Já partiu? Totó! Adeus!
-
Cheguei tarde, que pena.
-
É Totó. Eu sabia.
-
- Totó!
- Como vai, mamãe?
-
Viu como ficou bonita a casa?
Reformamos tudo.
-
Se não fosse por você... Venha.
Tenho uma surpresa para você.
-
Está cansado?
-
Quer descansar?
Dá tempo, antes do funeral.
-
Não, mãe. É só uma hora de avião.
-
Não devia me dizer isso,
após tantos anos.
-
Venha, coloquei todas
as suas coisas aqui.
-
Ele deve estar feliz
por você ter vindo, Totó.
-
Falava sempre de você, sempre...
-
até o final.
-
Gostava tanto de você!
-
Deixou duas coisas pra você...
-
antes de partir. Vá à minha casa.
-
- Quem é?
- É ele, é ele.
-
Bom dia.
-
Quando fecharam?
-
Em maio faz seis anos.
Não vinha mais ninguém.
-
O senhor sabe. A crise, a televisão,
o videocassete...
-
Hoje o cinema é só um sonho.
-
A prefeitura o comprou,
farão um estacionamento.
-
Sábado vão demolir.
-
É uma pena.
-
Por que me chama de senhor?
-
Não era assim antes.
-
É difícil tratar por "você"
uma pessoa importante.
-
Mas, se você faz questão, Totó...
-
Com licença.
-
Quem poderia dizer, Totó?
-
Estas são as coisas
que ele deixou.
-
Ele nunca pensou em ir me ver?
-
Não. Nunca.
-
Uma vez, sua mãe disse a ele que,
se ele pedisse, você viria.
-
Ele ficou furioso.
-
Dizia: "Não! Totó nunca deve
voltar para Giancaldo!"
-
Não falava por maldade.
-
Era boa pessoa.
-
O que será que ele pensava?
-
Ultimamente dizia, também,
coisas sem sentido.
-
E, pouco antes de morrer...
-
pediu à sua mãe que
não avisasse você.
-
Por favor.
-
"TRANSGRESSÕES ERÓTICAS"
-
Em que está pensando?
-
Pensava...
-
que sempre tive medo de voltar.
-
Agora, após tantos anos,
achei que estava mais forte...
-
que tinha esquecido muita coisa.
-
No entanto...
-
está tudo diante de mim,
como se tivesse ficado aqui.
-
Mas olho ao meu redor,
e não conheço mais ninguém.
-
E você, mamãe...
-
eu abandonei você.
-
Fugi como um bandido.
-
- Nunca dei nenhuma explicação.
- E eu nunca pedi.
-
Não precisa explicar.
-
Sempre achei certo o que
você fazia, e chega.
-
Não se fala mais nisso.
-
Fez bem em ir embora.
Conseguiu fazer o que queria.
-
Cada vez que ligo,
responde uma mulher diferente.
-
Mas até agora não ouvi uma voz...
-
que ame você de verdade.
-
Eu teria percebido, sabe?
-
Mas eu gostaria...
-
de ver você estabilizado...
-
apaixonado.
-
Mas sua vida está lá.
-
Aqui há só fantasmas.
-
Deixe estar, Totó.
-
A praça é minha.
-
É minha. É minha, é minha!
-
Olhe as emendas.
Quando terminar, pode passar.
-
Está bem, doutor. E parabéns
pelo filme, está ótimo.