Quão fiável é a vossa memória?
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0:00 - 0:04Gostaria de vos contar
um caso judicial em que trabalhei -
0:05 - 0:09envolvendo um homem chamado Steve Titus.
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0:09 - 0:11Titus era gerente de um restaurante.
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0:12 - 0:16Tinha 31 anos e morava em Seattle,
Washington. -
0:16 - 0:19Estava noivo de Gretchen, prestes a casar.
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0:19 - 0:21Ela era o amor da sua vida.
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0:21 - 0:23E, uma noite, o casal saiu
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0:23 - 0:26para um jantar romântico a dois.
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0:26 - 0:28Iam a caminho de casa,
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0:28 - 0:30quando foram mandados parar
por um polícia. -
0:31 - 0:34Estão a ver, o carro de Titus era parecido
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0:34 - 0:37com o carro guiado naquela noite
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0:37 - 0:40por um homem que violara
uma mulher a quem dera boleia. -
0:41 - 0:44e Titus era parecido com o violador.
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0:45 - 0:47Então a polícia tirou uma foto de Titus
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0:47 - 0:50e colocou-a num arquivo de fotos
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0:50 - 0:52que, depois, foi mostrada à vitima.
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0:52 - 0:55Ela apontou para a foto de Titus e disse:
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0:55 - 0:57"Este é o mais parecido."
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0:58 - 1:02A polícia e os promotores de justiça
avançaram com um julgamento, -
1:02 - 1:05e, quando Steve Titus
foi julgado por violação, -
1:05 - 1:08a vítima foi ao tribunal e disse:
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1:08 - 1:12"Tenho a certeza absoluta
que é este homem." -
1:12 - 1:14Titus foi considerado culpado.
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1:14 - 1:16Ele proclamou a sua inocência,
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1:16 - 1:19A família protestou contra os jurados,
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1:19 - 1:22a noiva caiu no chão, soluçando
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1:22 - 1:25e Titus foi levado para a prisão.
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1:25 - 1:29O que é que fariam nessa situação?
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1:29 - 1:31O que é que fariam?
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1:31 - 1:34Titus perdeu toda a confiança
no sistema legal, -
1:34 - 1:36mas teve uma ideia.
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1:36 - 1:38Ligou para um jornal local
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1:38 - 1:42e conseguiu o interesse
de um jornalista de investigação. -
1:42 - 1:47Esse jornalista encontrou
o verdadeiro violador, -
1:47 - 1:50um homem que acabou por confessar
ter praticado essa violação, -
1:50 - 1:53um homem que era suspeito
de ter feito 50 violações -
1:53 - 1:55naquela mesma área.
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1:55 - 1:58Quando essa informação chegou ao juiz,
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1:58 - 2:00Titus foi libertado.
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2:01 - 2:05Este caso devia ter terminado aqui,
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2:05 - 2:06devia ser encerrado.
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2:06 - 2:08Titus devia recordar esse ano
como um ano horrível, -
2:08 - 2:12um ano de acusações
e julgamento, mas encerrado. -
2:13 - 2:15Mas não acabou dessa forma.
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2:15 - 2:17Titus passou a ser uma pessoa amarga.
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2:17 - 2:20Perdera o emprego.
Não o conseguiu recuperar. -
2:20 - 2:22Perdeu a noiva.
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2:22 - 2:24Ela não conseguia aturar
a sua raiva constante. -
2:24 - 2:26Perdeu todas as suas economias,
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2:26 - 2:29e decidiu pôr uma ação
-
2:29 - 2:32contra a polícia e contra
outras pessoas que ele achava -
2:32 - 2:34serem responsáveis pelo seu sofrimento.
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2:34 - 2:39Foi aí que eu comecei
a trabalhar neste caso, -
2:39 - 2:41tentando entender
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2:41 - 2:43como a vítima passou de:
-
2:43 - 2:44"Esse é o mais parecido"
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2:44 - 2:48para: "Tenho a certeza absoluta de que
é este homem." -
2:49 - 2:52Bom, Titus andou consumido
neste processo civil. -
2:52 - 2:55Passava o todo a pensar nisso.
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2:55 - 3:00Dias antes do julgamento do processo,
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3:00 - 3:02acordou de manhã
-
3:02 - 3:04com uma dor terrível
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3:04 - 3:06e morreu com um ataque cardíaco
provocado pela tensão. -
3:06 - 3:09Tnha 35 anos.
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3:10 - 3:14Fui chamada para trabalhar
no caso de Titus, -
3:14 - 3:17porque sou psicóloga.
-
3:17 - 3:20Estudo a memória.
Há décadas que estudo a memória. -
3:20 - 3:24Se travar conhecimento com alguém
num avião -
3:24 - 3:26— isso aconteceu quando fui à Escócia —
-
3:26 - 3:28se conhecer alguém num avião,
-
3:28 - 3:32e perguntarmos um ao outro:
"O que é que faz? O que é que faz?" -
3:32 - 3:33e eu disser: "Estudo a memória",
-
3:33 - 3:36geralmente contam-me que têm dificuldade
em lembrar-se de nomes -
3:36 - 3:39ou têm um parente com Alzheimer
-
3:39 - 3:41ou com algum tipo de problemas de memória.
-
3:41 - 3:43Tenho que lhes dizer:
-
3:43 - 3:46"Eu não estudo o que as pessoas esquecem.
-
3:46 - 3:50"Estudo o oposto: quando elas se lembram,
-
3:50 - 3:52"quando se lembram de coisas
que nunca aconteceram -
3:52 - 3:54"ou quando se lembram de coisas diferentes
-
3:54 - 3:56"do que realmente aconteceu".
-
3:56 - 3:59Eu estudo memórias falsas.
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4:01 - 4:05Infelizmente, Steve Titus
não é a única pessoa -
4:05 - 4:09a ser condenada com base
numa memória falsa. -
4:10 - 4:13Num projeto nos Estados Unidos,
-
4:13 - 4:15recolheram-se informações
-
4:15 - 4:18sobre 300 pessoas inocentes,
-
4:19 - 4:23300 arguidos que foram condenados
por crimes que não praticaram. -
4:23 - 4:28Passaram 10, 20, 30 anos na prisão
a pagar por esses crimes -
4:28 - 4:30e, agora, os testes de ADN
-
4:30 - 4:33provaram que, na realidade,
estavam inocentes. -
4:33 - 4:36Quando estes casos foram analisados,
-
4:36 - 4:39três quartos deles
tinham sido influenciados -
4:39 - 4:44por memórias erradas,
memórias falsas de testemunhas oculares. -
4:44 - 4:45E porquê?
-
4:45 - 4:48Tal como os jurados que consideraram
culpadas pessoas inocentes -
4:48 - 4:51e os jurados de Titus
que o consideraram culpado, -
4:51 - 4:53há muita gente que acredita
-
4:53 - 4:55que a memória trabalha como um gravador.
-
4:55 - 4:57Registamos a informação,
-
4:57 - 5:00depois vamos lá buscá-la e
voltamos a vê-la, -
5:00 - 5:03quando queremos responder a perguntas
ou identificar imagens. -
5:03 - 5:05Mas décadas de estudo em psicologia
-
5:05 - 5:08mostram que isso não é verdade.
-
5:08 - 5:11As nossas memórias são construtivas.
-
5:11 - 5:13São reconstrutivas.
-
5:13 - 5:16A memória é mais ou menos
como uma página na Wikipedia: -
5:16 - 5:21Vamos lá e alteramos, mas outras pessoas
também podem fazer o mesmo. -
5:21 - 5:26Comecei a estudar este processo
construtivo da memória -
5:27 - 5:28nos anos 70.
-
5:29 - 5:33Fiz experiências
em que mostrava às pessoas -
5:33 - 5:36crimes e acidentes simulados,
-
5:36 - 5:39e fazia-lhes perguntas
sobre o que se lembravam. -
5:39 - 5:43Num estudo, mostrámos um acidente simulado
-
5:43 - 5:45e perguntámos aos participantes:
-
5:45 - 5:47"A que velocidade iam os carros
quando chocaram?" -
5:47 - 5:49E perguntámos
a outros participantes: -
5:49 - 5:52"A que velocidade iam os carros
quando se esmagaram um no outro?" -
5:52 - 5:56Quando fizemos a pergunta
que continha a palavra "se esmagaram", -
5:56 - 5:59as testemunhas disseram-nos
que os carros iam mais depressa -
5:59 - 6:03e, além disso, a expressão "se esmagaram"
-
6:03 - 6:06levava a que as testemunhas
nos dissessem com mais frequência -
6:06 - 6:08que tinham visto vidros partidos
na cena do acidente, -
6:08 - 6:12quando não havia vidros partidos nenhuns.
-
6:13 - 6:15Noutro estudo mostrámos
um acidente simulado -
6:15 - 6:19em que um carro seguia
por um cruzamento com um sinal de "stop" -
6:19 - 6:24e, se fizéssemos a mesma pergunta,
insinuando que era um sinal de "prioridade", -
6:24 - 6:28muitas testemunhas diziam que se lembravam
de ter visto um sinal de "prioridade" -
6:28 - 6:31no cruzamento, e não uma placa de "stop".
-
6:31 - 6:33Podem estar a pensar:
-
6:33 - 6:35são acontecimentos filmados,
-
6:35 - 6:37não são especialmente traumáticos.
-
6:37 - 6:39E se os mesmos erros ocorressem
-
6:39 - 6:42num incidente mais traumático?
-
6:42 - 6:45Num estudo publicado há alguns meses,
-
6:45 - 6:48achámos uma resposta para esta pergunta,
-
6:48 - 6:50porque o que foi invulgar neste estudo
-
6:50 - 6:56é que planeámos uma experiência
de grande tensão. -
6:56 - 6:58Os participantes neste estudo
-
6:58 - 7:01eram membros do exército norte-americano
-
7:01 - 7:05que estavam a fazer
um exercício de treino terrível -
7:05 - 7:08que lhes ensinava o que aconteceria
-
7:08 - 7:12se fossem capturados
como prisioneiros de guerra. -
7:12 - 7:15E, como parte deste treino,
-
7:15 - 7:18estes soldados eram interrogados
de forma agressiva, -
7:18 - 7:23hostil e fisicamente abusiva
durante 30 minutos. -
7:23 - 7:26Mais tarde, tinham que tentar identificar
-
7:26 - 7:29a pessoa que tinha feito o interrogatório.
-
7:29 - 7:33Quando lhes fornecíamos
informações sugestivas -
7:33 - 7:36que insinuavam que tinha sido
uma pessoa diferente, -
7:36 - 7:39muitos deles identificaram
erradamente o interrogador, -
7:39 - 7:42identificando muitas vezes alguém
-
7:42 - 7:46que nem de longe se parecia
com o verdadeiro interrogador. -
7:46 - 7:49Assim, o que estes estudos mostram
-
7:49 - 7:53é que, quando damos informações falsas
-
7:53 - 7:56sobre qualquer experiência
que elas podem ter tido, -
7:56 - 8:02podemos distorcer, contaminar
ou alterar a recordação. -
8:02 - 8:04Cá fora, no mundo real,
-
8:04 - 8:07há informações erradas por toda a parte.
-
8:07 - 8:08Recebemos informações erradas
-
8:08 - 8:11não só quando somos interrogados
de uma forma sugestiva, -
8:11 - 8:13mas também se falamos
com outras testemunhas -
8:13 - 8:16que podem, conscientemente ou não,
-
8:16 - 8:19dar-nos informações erradas,
-
8:19 - 8:23ou se vemos reportagens
sobre algum incidente a que assistimos. -
8:23 - 8:26Todas essas coisas dão oportunidade
-
8:26 - 8:30a esse tipo de contaminação da memória.
-
8:31 - 8:34Nos anos 90, começámos a notar
-
8:34 - 8:39um tipo ainda mais agudo
de problemas de memória. -
8:39 - 8:42Alguns pacientes iam à terapia
com qualquer problema -
8:42 - 8:45— talvez depressão,
ou transtorno alimentar — -
8:45 - 8:48e saíam da terapia
-
8:48 - 8:50com um problema diferente.
-
8:50 - 8:54Memórias de horríveis
acontecimentos brutais, -
8:54 - 8:56por vezes de rituais satânicos,
-
8:56 - 9:01por vezes ,envolvendo
elementos bizarros e não usuais. -
9:01 - 9:03Uma mulher saiu da psicoterapia
-
9:03 - 9:06acreditando ter sofrido durante anos
-
9:06 - 9:10violência ritual, em que
fora forçada a uma gravidez -
9:10 - 9:12e o bebé fora removido à força
do seu ventre. -
9:12 - 9:15Mas não havia cicatrizes,
-
9:15 - 9:17nem qualquer indício físico
-
9:17 - 9:19que pudesse comprovar essa história.
-
9:19 - 9:23Quando comecei a olhar de perto
esses casos, -
9:23 - 9:24questionei-me:
-
9:24 - 9:26"De onde vinham essas memórias bizarras?"
-
9:26 - 9:31Descobri que
a maior parte dessas situações -
9:31 - 9:36envolvia um tipo especial de psicoterapia.
-
9:36 - 9:38E perguntei-me:
-
9:38 - 9:41"Será que as coisas
que acontecem nessa terapia -
9:41 - 9:44"— tais como exercícios de imaginação,
-
9:44 - 9:46"ou interpretação de sonhos,
-
9:46 - 9:48"ou, nalguns casos, a hipnose,
-
9:48 - 9:52"ou, noutros casos, a exposição
a informações falsas — -
9:52 - 9:55"estavam a levar esses pacientes
-
9:55 - 9:57"a desenvolver essas memórias
-
9:57 - 10:01"estranhas e improváveis?"
-
10:01 - 10:03Concebi algumas experiências
-
10:03 - 10:08para tentar estudar os processos
que estavam a ser usados -
10:08 - 10:10nessa psicoterapia, para poder estudar
-
10:10 - 10:14o desenvolvimento dessas
memórias falsas tão ricas. -
10:14 - 10:17Num dos primeiros estudos que fizemos,
-
10:17 - 10:19usámos a sugestão,
-
10:19 - 10:23um método inspirado pela psicoterapia
que vimos nesses casos. -
10:23 - 10:25Usámos um tipo de sugestão
-
10:25 - 10:27e implantámos uma memória falsa
-
10:27 - 10:31de que, quando [os participantes]
eram crianças, entre cinco a seis anos, -
10:31 - 10:32perderam-se num centro comercial.
-
10:32 - 10:35Estavam assustados.
Estavam a chorar. -
10:35 - 10:37Finalmente, foram salvos
por uma pessoa idosa -
10:37 - 10:39e encontraram a família.
-
10:39 - 10:42Conseguimos implantar esta memória
-
10:42 - 10:46nas mentes de cerca
de um quarto dos participantes. -
10:46 - 10:47Devem estar a pensar:
-
10:47 - 10:50"Isso não é particularmente traumático".
-
10:50 - 10:54Mas nós e outros investigadores
implantámos -
10:54 - 10:56memórias falsas mais ricas de coisas
-
10:56 - 10:59muito mais incomuns
e muito mais traumáticas. -
10:59 - 11:02Num estudo feito no Tennessee,
-
11:02 - 11:04pesquisadores implantaram a memória falsa
-
11:04 - 11:07de que, em crianças, [os participantes]
quase morreram afogados -
11:07 - 11:10e tiveram que ser salvos
por um salva-vidas. -
11:10 - 11:12Num estudo feito no Canadá
-
11:12 - 11:14pesquisadores implantaram a memória falsa
-
11:14 - 11:16de que, [os participantes], em crianças,
-
11:16 - 11:18lhes aconteceu uma coisa tão horrível
-
11:18 - 11:20como serem atacados
por um animal selvagem, -
11:20 - 11:24o que conseguiram em cerca
de metade dos participantes. -
11:24 - 11:26Num estudo feito em Itália,
-
11:26 - 11:29pesquisadores implantaram a falsa memória
-
11:29 - 11:33que, em crianças, [os participantes]
presenciaram uma posse demoníaca. -
11:34 - 11:36Quero acrescentar que parece
-
11:36 - 11:40que estamos a traumatizar
as nossas "cobaias" -
11:40 - 11:42em nome da ciência,
-
11:42 - 11:46mas os nossos estudos
passaram por uma avaliação apurada -
11:46 - 11:48de comissões de ética de investigação
-
11:48 - 11:50que tomaram a decisão
-
11:50 - 11:54de que o desconforto temporário
-
11:54 - 11:57que alguns dos participantes
pudessem ter sentido nestes estudos -
11:57 - 12:01é compensado pela importância do problema
-
12:01 - 12:04de compreender os processos da memória
-
12:04 - 12:07e o abuso da memória que ocorre
-
12:07 - 12:10nalguns lugares do mundo.
-
12:11 - 12:13Bem, para a minha surpresa,
-
12:13 - 12:17quando publiquei este trabalho
e comecei a protestar -
12:17 - 12:21contra este tipo especial de psicoterapia,
-
12:21 - 12:25isso criou-me problemas muito graves:
-
12:25 - 12:30hostilidade, primeiro dos terapeutas
de memória reprimida, -
12:30 - 12:31que se sentiram atacados,
-
12:31 - 12:35e dos pacientes que eles influenciaram.
-
12:35 - 12:38Por vezes, tinha que levar
seguranças armados para os discursos -
12:38 - 12:40que era convidada a fazer.
-
12:40 - 12:44Houve pessoas a organizar campanhas
de baixo-assinados para eu ser despedida. -
12:44 - 12:46Mas, provavelmente o pior,
-
12:46 - 12:49foi que eu suspeitava que uma mulher
-
12:49 - 12:51estava inocente da violência
-
12:51 - 12:54de que era acusada
pela sua filha já adulta. -
12:54 - 12:57Acusava a mãe de abuso sexual
-
12:57 - 12:59baseada numa memória reprimida.
-
12:59 - 13:02E essa filha acusadora tinha permitido
-
13:02 - 13:05que a sua história fosse filmada
e exibida em locais públicos. -
13:06 - 13:08Eu estava desconfiada dessa história,
-
13:08 - 13:10e comecei a investigar.
-
13:11 - 13:15Por fim, encontrei informações
que me convenceram -
13:15 - 13:17de que a mãe estava inocente.
-
13:17 - 13:20Publiquei uma exposição sobre o caso,
-
13:20 - 13:22e, algum tempo depois,
-
13:22 - 13:25a filha acusadora moveu uma ação
contra mim. -
13:25 - 13:27Apesar de eu nunca ter referido
o nome dela, -
13:27 - 13:32processou-me por difamação
e invasão de privacidade. -
13:32 - 13:34Passei quase cinco anos
-
13:34 - 13:41a lidar com esse litígio,
confuso e desagradável, -
13:41 - 13:44mas finalmente, terminou
-
13:44 - 13:47e pude voltar ao trabalho.
-
13:47 - 13:49No entanto, durante o processo,
-
13:49 - 13:52passei a fazer parte de uma
perturbadora tendência nos EUA -
13:52 - 13:54para processar cientistas
-
13:54 - 13:59apenas por estes tocarem em assuntos
de grande controvérsia pública. -
13:59 - 14:02Quando voltei ao trabalho, perguntei-me:
-
14:02 - 14:05"Se implantarmos uma memória falsa
na nossa mente, -
14:05 - 14:06"isso terá repercussões?
-
14:06 - 14:09"Isso afetará os nossos
pensamentos posteriores, -
14:09 - 14:10"o nosso comportamento posterior?"
-
14:10 - 14:13No nosso primeiro estudo,
implantámos uma memória falsa -
14:13 - 14:17de que, em crianças, [os participantes]
enjoavam ao comer certos alimentos: -
14:17 - 14:19ovos cozidos, picles, gelado de morango.
-
14:19 - 14:22E descobrimos que, depois de
implantada essa memória falsa, -
14:22 - 14:24as pessoas recusavam-se a comer isso
-
14:24 - 14:27num piquenique ao ar livre.
-
14:27 - 14:31Uma memória falsa não é
necessariamente má ou desagradável. -
14:31 - 14:33Se implantarmos uma memória
calorosa e confortável -
14:33 - 14:36envolvendo um alimento saudável,
como o espargo, -
14:36 - 14:40podemos fazer com que as pessoas
comam mais espargos. -
14:40 - 14:42E, assim, o que estes estudos mostram
-
14:42 - 14:44é que podemos implantar memórias falsas
-
14:44 - 14:46e elas têm consequências
-
14:46 - 14:50que afetam o comportamento
muito depois de a memória se fixar. -
14:50 - 14:53Bom, juntamente com essa capacidade
-
14:53 - 14:56de implantar memórias
e controlar o comportamento -
14:56 - 15:01aparecem obviamente algumas
questões éticas importantes, como: -
15:01 - 15:03Quando devemos usar
esta tecnologia da mente? -
15:03 - 15:07Devemos alguma vez proibir o seu uso?
-
15:07 - 15:10Eticamente, os terapeutas não devem
implantar memórias falsas -
15:10 - 15:11na mente dos seus pacientes,
-
15:11 - 15:14mesmo que isso possa ajudar o paciente,
-
15:14 - 15:15mas nada pode impedir
-
15:15 - 15:20que os pais tentem isso
com o filho adolescente obeso. -
15:20 - 15:23Quando eu sugeri isso em público,
-
15:23 - 15:26criou-se um novo tumulto.
-
15:26 - 15:30"Lá vai ela novamente. Está a defender
que os pais mintam aos filhos." -
15:30 - 15:32Olá, Pai Natal! (Risos)
-
15:32 - 15:34Quer dizer, outra forma...
-
15:34 - 15:38(Aplausos)
-
15:40 - 15:42Outra forma de pensar nisso é:
-
15:42 - 15:43O que é que preferimos,
-
15:43 - 15:47uma criança obesa, com diabetes,
uma expetativa de vida reduzida -
15:47 - 15:48e todas as coisas que vêm com isso,
-
15:48 - 15:51ou uma criança com uma
pequena memória falsa? -
15:51 - 15:55Eu sei o que escolheria para um filho meu.
-
15:55 - 15:59Mas talvez o meu trabalho me tenha
tornado diferente da maioria das pessoas. -
15:59 - 16:01A maioria das pessoas
estima as suas memórias, -
16:01 - 16:03sabe que elas representam
a sua identidade, -
16:03 - 16:05quem são e de onde vieram.
-
16:05 - 16:08E eu prezo isso.
Também sinto isso. -
16:08 - 16:10Mas eu sei, pelo meu trabalho,
-
16:10 - 16:13quanta ficção já se instalou lá dentro.
-
16:14 - 16:16Se aprendi alguma coisa
-
16:16 - 16:19nestas décadas de trabalho
com esses problemas, é isto: -
16:19 - 16:22Só porque alguém nos diz qualquer coisa,
-
16:22 - 16:23e nos diz com convicção,
-
16:23 - 16:26só porque a conta com muitos pormenores,
-
16:26 - 16:29só porque exprime emoção quando o diz,
-
16:29 - 16:32não quer dizer que aquilo
aconteceu realmente. -
16:32 - 16:36Não sabemos distinguir com segurança
memórias verdadeiras de memórias falsas. -
16:36 - 16:39Precisamos de confirmação independente.
-
16:39 - 16:42Esta descoberta tornou-me mais tolerante
-
16:42 - 16:45para com os pequenos
erros de memória do dia-a-dia -
16:45 - 16:47que os meus amigos e família cometem.
-
16:47 - 16:52Essa descoberta
podia ter salvo Steve Titus, -
16:52 - 16:56o homem cujo futuro foi roubado
-
16:56 - 16:58por uma falsa memória.
-
16:58 - 17:01Mas, por enquanto, devemos lembrar-nos,
-
17:01 - 17:02fazemos bem em lembrar,
-
17:02 - 17:06que a memória, tal como a liberdade,
-
17:06 - 17:10é uma coisa frágil.
-
17:10 - 17:13Obrigada. Obrigada.
-
17:13 - 17:16(Aplausos)
-
17:16 - 17:17Muito obrigada.
-
17:17 - 17:23(Aplausos)
- Title:
- Quão fiável é a vossa memória?
- Speaker:
- Elizabeth Loftus
- Description:
-
A psicóloga Elisabeth Loftus estuda a memória. Mais especificamente, estuda as memórias falsas, quando as pessoas se lembram de coisas que não ocorreram, ou quando se lembram de forma diferente do que realmente ocorreu. Isso é mais comum do que pensamos, e Loftus apresenta-nos casos e estatísticas surpreendentes, levantando também várias questões éticas importantes que devemos lembrar e ter em consideração.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:36
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Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for How reliable is your memory? | |
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Isabel Vaz Belchior approved Portuguese subtitles for How reliable is your memory? | |
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Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for How reliable is your memory? | |
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Amabile Oliveira
I've done just little adjustments in this well done translation.