-
Olá, só para experimentar.
-
Conseguem ouvir-me?
-
Ótimo.
Nunca percebi
-
porque é isto um fenómeno
quando as pessoas dão palestras,
-
por que se não ouvissem,
o que seria suposto dizer?
-
(risos)
-
Mas tudo bem, como disse, chamo-me Os.
-
Estou a fazer um Doutoramento
na Universidade de Washington,
-
onde, de acordo com o slide,
-
estudo "Género, Infraestrutura e
(Contra) Poder".
-
Gostaria de vos pedir
a indulgência de fingir
-
que isto é uma descrição académica,
pensada, pormenorizada,
-
e não apenas uma frase genérica,
-
porque estudo
um milhão de coisas diferentes
-
e colocá-las em poucas palavras é difícil.
-
Mas a maior parte do que estudo
-
gira em torno de como sistemas
de conhecimento reforçam certas ideias
-
sobre como o mundo funciona,
-
e relações específicas de poder
-
com um foco específico no género.
-
Também sou um ex-Wikipedista.
-
Passei 15 como editor,
-
que foi onde provavelmente começou
o meu interesse sobre natureza,
-
e realmente não consigo expressar
o quão feliz estava por ter sido convidado
-
e o quão feliz estou
por estar aqui com todos vocês,
-
mas especialmente com James Forrester
-
que é provavelmente
a única pessoa qualificada
-
para rubricar o meu pedido
de renovação de passaporte,
-
que expira em breve
e estou a tentar resolver...
-
(risos)
-
Mudas-te para Seattle. Tudo é ótimo.
-
E de repente:
"Olha, o governo britânico...
-
exige que encontre um ex-padre,
um funcionário público,
-
ou membro do parlamento
que me conheça há pelo menos 2 anos
-
para quem possa enviar a papelada".
-
Parece-me bem plausível.
-
(risos)
-
De qualquer forma, mas...
-
Estou aqui como alguém
que passou bastante tempo...
-
alguns anos...
-
não gosto de pensar nisso
porque me faz sentir incrivelmente velho
-
a lutar contra a natureza do conhecimento
-
e a ideia do conhecimento...
-
para falar com vocês sobre
como se parece a Wikidata
-
para alguém com o meu histórico
e interesses académicos.
-
Não vou perder muito tempo
a contar a história da Wikidata,
-
porque se está aqui, passadas 24 horas
-
de ter o cérebro carregado de informações,
-
já está bem familiarizado com isso.
-
Trata-se de uma grande
base de dados semântica
-
que gera conhecimento
legível electronicamente
-
de forma centralizada.
-
E isto tem a forma de uma série de itens
-
associados com propriedades de statements.
-
O item "maçã" tem a propriedade "fruta".
-
Quer dizer, provavelmente.
-
É uma Wiki, provavelmente
há uma longa guerra editorial
-
sobre se uma maçã é uma fruta
-
e há 50 pessoas por trás de 300 contas
-
e continua há anos,
-
e neste momento, se citar
a palavra "maçã" no Wikidata,
-
será preventivamente banido
como alguém que,
-
é secretamente uma marioneta
-
e executa uma conta
em ambos os lados do conflito.
-
Consequentemente, também existe
um sistema de classificação, certo?
-
Uma forma de seleccionar
e organizar o mundo.
-
Objetos, pessoas ou conceitos
são classificados como
-
válidos de terem uma entrada
na Wikidata ou não.
-
Uma fruta ou não.
-
E em cada caso é aplicada
uma série de critérios
-
para determinar as propriedades
que um objeto deve ter
-
e os valores dessas propriedades
-
e como o objetos se relacionam entre si.
-
A Wikidata é realmente
uma tentativa de construir
-
um sistema universal de classificação.
-
Sistemas de classificação foram
estudados extensivamente.
-
Um trabalho proeminente que
recomendo a todos lerem
-
se estiverem interessados neste tema
é Sorting Things Out,
-
que é um livro de Geoff Bowker
e Susan Leigh Star.
-
Eles descobriram que no universo ideal,
-
um sistema de classificação,
-
seja ele universal
ou sobre algo em particular,
-
tem três atributos.
-
O primeiro é operar em princípios
consistentes e únicos.
-
Há um padrão consistente
do que deve estar em cada categoria
-
e por que razões.
-
O segundo é que todas categorias
são mutuamente exclusivas.
-
E o terceiro é que o sistema é completo.
-
Cobre tudo o que descreve.
-
Isto não significa que deve
ter todos os objetos
-
que sirva no sistema.
-
Quer dizer somente que,
numa situação onde falta um objeto
-
e esse objeto depois aparece,
-
deve existir um mecanismo consistente
-
para definir se este objeto deve
ser adicionado ou não,
-
e como deve ser descrito,
-
e assim em diante.
-
Há um pequeno problema com isto, que é...
-
"Nenhum sistema de classificação
do mundo real
-
que estudamos cumpre
estes simples requisitos
-
e duvidamos que algum um dia cumprirá.
-
Ou para dizer de outra forma,
todos os sistemas de classificação falham.
-
Todos os sistemas de classificação
tem falhas e excepções.
-
E, obviamente, o mesmo é válido
para todos os sistemas, sem exceção.
-
Qualquer um que já tenha programado,
-
ou apenas trabalhado num ambiente,
-
ou estudado num ambiente,
ou vivido no mundo sabe
-
que ainda estamos para desenvolver
qualquer coisa
-
que tenha sido perfeitamente planejada.
-
O problema é que
quando pegamos num sistema,
-
classificação ou outro qualquer,
e o colocamos no mundo,
-
e lhe damos poder e autoridade
e o integramos com outros sistemas
-
que já têm poder e autoridade,
-
há consequências para o que acontece
-
quando esse sistema inevitavelmente falha,
-
para como ele reforça ou sabota
relações existentes de poder,
-
para como magoa as pessoas.
-
Um sistema de classificação universal,
é, noutras palavras,
-
não apenas condenado a falhar,
mas também a magoar as pessoas.
-
E a forma como é estruturado
-
é, em última análise, o resultado
duma série de escolhas éticas e políticas
-
Quem quer magoar? E por quanto?
-
O que deve ser feito quando
pessoas são feridas?
-
E essas escolhas têm consequências reais.
-
Fazer essas escolhas geralmente
envolve lidar com o facto
-
de que raramente há uma única
-
e simples interpretação
legível eletronicamente
-
sobre algo verdadeiro para todas
as pessoas em toda a história.
-
Tudo no universo tem múltiplos
significados, simbolismos e pormenores
-
para pessoas em diferentes
contextos e épocas.
-
Mas desenhar e implementar
um sistema de classificação,
-
desenhar um sistema que possa
afirmar que tem princípios consistentes,
-
e que cobre tudo o que discute,
-
inevitavelmente envolve
cortar a sua complexidade.
-
e tomar decisões sobre o significado
de uma coisa que será criada,
-
ou quais os possíveis significados
-
deverá ser apresentado e em que sequência.
-
Como resultado,
-
isso envolve silenciar vozes
ou tornar outras mais altas.
-
Novamente, isso traz consequências.
-
Para ilustrar o que quero dizer
sobre esta complexidade,
-
contexto e redução,
e as suas consequências,
-
gostaria de mostrar
alguns exemplos da própria Wikidata.
-
Os que escolhi são todos relacionados
com um género porque, novamente,
-
o género é tanto profissionalmente
quando pessoalmente, um elemento-chave.
-
O primeiro trata de transexualidade,
-
que é descrita como uma
"condição na qual um indivíduo
-
se identifica com um género inconsistente
-
ou não culturalmente
associado com o seu sexo biológico".
-
Parece bem generalista e...
-
esperem, não,
está classificado como uma doença,
-
uma doença psiquiátrica.
-
Sei o que estão a pensar,
que isto é chocante,
-
mas não é algo tão simples
-
como definir estas afirmações
como verdadeiras ou falsas, certo?
-
Estão numa categoria do tipo,
"verdadeira, porém".
-
Considere a transexualidade
como uma doença, certo?
-
Tecnicamente, é verdade,
-
até o ponto em que "transexualidade"
é o nome de uma entrada
-
dentro da Classificação
Internacional de Doenças, versão 10.
-
Mas devemos adicionar alguma
complexidade e pormenor a isso.
-
O CID é uma classificação de literalmente
-
qualquer coisa no mundo
que possa vir a ter,
-
que esteja de qualquer forma relacionada
com o ferimento ou morte de alguém.
-
Na verdade, é ilegal morrer de qualquer
coisa que não esteja listada no CID.
-
(risos)
-
Então contém muitas coisas,
-
e a transexualidade está lá listada,
-
por isso, classificamo-la como doença,
-
por estar numa classificação de doenças.
-
Aqui estão algumas outras coisas
que o CID também lista como doença
-
e tem entradas específicas.
-
PA80: tiro acidental.
-
PA40.0: cair de um barco e afogar-se.
-
(risos)
-
PA41.1: cair de um barco,
danificá-lo e afogar-se.
-
(risos)
-
PA40.1: cair do barco,
-
não danificar o barco,
-
não se afogar,
-
e ainda assim morrer.
-
(risos)
-
E finalmente, QD50: ser pobre.
-
(risos)
-
Logo, se algum de vocês
já tiver caído de um barco,
-
lamento informar que tem uma doença
-
e deveria procurar um médico.
-
Que tipo de médico eu não sei.
-
Talvez um psiquiatra.
-
Quem sabe?
-
Sabe que é uma doença, certo?
-
Qual a especialidade: psiquiatria?
-
Bem, também é verdade, de certa forma.
-
Psiquiatras são as pessoas
-
que diagnosticam disforia de género,
-
uma desconexão entre
a percepção de género de alguém
-
e o seu género biológico.
-
Mas, novamente, contexto.
-
Por exemplo, dizer que os
psiquiatras fazem esse diagnóstico
-
ignora o facto
de que nenhum dos tratamentos
-
são psiquiátricos.
-
Podem também listar
as especialidades como...
-
como especialização em hormonas
-
ou cirurgia plástica,
ou como um cortador personalizado.
-
Todos eles têm também algum
papel na trajetória de vida das pessoas.
-
Não estão listados.
-
Outro factoide potencialmente útil,
-
é que o CID-10 é, na verdade,
-
a versão antiga da Classificação
Internacional de Doenças,
-
e que o CID-11 já não inclui
de todo, a transexualidade,
-
muito menos como doença.
-
Mas o que quero dizer não é que a Wikidata
às vezes tenha informações desatualizadas,
-
ou às vezes tenha informações falsas,
-
mas sim que as afirmações que são
construídas a partir dessa informação
-
como consequência do que deixam de fora
-
e de quais são os resultados,
-
omite coisas e adiciona risco.
-
Uma forma de estruturar
-
a informação contida nessa entrada é:
-
"transexualidade é uma
doença psiquiátrica".
-
E Isso deixa de fora muita complexidade,
-
alguma da qual discutimos.
-
Mas a grande questão é
como é que isso se interliga
-
e identifica com narrativas
e informações já existentes.
-
Por exemplo, a ideia da
transexualidade como doença.
-
Alguém sabe por que o CID
parou de considerá-la uma doença?
-
Bem, por duas razões.
-
A primeira é que chamar
alguém trans de doente é impreciso.
-
Não se enquadra na definição de doença.
-
Na verdade, o único motivo
pelo qual qualquer coisa associada
-
a transexualidade ainda estar no CID
não tem a ver com algo objetivo,
-
por exemplo, examinar
biologicamente ou psiquiatricamente
-
mas sim com puro pragmatismo.
-
Se tirar totalmente da lista,
-
então as companhias de seguro de saúde
em locais como os Estados Unidos,
-
iriam parar de dar cobertura médica
-
que estivesse associada
com a transexualidade.
-
E o segundo motivo é que,
-
o estigma de ter algo classificado
como doença é substantivo,
-
e quando lista transexualidade
como uma doença,
-
e psiquiátrica ainda por cima,
-
entra em suposições muito antigas
-
e falsas crenças sobre pessoas trans.
-
Suposições e crenças
que têm muito poder.
-
Se é uma doença, então há
algo de errado com as pessoas trans,
-
algo que as pessoas devem solucionar.
-
E se é uma condição psiquiátrica,
-
as pessoas trans devem fazer terapia
para deixarem de ser trans.
-
Por outras palavras, seja lá qual for
a verdade ou mentira da afirmação,
-
tirá-la da sua complexidade e contexto,
-
deixa as pessoas preencherem
a lacuna com as suas próprias ideias.
-
E isso não termina num sistema
de classificação neutro e objetivo,
-
mas sim com terapias de conversão
-
e com legalizar espancar até a morte
-
uma pessoa trans por descobrir isso
só depois de dormir com ela,
-
porque, afinal,
havia algo de errado com ela.
-
Por que seria considerado razoável
-
fazer isso?
-
Por isso um enquadramento
mais pormenorizado pode ser a resposta,
-
o que é difícil de colocar na Wikidata.
-
E porque não conseguimos
colocar isto na Wikidata,
-
simplificamos,
perdemos toda a complexidade,
-
abrimos, de novo, a possibilidade
de reforçar estas noções muito perigosas.
-
Vamos ver outro exemplo
também sobre género,
-
que é a entrada para não-binário.
-
De acordo com o
que a Wikidata nos informa,
-
não-binário é uma série de géneros
-
que não são nem exclusivamente
femininos ou masculinos.
-
Tenho algumas críticas
para a secção "também conhecido como",
-
mas esse nem é o maior problema aqui.
-
Não, o grande problema aqui
-
é que, em ponto algum da página
há referência a pessoas trans.
-
Se for à entrada
para a mulher transgénero,
-
pode ler-se
"o oposto de homem transgénero".
-
Se for à entrada
para o homem transgénero,
-
lê-se "o oposto de mulher transgénero".
-
Se aceder a esta página,
-
não há qualquer referência
a pessoas trans.
-
Há uma completa desconexão e distinção
-
entre pessoas não-binárias e trans.
-
Isto pode parecer algo
pedante para nos preocuparmos,
-
mas é de facto,
um ótimo exemplo por vários motivos.
-
A primeira é que a relação entre
pessoas não-binárias e pessoas trans
-
é fortemente debatida.
-
Um indivíduo não-binário pode
ou não identificar-se como trans.
-
Consequentemente, é muito difícil
-
fazer julgamentos categóricos
sobre essa classe de pessoas.
-
Outras pessoas diriam
que não-binários não são trans,
-
sem motivo aparente,
ou que não-binários são trans.
-
Terá que tomar uma decisão
em algum momento.
-
Como vai categorizar esta entrada?
-
Que atributos irá associar-lhe?
-
Mas é difícil fazer isso na Wikidata
-
quando, por necessidade,
a estrutura da plataforma
-
é tão categórica e fixa
-
que não pode dizer-se que, para algumas
pessoas estas coisas são relacionadas,
-
mas para outras não,
e na verdade isto é muito político,
-
mas devíamos pensar sobre o assunto.
-
Não há um facto objetivo
onde nos possamos apoiar.
-
É muito contextual, complexo e disputado.
-
Por isso, como encaixamos isto?
-
Ideias?
-
Mas esta redutividade
não é apenas uma questão de,
-
"Bem, não conseguimos
colocar toda a informação,
-
por isso acho que não está perfeito".
-
Novamente, isto encaixa-se em discursos
pré-existentes, num mundo pré-existente,
-
e tem potencial
para causar males bem reais.
-
Há uma longa história
-
de pessoas não-binárias
não serem consideradas trans,
-
que vem, na verdade, desde os fundamentos
-
de trabalhos médicos,
académicos e de referência
-
sobre o que é ser trans e como
pessoas trans devem ser tratadas.
-
Isto resultou em
-
retirar de pessoas não-binárias
o acesso a recursos...
-
assistência médica, sentimento de pertença
comunitária, qualquer tipo de suporte.
-
Na verdade, até 2013
não era possível escolher ser não-binário
-
e continuar a ter acesso a tratamento
médico relacionado com transição sexual.
-
Se fosse e quisesse acesso,
devia ir ao seu médico
-
mentindo continuamente
e torcer para que ninguém descobrisse.
-
Se quisesse
que esse diagnóstico acontecesse
-
para que o seu seguro
de saúde cobrisse os gastos
-
ou para o sistema nacional
de saúde cobrisse os gastos,
-
só podia ser homem ou mulher,
-
e nada mais.
-
E agora existem muitas repercussões
-
para existências não-binárias
-
de pessoas que pensam
que somos uma ameaça,
-
ou algo novo e diferente,
-
quando na verdade existimos à tanto tempo
quanto qualquer tipo de pessoa trans,
-
só não somos debatidos.
-
De novo, a consequência disto
-
deste silêncio é reforçar
que essas ideias pré-existentes
-
de que não-binários não tem
nenhuma relação com o ser trans,
-
que isso cria e reforça discursos
que excluem pessoas de assistência médica,
-
e de uma comunidade.
-
Finalmente, antes de parar de insistir
em questões de género,
-
os hijra.
-
De acordo com a Wikidata,
-
os hijra são o terceiro género
de culturas do sul asiáticas
-
e uma subclasse do não-binários.
-
Um ponto importante.
-
Sim, os hijras estão fora
do binómio homem-mulher simples,
-
mas quase zero pessoas hijra
-
se definiriam como não-binários
porque isso não faz o mínimo sentido.
-
Num contexto ocidental,
não-binários são, por definição,
-
nem homem ou mulher mas por consequência,
nem mulher trans nem homem trans.
-
Hijra incluem mulheres trans
-
e também todas as pessoas intersexo,
-
todas as pessoas estéreis
e um grande número de homossexuais,
-
mas não incluem homens trans
-
ou pessoas não-binárias que foram
consideradas mulheres ao nascer.
-
Tudo isto é muito complexo
e há, literalmente livros escritos
-
sobre a estrutura de género
e como tudo se encaixa nisso.
-
Mas a questão é não existir
um mapeamento simples
-
de noções de género ocidentais
-
para noções de género do resto do mundo.
-
Categorizar pessoas hijra
-
como um subtipo de pessoas não-binárias
-
ignora o facto de que a maioria
dos hijras não se vêem assim,
-
não se veriam assim,
-
e que as definições de hijra e
não-binários são totalmente incompatíveis.
-
Porém isto tem
potencial para causar danos.
-
Porque o facto
é que noções ocidentais de género
-
são regularmente, e durante muito tempo,
-
espalhadas para o resto do mundo,
frequentemente de forma violenta.
-
Temos sistemas de informação.
-
Sistemas de classificação.
-
Temos padrões.
-
Temos, historicamente e atualmente,
-
guerras orientadas pela ideia que
-
a forma ocidental de fazer as coisas
é a única forma certa,
-
ou é a melhor e a normal,
-
e todos se devem conformar.
-
E quando temos estes projetos
grandes que tentam encaixar o mundo
-
dentro de visões ocidentalizadas
de conhecimento, porque precisam,
-
porque é assim que os sistemas
de classificação universais funcionam...
-
tudo tem que encaixar
num esquema consistente.
-
Está a perpetuar esse tipo de violência.
-
Poderiam responder-me
às minhas preocupações e exemplos,
-
e divagações de várias maneiras.
-
Uma linha de pensamento seria,
"Por que importa isto?"
-
Porque é que a Wikidata
ao participar e validar
-
ou invalidar determinados discursos
tem impacto no mundo?
-
A primeira resposta é que
não importa se isso importa.
-
O que é importa é que reconheçam isso.
-
Neste momento, a estrutura
padrão da Wikidata é,
-
estamos a reunir
todo o conhecimento em formato digital,
-
mas vocês não estão.
-
Vocês também estão a tomar decisões
-
sobre o que deve ou não ser incluído,
-
e como o conhecimento
deve estar representado.
-
Que complexidade
vale ou não a pena estar representada.
-
E essas são escolhas éticas e políticas,
-
em que enquadrar o projeto
é um simples resultado
-
de milhões de macacos
anónimos e intercambiáveis,
-
com um número
equivalente de dactilógrafos,
-
e que torna impossível
conversar sobre isso.
-
Os organizadores, utilizadores
e fundadores da Wikidata
-
devem entender que estão
a tomar decisões profundamente carregadas,
-
que não são neutras ou objetivas de todo,
-
e que isso não é mau, mas sim perigoso.
-
E ao aceitar
-
que estas são decisões éticas e políticas,
-
poderiam dizer,
"Se as pessoas querem as suas visões
-
sobre as coisas incluídas,
deveriam contribuir".
-
E comunidades marginalizadas
contribuem muito, certo?
-
Há uma longa tradição
de comunidades LGBT+,
-
em especial, a adoptarem
primeiro novas tecnologias.
-
E as pessoas poderiam
simplesmente contribuir para Wikidata.
-
Como as pessoas Hijra que poderiam
criar contas e começar a argumentar
-
que a definição não deveria ser
uma sub entrada de não-binário,
-
e assim sucessivamente.
-
O problema é que isso
é improvável ajudar
-
porque são a minoria,
-
porque muitas vozes e perspectivas
estão atualmente silenciadas,
-
no âmbito da tomada de
decisões éticas políticas,
-
e são as vozes das minorias.
-
Fiz umas contas sobre isto.
-
Wikidata tem 20 mil editores ativos,
-
de uma população humana
de cerca de 7 bilhões,
-
a menos que achem
que a matemática é uma mentira
-
e que os governos do mundo,
controlados por reptlianos no Ártico,
-
estão a inventar tudo.
-
E eles são aproximadamente...
-
(Pessoa 1) Quer dizer que não estão?
-
(risos)
-
Olha, serei honesto.
-
Se viver nos Estados Unidos
nos últimos 5 anos me ensinou algo,
-
é que qualquer união governamental
grande o suficiente para controlar
-
boa parte da população humana,
-
não seria de certeza competente
o suficiente para esconder o seu rasto.
-
(risos)
-
Iríamos descobrir em 3 meses
-
e nem sequer seria por causa
de algum repórter de investigação.
-
Seria porque um dia um dos reptilianos
-
se esqueceria de vestir
o disfarce de humano
-
e iria acidentalmente ao mercado
comprar um litro de leite
-
(risos)
-
e era apanhado num vídeo do TikTok.
-
(risos)
-
Então, a Wikidata tem
20 mil editores ativos,
-
dos quais consideraremos
que nenhum é reptiliano
-
disfarçado de humano ou algo do tipo,
-
de uma população de 7 bilhões,
-
e há aproximadamente 1 milhão
de pessoas hijra no mundo.
-
Se considerar uma taxa
de participação igualitária,
-
desconsiderando a condição
de extrema pobreza de muitos hijra
-
e o seu impacto correspondente
em coisas como acesso à internet,
-
então o esforço combinado
de 20 mil editores da Wikidata,
-
teria de ser superado por 2,85 pessoas.
-
Não me parece algo muito plausível.
-
Então podem dizer,
-
"Bem, e se tivermos
outras instâncias da Wikibase,
-
não é nesse caminho que estamos a ir?
-
Pode configurar a sua
própria Wikibase com as suas perspectivas
-
e decisões próprias sobre
como classificar as coisas,
-
e o que prioritizar ou não.
-
Faça o seu próprio site com os seus
standards sobre o que é conhecimento
-
e que informação é importante."
-
As pessoas podem fazer exatamente isso.
-
Mas o problema é que a
Wikidata tem muito prestígio,
-
e por isso é que as decisões
que a Wikidata toma têm tanto impacto.
-
Há também o facto de já existir.
-
Tem a vantagem dos pioneiros.
-
Há a marca da Wikimedia.
-
Há o financiamento de
nomes como a Google.
-
Há a relação com outras instituições.
-
Quando o plano estratégico para a Wikidata
-
pede envolvimento e integração com museus,
-
isso não gera apenas
mais dados para a Wikidata.
-
Também faz com que a Wikidata,
-
e as decisões dos seus utilizadores,
penetrem mais na realidade,
-
tornando-se assim um padrão sobre
como sistemas de dados funcionam,
-
e um lugar que serve de base
para popular outros espaços.
-
Continuo a seguir o mote de,
"Nada mau, mas perigoso"
-
para descrever sistemas de
classificação ou a Wikidata,
-
e quero reforçar que não acho
que a Wikidata é inerentemente má.
-
Mas acho que os seus perigos são vastos
-
e não estão a ser observados.
-
Só de olhar à questão do género,
-
vimos 3 exemplos,
que encontrei bem, bem rápido,
-
de situações onde mesmo deixando de lado
-
o tipo de objetividade
"de precisão" de uma informação
-
que uma definição na Wikidata pode ter,
-
a informação que ela escolher conter
e escolhe prioritizar perpetua ou,
-
silencia certos discursos e ideias
-
que tem peso no resto do mundo
e que causam danos no resto do mundo.
-
Escolhi esses exemplos,
-
não porque são surpreendentes
de alguma maneira,
-
nem porque são únicos,
-
mas simplesmente para mostrar
que se pude encontrar vários problemas
-
com ressonância em sistemas
mais amplos e violentos
-
num trecho de conteúdo tão pequeno,
-
imagine quantos andarão por aí.
-
O objetivo da Wikidata e
o objetivo da classificação universal,
-
se estes perigos não forem resolvidos,
-
podem resultar,
ou irão por último resultar,
-
não numa classificação neutra,
mas numa imposição.
-
Ao dizer, é assim
que o mundo funciona, e se não gosta,
-
parabéns,
devia tentar mudar e enquadrar-se.
-
E queria realmente ter
uma resposta simples para isto.
-
Não tenho.
-
É uma das vantagens
de mudar para investigação,
-
ao invés de trabalhar
num departamento de engenharia.
-
Pode chegar aos sítios
-
e dizer, "É tudo muito complicado".
-
(risos)
-
Alguém deveria fazer
algo com respeito a isso.
-
Podiam dar-me uma Bolsa, por favor?
-
(risos)
-
Mas tudo o que posso fazer
-
é levá-los à conclusão de Bowker e Star,
-
que isto não é só sobre a Wikidata,
-
este não é um problema com a Wikidata
-
o problema é a classe de sistemas
-
da qual a Wikidata faz parte
nunca foi feita de maneira segura
-
e não há motivos para
crer que poderia ser.
-
O meu pedido não é por uma
mudança em particular,
-
nem para que todos vocês
desistam e vão para casa.
-
É para o projeto coletivamente,
-
e para cada um de vocês individualmente,
-
determinar o quão confortáveis estão
-
em participar e construir um sistema
-
que reivindica o universalismo,
-
que reivindica a neutralidade
e a verdade dos dados,
-
quando sabemos que nenhuma
das duas é possível
-
e nem será inofensiva quando falhar.
-
E se não está confortável
com isso, trabalhe para articular
-
outras formas de fazer isto.
-
Que podem ser, por exemplo,
-
dar prioridade para
as Wikibases locais.
-
Quero dizer que por último
-
precisamos dar a certas comunidades locais
-
e contextos
e espaços individuais a primazia
-
para definir o que lhes importa,
-
e como gostariam de ser definidos.
-
E que a conversa sobre que
perspectiva deveria ser incluída
-
e deveria esperar
em algum repositório central
-
até termos
o quadro completo de perspectivas.
-
E para mim, é tudo.
-
Obrigado a todos por terem me ouvido.
-
Acho que temos 20 ou 25 minutos...
-
(Pessoa 2) 25 minutos para
perguntas, então, por favor, perguntem.
-
Muito obrigado.
-
(aplausos)
-
(Pessoa 3) Muito obrigada
por esta maravilhosa apresentação
-
sobre problemas inerentes
a sistemas de classificação.
-
Um dos exemplos que trouxe é muito bom
-
do ponto de vista matemático,
-
quando mostrou que o homem transgénero
-
é o oposto da mulher transgénero,
-
ou que a mulher transgénero
é o oposto do homem transgénero
-
e o oposto da mulher cisgénero.
-
Isso faz com que a mulher cisgénero
seja igual ao homem transgénero,
-
porque os opostos são iguais.
-
Se o oposto de A é B
e o oposto de C é B,
-
então A e C são iguais.
-
Então na verdade deveria ser
"diferente de" e não "oposto de",
-
e isso envolve várias
questões matemáticas,
-
quando vamos fazer
consultas na base de dados,
-
então é algo realmente importante
apontar coisas como essa.
-
Sim, outro exemplo que achei divertido,
-
foi que transexualidade
foi definida mais abaixo...
-
queria ter incluído mas não
consegui encaixar numa sequência,
-
foi definida como o mesmo
que cirurgia de redesignação sexual.
-
O que é não intencionalmente hilariante,
-
porque o diagnóstico de transexualidade
-
foi, historicamente, o pré-requisito
para cirurgia de redesignação sexual.
-
Não é tanto um problema
do ovo ou da galinha
-
porque é a galinha que carrega o ovo.
-
(risos)
-
Então, sim, essas...
-
Quando olhamos para a Wikidata
e o quanto ela usa uma linguagem
-
matemática ou pseudo-matemática,
-
oposto de, distinto do, no conjunto de...
-
Sim, a realidade é muito
mais complexa do que
-
a matemática que temos
para representá-la.
-
Não tenho uma resposta inteligente,
excepto dizer que
-
era um investigador quantitativo
-
e desisti e há um motivo para isso.
-
(Moderador) Próxima pergunta.
-
Quem levantou a mão?
-
Vejo uma mão levantada?
-
(Pessoa 4) Olá.
-
Em primeiro lugar,
obrigado pela apresentação.
-
Foi ótima para abrir os horizontes.
-
Quero dizer, mas antes de mais,
-
há uma Wikimedia...
não sei se sabe,
-
sobre um grupo de utilizadores
da comunidade LGBT+.
-
É um grupo de utilizadores,
e tem uma mailing list,
-
e estão agora a discutir a questão
do sexo e género na Wikidata,
-
e há algumas propostas feitas
-
por pessoas LGBT+ para melhorá-la.
-
Mas ainda não está totalmente concluído.
-
Existem alguns planos,
e pessoas a trabalhar nisso.
-
Seria fantástico
se pudesse entrar lá e dar sua opinião
-
porque tenho certeza que
é bem mais entendido que nós.
-
Mas quero fazer uma crítica
sobre o que disse,
-
sobre as pessoas hijra,
-
que de 20 mil editores da Wikidata,
-
considerando que 2,8 deles seriam Hijra,
-
e precisariam superar
todas essas 20 mil pessoas,
-
mas não é verdade.
-
Muitas pessoas, digamos 20 mil pessoas,
-
estão simplesmente
ignorantes do problema.
-
Não são fanáticos,
-
nem vão ativamente
-
levar pessoas a fazer isto.
-
E muitos ajudarão se lhes pedir.
-
Como alguém que edita a Wikidata,
-
não tenho ideia desse assunto
-
e se soubesse, teria corrigido.
-
Então, sim.
-
Sim. Entendo o que quer dizer.
-
Quero deixar claro que não estou a dizer
-
que há 20 mil pessoas,
-
muitas estão nesta sala,
-
embora apenas uma pequena porcentagem
-
seja fanática e imperialistas culturais.
-
Ao invés disso, estou a falar do facto
-
de que o modelo de consenso,
e o modelo baseado em discussão,
-
nos quais se baseiam os WikiProjetos,
-
tem algumas falhas,
-
e uma das maiores falhas
-
é assumir que todas as vozes
que precisam ser representadas estão lá
-
e estão representadas
de forma proporcional.
-
O consenso surgiu como modelo
em comunidades de Quaker
-
onde literalmente todos os afetados
por uma decisão estavam lá,
-
porque todos os que seriam impactados
cabiam num mesmo lugar.
-
E o meu ponto com o número 2,85
-
não é dizer que é preciso argumentar
com todos os utilizadores da Wikidata
-
de toda a vez que quiser
tomar uma decisão,
-
mas sim dizer que o modelo de consenso
-
e o modelo maioritário de como
o conhecimento deveria ser representado,
-
incorre fundamentalmente num problema
-
quando as pessoas não representadas
-
não são representadas.
-
Um outro exemplo, real,
-
Myanmar como um país.
-
A Wikipedia em inglês
dizia que se chamava Birmânia
-
até à poucos anos atrás.
-
E a razão por trás disto
era muito simples.
-
A BBC não gostava de chamar de Myanmar
-
e muitos editores...
-
(Pessoa 5) [inaudível] totalmente errado.
-
Desculpe-me.
-
(risos)
-
Caímos em questões como esta...
-
Bem sei que não é algo preciso, mas...
-
(Pessoa 5): Na verdade não é impreciso...
(Moderador): Dou-lhe o microfone.
-
- (Os) Sim?
- (Pessoa 5) Desculpe,
-
é que é ser incrivelmente ignorante e...
-
- (Os) Siga em frente.
- (Pessoa 5) É absolutamente terrível,
-
é uma descaracterização terrível
da situação política em Myanmar.
-
Sim, siga em frente.
-
(Pessoa 5) De qualquer forma,
o que se passa é que o país
-
na língua birmanesa,
-
é referido como Myanma ou Bama.
-
Sim.
-
Myanma tende a ser
um registro mais formal,
-
enquanto Bama um pouco mais informal,
-
mas ambos termos aceitáveis para o país.
-
O termo Birmânia obviamente
veio do termo Bama,
-
mas o que aconteceu
é que não há uma forma oficial...
-
O país era oficialmente chamado,
em inglês, de Birmânia
-
até 1988, 1989, desculpe,
-
quando o governo militar do pais,
-
basicamente decidiu,
a junta militar do país decidiu
-
que o país deveria se chamar Myanmar.
-
Ostensivamente,
foi uma tentativa de tornar o nome do país
-
mais aceitável para minorias existentes.
-
Enfim, isso é um pouco de
revisionismo histórico,
-
porque Myanma e Bama
referem-se especificamente
-
às maiorias étnicas do país.
-
Basicamente, o governo
da Birmânia na época...
-
(Os) tentaram tornar as pessoas
equivalentes ao país,
-
dizendo implicitamente...
-
(Pessoa 5) Quase o contrário,
-
mas de uma forma estranha.
-
Basicamente declararam que
Bama era uma referência étnica
-
e que Myanma era uma referência ao país,
-
quando historicamente
ambos representam etnicidade e o país.
-
(Os) Isso faz sentido.
-
(Pessoa 5) Mas o que aconteceu
é que os militantes democratas
-
dentro do país acreditavam
que a junta militar
-
não tinha poder para mudar
o nome do país em língua nenhuma,
-
porque não eram apoiados
pelo povo do país.
-
E eram explicitamente uma junta militar
-
que...
-
logo o país deveria continuar
sendo chamado de Birmânia em inglês.
-
Pelo facto chamar o país
de Myanmar equivale a dizer que
-
o governo da Birmânia
e de Myanmar era legítimo.
-
Depois da queda do...
da queda não,
-
mas depois do semi-retorno
de um governo civil em 2014,
-
essa questão veio a tona,
-
"Em inglês, devemos chamar
este país de Myanmar ou Birmânia?"
-
e o líder de facto do país,
Aung San Suu Kyi,
-
disse que não há nada
na constituição birmanesa
-
que diga como deve chamar em inglês,
-
então chame como quiser.
-
Quer dizer, o nome do país é oficialmente,
-
União de Myanma em birmanês,
-
mas quanto
ao termo em inglês, faça o que quiser.
-
Em geral, antes do retorno
do governo civil na Birmânia,
-
referir de Myanmar significava legitimar
-
o governo militar.
-
Portanto, chamar de Birmânia
era considerado um ato político
-
de não dar àquele governo legitimidade.
-
Sim, não estou a dizer
que não há um motivo para isso.
-
Estou a dizer que na
Wikipédia em inglês especificamente,
-
a página passou por
7 requisições de discussão,
-
durante 4 anos,
e uma mediação de decisão cabal,
-
e uma tentativa de mediação estruturada,
-
e uma revisão de um dos pedidos
de discussão de mudança,
-
e quando olha para as discussões,
-
a maioria dos argumentos de ambos os lados
-
não é sobre uma
situação política complexa no país,
-
mas na verdade, sobre qual é
o nome mais usado nos média
-
e como diferentes instituições o chamam.
-
E ao olhar às discussões,
há um momento onde claramente
-
todas as organizações de jornalistas
-
de língua inglesa
que não eram a BBC,
-
e eram consideradas grandes
portais de notícias no ocidente,
-
mudaram as suas fontes linguísticas,
-
e o debate, na prática,
se torna um debate sobre
-
se o ocidente deveria ouvir
o Wall Street Journal ou a BBC.
-
O ponto onde quero chegar
não é sobre a especificidade política
-
da situação, mas sim sobre o facto
-
de que é muito fácil essas discussões
-
se tornarem praticamente
uma disputa do quanto amamos a BBC,
-
e ao olhar às discussões
vê esse estudo de caso
-
nas questões de ter essas conversas
-
e ter todas essas perspectivas
internas e cheias de complexidade,
-
quando a maior parte das
discussões giravam em torno
-
do quanto amamos a BBC
e vindo de pessoas fora do contexto.
-
Então, não é...
-
O meu ponto de vista
sobre isso é basicamente
-
que mesmo que não esteja
a lutar contra 20 mil pessoas,
-
mesmo que esteja
só a argumentar com 20 pessoas,
-
probabilisticamente 19 delas
serão pessoas com opiniões fortes,
-
que não necessariamente
sofreram as consequências negativas
-
de qualquer mudança que venha a ocorrer,
-
mas que tem uma visão de mundo
particular e decidiram estancar nela,
-
de forma que as propostas de grupos LGBT+
-
para mudar os critérios da Wikidata,
-
podem ser incríveis, posso amá-las,
como posso não as amar, eu não as li.
-
Mas a premissa base é...
-
Nós temos as pessoas
que aparecem na Wikidata agora mesmo,
-
e são representantes
de todas as pessoas LGBT+
-
e essa é a regra universal
do que deve ser feito
-
no que se refere a todas as pessoas LGBT+
-
é um microcosmos do mesmo problema.
-
(Moderador) Temos outra questão.
(Os) Sim.
-
(Pessoa 6) Olá.
-
Acho que temos outro problema
-
quanto à abordagem baseada
em consenso que temos,
-
por vezes temos consenso
sobre temas muito difíceis
-
relacionados a como lidar com isso
-
e [inaudível] na Wikidata
e ninguém está a ler a discussão.
-
Normalmente, o projeto Names,
-
que é um WikiProjeto muito,
muito antigo na Wikidata,
-
e nomes são uma questão muito,
muito complicada no mundo.
-
Nem todos no mundo
tem um nome próprio,
-
nem todos tem um sobrenome,
bem, entendeu a ideia.
-
E existem tantos
sistemas de escrita por aí
-
e nós temos, na verdade,
um sistema que estava,
-
a funcionar para muitos
casos no mundo todo,
-
em como usar propriedades,
que itens devem ser,
-
ou como conectar isso tudo...
-
Adicionámos 8 páginas,
-
ninguém está a ler isso
e alguém simplesmente colocou
-
um roteiro de nomes de família
em latim para um pesquisador chinês.
-
Não temos os nomes desses investigadores
-
mas sabemos que o valor
adicionado estava errado.
-
Não tenho o valor correto,
-
mas sei que esse
não é o valor correto.
-
E não se trata apenas de debater o tema,
-
porque temos grandes debates
-
e temos um modelo que
está, em geral, a funcionar
-
e até trata de casos mais complicados,
-
mas as pessoas vão lá e
"nomes próprios sugerem uma propriedade,
-
então vou adicionar uma".
-
Não.
-
Acho que não é como modelar as coisas,
-
realmente é preciso explicar o modelo,
-
a parte técnica, poderíamos
ter ferramentas com sugestões
-
e acho que a limitação
que aconteceu ano passado
-
é uma ótima coisa para isso.
-
Mas não é,
mesmo quando sabemos modelar a coisa.
-
É preciso fazer esse modelo
conhecido pelas pessoas.
-
Há uma questão técnica
sobre como fazer isso melhor.
-
(Moderador) Era só um comentário?
-
Não tem uma questão?
-
Ou era essa a pergunta?
-
- Como fazer isso?
- (Pessoa 6) Essa era a pergunta.
-
Desculpe,
mesmo que tenhamos esta discussão,
-
(Moderador) Sim, claro.
-
(Pessoa 6) A minha pergunta,
caso não tenha sido clara,
-
é que mesmo que todos
estejam de acordo
-
em como modelar casos complicados,
-
ou fazemos tecnicamente
o modelo conhecido para o projeto
-
com o objetivo da Wikidata,
-
de forma a que as pessoas não
adicionem o valor errado de boa fé,
-
porque o nosso problema são ambos.
-
Temos problemas a modelar
realidades complicadas
-
e temos problemas a explicar
para os usuários como seguir
-
o modelo que temos atualmente.
-
Sim.
-
Eu iria dizer que se pudesse
resolver esse problema,
-
o que significa reenquadrá-lo,
-
como educar de forma confiável
e consistente os novos utilizadores
-
para que tenham a mesma
visão e entendimento
-
sobre o espaço do projeto,
-
de forma que eles deixariam
eu me formar
-
e também arrumar um emprego.
-
Este é o segundo problema mais
antigo da internet.
-
O primeiro é um sistema de escrita
-
que irá automaticamente detectar insultos.
-
Eu diria que...
-
pode olhar para a Wikipedia,
-
ou mesmo antes dela aparecer,
havia o fenómeno,
-
do setembro eterno na Usenet,
-
que era, "Oh, estas pessoas guardam...
os discos da AOL foram para todo o lado
-
e agora há novatos
-
a toda a hora que não sabem
como as coisas funcionam por aqui,
-
e tudo está tudo a afogar-se com gente
a carregar no "Responder a Todos'".
-
De forma geral,
o sitio onde procuraria por isso
-
é uma disciplina chamada "Trabalho
cooperativo auxiliado por computador"
-
e uma das suas grandes questões
-
é sobre a questão do onboarding e...
-
como tornar a cultura conhecida por todos.
-
Mas isso pode não ser
algo solucionado diretamente,
-
ou que queiramos resolver
diretamente, certo?
-
Susan Leigh Star, que escreveu
Sorting Things Out,
-
uma das suas outras contribuições
-
foi o estudo de infraestruturas no geral
-
sobre as quais posso argumentar
que a Wikidata é de certeza uma,
-
e das coisas que ela defendeu
-
foi que as infraestruturas
dão-se a conhecer ao serem usadas.
-
Basicamente, a única forma de saber
como um sistema funciona
-
é interagindo com ele,
errar, esbarrar de frente
-
e aprender a como não cair de novo.
-
Acho que todos nós em qualquer lugar,
incluindo novos utilizadores,
-
incluindo pessoas
vindas de outros projetos,
-
querem uma forma de abordar isto
onde não precisem de cair.
-
Mas não estou certo que isso exista,
-
e penso que o melhor sitio
para procurar, é se calhar perguntar
-
quais são as consequências
das pessoas fazerem asneiras
-
e como tornamos
o fazer asneiras algo compreensível
-
e um mais esperado componente
de experiência de novos utilizadores.
-
(Moderador) Obrigado. Próxima pergunta.
-
(Pessoa 7) Obrigado.
-
Primeiro, muito obrigado pela palestra.
-
Como alguém já disse,
foi de abrir expandir horizontes.
-
Estava à procura de um item
específico em transexualidade
-
e é, ainda mais interessante,
-
porque estava a olhar
para como diferentes Wikipedias
-
lidam com a questão.
-
Só consultei 3.
-
Aparentemente, o que vemos na Wikidata,
-
na verdade, reflete muito
o que aconteceu, até certo ponto,
-
até certo nível, na Wikipedia em inglês.
-
Se verificar a Wikipedia em português,
-
o item aponta para transgénero,
-
e na Wikipedia francesa,
aponta para identidade trans,
-
enquanto transexualidade é um
redirecionamento em português e francês.
-
E estava a ver o histórico
de edições da página na Wikidata,
-
se verificar existiram,
como que, algumas guerras
-
a página de discussão,
tem apenas uma linha,
-
mas existiram vários
conflitos entre editores,
-
particularmente entre os franceses
-
que se opunham ao
uso de "transexualidade".
-
Se verificar os nomes
das páginas em cada língua,
-
o único que não tem transexualidade
-
é o francês
em detrimento de identidade trans,
-
depois veio alguém
e fez o que você disse sobre
-
ser o oposto de identidade trans,
-
e depois existe
uma página diferente que...
-
Sim.
-
(Pessoa 7) É uma guerra global sobre...
-
basicamente está reverberar conflitos
-
que aparentemente também
-
são manifestações de conflitos
que acontecem em cada Wikipedia.
-
Sim, isso também reflete
conflitos em culturas locais
-
e em partes diferentes do mundo...
-
E eu diria que, quer dizer,
-
eu sou britânico, por isso tenho uma
tendência a dizer, "lutar com franceses?"
-
"Sim, por favor!"
-
(risos)
-
Mas eu diria que há algo
mais fundamental que isso
-
e você pode fazer um argumento
na direção contrária.
-
Eu posso, como uma pessoa trans,
ir na direção contrária e dizer
-
"na verdade foram os franceses
e portugueses que entenderam tudo errado".
-
Porque a verdadeira questão é,
-
será a entrada transexualidade
-
sobre a classificação médica,
ou o estado de ser,
-
ou classificação médica histórica,
-
ou o termo histórico para o estado de ser,
-
ou serão estas entradas diferentes,
ou as mesmas entradas?
-
Quando as coisas são distintas o
suficiente para serem objetos diferentes
-
e como nós negociamos essa luta
-
entre pessoas
que pensam que o status médico
-
e a identidade são a mesma coisa,
ou coisas diferentes.
-
Mas sim, não há respostas simples,
-
porém suspeito que se vir
muitos desses exemplos
-
e se vir muitas controvérsias,
-
geralmente na Wikidata,
-
o que vai ver são lutas sobre...
-
Essas quase negociações
-
são as normas das comunidades locais
-
e além delas estão as normas culturais.
-
O que é um problema porque, mais uma vez,
-
quando falamos de grupos
marginalizados ou minoritários,
-
é de se esperar que eles também estejam
marginalizados nas comunidades Wiki
-
e também dentro da Wikidata,
-
por isso a Wikidata é como que...
-
construir sobre
essas prioridades preexistentes
-
de que conhecimento importa,
e sobre que circunstâncias e formatos.
-
(Pessoa 8) Queria falar
sobre algo que mencionou.
-
Tudo é complexo e penso
que para modelar direito,
-
fazê-lo correto na Wikidata,
-
não é o cerne da questão,
-
como disse, a Wikidata
é uma infraestrutura
-
e como Hermione disse,
-
nós talvez estejamos certos
em algumas coisas, alguns tópicos,
-
e mesmo assim,
não conseguirmos pô-lo em prática.
-
Sim.
-
(Pessoa 8) Então, gostaria de sugerir
-
que é uma condição
predominante da raça humana.
-
E mesmo que modelemos bem algo,
mesmo que modelemos o género
-
10 vezes mais complexa do que agora,
-
a maior parte das consultas SPARQL
que envolvem género não se importariam
-
com os qualificadores, certo?
-
Sim.
-
E ainda assim geraria resultados
muito rasos e simplificados.
-
O uso do Google dos nossos dados
nas infames caixas de informação,
-
também terão dados simplificados
e ignorarão os qualificadores.
-
Isso não irá mudar.
-
A Wikidata continuará a ser
usada de forma simplista.
-
De facto, a maior parte do uso,
-
provavelmente será dessa forma simplista.
-
O que quero dizer é que,
se calhar não é possível corrigi-lo
-
mas não devemos deixar de tentar.
-
Quer dizer, devemos tentar fazê-lo bem
-
e entender que muito do uso é,
apesar dos nossos esforços,
-
simplista e errado.
-
Sim. Concordo com isso.
-
Acho que diria que,
-
não é como...
-
A minha questão aqui não é, se existe
-
uma resposta incrível e complexa.
-
A dada altura simplesmente desisti,
-
mesmo que na minha tese que é,
sobre transexualidade e tecnologia
-
para definir transexualidade.
-
Simplesmente desisti.
-
E ao invés de procurar o que
é chamado de visão pragmática,
-
que é basicamente seja lá
o que for que pessoas
-
na situação que estiver a
estudar acreditam que seja,
-
e seja como for
que constroem o mundo,
-
como queiram,
-
onde quero chegar com isto
-
é que não é que haja
uma definição universal
-
sobre qualquer coisa que,
se suficientemente complicada,
-
será o suficiente,
-
mas ao invés disso, o que penso
é que a escala é o problema,
-
e o universalismo é o problema.
-
Talvez devamos continuar a tentar,
-
ou talvez parar.
-
Talvez devamos dizer que, novamente,
-
deveria existir uma Wikibase
dentro de cada comunidade
-
que assim o deseje,
onde possam definir e articular as coisas
-
da forma que quiserem.
-
Mas depois acabamos em
discussões mais politicas
-
e debates carregados sobre ações
reformistas versus radicais,
-
e sobre como abrir uma caixa
com um pé-de-cabra que está dentro dela,
-
e começo a citar Foucault por uma hora,
-
e toda a gente fica triste.
-
Inclusive eu, pois odeio Foucault.
-
Talvez esse seja um
debate para outra altura.
-
Mas concordando no geral, eu...
-
levantaria questões sobre
-
se devemos continuar a tentar
-
uma forma melhor de universalismo
-
ou se o problema é o universalismo.
-
Acho que temos tempo para mais uma?
-
(Pessoa 9) É uma pergunta curta,
mas possivelmente de resposta complexa.
-
Uma das propriedades
mais populares e usadas
-
é sexo ou género na Wikidata.
-
Podia comentar se acha
-
essa união útil, produtiva,
problemática?
-
Claro, acho que isso será sempre
-
uma causa redutora porque é uma união.
-
Mas também acho profundamente cansativo
-
de uma forma
um tanto ou quanto interessante,
-
na medida em que revela
as limitações da Wikidata,
-
embora a Wikidata afirme trabalhar
-
em direção a esse grande
e objetivo comum de conhecimento,
-
e depois acaba por
esbater essas definições,
-
porque, quer dizer, eles não perguntaram
-
à maioria das pessoas
que têm entradas qual o seu género,
-
e/ou qual o sexo deles,
-
e simplesmente fundiram as duas,
-
para essa inferência ser mais fácil.
-
Mas de forma geral,
diria que fundir os dois
-
é redutivo e perigoso
-
mas...
-
novamente, não é...
-
Não há uma forma boa de fazer isto.
-
Acho que esta é uma forma
particularmente má, ok?
-
De tratá-los como coisas intercambiáveis
-
e tratá-los como coisas
eternamente ligadas,
-
mas não consigo sugerir
uma forma melhor que fique...
-
que continue a ter a Wikidata
-
mesmo rastreando esta informação
ou a conter a informação de todo.
-
(Moderador) Acho que temos de concluir.
-
Ainda vejo algumas mãos no ar,
-
espero que estejam por perto.
-
Sim, sou um estudante de licenciatura.
-
Não tenho vida funcional, por isso...
-
(risos)
-
(Moderador) Perfeito. Ótimo.
Por favor venha e fale.
-
Muito obrigado a todos.
-
(Aplausos)