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cdn.media.ccc.de/.../wikidatacon2019-15-eng-Keynote_Questioning_Wikidata_hd.mp4

  • 0:06 - 0:08
    Olá, só para experimentar.
  • 0:08 - 0:10
    Conseguem ouvir-me?
  • 0:10 - 0:12
    Ótimo.
    Nunca percebi
  • 0:12 - 0:14
    porque é isto um fenómeno
    quando as pessoas dão palestras,
  • 0:14 - 0:16
    por que se não ouvissem,
    o que seria suposto dizer?
  • 0:16 - 0:18
    (risos)
  • 0:19 - 0:21
    Mas tudo bem, como disse, chamo-me Os.
  • 0:21 - 0:24
    Estou a fazer um Doutoramento
    na Universidade de Washington,
  • 0:24 - 0:26
    onde, de acordo com o slide,
  • 0:26 - 0:30
    estudo "Género, Infraestrutura e
    (Contra) Poder".
  • 0:30 - 0:33
    Gostaria de vos pedir
    a indulgência de fingir
  • 0:33 - 0:37
    que isto é uma descrição académica,
    pensada, pormenorizada,
  • 0:37 - 0:39
    e não apenas uma frase genérica,
  • 0:39 - 0:42
    porque estudo
    um milhão de coisas diferentes
  • 0:42 - 0:46
    e colocá-las em poucas palavras é difícil.
  • 0:47 - 0:48
    Mas a maior parte do que estudo
  • 0:49 - 0:52
    gira em torno de como sistemas
    de conhecimento reforçam certas ideias
  • 0:52 - 0:54
    sobre como o mundo funciona,
  • 0:54 - 0:56
    e relações específicas de poder
  • 0:56 - 0:58
    com um foco específico no género.
  • 0:59 - 1:01
    Também sou um ex-Wikipedista.
  • 1:01 - 1:03
    Passei 15 como editor,
  • 1:03 - 1:06
    que foi onde provavelmente começou
    o meu interesse sobre natureza,
  • 1:07 - 1:10
    e realmente não consigo expressar
    o quão feliz estava por ter sido convidado
  • 1:10 - 1:13
    e o quão feliz estou
    por estar aqui com todos vocês,
  • 1:13 - 1:15
    mas especialmente com James Forrester
  • 1:15 - 1:17
    que é provavelmente
    a única pessoa qualificada
  • 1:17 - 1:20
    para rubricar o meu pedido
    de renovação de passaporte,
  • 1:21 - 1:23
    que expira em breve
    e estou a tentar resolver...
  • 1:23 - 1:24
    (risos)
  • 1:24 - 1:26
    Mudas-te para Seattle. Tudo é ótimo.
  • 1:26 - 1:28
    E de repente:
    "Olha, o governo britânico...
  • 1:28 - 1:31
    exige que encontre um ex-padre,
    um funcionário público,
  • 1:31 - 1:33
    ou membro do parlamento
    que me conheça há pelo menos 2 anos
  • 1:33 - 1:35
    para quem possa enviar a papelada".
  • 1:35 - 1:37
    Parece-me bem plausível.
  • 1:37 - 1:38
    (risos)
  • 1:38 - 1:40
    De qualquer forma, mas...
  • 1:40 - 1:43
    Estou aqui como alguém
    que passou bastante tempo...
  • 1:45 - 1:46
    alguns anos...
  • 1:46 - 1:49
    não gosto de pensar nisso
    porque me faz sentir incrivelmente velho
  • 1:49 - 1:51
    a lutar contra a natureza do conhecimento
  • 1:51 - 1:53
    e a ideia do conhecimento...
  • 1:53 - 1:57
    para falar com vocês sobre
    como se parece a Wikidata
  • 1:57 - 2:01
    para alguém com o meu histórico
    e interesses académicos.
  • 2:02 - 2:05
    Não vou perder muito tempo
    a contar a história da Wikidata,
  • 2:05 - 2:08
    porque se está aqui, passadas 24 horas
  • 2:08 - 2:10
    de ter o cérebro carregado de informações,
  • 2:10 - 2:12
    já está bem familiarizado com isso.
  • 2:12 - 2:14
    Trata-se de uma grande
    base de dados semântica
  • 2:14 - 2:15
    que gera conhecimento
    legível electronicamente
  • 2:15 - 2:17
    de forma centralizada.
  • 2:17 - 2:21
    E isto tem a forma de uma série de itens
  • 2:21 - 2:24
    associados com propriedades de statements.
  • 2:24 - 2:27
    O item "maçã" tem a propriedade "fruta".
  • 2:27 - 2:28
    Quer dizer, provavelmente.
  • 2:29 - 2:31
    É uma Wiki, provavelmente
    há uma longa guerra editorial
  • 2:31 - 2:33
    sobre se uma maçã é uma fruta
  • 2:33 - 2:36
    e há 50 pessoas por trás de 300 contas
  • 2:36 - 2:38
    e continua há anos,
  • 2:38 - 2:41
    e neste momento, se citar
    a palavra "maçã" no Wikidata,
  • 2:41 - 2:45
    será preventivamente banido
    como alguém que,
  • 2:45 - 2:46
    é secretamente uma marioneta
  • 2:46 - 2:49
    e executa uma conta
    em ambos os lados do conflito.
  • 2:50 - 2:54
    Consequentemente, também existe
    um sistema de classificação, certo?
  • 2:54 - 2:56
    Uma forma de seleccionar
    e organizar o mundo.
  • 2:58 - 3:01
    Objetos, pessoas ou conceitos
    são classificados como
  • 3:01 - 3:04
    válidos de terem uma entrada
    na Wikidata ou não.
  • 3:04 - 3:05
    Uma fruta ou não.
  • 3:06 - 3:08
    E em cada caso é aplicada
    uma série de critérios
  • 3:08 - 3:11
    para determinar as propriedades
    que um objeto deve ter
  • 3:11 - 3:13
    e os valores dessas propriedades
  • 3:13 - 3:15
    e como o objetos se relacionam entre si.
  • 3:15 - 3:18
    A Wikidata é realmente
    uma tentativa de construir
  • 3:18 - 3:20
    um sistema universal de classificação.
  • 3:22 - 3:26
    Sistemas de classificação foram
    estudados extensivamente.
  • 3:26 - 3:29
    Um trabalho proeminente que
    recomendo a todos lerem
  • 3:29 - 3:32
    se estiverem interessados neste tema
    é Sorting Things Out,
  • 3:32 - 3:35
    que é um livro de Geoff Bowker
    e Susan Leigh Star.
  • 3:36 - 3:39
    Eles descobriram que no universo ideal,
  • 3:39 - 3:41
    um sistema de classificação,
  • 3:41 - 3:44
    seja ele universal
    ou sobre algo em particular,
  • 3:44 - 3:46
    tem três atributos.
  • 3:46 - 3:50
    O primeiro é operar em princípios
    consistentes e únicos.
  • 3:50 - 3:54
    Há um padrão consistente
    do que deve estar em cada categoria
  • 3:54 - 3:56
    e por que razões.
  • 3:56 - 3:59
    O segundo é que todas categorias
    são mutuamente exclusivas.
  • 3:59 - 4:02
    E o terceiro é que o sistema é completo.
  • 4:02 - 4:04
    Cobre tudo o que descreve.
  • 4:05 - 4:07
    Isto não significa que deve
    ter todos os objetos
  • 4:07 - 4:09
    que sirva no sistema.
  • 4:09 - 4:12
    Quer dizer somente que,
    numa situação onde falta um objeto
  • 4:13 - 4:15
    e esse objeto depois aparece,
  • 4:15 - 4:17
    deve existir um mecanismo consistente
  • 4:17 - 4:19
    para definir se este objeto deve
    ser adicionado ou não,
  • 4:19 - 4:21
    e como deve ser descrito,
  • 4:21 - 4:22
    e assim em diante.
  • 4:23 - 4:26
    Há um pequeno problema com isto, que é...
  • 4:27 - 4:29
    "Nenhum sistema de classificação
    do mundo real
  • 4:29 - 4:32
    que estudamos cumpre
    estes simples requisitos
  • 4:32 - 4:34
    e duvidamos que algum um dia cumprirá.
  • 4:34 - 4:37
    Ou para dizer de outra forma,
    todos os sistemas de classificação falham.
  • 4:38 - 4:41
    Todos os sistemas de classificação
    tem falhas e excepções.
  • 4:42 - 4:45
    E, obviamente, o mesmo é válido
    para todos os sistemas, sem exceção.
  • 4:45 - 4:47
    Qualquer um que já tenha programado,
  • 4:47 - 4:49
    ou apenas trabalhado num ambiente,
  • 4:49 - 4:52
    ou estudado num ambiente,
    ou vivido no mundo sabe
  • 4:52 - 4:55
    que ainda estamos para desenvolver
    qualquer coisa
  • 4:55 - 4:57
    que tenha sido perfeitamente planejada.
  • 4:58 - 5:00
    O problema é que
    quando pegamos num sistema,
  • 5:00 - 5:03
    classificação ou outro qualquer,
    e o colocamos no mundo,
  • 5:03 - 5:07
    e lhe damos poder e autoridade
    e o integramos com outros sistemas
  • 5:07 - 5:09
    que já têm poder e autoridade,
  • 5:09 - 5:11
    há consequências para o que acontece
  • 5:11 - 5:14
    quando esse sistema inevitavelmente falha,
  • 5:15 - 5:20
    para como ele reforça ou sabota
    relações existentes de poder,
  • 5:20 - 5:22
    para como magoa as pessoas.
  • 5:22 - 5:25
    Um sistema de classificação universal,
    é, noutras palavras,
  • 5:25 - 5:29
    não apenas condenado a falhar,
    mas também a magoar as pessoas.
  • 5:30 - 5:32
    E a forma como é estruturado
  • 5:32 - 5:37
    é, em última análise, o resultado
    duma série de escolhas éticas e políticas
  • 5:38 - 5:39
    Quem quer magoar? E por quanto?
  • 5:39 - 5:42
    O que deve ser feito quando
    pessoas são feridas?
  • 5:42 - 5:45
    E essas escolhas têm consequências reais.
  • 5:48 - 5:52
    Fazer essas escolhas geralmente
    envolve lidar com o facto
  • 5:52 - 5:54
    de que raramente há uma única
  • 5:54 - 5:56
    e simples interpretação
    legível eletronicamente
  • 5:56 - 5:58
    sobre algo verdadeiro para todas
    as pessoas em toda a história.
  • 5:59 - 6:03
    Tudo no universo tem múltiplos
    significados, simbolismos e pormenores
  • 6:03 - 6:07
    para pessoas em diferentes
    contextos e épocas.
  • 6:07 - 6:10
    Mas desenhar e implementar
    um sistema de classificação,
  • 6:10 - 6:14
    desenhar um sistema que possa
    afirmar que tem princípios consistentes,
  • 6:15 - 6:17
    e que cobre tudo o que discute,
  • 6:18 - 6:21
    inevitavelmente envolve
    cortar a sua complexidade.
  • 6:21 - 6:25
    e tomar decisões sobre o significado
    de uma coisa que será criada,
  • 6:25 - 6:27
    ou quais os possíveis significados
  • 6:27 - 6:30
    deverá ser apresentado e em que sequência.
  • 6:31 - 6:32
    Como resultado,
  • 6:32 - 6:35
    isso envolve silenciar vozes
    ou tornar outras mais altas.
  • 6:36 - 6:38
    Novamente, isso traz consequências.
  • 6:38 - 6:40
    Para ilustrar o que quero dizer
    sobre esta complexidade,
  • 6:40 - 6:44
    contexto e redução,
    e as suas consequências,
  • 6:44 - 6:47
    gostaria de mostrar
    alguns exemplos da própria Wikidata.
  • 6:48 - 6:51
    Os que escolhi são todos relacionados
    com um género porque, novamente,
  • 6:51 - 6:54
    o género é tanto profissionalmente
    quando pessoalmente, um elemento-chave.
  • 6:56 - 6:59
    O primeiro trata de transexualidade,
  • 6:59 - 7:02
    que é descrita como uma
    "condição na qual um indivíduo
  • 7:02 - 7:04
    se identifica com um género inconsistente
  • 7:04 - 7:07
    ou não culturalmente
    associado com o seu sexo biológico".
  • 7:08 - 7:10
    Parece bem generalista e...
  • 7:10 - 7:12
    esperem, não,
    está classificado como uma doença,
  • 7:12 - 7:15
    uma doença psiquiátrica.
  • 7:16 - 7:19
    Sei o que estão a pensar,
    que isto é chocante,
  • 7:19 - 7:20
    mas não é algo tão simples
  • 7:20 - 7:24
    como definir estas afirmações
    como verdadeiras ou falsas, certo?
  • 7:25 - 7:28
    Estão numa categoria do tipo,
    "verdadeira, porém".
  • 7:29 - 7:33
    Considere a transexualidade
    como uma doença, certo?
  • 7:34 - 7:36
    Tecnicamente, é verdade,
  • 7:36 - 7:39
    até o ponto em que "transexualidade"
    é o nome de uma entrada
  • 7:39 - 7:42
    dentro da Classificação
    Internacional de Doenças, versão 10.
  • 7:43 - 7:46
    Mas devemos adicionar alguma
    complexidade e pormenor a isso.
  • 7:48 - 7:51
    O CID é uma classificação de literalmente
  • 7:51 - 7:54
    qualquer coisa no mundo
    que possa vir a ter,
  • 7:54 - 7:58
    que esteja de qualquer forma relacionada
    com o ferimento ou morte de alguém.
  • 7:58 - 8:03
    Na verdade, é ilegal morrer de qualquer
    coisa que não esteja listada no CID.
  • 8:03 - 8:04
    (risos)
  • 8:05 - 8:07
    Então contém muitas coisas,
  • 8:07 - 8:09
    e a transexualidade está lá listada,
  • 8:09 - 8:11
    por isso, classificamo-la como doença,
  • 8:11 - 8:13
    por estar numa classificação de doenças.
  • 8:14 - 8:17
    Aqui estão algumas outras coisas
    que o CID também lista como doença
  • 8:17 - 8:19
    e tem entradas específicas.
  • 8:20 - 8:23
    PA80: tiro acidental.
  • 8:24 - 8:28
    PA40.0: cair de um barco e afogar-se.
  • 8:28 - 8:30
    (risos)
  • 8:30 - 8:35
    PA41.1: cair de um barco,
    danificá-lo e afogar-se.
  • 8:35 - 8:37
    (risos)
  • 8:37 - 8:40
    PA40.1: cair do barco,
  • 8:40 - 8:41
    não danificar o barco,
  • 8:41 - 8:43
    não se afogar,
  • 8:43 - 8:44
    e ainda assim morrer.
  • 8:44 - 8:45
    (risos)
  • 8:46 - 8:49
    E finalmente, QD50: ser pobre.
  • 8:49 - 8:50
    (risos)
  • 8:50 - 8:54
    Logo, se algum de vocês
    já tiver caído de um barco,
  • 8:54 - 8:57
    lamento informar que tem uma doença
  • 8:57 - 8:59
    e deveria procurar um médico.
  • 8:59 - 9:01
    Que tipo de médico eu não sei.
  • 9:01 - 9:03
    Talvez um psiquiatra.
  • 9:03 - 9:05
    Quem sabe?
  • 9:06 - 9:08
    Sabe que é uma doença, certo?
  • 9:08 - 9:11
    Qual a especialidade: psiquiatria?
  • 9:11 - 9:14
    Bem, também é verdade, de certa forma.
  • 9:14 - 9:16
    Psiquiatras são as pessoas
  • 9:16 - 9:19
    que diagnosticam disforia de género,
  • 9:19 - 9:21
    uma desconexão entre
    a percepção de género de alguém
  • 9:21 - 9:24
    e o seu género biológico.
  • 9:25 - 9:26
    Mas, novamente, contexto.
  • 9:26 - 9:29
    Por exemplo, dizer que os
    psiquiatras fazem esse diagnóstico
  • 9:29 - 9:31
    ignora o facto
    de que nenhum dos tratamentos
  • 9:31 - 9:32
    são psiquiátricos.
  • 9:32 - 9:34
    Podem também listar
    as especialidades como...
  • 9:36 - 9:38
    como especialização em hormonas
  • 9:38 - 9:42
    ou cirurgia plástica,
    ou como um cortador personalizado.
  • 9:42 - 9:46
    Todos eles têm também algum
    papel na trajetória de vida das pessoas.
  • 9:46 - 9:48
    Não estão listados.
  • 9:50 - 9:52
    Outro factoide potencialmente útil,
  • 9:52 - 9:54
    é que o CID-10 é, na verdade,
  • 9:55 - 9:57
    a versão antiga da Classificação
    Internacional de Doenças,
  • 9:57 - 10:01
    e que o CID-11 já não inclui
    de todo, a transexualidade,
  • 10:01 - 10:04
    muito menos como doença.
  • 10:04 - 10:08
    Mas o que quero dizer não é que a Wikidata
    às vezes tenha informações desatualizadas,
  • 10:08 - 10:11
    ou às vezes tenha informações falsas,
  • 10:11 - 10:14
    mas sim que as afirmações que são
    construídas a partir dessa informação
  • 10:14 - 10:17
    como consequência do que deixam de fora
  • 10:17 - 10:18
    e de quais são os resultados,
  • 10:18 - 10:20
    omite coisas e adiciona risco.
  • 10:21 - 10:23
    Uma forma de estruturar
  • 10:23 - 10:26
    a informação contida nessa entrada é:
  • 10:27 - 10:30
    "transexualidade é uma
    doença psiquiátrica".
  • 10:30 - 10:32
    E Isso deixa de fora muita complexidade,
  • 10:32 - 10:33
    alguma da qual discutimos.
  • 10:34 - 10:36
    Mas a grande questão é
    como é que isso se interliga
  • 10:36 - 10:40
    e identifica com narrativas
    e informações já existentes.
  • 10:40 - 10:43
    Por exemplo, a ideia da
    transexualidade como doença.
  • 10:43 - 10:48
    Alguém sabe por que o CID
    parou de considerá-la uma doença?
  • 10:50 - 10:51
    Bem, por duas razões.
  • 10:51 - 10:56
    A primeira é que chamar
    alguém trans de doente é impreciso.
  • 10:56 - 10:59
    Não se enquadra na definição de doença.
  • 11:00 - 11:03
    Na verdade, o único motivo
    pelo qual qualquer coisa associada
  • 11:03 - 11:08
    a transexualidade ainda estar no CID
    não tem a ver com algo objetivo,
  • 11:08 - 11:12
    por exemplo, examinar
    biologicamente ou psiquiatricamente
  • 11:12 - 11:14
    mas sim com puro pragmatismo.
  • 11:14 - 11:16
    Se tirar totalmente da lista,
  • 11:16 - 11:19
    então as companhias de seguro de saúde
    em locais como os Estados Unidos,
  • 11:19 - 11:21
    iriam parar de dar cobertura médica
  • 11:21 - 11:23
    que estivesse associada
    com a transexualidade.
  • 11:24 - 11:26
    E o segundo motivo é que,
  • 11:27 - 11:32
    o estigma de ter algo classificado
    como doença é substantivo,
  • 11:33 - 11:36
    e quando lista transexualidade
    como uma doença,
  • 11:36 - 11:37
    e psiquiátrica ainda por cima,
  • 11:37 - 11:39
    entra em suposições muito antigas
  • 11:39 - 11:42
    e falsas crenças sobre pessoas trans.
  • 11:42 - 11:44
    Suposições e crenças
    que têm muito poder.
  • 11:44 - 11:48
    Se é uma doença, então há
    algo de errado com as pessoas trans,
  • 11:48 - 11:50
    algo que as pessoas devem solucionar.
  • 11:50 - 11:51
    E se é uma condição psiquiátrica,
  • 11:51 - 11:55
    as pessoas trans devem fazer terapia
    para deixarem de ser trans.
  • 11:55 - 11:59
    Por outras palavras, seja lá qual for
    a verdade ou mentira da afirmação,
  • 11:59 - 12:02
    tirá-la da sua complexidade e contexto,
  • 12:02 - 12:05
    deixa as pessoas preencherem
    a lacuna com as suas próprias ideias.
  • 12:06 - 12:10
    E isso não termina num sistema
    de classificação neutro e objetivo,
  • 12:10 - 12:13
    mas sim com terapias de conversão
  • 12:13 - 12:17
    e com legalizar espancar até a morte
  • 12:17 - 12:20
    uma pessoa trans por descobrir isso
    só depois de dormir com ela,
  • 12:20 - 12:22
    porque, afinal,
    havia algo de errado com ela.
  • 12:23 - 12:26
    Por que seria considerado razoável
  • 12:26 - 12:27
    fazer isso?
  • 12:30 - 12:33
    Por isso um enquadramento
    mais pormenorizado pode ser a resposta,
  • 12:33 - 12:37
    o que é difícil de colocar na Wikidata.
  • 12:38 - 12:41
    E porque não conseguimos
    colocar isto na Wikidata,
  • 12:41 - 12:43
    simplificamos,
    perdemos toda a complexidade,
  • 12:43 - 12:48
    abrimos, de novo, a possibilidade
    de reforçar estas noções muito perigosas.
  • 12:50 - 12:52
    Vamos ver outro exemplo
    também sobre género,
  • 12:52 - 12:54
    que é a entrada para não-binário.
  • 12:57 - 12:58
    De acordo com o
    que a Wikidata nos informa,
  • 12:58 - 13:01
    não-binário é uma série de géneros
  • 13:01 - 13:03
    que não são nem exclusivamente
    femininos ou masculinos.
  • 13:04 - 13:07
    Tenho algumas críticas
    para a secção "também conhecido como",
  • 13:07 - 13:09
    mas esse nem é o maior problema aqui.
  • 13:09 - 13:10
    Não, o grande problema aqui
  • 13:10 - 13:14
    é que, em ponto algum da página
    há referência a pessoas trans.
  • 13:15 - 13:19
    Se for à entrada
    para a mulher transgénero,
  • 13:19 - 13:22
    pode ler-se
    "o oposto de homem transgénero".
  • 13:22 - 13:24
    Se for à entrada
    para o homem transgénero,
  • 13:24 - 13:27
    lê-se "o oposto de mulher transgénero".
  • 13:27 - 13:29
    Se aceder a esta página,
  • 13:29 - 13:33
    não há qualquer referência
    a pessoas trans.
  • 13:33 - 13:36
    Há uma completa desconexão e distinção
  • 13:36 - 13:39
    entre pessoas não-binárias e trans.
  • 13:41 - 13:44
    Isto pode parecer algo
    pedante para nos preocuparmos,
  • 13:45 - 13:48
    mas é de facto,
    um ótimo exemplo por vários motivos.
  • 13:48 - 13:53
    A primeira é que a relação entre
    pessoas não-binárias e pessoas trans
  • 13:53 - 13:55
    é fortemente debatida.
  • 13:56 - 14:01
    Um indivíduo não-binário pode
    ou não identificar-se como trans.
  • 14:02 - 14:04
    Consequentemente, é muito difícil
  • 14:04 - 14:07
    fazer julgamentos categóricos
    sobre essa classe de pessoas.
  • 14:09 - 14:13
    Outras pessoas diriam
    que não-binários não são trans,
  • 14:13 - 14:16
    sem motivo aparente,
    ou que não-binários são trans.
  • 14:18 - 14:20
    Terá que tomar uma decisão
    em algum momento.
  • 14:20 - 14:22
    Como vai categorizar esta entrada?
  • 14:22 - 14:24
    Que atributos irá associar-lhe?
  • 14:26 - 14:28
    Mas é difícil fazer isso na Wikidata
  • 14:28 - 14:31
    quando, por necessidade,
    a estrutura da plataforma
  • 14:31 - 14:33
    é tão categórica e fixa
  • 14:33 - 14:37
    que não pode dizer-se que, para algumas
    pessoas estas coisas são relacionadas,
  • 14:37 - 14:40
    mas para outras não,
    e na verdade isto é muito político,
  • 14:40 - 14:41
    mas devíamos pensar sobre o assunto.
  • 14:42 - 14:45
    Não há um facto objetivo
    onde nos possamos apoiar.
  • 14:45 - 14:48
    É muito contextual, complexo e disputado.
  • 14:50 - 14:53
    Por isso, como encaixamos isto?
  • 14:54 - 14:55
    Ideias?
  • 14:58 - 15:00
    Mas esta redutividade
    não é apenas uma questão de,
  • 15:00 - 15:02
    "Bem, não conseguimos
    colocar toda a informação,
  • 15:02 - 15:04
    por isso acho que não está perfeito".
  • 15:04 - 15:09
    Novamente, isto encaixa-se em discursos
    pré-existentes, num mundo pré-existente,
  • 15:09 - 15:11
    e tem potencial
    para causar males bem reais.
  • 15:13 - 15:14
    Há uma longa história
  • 15:14 - 15:17
    de pessoas não-binárias
    não serem consideradas trans,
  • 15:18 - 15:21
    que vem, na verdade, desde os fundamentos
  • 15:22 - 15:25
    de trabalhos médicos,
    académicos e de referência
  • 15:25 - 15:29
    sobre o que é ser trans e como
    pessoas trans devem ser tratadas.
  • 15:30 - 15:31
    Isto resultou em
  • 15:31 - 15:36
    retirar de pessoas não-binárias
    o acesso a recursos...
  • 15:37 - 15:41
    assistência médica, sentimento de pertença
    comunitária, qualquer tipo de suporte.
  • 15:41 - 15:46
    Na verdade, até 2013
    não era possível escolher ser não-binário
  • 15:47 - 15:51
    e continuar a ter acesso a tratamento
    médico relacionado com transição sexual.
  • 15:51 - 15:54
    Se fosse e quisesse acesso,
    devia ir ao seu médico
  • 15:54 - 15:58
    mentindo continuamente
    e torcer para que ninguém descobrisse.
  • 16:00 - 16:03
    Se quisesse
    que esse diagnóstico acontecesse
  • 16:03 - 16:06
    para que o seu seguro
    de saúde cobrisse os gastos
  • 16:06 - 16:09
    ou para o sistema nacional
    de saúde cobrisse os gastos,
  • 16:09 - 16:11
    só podia ser homem ou mulher,
  • 16:11 - 16:12
    e nada mais.
  • 16:14 - 16:16
    E agora existem muitas repercussões
  • 16:16 - 16:18
    para existências não-binárias
  • 16:18 - 16:20
    de pessoas que pensam
    que somos uma ameaça,
  • 16:20 - 16:23
    ou algo novo e diferente,
  • 16:23 - 16:27
    quando na verdade existimos à tanto tempo
    quanto qualquer tipo de pessoa trans,
  • 16:27 - 16:30
    só não somos debatidos.
  • 16:31 - 16:33
    De novo, a consequência disto
  • 16:34 - 16:37
    deste silêncio é reforçar
    que essas ideias pré-existentes
  • 16:37 - 16:42
    de que não-binários não tem
    nenhuma relação com o ser trans,
  • 16:42 - 16:47
    que isso cria e reforça discursos
    que excluem pessoas de assistência médica,
  • 16:47 - 16:50
    e de uma comunidade.
  • 16:52 - 16:56
    Finalmente, antes de parar de insistir
    em questões de género,
  • 16:56 - 16:57
    os hijra.
  • 16:58 - 16:59
    De acordo com a Wikidata,
  • 16:59 - 17:02
    os hijra são o terceiro género
    de culturas do sul asiáticas
  • 17:02 - 17:05
    e uma subclasse do não-binários.
  • 17:06 - 17:07
    Um ponto importante.
  • 17:07 - 17:12
    Sim, os hijras estão fora
    do binómio homem-mulher simples,
  • 17:12 - 17:14
    mas quase zero pessoas hijra
  • 17:14 - 17:18
    se definiriam como não-binários
    porque isso não faz o mínimo sentido.
  • 17:19 - 17:22
    Num contexto ocidental,
    não-binários são, por definição,
  • 17:23 - 17:28
    nem homem ou mulher mas por consequência,
    nem mulher trans nem homem trans.
  • 17:29 - 17:31
    Hijra incluem mulheres trans
  • 17:31 - 17:34
    e também todas as pessoas intersexo,
  • 17:34 - 17:37
    todas as pessoas estéreis
    e um grande número de homossexuais,
  • 17:38 - 17:40
    mas não incluem homens trans
  • 17:41 - 17:46
    ou pessoas não-binárias que foram
    consideradas mulheres ao nascer.
  • 17:47 - 17:50
    Tudo isto é muito complexo
    e há, literalmente livros escritos
  • 17:50 - 17:54
    sobre a estrutura de género
    e como tudo se encaixa nisso.
  • 17:55 - 17:57
    Mas a questão é não existir
    um mapeamento simples
  • 17:57 - 17:59
    de noções de género ocidentais
  • 17:59 - 18:01
    para noções de género do resto do mundo.
  • 18:02 - 18:05
    Categorizar pessoas hijra
  • 18:05 - 18:10
    como um subtipo de pessoas não-binárias
  • 18:10 - 18:14
    ignora o facto de que a maioria
    dos hijras não se vêem assim,
  • 18:14 - 18:16
    não se veriam assim,
  • 18:16 - 18:20
    e que as definições de hijra e
    não-binários são totalmente incompatíveis.
  • 18:23 - 18:26
    Porém isto tem
    potencial para causar danos.
  • 18:27 - 18:30
    Porque o facto
    é que noções ocidentais de género
  • 18:30 - 18:33
    são regularmente, e durante muito tempo,
  • 18:33 - 18:36
    espalhadas para o resto do mundo,
    frequentemente de forma violenta.
  • 18:37 - 18:40
    Temos sistemas de informação.
  • 18:40 - 18:43
    Sistemas de classificação.
  • 18:43 - 18:44
    Temos padrões.
  • 18:44 - 18:46
    Temos, historicamente e atualmente,
  • 18:46 - 18:49
    guerras orientadas pela ideia que
  • 18:49 - 18:52
    a forma ocidental de fazer as coisas
    é a única forma certa,
  • 18:52 - 18:54
    ou é a melhor e a normal,
  • 18:54 - 18:57
    e todos se devem conformar.
  • 18:57 - 19:01
    E quando temos estes projetos
    grandes que tentam encaixar o mundo
  • 19:01 - 19:04
    dentro de visões ocidentalizadas
    de conhecimento, porque precisam,
  • 19:04 - 19:08
    porque é assim que os sistemas
    de classificação universais funcionam...
  • 19:08 - 19:11
    tudo tem que encaixar
    num esquema consistente.
  • 19:11 - 19:14
    Está a perpetuar esse tipo de violência.
  • 19:17 - 19:21
    Poderiam responder-me
    às minhas preocupações e exemplos,
  • 19:21 - 19:23
    e divagações de várias maneiras.
  • 19:23 - 19:25
    Uma linha de pensamento seria,
    "Por que importa isto?"
  • 19:25 - 19:28
    Porque é que a Wikidata
    ao participar e validar
  • 19:28 - 19:33
    ou invalidar determinados discursos
    tem impacto no mundo?
  • 19:33 - 19:37
    A primeira resposta é que
    não importa se isso importa.
  • 19:37 - 19:39
    O que é importa é que reconheçam isso.
  • 19:39 - 19:42
    Neste momento, a estrutura
    padrão da Wikidata é,
  • 19:42 - 19:45
    estamos a reunir
    todo o conhecimento em formato digital,
  • 19:45 - 19:46
    mas vocês não estão.
  • 19:46 - 19:48
    Vocês também estão a tomar decisões
  • 19:48 - 19:50
    sobre o que deve ou não ser incluído,
  • 19:50 - 19:52
    e como o conhecimento
    deve estar representado.
  • 19:53 - 19:56
    Que complexidade
    vale ou não a pena estar representada.
  • 19:57 - 19:59
    E essas são escolhas éticas e políticas,
  • 19:59 - 20:02
    em que enquadrar o projeto
    é um simples resultado
  • 20:02 - 20:05
    de milhões de macacos
    anónimos e intercambiáveis,
  • 20:05 - 20:07
    com um número
    equivalente de dactilógrafos,
  • 20:07 - 20:09
    e que torna impossível
    conversar sobre isso.
  • 20:10 - 20:13
    Os organizadores, utilizadores
    e fundadores da Wikidata
  • 20:13 - 20:17
    devem entender que estão
    a tomar decisões profundamente carregadas,
  • 20:17 - 20:19
    que não são neutras ou objetivas de todo,
  • 20:20 - 20:23
    e que isso não é mau, mas sim perigoso.
  • 20:26 - 20:28
    E ao aceitar
  • 20:28 - 20:30
    que estas são decisões éticas e políticas,
  • 20:30 - 20:33
    poderiam dizer,
    "Se as pessoas querem as suas visões
  • 20:33 - 20:35
    sobre as coisas incluídas,
    deveriam contribuir".
  • 20:35 - 20:39
    E comunidades marginalizadas
    contribuem muito, certo?
  • 20:39 - 20:41
    Há uma longa tradição
    de comunidades LGBT+,
  • 20:41 - 20:44
    em especial, a adoptarem
    primeiro novas tecnologias.
  • 20:44 - 20:48
    E as pessoas poderiam
    simplesmente contribuir para Wikidata.
  • 20:48 - 20:53
    Como as pessoas Hijra que poderiam
    criar contas e começar a argumentar
  • 20:53 - 20:56
    que a definição não deveria ser
    uma sub entrada de não-binário,
  • 20:56 - 20:58
    e assim sucessivamente.
  • 20:59 - 21:02
    O problema é que isso
    é improvável ajudar
  • 21:02 - 21:04
    porque são a minoria,
  • 21:04 - 21:07
    porque muitas vozes e perspectivas
    estão atualmente silenciadas,
  • 21:08 - 21:10
    no âmbito da tomada de
    decisões éticas políticas,
  • 21:10 - 21:12
    e são as vozes das minorias.
  • 21:12 - 21:14
    Fiz umas contas sobre isto.
  • 21:14 - 21:17
    Wikidata tem 20 mil editores ativos,
  • 21:17 - 21:21
    de uma população humana
    de cerca de 7 bilhões,
  • 21:21 - 21:24
    a menos que achem
    que a matemática é uma mentira
  • 21:24 - 21:28
    e que os governos do mundo,
    controlados por reptlianos no Ártico,
  • 21:28 - 21:30
    estão a inventar tudo.
  • 21:31 - 21:33
    E eles são aproximadamente...
  • 21:33 - 21:35
    (Pessoa 1) Quer dizer que não estão?
  • 21:35 - 21:36
    (risos)
  • 21:36 - 21:37
    Olha, serei honesto.
  • 21:37 - 21:40
    Se viver nos Estados Unidos
    nos últimos 5 anos me ensinou algo,
  • 21:40 - 21:45
    é que qualquer união governamental
    grande o suficiente para controlar
  • 21:45 - 21:46
    boa parte da população humana,
  • 21:46 - 21:51
    não seria de certeza competente
    o suficiente para esconder o seu rasto.
  • 21:51 - 21:52
    (risos)
  • 21:52 - 21:53
    Iríamos descobrir em 3 meses
  • 21:53 - 21:57
    e nem sequer seria por causa
    de algum repórter de investigação.
  • 21:57 - 21:59
    Seria porque um dia um dos reptilianos
  • 21:59 - 22:01
    se esqueceria de vestir
    o disfarce de humano
  • 22:01 - 22:03
    e iria acidentalmente ao mercado
    comprar um litro de leite
  • 22:03 - 22:04
    (risos)
  • 22:04 - 22:07
    e era apanhado num vídeo do TikTok.
  • 22:08 - 22:10
    (risos)
  • 22:11 - 22:14
    Então, a Wikidata tem
    20 mil editores ativos,
  • 22:14 - 22:17
    dos quais consideraremos
    que nenhum é reptiliano
  • 22:17 - 22:18
    disfarçado de humano ou algo do tipo,
  • 22:19 - 22:21
    de uma população de 7 bilhões,
  • 22:22 - 22:25
    e há aproximadamente 1 milhão
    de pessoas hijra no mundo.
  • 22:25 - 22:27
    Se considerar uma taxa
    de participação igualitária,
  • 22:27 - 22:31
    desconsiderando a condição
    de extrema pobreza de muitos hijra
  • 22:31 - 22:35
    e o seu impacto correspondente
    em coisas como acesso à internet,
  • 22:36 - 22:41
    então o esforço combinado
    de 20 mil editores da Wikidata,
  • 22:41 - 22:44
    teria de ser superado por 2,85 pessoas.
  • 22:46 - 22:49
    Não me parece algo muito plausível.
  • 22:52 - 22:53
    Então podem dizer,
  • 22:53 - 22:57
    "Bem, e se tivermos
    outras instâncias da Wikibase,
  • 22:57 - 23:00
    não é nesse caminho que estamos a ir?
  • 23:00 - 23:03
    Pode configurar a sua
    própria Wikibase com as suas perspectivas
  • 23:03 - 23:06
    e decisões próprias sobre
    como classificar as coisas,
  • 23:06 - 23:08
    e o que prioritizar ou não.
  • 23:08 - 23:11
    Faça o seu próprio site com os seus
    standards sobre o que é conhecimento
  • 23:11 - 23:13
    e que informação é importante."
  • 23:13 - 23:16
    As pessoas podem fazer exatamente isso.
  • 23:16 - 23:19
    Mas o problema é que a
    Wikidata tem muito prestígio,
  • 23:19 - 23:23
    e por isso é que as decisões
    que a Wikidata toma têm tanto impacto.
  • 23:24 - 23:26
    Há também o facto de já existir.
  • 23:26 - 23:29
    Tem a vantagem dos pioneiros.
  • 23:29 - 23:31
    Há a marca da Wikimedia.
  • 23:31 - 23:34
    Há o financiamento de
    nomes como a Google.
  • 23:34 - 23:37
    Há a relação com outras instituições.
  • 23:37 - 23:39
    Quando o plano estratégico para a Wikidata
  • 23:39 - 23:42
    pede envolvimento e integração com museus,
  • 23:42 - 23:45
    isso não gera apenas
    mais dados para a Wikidata.
  • 23:45 - 23:49
    Também faz com que a Wikidata,
  • 23:49 - 23:52
    e as decisões dos seus utilizadores,
    penetrem mais na realidade,
  • 23:52 - 23:58
    tornando-se assim um padrão sobre
    como sistemas de dados funcionam,
  • 23:58 - 24:02
    e um lugar que serve de base
    para popular outros espaços.
  • 24:04 - 24:07
    Continuo a seguir o mote de,
    "Nada mau, mas perigoso"
  • 24:07 - 24:10
    para descrever sistemas de
    classificação ou a Wikidata,
  • 24:11 - 24:15
    e quero reforçar que não acho
    que a Wikidata é inerentemente má.
  • 24:16 - 24:19
    Mas acho que os seus perigos são vastos
  • 24:19 - 24:21
    e não estão a ser observados.
  • 24:21 - 24:23
    Só de olhar à questão do género,
  • 24:23 - 24:27
    vimos 3 exemplos,
    que encontrei bem, bem rápido,
  • 24:27 - 24:32
    de situações onde mesmo deixando de lado
  • 24:32 - 24:35
    o tipo de objetividade
    "de precisão" de uma informação
  • 24:35 - 24:38
    que uma definição na Wikidata pode ter,
  • 24:39 - 24:44
    a informação que ela escolher conter
    e escolhe prioritizar perpetua ou,
  • 24:44 - 24:47
    silencia certos discursos e ideias
  • 24:47 - 24:52
    que tem peso no resto do mundo
    e que causam danos no resto do mundo.
  • 24:53 - 24:54
    Escolhi esses exemplos,
  • 24:54 - 24:58
    não porque são surpreendentes
    de alguma maneira,
  • 24:58 - 25:00
    nem porque são únicos,
  • 25:00 - 25:04
    mas simplesmente para mostrar
    que se pude encontrar vários problemas
  • 25:04 - 25:07
    com ressonância em sistemas
    mais amplos e violentos
  • 25:07 - 25:09
    num trecho de conteúdo tão pequeno,
  • 25:09 - 25:12
    imagine quantos andarão por aí.
  • 25:14 - 25:19
    O objetivo da Wikidata e
    o objetivo da classificação universal,
  • 25:19 - 25:22
    se estes perigos não forem resolvidos,
  • 25:22 - 25:24
    podem resultar,
    ou irão por último resultar,
  • 25:24 - 25:29
    não numa classificação neutra,
    mas numa imposição.
  • 25:29 - 25:33
    Ao dizer, é assim
    que o mundo funciona, e se não gosta,
  • 25:35 - 25:37
    parabéns,
    devia tentar mudar e enquadrar-se.
  • 25:39 - 25:42
    E queria realmente ter
    uma resposta simples para isto.
  • 25:42 - 25:44
    Não tenho.
  • 25:44 - 25:46
    É uma das vantagens
    de mudar para investigação,
  • 25:46 - 25:48
    ao invés de trabalhar
    num departamento de engenharia.
  • 25:48 - 25:49
    Pode chegar aos sítios
  • 25:49 - 25:52
    e dizer, "É tudo muito complicado".
  • 25:52 - 25:53
    (risos)
  • 25:53 - 25:55
    Alguém deveria fazer
    algo com respeito a isso.
  • 25:55 - 25:57
    Podiam dar-me uma Bolsa, por favor?
  • 25:57 - 25:58
    (risos)
  • 25:58 - 26:00
    Mas tudo o que posso fazer
  • 26:00 - 26:03
    é levá-los à conclusão de Bowker e Star,
  • 26:03 - 26:07
    que isto não é só sobre a Wikidata,
  • 26:07 - 26:08
    este não é um problema com a Wikidata
  • 26:08 - 26:11
    o problema é a classe de sistemas
  • 26:11 - 26:14
    da qual a Wikidata faz parte
    nunca foi feita de maneira segura
  • 26:14 - 26:17
    e não há motivos para
    crer que poderia ser.
  • 26:19 - 26:22
    O meu pedido não é por uma
    mudança em particular,
  • 26:22 - 26:25
    nem para que todos vocês
    desistam e vão para casa.
  • 26:25 - 26:27
    É para o projeto coletivamente,
  • 26:27 - 26:29
    e para cada um de vocês individualmente,
  • 26:29 - 26:32
    determinar o quão confortáveis estão
  • 26:32 - 26:36
    em participar e construir um sistema
  • 26:36 - 26:39
    que reivindica o universalismo,
  • 26:39 - 26:42
    que reivindica a neutralidade
    e a verdade dos dados,
  • 26:44 - 26:47
    quando sabemos que nenhuma
    das duas é possível
  • 26:47 - 26:50
    e nem será inofensiva quando falhar.
  • 26:50 - 26:53
    E se não está confortável
    com isso, trabalhe para articular
  • 26:53 - 26:55
    outras formas de fazer isto.
  • 26:56 - 26:59
    Que podem ser, por exemplo,
  • 27:00 - 27:04
    dar prioridade para
    as Wikibases locais.
  • 27:04 - 27:06
    Quero dizer que por último
  • 27:06 - 27:08
    precisamos dar a certas comunidades locais
  • 27:08 - 27:11
    e contextos
    e espaços individuais a primazia
  • 27:11 - 27:13
    para definir o que lhes importa,
  • 27:13 - 27:15
    e como gostariam de ser definidos.
  • 27:15 - 27:19
    E que a conversa sobre que
    perspectiva deveria ser incluída
  • 27:19 - 27:22
    e deveria esperar
    em algum repositório central
  • 27:22 - 27:25
    até termos
    o quadro completo de perspectivas.
  • 27:27 - 27:29
    E para mim, é tudo.
  • 27:29 - 27:31
    Obrigado a todos por terem me ouvido.
  • 27:32 - 27:35
    Acho que temos 20 ou 25 minutos...
  • 27:35 - 27:39
    (Pessoa 2) 25 minutos para
    perguntas, então, por favor, perguntem.
  • 27:40 - 27:41
    Muito obrigado.
  • 27:42 - 27:45
    (aplausos)
  • 27:47 - 27:50
    (Pessoa 3) Muito obrigada
    por esta maravilhosa apresentação
  • 27:50 - 27:52
    sobre problemas inerentes
    a sistemas de classificação.
  • 27:52 - 27:55
    Um dos exemplos que trouxe é muito bom
  • 27:55 - 27:56
    do ponto de vista matemático,
  • 27:56 - 27:58
    quando mostrou que o homem transgénero
  • 27:58 - 28:01
    é o oposto da mulher transgénero,
  • 28:01 - 28:04
    ou que a mulher transgénero
    é o oposto do homem transgénero
  • 28:04 - 28:07
    e o oposto da mulher cisgénero.
  • 28:07 - 28:12
    Isso faz com que a mulher cisgénero
    seja igual ao homem transgénero,
  • 28:12 - 28:13
    porque os opostos são iguais.
  • 28:13 - 28:17
    Se o oposto de A é B
    e o oposto de C é B,
  • 28:17 - 28:18
    então A e C são iguais.
  • 28:18 - 28:22
    Então na verdade deveria ser
    "diferente de" e não "oposto de",
  • 28:23 - 28:26
    e isso envolve várias
    questões matemáticas,
  • 28:26 - 28:29
    quando vamos fazer
    consultas na base de dados,
  • 28:29 - 28:32
    então é algo realmente importante
    apontar coisas como essa.
  • 28:32 - 28:34
    Sim, outro exemplo que achei divertido,
  • 28:34 - 28:39
    foi que transexualidade
    foi definida mais abaixo...
  • 28:39 - 28:42
    queria ter incluído mas não
    consegui encaixar numa sequência,
  • 28:42 - 28:46
    foi definida como o mesmo
    que cirurgia de redesignação sexual.
  • 28:47 - 28:48
    O que é não intencionalmente hilariante,
  • 28:48 - 28:51
    porque o diagnóstico de transexualidade
  • 28:51 - 28:55
    foi, historicamente, o pré-requisito
    para cirurgia de redesignação sexual.
  • 28:55 - 28:58
    Não é tanto um problema
    do ovo ou da galinha
  • 28:58 - 29:00
    porque é a galinha que carrega o ovo.
  • 29:00 - 29:01
    (risos)
  • 29:02 - 29:04
    Então, sim, essas...
  • 29:04 - 29:08
    Quando olhamos para a Wikidata
    e o quanto ela usa uma linguagem
  • 29:08 - 29:12
    matemática ou pseudo-matemática,
  • 29:12 - 29:16
    oposto de, distinto do, no conjunto de...
  • 29:17 - 29:20
    Sim, a realidade é muito
    mais complexa do que
  • 29:20 - 29:22
    a matemática que temos
    para representá-la.
  • 29:23 - 29:26
    Não tenho uma resposta inteligente,
    excepto dizer que
  • 29:26 - 29:27
    era um investigador quantitativo
  • 29:27 - 29:30
    e desisti e há um motivo para isso.
  • 29:33 - 29:34
    (Moderador) Próxima pergunta.
  • 29:34 - 29:36
    Quem levantou a mão?
  • 29:36 - 29:37
    Vejo uma mão levantada?
  • 29:46 - 29:47
    (Pessoa 4) Olá.
  • 29:48 - 29:50
    Em primeiro lugar,
    obrigado pela apresentação.
  • 29:50 - 29:52
    Foi ótima para abrir os horizontes.
  • 29:53 - 29:56
    Quero dizer, mas antes de mais,
  • 29:56 - 29:59
    há uma Wikimedia...
    não sei se sabe,
  • 29:59 - 30:01
    sobre um grupo de utilizadores
    da comunidade LGBT+.
  • 30:01 - 30:04
    É um grupo de utilizadores,
    e tem uma mailing list,
  • 30:04 - 30:08
    e estão agora a discutir a questão
    do sexo e género na Wikidata,
  • 30:08 - 30:09
    e há algumas propostas feitas
  • 30:09 - 30:12
    por pessoas LGBT+ para melhorá-la.
  • 30:13 - 30:15
    Mas ainda não está totalmente concluído.
  • 30:15 - 30:18
    Existem alguns planos,
    e pessoas a trabalhar nisso.
  • 30:18 - 30:22
    Seria fantástico
    se pudesse entrar lá e dar sua opinião
  • 30:22 - 30:24
    porque tenho certeza que
    é bem mais entendido que nós.
  • 30:25 - 30:28
    Mas quero fazer uma crítica
    sobre o que disse,
  • 30:28 - 30:30
    sobre as pessoas hijra,
  • 30:30 - 30:33
    que de 20 mil editores da Wikidata,
  • 30:34 - 30:37
    considerando que 2,8 deles seriam Hijra,
  • 30:37 - 30:40
    e precisariam superar
    todas essas 20 mil pessoas,
  • 30:40 - 30:41
    mas não é verdade.
  • 30:42 - 30:45
    Muitas pessoas, digamos 20 mil pessoas,
  • 30:45 - 30:48
    estão simplesmente
    ignorantes do problema.
  • 30:48 - 30:50
    Não são fanáticos,
  • 30:50 - 30:52
    nem vão ativamente
  • 30:52 - 30:54
    levar pessoas a fazer isto.
  • 30:54 - 30:57
    E muitos ajudarão se lhes pedir.
  • 30:57 - 31:00
    Como alguém que edita a Wikidata,
  • 31:00 - 31:02
    não tenho ideia desse assunto
  • 31:02 - 31:04
    e se soubesse, teria corrigido.
  • 31:05 - 31:06
    Então, sim.
  • 31:06 - 31:08
    Sim. Entendo o que quer dizer.
  • 31:09 - 31:11
    Quero deixar claro que não estou a dizer
  • 31:11 - 31:13
    que há 20 mil pessoas,
  • 31:13 - 31:14
    muitas estão nesta sala,
  • 31:14 - 31:16
    embora apenas uma pequena porcentagem
  • 31:16 - 31:20
    seja fanática e imperialistas culturais.
  • 31:20 - 31:22
    Ao invés disso, estou a falar do facto
  • 31:22 - 31:27
    de que o modelo de consenso,
    e o modelo baseado em discussão,
  • 31:27 - 31:30
    nos quais se baseiam os WikiProjetos,
  • 31:31 - 31:33
    tem algumas falhas,
  • 31:33 - 31:34
    e uma das maiores falhas
  • 31:34 - 31:39
    é assumir que todas as vozes
    que precisam ser representadas estão lá
  • 31:39 - 31:42
    e estão representadas
    de forma proporcional.
  • 31:42 - 31:46
    O consenso surgiu como modelo
    em comunidades de Quaker
  • 31:46 - 31:49
    onde literalmente todos os afetados
    por uma decisão estavam lá,
  • 31:49 - 31:53
    porque todos os que seriam impactados
    cabiam num mesmo lugar.
  • 31:54 - 31:56
    E o meu ponto com o número 2,85
  • 31:56 - 32:01
    não é dizer que é preciso argumentar
    com todos os utilizadores da Wikidata
  • 32:01 - 32:03
    de toda a vez que quiser
    tomar uma decisão,
  • 32:03 - 32:08
    mas sim dizer que o modelo de consenso
  • 32:08 - 32:11
    e o modelo maioritário de como
    o conhecimento deveria ser representado,
  • 32:11 - 32:14
    incorre fundamentalmente num problema
  • 32:14 - 32:21
    quando as pessoas não representadas
  • 32:21 - 32:23
    não são representadas.
  • 32:24 - 32:26
    Um outro exemplo, real,
  • 32:28 - 32:30
    Myanmar como um país.
  • 32:30 - 32:35
    A Wikipedia em inglês
    dizia que se chamava Birmânia
  • 32:35 - 32:37
    até à poucos anos atrás.
  • 32:39 - 32:41
    E a razão por trás disto
    era muito simples.
  • 32:43 - 32:45
    A BBC não gostava de chamar de Myanmar
  • 32:45 - 32:48
    e muitos editores...
  • 32:48 - 32:49
    (Pessoa 5) [inaudível] totalmente errado.
  • 32:49 - 32:50
    Desculpe-me.
  • 32:50 - 32:52
    (risos)
  • 32:53 - 32:56
    Caímos em questões como esta...
  • 32:56 - 32:58
    Bem sei que não é algo preciso, mas...
  • 32:58 - 33:02
    (Pessoa 5): Na verdade não é impreciso...
    (Moderador): Dou-lhe o microfone.
  • 33:02 - 33:03
    - (Os) Sim?
    - (Pessoa 5) Desculpe,
  • 33:03 - 33:05
    é que é ser incrivelmente ignorante e...
  • 33:05 - 33:08
    - (Os) Siga em frente.
    - (Pessoa 5) É absolutamente terrível,
  • 33:08 - 33:10
    é uma descaracterização terrível
    da situação política em Myanmar.
  • 33:10 - 33:12
    Sim, siga em frente.
  • 33:12 - 33:15
    (Pessoa 5) De qualquer forma,
    o que se passa é que o país
  • 33:16 - 33:17
    na língua birmanesa,
  • 33:17 - 33:20
    é referido como Myanma ou Bama.
  • 33:20 - 33:21
    Sim.
  • 33:21 - 33:23
    Myanma tende a ser
    um registro mais formal,
  • 33:23 - 33:25
    enquanto Bama um pouco mais informal,
  • 33:25 - 33:28
    mas ambos termos aceitáveis para o país.
  • 33:31 - 33:35
    O termo Birmânia obviamente
    veio do termo Bama,
  • 33:36 - 33:40
    mas o que aconteceu
    é que não há uma forma oficial...
  • 33:42 - 33:48
    O país era oficialmente chamado,
    em inglês, de Birmânia
  • 33:48 - 33:50
    até 1988, 1989, desculpe,
  • 33:51 - 33:53
    quando o governo militar do pais,
  • 33:54 - 33:56
    basicamente decidiu,
    a junta militar do país decidiu
  • 33:56 - 33:59
    que o país deveria se chamar Myanmar.
  • 33:59 - 34:05
    Ostensivamente,
    foi uma tentativa de tornar o nome do país
  • 34:05 - 34:08
    mais aceitável para minorias existentes.
  • 34:08 - 34:10
    Enfim, isso é um pouco de
    revisionismo histórico,
  • 34:10 - 34:13
    porque Myanma e Bama
    referem-se especificamente
  • 34:13 - 34:15
    às maiorias étnicas do país.
  • 34:16 - 34:20
    Basicamente, o governo
    da Birmânia na época...
  • 34:20 - 34:23
    (Os) tentaram tornar as pessoas
    equivalentes ao país,
  • 34:23 - 34:24
    dizendo implicitamente...
  • 34:24 - 34:26
    (Pessoa 5) Quase o contrário,
  • 34:26 - 34:27
    mas de uma forma estranha.
  • 34:27 - 34:30
    Basicamente declararam que
    Bama era uma referência étnica
  • 34:30 - 34:33
    e que Myanma era uma referência ao país,
  • 34:33 - 34:35
    quando historicamente
    ambos representam etnicidade e o país.
  • 34:36 - 34:37
    (Os) Isso faz sentido.
  • 34:37 - 34:42
    (Pessoa 5) Mas o que aconteceu
    é que os militantes democratas
  • 34:42 - 34:45
    dentro do país acreditavam
    que a junta militar
  • 34:45 - 34:49
    não tinha poder para mudar
    o nome do país em língua nenhuma,
  • 34:50 - 34:52
    porque não eram apoiados
    pelo povo do país.
  • 34:52 - 34:55
    E eram explicitamente uma junta militar
  • 34:56 - 34:57
    que...
  • 34:58 - 35:02
    logo o país deveria continuar
    sendo chamado de Birmânia em inglês.
  • 35:02 - 35:06
    Pelo facto chamar o país
    de Myanmar equivale a dizer que
  • 35:06 - 35:10
    o governo da Birmânia
    e de Myanmar era legítimo.
  • 35:10 - 35:13
    Depois da queda do...
    da queda não,
  • 35:13 - 35:17
    mas depois do semi-retorno
    de um governo civil em 2014,
  • 35:18 - 35:20
    essa questão veio a tona,
  • 35:20 - 35:22
    "Em inglês, devemos chamar
    este país de Myanmar ou Birmânia?"
  • 35:22 - 35:26
    e o líder de facto do país,
    Aung San Suu Kyi,
  • 35:26 - 35:29
    disse que não há nada
    na constituição birmanesa
  • 35:29 - 35:31
    que diga como deve chamar em inglês,
  • 35:31 - 35:33
    então chame como quiser.
  • 35:33 - 35:35
    Quer dizer, o nome do país é oficialmente,
  • 35:36 - 35:39
    União de Myanma em birmanês,
  • 35:39 - 35:41
    mas quanto
    ao termo em inglês, faça o que quiser.
  • 35:42 - 35:45
    Em geral, antes do retorno
    do governo civil na Birmânia,
  • 35:46 - 35:49
    referir de Myanmar significava legitimar
  • 35:51 - 35:52
    o governo militar.
  • 35:53 - 35:57
    Portanto, chamar de Birmânia
    era considerado um ato político
  • 35:57 - 35:59
    de não dar àquele governo legitimidade.
  • 35:59 - 36:03
    Sim, não estou a dizer
    que não há um motivo para isso.
  • 36:03 - 36:06
    Estou a dizer que na
    Wikipédia em inglês especificamente,
  • 36:06 - 36:11
    a página passou por
    7 requisições de discussão,
  • 36:11 - 36:15
    durante 4 anos,
    e uma mediação de decisão cabal,
  • 36:15 - 36:17
    e uma tentativa de mediação estruturada,
  • 36:17 - 36:21
    e uma revisão de um dos pedidos
    de discussão de mudança,
  • 36:21 - 36:24
    e quando olha para as discussões,
  • 36:24 - 36:27
    a maioria dos argumentos de ambos os lados
  • 36:27 - 36:30
    não é sobre uma
    situação política complexa no país,
  • 36:30 - 36:34
    mas na verdade, sobre qual é
    o nome mais usado nos média
  • 36:34 - 36:36
    e como diferentes instituições o chamam.
  • 36:36 - 36:40
    E ao olhar às discussões,
    há um momento onde claramente
  • 36:40 - 36:43
    todas as organizações de jornalistas
  • 36:43 - 36:45
    de língua inglesa
    que não eram a BBC,
  • 36:45 - 36:48
    e eram consideradas grandes
    portais de notícias no ocidente,
  • 36:48 - 36:50
    mudaram as suas fontes linguísticas,
  • 36:50 - 36:54
    e o debate, na prática,
    se torna um debate sobre
  • 36:54 - 36:58
    se o ocidente deveria ouvir
    o Wall Street Journal ou a BBC.
  • 36:59 - 37:03
    O ponto onde quero chegar
    não é sobre a especificidade política
  • 37:03 - 37:05
    da situação, mas sim sobre o facto
  • 37:05 - 37:08
    de que é muito fácil essas discussões
  • 37:08 - 37:13
    se tornarem praticamente
    uma disputa do quanto amamos a BBC,
  • 37:14 - 37:18
    e ao olhar às discussões
    vê esse estudo de caso
  • 37:18 - 37:21
    nas questões de ter essas conversas
  • 37:22 - 37:26
    e ter todas essas perspectivas
    internas e cheias de complexidade,
  • 37:26 - 37:29
    quando a maior parte das
    discussões giravam em torno
  • 37:29 - 37:33
    do quanto amamos a BBC
    e vindo de pessoas fora do contexto.
  • 37:34 - 37:36
    Então, não é...
  • 37:36 - 37:38
    O meu ponto de vista
    sobre isso é basicamente
  • 37:38 - 37:41
    que mesmo que não esteja
    a lutar contra 20 mil pessoas,
  • 37:42 - 37:45
    mesmo que esteja
    só a argumentar com 20 pessoas,
  • 37:45 - 37:50
    probabilisticamente 19 delas
    serão pessoas com opiniões fortes,
  • 37:51 - 37:53
    que não necessariamente
    sofreram as consequências negativas
  • 37:53 - 37:56
    de qualquer mudança que venha a ocorrer,
  • 37:56 - 38:00
    mas que tem uma visão de mundo
    particular e decidiram estancar nela,
  • 38:00 - 38:04
    de forma que as propostas de grupos LGBT+
  • 38:04 - 38:06
    para mudar os critérios da Wikidata,
  • 38:06 - 38:10
    podem ser incríveis, posso amá-las,
    como posso não as amar, eu não as li.
  • 38:12 - 38:15
    Mas a premissa base é...
  • 38:15 - 38:18
    Nós temos as pessoas
    que aparecem na Wikidata agora mesmo,
  • 38:18 - 38:22
    e são representantes
    de todas as pessoas LGBT+
  • 38:22 - 38:26
    e essa é a regra universal
    do que deve ser feito
  • 38:26 - 38:28
    no que se refere a todas as pessoas LGBT+
  • 38:29 - 38:31
    é um microcosmos do mesmo problema.
  • 38:32 - 38:34
    (Moderador) Temos outra questão.
    (Os) Sim.
  • 38:34 - 38:36
    (Pessoa 6) Olá.
  • 38:36 - 38:38
    Acho que temos outro problema
  • 38:38 - 38:43
    quanto à abordagem baseada
    em consenso que temos,
  • 38:43 - 38:46
    por vezes temos consenso
    sobre temas muito difíceis
  • 38:46 - 38:49
    relacionados a como lidar com isso
  • 38:49 - 38:53
    e [inaudível] na Wikidata
    e ninguém está a ler a discussão.
  • 38:54 - 38:56
    Normalmente, o projeto Names,
  • 38:56 - 39:01
    que é um WikiProjeto muito,
    muito antigo na Wikidata,
  • 39:01 - 39:04
    e nomes são uma questão muito,
    muito complicada no mundo.
  • 39:05 - 39:08
    Nem todos no mundo
    tem um nome próprio,
  • 39:08 - 39:12
    nem todos tem um sobrenome,
    bem, entendeu a ideia.
  • 39:12 - 39:15
    E existem tantos
    sistemas de escrita por aí
  • 39:15 - 39:19
    e nós temos, na verdade,
    um sistema que estava,
  • 39:20 - 39:22
    a funcionar para muitos
    casos no mundo todo,
  • 39:22 - 39:26
    em como usar propriedades,
    que itens devem ser,
  • 39:26 - 39:28
    ou como conectar isso tudo...
  • 39:28 - 39:30
    Adicionámos 8 páginas,
  • 39:30 - 39:34
    ninguém está a ler isso
    e alguém simplesmente colocou
  • 39:34 - 39:39
    um roteiro de nomes de família
    em latim para um pesquisador chinês.
  • 39:40 - 39:44
    Não temos os nomes desses investigadores
  • 39:44 - 39:49
    mas sabemos que o valor
    adicionado estava errado.
  • 39:49 - 39:50
    Não tenho o valor correto,
  • 39:50 - 39:52
    mas sei que esse
    não é o valor correto.
  • 39:53 - 39:57
    E não se trata apenas de debater o tema,
  • 39:57 - 39:59
    porque temos grandes debates
  • 39:59 - 40:02
    e temos um modelo que
    está, em geral, a funcionar
  • 40:02 - 40:08
    e até trata de casos mais complicados,
  • 40:10 - 40:14
    mas as pessoas vão lá e
    "nomes próprios sugerem uma propriedade,
  • 40:14 - 40:15
    então vou adicionar uma".
  • 40:16 - 40:18
    Não.
  • 40:18 - 40:21
    Acho que não é como modelar as coisas,
  • 40:21 - 40:25
    realmente é preciso explicar o modelo,
  • 40:25 - 40:31
    a parte técnica, poderíamos
    ter ferramentas com sugestões
  • 40:31 - 40:35
    e acho que a limitação
    que aconteceu ano passado
  • 40:35 - 40:36
    é uma ótima coisa para isso.
  • 40:36 - 40:40
    Mas não é,
    mesmo quando sabemos modelar a coisa.
  • 40:40 - 40:45
    É preciso fazer esse modelo
    conhecido pelas pessoas.
  • 40:45 - 40:49
    Há uma questão técnica
    sobre como fazer isso melhor.
  • 40:54 - 40:55
    (Moderador) Era só um comentário?
  • 40:55 - 40:57
    Não tem uma questão?
  • 40:58 - 41:00
    Ou era essa a pergunta?
  • 41:00 - 41:02
    - Como fazer isso?
    - (Pessoa 6) Essa era a pergunta.
  • 41:03 - 41:06
    Desculpe,
    mesmo que tenhamos esta discussão,
  • 41:06 - 41:07
    (Moderador) Sim, claro.
  • 41:08 - 41:11
    (Pessoa 6) A minha pergunta,
    caso não tenha sido clara,
  • 41:11 - 41:13
    é que mesmo que todos
    estejam de acordo
  • 41:13 - 41:15
    em como modelar casos complicados,
  • 41:15 - 41:20
    ou fazemos tecnicamente
    o modelo conhecido para o projeto
  • 41:20 - 41:22
    com o objetivo da Wikidata,
  • 41:22 - 41:26
    de forma a que as pessoas não
    adicionem o valor errado de boa fé,
  • 41:27 - 41:30
    porque o nosso problema são ambos.
  • 41:30 - 41:34
    Temos problemas a modelar
    realidades complicadas
  • 41:34 - 41:39
    e temos problemas a explicar
    para os usuários como seguir
  • 41:39 - 41:41
    o modelo que temos atualmente.
  • 41:41 - 41:42
    Sim.
  • 41:43 - 41:46
    Eu iria dizer que se pudesse
    resolver esse problema,
  • 41:46 - 41:48
    o que significa reenquadrá-lo,
  • 41:48 - 41:53
    como educar de forma confiável
    e consistente os novos utilizadores
  • 41:53 - 41:57
    para que tenham a mesma
    visão e entendimento
  • 41:57 - 42:00
    sobre o espaço do projeto,
  • 42:00 - 42:02
    de forma que eles deixariam
    eu me formar
  • 42:02 - 42:03
    e também arrumar um emprego.
  • 42:04 - 42:09
    Este é o segundo problema mais
    antigo da internet.
  • 42:09 - 42:12
    O primeiro é um sistema de escrita
  • 42:12 - 42:14
    que irá automaticamente detectar insultos.
  • 42:16 - 42:18
    Eu diria que...
  • 42:19 - 42:21
    pode olhar para a Wikipedia,
  • 42:21 - 42:23
    ou mesmo antes dela aparecer,
    havia o fenómeno,
  • 42:23 - 42:27
    do setembro eterno na Usenet,
  • 42:27 - 42:30
    que era, "Oh, estas pessoas guardam...
    os discos da AOL foram para todo o lado
  • 42:30 - 42:31
    e agora há novatos
  • 42:31 - 42:34
    a toda a hora que não sabem
    como as coisas funcionam por aqui,
  • 42:34 - 42:38
    e tudo está tudo a afogar-se com gente
    a carregar no "Responder a Todos'".
  • 42:40 - 42:42
    De forma geral,
    o sitio onde procuraria por isso
  • 42:42 - 42:48
    é uma disciplina chamada "Trabalho
    cooperativo auxiliado por computador"
  • 42:48 - 42:50
    e uma das suas grandes questões
  • 42:50 - 42:54
    é sobre a questão do onboarding e...
  • 42:55 - 42:58
    como tornar a cultura conhecida por todos.
  • 42:58 - 43:01
    Mas isso pode não ser
    algo solucionado diretamente,
  • 43:01 - 43:03
    ou que queiramos resolver
    diretamente, certo?
  • 43:04 - 43:07
    Susan Leigh Star, que escreveu
    Sorting Things Out,
  • 43:07 - 43:08
    uma das suas outras contribuições
  • 43:08 - 43:13
    foi o estudo de infraestruturas no geral
  • 43:13 - 43:15
    sobre as quais posso argumentar
    que a Wikidata é de certeza uma,
  • 43:16 - 43:19
    e das coisas que ela defendeu
  • 43:19 - 43:23
    foi que as infraestruturas
    dão-se a conhecer ao serem usadas.
  • 43:24 - 43:28
    Basicamente, a única forma de saber
    como um sistema funciona
  • 43:28 - 43:32
    é interagindo com ele,
    errar, esbarrar de frente
  • 43:32 - 43:35
    e aprender a como não cair de novo.
  • 43:35 - 43:40
    Acho que todos nós em qualquer lugar,
    incluindo novos utilizadores,
  • 43:41 - 43:43
    incluindo pessoas
    vindas de outros projetos,
  • 43:43 - 43:48
    querem uma forma de abordar isto
    onde não precisem de cair.
  • 43:49 - 43:51
    Mas não estou certo que isso exista,
  • 43:51 - 43:56
    e penso que o melhor sitio
    para procurar, é se calhar perguntar
  • 43:56 - 43:59
    quais são as consequências
    das pessoas fazerem asneiras
  • 43:59 - 44:03
    e como tornamos
    o fazer asneiras algo compreensível
  • 44:03 - 44:07
    e um mais esperado componente
    de experiência de novos utilizadores.
  • 44:08 - 44:10
    (Moderador) Obrigado. Próxima pergunta.
  • 44:11 - 44:12
    (Pessoa 7) Obrigado.
  • 44:13 - 44:15
    Primeiro, muito obrigado pela palestra.
  • 44:16 - 44:18
    Como alguém já disse,
    foi de abrir expandir horizontes.
  • 44:18 - 44:23
    Estava à procura de um item
    específico em transexualidade
  • 44:24 - 44:27
    e é, ainda mais interessante,
  • 44:27 - 44:29
    porque estava a olhar
    para como diferentes Wikipedias
  • 44:29 - 44:32
    lidam com a questão.
  • 44:32 - 44:34
    Só consultei 3.
  • 44:35 - 44:38
    Aparentemente, o que vemos na Wikidata,
  • 44:38 - 44:44
    na verdade, reflete muito
    o que aconteceu, até certo ponto,
  • 44:45 - 44:47
    até certo nível, na Wikipedia em inglês.
  • 44:47 - 44:51
    Se verificar a Wikipedia em português,
  • 44:51 - 44:55
    o item aponta para transgénero,
  • 44:56 - 45:02
    e na Wikipedia francesa,
    aponta para identidade trans,
  • 45:03 - 45:08
    enquanto transexualidade é um
    redirecionamento em português e francês.
  • 45:09 - 45:15
    E estava a ver o histórico
    de edições da página na Wikidata,
  • 45:15 - 45:19
    se verificar existiram,
    como que, algumas guerras
  • 45:19 - 45:22
    a página de discussão,
    tem apenas uma linha,
  • 45:23 - 45:26
    mas existiram vários
    conflitos entre editores,
  • 45:26 - 45:28
    particularmente entre os franceses
  • 45:28 - 45:32
    que se opunham ao
    uso de "transexualidade".
  • 45:32 - 45:36
    Se verificar os nomes
    das páginas em cada língua,
  • 45:36 - 45:39
    o único que não tem transexualidade
  • 45:39 - 45:41
    é o francês
    em detrimento de identidade trans,
  • 45:41 - 45:45
    depois veio alguém
    e fez o que você disse sobre
  • 45:45 - 45:48
    ser o oposto de identidade trans,
  • 45:49 - 45:51
    e depois existe
    uma página diferente que...
  • 45:51 - 45:52
    Sim.
  • 45:52 - 45:56
    (Pessoa 7) É uma guerra global sobre...
  • 45:56 - 45:59
    basicamente está reverberar conflitos
  • 45:59 - 46:02
    que aparentemente também
  • 46:03 - 46:08
    são manifestações de conflitos
    que acontecem em cada Wikipedia.
  • 46:09 - 46:12
    Sim, isso também reflete
    conflitos em culturas locais
  • 46:12 - 46:14
    e em partes diferentes do mundo...
  • 46:15 - 46:17
    E eu diria que, quer dizer,
  • 46:17 - 46:21
    eu sou britânico, por isso tenho uma
    tendência a dizer, "lutar com franceses?"
  • 46:21 - 46:22
    "Sim, por favor!"
  • 46:22 - 46:23
    (risos)
  • 46:23 - 46:27
    Mas eu diria que há algo
    mais fundamental que isso
  • 46:27 - 46:29
    e você pode fazer um argumento
    na direção contrária.
  • 46:29 - 46:33
    Eu posso, como uma pessoa trans,
    ir na direção contrária e dizer
  • 46:33 - 46:36
    "na verdade foram os franceses
    e portugueses que entenderam tudo errado".
  • 46:36 - 46:38
    Porque a verdadeira questão é,
  • 46:38 - 46:40
    será a entrada transexualidade
  • 46:40 - 46:45
    sobre a classificação médica,
    ou o estado de ser,
  • 46:45 - 46:48
    ou classificação médica histórica,
  • 46:48 - 46:51
    ou o termo histórico para o estado de ser,
  • 46:51 - 46:54
    ou serão estas entradas diferentes,
    ou as mesmas entradas?
  • 46:54 - 46:56
    Quando as coisas são distintas o
    suficiente para serem objetos diferentes
  • 46:56 - 46:59
    e como nós negociamos essa luta
  • 46:59 - 47:01
    entre pessoas
    que pensam que o status médico
  • 47:01 - 47:04
    e a identidade são a mesma coisa,
    ou coisas diferentes.
  • 47:05 - 47:08
    Mas sim, não há respostas simples,
  • 47:08 - 47:10
    porém suspeito que se vir
    muitos desses exemplos
  • 47:10 - 47:13
    e se vir muitas controvérsias,
  • 47:13 - 47:14
    geralmente na Wikidata,
  • 47:14 - 47:17
    o que vai ver são lutas sobre...
  • 47:18 - 47:19
    Essas quase negociações
  • 47:19 - 47:21
    são as normas das comunidades locais
  • 47:21 - 47:24
    e além delas estão as normas culturais.
  • 47:24 - 47:26
    O que é um problema porque, mais uma vez,
  • 47:26 - 47:29
    quando falamos de grupos
    marginalizados ou minoritários,
  • 47:29 - 47:34
    é de se esperar que eles também estejam
    marginalizados nas comunidades Wiki
  • 47:34 - 47:37
    e também dentro da Wikidata,
  • 47:37 - 47:38
    por isso a Wikidata é como que...
  • 47:40 - 47:43
    construir sobre
    essas prioridades preexistentes
  • 47:43 - 47:46
    de que conhecimento importa,
    e sobre que circunstâncias e formatos.
  • 47:48 - 47:51
    (Pessoa 8) Queria falar
    sobre algo que mencionou.
  • 47:52 - 47:58
    Tudo é complexo e penso
    que para modelar direito,
  • 47:58 - 48:00
    fazê-lo correto na Wikidata,
  • 48:00 - 48:03
    não é o cerne da questão,
  • 48:03 - 48:05
    como disse, a Wikidata
    é uma infraestrutura
  • 48:05 - 48:08
    e como Hermione disse,
  • 48:08 - 48:13
    nós talvez estejamos certos
    em algumas coisas, alguns tópicos,
  • 48:13 - 48:15
    e mesmo assim,
    não conseguirmos pô-lo em prática.
  • 48:15 - 48:16
    Sim.
  • 48:16 - 48:18
    (Pessoa 8) Então, gostaria de sugerir
  • 48:18 - 48:22
    que é uma condição
    predominante da raça humana.
  • 48:23 - 48:28
    E mesmo que modelemos bem algo,
    mesmo que modelemos o género
  • 48:29 - 48:33
    10 vezes mais complexa do que agora,
  • 48:33 - 48:36
    a maior parte das consultas SPARQL
    que envolvem género não se importariam
  • 48:36 - 48:38
    com os qualificadores, certo?
  • 48:38 - 48:39
    Sim.
  • 48:39 - 48:42
    E ainda assim geraria resultados
    muito rasos e simplificados.
  • 48:42 - 48:47
    O uso do Google dos nossos dados
    nas infames caixas de informação,
  • 48:47 - 48:50
    também terão dados simplificados
    e ignorarão os qualificadores.
  • 48:50 - 48:52
    Isso não irá mudar.
  • 48:52 - 48:55
    A Wikidata continuará a ser
    usada de forma simplista.
  • 48:56 - 48:57
    De facto, a maior parte do uso,
  • 48:57 - 48:59
    provavelmente será dessa forma simplista.
  • 49:00 - 49:04
    O que quero dizer é que,
    se calhar não é possível corrigi-lo
  • 49:04 - 49:05
    mas não devemos deixar de tentar.
  • 49:07 - 49:09
    Quer dizer, devemos tentar fazê-lo bem
  • 49:09 - 49:13
    e entender que muito do uso é,
    apesar dos nossos esforços,
  • 49:13 - 49:15
    simplista e errado.
  • 49:15 - 49:16
    Sim. Concordo com isso.
  • 49:17 - 49:18
    Acho que diria que,
  • 49:19 - 49:20
    não é como...
  • 49:21 - 49:24
    A minha questão aqui não é, se existe
  • 49:24 - 49:26
    uma resposta incrível e complexa.
  • 49:28 - 49:30
    A dada altura simplesmente desisti,
  • 49:30 - 49:36
    mesmo que na minha tese que é,
    sobre transexualidade e tecnologia
  • 49:36 - 49:38
    para definir transexualidade.
  • 49:38 - 49:40
    Simplesmente desisti.
  • 49:40 - 49:45
    E ao invés de procurar o que
    é chamado de visão pragmática,
  • 49:45 - 49:47
    que é basicamente seja lá
    o que for que pessoas
  • 49:47 - 49:49
    na situação que estiver a
    estudar acreditam que seja,
  • 49:49 - 49:52
    e seja como for
    que constroem o mundo,
  • 49:53 - 49:54
    como queiram,
  • 49:55 - 49:57
    onde quero chegar com isto
  • 49:57 - 49:59
    é que não é que haja
    uma definição universal
  • 49:59 - 50:02
    sobre qualquer coisa que,
    se suficientemente complicada,
  • 50:02 - 50:05
    será o suficiente,
  • 50:05 - 50:09
    mas ao invés disso, o que penso
    é que a escala é o problema,
  • 50:09 - 50:11
    e o universalismo é o problema.
  • 50:13 - 50:15
    Talvez devamos continuar a tentar,
  • 50:15 - 50:16
    ou talvez parar.
  • 50:16 - 50:19
    Talvez devamos dizer que, novamente,
  • 50:19 - 50:23
    deveria existir uma Wikibase
    dentro de cada comunidade
  • 50:23 - 50:28
    que assim o deseje,
    onde possam definir e articular as coisas
  • 50:28 - 50:30
    da forma que quiserem.
  • 50:31 - 50:33
    Mas depois acabamos em
    discussões mais politicas
  • 50:33 - 50:37
    e debates carregados sobre ações
    reformistas versus radicais,
  • 50:37 - 50:40
    e sobre como abrir uma caixa
    com um pé-de-cabra que está dentro dela,
  • 50:40 - 50:42
    e começo a citar Foucault por uma hora,
  • 50:42 - 50:44
    e toda a gente fica triste.
  • 50:44 - 50:47
    Inclusive eu, pois odeio Foucault.
  • 50:47 - 50:49
    Talvez esse seja um
    debate para outra altura.
  • 50:49 - 50:52
    Mas concordando no geral, eu...
  • 50:52 - 50:55
    levantaria questões sobre
  • 50:54 - 50:56
    se devemos continuar a tentar
  • 50:56 - 50:58
    uma forma melhor de universalismo
  • 50:58 - 51:00
    ou se o problema é o universalismo.
  • 51:01 - 51:03
    Acho que temos tempo para mais uma?
  • 51:04 - 51:08
    (Pessoa 9) É uma pergunta curta,
    mas possivelmente de resposta complexa.
  • 51:08 - 51:11
    Uma das propriedades
    mais populares e usadas
  • 51:11 - 51:15
    é sexo ou género na Wikidata.
  • 51:16 - 51:18
    Podia comentar se acha
  • 51:19 - 51:25
    essa união útil, produtiva,
    problemática?
  • 51:26 - 51:28
    Claro, acho que isso será sempre
  • 51:28 - 51:30
    uma causa redutora porque é uma união.
  • 51:31 - 51:36
    Mas também acho profundamente cansativo
  • 51:37 - 51:39
    de uma forma
    um tanto ou quanto interessante,
  • 51:39 - 51:42
    na medida em que revela
    as limitações da Wikidata,
  • 51:42 - 51:44
    embora a Wikidata afirme trabalhar
  • 51:44 - 51:47
    em direção a esse grande
    e objetivo comum de conhecimento,
  • 51:47 - 51:49
    e depois acaba por
    esbater essas definições,
  • 51:49 - 51:53
    porque, quer dizer, eles não perguntaram
  • 51:53 - 51:56
    à maioria das pessoas
    que têm entradas qual o seu género,
  • 51:56 - 51:57
    e/ou qual o sexo deles,
  • 51:57 - 51:59
    e simplesmente fundiram as duas,
  • 51:59 - 52:02
    para essa inferência ser mais fácil.
  • 52:02 - 52:05
    Mas de forma geral,
    diria que fundir os dois
  • 52:05 - 52:08
    é redutivo e perigoso
  • 52:09 - 52:10
    mas...
  • 52:12 - 52:13
    novamente, não é...
  • 52:14 - 52:15
    Não há uma forma boa de fazer isto.
  • 52:15 - 52:17
    Acho que esta é uma forma
    particularmente má, ok?
  • 52:18 - 52:22
    De tratá-los como coisas intercambiáveis
  • 52:23 - 52:26
    e tratá-los como coisas
    eternamente ligadas,
  • 52:28 - 52:32
    mas não consigo sugerir
    uma forma melhor que fique...
  • 52:32 - 52:34
    que continue a ter a Wikidata
  • 52:34 - 52:38
    mesmo rastreando esta informação
    ou a conter a informação de todo.
  • 52:39 - 52:41
    (Moderador) Acho que temos de concluir.
  • 52:41 - 52:42
    Ainda vejo algumas mãos no ar,
  • 52:42 - 52:44
    espero que estejam por perto.
  • 52:44 - 52:46
    Sim, sou um estudante de licenciatura.
  • 52:46 - 52:47
    Não tenho vida funcional, por isso...
  • 52:47 - 52:48
    (risos)
  • 52:48 - 52:52
    (Moderador) Perfeito. Ótimo.
    Por favor venha e fale.
  • 52:52 - 52:54
    Muito obrigado a todos.
  • 52:54 - 52:56
    (Aplausos)
Title:
cdn.media.ccc.de/.../wikidatacon2019-15-eng-Keynote_Questioning_Wikidata_hd.mp4
Video Language:
English
Duration:
53:02

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