Olá, só para experimentar.
Conseguem ouvir-me?
Ótimo.
Nunca percebi
porque é isto um fenómeno
quando as pessoas dão palestras,
por que se não ouvissem,
o que seria suposto dizer?
(risos)
Mas tudo bem, como disse, chamo-me Os.
Estou a fazer um Doutoramento
na Universidade de Washington,
onde, de acordo com o slide,
estudo "Género, Infraestrutura e
(Contra) Poder".
Gostaria de vos pedir
a indulgência de fingir
que isto é uma descrição académica,
pensada, pormenorizada,
e não apenas uma frase genérica,
porque estudo
um milhão de coisas diferentes
e colocá-las em poucas palavras é difícil.
Mas a maior parte do que estudo
gira em torno de como sistemas
de conhecimento reforçam certas ideias
sobre como o mundo funciona,
e relações específicas de poder
com um foco específico no género.
Também sou um ex-Wikipedista.
Passei 15 como editor,
que foi onde provavelmente começou
o meu interesse sobre natureza,
e realmente não consigo expressar
o quão feliz estava por ter sido convidado
e o quão feliz estou
por estar aqui com todos vocês,
mas especialmente com James Forrester
que é provavelmente
a única pessoa qualificada
para rubricar o meu pedido
de renovação de passaporte,
que expira em breve
e estou a tentar resolver...
(risos)
Mudas-te para Seattle. Tudo é ótimo.
E de repente:
"Olha, o governo britânico...
exige que encontre um ex-padre,
um funcionário público,
ou membro do parlamento
que me conheça há pelo menos 2 anos
para quem possa enviar a papelada".
Parece-me bem plausível.
(risos)
De qualquer forma, mas...
Estou aqui como alguém
que passou bastante tempo...
alguns anos...
não gosto de pensar nisso
porque me faz sentir incrivelmente velho
a lutar contra a natureza do conhecimento
e a ideia do conhecimento...
para falar com vocês sobre
como se parece a Wikidata
para alguém com o meu histórico
e interesses académicos.
Não vou perder muito tempo
a contar a história da Wikidata,
porque se está aqui, passadas 24 horas
de ter o cérebro carregado de informações,
já está bem familiarizado com isso.
Trata-se de uma grande
base de dados semântica
que gera conhecimento
legível electronicamente
de forma centralizada.
E isto tem a forma de uma série de itens
associados com propriedades de statements.
O item "maçã" tem a propriedade "fruta".
Quer dizer, provavelmente.
É uma Wiki, provavelmente
há uma longa guerra editorial
sobre se uma maçã é uma fruta
e há 50 pessoas por trás de 300 contas
e continua há anos,
e neste momento, se citar
a palavra "maçã" no Wikidata,
será preventivamente banido
como alguém que,
é secretamente uma marioneta
e executa uma conta
em ambos os lados do conflito.
Consequentemente, também existe
um sistema de classificação, certo?
Uma forma de seleccionar
e organizar o mundo.
Objetos, pessoas ou conceitos
são classificados como
válidos de terem uma entrada
na Wikidata ou não.
Uma fruta ou não.
E em cada caso é aplicada
uma série de critérios
para determinar as propriedades
que um objeto deve ter
e os valores dessas propriedades
e como o objetos se relacionam entre si.
A Wikidata é realmente
uma tentativa de construir
um sistema universal de classificação.
Sistemas de classificação foram
estudados extensivamente.
Um trabalho proeminente que
recomendo a todos lerem
se estiverem interessados neste tema
é Sorting Things Out,
que é um livro de Geoff Bowker
e Susan Leigh Star.
Eles descobriram que no universo ideal,
um sistema de classificação,
seja ele universal
ou sobre algo em particular,
tem três atributos.
O primeiro é operar em princípios
consistentes e únicos.
Há um padrão consistente
do que deve estar em cada categoria
e por que razões.
O segundo é que todas categorias
são mutuamente exclusivas.
E o terceiro é que o sistema é completo.
Cobre tudo o que descreve.
Isto não significa que deve
ter todos os objetos
que sirva no sistema.
Quer dizer somente que,
numa situação onde falta um objeto
e esse objeto depois aparece,
deve existir um mecanismo consistente
para definir se este objeto deve
ser adicionado ou não,
e como deve ser descrito,
e assim em diante.
Há um pequeno problema com isto, que é...
"Nenhum sistema de classificação
do mundo real
que estudamos cumpre
estes simples requisitos
e duvidamos que algum um dia cumprirá.
Ou para dizer de outra forma,
todos os sistemas de classificação falham.
Todos os sistemas de classificação
tem falhas e excepções.
E, obviamente, o mesmo é válido
para todos os sistemas, sem exceção.
Qualquer um que já tenha programado,
ou apenas trabalhado num ambiente,
ou estudado num ambiente,
ou vivido no mundo sabe
que ainda estamos para desenvolver
qualquer coisa
que tenha sido perfeitamente planejada.
O problema é que
quando pegamos num sistema,
classificação ou outro qualquer,
e o colocamos no mundo,
e lhe damos poder e autoridade
e o integramos com outros sistemas
que já têm poder e autoridade,
há consequências para o que acontece
quando esse sistema inevitavelmente falha,
para como ele reforça ou sabota
relações existentes de poder,
para como magoa as pessoas.
Um sistema de classificação universal,
é, noutras palavras,
não apenas condenado a falhar,
mas também a magoar as pessoas.
E a forma como é estruturado
é, em última análise, o resultado
duma série de escolhas éticas e políticas
Quem quer magoar? E por quanto?
O que deve ser feito quando
pessoas são feridas?
E essas escolhas têm consequências reais.
Fazer essas escolhas geralmente
envolve lidar com o facto
de que raramente há uma única
e simples interpretação
legível eletronicamente
sobre algo verdadeiro para todas
as pessoas em toda a história.
Tudo no universo tem múltiplos
significados, simbolismos e pormenores
para pessoas em diferentes
contextos e épocas.
Mas desenhar e implementar
um sistema de classificação,
desenhar um sistema que possa
afirmar que tem princípios consistentes,
e que cobre tudo o que discute,
inevitavelmente envolve
cortar a sua complexidade.
e tomar decisões sobre o significado
de uma coisa que será criada,
ou quais os possíveis significados
deverá ser apresentado e em que sequência.
Como resultado,
isso envolve silenciar vozes
ou tornar outras mais altas.
Novamente, isso traz consequências.
Para ilustrar o que quero dizer
sobre esta complexidade,
contexto e redução,
e as suas consequências,
gostaria de mostrar
alguns exemplos da própria Wikidata.
Os que escolhi são todos relacionados
com um género porque, novamente,
o género é tanto profissionalmente
quando pessoalmente, um elemento-chave.
O primeiro trata de transexualidade,
que é descrita como uma
"condição na qual um indivíduo
se identifica com um género inconsistente
ou não culturalmente
associado com o seu sexo biológico".
Parece bem generalista e...
esperem, não,
está classificado como uma doença,
uma doença psiquiátrica.
Sei o que estão a pensar,
que isto é chocante,
mas não é algo tão simples
como definir estas afirmações
como verdadeiras ou falsas, certo?
Estão numa categoria do tipo,
"verdadeira, porém".
Considere a transexualidade
como uma doença, certo?
Tecnicamente, é verdade,
até o ponto em que "transexualidade"
é o nome de uma entrada
dentro da Classificação
Internacional de Doenças, versão 10.
Mas devemos adicionar alguma
complexidade e pormenor a isso.
O CID é uma classificação de literalmente
qualquer coisa no mundo
que possa vir a ter,
que esteja de qualquer forma relacionada
com o ferimento ou morte de alguém.
Na verdade, é ilegal morrer de qualquer
coisa que não esteja listada no CID.
(risos)
Então contém muitas coisas,
e a transexualidade está lá listada,
por isso, classificamo-la como doença,
por estar numa classificação de doenças.
Aqui estão algumas outras coisas
que o CID também lista como doença
e tem entradas específicas.
PA80: tiro acidental.
PA40.0: cair de um barco e afogar-se.
(risos)
PA41.1: cair de um barco,
danificá-lo e afogar-se.
(risos)
PA40.1: cair do barco,
não danificar o barco,
não se afogar,
e ainda assim morrer.
(risos)
E finalmente, QD50: ser pobre.
(risos)
Logo, se algum de vocês
já tiver caído de um barco,
lamento informar que tem uma doença
e deveria procurar um médico.
Que tipo de médico eu não sei.
Talvez um psiquiatra.
Quem sabe?
Sabe que é uma doença, certo?
Qual a especialidade: psiquiatria?
Bem, também é verdade, de certa forma.
Psiquiatras são as pessoas
que diagnosticam disforia de género,
uma desconexão entre
a percepção de género de alguém
e o seu género biológico.
Mas, novamente, contexto.
Por exemplo, dizer que os
psiquiatras fazem esse diagnóstico
ignora o facto
de que nenhum dos tratamentos
são psiquiátricos.
Podem também listar
as especialidades como...
como especialização em hormonas
ou cirurgia plástica,
ou como um cortador personalizado.
Todos eles têm também algum
papel na trajetória de vida das pessoas.
Não estão listados.
Outro factoide potencialmente útil,
é que o CID-10 é, na verdade,
a versão antiga da Classificação
Internacional de Doenças,
e que o CID-11 já não inclui
de todo, a transexualidade,
muito menos como doença.
Mas o que quero dizer não é que a Wikidata
às vezes tenha informações desatualizadas,
ou às vezes tenha informações falsas,
mas sim que as afirmações que são
construídas a partir dessa informação
como consequência do que deixam de fora
e de quais são os resultados,
omite coisas e adiciona risco.
Uma forma de estruturar
a informação contida nessa entrada é:
"transexualidade é uma
doença psiquiátrica".
E Isso deixa de fora muita complexidade,
alguma da qual discutimos.
Mas a grande questão é
como é que isso se interliga
e identifica com narrativas
e informações já existentes.
Por exemplo, a ideia da
transexualidade como doença.
Alguém sabe por que o CID
parou de considerá-la uma doença?
Bem, por duas razões.
A primeira é que chamar
alguém trans de doente é impreciso.
Não se enquadra na definição de doença.
Na verdade, o único motivo
pelo qual qualquer coisa associada
a transexualidade ainda estar no CID
não tem a ver com algo objetivo,
por exemplo, examinar
biologicamente ou psiquiatricamente
mas sim com puro pragmatismo.
Se tirar totalmente da lista,
então as companhias de seguro de saúde
em locais como os Estados Unidos,
iriam parar de dar cobertura médica
que estivesse associada
com a transexualidade.
E o segundo motivo é que,
o estigma de ter algo classificado
como doença é substantivo,
e quando lista transexualidade
como uma doença,
e psiquiátrica ainda por cima,
entra em suposições muito antigas
e falsas crenças sobre pessoas trans.
Suposições e crenças
que têm muito poder.
Se é uma doença, então há
algo de errado com as pessoas trans,
algo que as pessoas devem solucionar.
E se é uma condição psiquiátrica,
as pessoas trans devem fazer terapia
para deixarem de ser trans.
Por outras palavras, seja lá qual for
a verdade ou mentira da afirmação,
tirá-la da sua complexidade e contexto,
deixa as pessoas preencherem
a lacuna com as suas próprias ideias.
E isso não termina num sistema
de classificação neutro e objetivo,
mas sim com terapias de conversão
e com legalizar espancar até a morte
uma pessoa trans por descobrir isso
só depois de dormir com ela,
porque, afinal,
havia algo de errado com ela.
Por que seria considerado razoável
fazer isso?
Por isso um enquadramento
mais pormenorizado pode ser a resposta,
o que é difícil de colocar na Wikidata.
E porque não conseguimos
colocar isto na Wikidata,
simplificamos,
perdemos toda a complexidade,
abrimos, de novo, a possibilidade
de reforçar estas noções muito perigosas.
Vamos ver outro exemplo
também sobre género,
que é a entrada para não-binário.
De acordo com o
que a Wikidata nos informa,
não-binário é uma série de géneros
que não são nem exclusivamente
femininos ou masculinos.
Tenho algumas críticas
para a secção "também conhecido como",
mas esse nem é o maior problema aqui.
Não, o grande problema aqui
é que, em ponto algum da página
há referência a pessoas trans.
Se for à entrada
para a mulher transgénero,
pode ler-se
"o oposto de homem transgénero".
Se for à entrada
para o homem transgénero,
lê-se "o oposto de mulher transgénero".
Se aceder a esta página,
não há qualquer referência
a pessoas trans.
Há uma completa desconexão e distinção
entre pessoas não-binárias e trans.
Isto pode parecer algo
pedante para nos preocuparmos,
mas é de facto,
um ótimo exemplo por vários motivos.
A primeira é que a relação entre
pessoas não-binárias e pessoas trans
é fortemente debatida.
Um indivíduo não-binário pode
ou não identificar-se como trans.
Consequentemente, é muito difícil
fazer julgamentos categóricos
sobre essa classe de pessoas.
Outras pessoas diriam
que não-binários não são trans,
sem motivo aparente,
ou que não-binários são trans.
Terá que tomar uma decisão
em algum momento.
Como vai categorizar esta entrada?
Que atributos irá associar-lhe?
Mas é difícil fazer isso na Wikidata
quando, por necessidade,
a estrutura da plataforma
é tão categórica e fixa
que não pode dizer-se que, para algumas
pessoas estas coisas são relacionadas,
mas para outras não,
e na verdade isto é muito político,
mas devíamos pensar sobre o assunto.
Não há um facto objetivo
onde nos possamos apoiar.
É muito contextual, complexo e disputado.
Por isso, como encaixamos isto?
Ideias?
Mas esta redutividade
não é apenas uma questão de,
"Bem, não conseguimos
colocar toda a informação,
por isso acho que não está perfeito".
Novamente, isto encaixa-se em discursos
pré-existentes, num mundo pré-existente,
e tem potencial
para causar males bem reais.
Há uma longa história
de pessoas não-binárias
não serem consideradas trans,
que vem, na verdade, desde os fundamentos
de trabalhos médicos,
académicos e de referência
sobre o que é ser trans e como
pessoas trans devem ser tratadas.
Isto resultou em
retirar de pessoas não-binárias
o acesso a recursos...
assistência médica, sentimento de pertença
comunitária, qualquer tipo de suporte.
Na verdade, até 2013
não era possível escolher ser não-binário
e continuar a ter acesso a tratamento
médico relacionado com transição sexual.
Se fosse e quisesse acesso,
devia ir ao seu médico
mentindo continuamente
e torcer para que ninguém descobrisse.
Se quisesse
que esse diagnóstico acontecesse
para que o seu seguro
de saúde cobrisse os gastos
ou para o sistema nacional
de saúde cobrisse os gastos,
só podia ser homem ou mulher,
e nada mais.
E agora existem muitas repercussões
para existências não-binárias
de pessoas que pensam
que somos uma ameaça,
ou algo novo e diferente,
quando na verdade existimos à tanto tempo
quanto qualquer tipo de pessoa trans,
só não somos debatidos.
De novo, a consequência disto
deste silêncio é reforçar
que essas ideias pré-existentes
de que não-binários não tem
nenhuma relação com o ser trans,
que isso cria e reforça discursos
que excluem pessoas de assistência médica,
e de uma comunidade.
Finalmente, antes de parar de insistir
em questões de género,
os hijra.
De acordo com a Wikidata,
os hijra são o terceiro género
de culturas do sul asiáticas
e uma subclasse do não-binários.
Um ponto importante.
Sim, os hijras estão fora
do binómio homem-mulher simples,
mas quase zero pessoas hijra
se definiriam como não-binários
porque isso não faz o mínimo sentido.
Num contexto ocidental,
não-binários são, por definição,
nem homem ou mulher mas por consequência,
nem mulher trans nem homem trans.
Hijra incluem mulheres trans
e também todas as pessoas intersexo,
todas as pessoas estéreis
e um grande número de homossexuais,
mas não incluem homens trans
ou pessoas não-binárias que foram
consideradas mulheres ao nascer.
Tudo isto é muito complexo
e há, literalmente livros escritos
sobre a estrutura de género
e como tudo se encaixa nisso.
Mas a questão é não existir
um mapeamento simples
de noções de género ocidentais
para noções de género do resto do mundo.
Categorizar pessoas hijra
como um subtipo de pessoas não-binárias
ignora o facto de que a maioria
dos hijras não se vêem assim,
não se veriam assim,
e que as definições de hijra e
não-binários são totalmente incompatíveis.
Porém isto tem
potencial para causar danos.
Porque o facto
é que noções ocidentais de género
são regularmente, e durante muito tempo,
espalhadas para o resto do mundo,
frequentemente de forma violenta.
Temos sistemas de informação.
Sistemas de classificação.
Temos padrões.
Temos, historicamente e atualmente,
guerras orientadas pela ideia que
a forma ocidental de fazer as coisas
é a única forma certa,
ou é a melhor e a normal,
e todos se devem conformar.
E quando temos estes projetos
grandes que tentam encaixar o mundo
dentro de visões ocidentalizadas
de conhecimento, porque precisam,
porque é assim que os sistemas
de classificação universais funcionam...
tudo tem que encaixar
num esquema consistente.
Está a perpetuar esse tipo de violência.
Poderiam responder-me
às minhas preocupações e exemplos,
e divagações de várias maneiras.
Uma linha de pensamento seria,
"Por que importa isto?"
Porque é que a Wikidata
ao participar e validar
ou invalidar determinados discursos
tem impacto no mundo?
A primeira resposta é que
não importa se isso importa.
O que é importa é que reconheçam isso.
Neste momento, a estrutura
padrão da Wikidata é,
estamos a reunir
todo o conhecimento em formato digital,
mas vocês não estão.
Vocês também estão a tomar decisões
sobre o que deve ou não ser incluído,
e como o conhecimento
deve estar representado.
Que complexidade
vale ou não a pena estar representada.
E essas são escolhas éticas e políticas,
em que enquadrar o projeto
é um simples resultado
de milhões de macacos
anónimos e intercambiáveis,
com um número
equivalente de dactilógrafos,
e que torna impossível
conversar sobre isso.
Os organizadores, utilizadores
e fundadores da Wikidata
devem entender que estão
a tomar decisões profundamente carregadas,
que não são neutras ou objetivas de todo,
e que isso não é mau, mas sim perigoso.
E ao aceitar
que estas são decisões éticas e políticas,
poderiam dizer,
"Se as pessoas querem as suas visões
sobre as coisas incluídas,
deveriam contribuir".
E comunidades marginalizadas
contribuem muito, certo?
Há uma longa tradição
de comunidades LGBT+,
em especial, a adoptarem
primeiro novas tecnologias.
E as pessoas poderiam
simplesmente contribuir para Wikidata.
Como as pessoas Hijra que poderiam
criar contas e começar a argumentar
que a definição não deveria ser
uma sub entrada de não-binário,
e assim sucessivamente.
O problema é que isso
é improvável ajudar
porque são a minoria,
porque muitas vozes e perspectivas
estão atualmente silenciadas,
no âmbito da tomada de
decisões éticas políticas,
e são as vozes das minorias.
Fiz umas contas sobre isto.
Wikidata tem 20 mil editores ativos,
de uma população humana
de cerca de 7 bilhões,
a menos que achem
que a matemática é uma mentira
e que os governos do mundo,
controlados por reptlianos no Ártico,
estão a inventar tudo.
E eles são aproximadamente...
(Pessoa 1) Quer dizer que não estão?
(risos)
Olha, serei honesto.
Se viver nos Estados Unidos
nos últimos 5 anos me ensinou algo,
é que qualquer união governamental
grande o suficiente para controlar
boa parte da população humana,
não seria de certeza competente
o suficiente para esconder o seu rasto.
(risos)
Iríamos descobrir em 3 meses
e nem sequer seria por causa
de algum repórter de investigação.
Seria porque um dia um dos reptilianos
se esqueceria de vestir
o disfarce de humano
e iria acidentalmente ao mercado
comprar um litro de leite
(risos)
e era apanhado num vídeo do TikTok.
(risos)
Então, a Wikidata tem
20 mil editores ativos,
dos quais consideraremos
que nenhum é reptiliano
disfarçado de humano ou algo do tipo,
de uma população de 7 bilhões,
e há aproximadamente 1 milhão
de pessoas hijra no mundo.
Se considerar uma taxa
de participação igualitária,
desconsiderando a condição
de extrema pobreza de muitos hijra
e o seu impacto correspondente
em coisas como acesso à internet,
então o esforço combinado
de 20 mil editores da Wikidata,
teria de ser superado por 2,85 pessoas.
Não me parece algo muito plausível.
Então podem dizer,
"Bem, e se tivermos
outras instâncias da Wikibase,
não é nesse caminho que estamos a ir?
Pode configurar a sua
própria Wikibase com as suas perspectivas
e decisões próprias sobre
como classificar as coisas,
e o que prioritizar ou não.
Faça o seu próprio site com os seus
standards sobre o que é conhecimento
e que informação é importante."
As pessoas podem fazer exatamente isso.
Mas o problema é que a
Wikidata tem muito prestígio,
e por isso é que as decisões
que a Wikidata toma têm tanto impacto.
Há também o facto de já existir.
Tem a vantagem dos pioneiros.
Há a marca da Wikimedia.
Há o financiamento de
nomes como a Google.
Há a relação com outras instituições.
Quando o plano estratégico para a Wikidata
pede envolvimento e integração com museus,
isso não gera apenas
mais dados para a Wikidata.
Também faz com que a Wikidata,
e as decisões dos seus utilizadores,
penetrem mais na realidade,
tornando-se assim um padrão sobre
como sistemas de dados funcionam,
e um lugar que serve de base
para popular outros espaços.
Continuo a seguir o mote de,
"Nada mau, mas perigoso"
para descrever sistemas de
classificação ou a Wikidata,
e quero reforçar que não acho
que a Wikidata é inerentemente má.
Mas acho que os seus perigos são vastos
e não estão a ser observados.
Só de olhar à questão do género,
vimos 3 exemplos,
que encontrei bem, bem rápido,
de situações onde mesmo deixando de lado
o tipo de objetividade
"de precisão" de uma informação
que uma definição na Wikidata pode ter,
a informação que ela escolher conter
e escolhe prioritizar perpetua ou,
silencia certos discursos e ideias
que tem peso no resto do mundo
e que causam danos no resto do mundo.
Escolhi esses exemplos,
não porque são surpreendentes
de alguma maneira,
nem porque são únicos,
mas simplesmente para mostrar
que se pude encontrar vários problemas
com ressonância em sistemas
mais amplos e violentos
num trecho de conteúdo tão pequeno,
imagine quantos andarão por aí.
O objetivo da Wikidata e
o objetivo da classificação universal,
se estes perigos não forem resolvidos,
podem resultar,
ou irão por último resultar,
não numa classificação neutra,
mas numa imposição.
Ao dizer, é assim
que o mundo funciona, e se não gosta,
parabéns,
devia tentar mudar e enquadrar-se.
E queria realmente ter
uma resposta simples para isto.
Não tenho.
É uma das vantagens
de mudar para investigação,
ao invés de trabalhar
num departamento de engenharia.
Pode chegar aos sítios
e dizer, "É tudo muito complicado".
(risos)
Alguém deveria fazer
algo com respeito a isso.
Podiam dar-me uma Bolsa, por favor?
(risos)
Mas tudo o que posso fazer
é levá-los à conclusão de Bowker e Star,
que isto não é só sobre a Wikidata,
este não é um problema com a Wikidata
o problema é a classe de sistemas
da qual a Wikidata faz parte
nunca foi feita de maneira segura
e não há motivos para
crer que poderia ser.
O meu pedido não é por uma
mudança em particular,
nem para que todos vocês
desistam e vão para casa.
É para o projeto coletivamente,
e para cada um de vocês individualmente,
determinar o quão confortáveis estão
em participar e construir um sistema
que reivindica o universalismo,
que reivindica a neutralidade
e a verdade dos dados,
quando sabemos que nenhuma
das duas é possível
e nem será inofensiva quando falhar.
E se não está confortável
com isso, trabalhe para articular
outras formas de fazer isto.
Que podem ser, por exemplo,
dar prioridade para
as Wikibases locais.
Quero dizer que por último
precisamos dar a certas comunidades locais
e contextos
e espaços individuais a primazia
para definir o que lhes importa,
e como gostariam de ser definidos.
E que a conversa sobre que
perspectiva deveria ser incluída
e deveria esperar
em algum repositório central
até termos
o quadro completo de perspectivas.
E para mim, é tudo.
Obrigado a todos por terem me ouvido.
Acho que temos 20 ou 25 minutos...
(Pessoa 2) 25 minutos para
perguntas, então, por favor, perguntem.
Muito obrigado.
(aplausos)
(Pessoa 3) Muito obrigada
por esta maravilhosa apresentação
sobre problemas inerentes
a sistemas de classificação.
Um dos exemplos que trouxe é muito bom
do ponto de vista matemático,
quando mostrou que o homem transgénero
é o oposto da mulher transgénero,
ou que a mulher transgénero
é o oposto do homem transgénero
e o oposto da mulher cisgénero.
Isso faz com que a mulher cisgénero
seja igual ao homem transgénero,
porque os opostos são iguais.
Se o oposto de A é B
e o oposto de C é B,
então A e C são iguais.
Então na verdade deveria ser
"diferente de" e não "oposto de",
e isso envolve várias
questões matemáticas,
quando vamos fazer
consultas na base de dados,
então é algo realmente importante
apontar coisas como essa.
Sim, outro exemplo que achei divertido,
foi que transexualidade
foi definida mais abaixo...
queria ter incluído mas não
consegui encaixar numa sequência,
foi definida como o mesmo
que cirurgia de redesignação sexual.
O que é não intencionalmente hilariante,
porque o diagnóstico de transexualidade
foi, historicamente, o pré-requisito
para cirurgia de redesignação sexual.
Não é tanto um problema
do ovo ou da galinha
porque é a galinha que carrega o ovo.
(risos)
Então, sim, essas...
Quando olhamos para a Wikidata
e o quanto ela usa uma linguagem
matemática ou pseudo-matemática,
oposto de, distinto do, no conjunto de...
Sim, a realidade é muito
mais complexa do que
a matemática que temos
para representá-la.
Não tenho uma resposta inteligente,
excepto dizer que
era um investigador quantitativo
e desisti e há um motivo para isso.
(Moderador) Próxima pergunta.
Quem levantou a mão?
Vejo uma mão levantada?
(Pessoa 4) Olá.
Em primeiro lugar,
obrigado pela apresentação.
Foi ótima para abrir os horizontes.
Quero dizer, mas antes de mais,
há uma Wikimedia...
não sei se sabe,
sobre um grupo de utilizadores
da comunidade LGBT+.
É um grupo de utilizadores,
e tem uma mailing list,
e estão agora a discutir a questão
do sexo e género na Wikidata,
e há algumas propostas feitas
por pessoas LGBT+ para melhorá-la.
Mas ainda não está totalmente concluído.
Existem alguns planos,
e pessoas a trabalhar nisso.
Seria fantástico
se pudesse entrar lá e dar sua opinião
porque tenho certeza que
é bem mais entendido que nós.
Mas quero fazer uma crítica
sobre o que disse,
sobre as pessoas hijra,
que de 20 mil editores da Wikidata,
considerando que 2,8 deles seriam Hijra,
e precisariam superar
todas essas 20 mil pessoas,
mas não é verdade.
Muitas pessoas, digamos 20 mil pessoas,
estão simplesmente
ignorantes do problema.
Não são fanáticos,
nem vão ativamente
levar pessoas a fazer isto.
E muitos ajudarão se lhes pedir.
Como alguém que edita a Wikidata,
não tenho ideia desse assunto
e se soubesse, teria corrigido.
Então, sim.
Sim. Entendo o que quer dizer.
Quero deixar claro que não estou a dizer
que há 20 mil pessoas,
muitas estão nesta sala,
embora apenas uma pequena porcentagem
seja fanática e imperialistas culturais.
Ao invés disso, estou a falar do facto
de que o modelo de consenso,
e o modelo baseado em discussão,
nos quais se baseiam os WikiProjetos,
tem algumas falhas,
e uma das maiores falhas
é assumir que todas as vozes
que precisam ser representadas estão lá
e estão representadas
de forma proporcional.
O consenso surgiu como modelo
em comunidades de Quaker
onde literalmente todos os afetados
por uma decisão estavam lá,
porque todos os que seriam impactados
cabiam num mesmo lugar.
E o meu ponto com o número 2,85
não é dizer que é preciso argumentar
com todos os utilizadores da Wikidata
de toda a vez que quiser
tomar uma decisão,
mas sim dizer que o modelo de consenso
e o modelo maioritário de como
o conhecimento deveria ser representado,
incorre fundamentalmente num problema
quando as pessoas não representadas
não são representadas.
Um outro exemplo, real,
Myanmar como um país.
A Wikipedia em inglês
dizia que se chamava Birmânia
até à poucos anos atrás.
E a razão por trás disto
era muito simples.
A BBC não gostava de chamar de Myanmar
e muitos editores...
(Pessoa 5) [inaudível] totalmente errado.
Desculpe-me.
(risos)
Caímos em questões como esta...
Bem sei que não é algo preciso, mas...
(Pessoa 5): Na verdade não é impreciso...
(Moderador): Dou-lhe o microfone.
- (Os) Sim?
- (Pessoa 5) Desculpe,
é que é ser incrivelmente ignorante e...
- (Os) Siga em frente.
- (Pessoa 5) É absolutamente terrível,
é uma descaracterização terrível
da situação política em Myanmar.
Sim, siga em frente.
(Pessoa 5) De qualquer forma,
o que se passa é que o país
na língua birmanesa,
é referido como Myanma ou Bama.
Sim.
Myanma tende a ser
um registro mais formal,
enquanto Bama um pouco mais informal,
mas ambos termos aceitáveis para o país.
O termo Birmânia obviamente
veio do termo Bama,
mas o que aconteceu
é que não há uma forma oficial...
O país era oficialmente chamado,
em inglês, de Birmânia
até 1988, 1989, desculpe,
quando o governo militar do pais,
basicamente decidiu,
a junta militar do país decidiu
que o país deveria se chamar Myanmar.
Ostensivamente,
foi uma tentativa de tornar o nome do país
mais aceitável para minorias existentes.
Enfim, isso é um pouco de
revisionismo histórico,
porque Myanma e Bama
referem-se especificamente
às maiorias étnicas do país.
Basicamente, o governo
da Birmânia na época...
(Os) tentaram tornar as pessoas
equivalentes ao país,
dizendo implicitamente...
(Pessoa 5) Quase o contrário,
mas de uma forma estranha.
Basicamente declararam que
Bama era uma referência étnica
e que Myanma era uma referência ao país,
quando historicamente
ambos representam etnicidade e o país.
(Os) Isso faz sentido.
(Pessoa 5) Mas o que aconteceu
é que os militantes democratas
dentro do país acreditavam
que a junta militar
não tinha poder para mudar
o nome do país em língua nenhuma,
porque não eram apoiados
pelo povo do país.
E eram explicitamente uma junta militar
que...
logo o país deveria continuar
sendo chamado de Birmânia em inglês.
Pelo facto chamar o país
de Myanmar equivale a dizer que
o governo da Birmânia
e de Myanmar era legítimo.
Depois da queda do...
da queda não,
mas depois do semi-retorno
de um governo civil em 2014,
essa questão veio a tona,
"Em inglês, devemos chamar
este país de Myanmar ou Birmânia?"
e o líder de facto do país,
Aung San Suu Kyi,
disse que não há nada
na constituição birmanesa
que diga como deve chamar em inglês,
então chame como quiser.
Quer dizer, o nome do país é oficialmente,
União de Myanma em birmanês,
mas quanto
ao termo em inglês, faça o que quiser.
Em geral, antes do retorno
do governo civil na Birmânia,
referir de Myanmar significava legitimar
o governo militar.
Portanto, chamar de Birmânia
era considerado um ato político
de não dar àquele governo legitimidade.
Sim, não estou a dizer
que não há um motivo para isso.
Estou a dizer que na
Wikipédia em inglês especificamente,
a página passou por
7 requisições de discussão,
durante 4 anos,
e uma mediação de decisão cabal,
e uma tentativa de mediação estruturada,
e uma revisão de um dos pedidos
de discussão de mudança,
e quando olha para as discussões,
a maioria dos argumentos de ambos os lados
não é sobre uma
situação política complexa no país,
mas na verdade, sobre qual é
o nome mais usado nos média
e como diferentes instituições o chamam.
E ao olhar às discussões,
há um momento onde claramente
todas as organizações de jornalistas
de língua inglesa
que não eram a BBC,
e eram consideradas grandes
portais de notícias no ocidente,
mudaram as suas fontes linguísticas,
e o debate, na prática,
se torna um debate sobre
se o ocidente deveria ouvir
o Wall Street Journal ou a BBC.
O ponto onde quero chegar
não é sobre a especificidade política
da situação, mas sim sobre o facto
de que é muito fácil essas discussões
se tornarem praticamente
uma disputa do quanto amamos a BBC,
e ao olhar às discussões
vê esse estudo de caso
nas questões de ter essas conversas
e ter todas essas perspectivas
internas e cheias de complexidade,
quando a maior parte das
discussões giravam em torno
do quanto amamos a BBC
e vindo de pessoas fora do contexto.
Então, não é...
O meu ponto de vista
sobre isso é basicamente
que mesmo que não esteja
a lutar contra 20 mil pessoas,
mesmo que esteja
só a argumentar com 20 pessoas,
probabilisticamente 19 delas
serão pessoas com opiniões fortes,
que não necessariamente
sofreram as consequências negativas
de qualquer mudança que venha a ocorrer,
mas que tem uma visão de mundo
particular e decidiram estancar nela,
de forma que as propostas de grupos LGBT+
para mudar os critérios da Wikidata,
podem ser incríveis, posso amá-las,
como posso não as amar, eu não as li.
Mas a premissa base é...
Nós temos as pessoas
que aparecem na Wikidata agora mesmo,
e são representantes
de todas as pessoas LGBT+
e essa é a regra universal
do que deve ser feito
no que se refere a todas as pessoas LGBT+
é um microcosmos do mesmo problema.
(Moderador) Temos outra questão.
(Os) Sim.
(Pessoa 6) Olá.
Acho que temos outro problema
quanto à abordagem baseada
em consenso que temos,
por vezes temos consenso
sobre temas muito difíceis
relacionados a como lidar com isso
e [inaudível] na Wikidata
e ninguém está a ler a discussão.
Normalmente, o projeto Names,
que é um WikiProjeto muito,
muito antigo na Wikidata,
e nomes são uma questão muito,
muito complicada no mundo.
Nem todos no mundo
tem um nome próprio,
nem todos tem um sobrenome,
bem, entendeu a ideia.
E existem tantos
sistemas de escrita por aí
e nós temos, na verdade,
um sistema que estava,
a funcionar para muitos
casos no mundo todo,
em como usar propriedades,
que itens devem ser,
ou como conectar isso tudo...
Adicionámos 8 páginas,
ninguém está a ler isso
e alguém simplesmente colocou
um roteiro de nomes de família
em latim para um pesquisador chinês.
Não temos os nomes desses investigadores
mas sabemos que o valor
adicionado estava errado.
Não tenho o valor correto,
mas sei que esse
não é o valor correto.
E não se trata apenas de debater o tema,
porque temos grandes debates
e temos um modelo que
está, em geral, a funcionar
e até trata de casos mais complicados,
mas as pessoas vão lá e
"nomes próprios sugerem uma propriedade,
então vou adicionar uma".
Não.
Acho que não é como modelar as coisas,
realmente é preciso explicar o modelo,
a parte técnica, poderíamos
ter ferramentas com sugestões
e acho que a limitação
que aconteceu ano passado
é uma ótima coisa para isso.
Mas não é,
mesmo quando sabemos modelar a coisa.
É preciso fazer esse modelo
conhecido pelas pessoas.
Há uma questão técnica
sobre como fazer isso melhor.
(Moderador) Era só um comentário?
Não tem uma questão?
Ou era essa a pergunta?
- Como fazer isso?
- (Pessoa 6) Essa era a pergunta.
Desculpe,
mesmo que tenhamos esta discussão,
(Moderador) Sim, claro.
(Pessoa 6) A minha pergunta,
caso não tenha sido clara,
é que mesmo que todos
estejam de acordo
em como modelar casos complicados,
ou fazemos tecnicamente
o modelo conhecido para o projeto
com o objetivo da Wikidata,
de forma a que as pessoas não
adicionem o valor errado de boa fé,
porque o nosso problema são ambos.
Temos problemas a modelar
realidades complicadas
e temos problemas a explicar
para os usuários como seguir
o modelo que temos atualmente.
Sim.
Eu iria dizer que se pudesse
resolver esse problema,
o que significa reenquadrá-lo,
como educar de forma confiável
e consistente os novos utilizadores
para que tenham a mesma
visão e entendimento
sobre o espaço do projeto,
de forma que eles deixariam
eu me formar
e também arrumar um emprego.
Este é o segundo problema mais
antigo da internet.
O primeiro é um sistema de escrita
que irá automaticamente detectar insultos.
Eu diria que...
pode olhar para a Wikipedia,
ou mesmo antes dela aparecer,
havia o fenómeno,
do setembro eterno na Usenet,
que era, "Oh, estas pessoas guardam...
os discos da AOL foram para todo o lado
e agora há novatos
a toda a hora que não sabem
como as coisas funcionam por aqui,
e tudo está tudo a afogar-se com gente
a carregar no "Responder a Todos'".
De forma geral,
o sitio onde procuraria por isso
é uma disciplina chamada "Trabalho
cooperativo auxiliado por computador"
e uma das suas grandes questões
é sobre a questão do onboarding e...
como tornar a cultura conhecida por todos.
Mas isso pode não ser
algo solucionado diretamente,
ou que queiramos resolver
diretamente, certo?
Susan Leigh Star, que escreveu
Sorting Things Out,
uma das suas outras contribuições
foi o estudo de infraestruturas no geral
sobre as quais posso argumentar
que a Wikidata é de certeza uma,
e das coisas que ela defendeu
foi que as infraestruturas
dão-se a conhecer ao serem usadas.
Basicamente, a única forma de saber
como um sistema funciona
é interagindo com ele,
errar, esbarrar de frente
e aprender a como não cair de novo.
Acho que todos nós em qualquer lugar,
incluindo novos utilizadores,
incluindo pessoas
vindas de outros projetos,
querem uma forma de abordar isto
onde não precisem de cair.
Mas não estou certo que isso exista,
e penso que o melhor sitio
para procurar, é se calhar perguntar
quais são as consequências
das pessoas fazerem asneiras
e como tornamos
o fazer asneiras algo compreensível
e um mais esperado componente
de experiência de novos utilizadores.
(Moderador) Obrigado. Próxima pergunta.
(Pessoa 7) Obrigado.
Primeiro, muito obrigado pela palestra.
Como alguém já disse,
foi de abrir expandir horizontes.
Estava à procura de um item
específico em transexualidade
e é, ainda mais interessante,
porque estava a olhar
para como diferentes Wikipedias
lidam com a questão.
Só consultei 3.
Aparentemente, o que vemos na Wikidata,
na verdade, reflete muito
o que aconteceu, até certo ponto,
até certo nível, na Wikipedia em inglês.
Se verificar a Wikipedia em português,
o item aponta para transgénero,
e na Wikipedia francesa,
aponta para identidade trans,
enquanto transexualidade é um
redirecionamento em português e francês.
E estava a ver o histórico
de edições da página na Wikidata,
se verificar existiram,
como que, algumas guerras
a página de discussão,
tem apenas uma linha,
mas existiram vários
conflitos entre editores,
particularmente entre os franceses
que se opunham ao
uso de "transexualidade".
Se verificar os nomes
das páginas em cada língua,
o único que não tem transexualidade
é o francês
em detrimento de identidade trans,
depois veio alguém
e fez o que você disse sobre
ser o oposto de identidade trans,
e depois existe
uma página diferente que...
Sim.
(Pessoa 7) É uma guerra global sobre...
basicamente está reverberar conflitos
que aparentemente também
são manifestações de conflitos
que acontecem em cada Wikipedia.
Sim, isso também reflete
conflitos em culturas locais
e em partes diferentes do mundo...
E eu diria que, quer dizer,
eu sou britânico, por isso tenho uma
tendência a dizer, "lutar com franceses?"
"Sim, por favor!"
(risos)
Mas eu diria que há algo
mais fundamental que isso
e você pode fazer um argumento
na direção contrária.
Eu posso, como uma pessoa trans,
ir na direção contrária e dizer
"na verdade foram os franceses
e portugueses que entenderam tudo errado".
Porque a verdadeira questão é,
será a entrada transexualidade
sobre a classificação médica,
ou o estado de ser,
ou classificação médica histórica,
ou o termo histórico para o estado de ser,
ou serão estas entradas diferentes,
ou as mesmas entradas?
Quando as coisas são distintas o
suficiente para serem objetos diferentes
e como nós negociamos essa luta
entre pessoas
que pensam que o status médico
e a identidade são a mesma coisa,
ou coisas diferentes.
Mas sim, não há respostas simples,
porém suspeito que se vir
muitos desses exemplos
e se vir muitas controvérsias,
geralmente na Wikidata,
o que vai ver são lutas sobre...
Essas quase negociações
são as normas das comunidades locais
e além delas estão as normas culturais.
O que é um problema porque, mais uma vez,
quando falamos de grupos
marginalizados ou minoritários,
é de se esperar que eles também estejam
marginalizados nas comunidades Wiki
e também dentro da Wikidata,
por isso a Wikidata é como que...
construir sobre
essas prioridades preexistentes
de que conhecimento importa,
e sobre que circunstâncias e formatos.
(Pessoa 8) Queria falar
sobre algo que mencionou.
Tudo é complexo e penso
que para modelar direito,
fazê-lo correto na Wikidata,
não é o cerne da questão,
como disse, a Wikidata
é uma infraestrutura
e como Hermione disse,
nós talvez estejamos certos
em algumas coisas, alguns tópicos,
e mesmo assim,
não conseguirmos pô-lo em prática.
Sim.
(Pessoa 8) Então, gostaria de sugerir
que é uma condição
predominante da raça humana.
E mesmo que modelemos bem algo,
mesmo que modelemos o género
10 vezes mais complexa do que agora,
a maior parte das consultas SPARQL
que envolvem género não se importariam
com os qualificadores, certo?
Sim.
E ainda assim geraria resultados
muito rasos e simplificados.
O uso do Google dos nossos dados
nas infames caixas de informação,
também terão dados simplificados
e ignorarão os qualificadores.
Isso não irá mudar.
A Wikidata continuará a ser
usada de forma simplista.
De facto, a maior parte do uso,
provavelmente será dessa forma simplista.
O que quero dizer é que,
se calhar não é possível corrigi-lo
mas não devemos deixar de tentar.
Quer dizer, devemos tentar fazê-lo bem
e entender que muito do uso é,
apesar dos nossos esforços,
simplista e errado.
Sim. Concordo com isso.
Acho que diria que,
não é como...
A minha questão aqui não é, se existe
uma resposta incrível e complexa.
A dada altura simplesmente desisti,
mesmo que na minha tese que é,
sobre transexualidade e tecnologia
para definir transexualidade.
Simplesmente desisti.
E ao invés de procurar o que
é chamado de visão pragmática,
que é basicamente seja lá
o que for que pessoas
na situação que estiver a
estudar acreditam que seja,
e seja como for
que constroem o mundo,
como queiram,
onde quero chegar com isto
é que não é que haja
uma definição universal
sobre qualquer coisa que,
se suficientemente complicada,
será o suficiente,
mas ao invés disso, o que penso
é que a escala é o problema,
e o universalismo é o problema.
Talvez devamos continuar a tentar,
ou talvez parar.
Talvez devamos dizer que, novamente,
deveria existir uma Wikibase
dentro de cada comunidade
que assim o deseje,
onde possam definir e articular as coisas
da forma que quiserem.
Mas depois acabamos em
discussões mais politicas
e debates carregados sobre ações
reformistas versus radicais,
e sobre como abrir uma caixa
com um pé-de-cabra que está dentro dela,
e começo a citar Foucault por uma hora,
e toda a gente fica triste.
Inclusive eu, pois odeio Foucault.
Talvez esse seja um
debate para outra altura.
Mas concordando no geral, eu...
levantaria questões sobre
se devemos continuar a tentar
uma forma melhor de universalismo
ou se o problema é o universalismo.
Acho que temos tempo para mais uma?
(Pessoa 9) É uma pergunta curta,
mas possivelmente de resposta complexa.
Uma das propriedades
mais populares e usadas
é sexo ou género na Wikidata.
Podia comentar se acha
essa união útil, produtiva,
problemática?
Claro, acho que isso será sempre
uma causa redutora porque é uma união.
Mas também acho profundamente cansativo
de uma forma
um tanto ou quanto interessante,
na medida em que revela
as limitações da Wikidata,
embora a Wikidata afirme trabalhar
em direção a esse grande
e objetivo comum de conhecimento,
e depois acaba por
esbater essas definições,
porque, quer dizer, eles não perguntaram
à maioria das pessoas
que têm entradas qual o seu género,
e/ou qual o sexo deles,
e simplesmente fundiram as duas,
para essa inferência ser mais fácil.
Mas de forma geral,
diria que fundir os dois
é redutivo e perigoso
mas...
novamente, não é...
Não há uma forma boa de fazer isto.
Acho que esta é uma forma
particularmente má, ok?
De tratá-los como coisas intercambiáveis
e tratá-los como coisas
eternamente ligadas,
mas não consigo sugerir
uma forma melhor que fique...
que continue a ter a Wikidata
mesmo rastreando esta informação
ou a conter a informação de todo.
(Moderador) Acho que temos de concluir.
Ainda vejo algumas mãos no ar,
espero que estejam por perto.
Sim, sou um estudante de licenciatura.
Não tenho vida funcional, por isso...
(risos)
(Moderador) Perfeito. Ótimo.
Por favor venha e fale.
Muito obrigado a todos.
(Aplausos)