Como recuperar a economia global
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0:00 - 0:03Chris Anderson: Vou apresentar-vos
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0:03 - 0:05uma das mulheres
mais poderosas do mundo. -
0:07 - 0:11Se queremos sair das dificuldades
em que estamos hoje, -
0:11 - 0:15ela vai desempenhar um papel importante
para nos ajudar a fazer isso. -
0:16 - 0:18É a diretora-geral
do Fundo Monetário Internacional. -
0:19 - 0:22É um prazer recebê-la aqui,
Kristalina Georgieva -
0:24 - 0:26Kristalina, bem-vinda.
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0:26 - 0:28Kristalina Georgieva:
É um prazer, Chris. -
0:28 - 0:30Obrigada por me ter convidado.
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0:30 - 0:33CA: Assumiu este cargo no ano passado
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0:33 - 0:37e, quatro meses depois, chegou a COVID.
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0:37 - 0:40Foi um início dos diabos
no seu novo cargo. -
0:40 - 0:42Como é que se tem dado?
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0:43 - 0:47KG: Bem, tenho encontrado força na ação.
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0:47 - 0:52No FMI, desde o primeiro dia
desta crise, -
0:53 - 0:56temo-nos concentrado
em tudo o que temos -
0:56 - 0:59para proporcionar linhas financeiras
de segurança aos países, -
0:59 - 1:03ou seja, a povos e a empresas.
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1:04 - 1:08Já recebemos mais de 90 pedidos
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1:08 - 1:13e oferecemos a 56 países
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1:14 - 1:17pacotes financeiros importantes.
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1:18 - 1:22CA: Descreveu esta pandemia
como uma crise sem precedentes. -
1:22 - 1:26Em que aspeto é que esta crise
é diferente de qualquer outra? -
1:26 - 1:28KG: Na verdade, é diferente
de qualquer outra. -
1:28 - 1:32Primeiro, nunca até hoje
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1:32 - 1:39prejudicámos tanto a economia,
deliberadamente, -
1:39 - 1:42para combater um vírus e salvar vidas.
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1:43 - 1:46Estamos a pedir às empresas
que não produzam -
1:46 - 1:49e aos consumidores
que não saiam e não consumam. -
1:49 - 1:54No FMI, chamámos-lhe
o "Grande Confinamento". -
1:55 - 1:56Em segundo lugar,
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1:56 - 1:59nunca anteriormente
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1:59 - 2:05houve uma mudança
tão rápida no destino, -
2:06 - 2:10praticamente para toda a gente
pelo mundo inteiro. -
2:10 - 2:13Em janeiro, estive em Davos
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2:13 - 2:17a falar do "crescimento anémico"
um crescimento de 3%. -
2:17 - 2:23Em abril, nas sessões da primavera,
já era de 3% negativos, -
2:24 - 2:26Em janeiro, prevíamos
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2:26 - 2:31o aumento de receitas "per capita"
para 160 países. -
2:32 - 2:39Agora, são 170 países com diminuição
de receitas "per capita". -
2:39 - 2:43Chamamos a isto a "Grande Inversão".
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2:43 - 2:45Muito doloroso.
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2:45 - 2:48E em terceiro lugar, a incerteza.
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2:48 - 2:50Sempre lidámos com a incerteza, Chris,
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2:50 - 2:52mas desta vez
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2:52 - 2:57é a incerteza de um novo coronavírus
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2:57 - 3:01que os políticos têm de integrar.
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3:01 - 3:07Nós, no FMI, combinamos
as projeções epidemiológicas -
3:07 - 3:10com os nossos modelos
macroeconómicos tradicionais -
3:10 - 3:13para ver as coisas
para além dessa incerteza. -
3:15 - 3:19Devo acrescentar que tenho a esperança
-
3:19 - 3:22de que, quando passarmos
para a recuperação, -
3:22 - 3:26possamos usar um novo termo
e chamar-lhe a "Grande Transformação". -
3:28 - 3:30Tornar o mundo um sítio melhor.
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3:32 - 3:35CA: Estou interessado em voltar
a esse tema daqui a pouco. -
3:35 - 3:38Mas, neste momento de resposta à crise,
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3:38 - 3:41a principal ferramenta
que parece ter sido utilizada, -
3:41 - 3:43pelo menos pelos países ricos,
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3:43 - 3:47tem sido um enorme
estímulo económico, -
3:47 - 3:50ao nível de biliões de dólares.
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3:50 - 3:53Será uma resposta inteligente?
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3:53 - 3:56KG: É uma necessidade.
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3:57 - 4:01Não é todos os dias
que ouvimos o FMI dizer aos países: -
4:01 - 4:02"Por favor, gastem,
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4:02 - 4:04"Gastem o mais que puderem."
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4:04 - 4:06É o que estamos a dizer hoje.
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4:06 - 4:08E ainda acrescentamos:
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4:08 - 4:10"E guardem os recibos.
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4:10 - 4:15"Não apresentem as contas
aos cidadãos, aos contribuintes." -
4:15 - 4:21É necessária uma injeção financeira,
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4:21 - 4:27estas medidas fiscais de quase
nove biliões de dólares são necessárias -
4:27 - 4:31porque, quando a economia
fica paralisada, -
4:31 - 4:33se não houver ajuda,
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4:33 - 4:37se não houver um estímulo
de política monetária, -
4:37 - 4:41as empresas vão todas à falência,
-
4:41 - 4:44as pessoas perdem todas os seus empregos,
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4:44 - 4:46a economia entra em colapso.
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4:46 - 4:48Se passarmos para esse lado,
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4:48 - 4:52esse colapso torna a recuperação
muito mais difícil. -
4:53 - 4:56Portanto, é uma coisa inteligente a fazer.
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4:56 - 5:01Além disso, os bancos centrais
das economias mais importantes -
5:01 - 5:05têm agido de modo sincronizado
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5:05 - 5:08e esse estímulo fiscal
apareceu muito rapidamente. -
5:09 - 5:13É assim que vemos as pessoas
a conseguirem ultrapassar -
5:13 - 5:15este período muito difícil.
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5:16 - 5:18CA: Mas até que ponto se poderá ir?
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5:18 - 5:21Tem-se falado, de certo modo,
de "imprimir dinheiro" -
5:21 - 5:23— os governos estão a emitir
cada vez mais obrigações -
5:23 - 5:27que terão de ser reembolsadas
mais tarde ou mais cedo. -
5:27 - 5:30Em economia, há o conceito
do "momento Minsky", -
5:30 - 5:33em que as coisas podem correr
muito bem durante uns tempos -
5:33 - 5:36enquanto todos acreditarem
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5:36 - 5:39que o comboio continua a andar
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5:39 - 5:40o ciclo continua a rodar,
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5:40 - 5:43que os governos têm esse dinheiro todo.
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5:43 - 5:46Mas a certa altura,
não se atingirá o ponto de rotura? -
5:46 - 5:49Não receia que possamos
estar perto de um momento Minsky, -
5:49 - 5:51como no filme "Mary Poppins",
quando Michael -
5:51 - 5:54reclama os seus tostões
e cria o pânico no banco? -
5:54 - 5:58Não há tensão no sistema
financeiro internacional -
5:58 - 6:00que a preocupe,
-
6:00 - 6:04que lhe dê a sensação de que
a sua margem de manobra está a reduzir-se? -
6:04 - 6:08KG: Claro que isto não pode
continuar indefinidamente. -
6:09 - 6:12Para já, tenho confiança
nos nossos cientistas. -
6:12 - 6:14Penso que vamos assistir a inovações
-
6:14 - 6:18e também vamos ver
pessoas nas empresas -
6:18 - 6:21a habituarem-se ao distanciamento social,
-
6:21 - 6:26às micromedidas que impedem
a doença de se espalhar. -
6:26 - 6:31Já assistimos a injeções maciças
nos sistemas de saúde, -
6:31 - 6:35por isso os hospitais podem
tratar as pessoas que procuram ajuda. -
6:36 - 6:40Obviamente, se isto continuar
por muito tempo, -
6:40 - 6:42ficaremos preocupados.
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6:42 - 6:46Para já, o que estamos a prever
-
6:46 - 6:50é que vai haver
uma reabertura gradual -
6:50 - 6:54— vemos que isso já está a acontecer
numa série de países. -
6:54 - 6:57Prevemos para o próximo ano, 2021,
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6:57 - 6:59uma recuperação parcial.
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6:59 - 7:02Infelizmente, não será
uma recuperação total, -
7:02 - 7:04mas o regresso a uma situação melhor.
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7:05 - 7:06O que nos ajuda
-
7:06 - 7:10é uma coisa que
não me agrada especialmente, -
7:10 - 7:14mas que vejo como um facto positivo
-
7:14 - 7:19— taxas de juro muito baixas,
nalguns casos, mesmo negativas — -
7:19 - 7:26que permite que esta injeção
de medidas fiscais e liquidez -
7:27 - 7:30se mantenham durante
uma série de anos. -
7:30 - 7:33Para já, não se perfila no horizonte
-
7:33 - 7:37qualquer retorno a um aumento
das taxas de juro. -
7:37 - 7:40Portanto, manter-se-ão baixas
ainda muito tempo, -
7:40 - 7:45e neste cenário, é um aspeto positivo.
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7:47 - 7:50CA: A crise financeira de 2008
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7:51 - 7:54aproximou-se perigosamente
do colapso de todo o sistema financeiro -
7:54 - 7:56— podemos dizê-lo.
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7:56 - 7:58Segundo os cálculos de muita gente,
-
7:58 - 8:02esta crise terá um impacto muito pior
na economia em geral. -
8:02 - 8:05O mundo aprendeu alguma coisa
com a crise de 2008 -
8:05 - 8:09que nos tenha ajudado
a sermos mais resilientes desta vez? -
8:10 - 8:12KG: O que o mundo aprendeu
-
8:12 - 8:17é que o sistema financeiro
tem de ser testado -
8:18 - 8:22e depois reforçado
para aguentar com os choques. -
8:22 - 8:25E isso está a ajudar-nos
imensamente hoje. -
8:26 - 8:30O sistema bancário é resiliente
-
8:30 - 8:36e mesmo nas instituições
financeiras, não bancárias, -
8:36 - 8:38presta-se mais atenção
-
8:39 - 8:45até onde se pode ir
sem se meterem em sarilhos. -
8:46 - 8:47Eu diria
-
8:47 - 8:49que, se olharmos para o mundo,
-
8:49 - 8:56a lição mais importante era
"criar resiliência aos choques". -
8:57 - 9:01Os que fizeram isso
têm agora menos dificuldades. -
9:01 - 9:05E os que não o fizeram
estão numa situação muito mais difícil. -
9:05 - 9:07Na verdade, para o FMI,
-
9:07 - 9:09o que desejamos
-
9:09 - 9:15é que possamos sair desta crise
com esta lição sobre resiliência -
9:15 - 9:19disseminada para além
do sistema bancário, -
9:19 - 9:23para adquirirmos esta mentalidade
de gestão de crises -
9:23 - 9:29num mundo que, inevitavelmente,
está mais propenso a choques -
9:29 - 9:31por causa do clima
-
9:31 - 9:37e também por causa da forte densidade
da vida económica e social no planeta. -
9:38 - 9:40CA: No seu cargo,
-
9:40 - 9:45está a prestar especial atenção
à situação nos países em desenvolvimento. -
9:45 - 9:49Parece que eles estão a enfrentar
uma situação terrível, neste momento. -
9:49 - 9:55Muitos deles têm uma dívida
significativa em dólares. -
9:56 - 9:57Na atual crise,
-
9:58 - 10:02as divisas deles depreciam-se
em relação ao dólar, -
10:02 - 10:08o que os impossibilita
de executar esse tipo de injeções, -
10:08 - 10:09de injeções de estímulo,
-
10:09 - 10:11que os países ricos estão a fazer
-
10:11 - 10:14e parece ser a única forma de saída.
-
10:14 - 10:16Isto parece um ciclo
realmente perigoso. -
10:16 - 10:19Haverá alguma forma
de quebrar este ciclo? -
10:19 - 10:23KG: Primeiro, temos de separar
-
10:23 - 10:27os países que construíram
alicerces sólidos. -
10:27 - 10:28Nesta crise,
-
10:28 - 10:33à medida que vamos recebendo informações
-
10:33 - 10:37ainda aparecem algumas
surpresas positivas, embora poucas. -
10:38 - 10:41Provêm de países
que criaram almofadas mais sólidas, -
10:41 - 10:43alicerces mais sólidos,
-
10:43 - 10:46foram mais disciplinados
durante os bons tempos. -
10:46 - 10:48Mas, na verdade, vemos
-
10:48 - 10:52uma série de mercados emergentes,
de países em desenvolvimento, -
10:52 - 10:55que enfrentam múltiplas pressões.
-
10:55 - 10:58Foram atingidos pelo coronavírus.
-
10:58 - 11:02muitos deles têm sistemas
de saúdes muito frágeis. -
11:02 - 11:06Depois, têm um alto nível
de endividamento, -
11:06 - 11:08anterior a esta crise,
-
11:08 - 11:11o que cria um ambiente
muito mais difícil para eles. -
11:12 - 11:15Depois, muitos deles
são exportadores de matérias-primas. -
11:16 - 11:19Os preços das matérias-primas,
o preço do petróleo, -
11:19 - 11:21baixaram drasticamente.
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11:21 - 11:23Isso atinge-os de novo.
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11:23 - 11:26Muitos dependem de remessas do exterior.
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11:26 - 11:30As remessas do exterior
diminuíram em 20 a 30%. -
11:30 - 11:35Depois, temos uma série de países
muito dependentes do turismo. -
11:35 - 11:39O turismo é o setor mais fortemente
atingido, ou um dos piores. -
11:39 - 11:42É muito difícil para esses países
-
11:42 - 11:48mas é por isso que foram criadas
as instituições como o FMI. -
11:49 - 11:53O FMI, o Banco Mundial,
os bancos de desenvolvimento regional -
11:53 - 11:57todos trabalhamos estreitamente
em contacto, nesta crise. -
11:57 - 11:59Felizmente, o FMI
-
11:59 - 12:06— foi uma das lições
da crise de 2008-2009 — -
12:06 - 12:11garante que, no centro
da rede de segurança financeira, -
12:11 - 12:13está um FMI com força financeira.
-
12:13 - 12:17Temos hoje quatro vezes
mais dinheiro para emprestar -
12:18 - 12:20do que tínhamos nessa altura.
-
12:20 - 12:23Passámos de 250 mil milhões
para um bilião de dólares. -
12:23 - 12:27Claro que estamos
a afetar estes fundos -
12:27 - 12:30para os países que mais precisam.
-
12:30 - 12:32Fizemos mais uma coisa.
-
12:32 - 12:36Com David Malpass,
o presidente do Banco Mundial, -
12:36 - 12:42pedimos uma moratória de dívida
para os países mais pobres -
12:42 - 12:45aos seus credores oficiais bilaterais.
-
12:45 - 12:48As pessoas costumam dizer:
-
12:48 - 12:50"Oh, não trabalhamos em conjunto.
Não é lá muito bom." -
12:50 - 12:56Mas esta é uma área em que lançámos
um apelo no final de março -
12:56 - 12:58e, em meados de abril
-
12:58 - 13:02o G20 concordou com esta moratória.
-
13:03 - 13:05Foi espantoso, tínhamos
o Paris Club, a China, -
13:05 - 13:07os países do Golfo,
-
13:07 - 13:13todos de acordo em que não devíamos
sufocar os países mais pobres -
13:13 - 13:15pedindo-lhes para pagarem as suas dívidas
-
13:15 - 13:18quando tinham as economias paralisadas.
-
13:19 - 13:22CA: Será possível
que alguns países em desenvolvimento -
13:22 - 13:26estejam a exagerar
a política do confinamento? -
13:26 - 13:30Se grande quantidade de cidadãos
já estão a lutar para sobreviverem -
13:30 - 13:34não será uma sentença de morte
obrigá-los a não saírem de casa? -
13:35 - 13:39KG: Chris, uma das conversas
mais pungentes que já tenho tido -
13:39 - 13:45é com os líderes dos países
que têm de enfrentar -
13:45 - 13:49a escolha entre as pessoas
a morrerem do vírus -
13:49 - 13:51ou a morrerem de fome.
-
13:52 - 13:56Para eles, é uma situação dramática.
-
13:58 - 14:02Quando uma grande parte
da economia que temos é informal, -
14:02 - 14:06em que as pessoas vivem todos os dias
de chapa ganha, chapa gasta, -
14:08 - 14:10não é possível de aplicar
-
14:10 - 14:13o confinamento que temos
nas economias avançadas, -
14:13 - 14:15Mas, mesmo aí
-
14:15 - 14:19os países estão a comportar-se
muito bem, no distanciamento social -
14:19 - 14:21na medida do possível.
-
14:22 - 14:24Muitos países em África
-
14:24 - 14:27apressaram-se a instituir
medidas preventivas. -
14:28 - 14:29Porquê?
-
14:29 - 14:32Aprenderam com o Ébola,
aprenderam com crises anteriores, -
14:32 - 14:33que, em matéria de higiene,
-
14:33 - 14:38a tomada de medidas
pode ajudar realmente. -
14:38 - 14:40Mais uma vez, não me canso de sublinhar
-
14:40 - 14:44a importância da solidariedade
para com estes países, -
14:44 - 14:50a importância para a minha instituição
de apoiá-los atempadamente. -
14:50 - 14:52E é isso que fazemos.
-
14:53 - 14:54CA: Whitney.
-
14:55 - 14:57Whitney Pennington Rogers:
Olá. Obrigada. -
14:57 - 14:59Esta conversa é excelente
-
14:59 - 15:02e começamos a ver
algumas perguntas da comunidade. -
15:02 - 15:04A primeira é de Bill Elkus.
-
15:04 - 15:07É na sequência duma coisa
que referiu há bocado, -
15:07 - 15:09relacionada com o estímulo, Kristalina.
-
15:09 - 15:13Quais são os riscos de inflação
após um estímulo tão grande? -
15:16 - 15:17KG: Neste momento,
-
15:17 - 15:21não estamos preocupados com a inflação
nas economias avançadas -
15:21 - 15:27e na maioria dos países emergentes
de economia de mercado. -
15:27 - 15:29Preocupa-nos a inflação
-
15:29 - 15:34nos países que têm alicerces fracos,
-
15:34 - 15:39com acesso difícil a câmbios estrangeiros,
-
15:39 - 15:44onde a única forma de fazer face à crise
-
15:44 - 15:47é a nossa ajuda
-
15:47 - 15:51ou porem os seus bancos centrais
a imprimir mais dinheiro. -
15:52 - 15:55Por vezes, é uma combinação
destas duas coisas. -
15:55 - 15:59Porque é que eu não me preocupo
com a inflação nas economias avançadas? -
15:59 - 16:04Porque os países que têm
uma divisa forte -
16:05 - 16:09estão a implementar a liquidez
-
16:10 - 16:12mas, em simultâneo,
-
16:12 - 16:18não assistem a uma grande
expansão da procura -
16:18 - 16:21e os preços não sobem demasiado.
-
16:22 - 16:24Para estes países,
-
16:25 - 16:28pelo menos num futuro observável,
-
16:28 - 16:32não prevemos uma inflação galopante
-
16:32 - 16:36como depois da II Guerra Mundial.
-
16:38 - 16:42Os consumidores não estão
a consumir tão agressivamente, -
16:42 - 16:45a procura não é tão grande.
-
16:45 - 16:51São sociedades onde há
muita maturidade -
16:51 - 16:56na forma como exercem
as suas opções políticas. -
16:56 - 16:59Mas, se for um país pobre,
-
16:59 - 17:04que, em desespero por não ter
acesso aos mercados, -
17:04 - 17:07por não ter acesso a uma divisa forte,
-
17:07 - 17:13se vê forçado a aumentar
o fornecimento da moeda, -
17:13 - 17:15aí a inflação vai ser grande.
-
17:15 - 17:18Um caso extremo é o Zimbabué
-
17:18 - 17:21e penso que possa haver
outros países. -
17:21 - 17:27É por isso que estamos tão determinados
a intervir rapidamente nesses países. -
17:28 - 17:32Também olhamos para alguns
dos países fortemente endividados. -
17:33 - 17:37Será necessário, país a país,
-
17:38 - 17:40restruturar dívidas
-
17:40 - 17:46para impedir uma evolução
numa direção desesperada. -
17:48 - 17:49WPR: Obrigada.
-
17:49 - 17:52Temos outra pergunta
da nossa comunidade. -
17:52 - 17:54É de Keith Yamashita.
-
17:54 - 17:57Pretende saber como podemos
contribuir para essa mudança. -
17:57 - 18:00"A senhora tem a seu cargo
o esforço financeiro e macroeconómico. -
18:01 - 18:04"O que é que os cidadãos podem fazer,
para ajudar à renovação e à recuperação?" -
18:05 - 18:09KG: Bom, é extremamente importante
para todos nós, cidadãos -
18:09 - 18:15— e, para além de ser diretora do FMI,
também sou cidadã do mundo — -
18:15 - 18:21transmitir esta noção de solidariedade
-
18:22 - 18:24num momento de crise.
-
18:25 - 18:30Adorei a forma como este segmento
-
18:30 - 18:36teve como música de fundo
"Lean on Me". -
18:37 - 18:42É muito importante
que criemos este sentimento: -
18:42 - 18:46"Estamos todos no mesmo barco,
ultrapassaremos isto em conjunto." -
18:47 - 18:50Por favor, sejam porta-vozes disto.
-
18:50 - 18:54Durante muitos anos
fui comissária de gestão de crises. -
18:54 - 18:59Uma das coisas que aprendi
é que a maioria das pessoas -
18:59 - 19:02são positivas, são boa gente.
-
19:03 - 19:05Podemos apoiar-nos nelas.
-
19:06 - 19:11E há uma minoria que é
odiosa e temível -
19:12 - 19:14e também muito ruidosa.
-
19:14 - 19:18Portanto, pessoas boas,
sejam porta-vozes! -
19:19 - 19:23Espalhem este sentimento
de "estamos todos no mesmo barco, -
19:23 - 19:25"ultrapassaremos isto em conjunto."
-
19:26 - 19:29WPR: Obrigada. Eu depois volto
com mais perguntas. -
19:31 - 19:34CA: Kristalina, gostava
de aprofundar um tema -
19:34 - 19:37e perguntar mais coisas
sobre liderança, -
19:37 - 19:41Quando as pessoas pensam
nas nações que se saíram melhor, -
19:41 - 19:43normalmente referem-se
-
19:43 - 19:47— quando digo melhor,
é em relação à atual pandemia — -
19:47 - 19:50referem-se habitualmente
à Alemanha, à Nova Zelândia, -
19:50 - 19:53à Coreia do Sul, a Taiwan,
à Dinamarca e à Noruega. -
19:54 - 19:56Quando pensam naqueles
que se saíram pior, -
19:56 - 20:01pensam habitualmente na Espanha,
na Itália, no Reino Unido, na Bélgica, -
20:01 - 20:06na Suécia, no Irão, no Brasil,
na Rússia e nos EUA. -
20:08 - 20:11Todos os países do segundo grupo
são governados por homens. -
20:11 - 20:13Todos os países do primeiro grupo,
com exceção de um, -
20:13 - 20:15são governados por mulheres.
-
20:15 - 20:17Será uma coincidência?
-
20:17 - 20:23KG: Bom, falando um pouco subjetivamente,
-
20:24 - 20:25enquanto mulher,
-
20:25 - 20:31creio que as mulheres
são ótimas para liderar uma crise. -
20:32 - 20:37São mais suscetíveis de mostrar empatia,
-
20:37 - 20:41preocupam-se mais
com as pessoas vulneráveis -
20:41 - 20:44e conseguem falar nisso.
-
20:45 - 20:46São decisivas.
-
20:46 - 20:48Posso dizê-lo por mim mesma.
-
20:48 - 20:53Obtemos energia a partir da ação.
-
20:53 - 20:59E não temos tendência
a choramingar e a queixar-nos -
20:59 - 21:01em demasia.
-
21:04 - 21:06Talvez seja altura de falar
-
21:06 - 21:11do valor da igualdade de sexos
para o futuro. -
21:13 - 21:18Trazer mais mulheres para este mundo
de mais crises que se avizinham. -
21:20 - 21:23CA: É obviamente difícil fazer
generalizações sobre géneros -
21:23 - 21:26mas haverá também alguma coisa
-
21:26 - 21:28quanto à aceitação da diferença
-
21:28 - 21:31de que as mulheres possam ser
melhores do que os homens? -
21:31 - 21:34Os homens são muitas vezes:
"havemos de ganhar, de conquistar" -
21:35 - 21:38numa situação como esta
em que só há probabilidades. -
21:39 - 21:43é como se houvesse tantos
manípulos complexos a acionar -
21:43 - 21:47nesta perigosa máquina pandémica
que estamos a tentar dominar. -
21:49 - 21:52Serão as mulheres melhores?
-
21:52 - 21:54KG: Vou dizer-lhe uma coisa, Chris.
-
21:54 - 21:56Precisamos de toda a gente,
-
21:56 - 22:00precisamos desta mistura de experiências,
de conhecimentos e de predisposições. -
22:01 - 22:03Homens e mulheres, em conjunto.
-
22:03 - 22:09Penso que é estupendo
ter diferentes perspetivas -
22:09 - 22:10quando tomamos decisões.
-
22:10 - 22:15Assim, as hipóteses de tomar
uma boa decisão são mais altas. -
22:16 - 22:18Precisamos uns dos outros
-
22:18 - 22:22mas também precisamos de reconhecer
que há determinadas coisas -
22:22 - 22:25— estou farta de ver isso —
-
22:25 - 22:30em que as mulheres estão mais dispostas
a encontrar uma via de compromisso, -
22:30 - 22:36estão mais dispostas a serem corrigidas
se estiverem erradas e a dizerem: -
22:36 - 22:38"OK, é uma boa questão.
-
22:38 - 22:41"Vou integrar isso na forma
como penso sobre essa questão." -
22:41 - 22:44Quando estamos numa incerteza,
-
22:44 - 22:48isso é uma vantagem enorme
para a tomada de decisões. -
22:50 - 22:53CA: Talvez então falar mais um pouco
da sua liderança neste momento. -
22:53 - 22:56Eu referi que só assumiu
este cargo há pouco tempo. -
22:56 - 22:58Antes disso, era Comissária Europeia,
-
22:58 - 23:03lidou com crises humanitárias
em várias partes do mundo. -
23:03 - 23:05E no seu país, na Bulgária,
-
23:05 - 23:08assistiu à total transformação do país,
-
23:08 - 23:10tanto política como economicamente.
-
23:10 - 23:14Que lições pode contar-nos
dessa experiência passada -
23:14 - 23:16até este momento?
-
23:17 - 23:19KG: Aprendi muitas coisas.
-
23:19 - 23:23Tive muita sorte por ter tido
essas experiências múltiplas. -
23:23 - 23:26para o cargo que tenho agora.
-
23:26 - 23:29Mas vou destacar três delas.
-
23:29 - 23:34A primeira, até que ponto é importante
-
23:34 - 23:39prepararmo-nos para uma crise.
-
23:39 - 23:42Pensar no impensável
-
23:42 - 23:47e depois agir com alguma clarividência
-
23:47 - 23:50quando somos atingidos
por qualquer choque. -
23:51 - 23:57Temos um nome para esta série
chamada "Voltar a reconstruir". -
23:58 - 24:01Gostava de o modificar, se é que posso.
-
24:01 - 24:06e chamar-lhe
"Reconstruir melhor do que antes". -
24:07 - 24:12A preparação e a prevenção
fazem poupar muito tempo. -
24:13 - 24:14A segunda coisa
-
24:14 - 24:18— não necessariamente por ordem
de importância, é igualmente importante — -
24:18 - 24:20é a ação coletiva,
-
24:20 - 24:23o trabalho em conjunto.
-
24:24 - 24:26Procurar ajuda, oferecer ajuda.
-
24:27 - 24:31Isso faz uma grande diferença
numa emergência. -
24:32 - 24:35E a terceira é uma coisa
que aprendi vezes sem conta. -
24:36 - 24:40Só conhecemos a nossa força interior
-
24:40 - 24:43quando somos atingidos.
-
24:44 - 24:46Somos tão resilientes,
-
24:46 - 24:50temos tanta capacidade
para aguentar com choques, -
24:50 - 24:53especialmente quando juntamos forças,
-
24:54 - 24:58que isso dá-me sempre
esta sensação de otimismo -
24:58 - 25:04que, por mais difícil que seja,
conseguimos superá-los. -
25:05 - 25:09Desde a época em que o meu país
entrou em colapso, a economia caiu, -
25:09 - 25:11em que me levantava às quatro da manhã,
-
25:12 - 25:15para ir buscar o leite
para a minha filha, -
25:15 - 25:21até aos dias em que via
refugiados sírios em situações terríveis -
25:21 - 25:23a ajudarem-se uns aos outros,
-
25:23 - 25:27até hoje, quando sou a diretora do FMI,
-
25:27 - 25:30que a força interior,
-
25:30 - 25:33o nosso poder de resiliência,
-
25:34 - 25:36quanto mais nos juntarmos
-
25:36 - 25:39mais se ampliam.
-
25:40 - 25:43CA: Pode falar-nos mais um pouco
sobre o papel do FMI -
25:43 - 25:47especialmente quando pensamos
na recuperação desta crise? -
25:47 - 25:50O que é que, especificamente,
a sua organização pode fazer -
25:50 - 25:53para nos ajudar a seguir em frente?
-
25:53 - 25:56KG: Há três coisas que são
únicas para o FMI -
25:56 - 26:00e são muito importantes
numa época de crise. -
26:01 - 26:05A primeira é fazer um bom diagnóstico
do que está a acontecer -
26:05 - 26:08e qual é o caminho a seguir.
-
26:08 - 26:12Nas primeiras semanas desta crise,
-
26:12 - 26:18pusemos em prática um rastreador
da ação política para 193 países -
26:18 - 26:21Que ações é que os países estão a tomar?
-
26:21 - 26:23Como podem aprender uns com os outros,
-
26:23 - 26:26para podermos ser mais eficazes,
em conjunto. -
26:26 - 26:28Neste momento, estamos a adicionar
-
26:28 - 26:31ações para uma reabertura
responsável das economias, -
26:31 - 26:34exatamente com esse objetivo.
-
26:34 - 26:36Aquilo em que somos melhores,
-
26:36 - 26:40somos os primeiros na área financeira.
-
26:41 - 26:45Intervimos neste choque incrível
-
26:45 - 26:49com um poder de fogo financeiro
muito significativo. -
26:50 - 26:56O que as pessoas não sabem
é que o FMI tem instrumentos múltiplos. -
26:57 - 27:01Duplicámos o financiamento
de emergência para esta crise. -
27:02 - 27:04E não há condições.
-
27:04 - 27:07Só pedimos uma coisa, Chris.
-
27:07 - 27:11Paguem aos médicos,
aos enfermeiros, aos hospitais, -
27:11 - 27:14protejam as pessoas mais vulneráveis
e as áreas económicas. -
27:14 - 27:17Ou seja, estas são as condições.
-
27:17 - 27:20A terceira coisa que fazemos, no FMI,
-
27:20 - 27:25é ajudar os países a terem
capacidade para boas políticas. -
27:25 - 27:27Depois da crise financeira,
-
27:27 - 27:31ajudámos muitos países
a terem uma boa gestão da dívida, -
27:31 - 27:33uma boa gestão fiscal,
-
27:33 - 27:35transparência e prestação de contas
-
27:35 - 27:39para melhorar o desempenho
das finanças públicas. -
27:40 - 27:44O FMI não é uma organização muito grande
-
27:44 - 27:46seja em que padrão for.
-
27:46 - 27:48Somos umas 3000 pessoas,
-
27:48 - 27:51altamente profissionais,
extremamente empenhadas. -
27:52 - 27:57Quando usamos a expressão
"arregaçar as mangas", somos nós. -
27:59 - 28:02Hoje são mangas digitais.
-
28:03 - 28:05CA: Isto é uma crise mundial.
-
28:05 - 28:08Muitas pessoas receiam que,
ao contrário de 2008, -
28:08 - 28:11em que parece ter havido
muita cooperação global, -
28:11 - 28:16desta vez, haja menos cooperação.
-
28:17 - 28:19Sente-se preocupada com isso,
-
28:19 - 28:22uma coisa tão importante
para nos fazer ultrapassar esta crise? -
28:22 - 28:25KG: A minha maior preocupação,
-
28:25 - 28:29no nosso mandato,
na minha área de responsabilidade, -
28:29 - 28:31é unir todos os países membros.
-
28:31 - 28:33Temos quase o mundo inteiro,
-
28:33 - 28:36há 189 países que são nossos membros.
-
28:36 - 28:42Até aqui, sinto-me impressionada
por os nossos membros serem tão recetivos. -
28:42 - 28:46Na primavera, coloquei à frente deles
-
28:46 - 28:49um pacote muito forte de medidas
-
28:49 - 28:53para expandir o papel do FMI na crise.
-
28:53 - 28:55Tudo aquilo que pedimos
-
28:55 - 28:58— pedimos o dobro
do financiamento de emergência — -
28:58 - 28:59conseguimos obtê-lo.
-
28:59 - 29:01Muito interessante.
-
29:01 - 29:04Pedimos o triplo
da concessão de financiamento. -
29:04 - 29:08Porque, tal como o vírus
ataca com mais força -
29:08 - 29:10as pessoas com um sistema mais frágil,
-
29:10 - 29:14a crise também ataca com mais força
as economias mais frágeis. -
29:14 - 29:17Assim, queríamos triplicar
a concessão de financiamentos. -
29:17 - 29:21Ao fim de um mês, já o tínhamos.
-
29:22 - 29:24Pedimos subsídios para alívio da dívida,
-
29:24 - 29:26já obtivemos.
-
29:27 - 29:31O que quero dizer
é que precisamos de nos concentrar -
29:31 - 29:35nas formas de conseguir unir o mundo.
-
29:36 - 29:39E depois agir com isso.
-
29:39 - 29:43Em vez de nos lamentarmos,
-
29:43 - 29:46de que talvez nem tudo
esteja a correr como devia ser, -
29:47 - 29:51fazermos o nosso dever
para com a comunidade global. -
29:51 - 29:53CA: Sim, certamente.
-
29:53 - 29:57O FMI está dependente
do financiamento dos seus membros, -
29:57 - 29:59dos seus membros principais.
-
29:59 - 30:00KG: Sim, claro.
-
30:00 - 30:02CA: Falou há pouco de biliões de dólares
-
30:02 - 30:06necessários para disponibilizar
aos países que necessitem. -
30:06 - 30:08Segundo li, isso provém
-
30:08 - 30:12desses instrumentos conhecidos
por Direitos Especiais de Saque. -
30:12 - 30:14Basicamente, criam
uma moeda dos membros, -
30:14 - 30:18a fundo perdido, proveniente dos EUA.
-
30:18 - 30:23para bloquear esse esforço
de angariar todo esse dinheiro? -
30:24 - 30:29KG: O bilião de dólares
provém das nossas quotas -
30:29 - 30:34e também da nossa capacidade
de movimentar dinheiro, -
30:34 - 30:40de países membros abastados
das economias avançadas -
30:40 - 30:44e de o emprestar a juros
muito baixos ou inexistentes -
30:44 - 30:47para desenvolvimento
de mercados emergentes. -
30:47 - 30:49Tínhamos esse bilião
-
30:49 - 30:52e o que foi interessante
— nem toda a gente se apercebeu disso — -
30:52 - 30:57os EUA, no seu pacote de estímulo
de dois biliões de dólares -
30:57 - 31:01incluiu o apoio ao FMI.
-
31:01 - 31:03Os Direitos Especiais de Saque
-
31:03 - 31:06são uma coisa que ainda não recebeu
-
31:06 - 31:10o consenso de todos os países membros.
-
31:10 - 31:15Foi uma coisa feita na crise de 2009,
-
31:16 - 31:19a emissão de liquidez,
-
31:19 - 31:22e dirige-se a toda a gente
-
31:22 - 31:24Há muitas vozes, incluindo a minha
-
31:24 - 31:27— falei no G20 sobre isso —
-
31:27 - 31:30que dizem que pode ser
uma boa coisa a fazer agora. -
31:31 - 31:35Não é apoiado por determinadas razões.
-
31:35 - 31:38Não é por capricho.
-
31:38 - 31:41O problema com
os Direitos Especiais de Saque -
31:41 - 31:45é que, quando os emitimos,
vão para todos os membros -
31:45 - 31:50e as economias avançadas
obtêm 62% da nova distribuição -
31:50 - 31:52e há quem diga:
-
31:53 - 31:56"Podemos pensar
nalguma coisa mais dirigida -
31:56 - 31:59"ou exclusivamente dirigida
para os que mais precisam dela?" -
31:59 - 32:02Mas, Chris, está tudo em cima da mesa.
-
32:03 - 32:07À medida que a crise se desenrola,
-
32:07 - 32:11precisamos de fazer mais,
de levar os países membros a fazer mais. -
32:13 - 32:15CA: Whitney.
-
32:15 - 32:17WPR: Temos uma pergunta da comunidade
-
32:17 - 32:20que se prende com aquilo
que disse há pouco. -
32:20 - 32:22Yavnika Khanna pergunta:
-
32:22 - 32:25"Que países se irão mostrar
resilientes na Grande Transformação: -
32:25 - 32:27"os que têm líderes populares
-
32:27 - 32:30"ou os que têm sistemas
financeiros sólidos?" -
32:30 - 32:33KG: Bom, as duas coisas são importantes.
-
32:33 - 32:36Os países com alicerces fortes
-
32:36 - 32:40vão claramente passar por esta crise
-
32:40 - 32:47com menos traumas
do que os que têm alicerces fracos. -
32:47 - 32:50E claro que a liderança é importante
-
32:50 - 32:54para a mobilização de um país para a ação.
-
32:55 - 32:59Na minha opinião, por outro lado,
-
33:00 - 33:05os vencedores serão aqueles
que pensem nesta crise -
33:06 - 33:08também como uma oportunidade.
-
33:09 - 33:14Claramente, uma transformação digital
é uma enorme oportunidade. -
33:14 - 33:19A mudança para a aprendizagem
e a governação eletrónicas. -
33:19 - 33:22os pagamentos e o comércio eletrónicos,
-
33:22 - 33:26a ligação de empresas pequenas e médias
-
33:26 - 33:29aos consumidores,
através da informática, -
33:29 - 33:30grande vencedor.
-
33:31 - 33:34Em segundo lugar, tenho muita esperança
-
33:34 - 33:38de que, por outro lado,
-
33:38 - 33:41obtenhamos uma pegada
de carbono mais baixa -
33:41 - 33:44e uma economia
com um clima mais resiliente. -
33:45 - 33:47Os que se movimentam nesta direção,
-
33:47 - 33:52reduzirão o risco
para si mesmos e para o mundo. -
33:53 - 33:55A partir desta outra crise,
-
33:55 - 33:57de que não falamos tanto nestes dias
-
33:57 - 33:59mas que não levou a parte alguma.
-
33:59 - 34:01E, claro, se não gostamos de pandemias,
-
34:01 - 34:06também não vamos gostar
da crise climática. -
34:06 - 34:09Os países que estão a pensar
-
34:09 - 34:16em como tornar a economia do futuro
-
34:16 - 34:17mais justa.
-
34:17 - 34:19Por outras palavras,
-
34:19 - 34:25temos vindo a assistir ao aumento
da desigualdade antes desta crise. -
34:26 - 34:30Os meus colegas
que investigaram a pandemia -
34:30 - 34:32dão-nos uma lição mais amarga.
-
34:33 - 34:34Depois da pandemia,
-
34:34 - 34:39depois da gripe do H1N1,
-
34:39 - 34:42depois da SARS, depois do Zika,
-
34:42 - 34:44a desigualdade aumentou.
-
34:45 - 34:49Vamos permitir que a desigualdade
continue a aumentar -
34:49 - 34:50depois desta crise?
-
34:50 - 34:52Se o fizermos,
-
34:52 - 34:55estamos a danificar
o tecido das nossas sociedades -
34:55 - 35:01e eu sinto que centenas
de milhões de pessoas, nesta crise, -
35:01 - 35:07prefeririam ter um mundo
mais simples, mais justo, -
35:07 - 35:10mais igualitário onde viver
-
35:10 - 35:14e certamente um mundo mais sustentável.
-
35:16 - 35:19KG: Serão esses os vencedores.
-
35:20 - 35:21WPR: Sem dúvida alguma.
-
35:21 - 35:23Mais uma pergunta
da nossa comunidade, -
35:23 - 35:27antes de voltar ao Chris,
para as perguntas finais. -
35:27 - 35:30Esta é de Sarah Rugheimer.
-
35:31 - 35:33A pergunta é:
-
35:33 - 35:37"O que vê como as principais mudanças
com potencial positivo -
35:37 - 35:39"neste mundo,
-
35:39 - 35:42"depois desta pandemia,
dentro de dois a dez anos?" -
35:43 - 35:47KG: Já dei uma pequena ideia.
-
35:47 - 35:52Primeiro, espero ver uma política fiscal
-
35:53 - 35:56que nos ajude a recuperar
-
35:56 - 36:01e que seja dirigida
para uma recuperação verde -
36:02 - 36:05e para uma recuperação mais igualitária.
-
36:06 - 36:10Isso é uma coisa que está
nas mãos dos políticos. -
36:10 - 36:12Pode ser feito.
-
36:13 - 36:17Em segundo lugar, tenho
muita esperança em ver -
36:19 - 36:23que integramos o que tivermos
aprendido com a crise -
36:23 - 36:28em termos do trabalho virtual.
-
36:28 - 36:31Na minha organização, o FMI,
-
36:31 - 36:35podemos reduzir a nossa pegada
de carbono, substancialmente, -
36:35 - 36:39apenas mantendo as práticas
que estamos a implementar hoje -
36:39 - 36:41e é o que faremos.
-
36:41 - 36:46Claro que espero ver, no futuro,
-
36:46 - 36:53muito mais atenção a duas coisas
que vimos serem essenciais nesta crise. -
36:53 - 36:56O acesso universal à saúde,
de uma ou de outra forma -
36:56 - 36:58sistemas de saúde fortes
-
36:58 - 37:03assim como redes
de segurança social fortes, -
37:03 - 37:08criadas como estabilizadores automáticos
numa época de choque. -
37:08 - 37:13A propósito, é mais barato
se o fizermos deste modo. -
37:13 - 37:18A fatura para todos vai ser mais pequena.
-
37:20 - 37:26Também tenho esperança
de que esta noção de investir nas pessoas, -
37:26 - 37:31reconhecendo que agora que assistimos
a esta tragédia terrível, -
37:31 - 37:33a perda de vidas,
-
37:33 - 37:36que investir nas pessoas
-
37:36 - 37:39é o melhor investimento
que podemos fazer. -
37:42 - 37:44WPR: Isso é ótimo.
-
37:44 - 37:47CA: Até já, Whitney.
-
37:50 - 37:51Kristalina,
-
37:54 - 37:57É muito animador ouvir falar
da energia e de coisas dessas, -
37:57 - 37:59a energia que mete nisto.
-
37:59 - 38:02Penso que muita gente
que está a ouvir isto -
38:02 - 38:06não estava à espera de ouvir
a diretora do FMI -
38:06 - 38:08a sublinhar:
-
38:08 - 38:10"Vamos resolver a crise do clima,
-
38:10 - 38:14"vamos abordar a desigualdade
e a injustiça." -
38:16 - 38:19Acredita mesmo que este momento,
-
38:19 - 38:24esta crise pode ajudar-nos
a uma transformação importante? -
38:24 - 38:27As pessoas sentem
que o seu papel é positivo, -
38:27 - 38:30tem de fazer isso.
-
38:30 - 38:35Vê mesmo o caminho à nossa frente
que podemos superar? -
38:35 - 38:39De que período de tempo
estamos a falar, Kristalina? -
38:40 - 38:45KG: Uma coisa que aprendi
com a transição que estamos a viver -
38:45 - 38:48a transição do planeamento
central para os mercados, -
38:48 - 38:53é que é difícil, é demorado,
é doloroso -
38:53 - 38:55e é uma estrada que tem desvios.
-
38:55 - 39:00Não estou à espera de milagres
-
39:01 - 39:07mas acredito que estamos
-
39:07 - 39:10numa encruzilhada da História
-
39:10 - 39:15em que as pessoas exigem aos líderes
-
39:15 - 39:18segurança
-
39:18 - 39:25e uma sociedade que não esteja
dividida por conflitos. -
39:26 - 39:30Isso é uma coisa
que não estamos habituados a ver. -
39:30 - 39:35Por isso, daria uma volta
a essa pergunta, Chris. -
39:36 - 39:37Depois duma guerra,
-
39:37 - 39:39vemos que o mundo se reúne
-
39:39 - 39:42e constrói um mundo melhor.
-
39:42 - 39:45Porque não fazer o mesmo
depois de uma pandemia? -
39:47 - 39:54Sim, podemos errar e não escolher
a estrada certa para avançar. -
39:56 - 40:03Mas certamente temos a obrigação
de tentar escolher essa estrada. -
40:04 - 40:06CA: Se pudesse injetar...
-
40:06 - 40:09KG: Toda a gente é importante.
-
40:10 - 40:15CA: Se pudesse injetar uma ideia
na cabeça de toda a gente, -
40:15 - 40:19ou nos líderes mundiais
que a escutam, -
40:19 - 40:22que ideia seria essa, neste momento?
-
40:24 - 40:26KG: O otimismo.
-
40:26 - 40:29Criar um mundo melhor.
-
40:31 - 40:35Possível, desejável, temos de fazer isso.
-
40:38 - 40:40CA: Isso parece uma posição de otimismo
-
40:40 - 40:42não apenas uma crença ingénua
de que vai acontecer -
40:42 - 40:44mas a determinação de o fazer.
-
40:44 - 40:45É aquilo que pretende.
-
40:46 - 40:49Usar isso como motivação
para nos pôr a avançar todos juntos. -
40:50 - 40:54KG: Chris, ainda tenho um minuto
ou já acabámos? -
40:55 - 41:01CA: Se quiser dizer uma última coisa
num minuto, ok, tudo bem. -
41:01 - 41:03KG: Quero dizer uma coisa.
-
41:03 - 41:08Recomendar à audiência
que vejam o filme -
41:08 - 41:10"A Ponte dos Espiões".
-
41:11 - 41:13Há uma parte no filme
-
41:13 - 41:19em que os dois atores principais,
-
41:19 - 41:24o advogado e o espião russo
falam um com o outro. -
41:24 - 41:28O advogado diz: "As coisas estão más.
parece que podes ir parar à forca." -
41:28 - 41:30O espião está muito calmo.
-
41:30 - 41:32O advogado diz: "Não estás preocupado?"
-
41:33 - 41:36O espião responde: "Isso adianta?"
-
41:36 - 41:39A minha mensagem é:
-
41:40 - 41:44Isto está difícil, mas não adianta
preocuparmo-nos. -
41:46 - 41:48O que ajuda é uma ação positiva.
-
41:48 - 41:52Positivos, mantenham-se positivos,
é essa a minha mensagem. -
41:53 - 41:55CA: Bom, tenho de lhe agradecer.
-
41:55 - 41:59É extremamente inspirador
ver a sua energia -
41:59 - 42:03e o seu otimismo inabalável,
chamemos-lhe assim. -
42:03 - 42:06Acho que lhe desejamos
tudo o que há de melhor -
42:06 - 42:10enquanto utilizar a sua posição
para nos ajudar a sair deste problema. -
42:10 - 42:13Muito obrigado, Kristalina,
por tirar tempo para estar aqui na TED. -
42:13 - 42:14Obrigada.
-
42:14 - 42:16WPR: Obrigada, Kristalina.
- Title:
- Como recuperar a economia global
- Speaker:
- Kristalina Georgieva
- Description:
-
A pandemia do coronavírus estilhaçou a economia global. Para a recuperar, precisamos de garantir que o dinheiro vai para os países que mais precisam — e que reconstituímos sistemas financeiros que sejam resilientes aos choques, diz Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional. Ela leva-nos ao âmago dos enormes esforços de estímulo económico que tentam orientar o mundo para a recuperação e a renovação e analisa o que será preciso para os países saírem desta "grande transformação" ainda mais fortes do que antes.
(Esta conversa virtual, orientada por Chris Anderson, administrador da TED, e por Whitney Pennington Rodgers, curadora dos assuntos correntes, foi gravada a 18 de maio de 2020) - Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 42:29
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for How to rebuild the global economy | |
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