Nacionalismo "versus" globalismo: a nova divisão política
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0:01 - 0:05Chris Anderson: Olá.
Bem-vindos a estes Diálogos TED. -
0:05 - 0:08Este é o primeiro de uma série
que vai ser feita -
0:08 - 0:12em resposta à actual
agitação política. -
0:12 - 0:14Não sei quanto a vocês;
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0:14 - 0:17mas eu fiquei preocupado com
a crescente divisão política no nosso país. -
0:17 - 0:19e no mundo.
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0:19 - 0:21Ninguém se ouve uns aos outros. Certo?
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0:22 - 0:23Não se ouvem.
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0:23 - 0:26Parece que precisamos
de uma conversa diferente, -
0:27 - 0:32uma que seja baseada na razão,
em ouvir, em compreender, -
0:32 - 0:34num contexto mais amplo.
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0:35 - 0:38Pelo menos, é o que vamos tentar fazer
com estes Diálogos TED, -
0:38 - 0:39que começam hoje.
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0:39 - 0:42Não poderíamos ter mais ninguém connosco
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0:42 - 0:45com quem eu estivesse mais animado
para começar. -
0:45 - 0:48Esta é uma mente
que pensa como ninguém -
0:48 - 0:50no planeta, diria eu.
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0:50 - 0:52Estou a falar a sério.
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0:54 - 0:59Ele sintetiza a História
com ideias subjacentes -
0:59 - 1:01de uma maneira que nos tira o fôlego.
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1:01 - 1:04Talvez alguns de vocês
conheçam este livro, "Sapiens". -
1:05 - 1:06Alguém aqui leu "Sapiens"?
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1:07 - 1:08(Aplausos)
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1:08 - 1:11Eu não consegui parar de o ler.
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1:11 - 1:14A maneira como ele conta
a história da humanidade -
1:15 - 1:18através de grandes ideias
que nos fazem pensar de outro modo -
1:18 - 1:20é algo de extraordinário.
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1:20 - 1:22E este é o seu seguimento,
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1:22 - 1:24que vai ser publicado
nos EUA na próxima semana. -
1:24 - 1:26Yuval Noah Harari:
Sim, na próxima semana. -
1:26 - 1:28CA: "Homo Deus".
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1:28 - 1:30Esta é a história dos próximos cem anos.
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1:31 - 1:32Tive a oportunidade de lê-la.
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1:33 - 1:35É extremamente dramática,
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1:35 - 1:39e atrevo-me a dizer, para
algumas pessoas, é muito alarmante. -
1:40 - 1:41É uma leitura obrigatória.
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1:41 - 1:46Honestamente, não podíamos ter
ninguém melhor para nos ajudar -
1:46 - 1:50a perceber o que está
a acontecer hoje no mundo. -
1:50 - 1:55Por favor, dêem as boas vindas
a Yuval Noah Harari. -
1:55 - 1:58(Aplausos)
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2:03 - 2:07É óptimo termos aqui os nossos amigos
do Facebook e de todo o mundo. -
2:07 - 2:08Olá, Facebook.
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2:08 - 2:12Todos vocês, enquanto começo
a fazer perguntas ao Yuval, -
2:12 - 2:14podem apresentar as vossas perguntas,
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2:14 - 2:17não necessariamente
sobre o escândalo político do dia, -
2:17 - 2:21mas sobre a compreensão mais ampla de:
Para onde estamos a caminhar? -
2:23 - 2:24Estão preparados? Ok, vamos lá.
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2:24 - 2:26Cá estamos, Yuval:
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2:26 - 2:29Cidade de Nova Iorque, 2017,
um novo presidente no poder, -
2:29 - 2:32e ondas de choque em todo o mundo.
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2:32 - 2:34O que está a acontecer no planeta?
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2:35 - 2:38YNH: Basicamente, acho que o que aconteceu
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2:38 - 2:40foi que perdemos a nossa história.
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2:40 - 2:43Os seres humanos pensam em histórias,
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2:43 - 2:46e tentamos perceber o mundo
contando histórias. -
2:46 - 2:48Nas últimas décadas,
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2:48 - 2:51tivemos uma história muito simples
e muito atractiva -
2:51 - 2:53sobre o que está a acontecer no mundo.
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2:53 - 2:56Essa história dizia que,
o que está a acontecer é -
2:56 - 2:58que a economia está a ser globalizada,
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2:58 - 3:01a política está a ser liberalizada,
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3:01 - 3:04e a combinação das duas
criará o paraíso na Terra. -
3:04 - 3:08Temos de continuar
a globalizar a economia -
3:08 - 3:10e a liberalizar o sistema político,
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3:10 - 3:11e tudo será fantástico.
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3:12 - 3:14Este ano de 2016 é o momento
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3:14 - 3:18em que um grande segmento,
mesmo do mundo Ocidental, -
3:18 - 3:20deixou de acreditar nesta história.
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3:21 - 3:23Por boas ou más razões,
— não interessa — -
3:23 - 3:25as pessoas deixaram
de acreditar na história, -
3:25 - 3:29e, quando não temos uma história,
não compreendemos o que está a acontecer. -
3:29 - 3:33CA: Você acredita que essa história
foi realmente muito eficaz. -
3:33 - 3:34Resultou.
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3:34 - 3:36YNH: De certo modo, sim.
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3:36 - 3:38De acordo com algumas medidas,
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3:38 - 3:41estamos agora no melhor tempo de sempre
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3:41 - 3:42para a humanidade.
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3:42 - 3:45Hoje, pela primeira vez na História,
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3:45 - 3:49há mais pessoas a morrer por
comerem demais do que por comerem pouco, -
3:49 - 3:51o que é um feito fantástico.
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3:51 - 3:53(Risos)
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3:53 - 3:55Também pela primeira vez na História,
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3:55 - 3:59há mais pessoas que morrem de velhice
do que com doenças infecciosas, -
3:59 - 4:02e a violência também diminuiu.
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4:02 - 4:04Pela primeira vez na História,
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4:04 - 4:09mais pessoas cometem suicídio do que
são mortas por homicídio, por terrorismo -
4:09 - 4:11pela guerra, tudo junto.
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4:11 - 4:15Estatisticamente, somos
o nosso pior inimigo. -
4:15 - 4:17Pelo menos, entre todas
as pessoas no mundo, -
4:17 - 4:20é mais provável sermos mortos
por nós mesmos... -
4:20 - 4:21(Risos)
-
4:21 - 4:24... o que são boas notícias...
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4:24 - 4:26(Risos)
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4:26 - 4:31... em comparação com o nível de violência
que vimos em tempos anteriores. -
4:31 - 4:33CA: Mas este processo
de interligar o mundo -
4:33 - 4:37levou um grande grupo de pessoas
a sentirem-se postas de parte, -
4:37 - 4:38e elas reagiram.
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4:38 - 4:40Também temos esta bomba
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4:40 - 4:43que está a rasgar todo o sistema.
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4:43 - 4:46O que acha do que aconteceu?
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4:46 - 4:49Parece que a antiga forma
de pensar na política, -
4:49 - 4:52na divisão esquerda-direita,
explodiu e foi substituída. -
4:52 - 4:54O que devemos pensar disto?
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4:55 - 4:58YNH: Sim, o velho modelo político
do século XX de esquerda "versus" direita -
4:58 - 5:00é agora muito irrelevante.
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5:00 - 5:05A real divisão hoje
é entre global e nacional, -
5:05 - 5:06global ou local.
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5:08 - 5:09Vemos isto em todo o mundo
-
5:09 - 5:11e esta é agora a maior luta.
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5:11 - 5:15Provavelmente, precisamos de modelos
políticos completamente novos -
5:15 - 5:20e maneiras de pensar na política
completamente novas. -
5:20 - 5:26Basicamente, o que se pode dizer
é que agora temos uma ecologia global, -
5:26 - 5:30temos uma economia global,
mas temos uma política nacional, -
5:30 - 5:32e isso não funciona em conjunto.
-
5:32 - 5:34Isto faz com que o sistema político
seja ineficaz, -
5:34 - 5:38porque não há controlo sobre as forças
que modelam a nossa vida. -
5:38 - 5:41Temos, basicamente, duas soluções
para este desequilíbrio: -
5:41 - 5:45ou deixar de globalizar a economia e
torná-la, de novo, numa economia nacional, -
5:45 - 5:48ou globalizar o sistema político.
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5:49 - 5:54CA: Penso que há muitos liberais por aí
-
5:54 - 6:00que vêem Trump e o seu governo
como irremediavelmente mau, -
6:00 - 6:03péssimo em todos os aspectos.
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6:04 - 6:09Vê alguma narrativa subjectiva
ou alguma filosofia política nela -
6:09 - 6:11que valha a pena compreender?
-
6:11 - 6:13Como articularia essa filosofia?
-
6:13 - 6:16É apenas a filosofia do nacionalismo?
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6:16 - 6:22YNH: Acho que o sentimento
ou a ideia subjacente -
6:22 - 6:26é que há qualquer coisa
que está avariada. -
6:26 - 6:30Já não delega nas pessoas normais.
-
6:30 - 6:33Já não se preocupa tanto
com as pessoas normais, -
6:34 - 6:38e acho que este diagnóstico
da doença política está correcto. -
6:38 - 6:42Em relação às respostas,
estou menos certo. -
6:42 - 6:45Acho que o que estamos a ver
é uma reacção humana imediata: -
6:45 - 6:48se algo não está bem, vamos voltar atrás.
-
6:48 - 6:50Vemos isto em todo o mundo.
-
6:50 - 6:54Quase ninguém,
no sistema político atual, -
6:54 - 6:58tem uma visão futura de onde
a humanidade vai parar. -
6:58 - 7:01Em quase todos os sítios,
vemos uma visão retrógrada: -
7:01 - 7:03"Vamos fazer a América grande outra vez",
-
7:03 - 7:07como se tivesse sido grande — não sei —
nos anos 50 ou 80, algures, -
7:07 - 7:08vamos voltar para aí.
-
7:08 - 7:13Vamos à Rússia
cem anos depois de Lenine, -
7:13 - 7:15e a visão de Putin para o futuro
-
7:15 - 7:18é basicamente, "vamos voltar
ao império czarista". -
7:18 - 7:20Em Israel, de onde venho,
-
7:20 - 7:23a melhor visão política do presente é:
-
7:23 - 7:25"Vamos construir o templo outra vez".
-
7:25 - 7:28Vamos recuar dois mil anos.
-
7:29 - 7:33Algumas pessoas estão a pensar
que nos perdemos algures no passado, -
7:33 - 7:37e algures no passado, é como se
nos tivéssemos perdido na cidade, -
7:37 - 7:40e dizem: "Ok, vamos regressar ao ponto
em que me sentia seguro -
7:40 - 7:41"e começar de novo".
-
7:42 - 7:43Acho que isto não funciona,
-
7:43 - 7:46mas para muitas pessoas,
este é o seu instinto. -
7:46 - 7:48CA: Mas porque é que não pode funcionar?
-
7:48 - 7:51"A América primeiro" é um lema
muito apelativo em muitos aspectos. -
7:51 - 7:55O patriotismo é, em muitos aspectos,
algo muito nobre. -
7:55 - 7:59Promove a cooperação
entre um vasto número de pessoas. -
8:00 - 8:04Porque não podemos ter um mundo
organizado em países, -
8:04 - 8:07em que cada um se põe
a si próprio em primeiro lugar? -
8:07 - 8:11YNH: Durante muitos séculos,
milhares de anos mesmo, -
8:11 - 8:13o patriotismo funcionou muito bem.
-
8:13 - 8:15Claro que levou a guerras e outras coisas
-
8:15 - 8:18mas não nos devemos focar no mau.
-
8:18 - 8:22Também há muitas coisas positivas
no patriotismo: -
8:22 - 8:25a capacidade de haver
um grande número de pessoas -
8:25 - 8:27que se preocupam umas com as outras,
-
8:27 - 8:29que simpatizam umas com as outras,
-
8:29 - 8:32que se juntam para acções colectivas.
-
8:33 - 8:35Se voltarmos às primeiras nações,
-
8:35 - 8:37milhares de anos atrás,
-
8:37 - 8:40as pessoas que viviam ao longo
do Rio Amarelo na China -
8:40 - 8:42eram muitas tribos diferentes
-
8:43 - 8:47e todas dependiam do rio
para sobreviverem e prosperarem, -
8:47 - 8:51mas todas sofriam de cheias periódicas
-
8:51 - 8:53e secas periódicas.
-
8:53 - 8:56Nenhuma tribo podia fazer
nada sobre isso, -
8:56 - 9:00porque cada uma controlava
apenas uma pequena parte do rio. -
9:00 - 9:03Depois, num longo e complicado processo,
-
9:03 - 9:07as tribos juntaram-se
para formar a nação chinesa, -
9:07 - 9:09que controlava todo o Rio Amarelo
-
9:10 - 9:15e puderam juntar centenas
de milhares de pessoas -
9:16 - 9:19para construir barragens
e canais para controlar o rio, -
9:19 - 9:22impedir as piores cheias e secas
-
9:22 - 9:26e elevar o nível de prosperidade
para todos. -
9:26 - 9:28Isso resultou em muitos sítios no mundo.
-
9:28 - 9:31Mas no século XXI,
-
9:31 - 9:35a tecnologia está a mudar tudo
de maneira fundamental. -
9:35 - 9:38Estamos agora a viver
— todas as pessoas do mundo — -
9:38 - 9:41estamos a viver ao longo
de um mesmo rio virtual, -
9:41 - 9:47e nenhuma nação por si só,
consegue controlar esse rio. -
9:47 - 9:51Estamos todos a viver juntos
no mesmo planeta, -
9:51 - 9:54que é ameaçado pelas
nossas próprias acções. -
9:54 - 9:58Se não tivermos qualquer espécie
de cooperação global, -
9:58 - 10:03o nacionalismo não está no nível certo
para atacar os problemas, -
10:03 - 10:07quer seja a alteração climática
ou a disrupção tecnológica. -
10:08 - 10:10CA: Então, era uma boa ideia
-
10:10 - 10:14num mundo onde a maior parte das acções,
a maior parte dos problemas, -
10:14 - 10:16tinham lugar à escala nacional,
-
10:16 - 10:19mas o seu raciocínio é que os problemas
mais importantes hoje -
10:19 - 10:22já não têm lugar à escala nacional,
mas à escala global. -
10:22 - 10:26YNH: Exactamente. Todos os
maiores problemas de hoje do mundo -
10:26 - 10:29são essencialmente globais,
-
10:29 - 10:31e não podem ser resolvidos
-
10:30 - 10:34a não ser através
da cooperação global. -
10:34 - 10:36Não é só a alteração climática,
-
10:36 - 10:39que, claro, é o exemplo mais óbvio
que as pessoas dão. -
10:39 - 10:42Penso mais em termos
de disrupção tecnológica. -
10:42 - 10:45Se pensarmos, por exemplo,
na inteligência artificial, -
10:46 - 10:48nos próximos 20, 30 anos
-
10:48 - 10:52empurrando centenas de milhões de pessoas
para fora do mercado de trabalho, -
10:52 - 10:54isto é um problema a nível global.
-
10:54 - 10:58Vai provocar a rotura
da economia de todos os países. -
10:58 - 11:02Do mesmo modo, se pensarmos,
digamos, na bioengenharia -
11:02 - 11:05e nas pessoas com medo
de realizar a investigação -
11:05 - 11:07da engenharia genética em seres humanos,
-
11:07 - 11:13não ajuda nada, se um país
— vamos dizer os EUA — -
11:13 - 11:16proibir todas as experiências
genéticas em seres humanos, -
11:16 - 11:19mas a China ou a Coreia do Norte
continuarem a fazê-las. -
11:20 - 11:22Os EUA não podem
resolver o problema sozinhos. -
11:22 - 11:27Muito rapidamente, a pressão sobre os EUA
para fazer o mesmo vai ser imensa -
11:27 - 11:32porque estamos a falar de tecnologias
de alto risco e alto custo. -
11:32 - 11:37Se mais alguém o está a fazer,
eu não me posso permitir ficar para trás. -
11:37 - 11:42A única maneira de haver regras,
regras eficazes, -
11:43 - 11:45em coisas como a engenharia genética,
-
11:45 - 11:47é haver regras globais.
-
11:47 - 11:52Se só houver regras nacionais,
ninguém vai querer ficar para trás. -
11:52 - 11:54CA: Isso é muito interessante.
-
11:54 - 11:56Parece-me que isso é um ponto fundamental
-
11:56 - 11:59para que, pelo menos, haja
uma conversão construtiva -
11:59 - 12:01entre os diferentes lados.
-
12:01 - 12:04Acho que todos concordam
que o ponto de partida -
12:04 - 12:07para muita revolta que nos trouxe
aonde estamos agora -
12:07 - 12:10são as preocupações
com o desemprego. -
12:10 - 12:13O trabalho acabou, um modo
de vida tradicional acabou, -
12:13 - 12:17e não há dúvida que as pessoas
estão furiosas por causa disso. -
12:17 - 12:21No geral, têm culpado
o globalismo, a elite global, -
12:21 - 12:24por ter feito isso sem
lhes pedir autorização, -
12:24 - 12:26é uma reclamação legítima.
-
12:26 - 12:30Mas pelo que está a dizer,
acho que uma questão-chave é: -
12:30 - 12:35Qual é a razão para o desemprego,
agora e daqui para a frente? -
12:35 - 12:38Se isso se deve ao globalismo,
-
12:38 - 12:42então a resposta certa
é fechar as fronteiras, -
12:42 - 12:46manter as pessoas fora
e alterar os acordos comerciais. -
12:46 - 12:48Mas acho que está a dizer
-
12:48 - 12:52que a maior causa do desemprego
não será essa. -
12:52 - 12:56Vai ser causado por questões tecnológicas,
-
12:56 - 12:58e não há hipótese de resolver isso,
-
12:58 - 13:00a não ser que operemos
como um mundo interligado. -
13:00 - 13:02YNH: Sim, penso que...
-
13:02 - 13:05não sei quanto ao presente
mas, olhando para o futuro, -
13:05 - 13:08não são os mexicanos ou os chineses
que vão roubar o trabalho -
13:08 - 13:10às pessoas da Pensilvânia,
-
13:10 - 13:11são os robôs e os algoritmos.
-
13:12 - 13:15A menos que seja construído um muro
na fronteira da Califórnia... -
13:16 - 13:17(Risos)
-
13:17 - 13:20o muro na fronteira com o México
não vai ser muito eficaz. -
13:22 - 13:27Fiquei impressionado quando vi
os debates antes das eleições, -
13:27 - 13:33fiquei impressionado porque Trump
nem sequer tentou assustar as pessoas -
13:33 - 13:35dizendo que os robôs
vão tirar-lhes o emprego. -
13:35 - 13:38Mesmo que não seja verdade,
não interessa. -
13:38 - 13:41Teria sido um meio muito eficaz
de assustar as pessoas... -
13:41 - 13:42(Risos)
-
13:42 - 13:43de chocar as pessoas:
-
13:43 - 13:45"Os robôs vão tirar-vos os empregos!"
-
13:45 - 13:47Ninguém usou esta frase.
-
13:47 - 13:49Isso assustou-me,
-
13:49 - 13:53porque quer dizer que,
aconteça o que acontecer -
13:53 - 13:55nas universidades e laboratórios
-
13:55 - 13:58— e já há um grande debate sobre isto —
-
13:58 - 14:02mas no sistema político convencional
e entre o público em geral, -
14:02 - 14:04as pessoas não estão cientes
-
14:04 - 14:09que pode haver uma
imensa rotura tecnológica -
14:09 - 14:13— não dentro de 200 anos,
mas dentro de 10, 20, 30 anos — -
14:13 - 14:15e temos de fazer alguma coisa
sobre isso agora, -
14:16 - 14:22porque a maior parte do que se ensina
às crianças hoje na escola ou na faculdade -
14:22 - 14:28vai ser completamente irrelevante
para o mercado de trabalho de 2040, 2050. -
14:28 - 14:31Então, não é algo em
que tenhamos de pensar em 2040. -
14:31 - 14:35Temos de pensar hoje
no que ensinar aos mais novos. -
14:35 - 14:37CA: Sim, absolutamente.
-
14:39 - 14:43Já escreveu muitas vezes
sobre a força motriz na história -
14:43 - 14:49em que a humanidade entrou
numa nova era, sem intenção. -
14:50 - 14:53Tomaram-se decisões,
desenvolveram-se tecnologias. -
14:53 - 14:55e, de repente, o mundo mudou,
-
14:55 - 14:58possivelmente, foi pior para todos.
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14:58 - 15:00Um dos exemplos que dá em "Sapiens"
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15:00 - 15:02é a revolução na agricultura,
-
15:02 - 15:05que, para uma pessoa
que lavra os campos, -
15:05 - 15:09impôs um trabalho
desgastante de 12 horas -
15:09 - 15:14em vez de 6 horas na selva e um
estilo de vida muito mais interessante. -
15:16 - 15:19Estaremos noutra possível fase de mudança
-
15:19 - 15:24em que vamos, meio sonâmbulos,
para um futuro que não queremos? -
15:24 - 15:26YNH: Sim, é mesmo isso.
-
15:27 - 15:29Durante a revolução da agricultura,
-
15:29 - 15:33o que aconteceu foi que a imensa
revolução tecnológica e económica -
15:33 - 15:36capacitou os humanos, colectivamente,
-
15:36 - 15:39mas quando olhamos
para as vidas individualmente, -
15:39 - 15:42a vida de uma pequena elite
tornou-se muito melhor, -
15:43 - 15:47e a vida da maioria das pessoas
tornou-se muito pior. -
15:47 - 15:49Isto pode acontecer outra vez,
no século XXI. -
15:49 - 15:54Sem dúvida que as novas tecnologias
capacitam os humanos, colectivamente. -
15:55 - 15:57Mas podemos acabar
-
15:57 - 16:02com uma pequena elite a ficar com todos
os benefícios, colhendo todos os frutos, -
16:02 - 16:06e as massas populacionais
encontrarem-se pior -
16:06 - 16:07do que estavam antes,
-
16:07 - 16:11certamente muito pior
que esta pequena elite. -
16:11 - 16:13CA: E essas pequenas elites
até podem não ser humanas. -
16:13 - 16:15Podem ser "ciborgues" ou...
-
16:15 - 16:17YNH: Sim, podem ser
super-homens melhorados. -
16:17 - 16:19Podem ser "ciborgues".
-
16:19 - 16:21Podem ser elites completamente
não orgânicas. -
16:21 - 16:24Podem até ser algoritmos
sem consciência. -
16:25 - 16:28O que vemos agora no mundo
é a autoridade a afastar-se -
16:28 - 16:31dos seres humanos para os algoritmos.
-
16:31 - 16:34Há cada vez mais decisões
— sobre as vidas pessoais, -
16:34 - 16:37sobre assuntos económicos,
sobre assuntos políticos — -
16:37 - 16:40que estão a ser substituídas
por algoritmos. -
16:40 - 16:41Se pedirmos um empréstimo ao banco,
-
16:42 - 16:45o nosso destino poderá ser
decidido por um algoritmo, -
16:45 - 16:47não por um ser humano.
-
16:47 - 16:53O sentimento geral é que talvez
se tenha perdido o Homo sapiens. -
16:54 - 16:58O mundo é tão complicado,
há tanta informação, -
16:58 - 17:00as coisas mudam tão depressa,
-
17:00 - 17:04que esta coisa que evoluiu
na savana africana -
17:04 - 17:06há dezenas de milhares de anos,
-
17:06 - 17:09para lidar com um ambiente particular,
-
17:09 - 17:13com um volume particular
e informação e dados, -
17:13 - 17:17não consegue lidar
com as realidades do século XXI. -
17:17 - 17:20A única coisa que é capaz
de lidar com isso -
17:20 - 17:22são os algoritmos.
-
17:22 - 17:28Então, a autoridade está a afastar-se
cada vez mais de nós para os algoritmos. -
17:29 - 17:33CA: Estamos em Nova Iorque
para a primeira série de diálogos TED -
17:33 - 17:35com o Yuval Harari,
-
17:36 - 17:38e há uma audiência em directo do Facebook.
-
17:38 - 17:41Estamos contentes por vos ter connosco.
-
17:41 - 17:43Vamos responder a algumas
das vossas perguntas -
17:43 - 17:44e perguntas de pessoas na sala,
-
17:44 - 17:46dentro de minutos.
-
17:46 - 17:48Portanto, continuem a enviá-las.
-
17:49 - 17:52Yuval, se vai argumentar
-
17:52 - 17:58que precisamos
de ultrapassar o nacionalismo -
17:58 - 18:01devido ao perigo tecnológico,
-
18:01 - 18:03representado por muito
do que está a acontecer -
18:03 - 18:05temos de ter uma
conversa global sobre isto. -
18:06 - 18:09O problema é que é difícil fazer
com que as pessoas acreditem -
18:09 - 18:11que a inteligência artificial
é uma ameaça iminente. -
18:11 - 18:14Uma das coisas que as pessoas
— algumas pelo menos — -
18:14 - 18:16mais se preocupam, de imediato,
-
18:16 - 18:18é talvez a alteração climática,
-
18:18 - 18:22talvez outros assuntos como os refugiados
ou as armas nucleares. -
18:25 - 18:28Diria que onde estamos agora,
-
18:28 - 18:31esses problemas deviam ser falados?
-
18:31 - 18:33Falou da alteração climática,
-
18:33 - 18:37mas Trump disse que não acredita nisso.
-
18:37 - 18:39Então, de certo modo,
neste caso, não pode usar -
18:39 - 18:42o seu argumento mais poderoso.
-
18:42 - 18:45YNH: Sim, penso que
com a alteração climática, -
18:45 - 18:48à primeira vista, é surpreendente
-
18:48 - 18:51o facto de haver uma
correlação muito próxima -
18:51 - 18:54entre o nacionalismo
e a alteração climática. -
18:54 - 18:59Quase sempre, as pessoas que rejeitam
a alteração climática são nacionalistas. -
18:59 - 19:01À primeira vista, pensamos: Porquê?
-
19:01 - 19:02Qual é a ligação?
-
19:02 - 19:05Porque é que não há socialistas
a rejeitar a alteração climática? -
19:05 - 19:07Mas depois, quando
pensamos nisso, é óbvio, -
19:07 - 19:11porque o nacionalismo não tem solução
para a alteração climática. -
19:11 - 19:14Se quisermos ser nacionalistas
no século XXI, -
19:14 - 19:16temos de negar esse problema.
-
19:16 - 19:20Se aceitarmos a realidade do problema,
então temos de aceitar -
19:21 - 19:23que ainda há espaço no mundo
para o patriotismo, -
19:23 - 19:27ainda há espaço no mundo
para lealdades especiais -
19:28 - 19:32e obrigações para com as pessoas,
para o próprio país. -
19:32 - 19:36Não acho que alguém esteja
a pensar em abolir isso. -
19:36 - 19:39Mas para confrontar a alteração climática,
-
19:39 - 19:43precisamos de lealdades
e compromissos adicionais -
19:43 - 19:45a um nível para além da nação.
-
19:45 - 19:48Isso não devia ser impossível,
-
19:48 - 19:51porque as pessoas podem ter
vários níveis de lealdade. -
19:52 - 19:54Podemos ser leais à nossa família,
-
19:54 - 19:55à nossa comunidade
-
19:55 - 19:57e à nossa nação.
-
19:57 - 20:00Então porque não podemos ser leais
à humanidade como um todo? -
20:00 - 20:04Claro que há ocasiões
em que se torna difícil -
20:04 - 20:06o que pôr em primeiro lugar,
-
20:06 - 20:08mas a vida é difícil.
-
20:08 - 20:09Lidem com isso.
-
20:09 - 20:12(Risos)
-
20:11 - 20:16CA: Gostaria de ouvir
algumas perguntas da audiência. -
20:16 - 20:18Temos aqui um microfone.
-
20:18 - 20:21Falem para ele, e continuem
a enviar através do Facebook. -
20:21 - 20:24Howard Morgan: Uma das coisas que fez
claramente, uma grande diferença, -
20:25 - 20:26neste e noutros países
-
20:26 - 20:29é a desigualdade na
distribuição dos salários, -
20:29 - 20:32a mudança drástica
na distribuição dos salários -
20:32 - 20:35em relação ao que era há 50 anos,
-
20:35 - 20:36nos EUA e em todo o mundo.
-
20:36 - 20:39Há alguma coisa que possamos fazer?
-
20:39 - 20:42Porque isso tem muito a ver
com as causas subjacentes. -
20:44 - 20:50YNH: Até agora, ainda não ouvi uma boa
ideia sobre o que fazer em relação a isso, -
20:50 - 20:53em parte porque a maior parte
das ideias são a nível nacional, -
20:53 - 20:55e o problema é global.
-
20:55 - 20:58Quero dizer, uma ideia
que ouvimos muito agora -
20:58 - 21:00é o salário básico universal.
-
21:00 - 21:01Mas isso é um problema.
-
21:01 - 21:03Acho que é um bom começo,
-
21:03 - 21:07mas é uma ideia problemática,
porque não é claro o que é "universal" -
21:07 - 21:08e não é claro o que é "básico".
-
21:09 - 21:12A maior parte das pessoas, quando falam
em salário básico universal, -
21:12 - 21:15o que querem dizer
é salário básico nacional. -
21:15 - 21:16Mas o problema é global.
-
21:17 - 21:20Digamos que há a inteligência
artificial e as impressoras 3D -
21:20 - 21:23a tirar milhões de empregos
no Bangladeche, -
21:23 - 21:26às pessoas que fazem
as minhas blusas e os meus sapatos. -
21:27 - 21:28O que vai acontecer?
-
21:28 - 21:34O governo dos EUA irá cobrar impostos
na Google e na Apple na Califórnia, -
21:34 - 21:39e usar isso para pagar o salário básico
aos desempregados do Bangladeche? -
21:39 - 21:42Se acreditarem nisso,
podem muito bem acreditar -
21:42 - 21:45que o Pai Natal aparece
e resolve o problema. -
21:46 - 21:51A não ser que tenhamos um salário
básico universal e não nacional, -
21:51 - 21:54os problemas mais profundos
não vão acabar. -
21:54 - 21:56E ainda não é claro o que é "básico",
-
21:56 - 21:59porque quais são as necessidades
básicas dos seres humanos? -
21:59 - 22:02Há mil anos, eram apenas comida e abrigo.
-
22:02 - 22:06Mas hoje, as pessoas dizem
que a educação é uma necessidade básica, -
22:06 - 22:07deve fazer parte do pacote.
-
22:07 - 22:11Mas quanto? Seis anos?
Doze anos? Doutoramento? -
22:11 - 22:13O mesmo se passa com a saúde,
-
22:13 - 22:16Digamos que, dentro de 20, 30, 40 anos,
-
22:16 - 22:19poderá haver tratamentos caros
que prolongam a vida humana -
22:19 - 22:21até aos 120 anos, não sei.
-
22:21 - 22:26Isso fará parte do salário básico ou não?
-
22:27 - 22:28É um problema muito difícil,
-
22:28 - 22:31porque num mundo onde as pessoas
-
22:31 - 22:34perdem a possibilidade
de arranjar emprego, -
22:34 - 22:38a única coisa que vão ter
é um salário básico. -
22:39 - 22:43Então, saber o que fará parte dele
é uma questão ética muito complicada. -
22:43 - 22:47CA: Há também muitas perguntas
sobre como o mundo paga isso, -
22:46 - 22:48quem paga.
-
22:48 - 22:50Há uma pergunta no Facebook
da Lisa Larson: -
22:50 - 22:53"Como é que o nacionalismo nos EUA agora
-
22:53 - 22:56"se compara com o que houve entre
a I e a II Guerras Mundiais -
22:56 - 22:58"nos últimos cem anos?"
-
22:58 - 23:02YNH: Bem, felizmente, considerando
os perigos do nacionalismo, -
23:02 - 23:06estamos numa posição muito melhor
do que há cem anos. -
23:06 - 23:09Há cem anos, em 1917,
-
23:09 - 23:12os europeus estavam a matar-se
uns aos outros aos milhões. -
23:12 - 23:16Em 2016, com o "Brexit",
que me lembre, -
23:17 - 23:22só uma pessoa perdeu a vida, um membro
do parlamento foi morto por um extremista. -
23:22 - 23:23Só uma pessoa.
-
23:23 - 23:26Se o "Brexit" fosse sobre
a independência britânica, -
23:26 - 23:31esta é a guerra da independência
mais pacífica da história humana. -
23:32 - 23:36Digamos que a Escócia
escolhe sair do Reino Unido -
23:37 - 23:39depois do "Brexit".
-
23:39 - 23:42No século XVIII,
se a Escócia quisesse sair -
23:42 - 23:44do controlo de Londres,
-
23:44 - 23:48— e os escoceses quiseram várias vezes —
-
23:48 - 23:53a reacção do governo em Londres
seria enviar um exército para norte -
23:52 - 23:55para deitar abaixo Edimburgo
e massacrar as tribos das montanhas. -
23:56 - 24:02O meu palpite é que, se em 2018,
os escoceses votarem pela independência, -
24:01 - 24:04o governo de Londres
não vai enviar um exército para norte -
24:04 - 24:06para deitar abaixo Edimburgo.
-
24:06 - 24:10Muito poucas pessoas estão agora
dispostas a matar ou morrer -
24:10 - 24:13pela independência escocesa ou britânica.
-
24:14 - 24:18Todas as conversas sobre
a ascensão do nacionalismo -
24:18 - 24:20e voltar aos anos 30,
-
24:20 - 24:24para o século XIX,
no Ocidente, pelo menos, -
24:26 - 24:31o poder dos sentimentos nacionais hoje
é muito mais pequeno -
24:31 - 24:33do que era há um século.
-
24:33 - 24:36CA: Apesar de algumas pessoas agora,
há uma preocupação pública -
24:36 - 24:39sobre se isso deverá estar a mudar,
-
24:39 - 24:42que pode haver surtos
de violência nos EUA -
24:42 - 24:45dependendo de como as coisas correm.
-
24:45 - 24:47Devemos estar preocupados com isso,
-
24:47 - 24:48ou achamos mesmo que as coisas mudaram?
-
24:48 - 24:50YNH: Devemos estar preocupados.
-
24:50 - 24:52Devemos estar cientes de duas coisas.
-
24:52 - 24:53Primeiro, não fiquem histéricos.
-
24:54 - 24:57Ainda não estamos a voltar
à I Guerra Mundial. -
24:57 - 25:00Mas, por outro lado,
não sejam complacentes. -
25:00 - 25:05Chegámos de 1917 a 2017,
-
25:05 - 25:07não por milagre divino,
-
25:07 - 25:10mas simplesmente por decisões humanas,
-
25:10 - 25:12e se começarmos agora a tomar
as decisões erradas, -
25:12 - 25:17podemos voltar a uma situação
análoga à de 1917 -
25:17 - 25:18daqui a uns anos.
-
25:18 - 25:21Uma das coisas que sei como historiador
-
25:21 - 25:24é que nunca devemos subestimar
a estupidez humana. -
25:24 - 25:27(Risos)
-
25:27 - 25:30É uma das forças
mais poderosas da história, -
25:30 - 25:33a estupidez e a violência humanas.
-
25:33 - 25:37Os seres humanos fazem loucuras
sem nenhuma razão óbvia, -
25:37 - 25:38mas, ao mesmo tempo,
-
25:39 - 25:42outra força poderosa da história humana
é a sabedoria humana. -
25:42 - 25:43Temos as duas coisas.
-
25:43 - 25:46CA: Temos aqui connosco
o psicólogo moral Jonathan Haidt, -
25:46 - 25:48que, penso, tem uma pergunta.
-
25:49 - 25:50Jonathan Haidt: Obrigado, Yuval.
-
25:50 - 25:53Parece que é um fã da governação global,
-
25:53 - 25:56mas quando olhamos para o mapa do mundo
da Transparência Internacional, -
25:56 - 26:00que avalia o nível de corrupção
de instituições políticas, -
26:00 - 26:03é um vasto mar de vermelho com
pequenos bocados de amarelo aqui e ali -
26:03 - 26:05para aqueles com boas instituições.
-
26:05 - 26:07Se tivéssemos algum tipo
de governação global, -
26:07 - 26:10o que o faz pensar que acabaria
por ser mais como a Dinamarca -
26:10 - 26:12do que como a Rússia ou as Honduras.
-
26:12 - 26:13E não há alternativas,
-
26:13 - 26:16como fizemos com os CFC?
-
26:16 - 26:19Há maneiras de resolver problemas globais
com governos nacionais. -
26:19 - 26:21Como seria o governo mundial,
-
26:21 - 26:23e porque acha que funcionaria?
-
26:23 - 26:26YNH: Bem, não sei como seria.
-
26:26 - 26:29Ainda ninguém tem um modelo para isso.
-
26:30 - 26:32A principal razão de precisarmos disso
-
26:32 - 26:36é porque muitos destes problemas
são situações em que os dois lados perdem. -
26:36 - 26:40Quando temos uma situação em que
os dois ganham, como no comércio, -
26:40 - 26:42ambos os lados podem beneficiar
com um acordo de troca, -
26:42 - 26:45então isso é algo que pode ser trabalhado.
-
26:45 - 26:47Sem um tipo qualquer de governo global,
-
26:47 - 26:50cada governo nacional
tem interesse em fazê-lo. -
26:50 - 26:54Mas quando há uma situação em que ambos
perdem, como é a alteração climática, -
26:54 - 26:56é muito mais difícil
-
26:56 - 27:00sem uma autoridade abrangente,
uma autoridade real. -
27:00 - 27:04Agora, como chegar lá
e como seria, não sei. -
27:06 - 27:08Certamente, não há uma razão óbvia
-
27:08 - 27:11para pensar que seria como a Dinamarca,
-
27:11 - 27:13ou que seria uma democracia.
-
27:13 - 27:15Muito provavelmente, não seria.
-
27:16 - 27:21Não temos modelos democráticos
-
27:21 - 27:23que resultem para um governo global.
-
27:23 - 27:26Talvez parecesse mais
como uma China antiga -
27:26 - 27:28do que com uma Dinamarca moderna.
-
27:28 - 27:33Mesmo assim, dados
os perigos que enfrentamos, -
27:33 - 27:38acho que haver alguma capacidade a sério
-
27:38 - 27:42para atravessar decisões difíceis
a nível global -
27:43 - 27:46é mais importante
do que qualquer outra coisa. -
27:48 - 27:50CA: Temos aqui uma pergunta no Facebook,
-
27:50 - 27:52e depois damos o microfone ao Andrew.
-
27:52 - 27:55Kat Hebron no Facebook
está a ligar de Vail: -
27:56 - 27:58"Como é que as nações desenvolvidas
-
27:58 - 28:01"vão gerir os milhões
de migrantes climáticos?" -
28:01 - 28:03YNH: Não sei.
-
28:03 - 28:05CA: Esta é a sua resposta, Kat.
-
28:05 - 28:07YNH: E acho que eles também não sabem.
-
28:07 - 28:09Talvez neguem simplesmente o problema.
-
28:09 - 28:12CA: Mas a imigração
é outro exemplo de um problema -
28:12 - 28:14muito difícil de resolver
numa base nação-a-nação. -
28:14 - 28:16Uma nação pode fechar as portas,
-
28:16 - 28:19mas talvez isso acumule
problemas para o futuro. -
28:20 - 28:22YNH: Sim, é outro caso muito bom,
-
28:23 - 28:25especialmente porque é muito mais fácil
-
28:25 - 28:27migrar hoje em dia
-
28:27 - 28:30do que era na Idade Média
ou na Antiguidade. -
28:31 - 28:35CA: Yuval, há uma crença
entre muitos tecnólogos -
28:35 - 28:37que os problemas políticos
são exagerados, -
28:37 - 28:41que os líderes políticos
não têm assim muita influência -
28:41 - 28:42no mundo,
-
28:42 - 28:46que a única solução da humanidade
neste ponto é através da ciência, -
28:46 - 28:48através da invenção, das empresas
-
28:48 - 28:52através de muitas coisas
mas não de líderes políticos, -
28:52 - 28:54e é muito difícil que os líderes
façam alguma coisa. -
28:54 - 28:58Portanto, estamos aqui
preocupados para nada. -
28:58 - 29:00YNH: Bem, primeiro, deve ser realçado
-
29:00 - 29:05que é verdade que a capacidade dos líderes
políticos para fazer o bem é limitado, -
29:05 - 29:08mas a sua capacidade
para fazer o mal é ilimitada. -
29:08 - 29:11Há aqui um desequilíbrio.
-
29:12 - 29:15Podemos carregar num botão
e estourar com toda a gente. -
29:15 - 29:16Temos essa capacidade.
-
29:16 - 29:20Mas se quisermos, por exemplo,
reduzir a desigualdade, -
29:20 - 29:22isso é muito, muito difícil.
-
29:22 - 29:23Mas para começar uma guerra,
-
29:23 - 29:25podemos fazê-lo muito facilmente.
-
29:25 - 29:29Há um desequilíbrio inculcado
no sistema político hoje em dia -
29:29 - 29:30que é muito frustrante,
-
29:30 - 29:35em que não podemos fazer muito o bem,
mas podemos fazer muito o mal. -
29:35 - 29:39Isto faz com que o sistema político
seja uma grande preocupação. -
29:40 - 29:42CA: Então, enquanto vê
o que está a acontecer hoje -
29:42 - 29:44e põe o chapéu de historiador,
-
29:44 - 29:47costuma recuar na história para momentos
em que as coisas corriam bem -
29:47 - 29:53e um líder individual
fez recuar o mundo ou o país? -
29:53 - 29:56YNH: Há alguns exemplos,
-
29:56 - 29:59mas devo sublinhar
que nunca é um líder individual. -
29:59 - 30:01alguém o pôs lá,
-
30:01 - 30:04e alguém permitiu que ele continuasse lá.
-
30:04 - 30:08Então, a culpa nunca é
de um indivíduo apenas. -
30:08 - 30:12Há muitas pessoas por detrás
de cada um desses indivíduos. -
30:13 - 30:16CA: Podemos trazer o microfone
para aqui, para o Andrew? -
30:19 - 30:22Andrew Solomon: Falou muito
de global "versus" nacional, -
30:22 - 30:24mas cada vez mais me parece
-
30:24 - 30:27que a situação do mundo
está nas mãos de grupos de identidade. -
30:27 - 30:29Vemos pessoas nos EUA
-
30:29 - 30:31que foram recrutadas pelo Estado Islâmico.
-
30:31 - 30:33Vemos outros grupos que se formaram
-
30:33 - 30:35que saem das fronteiras nacionais
-
30:35 - 30:38mas que representam
autoridades significativas. -
30:38 - 30:40Como é que podem ser
integrados no sistema, -
30:40 - 30:44e como é que identidades
tão diversas podem ser coerentes -
30:44 - 30:46sob uma liderança nacional ou global?
-
30:47 - 30:51YNH: Bem, o problema
dessas identidades diversas -
30:51 - 30:53é, também, um problema do nacionalismo.
-
30:54 - 30:58O nacionalismo acredita
numa identidade única e monolítica. -
30:58 - 31:02Pelo menos, as versões
mais extremas do nacionalismo -
31:02 - 31:05acreditam numa lealdade exclusiva
a uma única identidade. -
31:05 - 31:08Desde modo, o nacionalismo
tem tido muitos problemas -
31:08 - 31:11com pessoas que querem
dividir as suas identidades -
31:11 - 31:13entre vários grupos.
-
31:14 - 31:18Então, não é só um problema
de visão global. -
31:19 - 31:22Penso que a História mostra
-
31:22 - 31:28que não devemos pensar
em termos tão exclusivos. -
31:29 - 31:32Se pensarmos que só há
uma identidade para uma pessoa, -
31:32 - 31:37"eu sou X e pronto, não posso ser
várias coisas, sou apenas isto" -
31:37 - 31:39é o início do problema.
-
31:40 - 31:42Temos várias religiões, temos nações
-
31:42 - 31:45que, por vezes, exigem
uma lealdade exclusiva, -
31:45 - 31:47mas não é a única opção.
-
31:47 - 31:50Há muitas religiões e muitas nações
-
31:50 - 31:53que nos permitem ter várias identidades
ao mesmo tempo. -
31:53 - 31:58CA: É uma explicação para
o que aconteceu no ano passado, -
31:58 - 32:04em que um grupo de pessoas
se chateou com as elites liberais, -
32:04 - 32:06por quererem melhores condições,
-
32:06 - 32:10obcecadas com muitas identidades
diferentes e sentindo: -
32:11 - 32:14"E a minha identidade?
Estou a ser totalmente ignorado. -
32:14 - 32:17"E, já agora, eu pensava
que eu era a maioria." -
32:18 - 32:20Isso levou realmente a muita revolta.
-
32:21 - 32:24YNH: Sim. A identidade
é sempre problemática, -
32:24 - 32:28porque é sempre baseada
em histórias fictícias -
32:28 - 32:32que, mais cedo ou mais tarde,
colidem com a realidade. -
32:32 - 32:34Quase todas as identidades,
-
32:34 - 32:37para além do nível
da comunidade mais básica -
32:37 - 32:38de algumas dezenas de pessoas,
-
32:38 - 32:40baseiam-se numa história fictícia.
-
32:40 - 32:42Não são a verdade.
-
32:42 - 32:43Não são a realidade.
-
32:43 - 32:47É só uma história que as pessoas inventam
para contarem aos outros -
32:47 - 32:48e começarem a acreditar.
-
32:49 - 32:53Assim sendo, todas as identidades
são extremamente instáveis. -
32:53 - 32:56Não são uma realidade biológica.
-
32:56 - 32:58Por exemplo, às vezes, os nacionalistas
-
32:58 - 33:01acham que a nação
é uma entidade biológica. -
33:01 - 33:06É feita da combinação de solo e sangue,
que cria a nação. -
33:06 - 33:09Mas isto é só uma história fictícia.
-
33:09 - 33:12CA: O solo e o sangue fazem
uma espécie de lama pegajosa. -
33:12 - 33:14(Risos)
-
33:14 - 33:17YNH: Pois faz, e também mexe
com a nossa mente -
33:17 - 33:22quando pensamos demasiado
que somos uma combinação de solo e sangue. -
33:22 - 33:24Se virmos de uma perspectiva biológica,
-
33:24 - 33:28obviamente, nenhuma das nações
que existem hoje, -
33:28 - 33:30existiam há 5000 anos.
-
33:30 - 33:34O "Homo sapiens" é um animal social,
disso não há dúvidas. -
33:34 - 33:37Mas durante milhões de anos,
-
33:37 - 33:40o "Homo sapiens"
e os nossos antepassados hominídeos -
33:40 - 33:43viveram em comunidades pequenas
de algumas dezenas de indivíduos. -
33:44 - 33:46Todos se conheciam uns aos outros.
-
33:46 - 33:50Enquanto que as nações modernas
são comunidades imaginadas, -
33:50 - 33:52no sentido de que não conhecemos
todas as pessoas. -
33:53 - 33:55Eu venho de uma nação
relativamente pequena, Israel, -
33:55 - 33:57e, dos oito milhões de israelitas,
-
33:57 - 34:00não conheço a maior parte.
-
34:00 - 34:02Nunca vou conhecer a maior parte deles.
-
34:02 - 34:04Basicamente, eles existem aqui.
-
34:05 - 34:07CA: Mas em termos desta identidade,
-
34:07 - 34:13este grupo que se sente excluído
e provavelmente ficou sem trabalho, -
34:13 - 34:18— em "Homo Deus", fala deste grupo
num sentido alargado -
34:18 - 34:22de tantas pessoas que podem
perder os seus empregos -
34:22 - 34:23para a tecnologia,
-
34:24 - 34:27de modo que podemos acabar
com uma grande classe -
34:27 - 34:29— acho que lhe chama "classe inútil" —
-
34:30 - 34:32uma classe que, normalmente,
-
34:32 - 34:34aos olhos da economia,
não tem utilidade. -
34:34 - 34:35YNH: Sim.
-
34:36 - 34:38CA: Quão provável é essa possibilidade?
-
34:38 - 34:41É algo que nos deve amedrontar?
-
34:41 - 34:44Há alguma maneira
de podermos resolver isso? -
34:44 - 34:46YNH: Devemos pensar nisso
com muito cuidado. -
34:46 - 34:49Ninguém sabe como vai ser
o mercado de trabalho -
34:49 - 34:51em 2040, 2050.
-
34:51 - 34:53Há uma hipótese de aparecerem
muitos novos empregos, -
34:53 - 34:55mas não é certo.
-
34:55 - 34:57E mesmo que apareçam novos empregos,
-
34:58 - 34:59não será necessariamente fácil
-
35:00 - 35:03para um condutor de camiões
com 50 anos, desempregado, -
35:03 - 35:06que ficou desempregado por causa
dos veículos que se conduzem sozinhos, -
35:06 - 35:09não será fácil para um
condutor de camiões desempregado -
35:09 - 35:14reinventar-se como um "designer"
de mundos virtuais. -
35:14 - 35:18Anteriormente, se virmos a trajectória
na revolução industrial, -
35:19 - 35:22quando as máquinas substituíram
os seres humanos num tipo de trabalho, -
35:23 - 35:27a solução veio de trabalho
com poucas habilitações -
35:27 - 35:29em novas linhas de negócio.
-
35:30 - 35:33Quando já não precisávamos
de trabalhadores rurais, -
35:33 - 35:38as pessoas mudaram para trabalhos
industriais não especializados. -
35:38 - 35:41Quando esses trabalhos foram sendo
substituídos pelas máquinas, -
35:41 - 35:45as pessoas mudaram para trabalhos
de serviços não especializados. -
35:45 - 35:48Quando as pessoas dizem
que, no futuro, vai haver novos trabalhos -
35:48 - 35:51que as pessoas podem fazer melhor
que a inteligência artificial, -
35:51 - 35:53que as pessoas podem fazer
melhor que os robôs, -
35:53 - 35:56pensam em trabalhos
muito especializados, -
35:56 - 35:59como engenheiros de "software"
que constroem mundos virtuais. -
35:59 - 36:04Mas eu não vejo como um trabalhador
de caixa do Wal-Mart -
36:04 - 36:09se reinventa aos 50 anos
como "designer" de mundos virtuais, -
36:09 - 36:11e certamente não vejo
-
36:11 - 36:14como os milhões de desempregados
do Bangladeche no sector têxtil -
36:14 - 36:16vão poder fazer isso.
-
36:16 - 36:18Para o poderem fazer,
-
36:18 - 36:21é preciso começar a ensinar
aos bengaleses hoje -
36:21 - 36:23a serem "designers" de "software",
-
36:23 - 36:24e não o estamos a fazer.
-
36:24 - 36:27Então, o que vão eles fazer
daqui a 20 anos? -
36:27 - 36:30CA: Então, parece que está
a destacar uma questão -
36:30 - 36:34que me tem incomodado cada vez mais
nos últimos meses. -
36:35 - 36:37É uma questão difícil
de perguntar publicamente, -
36:37 - 36:41mas se alguém tem sabedoria
para nos esclarecer, talvez seja você, -
36:41 - 36:42por isso, vou perguntar-lhe:
-
36:42 - 36:45Para que servem os seres humanos?
-
36:45 - 36:47YNH: Até onde sabemos, para nada.
-
36:48 - 36:49(Risos)
-
36:49 - 36:54Não há um grande drama cósmico,
nenhum grande plano cósmico, -
36:54 - 36:57no qual tenhamos de ter um papel.
-
36:58 - 37:00Só temos de descobrir qual é o nosso papel
-
37:00 - 37:03e depois fazê-lo o melhor que conseguimos.
-
37:04 - 37:08Esta tem sido a história de todas
as religiões e ideologias, -
37:08 - 37:12mas como cientista, o melhor
que posso dizer é que isso não é verdade. -
37:12 - 37:17Não há um drama universal
com um papel para o "Homo sapiens". -
37:19 - 37:21CA: Vou interrompê-lo só por um minuto.
-
37:22 - 37:24No seu livro, o "Homo Deus",
-
37:24 - 37:29dá uma das definições
mais coerentes e compreensíveis -
37:29 - 37:31da sensibilidade, da consciência,
-
37:31 - 37:34dessas capacidades humanas únicas.
-
37:34 - 37:37Assinala que é diferente da inteligência,
-
37:37 - 37:39a inteligência que estamos
a construir em máquinas, -
37:39 - 37:43e há realmente um grande mistério
à volta disto. -
37:43 - 37:46Como pode ter a certeza
que não há uma intenção -
37:46 - 37:50quando nem sequer compreendemos
o que é a sensibilidade? -
37:50 - 37:53No seu pensamento,
não há uma hipótese -
37:53 - 37:57de que os seres humanos servem
para ser as coisas sensíveis do universo, -
37:58 - 38:01para serem o centro da alegria e do amor,
da felicidade e da esperança? -
38:01 - 38:04Será possível construir máquinas
que ajudem a aumentar isso, -
38:04 - 38:06mesmo que não se tornem sensíveis?
-
38:06 - 38:07Isto é loucura?
-
38:08 - 38:11Dei por mim a ter esperança
que isso aconteça, ao ler o seu livro. -
38:11 - 38:15YNH: Certamente que penso que a
questão mais interessante hoje na ciência -
38:15 - 38:18é a questão da consciência e da mente.
-
38:18 - 38:21Estamos a melhorar cada vez mais
na compreensão do cérebro -
38:21 - 38:22e da inteligência,
-
38:22 - 38:25mas não estamos a melhorar tanto
-
38:25 - 38:27na compreensão da mente e da consciência.
-
38:27 - 38:31As pessoas confundem
a inteligência e a consciência, -
38:31 - 38:33especialmente em sítios
como Sillicon Valley, -
38:33 - 38:37o que é compreensível,
porque, nos seres humanos, andam juntas. -
38:37 - 38:40A inteligência basicamente
é a capacidade para resolver problemas. -
38:40 - 38:43A consciência é a capacidade
para sentir as coisas, -
38:43 - 38:48para sentir alegria e a tristeza,
o aborrecimento e a dor. -
38:48 - 38:52No "Homo sapiens" e em todos os outros
mamíferos — não é só nos seres humanos — -
38:52 - 38:55em todos os outros mamíferos,
nas aves e nalguns outros animais, -
38:55 - 38:58a inteligência e a consciência
andam juntas. -
38:58 - 39:01Muitas vezes, resolvemos as coisas
sentindo as coisas. -
39:01 - 39:03Então, tendemos a confundi-las.
-
39:03 - 39:04Mas são coisas diferentes.
-
39:04 - 39:07O que acontece hoje,
em sítios como em Sillicon Valley, -
39:07 - 39:11é que estamos a criar
inteligência artificial -
39:11 - 39:13mas não consciência artificial.
-
39:13 - 39:16Houve um desenvolvimento incrível
na inteligência de computadores, -
39:16 - 39:18nos últimos 50 anos,
-
39:18 - 39:22e nenhum desenvolvimento
na consciência de computadores, -
39:22 - 39:26e não há nenhum indicador que
os computadores venham a ser conscientes -
39:26 - 39:28num futuro próximo.
-
39:29 - 39:34Primeiro que tudo, se há algum
papel cósmico para a consciência, -
39:34 - 39:36esse papel não é exclusivo
do "Homo sapiens". -
39:36 - 39:39As vacas são conscientes,
os porcos são conscientes, -
39:39 - 39:41os chimpanzés são conscientes,
as galinhas são conscientes. -
39:42 - 39:45Se queremos ir por aí, primeiro
que tudo, temos de alargar os horizontes -
39:45 - 39:50e lembrarmo-nos que não somos
os únicos seres sensíveis na Terra, -
39:50 - 39:52e quando falamos de sensibilidade...
-
39:52 - 39:55Quando falamos de inteligência,
não há nenhuma razão para pensar -
39:55 - 39:58que somos os mais inteligentes de todos.
-
39:58 - 40:01Mas quando falamos de sensibilidade,
-
40:01 - 40:04dizer que os seres humanos
são mais sensíveis que as baleias, -
40:04 - 40:08ou mais sensíveis que os babuínos,
ou mais sensíveis que os gatos, -
40:08 - 40:10não vejo provas disso.
-
40:11 - 40:14Então, o primeiro passo é,
ir nessa direcção e expandir. -
40:14 - 40:18E a segunda questão de para que serve,
-
40:18 - 40:20eu invertê-la-ia
-
40:20 - 40:24e diria que não acho que a sensibilidade
seja para alguma coisa. -
40:25 - 40:29Acho que não precisamos de encontrar
o nosso papel no universo. -
40:29 - 40:34A coisa mais importante
é libertarmo-nos do sofrimento. -
40:34 - 40:37O que caracteriza os seres sensíveis
-
40:37 - 40:40em contraste com os robôs, com as pedras,
-
40:40 - 40:42com o que quer que seja,
-
40:42 - 40:45é que os seres sensíveis sofrem,
podem sofrer, -
40:45 - 40:48e deviam-se concentrar
-
40:48 - 40:52não em encontrar o seu lugar
num drama cósmico misterioso, -
40:52 - 40:56deviam focar-se em compreender
o que é o sofrimento, -
40:56 - 40:59o que o causa e como
se podem libertar disso. -
41:00 - 41:03CA: Sei que esta é uma grande questão
para si, e isso foi muito eloquente. -
41:03 - 41:06Vamos ter muitas perguntas da audiência
-
41:07 - 41:08e talvez também do Facebook,
-
41:08 - 41:10e talvez alguns comentários também.
-
41:10 - 41:12Então, vamos rapidamente.
-
41:12 - 41:14Temos uma aqui.
-
41:15 - 41:18Mantenham as mãos no ar aí atrás
se quiserem o microfone, -
41:18 - 41:19e chegaremos a vocês.
-
41:20 - 41:22No seu trabalho,
fala muito sobre histórias fictícias -
41:22 - 41:25que aceitamos como verdadeiras
-
41:25 - 41:26e vivemos a vida em função disso.
-
41:26 - 41:28Como indivíduo, sabendo disso,
-
41:28 - 41:32como é que isso tem impacto nas histórias
que escolhe para viver a sua vida? -
41:33 - 41:35Confunde-as com a verdade,
como todos nós? -
41:36 - 41:38YNH: Tento não confundir.
-
41:38 - 41:40Para mim, talvez a questão
mais importante, -
41:40 - 41:43como cientista e pessoa,
-
41:43 - 41:47seja como diferenciar
a ficção da realidade, -
41:47 - 41:49porque a realidade está lá.
-
41:49 - 41:51Não estou a dizer que tudo é ficção.
-
41:51 - 41:54É muito difícil
os seres humanos diferenciarem -
41:54 - 41:56entre a ficção e a realidade.
-
41:56 - 42:01E isso tornou-se cada vez mais difícil
à medida que a história avançou, -
42:01 - 42:04porque as ficções que criámos
-
42:04 - 42:07— nações, deuses, dinheiro, empresas—
-
42:07 - 42:08controlam agora o mundo.
-
42:08 - 42:10Então, é muito difícil pensar:
-
42:10 - 42:13"Isto são só entidades
fictícias que criámos", -
42:14 - 42:16Mas a realidade está lá.
-
42:17 - 42:19Para mim, o melhor...
-
42:19 - 42:21Há muitos testes
-
42:22 - 42:24para dizer a diferença
entre a ficção e a realidade. -
42:24 - 42:27O mais simples, o melhor que posso
contar resumidamente, -
42:27 - 42:29é o teste do sofrimento.
-
42:29 - 42:31Se pode sofrer, é real.
-
42:31 - 42:33Se não pode sofrer, não é real.
-
42:33 - 42:36Uma nação não pode sofrer.
Isso é muito, muito claro. -
42:36 - 42:39Quando uma nação perde
uma guerra e dizemos: -
42:39 - 42:42"A Alemanha foi derrotada
na I Guerra Mundial", -
42:42 - 42:43isso é uma metáfora.
-
42:43 - 42:46A Alemanha não pode sofrer.
A Alemanha não tem mente. -
42:46 - 42:48A Alemanha não tem consciência.
-
42:48 - 42:51Os alemães podem sofrer,
mas a Alemanha não. -
42:51 - 42:54Do mesmo modo,
quando um banco vai à falência, -
42:54 - 42:56o banco não pode sofrer.
-
42:56 - 42:59Quando o dólar perde
o seu valor, não sofre. -
42:59 - 43:02As pessoas sofrem.
Os animais sofrem. -
43:02 - 43:03Isto é real.
-
43:04 - 43:07Então, se quisermos
mesmo ver a realidade, -
43:07 - 43:10eu começaria pela porta do sofrimento.
-
43:10 - 43:12Se conseguirmos entender
o que é o sofrimento, -
43:12 - 43:15isto dar-nos-á a chave
-
43:15 - 43:17para entender o que é a realidade.
-
43:17 - 43:19CA: Há uma pergunta no Facebook
relacionada com isto, -
43:20 - 43:22de alguém cuja língua não consigo ler.
-
43:22 - 43:25- É hebraico.
- Hebraico. Lá está. -
43:25 - 43:26(Risos)
-
43:26 - 43:27Pode ler o nome?
-
43:27 - 43:29YNH: Or Lauterbach Goren.
-
43:29 - 43:31CA: Bem, obrigado por nos ter escrito.
-
43:31 - 43:35A pergunta é: "A era pós-verdade
é mesmo uma nova era? -
43:35 - 43:40"Ou apenas outro clímax ou momento
numa tendência que nunca acaba?" -
43:41 - 43:44YNH: Pessoalmente, não me identifico
com esta ideia da pós-verdade. -
43:44 - 43:47A minha reacção básica como historiador é:
-
43:47 - 43:51Se esta é a era da pós-verdade,
quando foi a era da verdade? -
43:51 - 43:52CA: Certo.
-
43:52 - 43:53(Risos)
-
43:53 - 43:58YNH: Foi nos anos 80, nos anos 50,
na Idade Média? -
43:59 - 44:03Vivemos sempre numa era,
de certo modo, de pós-verdade. -
44:03 - 44:05CA: Mas eu voltaria atrás,
-
44:05 - 44:08porque acho que
o que as pessoas estão a dizer -
44:08 - 44:15é que havia um mundo onde havia
menos meios jornalísticos, -
44:15 - 44:19onde havia a tradição
de que as coisas eram verificadas de facto. -
44:19 - 44:23Estava incorporado no contrato
dessas organizações -
44:23 - 44:25que a verdade é importante.
-
44:25 - 44:27Se acreditarmos na realidade,
-
44:27 - 44:29o que escrevemos é informação.
-
44:29 - 44:32Há a crença de que a informação devia
estar ligada à realidade num modo real, -
44:33 - 44:36e se escrevêssemos um título,
seria uma tentativa séria -
44:36 - 44:38para reflectir algo
que realmente aconteceu. -
44:38 - 44:40E as pessoas nem sempre entendem.
-
44:40 - 44:42Mas acho que a preocupação agora
-
44:42 - 44:45é que temos um sistema tecnológico
incrivelmente poderoso -
44:45 - 44:48que, durante uns tempos,
ampliou tudo em massa -
44:48 - 44:51sem prestar atenção se se
relacionou com a realidade, -
44:51 - 44:54ou se apenas se relacionou
com os cliques e a atenção, -
44:54 - 44:56e que isso foi indiscutivelmente tóxico.
-
44:56 - 44:58É uma preocupação razoável, não é?
-
44:59 - 45:01YNH: Sim, é. A tecnologia muda
-
45:01 - 45:06e agora é mais fácil disseminar
a verdade, a ficção e a falsidade. -
45:06 - 45:08Dá para ambos os lados.
-
45:08 - 45:12Também é mais fácil
espalhar a verdade do que era antes. -
45:13 - 45:16Mas não acho que haja nada de novo
-
45:16 - 45:21sobre esta disseminação
de ficções e erros. -
45:21 - 45:25Não há nada que
Joseph Goebbels não soubesse -
45:25 - 45:30sobre toda esta ideia
de notícias falsas e pós-verdade. -
45:31 - 45:34Ele disse que, se repetirmos
uma mentira, muitas vezes, -
45:34 - 45:36as pessoas pensam que é verdade,
-
45:36 - 45:39e quanto maior for a mentira, melhor,
-
45:39 - 45:44porque as pessoas nem sequer pensam
que algo tão grande possa ser uma mentira. -
45:45 - 45:50Acho que as notícias falsas têm
estado connosco durante milhares de anos. -
45:50 - 45:52Pensem na Bíblia.
-
45:52 - 45:54(Risos)
-
45:54 - 45:55CA: Mas há a preocupação
-
45:55 - 45:59que as notícias falsas estão associadas
aos regimes tirânicos, -
45:59 - 46:02e quando vemos um aumento
de notícias falsas -
46:02 - 46:06isso é um sinal de que podem
estar a vir tempos difíceis. -
46:08 - 46:15YNH: Sim. o uso intencional
de notícias falsas é um sinal perturbador. -
46:16 - 46:20Mas não estou a dizer que não é mau,
só estou a dizer que não é novo. -
46:21 - 46:24CA: Há muito interesse
no Facebook nesta questão -
46:24 - 46:28sobre o governo global
"versus" o nacionalismo. -
46:29 - 46:31Pergunta aqui do Phil Dennis:
-
46:31 - 46:35"Como é que fazemos com que as pessoas,
os governos abandonem o poder?" -
46:35 - 46:40Bem, o texto é tão grande
que não posso ler a pergunta toda. -
46:40 - 46:42Mas isso é mesmo necessário?
-
46:42 - 46:44Vai ser necessária uma guerra
para chegarmos lá? -
46:44 - 46:48Desculpe, Phil, cortei a sua pergunta,
mas a culpa é do texto. -
46:48 - 46:50YNH: Uma opção em que as pessoas falam
-
46:50 - 46:54é que apenas uma catástrofe
pode acordar a humanidade -
46:55 - 47:00e abrir o caminho para um sistema real
de governação global, -
47:00 - 47:04e dizem que não podemos fazê-lo
antes dessa catástrofe, -
47:04 - 47:07mas temos de começar
a estabelecer as fundações -
47:07 - 47:09para que, quando o desastre acontecer,
-
47:10 - 47:12possamos reagir rapidamente.
-
47:12 - 47:16Mas as pessoas não terão
a motivação necessária para o fazer -
47:16 - 47:18antes do desastre acontecer.
-
47:18 - 47:20Outra coisa que quero realçar
-
47:20 - 47:25é que todos os que estejam
interessados na governação global -
47:25 - 47:28deviam deixar sempre muito claro
-
47:28 - 47:35que isso não deve substituir ou abolir
as comunidades e identidades locais, -
47:35 - 47:40que deviam fazer parte do mesmo pacote.
-
47:41 - 47:44CA: Quero ouvir mais sobre isto,
-
47:44 - 47:47porque as palavras "governação global"
-
47:47 - 47:52são quase o resumo de todo o mal
na mentalidade de muitas pessoas -
47:52 - 47:54da direita alternativa.
-
47:54 - 47:57Parece assustador, remoto, distante,
e deixou-as mal, -
47:57 - 48:00então: "Globalistas e governação global?
Não, vão-se embora!" -
48:00 - 48:04Muita gente vê as eleições
como o último toque no olho -
48:04 - 48:06para toda a gente que acredita nisso.
-
48:06 - 48:09Como mudamos a narrativa
-
48:09 - 48:12para que não pareça
tão assustadora e distante? -
48:12 - 48:15Desenvolva mais esta ideia
de ser compatível -
48:15 - 48:18com as comunidades e identidades locais.
-
48:18 - 48:20YNH: Bem, acho que deveríamos começar
-
48:20 - 48:26com as realidades biológicas
do "Homo sapiens". -
48:26 - 48:29A biologia diz-nos duas coisas
sobre o "Homo sapiens" -
48:30 - 48:32que são muito relevantes
para este assunto. -
48:32 - 48:35Primeiro, que somos todos
completamente dependentes -
48:35 - 48:38do sistema ecológico à nossa volta,
-
48:38 - 48:41e que hoje estamos a falar sobre
um sistema global. -
48:41 - 48:43Não podemos fugir a isso.
-
48:43 - 48:46Ao mesmo tempo, a biologia
diz-nos que o "Homo sapiens", -
48:46 - 48:48que nós somos animais sociais,
-
48:48 - 48:53mas somos sociais a um nível muito local.
-
48:53 - 48:57É um facto simples da humanidade
-
48:57 - 49:01que não podemos ter intimidade familiar
-
49:01 - 49:05com mais de 150 indivíduos.
-
49:07 - 49:10O tamanho do grupo natural,
-
49:10 - 49:13da comunidade natural do "Homo sapiens",
-
49:13 - 49:16não é maior do que 150 indivíduos.
-
49:16 - 49:22Tudo o que for além disso, baseia-se
em todos os tipos de histórias imaginárias -
49:23 - 49:25e instituições numa larga escala,
-
49:25 - 49:29e acho que podemos encontrar uma maneira,
-
49:29 - 49:33com base na compreensão
biológica da nossa espécie, -
49:34 - 49:36de entrelaçar as duas coisas
-
49:36 - 49:39e perceber que hoje, no século XXI,
-
49:39 - 49:44precisamos tanto do nível global
como da comunidade local. -
49:44 - 49:46Eu iria até mais longe
-
49:46 - 49:50e diria que começa com o nosso corpo.
-
49:50 - 49:55Os sentimentos que as pessoas
hoje têm de alienação e solidão -
49:55 - 49:58e de não encontrarem o seu lugar no mundo,
-
49:58 - 50:04acho que o maior problema
não é o capitalismo global. -
50:04 - 50:07O maior problema é que, ao longo
das últimas centenas de anos, -
50:07 - 50:11as pessoas têm vindo a separar-se,
-
50:11 - 50:14têm vindo a distanciar-se do seu corpo.
-
50:14 - 50:17Como caçador ou recolector
ou até como camponês, -
50:17 - 50:21para sobreviver, é preciso estar
constantemente em contacto -
50:21 - 50:25como o nosso corpo e os nossos sentidos,
a todo o momento. -
50:25 - 50:27Se formos para a floresta
à procura de cogumelos -
50:27 - 50:29e não dermos atenção ao que ouvimos,
-
50:29 - 50:32ao que cheiramos, ao que provamos,
morremos. -
50:32 - 50:35Então, temos de estar muito ligados.
-
50:35 - 50:39Nas últimas centenas de anos,
as pessoas estão a perder a capacidade -
50:39 - 50:42de estar em contacto com o seu corpo
e com os seus sentidos, -
50:42 - 50:44de ouvir, de cheirar, de sentir.
-
50:44 - 50:47Cada vez mais a atenção vai para ecrãs,
-
50:47 - 50:50para o que está a acontecer
noutro lado, a outra hora. -
50:50 - 50:53Acho que isto é a profunda razão
-
50:53 - 50:57dos sentimentos de alienação e de solidão
-
50:57 - 50:59e, por isso, parte da solução
-
50:59 - 51:03não é recuperar o nacionalismo em massa,
-
51:03 - 51:08mas voltar a estar em contacto
com o nosso próprio corpo. -
51:08 - 51:11Se voltarmos a estar em contacto
com o nosso corpo, -
51:11 - 51:14também vamos sentir-nos
muito mais em casa no mundo. -
51:14 - 51:18CA: Consoante vão as coisas,
podemos voltar à floresta dentro em breve. -
51:18 - 51:20Vamos ter mais uma pergunta na sala
-
51:20 - 51:22e mais uma no Facebook.
-
51:22 - 51:25Ama Adi-Dako: Olá. Sou do Gana,
África Ocidental, e a minha pergunta é: -
51:25 - 51:30Como apresenta e justifica
a ideia da governação global -
51:30 - 51:33a países que têm sido historicamente
privados de direitos -
51:33 - 51:35pelos efeitos da globalização?
-
51:35 - 51:38Se estamos a falar
de uma governação global, -
51:38 - 51:41parece-me que virá de uma ideia
muito ocidentalizada -
51:41 - 51:44sobre o que supostamente
deve ser o "global". -
51:44 - 51:47Então, como apresentamos
e justificamos a ideia de global -
51:47 - 51:50"versus" totalmente nacionalista
-
51:50 - 51:53a pessoas de países como
o Gana, a Nigéria e o Togo -
51:53 - 51:55e outros países desses?
-
51:59 - 52:02YNH: Eu começaria por dizer
que a história é muito injusta, -
52:03 - 52:07e que deveríamos ter a noção disso.
-
52:07 - 52:10Muitos dos países que mais sofreram
-
52:10 - 52:14com os últimos 200 anos de globalização
-
52:14 - 52:16de imperialismo e de industrialização,
-
52:16 - 52:20são exactamente os países
que, provavelmente, -
52:20 - 52:24também vão sofrer mais
com a próxima onda. -
52:26 - 52:29Devemos ser muito claros sobre isso.
-
52:29 - 52:33Se não tivermos uma governação global,
-
52:33 - 52:36e sofrermos uma alteração climática,
-
52:36 - 52:38disrupções tecnológicas,
-
52:38 - 52:42o pior sofrimento não será nos EUA.
-
52:42 - 52:47O pior sofrimento irá ser
no Gana, no Sudão, na Síria, -
52:47 - 52:50no Bangladeche, será nesses países.
-
52:50 - 52:55Acho que esses países têm
um incentivo ainda maior -
52:56 - 53:00para fazer alguma coisa sobre
a próxima onda de disrupção, -
53:00 - 53:03quer seja ecológica ou tecnológica.
-
53:03 - 53:06Se pensarmos numa
disrupção tecnológica, -
53:06 - 53:09se a inteligência artificial,
as impressoras 3D e os robôs -
53:09 - 53:13roubarem os empregos
de milhares de milhões de pessoas, -
53:13 - 53:16eu preocupo-me muito menos com os suecos
-
53:16 - 53:19do que com as pessoas
do Gana ou do Bangladeche. -
53:20 - 53:25Assim sendo, como a história é injusta
-
53:25 - 53:32e os resultados de uma calamidade
não vão ser iguais para todos, -
53:32 - 53:36como sempre, os ricos vão poder fugir
-
53:36 - 53:40das piores consequências
da alteração climática -
53:40 - 53:42de uma maneira
que os pobres não poderão. -
53:43 - 53:47CA: E aqui está uma boa pergunta
de Cameron Taylor no Facebook: -
53:47 - 53:49"No final de 'Sapiens',
-
53:49 - 53:51"diz que devemos perguntar-nos,
-
53:51 - 53:53" 'o que queremos querer?'
-
53:53 - 53:56"O que acha que devemos querer?"
-
53:57 - 54:00YNH: Acho que o que devemos querer
é querer saber a verdade, -
54:00 - 54:03e entender a realidade.
-
54:04 - 54:08Basicamente, o que queremos
é mudar a realidade, -
54:08 - 54:12para se encaixar nas nossas vontades,
nos nossos desejos, -
54:12 - 54:16e penso que, primeiro,
devemos querer compreendê-la. -
54:16 - 54:20Se olharmos para a trajectória
da história a longo prazo, -
54:20 - 54:22o que vemos é que,
durante milhares de anos -
54:22 - 54:26nós, seres humanos, temos vindo
a ganhar o controlo do mundo fora de nós -
54:26 - 54:29e a tentar modelá-lo
para que se encaixe nos nossos desejos. -
54:30 - 54:32Ganhámos controlo sobre os outros animais,
-
54:32 - 54:34sobre os rios, as florestas,
-
54:34 - 54:37e modelámo-los completamente,
-
54:38 - 54:40causando uma destruição ecológica
-
54:41 - 54:44sem ficarmos satisfeitos.
-
54:44 - 54:48Então, o próximo passo
é olharmos para dentro, -
54:48 - 54:53e dizermos: "Ok, o controlo
do mundo exterior -
54:53 - 54:55"não nos deixou satisfeitos.
-
54:55 - 54:57"Vamos tentar ganhar controlo
do nosso mundo interior." -
54:57 - 54:59Este é realmente o grande projecto
-
54:59 - 55:04da ciência e da tecnologia
e da indústria, no século XXI -
55:04 - 55:07— tentar ganhar controlo
do nosso mundo interior, -
55:07 - 55:12aprender a construir e produzir
corpos e cérebros e mentes. -
55:12 - 55:17Estes devem ser os principais produtos
da economia do século XXI. -
55:17 - 55:21Quando as pessoas pensam no futuro,
muitas vezes pensam em termos de -
55:21 - 55:24"quero ganhar controlo
do meu corpo e do meu cérebro." -
55:25 - 55:27Acho que isso é muito perigoso.
-
55:27 - 55:31Se aprendi alguma coisa
da nossa história anterior, -
55:31 - 55:35é que ganhamos o poder de manipular,
-
55:35 - 55:37mas como não compreendemos
-
55:37 - 55:39a complexidade do sistema ecológico,
-
55:39 - 55:43estamos agora a enfrentar
um colapso ecológico. -
55:43 - 55:48Se tentarmos reconstruir
o nosso mundo interior, -
55:49 - 55:51sem realmente compreendê-lo,
-
55:51 - 55:55especialmente sem compreender
a complexidade do nosso sistema mental, -
55:55 - 55:59podemos causar um
desastre ecológico interno, -
56:00 - 56:04e podemos enfrentar uma espécie
de colapso mental dentro de nós. -
56:04 - 56:07CA: Resumindo e concluindo,
-
56:07 - 56:09— a política actual,
a tecnologia que está para vir, -
56:10 - 56:12preocupações como as que acabou de falar —
-
56:12 - 56:15parece que você próprio
está num lugar sombrio -
56:15 - 56:16quando pensa no futuro.
-
56:16 - 56:18Está muito preocupado com isso.
-
56:18 - 56:20Isso é correcto?
-
56:20 - 56:26E se houvesse uma esperança,
como expressaria isso? -
56:26 - 56:30YNH: Foco-me nas possibilidades
mais perigosas -
56:30 - 56:33em parte porque é o meu trabalho
ou responsabilidade -
56:33 - 56:35como historiador ou crítico social.
-
56:36 - 56:40A indústria foca-se basicamente
nos lados positivos, -
56:40 - 56:43então é trabalho dos historiadores,
filósofos e sociólogos -
56:43 - 56:47realçar o potencial mais perigoso
de todas estas novas tecnologias. -
56:48 - 56:50Não acho que nada disso seja inevitável.
-
56:50 - 56:53A tecnologia nunca é determinística.
-
56:53 - 56:55Podemos usar a mesma tecnologia
-
56:55 - 56:58para criar diferentes tipos de sociedades.
-
56:58 - 57:00Se olharmos para o século XX,
-
57:00 - 57:03as tecnologias da Revolução Industrial,
-
57:03 - 57:06os comboios, a electricidade e tudo isso
-
57:06 - 57:09puderam ser usadas para criar
uma ditadura comunista -
57:09 - 57:12ou um regime fascista
ou uma democracia liberal. -
57:12 - 57:14Os comboios não nos disseram
o que fazer com eles. -
57:14 - 57:19Do mesmo modo, a inteligência
artificial e a bioengenharia, tudo isso, -
57:19 - 57:23não pré-determinam um único resultado.
-
57:24 - 57:26A humanidade pode superar o desafio,
-
57:26 - 57:28e o melhor exemplo que temos
-
57:28 - 57:32de a humanidade superar o desafio
de uma nova tecnologia -
57:32 - 57:33são as armas nucleares.
-
57:34 - 57:36Nos anos 40 e 50,
-
57:36 - 57:39muitas pessoas estavam convencidas
-
57:39 - 57:43que, mais cedo ou mais tarde, a guerra-fria
iria acabar numa catástrofe nuclear, -
57:43 - 57:45destruindo a civilização humana.
-
57:45 - 57:46E isso não aconteceu.
-
57:46 - 57:52De facto, as armas nucleares
encorajaram pessoas de todo o mundo -
57:53 - 57:57a mudar o modo como geriam
a política internacional -
57:57 - 58:00para reduzir a violência.
-
58:00 - 58:03E muitos países retiraram a guerra
-
58:03 - 58:05das suas ferramentas políticas.
-
58:05 - 58:09Deixaram de perseguir
os seus interesses com a guerra. -
58:10 - 58:13Nem todos os países o fizeram,
mas muitos fizeram-no. -
58:14 - 58:17Talvez esta seja a razão mais importante
-
58:17 - 58:23para a violência internacional ter baixado
drasticamente desde 1945, -
58:23 - 58:26e, como já disse, há mais pessoas
a suicidar-se -
58:26 - 58:29do que a morrer na guerra.
-
58:29 - 58:33Acho que isto dá-nos um bom exemplo
-
58:34 - 58:37de que, mesmo com a tecnologia
mais assustadora, -
58:37 - 58:40os humanos podem superar o desafio
-
58:40 - 58:43e algo bom pode realmente sair daí.
-
58:43 - 58:47O problema é que temos
pouca margem para erro. -
58:47 - 58:50Se não acertamos,
-
58:50 - 58:53talvez não tenhamos uma segunda tentativa.
-
58:54 - 58:56CA: É uma nota muito poderosa,
-
58:56 - 58:59com a qual acho que devemos concluir.
-
58:59 - 59:02Antes de terminar, apenas quero
dizer algo para as pessoas aqui -
59:02 - 59:06e para toda a comunidade TED
a ver-nos "online": -
59:07 - 59:10Ajudem-nos com estes diálogos.
-
59:10 - 59:13Se acreditam, como nós acreditamos,
-
59:13 - 59:16que precisamos de encontrar
um tipo diferente de conversa, -
59:16 - 59:18agora mais que nunca, ajudem-nos.
-
59:18 - 59:21Cheguem-se a outras pessoas,
-
59:21 - 59:24conversem com pessoas
com as quais não concordam, -
59:24 - 59:25compreendam-nas,
-
59:25 - 59:27juntem as peças,
-
59:27 - 59:31e ajudem-nos a entender como podemos
levar estas conversas para a frente -
59:31 - 59:33para que possamos contribuir
-
59:33 - 59:36para o que está a acontecer
no mundo agora. -
59:36 - 59:39Acho que todos nos sentimos mais vivos,
-
59:39 - 59:41mais preocupados, mais empenhados
-
59:42 - 59:44com a política neste momento.
-
59:44 - 59:47A fasquia parece bastante alta,
-
59:47 - 59:51por isso, ajudem-nos a responder
de modo sensato. -
59:51 - 59:53Yuval Harari! Obrigado.
-
59:53 - 59:56(Aplausos)
- Title:
- Nacionalismo "versus" globalismo: a nova divisão política
- Speaker:
- Yuval Noah Harari
- Description:
-
Como é que damos um sentido às divisões políticas actuais? Numa conversa de grande alcance e cheia de introspecção, o historiador Yuval Harari coloca a nossa agitação actual num contexto mais amplo, contra a rotura contínua da tecnologia, do clima, dos "media" e até da nossa noção finalidade da humanidade. Esta é a primeira de uma série de Diálogos TED, que procuram uma resposta séria à crescente divisão política. Arranjem tempo (pouco mais de uma hora) para esta fascinante discussão entre Harari e o moderador TED Chris Anderson
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 01:00:08
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