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Mauro Biglino - Encontro com os teólogos do dia 06 de março 2016 - Bíblia

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    Mauro Biglino,
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    ensaísta e tradutor literal do hebraico antigo,
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    especializado no texto massorético.
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    Ariel Di Porto,
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    rabino-chefe da comunidade hebraica de Turim.
  • 0:11 - 0:12
    Monsenhor Avondios,
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    Arcebispo da Igreja ortodoxa de Milão
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    Daniele Garrone,
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    biblista e pastor protestante,
  • 0:18 - 0:20
    um dos maiores expertos de Antigo Testamento
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    ao interno do movimento valdense.
  • 0:22 - 0:23
    Don Ermis Segatti,
  • 0:23 - 0:25
    sacerdote e docente de teologia
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    e história do cristianismo
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    junto a Faculdade de Teologia dell'Italia Settentrionale.
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    O encontro é apresentado
    por Sabrina Pieragostini.
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    Bom dia !
  • 0:33 - 0:36
    Bom dia a todos e bem-vindos
    a este encontro público,
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    organizado pela Uno Editori
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    em colaboração com os websites:
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    Luoghi Misteriosi e Extremamente.
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    Trata-se de um debate público centrado na Bíblia.
  • 0:48 - 0:51
    O tema de hoje é exatamente: o que
    diz verdadeiramente a Bíblia?
  • 0:52 - 0:57
    Pergunta aos expertos para confrontar o conhecimento sobre Antigo e Novo Testamentos.
  • 0:57 - 0:59
    Todos, ao menos uma vez,
  • 0:59 - 1:03
    abrimos e lemos esse livro
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    que é sagrado para os cristãos e para os hebreus.
  • 1:08 - 1:11
    É provável que seja o livro mais difundido
    pelo mundo, absolutamente.
  • 1:12 - 1:15
    E é possível que em cada casa italiana
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    exista um exemplar desse texto
    tão importante para todos nós.
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    Pois, nos testemunhos e nas revelações
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    que contém o Antigo e Novo Testamentos,
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    se enraiza seguramente o nosso passado,
    a nossa história,
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    mas também muito do nosso presente,
    muitos dos valores compartilhados ainda hoje.
  • 1:37 - 1:40
    É portanto um argumento atual.
  • 1:40 - 1:44
    E é ainda mais atual à luz de
    recentes interpretações,
  • 1:44 - 1:49
    veiculados por livros, páginas de internet e programas de televisão,
  • 1:49 - 1:54
    que parecem esfacelar todas as nossas
    certezas a respeito do tema.
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    Surge então a exigência de realizar
    um confronto
  • 1:58 - 2:00
    com diferentes linhas de pensamento,
  • 2:00 - 2:02
    todas com muita influência,
  • 2:02 - 2:04
    para buscar uma maior compreensão.
  • 2:04 - 2:07
    Portanto, os convidados de hoje são
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    homens de fé, teólogos, exegetas, expertos
    em história das religiões,
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    que apresentarão seus pontos de vista,
  • 2:17 - 2:19
    suas opiniões.
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    Todos absolutamente dignos de respeito.
  • 2:22 - 2:24
    Esse é um ponto fundamental.
  • 2:24 - 2:26
    O encontro de hoje não é um combate,
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    não existem teorias ou partidos a se defender.
  • 2:30 - 2:33
    Existem ideias a serem ouvidas e respeitadas,
  • 2:34 - 2:37
    no que se refere à sensibilidade
    de todos os indivíduos.
  • 2:39 - 2:42
    Começo a apresentar-lhes,
    de maneira muito sucinta,
  • 2:42 - 2:46
    pois se apresentasse todos os currículos
    dos presentes,
  • 2:46 - 2:48
    levaríamos muito tempo.
  • 2:48 - 2:51
    De modo reduzido,
    lhes apresento os nossos relatores
  • 2:51 - 2:53
    seguindo uma ordem alfabética.
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    Inicio com o Monsenhor Avondios,
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    nasceu como Dimitrie Bica,
  • 2:58 - 3:01
    nasceu em Romania, em uma família
    muito religiosa, de crença ortodoxa.
  • 3:02 - 3:04
    Foi ordenado sacerdote em 2000
  • 3:04 - 3:07
    da atual metropolita de Transilvânia,
  • 3:07 - 3:09
    vive na Itália desde 2006,
  • 3:09 - 3:12
    recebeu o status de refugiado
    por motivo humanitário.
  • 3:12 - 3:14
    Tornou-se Bispo em 2009
  • 3:14 - 3:19
    e atualmente é Arcebispo da Igreja Ortodoxa
    de San Nicola, em Milão.
  • 3:19 - 3:23
    Uma Igreja que se situa no antigo histórico Lazzaretto de Milão,
  • 3:24 - 3:25
    na Via San Gregorio,
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    também famosa pela imagem da Madonnina
    que supostamente choraria.
  • 3:30 - 3:32
    O segundo relator que lhes apresento
  • 3:32 - 3:34
    é Mauro Biglino,
  • 3:34 - 3:38
    realizador de produtos multimédia
    de caráter histórico, cultural e didático
  • 3:38 - 3:41
    para importantes editoras e revistas,
  • 3:41 - 3:43
    é sobretudo, como o conhecemos agora,
  • 3:43 - 3:45
    estudioso da história das religiões,
  • 3:45 - 3:49
    e tradutor do antigo hebraico
    para a Editora San Paolo.
  • 3:49 - 3:51
    Colaboração que se concluiu
  • 3:51 - 3:55
    quando iniciou sua carreira de escritor,
  • 3:55 - 3:58
    na qual trouxe à luz as suas descobertas pessoais
  • 3:58 - 4:02
    feitas em 30 anos de análise dos textos sagrados.
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    Entre os seus livros mais conhecidos
    podemos citar:
  • 4:04 - 4:06
    O Deus Alienígena da Bíblia
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    e a Bíblia não Fala de Deus.
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    Há mais de 10 anos estuda sobre a maçonaria.
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    Apresento agora Ariel Di Porto.
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    Alcançou o título de rabino
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    no Colégio Rabínico Italiano
  • 4:19 - 4:22
    e o diploma de filosofia na Universidade
    A Sapienza,
  • 4:22 - 4:24
    estudando as doutrinas não escritas
  • 4:24 - 4:25
    no pensamento de Platão.
  • 4:26 - 4:27
    Desenvolveu, durante muitos anos,
  • 4:27 - 4:29
    a atividade de shazan....
    É essa a pronúncia?
  • 4:29 - 4:30
    Chazan....
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    Chazan, é o cantor na sinagoga,
  • 4:33 - 4:35
    combinando com o trabalho de professor,
  • 4:35 - 4:37
    no liceo Levi e o colégio Rabínico,
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    e colaborando com o gabinete rabínico de Roma.
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    É co-autor de um livro
    de introdução ao hebraismo,
  • 4:43 - 4:46
    e de um texto sobre as regras
    hebraicas do luto.
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    Desde 2014 é rabino-capo da comunidade
    hebraica de Turim.
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    Está presente também Daniele Garrone.
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    É um biblista e pastor protestante
    italiano valdense.
  • 4:57 - 5:01
    É um dos maiores expertos do
    Antigo Testamento na Itália.
  • 5:01 - 5:05
    Desde 1988 é docente ordinário
    do Antigo Testamento
  • 5:05 - 5:08
    junto à Faculdade Valdense de Teologia de Roma.
  • 5:08 - 5:11
    Fez parte do grupo de tradutores
    do Antigo Testamento
  • 5:11 - 5:13
    em língua corrente interconfessional.
  • 5:13 - 5:15
    A sua abordagem às escrituras
  • 5:15 - 5:17
    é do tipo histórico-crítico.
  • 5:17 - 5:19
    Atualmente está ocupado em um projeto
  • 5:20 - 5:22
    de uma nova tradução para a Bíblia.
  • 5:22 - 5:23
    Dos Salmos, especialmente.
  • 5:24 - 5:27
    Concluo com Don Ermis Segatti,
  • 5:27 - 5:30
    sacerdote desde 1962,
  • 5:30 - 5:33
    formado em literatura alemã,
    história do cristianismo,
  • 5:33 - 5:36
    matéria essa que ensina juntamente
    com teologia extra europeia
  • 5:36 - 5:41
    na Faculdade de Teologia dell'Italia Settentrionale,
    sessão paralela de Turim.
  • 5:41 - 5:44
    Se interessa, portanto, de nova teologia.
  • 5:44 - 5:48
    Foi, até 2012, pessoa de contato
    da arquediocese de Turim
  • 5:48 - 5:50
    para a universidade e cultura.
  • 5:50 - 5:55
    Em 2014 e 2015 foi professor
    de teologia moral e prática
  • 5:56 - 5:59
    na Universidade Católica do Sagrado Coração.
  • 5:59 - 6:01
    Estes são os nossos relatores.
  • 6:01 - 6:03
    Agora explico, de forma muito rápida,
    as regras do contrato,
  • 6:04 - 6:05
    digamos dessa forma,
  • 6:05 - 6:08
    ou seja, como procederemos nessa
    primeira parte do dia.
  • 6:09 - 6:12
    Dirigirei quatro perguntas aos nossos hóspedes,
  • 6:13 - 6:15
    as quais são solicitados de responder,
  • 6:15 - 6:18
    cada um, no máximo de cinco minutos.
  • 6:19 - 6:21
    Serei eu mesma a dizer o tempo
    que falta para terminar,
  • 6:22 - 6:24
    para dar-lhes tempo de concluir o raciocínio
  • 6:24 - 6:26
    antes que o tempo expire.
  • 6:26 - 6:31
    Peço a todos, gentilmente, que respeitem
    o limite de tempo.
  • 6:31 - 6:34
    O primeiro a começar, cada vez,
    será Mauro Biglino.
  • 6:34 - 6:37
    Depois seguiremos a ordem na qual
    vocês estão sentados.
  • 6:38 - 6:40
    Podemos iniciar com a primeira pergunta.
  • 6:41 - 6:42
    Peço a todos vocês:
  • 6:43 - 6:45
    - Como sabem, com certeza,
  • 6:45 - 6:49
    aqui não se fala de hipóteses, de suposições
    ou atos de fé,
  • 6:49 - 6:53
    mas, como sabem com certeza,
    da existência de Deus.
  • 6:53 - 6:54
    O que vocês sabem sobre Deus.
  • 6:55 - 6:57
    E quais são as fontes desse conhecimento?
  • 6:57 - 6:59
    Por favor, respondam.
  • 6:59 - 7:00
    Mauro Biglino:
  • 7:00 - 7:02
    Para mim a resposta é muito simples.
  • 7:03 - 7:06
    No sentido que eu, sobre Deus,
    não sei absolutamente nada.
  • 7:07 - 7:10
    Evito, rigorosamente, elaborar ideias sobre Deus.
  • 7:11 - 7:13
    Eu li muito sobre Deus,
  • 7:13 - 7:14
    tenho 66 anos,
  • 7:15 - 7:18
    portanto tive muito tempo
    para ler sobre Deus.
  • 7:19 - 7:23
    Devo dizer que nunca encontrei,
    nos vários textos que li,
  • 7:23 - 7:25
    nas milhares de páginas que já li,
  • 7:25 - 7:27
    a certeza do conhecimento de Deus.
  • 7:28 - 7:30
    Encontrei muitas ideias sobre Deus.
  • 7:30 - 7:33
    Encontrei muitas hipóteses sobre Deus.
  • 7:33 - 7:35
    Encontrei muitas elaborações sobre Deus.
  • 7:35 - 7:39
    Mas não encontrei ninguém
    que possuísse o conhecimento,
  • 7:39 - 7:41
    a sabedoria em relação a Deus.
  • 7:42 - 7:42
    Depois.....
  • 7:42 - 7:44
    ....eu também cometi o mesmo erro de todos,
  • 7:45 - 7:46
    primeiro li os livros
    sobre a Bíblia,
  • 7:46 - 7:48
    e somente depois e eu li a Bíblia.
  • 7:48 - 7:50
    Ao invés, necessitaria fazer o contrário.
  • 7:50 - 7:51
    Depois eu li a Bíblia,
  • 7:52 - 7:54
    por agora falemos do Antigo Testamento,
  • 7:55 - 7:57
    e devo dizer que ali não encontrei Deus.
  • 7:58 - 8:00
    No sentido que ali encontrei exatamente o oposto
  • 8:01 - 8:03
    daquilo que sempre li sobre Deus.
  • 8:03 - 8:05
    Penso que o Antigo Testamento
  • 8:05 - 8:09
    narra sobre um indivíduo
    que possui características
  • 8:09 - 8:13
    que não correspondem àquilo
    que sempre li sobre Deus,
  • 8:13 - 8:16
    ao menos aqui no Ocidente.
  • 8:17 - 8:21
    Talvez seja esse o motivo pelo qual,
    provavelmente....
  • 8:21 - 8:25
    ...e aqui encarem como uma minha sensação,
  • 8:25 - 8:26
    portanto, depois descartem
  • 8:26 - 8:29
    porque minhas sensações não têm nenhum peso.
  • 8:31 - 8:33
    Digo que é uma sensação porque
    não posso citar a fonte,
  • 8:34 - 8:36
    mas talvez será esse o motivo,
  • 8:36 - 8:38
    isto é, a ausência de Deus,
  • 8:38 - 8:43
    deste Deus platônico e neoplatônico
    do Antigo Testamento,
  • 8:44 - 8:48
    o motivo pelo qual, provavelmente,
    a Igreja Romana,
  • 8:49 - 8:53
    se encaminha a abandonar definitivamente
    o Antigo Testamento.
  • 8:54 - 8:58
    E que tornará, nesse caso, se e quando
    isso acontecesse,
  • 8:58 - 9:01
    tornará a ser aquilo que era originalmente,
  • 9:01 - 9:03
    um conjunto de livros que um povo,
  • 9:03 - 9:04
    os israelitas,
  • 9:04 - 9:08
    escreveu para conservar a memória
    de uma aliança
  • 9:08 - 9:09
    que fez com o Elohim,
  • 9:09 - 9:11
    qualquer que seja o seu significado,
  • 9:11 - 9:13
    com o Elohim de nome Yahweh,
  • 9:13 - 9:14
    ou Yahveh,
  • 9:14 - 9:15
    ou Yahwah,
  • 9:15 - 9:17
    de acordo como é vocalizado,
  • 9:18 - 9:22
    e portanto essa era uma aliança que dizia
    respeito a eles e não à humanidade.
  • 9:23 - 9:26
    Portanto, nesse caso, se isso acontecesse,
  • 9:26 - 9:29
    o Antigo Testamento voltará a ser aquilo
    que era originalmente.
  • 9:30 - 9:34
    Portanto, basicamente não encontrei certezas
    e conhecimento sobre Deus
  • 9:34 - 9:36
    nos textos de teologia.
  • 9:36 - 9:38
    Não encontrei notícias sobre Deus....
  • 9:38 - 9:42
    ...e quando digo Deus, obviamente, eu quero dizer
    o Deus que foi apresentado a mim,
  • 9:42 - 9:44
    aquele que conhecemos aqui no Ocidente,
  • 9:44 - 9:46
    não o encontrei no Antigo Testamento,
  • 9:46 - 9:49
    e é por isso que não sei nada sobre Deus,
  • 9:49 - 9:54
    porque evito, rigorosamente, elaborar qualquer ideia que seja minha, pessoal, sobre Deus.
  • 9:55 - 9:57
    Ariel di Porto:
  • 9:57 - 9:59
    A pergunta colocada
  • 10:01 - 10:05
    é uma pergunta que no hebraísmo
  • 10:08 - 10:10
    é muito recente na realidade.
  • 10:10 - 10:14
    O interesse sobre os princípios fundamentais
    do hebraísmo,
  • 10:14 - 10:16
    sobre os princípios de fé,
  • 10:17 - 10:18
    é uma pergunta considerada
  • 10:20 - 10:22
    a antiguidade da tradição hebraica,
  • 10:22 - 10:24
    é muito recente.
  • 10:24 - 10:26
    Seja no texto da Bíblia,
  • 10:27 - 10:31
    seja nas primeiras elaborações dos rabinos,
    sobre essa pergunta,
  • 10:31 - 10:34
    não encontramos muito....
  • 10:34 - 10:38
    Essa pergunta se apresenta na história
  • 10:39 - 10:43
    da religião hebraica muito recentemente,
  • 10:43 - 10:45
    e é abordada nos textos fundamentais
  • 10:46 - 10:48
    da filosofia hebraica medieval.
  • 10:48 - 10:50
    Isto é, desde Maimônides,
  • 10:50 - 10:51
    especialmente,
  • 10:53 - 10:57
    especialmente, na introdução do X capítulo
  • 10:58 - 11:00
    do Tratado de Sanhedrin,
  • 11:00 - 11:02
    no seu comentário à Mishnah,
  • 11:03 - 11:07
    que é um dos textos fundamentais
    da tradição oral hebraica,
  • 11:07 - 11:10
    O Sefer Emunoth ve-Deoth,
  • 11:10 - 11:15
    o livro das várias crenças do hebraísmo,
  • 11:15 - 11:16
    de Rabbi Saadia Gaon.
  • 11:16 - 11:19
    O Kuzari, de Rabbi Yehudá Ha-Levi.
  • 11:20 - 11:23
    O Ha-Emuna Ha-Rama, a fé exaltada,
  • 11:23 - 11:25
    de Abraham ben Daud.
  • 11:25 - 11:28
    O Ohr Hashem de Chasdai Kreskas,
  • 11:28 - 11:30
    e o Livro dos Princípios, de Joseph Albo.
  • 11:30 - 11:36
    Portanto, no interior dos principais textos
    de filosofia hebraica medieval.
  • 11:37 - 11:41
    E isso deriva da necessidade de uma dogmatização
  • 11:41 - 11:44
    no interior do hebraísmo.
  • 11:44 - 11:46
    Tudo deriva do relacionamento
    que o mundo hebraico
  • 11:46 - 11:49
    teve com o mundo cristão e com o árabe.
  • 11:49 - 11:52
    Essa pergunta, na tradição hebraica,
  • 11:52 - 11:54
    ao menos em princípio,
  • 11:54 - 11:55
    não existe.
  • 11:55 - 11:57
    Devemos lembrar que já no Pentateuco,
  • 11:58 - 11:59
    no Êxodo,
  • 11:59 - 12:03
    Moisés pede para ver o Senhor,
  • 12:03 - 12:07
    que lhe responde que um Homem não
    poderia vê-lo e continuar vivo:
  • 12:07 - 12:09
    ki lo yir’ani ha’adam wahay.
  • 12:09 - 12:13
    Para isso, existem algumas doutrinas,
  • 12:13 - 12:15
    que apareceram na Idade Média,
  • 12:15 - 12:20
    de acordo com as quais não se
    pode saber nada sobre a Divindade,
  • 12:20 - 12:22
    e portanto, teologicamente se pode falar
  • 12:22 - 12:24
    sobre a Divindade e referir-se a Ela
  • 12:24 - 12:27
    somente em termos negativos.
  • 12:28 - 12:32
    Não tendo, enquanto seres humanos,
    um termo para defini-La.
  • 12:32 - 12:36
    Mas é possível, dizem esses filósofos,
  • 12:36 - 12:40
    conhecê-La e se tornar consciente
    da Sua existência
  • 12:40 - 12:43
    através das Suas manifestações,
  • 12:43 - 12:47
    isto é, através desse mundo, como é arquitetado,
  • 12:47 - 12:50
    através aquilo que acontece
    no interior desse mundo.
  • 12:51 - 12:52
    Tanto assim que no Êxodo,
  • 12:53 - 12:57
    Deus revela a Moisés os 13 atributos
    de misericórdia.
  • 12:58 - 13:01
    Não é possível, portanto, ao menos
    sobre certos aspectos,
  • 13:02 - 13:06
    falar de uma evidência a respeito dos
    nossos conhecimentos sobre Deus.
  • 13:07 - 13:08
    O próprio Abraão,
  • 13:08 - 13:10
    que teve a intuição monoteísta,
  • 13:10 - 13:15
    teve essa intuição através da investigação
    da natureza,
  • 13:15 - 13:16
    de acordo com nossa tradução.
  • 13:17 - 13:20
    Isto é, viu o mundo e considerou impossível
  • 13:20 - 13:25
    que não existisse um arquiteto do mundo.
  • 13:25 - 13:28
    Yehuda Ha-Levi, um outro filósofo medieval,
  • 13:28 - 13:32
    no Kuzari, respondendo a essa pergunta,
  • 13:32 - 13:36
    colocada pelo rei dos Kazari, trata-se
    de uma farsa....eh,
  • 13:37 - 13:38
    sobre a nossa fé,
  • 13:39 - 13:43
    diz que nós cremos ao Senhor
    que nos fez fugir do Egito,
  • 13:43 - 13:44
    e nos deu a Torá.
  • 13:44 - 13:48
    Eventos dos quais fomos testemunhas.
  • 13:48 - 13:55
    Podemos bem dizer que cremos
    no Senhor que criou o mundo
  • 13:55 - 14:00
    porque, se todos, ao menos os hebreus,
    somos convictos sobre isso,
  • 14:00 - 14:02
    ninguém lhes ajudou.
  • 14:03 - 14:09
    O Sefer Ha-Chinuch , texto que agrupa vários preceitos da Bíblia,
  • 14:09 - 14:13
    considera que essa crença não necessita
    de mais explicações
  • 14:14 - 14:18
    porque esse é um dos fundamentos da religião,
  • 14:19 - 14:21
    o fato que Deus exista,
  • 14:21 - 14:23
    e quem não acredita nega um dos
    princípios fundamentais
  • 14:23 - 14:26
    e não faz parte do povo de Israel.
  • 14:26 - 14:27
    Portanto...
  • 14:27 - 14:28
    Trinta segundos.
  • 14:28 - 14:31
    ...crer em Deus seria um axioma.
  • 14:31 - 14:34
    Maimônides coloca treze princípios
    fundamentais da fé,
  • 14:34 - 14:37
    e alguns deles se referem a Divindade,
  • 14:37 - 14:40
    que criou todos os Seres e exerce
    a sua providência,
  • 14:40 - 14:42
    única, eterna, incorpórea.
  • 14:42 - 14:45
    A única digna a receber orações,
  • 14:45 - 14:46
    que os profetas escolheram.
  • 14:46 - 14:48
    O principal deles é Moisés,
  • 14:48 - 14:50
    através do qual foi dado a Torá de Israel.
  • 14:51 - 14:54
    Cremos que a Torá que temos seja exatamente
    aquela que lhe foi dada,
  • 14:54 - 14:56
    e que não possa ser alterada.
  • 14:56 - 14:56
    Monsenhor Avondios:
  • 14:57 - 14:59
    Hoje vivemos em mundo de tecnologia,
  • 14:59 - 15:01
    um mundo de ciências,
  • 15:01 - 15:03
    onde o Homem se coloca tantas problemáticas
  • 15:03 - 15:06
    sobre a existência desse Ser
  • 15:06 - 15:10
    que caminhou na Terra e que toca,
    através da Sua existência,
  • 15:11 - 15:15
    através das experiências e do conhecimento
    do Universo.
  • 15:15 - 15:19
    Muitas vezes vimos e continuamos
    vendo na televisão,
  • 15:20 - 15:22
    a necessidade do Homem contemporâneo
  • 15:22 - 15:27
    de encontrar, além da Terra, no mundo invisível,
  • 15:27 - 15:29
    como nós o chamamos,
  • 15:29 - 15:32
    sobretudo na tradição ortodoxa,
  • 15:32 - 15:33
    Deus dos nossos pais,
  • 15:33 - 15:35
    Abraão, Isaque e Jacó,
  • 15:35 - 15:39
    porque essa é a tradição do cristianismo.
  • 15:39 - 15:42
    Deus das coisas visíveis e invisíveis,
  • 15:43 - 15:45
    e portanto, o Homem, na sua necessidade,
  • 15:45 - 15:49
    na sua procura de algo maior que ele,
  • 15:49 - 15:51
    e daquele que o criou,
  • 15:51 - 15:54
    que o colocou nesse jardim, o Éden,
  • 15:55 - 15:58
    como diz Mario Biglino,
  • 15:58 - 16:00
    falando do Éden,
  • 16:00 - 16:02
    do jardim cercado.
  • 16:03 - 16:08
    Na sua procura de encontrar esta experiência
  • 16:09 - 16:10
    e quem o criou,
  • 16:10 - 16:12
    dirige-se sempre às estrelas,
  • 16:12 - 16:16
    para encontrar, além do conhecimento terrestre,
  • 16:16 - 16:21
    além daquilo que nós recebemos
    através da história,
  • 16:21 - 16:24
    se existe um Deus que criou o Universo
  • 16:24 - 16:28
    e tudo aquilo que nós conhecemos
    e não conhecemos.
  • 16:28 - 16:31
    Portanto, a pergunta dirigida a nós,
  • 16:32 - 16:35
    se sabemos algo sobre Deus,
  • 16:36 - 16:37
    e como dizia Mauro....
  • 16:37 - 16:40
    eu pessoalmente, e todos aqueles que estão aqui,
  • 16:41 - 16:43
    não podemos conhecer nada sobre Deus
  • 16:43 - 16:47
    a não ser através daquele libro,
  • 16:47 - 16:50
    que muitas vezes é chamado de ficção científica,
  • 16:50 - 16:51
    e que se chama Bíblia.
  • 16:52 - 16:56
    Se observarmos a experiência,
  • 16:56 - 16:59
    e sobretudo, se vemos Deus na Bíblia....
  • 17:00 - 17:02
    ...é esse o problema que eu me coloco.
  • 17:03 - 17:06
    Mauro é um experto e sabe muito bem,
  • 17:06 - 17:08
    e que fez a tradução da Bíblia,
  • 17:08 - 17:10
    diz que não descobriu que a Bíblia falava de Deus,
  • 17:11 - 17:13
    mas invés, no Antigo Testamento,
  • 17:13 - 17:15
    e temos aqui o experto hebraico,
  • 17:15 - 17:17
    e outro aqui, desse lado,
  • 17:17 - 17:20
    e Mauro também é um experto nas traduções.
  • 17:21 - 17:23
    Se fala de Deus,
  • 17:24 - 17:25
    de Yahweh,
  • 17:25 - 17:26
    Javé.
  • 17:26 - 17:27
    Se fala de Elohim.
  • 17:28 - 17:32
    Estou explicando que do meu ponto de vista,
  • 17:32 - 17:34
    de teólogo ortodoxo,
  • 17:34 - 17:35
    e de cristão,
  • 17:36 - 17:39
    eu encontrei a existência de Deus,
  • 17:40 - 17:41
    do nosso Deus, Yahweh,
  • 17:41 - 17:42
    que chamamos Deus,
  • 17:43 - 17:45
    em tantas passagens.
  • 17:45 - 17:53
    Quero relembrar aqui o capítulo 43
    da profecia de Isaías,
  • 17:53 - 17:56
    versículo 10 que fala justamente sobre isso.
  • 17:56 - 17:57
    Fala de Deus.
  • 17:58 - 17:59
    Um dos tantos exemplos.
  • 18:00 - 18:02
    Quantos de vocês já estiveram em Qumran?
  • 18:04 - 18:06
    Estive em Qumran alguns dias atrás.
  • 18:07 - 18:11
    Nessa localidade foram encontrados pergaminhos,
  • 18:11 - 18:13
    pergaminhos, papiros,
  • 18:14 - 18:17
    com traduções integrais do livro de Isaías.
  • 18:18 - 18:22
    De todos os livros da Torá e do Antigo Testamento,
  • 18:23 - 18:25
    exceto o livro de Ester.
  • 18:27 - 18:29
    O livro de Ester não está incluído.
  • 18:30 - 18:32
    Somente esses que citei.
  • 18:33 - 18:38
    Também tinham comentários e exegese
    dessa seita
  • 18:38 - 18:42
    baseados em sua experiência sobre
    todos os textos da Bíblia
  • 18:42 - 18:44
    e do conhecimento de Deus,
  • 18:44 - 18:47
    dado que eles se definiam filhos da luz.
  • 18:47 - 18:48
    Trinta segundos.
  • 18:48 - 18:51
    Portanto, eu creio e tenho convicção
  • 18:52 - 18:56
    que esse Deus que se encontra no
    Antigo Testamento,
  • 18:57 - 18:59
    o Deus dos nossos pais,
  • 18:59 - 19:00
    Abraão, Isaque e Jacó,
  • 19:01 - 19:03
    é o Deus que se mostrou,
  • 19:03 - 19:06
    e que mostra atualmente,
  • 19:06 - 19:08
    e que se mostra no Novo Testamento,
  • 19:08 - 19:11
    é Aquele que movimenta cada coisa na Terra.
  • 19:11 - 19:16
    E eu creio, caso contrário,
    não poderia estar aqui,
  • 19:16 - 19:18
    que Deus existe.
  • 19:18 - 19:22
    Não somente como forma alienígena,
  • 19:22 - 19:27
    ou na forma, como a senhora dizia,
  • 19:27 - 19:29
    "um daqueles Elohim",
  • 19:29 - 19:31
    mas eu creio que o Deus de Israel é um,
  • 19:32 - 19:34
    e permanece assim,
  • 19:34 - 19:35
    como Ele mesmo diz:
  • 19:36 - 19:44
    "...antes de mim nenhum Deus se formou, não haverá algum depois de mim."
  • 19:44 - 19:45
    Daniele Garrone:
  • 19:45 - 19:48
    "Telegraficamente" respondo também
    a essa primeira questão.
  • 19:48 - 19:50
    Eu gostaria mais de falar sobre coisas judaicas,
  • 19:50 - 19:52
    mas não me isento da tarefa.
  • 19:52 - 19:55
    Estou aqui na condição de protestante,
  • 19:57 - 19:59
    logo respondo a primeira pergunta em duas partes.
  • 19:59 - 20:04
    A primeira, exponho, como seria dito
    no século XVI,
  • 20:05 - 20:10
    onde... estamos prestes a celebrar os 500 anos da Reforma Protestante.
  • 20:10 - 20:14
    A grande revolução de Martinho Lutero
    e de outros tantos
  • 20:14 - 20:15
    que o seguiram na Europa,
  • 20:15 - 20:18
    não foi a polêmica em torno das indulgências,
  • 20:18 - 20:20
    não foi a recusa do papado etc,
  • 20:20 - 20:26
    mas foi a simples ideia em
    oposição à grande e unívoca
  • 20:26 - 20:30

    tradição cristã até aquele momento,
  • 20:32 - 20:39
    isto é, que não temos nada a dizer
    de Deus e sobre Deus
  • 20:40 - 20:42
    senão aquilo que Deus nos disse.
  • 20:43 - 20:48
    Ou seja, não se chega a Deus
    retroagindo a existência,
  • 20:48 - 20:51
    através de uma aproximação filosófica.
  • 20:52 - 20:56
    Não é a tradição da Igreja que nos revela Deus.
  • 20:57 - 21:01
    Existe Deus apenas quando Deus nos interpela.
  • 21:02 - 21:08
    E a fé e a teologia não são outra coisa
    que escutar a interpelação de Deus
  • 21:09 - 21:13
    e repeti-la com as nossas palavras,
    "ponto e parágrafo".
  • 21:13 - 21:19
    O tom que vocês percebem é minha
    tentativa de dar voz a Lutero.
  • 21:22 - 21:24
    Onde encontramos essa voz de Deus?
  • 21:25 - 21:26
    Nas Escrituras.
  • 21:27 - 21:29
    E aqui Lutero fez outra revolução,
  • 21:29 - 21:32
    da qual não se dava conta completamente.
  • 21:33 - 21:36
    Tais Escrituras, no que concerne
    o Antigo Testamento,
  • 21:37 - 21:39
    não a leiamos em latim, ou em grego,
  • 21:40 - 21:42
    mas em hebraico.
  • 21:43 - 21:45
    Ele a interpretou de forma muito cristã,
  • 21:45 - 21:49
    mas foi ele o inventor da ideia de que
    o discurso de Deus
  • 21:49 - 21:53
    antes de Jesus deve-se escutar em hebraico,
    não em latim.
  • 21:53 - 21:57
    Mesmo se em latim fossem ditas
    as mesmas coisas,
  • 21:57 - 21:59
    mas deve-se lê-las em hebraico.
  • 22:00 - 22:03
    Havia uma dose de humanismo.
  • 22:04 - 22:08
    Por trás dessa opção existe a ideia que...
  • 22:08 - 22:11
    ...não posso demonstrar a fonte
    do conhecimento.
  • 22:11 - 22:14
    Eu não posso demonstrar, porém
    se assim o desejarem
  • 22:14 - 22:17
    há a confiança de que naquela Escritura
  • 22:18 - 22:22
    ecoa verdadeiramente a voz de Deus.
  • 22:23 - 22:25
    Diversos séculos se passaram,
  • 22:27 - 22:34
    aprofundamos os aspectos muito humanos,
    confiáveis e plurais daquelas Escrituras,
  • 22:34 - 22:35
    Antigo e Novo Testamento.
  • 22:36 - 22:38
    Não tem nada de divino naquele livro.
  • 22:38 - 22:44
    E os meus primos fundamentalistas que imaginam
    prestar um favor a Deus quando divinizam
  • 22:44 - 22:47
    a Sua obra, na verdade idolatram papel.
  • 22:48 - 22:52
    Portanto, é claro que são testemunhos, indícios.
  • 22:52 - 22:57
    E Lutero acentuou o fato de que o discurso sobre Deus é sempre paradoxal.
  • 22:57 - 22:59
    Quando vocês lerem a Bíblia,
  • 22:59 - 23:01
    quando encontrarem antropormofismos,
  • 23:01 - 23:02
    quando encontrarem distorções,
  • 23:03 - 23:06
    quando encontrarem um Deus
    que fala e age não como Deus,
  • 23:06 - 23:11
    pensem que talvez ali tenha um indício.
  • 23:11 - 23:14
    Eu hoje... concluindo, pessoalmente
    diria o seguinte:
  • 23:14 - 23:16
    nessas Escrituras muito humanas
  • 23:17 - 23:20
    que por conta de alguns versículos,
    eu com meus colegas
  • 23:20 - 23:26
    causamos estardalhaço como o faz
    o amigo escocês... De Jethro na N.C.I.S.,
  • 23:26 - 23:32
    que corta tudo, abre e vai ver
    todas as camadas, etc.
  • 23:32 - 23:35
    Ou seja, façamos também a "anatomopatologia"...
  • 23:37 - 23:40
    ...por certos aspectos, imagino ser
    muito mais radical que Biglino.
  • 23:41 - 23:45
    E mesmo assim, para mim,
    permanece a convicção
  • 23:45 - 23:48
    que por trás dessa humaníssima história,
  • 23:48 - 23:53
    onde também reside o politeísmo, e tantas
    outras coisas que ninguém nega,
  • 23:53 - 23:54
    ao contrário, vamos buscá-las,
  • 23:55 - 24:01
    acredito que dali... venha uma
    interpelação externa,
  • 24:02 - 24:06
    alguma coisa que eu não inventei
    e que me surpreende.
  • 24:06 - 24:13
    A interlocução com essa outra palavra antiga,
    que me surpreende e às vezes me irrita...
  • 24:14 - 24:20
    ...essa é minha investigação acerca de tudo isso,
    e é o que eu conheço sobre Deus.
  • 24:21 - 24:26
    Se existe alguém que tem vontade de investigar junto comigo... com muito prazer.
  • 24:26 - 24:27
    Don Ermis Segatti:
  • 24:27 - 24:29
    Obrigado pela hospitalidade.
  • 24:29 - 24:37
    É uma pena não poder interagir mais
    com esse enorme público, com cada um...
  • 24:37 - 24:40
    Em vez disso precisa jogar as informações,
  • 24:40 - 24:42
    como se cada um de vocês fosse
    apenas uma massa.
  • 24:43 - 24:47
    De qualquer forma eu sou de acordo com várias
    passagens que me precederam.
  • 24:47 - 24:49
    Gostaria de dizer, porém,
  • 24:49 - 24:51
    de modo um pouco incisivo,
  • 24:52 - 24:55
    que é necessário remover a certeza sobre Deus.
  • 24:55 - 24:57
    Se havéssemos a certeza sobre Deus,
  • 24:58 - 24:59
    Deus não seria,
  • 24:59 - 25:00
    seríamos nós.
  • 25:01 - 25:03
    E essa forma incisiva,
  • 25:03 - 25:06
    um grande pensador do século XIX,
  • 25:06 - 25:07
    alemão,
  • 25:07 - 25:10
    que era um não religioso declarado,
  • 25:11 - 25:13
    fez a soma dessa questão.
  • 25:14 - 25:18
    Era um período crucial para essa pergunta
    que nos foi dirigida.
  • 25:19 - 25:21
    Ele a resumiu dessa forma:
  • 25:22 - 25:27
    o todo da crítica alemã sintetiza-se nisso,
  • 25:27 - 25:28
    que não é,
  • 25:28 - 25:31
    e captava o centro da questão, sobre
    um determinado ponto de vista,
  • 25:31 - 25:35
    que não é Deus que faz o Homem,
  • 25:35 - 25:37
    mas é o Homem que faz Deus.
  • 25:37 - 25:40
    Tinha captado o ponto de vista da certeza.
  • 25:40 - 25:42
    Colocando-se no ponto de vista da razão
  • 25:43 - 25:48
    que crê que Deus tenha que dar
    satisfações à razão para ser Deus.
  • 25:48 - 25:51
    Enquanto, por outro lado, tudo aquilo
    que a Bíblia fala,
  • 25:52 - 25:54
    além das vicissitudes que foram
    mencionadas antes,
  • 25:54 - 25:57
    das batalhas que existem ali dentro,
  • 25:57 - 26:01
    da luta.... a Escritura é uma luta sobre Deus
    e com Deus.
  • 26:01 - 26:05
    Além de tudo isso surge a ideia de que
    não é você que faz Deus,
  • 26:06 - 26:07
    mas é Deus que faz o Homem.
  • 26:07 - 26:08
    Que fez o Homem.
  • 26:08 - 26:11
    Portanto aqui eu discordo
    um pouco da tua posição,
  • 26:12 - 26:13
    (dirige-se a Garrone).
  • 26:13 - 26:15
    Você fez muito bem em citar
    o texto do século XVI,
  • 26:15 - 26:16
    porque lá aconteceu um discrimine,
  • 26:17 - 26:19
    que depois, durante os séculos
    sucessivos foram....
  • 26:19 - 26:21
    ...de qualquer forma e especialmente hoje,
  • 26:22 - 26:27
    na época contemporânea, se suavizaram
    e se incorporaram.
  • 26:27 - 26:31
    Mas o ponto crucial que a grande tradição cristã,
  • 26:31 - 26:33
    aquilo que você dizia: "Todos aqueles
    que precederam",
  • 26:34 - 26:37
    era uma tradição na qual se tinha colocado,
  • 26:37 - 26:38
    e continua a ser colocado,
  • 26:38 - 26:39
    ao menos a tradição católica,
  • 26:40 - 26:44
    a confiança sobre a razão de poder não dizer com certeza: "Deus,
  • 26:46 - 26:48
    mas dizer algum coisa, sim !
  • 26:49 - 26:53
    E para dizer com termos que fazem
    parte daquilo que se chama teologia,
  • 26:54 - 26:55
    poder dizer,
  • 26:55 - 26:57
    poder, de qualquer forma....
  • 26:58 - 27:00
    ...seria necessário percorrer... não como fez Kant.
  • 27:00 - 27:03
    Kant tomou o caminho da existência de Deus
  • 27:03 - 27:06
    como se fosse demonstração absoluta, racional.
  • 27:07 - 27:09
    Enquanto que na tradição bíblica,
  • 27:10 - 27:13
    e depois recuperadas por alguns pensadores
    da Idade Média, dizer:
  • 27:14 - 27:16
    "Caminhos para a existência de Deus" quer dizer:
  • 27:16 - 27:22
    "Coloque-se naquela direção mas não pense ser o dono da verdade" mas vai naquela direção...
  • 27:22 - 27:27
    ... por exemplo: "As coisas poderiam existir
    e não existir. Por que existem?
  • 27:28 - 27:30
    Coloque-se naquela direção e vai na direção
  • 27:30 - 27:33
    para colocar seriamente a questão de Deus."
  • 27:33 - 27:35
    Não para colocar Deus,
  • 27:35 - 27:39
    mas para colocar a pesquisa, o problema,
    a cabeça na direção justa.
  • 27:40 - 27:41
    Ou então, ou então,
  • 27:42 - 27:45
    você vê que tem algo que lhe leva a pensar:
    “Que bom, que bonito”,
  • 27:45 - 27:47
    alguma coisa... você percebe isso.
  • 27:47 - 27:48
    De onde vem isso?
  • 27:48 - 27:54
    Coloque-se naquela direção e terá uma indicação
    do percurso, uma pista, aquilo que….
  • 27:55 - 27:58
    ....as grandes tradições espirituais do Oriente
  • 27:58 - 28:02
    dizem com uma palavra linda: o tao.
  • 28:03 - 28:05
    Isto é, coloque-se no caminho.
  • 28:05 - 28:07
    Coloque-se no caminho.
  • 28:07 - 28:10
    Por exemplo, é necessária tanta inteligência
    para compreender o mundo
  • 28:10 - 28:12
    nesse ponto em que nos encontramos?
  • 28:12 - 28:15
    Imagine quanta inteligência será necessária para
    aquilo que descobriremos a partir de agora.
  • 28:15 - 28:17
    Tanta inteligência e nada antes?
  • 28:19 - 28:23
    Tanta inteligência para compreender
    o mundo agora e nada antes?
  • 28:24 - 28:25
    Nada na raiz.
  • 28:26 - 28:28
    Tudo isso porém não lhe faz dizer: "Deus é isso"!!
  • 28:28 - 28:29
    Não.
  • 28:29 - 28:31
    Deus não é feito pelo Homem.
  • 28:31 - 28:33
    Nem mesmo pela inteligência do Homem.
  • 28:33 - 28:38
    Mas a inteligência do Homem, e aqui a tradição católica se afasta da tradição protestante,
  • 28:38 - 28:42
    a inteligência pode dizer algo sobre Deus.
  • 28:42 - 28:48
    Não é um equívoco a relação entre a realidade
    que nós olhamos, que tentamos compreender,
  • 28:49 - 28:51
    e aquilo que nós chamamos Deus.
  • 28:51 - 28:54
    Existe um relacionamento analógico.
  • 28:54 - 28:56
    Gostaria de dizer uma última coisa:
  • 28:56 - 28:57
    um dos conceitos fundamentais
  • 28:58 - 28:59
    que a tradição bíblica,
  • 28:59 - 29:01
    aqui me insunuo rapidamente sem ir além disso...
  • 29:02 - 29:03
    Trinta segundos.
  • 29:03 - 29:03
    Obrigado.
  • 29:04 - 29:08
    ....e que nos abre, é que Deus, de qualquer forma,
  • 29:08 - 29:12
    mesmo no colocar a questão de Deus
    é sempre aquele que precede.
  • 29:13 - 29:15
    É aquele que antecipa.
  • 29:15 - 29:19
    Ou seja, mesmo em toda a Bíblia,
    que se diz palavra de Deus, etc...
  • 29:20 - 29:22
    Deus é aquele que precede,
  • 29:22 - 29:24
    aquele que põe a iniciativa,
  • 29:24 - 29:26
    aquele que faz com que o problema seja colocado.
  • 29:26 - 29:31
    Um dos caminhos para colocar a questão de Deus
    em modo racional, entre aspas,
  • 29:32 - 29:36
    é aquele de dizer que só o fato de estar
    colocando a pergunta
  • 29:36 - 29:39
    só é possível porque Ele permitiu
    que seja possível.
  • 29:40 - 29:45
    Caso contrário, o caos sozinho não
    teria criado nenhuma pergunta.
  • 29:45 - 29:46
    Nenhuma pesquisa.
  • 29:46 - 29:47
    Nenhum sentido.
  • 29:48 - 29:49
    Nenhum caminho.
  • 29:49 - 29:50
    Paro por aqui.
  • 29:50 - 29:51
    Obrigado.
  • 29:55 - 29:56
    Sabrina Pieragostini:
  • 29:56 - 29:58
    Vamos agora para a segunda pergunta.
  • 29:58 - 30:00
    Sempre na mesma ordem.
  • 30:00 - 30:00
    A pergunta é:
  • 30:01 - 30:05
    A Bíblia deve ser lida de modo literário
    ou metafórico?
  • 30:05 - 30:10
    E como um fiel pode distinguir as passagens
    que deveriam ser entendidas em modo literário
  • 30:10 - 30:14
    daquelas que invés deveriam
    ser lidas como alegoria?
  • 30:16 - 30:19
    Sim, esse é realmente um grande problema.
  • 30:19 - 30:22
    No sentido que eu escolhi uma.....
  • 30:22 - 30:24
    ...eu fiz uma escolha metodológica
    que declaro
  • 30:24 - 30:29
    desde quando eu comecei a contar aquilo
    que me parece ler naquele texto.
  • 30:30 - 30:33
    A minha escolha declarada, evidente, é:
  • 30:33 - 30:36
    faço de conta que quando os autores bíblicos
    escreviam algo,
  • 30:36 - 30:38
    queriam escrever justamente aquilo.
  • 30:38 - 30:40
    Faço de conta, porque obviamente
    não tenho a certeza,
  • 30:40 - 30:42
    eu não possuo nenhuma certeza
  • 30:42 - 30:45
    como bem sabem aquelas pessoas
    que já assistiram minhas conferências.
  • 30:45 - 30:48
    Portanto eu "faço de conta que", para ver
    o que resulta,
  • 30:49 - 30:50
    o que deriva disso tudo.
  • 30:50 - 30:52
    Nesses anos, eu devo dizer,
  • 30:52 - 30:54
    que ouvi com frequência,
  • 30:55 - 30:57
    às vezes de maneira mais educada,
  • 30:57 - 30:59
    às vezes ou pouco menos,
  • 30:59 - 31:00
    mas tudo bem, faz parte do jogo,
  • 31:01 - 31:02
    eu encaro sempre tudo com um sorriso,
  • 31:03 - 31:07
    que eu sou um ignorante - e isso é verdade -
    eu sou consciente disso,
  • 31:07 - 31:13
    porque não sei que é evidente que a Bíblia deve ser lida de forma alegórica e metafórica.
  • 31:14 - 31:17
    O fato que durante todos esses anos
    não existe ninguém,
  • 31:17 - 31:21
    entre aqueles que me acusavam de ter feito
    essa escolha metodológica,
  • 31:21 - 31:23
    que me acusam de ter feito essa escolha,
  • 31:23 - 31:26
    ninguém que tenha proporcionado o critério,
  • 31:27 - 31:28
    um critério verdadeiro,
  • 31:28 - 31:29
    um critério objetivo,
  • 31:30 - 31:34
    para distinguir as partes que devem
    ser lidas de forma literária,
  • 31:34 - 31:38
    e aquelas que devem ser lidas de forma alegórica ou metafórica... ou simbólica.
  • 31:39 - 31:42
    Portanto, não possuindo esse critério...
  • 31:42 - 31:44
    ...porém eu sinto que posso dizer
    que é evidente
  • 31:44 - 31:45
    que a Bíblia deve ser lida
    de forma alegórica,
  • 31:45 - 31:48
    portanto, eu me sinto livre, por exemplo,
  • 31:48 - 31:53
    para dizer: bem, é óbvio que o primeiro
    versículo da Bíblia:
  • 31:53 - 31:56
    "Em princípio Deus criou o Céu e a Terra"
    é somente uma alegoria.
  • 31:56 - 31:58
    Isto é, aquele povo,
  • 31:58 - 32:00
    assim como nós na verdade,
  • 32:00 - 32:04
    não sabia qual era a origem do Universo,
  • 32:04 - 32:07
    portanto inventou essa narrativa alegórica.
  • 32:07 - 32:10
    Inventou um personagem onipotente,
    digamos dessa forma,
  • 32:11 - 32:11
    que inventou o Universo,
  • 32:12 - 32:13
    porque não tinha a capacidade de
    dar essa explicação...
  • 32:13 - 32:14
    ...e nem mesmo nós
    podemos explicar.
  • 32:14 - 32:16
    Nós procuramos a estrada científica e então....
  • 32:17 - 32:18
    ...então um pouco menos...
  • 32:18 - 32:23
    ...portanto digo: se.... se é evidente que se possa
    ler de modo alegórico... então eu digo:
  • 32:23 - 32:27
    é evidente que o primeiro versículo
    da Bíblia é alegórico.
  • 32:27 - 32:29
    Se não é evidente, e portanto,
  • 32:29 - 32:33
    se é claro que o primeiro versículo da Bíblia
    deve ser visto de modo literal,
  • 32:34 - 32:36
    porque existe um Deus que criou o Universo,
  • 32:37 - 32:41
    repito: aqueles que seguem minhas
    conferências sabem,
  • 32:41 - 32:43
    quando eu digo que não sei nada sobre Deus,
  • 32:44 - 32:45
    quero também dizer que:
  • 32:45 - 32:47
    eu não digo que Deus não existe,
  • 32:47 - 32:49
    digo que eu não sei nada sobre Deus.
  • 32:49 - 32:51
    Portanto, Deus pode muito bem existir.
  • 32:51 - 32:54
    Eu nunca colocarei em discussão
    a existência de Deus
  • 32:54 - 32:56
    porque não sei nada a respeito.
  • 32:56 - 32:58
    Para discutir sobre isso eu deveria
    saber algo a respeito.
  • 32:58 - 33:01
    Deveria ter as certezas dos ateus,
    que não tenho.
  • 33:01 - 33:02
    Portanto eu digo:
  • 33:02 - 33:04
    se invés, o primeiro versículo do Gênesis,
  • 33:04 - 33:07
    pego esse como exemplo mas poderia
    pegar tantos outros,
  • 33:08 - 33:10
    é tomado no sentido literal,
  • 33:10 - 33:12
    então eu necessito, uma necessidade verdadeira,
  • 33:12 - 33:15
    haver um critério objetivo e não subjetivo...
  • 33:15 - 33:18
    ...não escolher os versículos que eu gosto mais...
  • 33:18 - 33:20
    aqueles que gosto são literais
  • 33:20 - 33:21
    e aqueles que não gosto alegóricos.
  • 33:22 - 33:24
    Um critério objetivo para pegar a Bíblia,
  • 33:24 - 33:27
    que é um livro que Deus teria inspirado
    para falar conosco,
  • 33:27 - 33:28
    com cada um de nós,
  • 33:28 - 33:30
    colocar-me diante da Bíblia
  • 33:30 - 33:34
    e entender o que devo considerar literal
    e o que não devo.
  • 33:34 - 33:37
    Portanto esse é um problema, efetivamente
    muito grande.
  • 33:37 - 33:41
    Eu, obviamente, prossigo na minha estrada
    de "fazer de conta que"
  • 33:42 - 33:46
    tentando entender aquilo que resulta
    e se a Bíblia deve ser tomada no sentido literal.
  • 33:46 - 33:50
    Mas já que sempre me dizem... ehm...: "você ainda não entendeu..."
  • 33:51 - 33:52
    ...pode ser..
  • 33:52 - 33:55
    "...você ainda não entendeu que a Bíblia dever ser lida em sentido alegórico."
  • 33:55 - 33:57
    Gostaria muito que aqueles que me acusam disso,
  • 33:57 - 34:00
    me mostrassem o critério, repito: objetivo.
  • 34:00 - 34:05
    Realmente, o primeiro versículo do Gênesis é muito problemático.
  • 34:05 - 34:10
    Isto é, se vocês lerem a interpretação que foi
    dada a esse versículo,
  • 34:11 - 34:13
    encontrarão tudo o contrário de tudo.
  • 34:13 - 34:17
    Ou seja, coisas inesperadas, como por exemplo
    que a matéria pode ser eterna,
  • 34:17 - 34:19
    de acordo com a ideia aristotélica.
  • 34:20 - 34:24
    Nós porém, de forma muito simples,
  • 34:26 - 34:31
    encontramos a raiz daquilo que pensamos e daquilo que fazemos na própria Torah.
  • 34:32 - 34:37
    Na Torah escrita, na Torah oral e naquilo que dela deriva até os dias de hoje.
  • 34:37 - 34:42
    Ou seja, mesmo os mestres que ainda nos dias de hoje produzem, têm uma produção literária,
  • 34:42 - 34:46
    se reportam à tradição recebida.
  • 34:47 - 34:52
    Durante os séculos foram escritos inúmeros
    comentários aos livros do Tanakh.
  • 34:52 - 34:57
    Entre eles certamente o mais famoso é o
    Comentário de Rashi de Troyes,
  • 34:57 - 34:59
    que viveu no século XI.
  • 35:00 - 35:04
    As indicações sobre as passagens que
    devem ser lidas de modo alegórico,
  • 35:04 - 35:10
    derivam principalmente da tradição rabínica,
    as quais os comentadores se reportam.
  • 35:11 - 35:12
    Por exemplo,
  • 35:12 - 35:16
    sabemos que as imagens que os profetas utilizam a respeito dos fins dos tempos
  • 35:16 - 35:19
    não devem ser tomadas ao pé da letra.
  • 35:19 - 35:22
    Mas sabemos, por outro lado,
  • 35:22 - 35:26
    que quando isso acontecerá teremos, inequivocavelmente, a confirmação.
  • 35:26 - 35:32
    E portanto, do nosso ponto de vista, dedicar-se
    com excesso a estes assuntos é desaconselhado.
  • 35:33 - 35:37
    É importante salientar que o horizonte de referência dos mestres de Israel
  • 35:38 - 35:41
    é diferente respeito aquele de um cristão
  • 35:41 - 35:46
    porque compreende um número inferior de livros
    que constituem o Tanakh,
  • 35:46 - 35:48
    que é composto de 24 livros.
  • 35:50 - 35:56
    Entre esses livros, o Pentateuco, a Torah, tem uma dignidade superior.
  • 35:57 - 36:01
    Tudo na nossa doutrina é baseado nas tradições.
  • 36:01 - 36:06
    Os mestres utilizaram uma série de regras hermenêuticas para extrair dos ensinamentos
  • 36:06 - 36:12
    que ainda hoje constituem a base imprescendível que regula a nossa compreensão da Torah.
  • 36:13 - 36:19
    Em geral podemos distinguir quatro níveis diferentes de leitura
  • 36:19 - 36:21
    que são sintetizadas nas siglas PaRDeS:
  • 36:21 - 36:26
    1 - Uma leitura plana do texto segundo o seu sentido literal, Pshat.
  • 36:26 - 36:31
    2 - A leitura através referências, o Remez,
    contidas no texto.
  • 36:32 - 36:34
    De acordo com esse tipo de leitura, por exemplo,
  • 36:34 - 36:36
    já no texto da criação do mundo
  • 36:36 - 36:39
    são mencionados os eventos que caracterizarão
  • 36:39 - 36:41
    os seis milênios sucessivos da
    história da humanidade.
  • 36:42 - 36:47
    Ou as histórias dos patriarcas que antecipam
    aquilo que acontecerá aos seus descendentes.
  • 36:49 - 36:53
    Terceira leitura é aquela específica do Midrash,
    o Drash,
  • 36:53 - 36:58
    que é o elemento mais identificador da leitura
    hebraica das Escrituras.
  • 36:58 - 37:01
    Por exemplo, daria para falar muito sobre isso
  • 37:01 - 37:04
    visto que o material midrashico é exterminado.
  • 37:05 - 37:07
    Numerosos Midrashim dizem respeito
    às cartas hebraicas
  • 37:07 - 37:10
    e os valores numéricos das várias palavras
    em um sistema,
  • 37:10 - 37:14
    no qual é atribuido um valor
    numérico, ghematriah.
  • 37:15 - 37:17
    para cada letra do alfabeto hebraico, e deles
    é possível extrair ensinamentos.
  • 37:18 - 37:21
    4 - A leitura mística, o Sod, que encontra no Zohar,
  • 37:22 - 37:24
    o Livro dos Esplendores, o seu auge.
  • 37:24 - 37:27
    Para acessar esse nível de leitura, não ao alcance
    de todos,
  • 37:27 - 37:29
    de acordo com as manifestações
    de Maimônides,
  • 37:29 - 37:35
    devemos estar com o estômago cheio
    de carne e vinho antes de começar.
  • 37:37 - 37:43
    Eh… o primeiro autor que tratou desses temas foi
    o espanhol Rabbi Moshe ben Nahman,

  • 37:43 - 37:46
    que viveu no século XIII.
  • 37:46 - 37:50
    Porém, aquilo que é fundamental, é que é
    indispensável uma interpretação.
  • 37:51 - 37:54
    E isso diferencia o judaísmo rabínico
    de muitas outras leituras,
  • 37:54 - 37:58
    como aquela dos Caraítas da Crimeia, que não
    tencionam desviar-se do texto.
  • 37:58 - 38:00
    Por isso a Lei do Talião, por exemplo,
  • 38:01 - 38:03
    deve ser entedida literalmente de acordo com os
    Caraítas da Crimeia,
  • 38:03 - 38:05
    enquanto que de acordo com
    a interpretação rabínica
  • 38:05 - 38:08
    esse preceito serve para instituir a prática
    do ressarcimento do prejuízo causado.
  • 38:08 - 38:10
    Falando das regras do sábado,
  • 38:10 - 38:12
    no judaísmo é tão importante,
  • 38:13 - 38:16
    e invés na tradição escrita
    não se fala muito,
  • 38:17 - 38:19
    e de qualquer forma muito menos
    que outros argumentos.
  • 38:19 - 38:23
    Os mestres afirmam que se trata
    de uma situação delicada.
  • 38:25 - 38:28
    As numerosas regras relativas ao sabbath, portanto,
  • 38:28 - 38:32
    são obtidas somente dessas poucas referências
    presentes no texto bíblico e portanto,
  • 38:33 - 38:38
    do nosso ponto de vista não é possível imaginar o
    texto sem a interpretação que o acompanha.
  • 38:39 - 38:42
    A Biblia deve ser lida de modo literal
    ou metafórico?
  • 38:43 - 38:45
    Depende do lado que nos colocamos.
  • 38:45 - 38:48
    Realmente aquilo que dizia Mauro, Mauro Biglino,
  • 38:49 - 38:53
    é muito importante o fato que nós devemos
    ver os textos da Bíblia
  • 38:54 - 38:57
    também através da experiência do nosso intelecto,
  • 38:57 - 39:00
    usando as exegeses bíblicas,
  • 39:00 - 39:05
    e também as explicações através do nosso
    ponto de vista científico e teológico.
  • 39:05 - 39:09
    Teológico de uma parte, do ponto de vista
    teológico cristão,
  • 39:09 - 39:11
    e científico do ponto de vista da ciência.
  • 39:11 - 39:17
    Porque…ehm… nenhum entre esses que ….eh….
    dos meus…. co-relatores aqui,
  • 39:18 - 39:20
    pode negar a existência da ciência,
  • 39:21 - 39:21
    e sobretudo,
  • 39:22 - 39:29
    a evidência científica dos tantos textos e também
    daquilo que nós…. científica, religiosa e histórica.
  • 39:29 - 39:31
    Portanto, nós não negamos a ciência
  • 39:31 - 39:34
    e a possibilidade de outras coisas
    que nós não podemos
  • 39:34 - 39:37
    e não temos a capacidade de demonstrar.
  • 39:37 - 39:40
    Mauro disse que devemos tomar, e sobretudo…
  • 39:41 - 39:44
    ...eh… a Bíblia deve ser interpretada literalmente,
  • 39:45 - 39:48
    portanto: Deus criou os Céus e a Terra,
  • 39:48 - 39:50
    portanto é… é do ponto de vista,
  • 39:51 - 39:57
    alguém criou esse Deus, lhe deu a força
    onipotente para criar os Céus e a Terra,
  • 39:58 - 40:00
    e criou aquilo que nós vemos.
  • 40:00 - 40:02
    Porém, o mesmo Mauro, por exemplo,
  • 40:02 - 40:04
    em inúmeras conferências….
  • 40:04 - 40:07
    ...estão vendo que eu acompanho o trabalho
    do Mauro Biglino, eh !! Veem?
  • 40:07 - 40:10
    Eh!! Não sou um ignorante, eh !!
  • 40:12 - 40:17
    Até Mauro, muitas vezes, eh…. usa
    alegorismo e metáfora.
  • 40:17 - 40:21
    Por exemplo, ele interpreta a serpente de Moisés como um cientista, um médico, não !!
  • 40:23 - 40:25
    Eh… a serpente do Gênesis,
  • 40:26 - 40:31
    ele diz que na realidade, é um homem de ciência,
    um cientista que se ocupa de engenharia genética.
  • 40:31 - 40:32
    É verdade ou não?
  • 40:32 - 40:39
    Portanto, até Mauro, muitas vezes não
    leva ao pé da letra.
  • 40:39 - 40:43
    Mas até metofo… me… meto… he… metaf… me.. eh… desculpem a minha língua italiana.
  • 40:44 - 40:47
    Metofor… metaforicamente.
  • 40:48 - 40:49
    E portanto,
  • 40:49 - 40:54
    mesmo aqueles que contradizem a
    existência de Deus na… na Bíblia,
  • 40:56 - 41:01
    Yahvéh, Elohim, Elohim, eh… plurale… eh…. aquilo que vocês quiserem,
  • 41:01 - 41:04
    e aqui quero fazer um pequeno….
  • 41:04 - 41:07
    ...estou devendo ao nosso caro amigo,
    uma resposta.
  • 41:08 - 41:10
    O ex imperador de Roma,
  • 41:10 - 41:11
    o César !!
  • 41:12 - 41:13
    Era uma única pessoa.
  • 41:14 - 41:15
    É verdade, era um imperador.
  • 41:15 - 41:16
    Um homem!
  • 41:17 - 41:18
    Ou não?
  • 41:18 - 41:19
    Eram vários Césares?
  • 41:19 - 41:20
    Era um, um imperador.
  • 41:20 - 41:22
    Quantos apelativos possuia?
  • 41:22 - 41:26
    Pontífice Maximum, Sumo Pontífice, o Deus Sol.
  • 41:27 - 41:29
    Portanto, usava o plural.
  • 41:30 - 41:31
    Na nossa Igreja Ortodoxa,
  • 41:32 - 41:35
    quando eu assino, por exemplo nos documentos, digo:
  • 41:35 - 41:36
    “Nós, Avondios”.
  • 41:38 - 41:40
    Não existem vários Avondios.
    Sou um.
  • 41:41 - 41:43
    E graças a Deus, porque sozinho
    já cometo tantos erros.
  • 41:45 - 41:50
    E portanto, vejam, quando assinamos no.. no…
  • 41:50 - 41:54
    ...digamos… no… no… nos nossos documentos ecleciásticos, eu digo:
  • 41:55 - 42:02
    “Nós Avondios, pela graça de Deus, bispo de Milano” ou “de Brescia…” “Nós”. Por que “nós”?
  • 42:03 - 42:04
    A rainha da Inglaterra
  • 42:05 - 42:10
    quando está diante do povo diz: “Nós decidimos…
    ...nós queremos…”.
  • 42:10 - 42:13
    Portanto, veem como se pode
    interpretar esse “nós”,
  • 42:13 - 42:18
    alegoric… a… do ponto de vista alegórico?
    Ou literal?
  • 42:18 - 42:20
    Portanto, devemos diferenciar.
  • 42:20 - 42:25
    Eu gosto de fazer…. como posso dizer, analogias… analogias..
  • 42:27 - 42:31
    ...eh…. não muito teológicas, mas com
    as coisas naturais, nossas.
  • 42:31 - 42:37
    A Bíblia deve ser lida, muitas vezes,
    também através da nossa capacidade intelectual.
  • 42:38 - 42:40
    Eu não sei nada sobre Deus.
  • 42:40 - 42:43
    Eu não vi Deus. Vocês já o viram?
  • 42:44 - 42:45
    Já o viram?
  • 42:46 - 42:47
    Não o viram?
  • 42:48 - 42:51
    Não porque não dá para ver aquilo
    que não se pode ver.
  • 42:51 - 42:54
    Não dá para ver aquilo que não existe.
  • 43:02 - 43:06
    Não dá… não dá para ver aquilo
    que não tem forma.
  • 43:06 - 43:07
    Por exemplo...
  • 43:07 - 43:09
    ....Fez de propósito. Fez de propósito.
  • 43:10 - 43:16
    Eis, por exemplo, bravo. Eh… vê… ao menos eu
    fiz toda a plateia rir.
  • 43:18 - 43:21
    A causa disso preciso de um minuto a mais.
  • 43:22 - 43:23
    Como por exemplo,
  • 43:23 - 43:25
    nós não vemos a corrente elétrica,
  • 43:27 - 43:30
    mas vemos o resultado da corrente elétrica.
  • 43:30 - 43:35
    Se, ao invés, quisermos sentir a eletricidade, coloquem dois pregos na tomada
  • 43:35 - 43:37
    e a sentirão realmente bem forte !!
  • 43:37 - 43:41
    O cabelo vai arrepiar… eh.. ficarão
    bem encaracolados.
  • 43:42 - 43:45
    Portanto, vejam, Deus também… eh..
  • 43:45 - 43:54
    Deus existe em uma forma desconhecida para nós e priva, digamos, de visibilidade ao Homem,
  • 43:54 - 44:00
    mas podemos conhecê-Lo através do espírito,
    a espiritualidade.
  • 44:01 - 44:07
    Portanto, você deve se colocar em condição
    espiritual na escuta daquele que existe.
  • 44:08 - 44:10
    Então, sem dúvidas,
  • 44:10 - 44:12
    aqui não tenho dúvidas,
  • 44:13 - 44:16
    a Bíblia não deve ser lida de modo alegórico
  • 44:17 - 44:20
    se tomamos a alegoria no seu sentido técnico,
    ou seja,
  • 44:21 - 44:26
    como tem sido usada na tradição da Igreja
    e em outros locais, isto é,
  • 44:27 - 44:29
    que cada simples palavra,
  • 44:29 - 44:31
    cada particularidade do texto,
  • 44:31 - 44:35
    além do significado que contém,
  • 44:36 - 44:40
    e naturalmente nós sabemos que para veicular
    um significado é necessário uma frase.
  • 44:41 - 44:43
    Portanto, traduzir palavra por palavra
    não é traduzir.
  • 44:43 - 44:45
    Mas essa é uma outra conversa.
  • 44:45 - 44:50
    Cada palavra indica, praticamente, algo a mais.
  • 44:51 - 44:53
    Indica algo a mais.
  • 44:54 - 44:58
    Por exemplo na tradição cristã, mas não só nela,
    se usa para indicar tudo,
  • 44:59 - 45:03
    mas também para encontrar significados
    espirituais de textos
  • 45:04 - 45:08
    que aparentemente não tinham
    nenhum significado.
  • 45:08 - 45:09
    Por exemplo,
  • 45:09 - 45:11
    dessa forma eu também faço vocês rirem.
  • 45:11 - 45:16
    No Cântico dos Cânticos se diz que a moça tem um colar entre os dois seios.
  • 45:17 - 45:19
    Tem um sacerdote da Igreja
  • 45:19 - 45:24
    que diz que aquele colar é Jesus Cristo que está
    exatamente entre duas montanhas,
  • 45:24 - 45:27
    que são o Antigo e o Novo Pacto, etc.
  • 45:27 - 45:31
    Portanto, existem algumas páginas da Bíblia
  • 45:33 - 45:38
    que foram escritas para serem lidas como
    alegorias, mas é o texto a dizer isso.
  • 45:38 - 45:39
    São raras exceções.
  • 45:39 - 45:43
    Ezequiel 17 diz: “Vos conto agora – hidah e WvY – masal”,
  • 45:43 - 45:45
    uma anologia, um enigma,
  • 45:45 - 45:49
    e conta uma história impossível de uma águia que
    arranca a ponta de um cedro,
  • 45:50 - 45:53
    a planta e se transforma em uma videira, e em
    seguida vem outra águia...
  • 45:54 - 45:56
    ...mas alguns versículos depois explica
    que aquilo são reis.
  • 45:57 - 45:59
    É uma alegorização de um evento histórico.
  • 45:59 - 46:01
    Portanto, a alegoria é descartada.
  • 46:01 - 46:03
    A Bíblia deve ser lida por aquilo que está escrito.
  • 46:03 - 46:05
    Aqui começam os problemas.
  • 46:05 - 46:08
    Entretanto é necessário fazer atenção
    aos gêneros literários.
  • 46:09 - 46:14
    Nós não lemos Anais Nin da mesma forma
    em que lemos o código civil.
  • 46:14 - 46:18
    Não lemos um ensaio de Umberto Eco
    sobre a literatura….
  • 46:19 - 46:27
    ...nos demos conta que são textos diferentes à poesia da Maz…. de…. tudo bem, não lembro o nome… etc…etc..
  • 46:27 - 46:29
    Até na Bíblia existem diferentes textos,
  • 46:29 - 46:36
    e ler textos diferentes como se fossem todos iguais
    é uma tentação, justamente, muito eclesiástica.
  • 46:36 - 46:40
    Já que deveria sempre ser verdade
    do início até o fim…
  • 46:40 - 46:40
    Não!
  • 46:41 - 46:47
    Existem poesias, existem protestos, existem
    lamentações, existem leis, existem mitos.
  • 46:48 - 46:51
    Para ler os contos da criação
  • 46:53 - 46:55
    é necessário lê-los por aquilo que são.
  • 46:55 - 46:57
    Por exemplo, hoje só é possível
    ler esses racontos
  • 46:58 - 47:02
    tomando como analogia as narrativas
    do Antigo Oriente Próximo.
  • 47:03 - 47:07
    Ali o problema não é se criou mesmo
    em sete dias, etc.
  • 47:07 - 47:09
    É claro que é uma interpretação do mundo.
  • 47:10 - 47:14
    E é uma interpretação do mundo
    que hoje me interpela
  • 47:14 - 47:16
    porque diz o resultado,
  • 47:16 - 47:19
    essa esfera na qual nós vivemos
  • 47:20 - 47:26
    não é o universo sagrado de potências
    que se confrontam,
  • 47:27 - 47:29
    é uma dimensão profana,
  • 47:30 - 47:31
    dessacralizada,
  • 47:31 - 47:39
    que um Deus que fala e as coisas acontecem,
    deu para os humanos administrar.
  • 47:40 - 47:41
    É isso que é.
  • 47:41 - 47:43
    É dessa forma é que eu leio esse conto.
  • 47:44 - 47:46
    É claro que a serpente,
  • 47:47 - 47:53
    com a boa paz de toda a tradição cristã até o meu
    amigo Lutero, não é Satanás.
  • 47:54 - 47:57
    E não existe nenhum protovangelo ao pé da letra.
  • 47:57 - 47:59
    Depois falaremos sobre isso, talvez depois…
  • 47:59 - 48:03
    ...é dessa forma que nós, hoje, lemos
    a Bíblia nas faculdades de teologia.
  • 48:03 - 48:11
    Se tenho um minuto faço um exemplo daqueles
    que seria como riscar um fósforo na gasolina.
  • 48:12 - 48:13
    Vocês entenderam que eu sou um brincalhão..
  • 48:15 - 48:15
    ...por exemplo....
  • 48:16 - 48:18
    ...o problema verdadeiro é esse,
  • 48:19 - 48:21
    a minha pergunta hoje é:
  • 48:21 - 48:28
    na Bíblia, certamente… a Bíblia… os autores
    da Bíblia quiseram metaforizar
  • 48:29 - 48:31
    coisas que antes não eram metaforizadas.
  • 48:31 - 48:33
    E existem metáforas na Bíblia.
  • 48:33 - 48:37
    Então, a pergunta ali é saber individualizar
    com parcimônia, não?
  • 48:38 - 48:42
    Justamente, Biglino tem razão: quando é
    conveniente ou inconveniente é metáfora ou não é.
  • 48:42 - 48:45
    Eu penso que quando se diz que Deus
    é a minha fortaleza,
  • 48:46 - 48:48
    sempre foi uma metáfora.
  • 48:48 - 48:51
    Quando se fala sobre a face de Deus,
  • 48:52 - 48:54
    um tempo não era (metáfora).
  • 48:54 - 48:56
    Ou quando se diz que Adonai,
  • 48:56 - 49:00
    eu não pronuncio o tetragrama em respeito
    àqueles que não o pronunciam,
  • 49:00 - 49:02
    é aquele que vem de teman,
  • 49:02 - 49:04
    aquele que sai do deserto,
  • 49:04 - 49:08
    que faz com que as cervas deem à luz no deserto
    e que arrebenta tudo,
  • 49:08 - 49:13
    provavelmente no início não era uma metófora,
    era a representação de um deus guerreiro.
  • 49:13 - 49:15
    Trinta segundos.
  • 49:15 - 49:16
    Mas é claro…
  • 49:16 - 49:17
    ...está bem...
  • 49:17 - 49:20
    ...mas é claro que a nível dos últimos editores,
  • 49:20 - 49:21
    que para mim são...
  • 49:21 - 49:24
    ...são aqueles que fizeram a Bíblia
    que nós lemos,
  • 49:24 - 49:27
    que são entre a época persiana
    e a época helenística,
  • 49:27 - 49:31
    não cancelaram, sendo literatura de tradição,
  • 49:31 - 49:37
    nem mesmo os fragmentos ainda politeísticos
    que estão no texto deles,
  • 49:37 - 49:40
    mas é evidente que ali tencionam como metáfora.
  • 49:40 - 49:44
    Eu traduzo assim o versículo 1 do Salmo 82:

  • 49:45 - 49:50
    “Elohim é presente na assembleia di El”.
  • 49:51 - 49:53
    Eu penso que o primeiro Elohim
  • 49:54 - 49:57
    foi propositalmente substituído
    pelo tetragrama (Yahweh),
  • 49:57 - 49:59
    para deixá-lo mais monoteísta.
  • 49:59 - 50:03
    Ou seja, na época persiana, para não dar a
    impressão que quando se fala de Adonai,
  • 50:03 - 50:08
    estamos falando do nosso deus nacional de província mas enfim falamos de um único Deus,
  • 50:08 - 50:12
    Elohim, gramaticalmente plural
  • 50:12 - 50:15
    mas é cheio de plurais singulares
    na Bíblia hebraica.
  • 50:15 - 50:17
    Todas as gramáticas sabem disso.
  • 50:17 - 50:20
    “Um Elohim está presente na assembleia de El”,
  • 50:20 - 50:22
    ...ou seja, na assembleia dos deuses,
  • 50:22 - 50:24
    “no meio aos Elohim julga”.
  • 50:24 - 50:28
    Isto é, demonstra que é o mais
    influente dos deuses.
  • 50:28 - 50:30
    E no fim disse sobre os outros:
  • 50:30 - 50:33
    “Vocês são deuses, todos filhos de Elyon”,
  • 50:33 - 50:38
    o chefe do Pantheon, “mas vocês morrerão… e eu não” (“e eu não” não está no Salmo).
  • 50:39 - 50:43
    Eu leio dessa forma, nas terças de manhã, em um curso de teologia do Antigo Testamento.
  • 50:44 - 50:46
    Creio ter lido aquilo que está escrito.
  • 50:47 - 50:48
    Depois alguém pode dizer:
  • 50:48 - 50:54
    “Essa é a publicidade de alguém que inventou que o seu El de província é o único Deus monoteísta”.
  • 50:54 - 50:55
    Eu direi:
  • 50:56 - 51:00
    “Creio que seja a remota voz de Deus que
    me interpela dessa forma também”.
  • 51:00 - 51:02
    Mas isso eu deixo para um segundo plano.
  • 51:02 - 51:07
    Se discutimos a forma que se deve ler, eu creio que se deva ler assim. Terminei.
  • 51:08 - 51:11
    Aqui não é uma questão de ser ou
    não ser intelectuais.
  • 51:11 - 51:15
    Tem uma taxa, de modo especial ousarei dizer,
    no mundo católico, não naquele protestante,
  • 51:16 - 51:18
    tem uma taxa de estranheza daquele texto,
  • 51:19 - 51:26
    que sobre aquele texto se pode dizer tudo aquilo que quiser, vai além das metáforas e alegorias.
  • 51:27 - 51:29
    E cada um o toma como
    se fosse uma palavra…
  • 51:29 - 51:33
    ...mas ao invés, a Bíblia é feita para
    se medir com ela.
  • 51:34 - 51:36
    Para se confrontar.
  • 51:36 - 51:39
    Não é uma… uma agenda turística.
  • 51:40 - 51:43
    E certamente não fala de futebol.
  • 51:43 - 51:44
    Portanto,
  • 51:45 - 51:50
    eu diria que a isso eu adiciono a metáfora, a alegoria é… é típica da linguagem humana,
  • 51:50 - 51:52
    inclusive com diferentes sentidos.
  • 51:52 - 51:54
    Se eu digo, por exemplo, que estou falando
  • 51:54 - 51:57
    e os argumentos fluem
    (correm suavemente - tradução literal),
  • 51:57 - 51:58
    estou usando uma metáfora.
  • 51:59 - 52:02
    Na linguagem comum, corrente, a metáfora
    é parte constitutiva da comunicação.
  • 52:03 - 52:08
    Portanto, eu diria que é óbvio que na Bíbia,
    que é um livro rico de comunicação,
  • 52:08 - 52:10
    riquíssimo de comunicação,
  • 52:10 - 52:19
    existem partes da Bíblia, sobretudo, mas diria que
    no total a Bíblia inteira é feita para comunicar.
  • 52:19 - 52:21
    É feita para comunicar alguma coisa fundamental,
  • 52:22 - 52:27
    e usa algo a mais que serve como passagem
    para comunicar esse algo de fundamental.
  • 52:27 - 52:30
    O que a Bíblia quer comunicar fundamentalmente?
  • 52:30 - 52:34
    Quer tentar colocar Deus à frente do Homem
    e o Homem à frente de Deus,
  • 52:34 - 52:38
    o suficiente que consegue intuir a presença
    no interno da história,
  • 52:38 - 52:42
    nesse caso especificadamente para o
    Antigo Testamento, o povo hebraico,
  • 52:42 - 52:44
    mas não somente ele.
  • 52:44 - 52:48
    Portanto, dentro disso, eu sei que enquanto está
    me falando de eventos de fatos,
  • 52:48 - 52:53
    quem sabe, notícias daquele tempo, eu sei que a intenção fundamental é uma outra.
  • 52:54 - 52:57
    Quando eu procuro um sentido
    alegórico no interno da Bíblia,
  • 52:57 - 53:00
    eu procuro porque compreendo que
    quer me dizer uma determinada coisa.
  • 53:00 - 53:05
    O sentido da Bíblia não é informar sobre
    a sucessão dos reis de Israel.
  • 53:06 - 53:11
    É através daqueles acontecimentos lançar
    uma mensagem mais profunda.
  • 53:12 - 53:14
    Trata-se porém, no meu ponto de vista,
  • 53:14 - 53:22
    de presumir que é sempre necessário partir
    de um significado que é literal
  • 53:22 - 53:25
    e depois disso, eventualmente, ver se isso
    estimula algo mais.
  • 53:25 - 53:26
    Por exemplo,
  • 53:26 - 53:34
    intervenho com quem me precedeu sobre
    a famosa primeira página do Gênesis.
  • 53:36 - 53:39
    Francamente lhes digo que isso
    me interessa muito, eh…
  • 53:40 - 53:44
    ...meu interesse é em como um chinês a receberia.
  • 53:44 - 53:47
    Não um chinês culto, que já viajou pela Europa,
    nas grandes capitais,
  • 53:47 - 53:54
    mas um chinês com uma cultura milenar, abre aquela página, uma outra cultura completamente diferente, abre e lê.
  • 53:55 - 53:58
    Isso eu sei através da minha própria experiência,
    é um choque anafilático.
  • 53:59 - 54:01
    São duas culturas completamente
    diferentes.
  • 54:01 - 54:04
    Se não decifrar e não tentar entrar
    em algo que é diferente de você,
  • 54:04 - 54:11
    você, inexoravelmente, traduz a leitura daquele texto de uma outra tradição,
  • 54:12 - 54:14
    lerá de acordo com as regras da tua tradição.
  • 54:15 - 54:20
    O sentido literal passa a ser… o texto exprimirá… aquilo que para você, na tua cultura, é evidente.
  • 54:20 - 54:23
    Aqui deveria dizer algumas
    coisas que preparei com…
  • 54:24 - 54:27
    ...digamos com.. mas exigiria muito tempo…
  • 54:27 - 54:34
    então, o nosso Ocidente se acostumou a uma
    forma de ler a realidade de um modo literal
  • 54:34 - 54:37
    que é altamente histórica e racional.
  • 54:37 - 54:38
    E crê nisso.
  • 54:39 - 54:41
    Mas isso não é compartilhado
    por outras culturas,
  • 54:42 - 54:45
    que consideram que a intervenção literal
    mais importante é a um outro nível.
  • 54:46 - 54:47
    Por exemplo….
  • 54:47 - 54:48
    ...por exemplo,
  • 54:49 - 54:55
    se eu digo que toda a cultura tradicional indú
    não possui historiadores
  • 54:56 - 54:58
    porque a história é o fenômeno.
  • 54:59 - 55:00
    Não é aquilo que diz.
  • 55:00 - 55:03
    Não é aquilo que diz a realidade verdadeira,
    aquilo que realmente conta.
  • 55:03 - 55:06
    Não é a história a….. mas no Ocidente
    não dá para dizer isso.
  • 55:06 - 55:16
    Tivemos três séculos de ferozes críticas, textuais, literais, histórica, de confronto, contradições, textos, documentos, lápides….
  • 55:19 - 55:21
    Isso exigiria, realmente,
  • 55:22 - 55:28
    aquilo que hoje os grandes investigadores
    do sentido literal da Bíblia,
  • 55:28 - 55:31
    catalogaram enfim no decorrer de 150 anos,
  • 55:32 - 55:37
    quatro níveis de críticas e autocrítica da forma
    de apoiar-se às Escrituras
  • 55:37 - 55:44
    para conhecer o modo com o qual apoiar-se às Escrituras sem impor critérios de uma racionalidade que é …
  • 55:46 - 55:49
    típico de uma cultura mas não é a palavra.
  • 55:50 - 55:52
    Rapidamente digo sobre o Gênesis,
  • 55:52 - 55:54
    assim intervenho com uma
    pequena observação.
  • 55:54 - 55:58
    Considero que quando o Gênesis foi escrito,
    havia um outro nível de conhecimento.
  • 55:58 - 56:01
    O mundo se julgava com aquele
    instrumento científico,
  • 56:02 - 56:04
    isso vale para Galileo também,
  • 56:04 - 56:07
    com o instrumento científico que
    eram os olhos,
  • 56:08 - 56:09
    o tato.
  • 56:10 - 56:11
    Ou seja, os sentidos.
  • 56:11 - 56:13
    Não existia um outro
    instrumento científico.
  • 56:13 - 56:15
    E era um instrumento científico.
  • 56:15 - 56:18
    Portanto, acusar de não haver
    valor científico, as épocas
  • 56:18 - 56:20
    que não possuiam ainda a possibilidade,
  • 56:20 - 56:23
    com o telescópio, do instrumento
    intermediário novo,
  • 56:24 - 56:27
    quer dizer julgá-los com um critério diferente respeito aqueles que tinham.
  • 56:27 - 56:33
    Com os olhos, o Gênesis me mostra o Universo
    de uma certa maneira.
  • 56:33 - 56:35
    E a qual é a maneira?
  • 56:35 - 56:42
    É um conjunto de objetos que estão pendurados em um côncavo metálico especial…, etc. etc..
  • 56:42 - 56:44
    É um tipo de explicação.
  • 56:44 - 56:49
    Mas aquele sentido literal não é de nenhuma
    maneira feito para me traduzir,
  • 56:49 - 56:51
    para me dizer que devo aprender
    a ciência daquela forma.
  • 56:51 - 56:53
    Se supõe com o conhecimento do tempo.
  • 56:53 - 56:55
    Aquilo que quer me dizer, ao invés,
  • 56:55 - 56:58
    é que tudo aquilo é, como ele dizia antes
    justamente (refere-se a Garrone),
  • 56:58 - 57:00
    são coisas, não são deuses.
  • 57:00 - 57:04
    Cada uma daquelas coisas que são
    colocadas ali, no mundo circundante eram deuses:
  • 57:04 - 57:07
    sol, lua, estrelas, astros, etc..
  • 57:07 - 57:11
    E são coisas. São como pingentes.
  • 57:11 - 57:13
    Começando pela ciência do tempo.
  • 57:13 - 57:14
    Obrigado.
  • 57:19 - 57:20
    Chegamos à terceira pergunta.
  • 57:21 - 57:24
    Deixando de lado o tema espinhoso sobre
    as diferentes interpretações,
  • 57:25 - 57:30
    peço agora se existem traduções bíblicas
    que não são compartilhadas por todos.
  • 57:30 - 57:35
    E se existem, quais são as traduções
    mais contestadas ou contestável.
  • 57:37 - 57:41
    Então…. para evitar obviamente discussões
  • 57:42 - 57:46
    que seriam inviáveis com o tempo
    colocado a disposição,
  • 57:47 - 57:49
    e que duram da tanto tempo, por exemplo:
  • 57:49 - 57:54
    antes se falava do plural dos Elohim, etc… portanto não.. digamos que não faz
    parte da pergunta,
  • 57:55 - 57:57
    porque esse seria um tema muito,
    muito interessante !!
  • 57:57 - 58:00
    Muito interessante, mas não faz parte da pergunta
  • 58:00 - 58:04
    porque não é uma tradução contestada ou
    contestável, seria realmente…
  • 58:04 - 58:06
    ...seria uma chave de leitura....
  • 58:06 - 58:08
    mesmo gramaticalmente, etc..,
  • 58:08 - 58:10
    com toda uma série de
    exemplos específicos, etc..
  • 58:10 - 58:12
    Mas existem traduções
  • 58:13 - 58:16
    que parecem claramente não verdadeiras.
  • 58:19 - 58:21
    Poderia dar tantos exemplos….
  • 58:22 - 58:25
    ...por exemplo, verbos que no plural
    são traduzidos no singular
  • 58:25 - 58:27
    quando aparentemente não teria necessidade,
  • 58:28 - 58:31
    como Gênesis 20:13, Gênesis 35:7...
  • 58:33 - 58:37
    ...onde justamente se diz que a Abraão
    se apresentaram alguns indivíduos.
  • 58:37 - 58:40
    O verbo em hebraico está no plural, em italiano
    está traduzido no singular,
  • 58:40 - 58:43
    enquanto outros verbos no plural
    estão traduzidos no plural.
  • 58:44 - 58:51
    E isso daria a ideia do fato que aquelas traduções tendem convencer que ali se fale do Deus único, universal,
  • 58:51 - 58:53
    isto é, do Deus do monoteísmo.
  • 58:53 - 58:55
    Tem, por exemplo, uma tradução,
  • 58:55 - 58:58
    e esta ao invés eu a cito porque,
    como posso dizer,
  • 58:58 - 59:00
    a documentação não é somente minha,
  • 59:00 - 59:02
    porque se eu afirmo me dou conta
    que tem pouco valor,
  • 59:02 - 59:05
    mas, realmente...não é… eh… não é
    uma brincadeira.
  • 59:05 - 59:07
    Digo realmente porque sou consciente.
  • 59:07 - 59:10
    Por exemplo no Gênesis 17 quando Deus…
  • 59:10 - 59:14
    ...Deus, digamos dessa forma, quando o Elohim
    se apresenta a Abraão e lhe diz:
  • 59:14 - 59:16
    “Eu sou Deus, o inopotente”.
  • 59:16 - 59:18
    Ora, em hebraico está como el shaddai,
  • 59:19 - 59:21
    e shaddai é traduzido como onipotente.
  • 59:21 - 59:25
    É traduzido sempre assim na Bíblia… poucas
    vezes, mas é sempre traduzido como onipotente.
  • 59:26 - 59:28
    Ora, na Bíblia de Jerusalém, em nota
    de rodapé (N.B), está escrito
  • 59:28 - 59:33
    que a tradução como onipotente é inexata
  • 59:33 - 59:37
    porque na realidade poderia significar ou...
  • 59:37 - 59:42
    ...traduzamos “el” como “Deus”, tudo bem, dessa
    forma não introduziremos discussões inúteis...
  • 59:42 - 59:47
    ...ou “Deus da montanha” ou, melhor ainda,
    "Deus da estepe".
  • 59:47 - 59:50
    Bem, visto que na nota de rodapé
    da Bíblia de Jerusalém está escrito
  • 59:51 - 59:53
    que não significa “o Onipontente”,
  • 59:54 - 59:55
    eu me pergunto:
  • 59:55 - 60:03
    por que nesse momento no mundo estão sendo imprimidas Bíblias onde, seguramente, está escrito “o onipotente”?
  • 60:03 - 60:06
    Por que ninguém tem nada para dizer sobre isso
  • 60:07 - 60:09
    quando todos sabem que o significado
    não é onipotente?
  • 60:10 - 60:11
    Eu me dou conta…. isto é,
    o porquê disso eu sei.
  • 60:11 - 60:14
    É claro que se na Bíblia se escreve
    “El da estepe”…
  • 60:14 - 60:21
    ...antes o doutor Garrone dizia, justamente,
    esse El, essa visão desse El dos desertos, etc..
  • 60:22 - 60:24
    …. se fosse escrito “ El da estepe” ,
  • 60:24 - 60:27
    os fieis, como posso dizer, no mínimo
    se perguntariam:
  • 60:27 - 60:30
    “Como? Esse diz que é Deus e se
    apresenta como Deus da estepe?”
  • 60:31 - 60:33
    Quer dizer que não é o Deus da montanha,
    não é o Deus das águas,
  • 60:33 - 60:36
    não é o Deus da…. mas é o Deus da estepe.
  • 60:37 - 60:46
    Ora, essa é uma tradução no interno da…. pela qual a própria exegese domenicana do École Biblique de Jerusalém diz que é errada.
  • 60:48 - 60:51
    Todos sabem disso mas a tradução
    continua sendo dessa forma.
  • 60:51 - 60:53
    Também têm os verbos que significam,
    por exemplo,
  • 60:53 - 60:57
    o anjo que vai embora caminhando e
    é traduzido como “desapareceu”.
  • 60:57 - 61:00
    Tem… enfim… outros verbos, outros…
  • 61:02 - 61:06
    ...o anjo, assim dito: Gabriel, que
    se apresenta a Daniel
  • 61:06 - 61:08
    e que na Bíblia está escrito:
    “chegou voando levemente”,
  • 61:08 - 61:14
    existem dicionários de etmologia hebraica
    que traduzem: “Chegou muito cansado/exausto”.
  • 61:15 - 61:18
    Repito, essas traduções, talvez, poderiam....
    devido às raízes....
  • 61:18 - 61:23
    ...mas “o Onipotente” está escrito que é de
    conhecimento comum que não quer dizer isso,
    mas ao invés, continuam afirmando que sim.
  • 61:23 - 61:25
    Essas são as coisas das quais,
    que na minha opinião,
  • 61:25 - 61:30
    seria interessante e útil intervir
    para proporcionar um pouquinho mais de...
  • 61:30 - 61:31
    ...desculpem...
  • 61:32 - 61:33
    ...um pouco mais de clareza.
  • 61:34 - 61:38
    A verdade de qualquer tradução é muito relativa.
  • 61:39 - 61:44
    Cada tradutor sabe que não pode ser
    totalmente fiel em relação ao texto original.
  • 61:44 - 61:47
    Existem numerosos elementos na passagem
    de uma língua para outra,
  • 61:47 - 61:49
    por mais que o tradutor tenha capacidade,
  • 61:50 - 61:55
    são irremediavelmente perdidos, como o número
    das palavras presentes no original.
  • 61:56 - 61:58
    Ou então o desempenho dos termos ambíguos,
  • 61:58 - 62:01
    que em hebraico são iguais, enquanto que
    na tradução revelam-se diferentes.
  • 62:01 - 62:02
    Justamente.
  • 62:03 - 62:06
    Os mestres de Israel reconhecem ao hebraico
    uma série de características únicas
  • 62:07 - 62:10
    que justificam a sua escolha como
    língua da revelação.
  • 62:11 - 62:17
    Por isso, por exemplo, consideram a tradução da Versão dos Setenta (Septuaginta), uma desgraça para a humanidade.
  • 62:17 - 62:19
    Visto que naquela tradução redigida
    pelos hebreus,
  • 62:20 - 62:22
    além dos problemas de qualquer tradução
  • 62:22 - 62:25
    foi também efetuada uma operação
    de mediação cultural.
  • 62:26 - 62:33
    Porque certos aspectos presentes no interior do texto não seriam compreensíveis para um público de língua grega.
  • 62:34 - 62:36
    A tradição cristã, por exemplo,
  • 62:36 - 62:39
    deriva alguns aspectos fundamentais da tradução
    da Versão dos Setenta,
  • 62:40 - 62:41
    por exemplo Isaías 7:14,
  • 62:41 - 62:43
    onde se fala da ha’almah, da jovem
  • 62:43 - 62:47
    que na Versão dos Setante passa a ser parthènos. Parthènos, uma virgem que dará a luz a um filho.
  • 62:48 - 62:49
    Traduzindo virgem em Isaías,
  • 62:50 - 62:55
    como acontece em muitas traduções,
    mas ali é para referer-si ao nascimento de Jesus.
  • 62:55 - 62:58
    Mas para a Bíblia tem um aspecto a mais para
    se levar em consideração:
  • 62:58 - 63:01
    o texto original não era vocalizado.
  • 63:01 - 63:05
    Seja a vocalização que a divisão em
    versículos, capítulos, ou seja,
  • 63:05 - 63:10
    tudo aquilo que vemos nas edições modernas,
    derivam da tradição.
  • 63:11 - 63:14
    O texto não vocalizados, por sua vez,
    produz um sentido.
  • 63:14 - 63:17
    A tradição serve para fixar termos ambíguos
  • 63:18 - 63:20
    que a causa da falta de vocalização
  • 63:20 - 63:22
    podem ser lidos em modos diferentes,
  • 63:23 - 63:27
    mas ao mesmo tempo produzem os significados
    através da interpretação dos mestres.
  • 63:27 - 63:30
    A mesma consideração diz respeito à pontuação,
  • 63:30 - 63:32
    que em origem não era presente.
  • 63:32 - 63:36
    Mudar uma vírgula ao interno do texto pode
    alterar radicalmente o significado.
  • 63:36 - 63:39
    Por exemplo em Isaías 40:3.
  • 63:40 - 63:43
    O texto hebraico diz o seguinte:
    qowl qowre bammidbar.
  • 63:44 - 63:45
    Onde está a vírgula?
  • 63:45 - 63:48
    Podemos compreender esta frase assim:
  • 63:48 - 63:51
    “Uma voz chama no deserto”, vírgula
    “preparem as vias do Senhor”,
  • 63:51 - 63:52
    ou então:
  • 63:52 - 63:56
    “Uma voz chama,” vírgula, “no deserto preparem
    as vias do Senhor”.
  • 63:56 - 64:01
    Onde colocamos a vírgula é importante para
    entender do que estamos falando.
  • 64:04 - 64:05
    No âmbito hebraico,
  • 64:06 - 64:08
    os Massoretas, em especial aqueles
    da escola de Tiberíades,
  • 64:09 - 64:13
    fixaram o texto da forma que se apresenta
    para nós hoje.
  • 64:14 - 64:20
    É muito significativo que… aquilo que
    em italiano se chama “escrituras”,
  • 64:20 - 64:24
    em hebraico se chama miqra, chama-se leitura.
  • 64:24 - 64:27
    As traduções da Bíblia, em especial
    aquelas aramaicas,
  • 64:28 - 64:31
    são consideradas já como uma primeira
    interpretação do texto.
  • 64:31 - 64:36
    Algumas dessas, por exemplo, o Targum Onkelos,
    é muito correto.
  • 64:36 - 64:39
    Isto é, procura respeitar o número das palavras,
    por exemplo.
  • 64:39 - 64:41
    Porém, pratica ações do tipo intelectual.
  • 64:41 - 64:46
    Por exemplo, decide de eliminar os
    antropomorfismos do texto bíblico.
  • 64:46 - 64:50
    O que está bem, é suficiente sermos cientes
    daquilo que temos diante.
  • 64:50 - 64:51
    Outros vão além disso.
  • 64:51 - 64:56
    Por exemplo o Targum Yonathan, outra
    tradução aramaica da Bíblia,
  • 64:56 - 65:01
    encontramos já elementos ao interno do texto
    que são, na realidade, estranhos.
  • 65:02 - 65:09
    Em italiano a única tradução completa disponível
    no comércio é feita por hebreus e do hebraico,
  • 65:09 - 65:12
    é aquela cuidada pela Assembleia
    dos Rabinos da Itália,
  • 65:12 - 65:15
    porque tem a edição da Giuntina,
  • 65:16 - 65:18
    traduzida do hebraico com
    texto original na frente
  • 65:19 - 65:22
    e é uma iniciativa do Rabino de Turim,
    Dario Disegni,
  • 65:22 - 65:24
    que morreu já faz cinquenta anos,
  • 65:24 - 65:27
    que envolveu todos os rabinos italianos
    por quase 10 anos,
  • 65:28 - 65:33
    pretendendo como objetivo tornar fiel
    o sentido literal do texto.
  • 65:33 - 65:36
    Esta tradução é amplamente
    utilizada atualmente.
  • 65:37 - 65:40
    Um experimento interessante nos útimos anos
    foi feito aqui em Milão
  • 65:40 - 65:41
    por Moshe Levi,
  • 65:42 - 65:44
    que traduziu o Pentateuco,
  • 65:44 - 65:46
    integrando na tradução o Comento de Rashi.
  • 65:46 - 65:49
    Mas é claro que, visto o caráter da integração,
  • 65:49 - 65:53
    o objetivo principal da obra não era aquele de
    devolver o sentido literal mas um outro.
  • 65:54 - 65:56
    O importante é saber o que temos
    diante dos nossos olhos.
  • 65:57 - 65:57
    Obrigado.
  • 65:58 - 65:59
    Em relação a tradução da Bíblia,
  • 65:59 - 66:05
    sobretudo traduções que podem ser contestadas,
  • 66:05 - 66:07
    sou de acordo com Mario.
  • 66:07 - 66:13
    Muitas vezes existem ….. eh…. existem
    incompreensões nos textos
  • 66:13 - 66:15
    e sobretudo também…
  • 66:16 - 66:21
    ...existem erros, mas nem sempre intencionais.
  • 66:22 - 66:24
    Muitas vezes intencionais e muitas vezes….
  • 66:25 - 66:29
    ...uma interpretação literal,
  • 66:29 - 66:32
    de um… de um tradutor que fez a Bíblia.
  • 66:33 - 66:35
    E sobre isso,
  • 66:35 - 66:40
    sobre esse aspecto podemos ver
    tantos erros gramaticais,
  • 66:41 - 66:45
    do plural ao singular, do singular ao plural
    como dizia Mauro… Mario na Bíblia.
  • 66:46 - 66:52
    E esses podem absolutamente ser discutidos
  • 66:52 - 66:55
    e podem ser analizados em base, digamos,
  • 66:56 - 67:02
    a expertos teólogos, também…
    por homens da ciência,
  • 67:02 - 67:04
    mas também tradutores, como Mario
  • 67:04 - 67:10
    e como tantos outros, outras pessoas
    que podem…. podem traduzir.
  • 67:10 - 67:11
    Já que Mario já fez….


  • 67:12 - 67:13
    Público e relatores: Mauro, Mauro.
  • 67:13 - 67:15
    Desculpem-me, desculpe. Mauro.
  • 67:15 - 67:18
    Te batizei, te devo dar um cordeiro na Páscoa.
  • 67:23 - 67:25
    Desculpem-me.
  • 67:25 - 67:31
    Portanto, a tradução da Bíblia muitas vezes nasce
    de interpretações erradas.
  • 67:31 - 67:35
    Por exemplo: hoje pela manhã… hoje,
    depois da missa recebi alguns amigos....
  • 67:35 - 67:37
    ...não os vejo, talvez estão aqui presentes.
  • 67:37 - 67:39
    Estiveram na igreja.
  • 67:39 - 67:40
    Sim !! Lá no fundo.
  • 67:40 - 67:42
    Eu explicava a eles....dou um exemplo:
  • 67:45 - 67:48
    Iohan, viu Nossa Senhora.
  • 67:50 - 67:54
    Depois chega uma pessoa e diz: “Mas o que
    ele queria dizer com isso? ”
  • 67:55 - 67:57
    Mas não é Iohan, é …. é Giona.
  • 67:57 - 67:59
    Ver a Nossa Senhora....
  • 67:59 - 68:01
    ...o que quer dizer ver a Nossa Senhora?
  • 68:01 - 68:04
    Quer ver? Viu a Nossa Senhora?
    Vê a Nossa Senhora?
  • 68:04 - 68:05
    E ele diz:
  • 68:06 - 68:09
    “Giona quer ver a Nossa Senhora.”
  • 68:10 - 68:14
    Chega um outro e diz: “O que ele está
    escrevendo? Não tem nenhum sentido!
  • 68:15 - 68:18
    Se você olha o texto em cima e embaixo
    não tem nenhum sentido.
  • 68:18 - 68:20
    Vai olhar os textos originais e diz:
  • 68:20 - 68:24
    “Não. Não é Giona. Este é Giovanni, em latim.
  • 68:24 - 68:27
    Giovanni, Iohan, Ioannes em grego.
  • 68:27 - 68:30
    Giovanni viu a Nossa Senhora.
  • 68:30 - 68:33
    Chega um outro e diz: “Giovanni verá
    a Nossa Senhora”.
  • 68:34 - 68:38
    E portanto, a tradução está bem diferente
    daquela original.
  • 68:38 - 68:39
    Por exemplo,
  • 68:41 - 68:42
    Aristóteles,
  • 68:42 - 68:45
    trezentos anos antes de Cristo.
  • 68:47 - 68:54
    A mais recente tradução, ano 1100 d.C.
  • 68:54 - 68:57
    Um intervalo de tempo de 1400 anos.
  • 68:58 - 69:01
    Portanto, sobretudo os textos de Aristóteles,
  • 69:01 - 69:04
    muitas vezes foram falsificados ou mal traduzidos.
  • 69:04 - 69:06
    Por exemplo,
  • 69:06 - 69:10
    Tacito, ano 100 d.C.,
  • 69:10 - 69:14
    e uma outra tradução ano 1100 d.C.
  • 69:15 - 69:18
    Uma diferença de mil anos
    entre original e tradução.
  • 69:18 - 69:20
    Portanto, nestes mil anos
  • 69:20 - 69:24
    é possível perder o sentido das palavras.
  • 69:24 - 69:27
    Mas eu creio que aqui estamos todos de acordo,
  • 69:27 - 69:30
    como dizia Mauro,
  • 69:32 - 69:33
    Mauro Mario...
  • 69:36 - 69:41
    ...que muitas vezes é necessário
    rever os textos bíblicos,
  • 69:41 - 69:46
    e temos temos aqui um amigo que está revendo,
  • 69:47 - 69:53
    estão refazendo a tradução da Bíblia protestante.
  • 69:53 - 69:56
    Por exemplo, na minha língua romena,
  • 69:56 - 69:59
    a Bíblia é muito difícil para ser lida
  • 70:00 - 70:04
    porque são usados ainda termos muito arcaicos
  • 70:04 - 70:08
    e a Bíblia em romeno, muita vezes,
    é difícil até para mim
  • 70:09 - 70:13
    que sou teólogo e sacerdote, entender os textos,
  • 70:13 - 70:16
    sobretudo as palavras que não se usam mais.
  • 70:16 - 70:18
    Portanto, se deve rever um texto
  • 70:18 - 70:24
    que muitas vezes perdeu o sentido da palavra,
  • 70:24 - 70:26
    como onipotente,
  • 70:26 - 70:30
    que não tem nada a ver com o texto original.
  • 70:32 - 70:36
    A primeira parte poderia chamar:
    “Estamos tranquilos”.
  • 70:38 - 70:42
    Referindo-me às traduções da Bíblia em italiano,
  • 70:42 - 70:45
    porque a minha pergunta falava das Bíblias
    que temos em nossas casas...
  • 70:45 - 70:48
    ...a não ser que tenhamos alguma Bíblia bizarra.
  • 70:48 - 70:51
    Normalmente se pegarem a primeira
    ou a segunda edição da CEI,
  • 70:52 - 70:57
    Bíblias Revisionadas, Nova Revisão,
    Nova Diodad… etc.. etc…
  • 70:58 - 71:01
    A mais recente edição das edições Paulinas,
  • 71:02 - 71:04
    que nesse meio tempo ficou velha
    porque é dos anos setenta,
  • 71:04 - 71:07
    mas agora estão fazendo uma outra com
    o texto original antes,
  • 71:08 - 71:09
    e com notas filológicas.
  • 71:09 - 71:11
    Daquilo que já vi, que é excelente.
  • 71:12 - 71:15
    Estejamos tranquilos que substancialmente
  • 71:17 - 71:18
    todos traduzem o texto
  • 71:20 - 71:23
    sem introduzir sabe-se lá o que.
  • 71:23 - 71:26
    Com problemas, porém, que depois mostrarei.
  • 71:26 - 71:29
    Em muitos trechos, na minha opinião,
  • 71:29 - 71:31
    tem um pouco demais de….
  • 71:32 - 71:37
    ...pré-compreensão cristã na escolha dos termos
    de algumas passagens do Antigo Testamento.
  • 71:37 - 71:38
    Darei alguns exemplos.
  • 71:39 - 71:40
    Não é que nominam Jesus,
  • 71:40 - 71:43
    porém, dá para entender que o autor
    é um cristão devoto,
  • 71:43 - 71:46
    e portanto podendo escolher entre dois termos…
  • 71:46 - 71:49
    Na CEI existe uma ou outra observação,
    digamos assim….
  • 71:49 - 71:56
    ...porém, substancialmente, podem confiar.
  • 71:56 - 71:58
    Sobretudo porque naqueles casos
    nos quais, justamente,
  • 71:58 - 72:05
    todos já estamos de sobreaviso,
    no caso tivéssemos alguma dúvida.
  • 72:06 - 72:09
    Eu porém, quero falar de outras coisas.
  • 72:09 - 72:13
    Primeiro, nós não temos atualmente uma
    edição crítica do AntigoTestamento.
  • 72:13 - 72:16
    Tem para o Novo Testamento,
    e está na 28º edição,
  • 72:17 - 72:19
    mas não tem ainda para o Antigo.
  • 72:19 - 72:23
    Todos nós traduzimos a partir de um manuscrito
    da família Ben-Asher chamado B-19,
  • 72:24 - 72:25
    porque está na biblioteca de Leningrado,
  • 72:26 - 72:30
    simplesmente porque é o mais antigo
    manuscrito completo do Tanakh que nós possuímos.
  • 72:31 - 72:32
    Enquanto isso....
  • 72:33 - 72:34
    ....sobre algumas passagens,
  • 72:36 - 72:38
    o Rav já disse (rabino Di Porto),
    que os rabinos o vocalizaram.
  • 72:38 - 72:41
    Aqui também podemos estar tranquilos
  • 72:41 - 72:43
    porque a vocalização,
  • 72:43 - 72:47
    que também difunde uma interpretação,
    é uma uniformização,
  • 72:47 - 72:49
    mais do que isso não pode mudar.
  • 72:49 - 72:53
    Isto é, não é que com as vogais você
    pode criar uma outra Bíblia.
  • 72:53 - 72:55
    Não é que com as vogais tiraram Jesus da Bíblia
  • 72:55 - 72:58
    e se nós colocássemos as vogais Ele
    voltaria na Bíblia..
  • 72:58 - 73:00
    Ariel Di Porto: Até esse ponto não.
  • 73:00 - 73:02
    Ao contrário, no século XVI tinha,
  • 73:02 - 73:05
    entre os gramáticos cristãos se discutia:
  • 73:05 - 73:10
    “Vogais não porque são um instrumento
    dos Rabinos para dizerem o que pensam”,
  • 73:10 - 73:12
    e qualquer protestante devoto diz:
  • 73:12 - 73:14
    “Não, Deus também inspirou as vogais.”
  • 73:16 - 73:18
    Temos os textos de Qumran,
  • 73:18 - 73:21
    temos manuscritos mais antigos
    da tradução grega.
  • 73:22 - 73:30
    As descobertas de Qumran não proporcionam
    nenhuma revolução chocante.
  • 73:31 - 73:34
    No caso de Isaías, é verdade
    que tem 250 diferenças,
  • 73:34 - 73:35
    mas são visíveis.
  • 73:36 - 73:38
    São poucos os casos.
  • 73:38 - 73:41
    Para Isaías podemos dizer que um século
    ou dois antes de Cristo,
  • 73:41 - 73:45
    o texto consonântico era substancialmente
    aquele que nos deram os rabinos.
  • 73:46 - 73:48
    Para Geremias e Samuel, por exemplo,
  • 73:48 - 73:55
    descobriu-se que em Qumran tinha um texto em hebraico que se parece mais àquele que tinham na Versão dos Setenta em grego.
  • 73:55 - 73:57
    O que significa que antes de Jesus,
  • 73:57 - 74:01
    dois séculos antes, provavelmente, existiam
    dois textos hebraicos de Geremias,
  • 74:01 - 74:03
    um mais longo e um mais curto.
  • 74:04 - 74:09
    Sobre as traduções eu creio que o defeito mais
    grave, hoje, das nossas traduções seja,
  • 74:10 - 74:14
    aquele de não possuir notas filológicas.
  • 74:14 - 74:18
    Por exemplo, existem alguns casos nos quais nós
    não entendemos bem o que significa o hebraico
  • 74:19 - 74:21
    e nos torturamos para poder traduzi-lo.
  • 74:21 - 74:24
    Muitas vezes fazendo uso da Versão dos Setenta.
  • 74:24 - 74:26
    Nesse caso, não daria para colocar
    uma nota de rodapé e dizer?
  • 74:27 - 74:31
    Faziam isso nas Bíblias do século XVI.
    Hoje não se costuma mais fazer.
  • 74:32 - 74:34
    Existem algumas expressões…
  • 74:35 - 74:38
    ...existem expressões que poderiam ser,
    legitimamente, traduzidas em dois modos.
  • 74:39 - 74:42
    E quem tem uma Bíblia em casa, ou duas, ou três,
    poderá encontrar nesses dois modos.
  • 74:42 - 74:46
    Daria para colocar a outra tradução em uma
    nota de rodapé para evitar ao leitor a pré-impressão?
  • 74:46 - 74:48
    Dizendo: “Eu traduzi assim, outros.. "
  • 74:49 - 74:52
    ...isto é, daria para ser traduzido também assim.
    Eu mesmo poderia traduzir dessa outra forma.
  • 74:56 - 74:57
    Trinta segundos.
  • 74:58 - 75:00
    Então, lhes faço dois exemplos…
  • 75:02 - 75:04
    ...nos quais estão implicadas as nossas Bíblias.
  • 75:04 - 75:08
    No Salmo 51, versículo 7,
    (na verdade é no Salmo 50:7),
  • 75:09 - 75:11
    em todas as Bíblias...
  • 75:12 - 75:14
    ...tenho aqui três páginas de exemplos:
  • 75:15 - 75:21
    “No pecado minha mãe me concebeu…” não:
    “No pecado eu nasci, na culpa me concebeu.”
  • 75:22 - 75:28
    Vocês imaginam que tenha a habitual sequência hebraica, normalíssima, wateled – watahar.
  • 75:28 - 75:31
    Ou seja, fulana, watahar wateled,
  • 75:31 - 75:33
    ficou grávida e deu à luz,
  • 75:33 - 75:41
    invertida porque o orador está falando do ponto de vista da sua saída, de…. e então diz: “Minha mãe me deu à luz, aliás, me concebeu no pecado”.
  • 75:42 - 75:43
    Mas em hebraico
  • 75:44 - 75:46
    está escrito: expressões raras.
  • 75:47 - 75:56
    A primeira é rara, a segunda é raríssima:
    “Minha mãe me concebeu no pecado.
    Na culpa me aqueceu.”
  • 75:57 - 75:58
    E esse verbo “aquecer”
  • 75:58 - 76:02
    é usado somente em outras cinco vezes para
    o estratagema de José (na realidade é Jacó)
  • 76:02 - 76:04
    que sabia quando as ovelhas estavam no cio
  • 76:04 - 76:07
    e como fazer com que os cordeirinhos
    nascessem brancos e pretos.
  • 76:08 - 76:10
    Não da Juventos !! (time de futebol)
  • 76:10 - 76:13
    Eram do Toro (time de futebol) os
    cordeiros de Jacó, que seja bem claro.
  • 76:15 - 76:17
    Não digo a minha interpretação.
  • 76:18 - 76:20
    Daria, ao menos, para colocar uma nota de rodapé
  • 76:21 - 76:23
    que informe o leitor...
  • 76:23 - 76:28
    ...daria para traduzir:
    “minha mãe deu à luz na culpa”
  • 76:29 - 76:31
    e “me aqueceu no pecado”.
  • 76:33 - 76:35
    Daria para colocar uma nota de rodapé
    que é uma expressão não comum?
  • 76:36 - 76:37
    Poderia dar outros exemplos….
  • 76:37 - 76:44
    ...mas, é óbvio que devemos corrigir muitos erros das nossas … ou imprecisões… das nossas traduções,
  • 76:44 - 76:48
    alguns, digamos, de caráter teológico,
    outras vezes simplesmente de desleixo literário.
  • 76:49 - 76:54
    É necessário dizer que nós estamos em uma
    condição histórica decididamente favorável.
  • 76:54 - 76:59
    Por duas razões, a propósito dos textos.
  • 77:00 - 77:04
    Temos uma possibilidade de comparação
    aos códigos originais,
  • 77:04 - 77:08
    à literatura desenvolvida, a cada descoberta,
  • 77:08 - 77:12
    mesmo dos pequenos fragmentos, que era
    sem precedentes no passado.
  • 77:12 - 77:14
    Essa base documentada e histórica,
  • 77:15 - 77:23
    é necessário dizer aquilo que globalmente
    dizia antes, que é… o texto da Bíblia é aquilo.
  • 77:24 - 77:26
    Podem existir algumas pequenas discussões.
  • 77:26 - 77:33
    Algumas vezes discussões eruditas, que porém
    não afetam a estrutura global da Bíblia.
  • 77:33 - 77:37
    Por exemplo, quando… antes citaram Qumran.
  • 77:37 - 77:44
    Quando os artefatos de Qumran são relacionados com os textos que chegaram através dos manuscritos mais acreditados,
  • 77:44 - 77:48
    encontram-se algumas variações
    que não prejudicam absolutamente.
  • 77:49 - 77:52
    Talvez no máximo 1,5%… mas nem isso…,
  • 77:52 - 77:56
    ... talvez 0,4 – 0,5% nem isso… objeto de discussão.
  • 77:56 - 78:02
    Estamos em uma situação de grande capacidade criativa em relação ao texto que….
  • 78:02 - 78:04
    ...tem um outro motivo também,
  • 78:04 - 78:08
    hoje temos uma mentalidade comunicativa
    do ponto de vista científico,
  • 78:09 - 78:11
    por isso nenhum tradutor sério,
  • 78:11 - 78:14
    seja ele hebreu, seja católico, protestante,
  • 78:14 - 78:22
    se permite o luxo de fazer interpretações sem consultar antes com a comunidade científica dos expertos.
  • 78:23 - 78:26
    Justamente eu compartilho plenamente o fato…
  • 78:26 - 78:29
    ...peguem qualquer traducão e tudo bem.
  • 78:29 - 78:33
    Exceto, talvez, aquelas que são
    conduzidas ideologicamente.
  • 78:33 - 78:35
    Ou seja, que alteram o texto intencionalmente.
  • 78:36 - 78:37
    E existem algumas.
  • 78:37 - 78:39
    Mas essas são sectárias.
  • 78:39 - 78:44
    Por exemplo, quando trazem explicações
    entre parêntesis no texto da Bíblia.
  • 78:44 - 78:48
    Ou então quando intencionalmente
    traduzem um texto modificando-o.
  • 78:48 - 78:54
    Não entro nos pormenores porque seria odioso fazer isso sem a presença do interessado.
  • 78:54 - 78:57
    Porém, atenção porque ali tem uma ideologia.
  • 78:57 - 78:59
    E isso é diferente. É diferente.
  • 78:59 - 79:05
    É a intencionalidade que diz que é mais
    importante a minha ideia do que o texto.
  • 79:05 - 79:09
    E se o texto me diz algo diferente,
    eu mudo o texto.
  • 79:10 - 79:12
    E isso é uma violência.
  • 79:12 - 79:17
    Não é absolutamente acreditada pela
    maior parte dos estudiosos, hoje, do mundo.
  • 79:18 - 79:19
    Gostaria, porém,
  • 79:19 - 79:20
    de retomar,
  • 79:21 - 79:25
    aproveitando das coisas que devo tratar
  • 79:25 - 79:28
    em base daquilo que eu estou seguindo
    também do ponto de vista
  • 79:28 - 79:31
    do cristianismo dentro de outras culturas.
  • 79:32 - 79:34
    Devo mencionar um pequeno detalhe
    que pode ser, talvez,
  • 79:34 - 79:38
    desse ponto de vista, significativo
    no contexto que estamos tratando.
  • 79:38 - 79:41
    Pensem: os chineses traduziram a Bíblia.
  • 79:41 - 79:43
    Não nos admiremos.
  • 79:43 - 79:45
    Já traduziram Heidegger, eu lhes aconselho.
  • 79:45 - 79:50
    Mas é uma grande dificuldade
    porque o chinês é ideogramático.
  • 79:50 - 79:54
    Escreve a ideia, mas não o som de uma palavra.
  • 79:54 - 80:00
    E pensem, por estar bem no início da Bíblia:
    “No princípio Deus criou”.
  • 80:00 - 80:02
    Essa três palavras….
  • 80:02 - 80:06
    ...essas três palavras não possuiam o equivalente em ideogramas em chinês.
  • 80:06 - 80:07
    O que fazer?
  • 80:07 - 80:11
    Esse é um exemplo de como a tradução
    pode ser honesta em duas direções,
  • 80:12 - 80:13
    desde que seja explícita e clara.
  • 80:14 - 80:16
    E hoje parece que o modo com o qual
    os textos são traduzidos
  • 80:16 - 80:21
    possui essa integridade como base, essa
    honestidade como base, a respeito da Bíblia.
  • 80:21 - 80:25
    Por isso vale a pena crer nos textos
    que temos nas mãos.
  • 80:26 - 80:29
    Portanto, o exemplo “Deus”.
  • 80:29 - 80:34
    O ideograma que parecia mais próximo era esse: 天 – tiān, aquela da praça Tienanmen,
  • 80:34 - 80:36
    que quer dizer: “Porto da paz celeste”.
  • 80:36 - 80:37
    Tiān.
  • 80:37 - 80:39
    Tiān na visão chinesa, aquele ideograma...
  • 80:39 - 80:42
    ...se você erra o ideograma, erra a ideia que dá.
  • 80:42 - 80:44
    Deve fazer o ideograma correto.
  • 80:44 - 80:46
    Aquele tiān não é o Deus da Bíblia.
  • 80:46 - 80:48
    Era o deus que podia se misturar com o céu.
  • 80:49 - 80:52
    Era aquilo que hoje nós diríamos
    com uma linguagem comum,
  • 80:52 - 80:56
    especialmete das traduções do norte da Itália, era um supremo.
  • 80:57 - 81:00
    Mas um supremo que era identificado
    com uma parte da realidade.
  • 81:00 - 81:01
    Isto é, o céu.
  • 81:02 - 81:04
    Então, o que fazer?
  • 81:04 - 81:07
    Duas possíveis traducões. Honestas.
    Ambas honestas.
  • 81:07 - 81:08
    Honestas.
  • 81:09 - 81:10
    A primeira era:
  • 81:10 - 81:12
    “Já que eu quero te dizer”, tradutor,
  • 81:12 - 81:17
    “que a ideia que você tem de Deus, como céu,
    supremo,
  • 81:17 - 81:19
    não é a ideia que está na Bíblia,
  • 81:19 - 81:23
    então eu pego o som do meu nome em latim”,...
  • 81:23 - 81:26
    ...se fazia dessa forma, era o século XVII: Deus.
  • 81:27 - 81:34
    E já que é monograma… monossilábico.. o chinês,
    então “t-i-es”, ou “s”, “e coloco esses sons,
  • 81:35 - 81:37
    coloco alguns ideogramas com esses sons”.
  • 81:37 - 81:38
    O que você entenderá?
  • 81:38 - 81:39
    Entenderá isso:
  • 81:39 - 81:40
    que o teu deus,
  • 81:41 - 81:44
    aquele do qual eu falo, o meu deus não é teu deus.
  • 81:44 - 81:45
    Trinta segundos.
  • 81:45 - 81:48
    Porque é…. é tão estranho que você não…
    não tem nos teus…
  • 81:48 - 81:50
    ...o tomará… entrego essa mensagem:
  • 81:50 - 81:53
    não é o deus que você possui
    quando escreve “céu”.
  • 81:53 - 81:54
    Deus.
  • 81:54 - 81:56
    Mas a segundo tradução era:
  • 81:56 - 81:58
    utilizemos outros ideogramas chineses
  • 81:59 - 82:05
    para explicar no interno daquela palavra que
    o Deus que eu quero anunciar é o Senhor do céu.
  • 82:05 - 82:10
    Então, utilizando ideogramas chineses colocaram
    “Senhor do céu”.
  • 82:10 - 82:14
    Esse é ainda a maneira com a qual, hoje, os católicos se chamam na China.
  • 82:14 - 82:19
    E são os fiéis do Senhor do céu,
    para Deus.
  • 82:19 - 82:20
    É isso.
  • 82:20 - 82:21
    Mas é honestidade.
  • 82:24 - 82:27
    Estamos para concluir a primeira
    parte das perguntas.

  • 82:27 - 82:30
    Em seguida abordaremos o Novo Testamento
  • 82:30 - 82:32
    e a vinda de Cristo,
  • 82:32 - 82:37
    que nos evangelhos se sacrificou na cruz
    para salvar a humanidade do pecado original.
  • 82:37 - 82:39
    Portanto lhes pergunto:
  • 82:39 - 82:40
    Como podemos saber
  • 82:40 - 82:42
    que realmente existiu um pecado original
  • 82:43 - 82:47
    e que as suas consequências envolveram
    a humanidade inteira?
  • 82:48 - 82:49
    Bom,
  • 82:49 - 82:52
    o meu pensamento pessoal, lendo a Bíblia,
  • 82:52 - 82:56
    mas lendo também a Bíblia com
    as traduções tradicionais,
  • 82:58 - 83:00
    é que a Bíblia não fala de um pecado original.
  • 83:01 - 83:05
    No sentido que não encontro
    no Antigo Testamento
  • 83:05 - 83:08
    uma culpa que tenha sido punida,
  • 83:09 - 83:14
    e punida de tal modo que pudesse determinar
    uma mancha para a humanidade.
  • 83:16 - 83:20
    E, justamente, os últimos dois relatores diziam,
  • 83:20 - 83:22
    doutor Garrone e Don Segatti
  • 83:23 - 83:28
    que existem algumas traduções e algumas Bíblias
    honestas porque colocam notas de rodapé.
  • 83:29 - 83:32
    Por exemplo, volto a falar da
    Bíblia de Jerusalém que,
  • 83:32 - 83:35
    falando sobre a expulsão de Adão e Eva
  • 83:35 - 83:38
    do assim dito paraíso terrestre, diz textualmente:
  • 83:39 - 83:44
    “Não é necessá…. Não se trata de uma punição
    por uma culpa já cometida
  • 83:44 - 83:47
    mas se trata de uma decisão preventiva.”
  • 83:47 - 83:49
    Cito o texto à memória, depois
    poderemos ler se quiserem.
  • 83:50 - 83:51
    Continua:
  • 83:51 - 83:57
    “Não é aqui que se deve procurar aquilo
    que vos foi lido sucessivamente”.
  • 83:57 - 83:57
    Diz:
  • 83:58 - 84:00
    “De modo especial a leitura de Paulo,
  • 84:00 - 84:02
    epístola aos Romanos e epístola aos Coríntios,
  • 84:03 - 84:07
    e não é aqui que se deve procurar aquilo
    que foi elaborado pela teologia sucessiva”.
  • 84:07 - 84:08
    Ou seja,
  • 84:08 - 84:14
    o conceito do pecado original não deve ser procurado ali, no sentido que é uma elaboração sucessiva.
  • 84:14 - 84:20
    Assim, ao menos, está escrito naquela nota, e eu, de resto, como posso dizer, concordo, concordo absolutamente.
  • 84:21 - 84:22
    O problema que se coloca é,
  • 84:23 - 84:26
    obviamente do meu ponto de vista, claramente,
  • 84:26 - 84:27
    se na Bíblia,
  • 84:27 - 84:33
    como se revela a mim, não se fala do
    Deus Pai Onisciente, Onipotente, etc. etc…
  • 84:34 - 84:38
    Se na Bíblia não existe um pecado original,
  • 84:39 - 84:45
    a pergunta, justamente… antes dizia a apresentadora, a moderadora… que depois falaremos sobre o Novo Testamento.
  • 84:45 - 84:46
    A pergunta é:
  • 84:46 - 84:49
    se falta o mandante e falta o motivo,
  • 84:50 - 84:54
    quem é que enviou Jesus Cristo e
    para que foi enviado?
  • 84:54 - 85:00
    Essa é a pergunta que me faço daquilo que parece
    possa ser obtido do Antigo Testamento.
  • 85:01 - 85:04
    Depois… aliás, sobre isso falemos depois.
  • 85:05 - 85:07
    Porém é isso que eu leio.
  • 85:07 - 85:09
    Que o pecado original não existe.
  • 85:09 - 85:12
    Levando em conta que lendo a Bíblia,
  • 85:12 - 85:16
    percebo que, alegoria ou verdade que seja,
  • 85:17 - 85:22
    Adão e Eva não seriam os progenitores
    de uma inteira humanidade,
  • 85:23 - 85:29
    mas os precursores de um grupo, de uma família, de um clã específico.
  • 85:29 - 85:30
    Se é que existe,
  • 85:30 - 85:33
    mas repito: na minha opinião não existe.
  • 85:33 - 85:36
    se existe, o pecado original teria sido cometido
    por aquele clã, não a inteira humanidade.
  • 85:36 - 85:40
    Enfim, essa seria uma outra discussão
    e não gostaria de introduzi-la, não faria isso.
  • 85:40 - 85:47
    Digamos que, na minha opinião, o pecado original não existe com tudo que pode significar em termos de consequências neotestamentárias.
  • 85:48 - 85:54
    Com essa pergunta, na realidade, começo
    gradualmente a retirar-me por motivos óbvios.
  • 85:55 - 85:58
    Digamos que entrando no âmbito
    do Novo Testamento,
  • 85:59 - 86:02
    claramente tenho um pouco de
    dificuldade para falar
  • 86:02 - 86:06
    porque não quero ofender
    a sensibilidade de ninguém.
  • 86:07 - 86:09
    Mons. Avondios: Absolutamente não !
  • 86:09 - 86:10
    Não.
  • 86:10 - 86:12
    De qualquer forma não possuo
    nem mesmo a competência.
  • 86:12 - 86:13
    Digo de modo muito sincero.
  • 86:14 - 86:16
    Por isso, se pretendo dar uma parecer técnico,
  • 86:16 - 86:18
    creio que deveria saber exatamente
    sobre o que estou falando,
  • 86:18 - 86:21
    e nesse caso não seria verdade.
  • 86:21 - 86:24
    Porém, esse texto, aquele do qual falamos,
  • 86:24 - 86:33
    é um texto que pertence completamente à tradição do Antigo Testamento, por isso posso falar e falo… e falo de bom grado.
  • 86:34 - 86:37
    No que se refere ao peso do pecado original
  • 86:37 - 86:41
    para a humanidade, para tradição hebraica,
  • 86:42 - 86:48
    o peso disso é muito inferior àquele dado
    pela tradição católica.
  • 86:48 - 86:53
    Aquilo que podemos extrair é aquilo que lemos em termos práticos dentro do próprio texto.
  • 86:53 - 87:00
    Ou seja, as consequências que
    esse pecado trouxe.
  • 87:00 - 87:04
    De um lado a mortalidade do Homem...,
  • 87:04 - 87:09
    ...tem esse elemento no texto, a expulsão
    do Paraíso,
  • 87:10 - 87:17
    e todas essas coisas implicam em uma mudança
    de condições no que diz respeito ao Homem:
  • 87:17 - 87:20
    sair do paraíso significa, em qualquer modo,
  • 87:20 - 87:28
    deixar uma certa condição e entrar na nossa
    condição histórica, na condição da civilização,
  • 87:28 - 87:33
    e uma mudança das características
    fundamentais do Homem.
  • 87:33 - 87:41
    Ou seja, o Homem, agora, é ciente da….
    justamente… do conhecimento do bem e do mal.
  • 87:41 - 87:46
    Ao menos em relação ao texto bíblico.
  • 87:46 - 87:50
    Tem inclusive uma contra-pergunta muito
    provocatória que fazem os comentadores:
  • 87:50 - 87:57
    “Mas se o Homem não conhecia o bem e o mal por que foi punido por ter pecado? E como é possível dizer que o Homem pecou?”
  • 87:57 - 87:59
    Porém, na minha opinião, com esse tipo de leitura,
  • 88:01 - 88:02
    a nossa leitura,
  • 88:02 - 88:07
    a leitura hebraica dessa passagem, nos
    distanciamos daquilo que eu penso ser o tema,
  • 88:08 - 88:10
    ou seja, o pecado original.
  • 88:10 - 88:11
    No judaísmo isso não existe.
  • 88:12 - 88:14
    Somente em formas extremas…
    extremamente velada.
  • 88:14 - 88:17
    Está escrito que após o pecado
    do bezerro de ouro,
  • 88:17 - 88:19
    de qualquer modo, o povo hebraico
  • 88:19 - 88:25
    recupera aquela condição posterior
    em relação ao pecado original.
  • 88:26 - 88:35
    Mas se trata, enfim, de algo muito mais periférico
    na nossa tradição do que é no mundo cristão.
  • 88:37 - 88:42
    Aquilo que dizia Biglino, para não dizer
    de novo Mario...
  • 88:44 - 88:45
    ...dessa forma não erro...
  • 88:46 - 88:48
    ...a respeito do pecado original
  • 88:48 - 88:50
    e sobretudo negando,
  • 88:51 - 88:53
    negando a existência do pecado original.
  • 88:54 - 89:01
    Obviamente não tem o mandante e não tem o motivo pelo qual praticamente Jesus veio e foi morto na cruz.
  • 89:01 - 89:04
    E justamente nos colocamos a pergunta,
  • 89:05 - 89:10
    e aqui recordo alguns meses atrás quando
    nos vimos em Milão,
  • 89:11 - 89:14
    se Jesus deverá morrer,
  • 89:14 - 89:17
    se um dia descobrirmos que existe vida
    em outros planetas,
  • 89:18 - 89:23
    e Jesus deve ir lá, morrer na cruz e salvá-los.
  • 89:23 - 89:27
    Naquele encontro eu disse a Mauro,
  • 89:29 - 89:30
    e repito aqui,
  • 89:30 - 89:34
    que a morte de Jesus na cruz, sobretudo,
  • 89:34 - 89:36
    se olharmos os textos,
  • 89:36 - 89:38
    os textos do Antigo Testamento, as profecias,
  • 89:38 - 89:43
    e aqui entramos em contraste com o hebraísmo,
  • 89:43 - 89:44
    porque para nós,
  • 89:44 - 89:46
    sobretudo para os cristãos,
  • 89:46 - 89:48
    Jesus é o Messias.
  • 89:48 - 89:50
    Para os hebreus não é o Messias.
  • 89:50 - 89:52
    Aliás, nunca foi.
  • 89:52 - 89:56
    É o carpiteiro morto, assassinado
    pelos romanos na cruz
  • 89:56 - 90:00
    com a culpa de ser o Filho de Deus.
  • 90:00 - 90:03
    A coisa importante, interessante, é
    que Jesus nunca disse ser filho de Deus.
  • 90:04 - 90:07
    Ele nunca disse. (Realmente Ele disse:
    Marcos 14:62 e João 10:36).
  • 90:07 - 90:08
    Quando o interrogam:
  • 90:08 - 90:10
    “Você é o Filho de Deus?”
  • 90:10 - 90:17
    Ele diz: “Você diz, não sou eu que estou dizendo. E verá o filho de um homem vindo nas nuvens a julgar os vivos e os mortos.”
  • 90:18 - 90:21
    O pecado original, no fim, o que é?
  • 90:22 - 90:24
    Por que nos colocamos sempre esse quesito.
  • 90:25 - 90:26
    O pecado original.
  • 90:27 - 90:28
    É a desobediência.
  • 90:29 - 90:30
    Por exemplo...
  • 90:30 - 90:32
    ...gosto muito de falar por
    meio de exemplos:
  • 90:32 - 90:38
    tem um senhor que possui um grande
    patrimônio e tem dois filhos.
  • 90:39 - 90:40
    Ele diz aos dois filhos:
  • 90:40 - 90:44
    “Olhem, os meus bens deverão ser divididos
    entre vocês dois.
  • 90:44 - 90:46
    "Um a você e um a você.”
  • 90:46 - 90:48
    Um deles que é um pouco inteligente diz:
  • 90:48 - 90:50
    “Tudo bem, fico tranquilo,
  • 90:51 - 90:55
    quando meu pai morre eu afasto meu irmão
    e fico com tudo para mim.”
  • 90:55 - 90:56
    E assim acontece.
  • 90:56 - 91:01
    Portanto, foi desobediente a um desejo do seu pai.
  • 91:02 - 91:07
    E esses bens, tudo aquilo que ele fez,
    e tudo aquilo que ele ganhou,
  • 91:07 - 91:09
    prossegue por gerações,
  • 91:09 - 91:11
    até quando, a um certo ponto,
  • 91:11 - 91:18
    o filho daquele, digamos o bisneto
    do irmão que foi enganado diz:
  • 91:19 - 91:23
    “Vamos dar uma olhada nos documentos.
  • 91:24 - 91:26
    E também o testamento.
  • 91:26 - 91:31
    E vejamos… vamos tentar resgatar
    esse ato blasfêmico
  • 91:31 - 91:38
    que foi feito pelo irmão do nosso bisavô.
    Do nosso pai”.
  • 91:38 - 91:42
    E eis o pecado, a desobidiência.
  • 91:42 - 91:47
    Existe uma inteira geração que fica na desgraça
  • 91:47 - 91:51
    por não ter, praticamente, os bens
    deixados pelo pai.
  • 91:51 - 91:53
    Portanto, existe um pecado.
  • 91:53 - 91:54
    Por que Jesus morreu?
  • 91:55 - 91:56
    Jesus morreu na cruz.
  • 91:56 - 91:59
    Se lermos o capítulo 53 de Isaías…
  • 91:59 - 92:00
    ...quantos já o leram?
  • 92:02 - 92:03
    Isaías 53.
  • 92:04 - 92:09
    O texto que temos é muito compatível com aquele
    que foi descoberto em Qumran, no Mar Morto.
  • 92:09 - 92:15
    Portanto, digamos que os nossos irmãos hebreus
  • 92:17 - 92:20
    não concordam muito com o texto de Isaías.
  • 92:20 - 92:26
    Não é que não são de acordo, mas não veem
    a messianidade de Jesus nesse texto.
  • 92:27 - 92:30
    No texto de Isaías 53:
  • 92:31 - 92:41
    "Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles...
  • 92:43 - 92:46
    ….. leio com bastante dificuldade o italiano...
  • 92:47 - 92:58
    “…diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
  • 92:59 - 93:02
    Ele tomou sobre si nossas enfermidades,
  • 93:03 - 93:06
    e carregou os nossos sofrimentos,
  • 93:07 - 93:10
    e nós o reputávamos como um castigado,
  • 93:11 - 93:14
    ferido por Deus e humilhado.
  • 93:14 - 93:18
    Ele foi castigado por nossos crimes,
  • 93:19 - 93:22
    e esmagado por nossas iniqüidades;
  • 93:23 - 93:30
    o castigo que nos salva pesou sobre ele."
  • 93:31 - 93:32
    Trinta segundos.
  • 93:32 - 93:37
    Vejam, no fim Jesus veio para resgatar o quê?
  • 93:37 - 93:39
    A nossa desobediência.
  • 93:40 - 93:44
    Eis porque eu me vejo no Jesus morto na cruz,
  • 93:45 - 93:49
    vejo e descubro um ato realmente de amor.
  • 93:50 - 93:54
    Mas de amor profundo por tantas
    gerações de pessoas que virão.
  • 93:55 - 93:56
    A sua morte na cruz,
  • 93:57 - 93:59
    e a ressurreição que nós cristãos cremos,
  • 94:00 - 94:01
    é universal,
  • 94:01 - 94:04
    e portanto vale para todos e para tudo.
  • 94:04 - 94:08
    E creio que aquilo que temos em comun
    dá para descobrir mais pra frente,
  • 94:08 - 94:11
    com os irmãos hebreus.
  • 94:12 - 94:15
    Porque no fim não somos,
  • 94:15 - 94:18
    como dizia Mario… Mauro uma vez,
  • 94:18 - 94:20
    ladrões,
  • 94:20 - 94:22
    que roubamos os textos dos hebreus .
  • 94:22 - 94:24
    Não.
  • 94:25 - 94:30
    Nós não roubamos nada
    porque o judeu cristão
  • 94:31 - 94:34
    conserva a fé daqueles pais.
  • 94:34 - 94:37
    O pai, sobretudo, do único Deus
  • 94:37 - 94:40
    que é o nosso Deus monosteísta,
  • 94:41 - 94:43
    dos hebreus, dos cristãos e dos islâmicos.
  • 94:44 - 94:49
    Entre o Gênesi 3 e Romanos 5:12,
  • 94:49 - 94:51
    onde o apóstolo Paulo diz
  • 94:52 - 94:54
    que por meio de um homem
  • 94:55 - 94:56
    a morte entrou no mundo,
  • 94:57 - 95:01
    evidentemente não existe coincidência.
  • 95:04 - 95:05
    Ao contrário,
  • 95:05 - 95:07
    lendo Paulo daria para se perguntar
  • 95:09 - 95:11
    onde ele encontra aquela ideia, isto é, de um
  • 95:15 - 95:17
    ato de decadência,
  • 95:17 - 95:22
    de um fracasso inicial da humanidade,
    que a caracterizaria para sempre.
  • 95:23 - 95:25
    Como encontra essa ideia em Gênesis 3?
  • 95:25 - 95:27
    Se vocês o lerem em casa,
  • 95:27 - 95:30
    uma das coisas que sempre me impressionou
  • 95:32 - 95:37
    é o comportamente de Deus que, tudo somado,
    não parece dramático.
  • 95:38 - 95:39
    Ou seja,
  • 95:40 - 95:43
    diz: “Tudo bem, tornaram-se como nós,
  • 95:45 - 95:49
    se permanecem no jardim, podem pegar
    a árvore que os tornam imortais,
  • 95:50 - 95:51
    devemos expulsá-los…”
  • 95:52 - 95:57
    Mas se preocupa inclusive do fato que eles
    se envergonhem por estarem nus e os cobre.
  • 95:57 - 96:02
    Não parece, justamente, uma reação apocalíptica.
  • 96:03 - 96:06
    E realmente, hoje nós lemos esses textos
  • 96:07 - 96:09
    como um conto teológico.
  • 96:09 - 96:11
    Existe um conto que responde a pergunta:
  • 96:11 - 96:18
    mas por que o mundo, que poderia ser
    um lindo jardim, que Deus criou,
  • 96:19 - 96:20
    no qual….
  • 96:20 - 96:26
    ...se lerem aquela página, tem um ótimo artigo escrito alguns anos atrás por um colega inglês, Intimacy and Alienation,
  • 96:26 - 96:28
    ou seja, em Gênesis 2 tem intimidade,
  • 96:28 - 96:30
    ou seja, Deus que passeia.
  • 96:30 - 96:33
    De tardinha, com uma leve brisa, Deus passeia,
  • 96:33 - 96:37
    e Adão e Eva não se envergonham,
    e não existe inimizade com os animais,
  • 96:38 - 96:40
    e não existe ainda, o machismo,
  • 96:40 - 96:48
    por isso quando Deus leva o protótipo (de mulher),
    Adão diz: “Ah! Essa vez sim acertamos!”, etc...
  • 96:48 - 96:53
    Mas todas essas reações são
    alteradas em Gênesis 3.
  • 96:53 - 96:56
    Se escondem de Deus, se envergonham
    por estarem nus.
  • 96:58 - 97:02
    Adão se transforma em um baal,
    em um marido autoritário,
  • 97:02 - 97:04
    e existe o o parto com dor.
  • 97:04 - 97:06
    Ele não é mais essa espécie
    de homem do renascimento
  • 97:07 - 97:12
    que faz trabalhos manuais, e que também dirige o jardim e ao mesmo tempo é cientista porque dá os nomes aos animais,
  • 97:12 - 97:15
    mas é alguém que deve trabalhar duramente, etc.
  • 97:16 - 97:20
    Lido no contexto dos mitos dos
    textos babilônicos
  • 97:21 - 97:22
    é uma tentativa para se dizer:
  • 97:23 - 97:25
    "Mas, na evolução do mundo existe a desarmonia
  • 97:26 - 97:27
    e a dificuldade para viver…
  • 97:29 - 97:30
    e se fosse nossa culpa?”
  • 97:31 - 97:37
    Isto é: “E se dependesse do fato que nós não
    nos contentamos de ser aquilo que somos?
  • 97:38 - 97:42
    E não sabemos respeitar os nossos limites?”
  • 97:43 - 97:46
    Podemos pensar à categoria moderna
    do limite basilar em psicologia.
  • 97:47 - 97:49
    Existem alguns limites que nos ajudam, etc, etc.
  • 97:50 - 98:00
    A dificuldade, a ambivalência e a ambiguidade de viver do humano não são um destino que os deuses decidiram,
  • 98:01 - 98:05
    mas nós também estamos envolvidos,
    é também algo que nos pertence.
  • 98:07 - 98:09
    O problema é que
  • 98:10 - 98:14
    nós não podemos nem validar nem falsificar
    o cristianismo, justamente,
  • 98:14 - 98:20
    fazendo equações, porque entre Paulo,
    o apóstolo, e Gênesis 3,
  • 98:21 - 98:23
    existe uma reflexão hebraica
  • 98:24 - 98:25
    que não se tornou canônica,
  • 98:25 - 98:29
    mas isso não quer dizer nada para mim,
    para o breve discurso que quero fazer.
  • 98:30 - 98:31
    Já na Bíblia hebraica,
  • 98:32 - 98:34
    mas depois, sucessivamente
    no âmbito hebraico,
  • 98:34 - 98:38
    percebemos que a visão deuteronomística:
  • 98:39 - 98:46
    “você é livre, eu lhe coloquei diante do bem
    e do mal, escolhe o bem onde você vive…” etc...,
  • 98:47 - 98:48
    não é suficiente.
  • 98:49 - 98:52
    Por que o mal seduz?
  • 98:53 - 98:57
    Por que, mesmo sabendo que algo é ruim,
    nós temos vontade de fazer?
  • 98:58 - 99:01
    Por que existe o mal no mundo?
  • 99:02 - 99:11
    Parece ser algo mais complicado do que simplesmente a soma das nossas falências, das nossas neuroses, das nossas fraquezes, etc..etc..
  • 99:11 - 99:12
    Trinta segundos.
  • 99:12 - 99:13
    Perfeito.
  • 99:13 - 99:14
    Por exemplo no livro
  • 99:16 - 99:18
    dos Vigilantes,
  • 99:18 - 99:22
    que é um texto no qual as tradições são
    contemporâneas a algumas partes da Bíblia,
  • 99:23 - 99:27
    inventa-se uma revolta de anjos...,
  • 99:27 - 99:29
    ...está no Midrash também,
  • 99:29 - 99:33
    ...que são enviados para a Terra como punição.
  • 99:33 - 99:35
    Ou seja, fizeram confusão no céu,
  • 99:36 - 99:37
    e são mandados
    aqui para baixo.
  • 99:37 - 99:39
    E eles, para se vingarem,
  • 99:40 - 99:42
    ensinam aos Homens a cometer o mal.
  • 99:42 - 99:44
    Essas são historinhas,
  • 99:44 - 99:47
    e podemos estupidamende pensar,
    que nos fazem sorrir,
  • 99:47 - 99:50
    mas têm a mesma importância
    da filosofia de Platão.
  • 99:50 - 99:53
    São modos para se perguntar:
  • 99:54 - 99:56
    o mal no mundo,
  • 99:57 - 99:59
    é simplesmente a soma
  • 100:00 - 100:02
    dos meus erros
  • 100:02 - 100:05
    ou tem um problema do mal?
  • 100:06 - 100:07
    Termino aqui devido
    os trinta segundos.
  • 100:08 - 100:09
    Mas eles prosseguiram.
  • 100:10 - 100:11
    E então,
  • 100:11 - 100:15
    Jesus é uma das vozes que....
  • 100:15 - 100:18
    ....nas várias intepretações da morte Jesus...,
  • 100:18 - 100:24
    ....pressupõem esse dramático debate
    intra-hebraico e não somente,
  • 100:24 - 100:26
    sobre a realidade do mal.
  • 100:26 - 100:30
    Então, lido dessa forma vocês podem entender
    que é muito mais simples que o catecismo que diz:
  • 100:30 - 100:34
    “Gênesis 3:15 mais Romanos 5:12,
    tudo em ordem”.
  • 100:35 - 100:39
    Ou então, como aquele casal não funciona, nós resolvemos o problema.
  • 100:39 - 100:39
    Não.
  • 100:40 - 100:42
    Eu diria isso,
  • 100:42 - 100:46
    tendencialmente, fazendo uma balanço,
    me coloco nas tradições católicas,
  • 100:46 - 100:51
    fazendo um balanço de como foi elaborado
    o conceito de pecado original.
  • 100:52 - 100:54
    As coisas que já foram ditas:
    “as consequências”…
  • 100:54 - 100:57
    ...isso leva a alguns pensamentos muito tristes !!
  • 100:58 - 101:03
    Foi dito que aqueles na condição de pecado
    original seriam destinados ao inferno.
  • 101:03 - 101:12
    Portanto aqui, se fala sobre o destino…. digamos,
    de bilhões de pessoas, com muita leviandade.
  • 101:12 - 101:16
    Direi que nesse caso eu reconheceria isso.
  • 101:17 - 101:18
    A teologia…
  • 101:18 - 101:21
    ...algumas linhas da teologia católica exercitaram,
  • 101:21 - 101:24
    através da questão do pecado original,
  • 101:25 - 101:27
    e aqui volto ao início desse debate,
  • 101:28 - 101:30
    um manuseamento de Deus fora do normal.
  • 101:31 - 101:37
    Tentaram decidir o destino da humanidade
    com uma leviandade mental que é preocupante.
  • 101:37 - 101:38
    É procupante.
  • 101:44 - 101:50
    É necessário ter cuidado porque é fácil tirar conclusões lógicas sobre Deus que acabam sendo correntes.
  • 101:51 - 101:52
    Acorrentam Deus.
  • 101:52 - 101:54
    É necessário ter cuidado.
  • 101:54 - 101:57
    Aqui é um terreno que já foi dito antes
    e foi repetido muitas vezes,
  • 101:58 - 102:01
    que não temos uma certeza dominativa
    sobre Deus.
  • 102:02 - 102:04
    E portanto é necessário muito cuidado.
  • 102:04 - 102:07
    Aqui, porém, se evocam, se evocaram, dizia antes, uma galáxia de coisas.
  • 102:08 - 102:12
    Entretanto direi que é verdade….
  • 102:13 - 102:14
    ...nessas páginas,
  • 102:14 - 102:20
    se inseriu dentro da questão
    dessas páginas do Gênesis,
  • 102:20 - 102:24
    se inseriu a interrogação que é uma das
    mais terríveis interrogações que já existiram:
  • 102:25 - 102:26
    "Mas o mal, de onde vem?”
  • 102:26 - 102:29
    Uma figura tão extraordinária do
    ponto de vista intelectual
  • 102:30 - 102:33
    e também muito perspicaz espiritualmente,
  • 102:33 - 102:34
    que foi Santo Agostinho,
  • 102:35 - 102:37
    justamente sobre isso se atormentou
    durante boa parte da sua vida.
  • 102:37 - 102:45
    Ele era, quando jovem, e um jovem proeminente
    professor de…etc.etc.. era maniqueísta.
  • 102:45 - 102:46
    Dizia, portanto,
  • 102:47 - 102:52
    que o mal tem uma consistência paritária
    de divindade com Deus:
  • 102:53 - 102:54
    Deus do bem, Deus do mal.
  • 102:55 - 102:59
    Essa é uma explicação que ele
    tentou superar através…
  • 103:00 - 103:09
    ...eu simplifico muito porque o seu pensamento é
    complexo, e em alguns pontos muito perigoso.
  • 103:12 - 103:15
    No lugar de fazer duas divinidades,
  • 103:16 - 103:18
    criando uma separação do conceito
    do Deus único,
  • 103:18 - 103:20
    não é possível que sejam duas divinidades,
  • 103:20 - 103:23
    o mal pode se concebido prevalentemente
    somente como exclusão do bem,
  • 103:23 - 103:27
    não se pode definir o mal no sentido objetivo,
    é somente a exclusão do bem.
  • 103:28 - 103:33
    Deu ao Homem a responsabilidade do mal
    de uma forma muito potente,
  • 103:34 - 103:36
    com toda uma série de consequências
  • 103:36 - 103:41
    que pegavam o impulso do texto do Gênesis
  • 103:41 - 103:48
    e portanto o peso do pecado original que
    se agravou sobre a humanidade,
  • 103:48 - 103:49
    com uma responsabilidade...
  • 103:49 - 103:56
    ...aqui se desencadearam… repito, algumas
    teologias que foram realmente muito perigosas.
  • 103:57 - 103:59
    Tento citar uma delas: olhem, o
    grandíssimo Dante.
  • 104:00 - 104:03
    Como Dante coloca a questão da morte
    de Cristo na cruz?
  • 104:04 - 104:06
    Depois gostaria de dizer algo de Jesus Cristo
    sobre esse propósito,
  • 104:07 - 104:10
    lido de uma forma que se coliga
    ao pecado original.
  • 104:10 - 104:13
    Antecipo porque vejo que tem a…
  • 104:14 - 104:16
    ... que é eminente o silêncio.
  • 104:16 - 104:22
    Portanto, Jesus Cristo veio, antes de mais nada,
    para anunciar a Boa Nova.
  • 104:23 - 104:25
    Não para assumir o pecado original.
  • 104:25 - 104:28
    E foi transformado inclusive em redentor.
  • 104:28 - 104:32
    Assumiu para si uma parte fundamental
    do mal do mundo.
  • 104:33 - 104:36
    E sobre isso seria necessário evocar uma relação
  • 104:36 - 104:44
    que hoje não somos capazes de cumprir porque não temos uma presença lá que sobre esse argumento seria absolutamente necessário,
  • 104:45 - 104:51
    ou seja, a IV Sura no versículo 156 do Alcorão
    (na verdade é o 157 e 158),
  • 104:51 - 104:53
    nega realmente, e dá a culpa aos judeus,
  • 104:53 - 104:57
    diz: “Vocês, judeus, têm essa culpa,
    disseram que crucificaram Jesus Cristo,
  • 104:57 - 104:59
    quando na verdade não o crucificaram,
  • 104:59 - 105:03
    porque Deus o levou para si, o elevou a si,
  • 105:04 - 105:05
    e Deus é onipotente.”
  • 105:05 - 105:07
    Ou como diz em outra passagem:
  • 105:07 - 105:10
    “Quando engana é mais enganador
    de quem engana.
  • 105:10 - 105:12
    E vocês creram que o mataram,
  • 105:12 - 105:16
    mas na realidade Ele foi transportado, e não
    é possível que ele tenha sofrido na cruz,
  • 105:16 - 105:18
    porque o profeta não pode
    ser abandonado por Deus.”
  • 105:18 - 105:20
    Ao passo que o cristianismo crê
  • 105:20 - 105:24
    que o Senhor tenha redimido esse mal do mundo,
  • 105:25 - 105:27
    especificamente através da cruz.
  • 105:27 - 105:30
    Ou seja, assumindo o mal, mas não inflingindo-o.
  • 105:31 - 105:35
    Aqui uma tecla muito delicada sobre o conceito
    de Deus e da onipotência de Deus.
  • 105:36 - 105:37
    De qualquer forma, para fechar…
  • 105:37 - 105:38
    Trinta segundos.
  • 105:38 - 105:42
    Para encerrar o pensamento direi isso,
  • 105:42 - 105:45
    que talvez os pontos dentro dos quais dá para ir,
  • 105:46 - 105:48
    repensando também de modo crítico,
  • 105:48 - 105:50
    coloco-me na ótica católica,
  • 105:50 - 105:55
    repensando de modo crítico aquilo que foi
    sobrecarregado em torno desses textos
  • 105:55 - 105:58
    e em torno das ideias que foram
    construídas sobre esses textos.
  • 105:58 - 106:02
    Seria necessário voltar aquele olhar sereno
    que tem no Novo Testamento.
  • 106:02 - 106:07
    Ou seja, é aquele que a cada dia sua aflição,
  • 106:07 - 106:12
    a cada época histórica, cada Homem, cada consciência carregue o peso das suas responsabilidades.
  • 106:13 - 106:17
    E isso, certamente, é coligado com a
    responsabilidade que me liga a outros,
  • 106:18 - 106:23
    mas arrancarei o conceito do pecado original
    de um conceito clânico de pecado,
  • 106:23 - 106:28
    isto é, alguém pecou, os pais pecaram
    e os filhos carregam a culpa.
  • 106:28 - 106:32
    Algo desse tipo, na minha opinião, no
    Novo Testamento é amplamente desacreditado.
  • 106:33 - 106:36
    Embora, infelizmente, foi amplamente
    usado na teologia.
  • 106:36 - 106:37
    Encerrarei aqui.
  • 106:37 - 106:38
    Obrigado.
  • 106:41 - 106:43
    Posso dizer uma coisa?
  • 106:43 - 106:45
    Depois vamos tomar um café.
  • 106:45 - 106:47
    Um Padre…. uma criança vai até um Padre.
  • 106:48 - 106:49
    É relativo ao mal.
  • 106:49 - 106:51
    Olhem que essa é ótima !!
  • 106:51 - 106:53
    Uma criança vai se confessar,
  • 106:53 - 106:56
    era piccinin (pequenino), como se diz em Milão.
  • 106:56 - 106:59
    O Padre diz: qual pecado você cometeu?
  • 106:59 - 107:01
    A criança diz: nenhum.
  • 107:01 - 107:04
    O Padre: tem certeza?
    Não cometeu nenhum pecado?
  • 107:04 - 107:06
    A criança: não, nenhum.
  • 107:06 - 107:07
    - Roubou?
  • 107:07 - 107:08
    - Não.
  • 107:08 - 107:10
    - Sabe o que significa roubar?
  • 107:10 - 107:10
    - Não.
  • 107:10 - 107:12
    - Então eu te explico:
  • 107:12 - 107:18
    roubar quer dizer: nunca pegou dinheiro
    do bolso do teu pai enquanto ele dormia?
  • 107:18 - 107:21
    A criança responde: nunca fiz isso, mas sabe
    que é uma boa ideia!
  • 107:24 - 107:27
    Faremos uma breve pausa.
  • 107:27 - 107:29
    .....com certeza expertos de Antigo Testamento
  • 107:29 - 107:32
    que sabem da citação que estamos falando.
  • 107:32 - 107:33
    A citação é:
  • 107:33 - 107:37
    Números 31:15: (na verdade é Números 31:37-40)
  • 107:37 - 107:40
    Depois da Guerra Santa contra os Madianitas
  • 107:40 - 107:42
    acontece a divisão do despojo.
  • 107:42 - 107:46
    Yahweh deve receber bois, cordeiros e 32 virgens.
  • 107:47 - 107:48
    Com qual finalidade?
  • 107:48 - 107:53
    No que me diz respeito obviamente,
  • 107:53 - 107:57
    essa é uma das inúmeras afirmações,
  • 107:58 - 108:03
    uma das inúmeras passagens bíblicas
    na qual eu encontro a confirmação
  • 108:04 - 108:06
    àquilo que eu disse no início,
  • 108:06 - 108:09
    ou seja, que o Antigo Testamento não fala de Deus
  • 108:09 - 108:14
    mas fala de um indivíduo que estabeleceu
    uma relação, uma aliança com um povo.
  • 108:14 - 108:18
    Estabeleceu uma aliança baseada
    em regras muito específicas.
  • 108:18 - 108:22
    Era um indivíduo em carne e osso e...
  • 108:22 - 108:26
    ...sei bem que dizem que isso
    é antropomorfização,
  • 108:26 - 108:29
    porém, na realidade, teria vontade de dizer que….
  • 108:30 - 108:36
    ...e então se os autores hebreus, os antigos
    autores bíblicos, antropomorfizaram dessa forma,
  • 108:37 - 108:41
    bem… faço algo que… tudo bem…
  • 108:41 - 108:45
    …não e uma brincadeira, teriam
    tido algum problema (mental),
  • 108:45 - 108:47
    porque transformaram esse indivíduo,
  • 108:48 - 108:50
    que deveria ser Deus, em uma das pessoas,
  • 108:50 - 108:52
    segundo o que está escrito na Bíblia,
  • 108:52 - 108:56
    mais indecente que existe
    na história da humanidade.
  • 108:56 - 108:59
    Portanto, o fato que Ele era um que…
  • 108:59 - 109:01
    ...como podemos ler na Bíblia,
  • 109:01 - 109:02
    autorizava genocídios,
  • 109:03 - 109:07
    na passagem 31 citada, essa é a segunda parte.
  • 109:07 - 109:11
    Na primeira Moisés se enfurece com os
    comandantes dos exércitos que voltam…
  • 109:12 - 109:14
    ...a passagem é a mesma, sim...
  • 109:14 - 109:16
    ...os comandantes dos exércitos
    que voltam,
  • 109:16 - 109:17
    enfurecido diz :
  • 109:17 - 109:19
    “Vocês deixaram todas as mulheres vivas?
  • 109:19 - 109:20
    Agora façam assim:
  • 109:20 - 109:22
    peguem cada mulher
    que tenha uma criança,
  • 109:22 - 109:26
    matem essa mulher e a criança e fiquem para
    vocês as outras moças.” (Números 31:15-18).
  • 109:27 - 109:28
    Aqui, entre outras coisas, tem
    um problema a mais:
  • 109:29 - 109:32
    existem estudos muito sérios que ainda publicarei,
  • 109:32 - 109:34
    estudos feitos por acadêmicos,
  • 109:34 - 109:38
    onde ali se fala.... quero dizer,
    feito por expertos hebreus,
  • 109:38 - 109:39
    ou seja, por exegetas,
  • 109:39 - 109:43
    onde o termo taphenu,
    eufemisticamente é moça,
  • 109:43 - 109:46
    mas provavelmente se chega
    a falar de meninas,
  • 109:47 - 109:48
    de crianças.
  • 109:49 - 109:51
    Isso recorda, por exemplo,
  • 109:51 - 109:58
    aquilo que Rashi de Troyes diz, foi citado antes pelo doutor Di Porto, como, talvez, o maior comentador hebreu de todos os tempos,
  • 109:58 - 110:01
    quando diz que Isaque, no comentário ao Gênesis,
  • 110:01 - 110:06
    Rashi de Troyes diz que Isaque casou com
    sua esposa quando ela tinha três anos.
  • 110:08 - 110:11
    Portanto essas passagens
    dão muito o que pensar,
  • 110:11 - 110:17
    e então, na minha opinião…. vocês sabem, eu
    declaro a minha escolha metodológica, e repito:
  • 110:18 - 110:20
    pode ser colocada em discussão,
    mas eu vou frente com essa escolha.
  • 110:21 - 110:23
    Tem quem lê a Bíblia simbolicamente,
  • 110:24 - 110:27
    tem que lê a Bíblia de forma guemátria,
    tem que a lê….
  • 110:27 - 110:30
    ...eu a leio …. tento ler de modo literal
    e vejo aquilo que posso tirar disso.
  • 110:31 - 110:33
    Portanto, essa passagem não me surpreende
  • 110:33 - 110:40
    porque é perfeitamente coerente com tudo aquilo
    que leio em relação àquele personagem.
  • 110:41 - 110:44
    Ali estão citadas 32 meninas,
  • 110:45 - 110:50
    e também a quantidade de burros
    e de bois que são atribuídos a Ele.
  • 110:50 - 110:54
    E francamente eu tenho dificuldade
    de pensar em um Deus que diz:
  • 110:54 - 110:55
    “A mim cabe esta parte aqui”,
  • 110:55 - 110:57
    uma percentual bem específica.
  • 110:58 - 111:01
    Portanto eu considero que se trate
    de um discurso lógico e coerente
  • 111:02 - 111:05
    com aquela imagem que na
    minha opinião obviamente,
  • 111:06 - 111:10
    resulta lendo a Bíblia, do Antigo Testamento,
    assim como é.
  • 111:10 - 111:12
    Nephesh adam não
    quer dizer virgem?
  • 111:12 - 111:12
    Não.
  • 111:13 - 111:14
    Quer dizer pessoas vivas.
  • 111:14 - 111:15
    Ok. Então é uma outra coisa.
  • 111:15 - 111:16
    Exato.
  • 111:16 - 111:17
    Peço desculpas.
  • 111:17 - 111:19
    Somente para esclarecer o meu pensamento:
    quer dizer pessoas vivas.
  • 111:20 - 111:22
    A questão das virgens da pergunta….
  • 111:22 - 111:24
    ...quem escreveu a pergunta...
  • 111:24 - 111:25
    ...eu não sei quem foi,
  • 111:25 - 111:27
    refere-se ao fato que
  • 111:27 - 111:29
    as únicas pessoas que ficaram vivas
  • 111:29 - 111:32
    depois do extermínio ordenado por Moisés
    eram moças virgens,
  • 111:32 - 111:35
    porque os outros deviam ser mortos.
  • 111:35 - 111:37
    Um pouco de ficção… um pouco de ação,
    fica melhor, não !!
  • 111:37 - 111:39
    Não !! Nenhum filme de ação.
    Está escrito aqui.
  • 111:47 - 111:49
    Eu repito, repito
  • 111:51 - 111:52
    porque é importante:
  • 111:52 - 111:55
    eu faço de conta que é verdade
    aquilo que está escrito.
  • 111:55 - 111:58
    Depois disso dá para dizer que não é verdade
    mas então e uma outra questão.
  • 111:58 - 112:01
    Eu porém…. o meu método é esse
    e eu tento aplicá-lo.
  • 112:01 - 112:08
    Portanto, em resposta a essa pergunta que foi feita eu digo: aqui está escrito isso. Leio isso e …. mais.
  • 112:08 - 112:11
    Expresso meu ponto de vista.
  • 112:11 - 112:14
    Repito: não é o ponto de vista da Igreja,
  • 112:14 - 112:16
    é o meu ponto de vista.
  • 112:16 - 112:19
    Tenho a possibilidade de interpretar como quero.
  • 112:20 - 112:20
    Não?
  • 112:21 - 112:21
    Não posso?
  • 112:21 - 112:22
    Claro que pode.
  • 112:22 - 112:23
    Desculpem...
  • 112:23 - 112:24
    Não posso.
  • 112:24 - 112:26
    Está falando do seu ponto de vista.
  • 112:26 - 112:29
    É um ponto de vista e deve ser respeitado.
  • 112:29 - 112:30
    Cada um é livre de....
  • 112:30 - 112:32
    ...eu declaro que leio literalmente,
  • 112:32 - 112:34
    ele declara que interpreta,
  • 112:34 - 112:36
    os dois pontos de vista
    devem ser ouvidos.
  • 112:37 - 112:38
    Atenção !!!
  • 112:42 - 112:43
    Repito,
  • 112:43 - 112:45
    é o meu ponto de vista.
  • 112:45 - 112:48
    E como sou uma pessoa racional
  • 112:48 - 112:53
    e posso avaliar através das Sacras Escrituras,
  • 112:53 - 112:58
    e também através da exegese bíblica,
  • 112:58 - 113:02
    tenho a capacidade mental de
    poder interpretar um texto.
  • 113:02 - 113:03
    Ou não?
  • 113:05 - 113:06
    Bem...
  • 113:12 - 113:16
    ...se partimos desse ponto de contraste
  • 113:16 - 113:22
    e de gritos como no estádio de futebol então
    não…. não vamos para lugar nenhum.
  • 113:25 - 113:27
    Mauro Biglino quando fala,
  • 113:28 - 113:33
    fala de um ponto de vista histórico
    e do ponto de vista de traduções.
  • 113:35 - 113:37
    A tradução da Bíblia,
  • 113:38 - 113:40
    e sobretudo dos textos bíblicos,
  • 113:40 - 113:42
    nesse caso, mas também em outros casos,
  • 113:42 - 113:49
    deixam sempre a dúvida da interpretação
    e daquele que transcreveu um texto bíblico.
  • 113:50 - 113:52
    Deus não tem necessidade de gado.
  • 113:52 - 113:55
    Vocês sabem bem que na tradição hebraica,
  • 113:55 - 113:57
    e aqui está presente o Rabino,
  • 113:57 - 114:00
    se levava ofertas para o sacrifício
  • 114:00 - 114:04
    como cordeiros, bois, pombas.
  • 114:05 - 114:08
    Se levava para sacrificar porque tem....
  • 114:08 - 114:09
    Público: meninas !!
  • 114:09 - 114:10
    Sim, meninas, tudo bem.
  • 114:10 - 114:11
    Existiam também….

  • 114:12 - 114:16
    ...no Antigo Testamento todos tinham deuses
    que não eram estátuas vazias,
  • 114:16 - 114:18
    que exigiam sacrifício humano.
  • 114:19 - 114:20
    No Egito também existia.
  • 114:20 - 114:26
    Temos… vejam a civilização Inca e a civilização…
  • 114:27 - 114:30
    ... e portanto, existiam sacrifício humano,
  • 114:30 - 114:33
    mas Deus não tem necessidade desses sacrifícios.
  • 114:33 - 114:39
    É a interpretação errada do Homem
    que levou a esse ponto.
  • 114:40 - 114:43
    E com certeza o texto foi,
  • 114:44 - 114:45
    como em muitas vezes,
  • 114:46 - 114:51
    traduzido de uma forma que deu prazer
    em um contexto histórico daquele tipo.
  • 114:51 - 114:53
    É a minha interpretação, repito.
  • 114:53 - 114:54
    Obrigado.
  • 114:54 - 115:00
    Temos várias perguntas parecidas
    que incluo em uma única,
  • 115:00 - 115:04
    e que pode ser dirigida praticamente
    a todos os relatores.
  • 115:04 - 115:07
    É relacionada.....digamos,
  • 115:08 - 115:10
    à suposta crueldade do Deus da Bíblia.
  • 115:11 - 115:13
    Do Deus que clama a guerra,
  • 115:13 - 115:15
    um Deus que mata os povos inimigos,
  • 115:16 - 115:20
    que com muita frequência mata milhares
    de pessoas que não o obedecem.
  • 115:20 - 115:23
    Portanto, como dá para justificar este Deus,
  • 115:23 - 115:25
    digamos assim, mau, vingativo,
  • 115:26 - 115:29
    se realmente uma pessoa
    desse tipo pode ser Deus?
  • 115:31 - 115:35
    Bom, eu respondo por primeiro
    não porque queira falar por primeiro
  • 115:36 - 115:38
    mas porque para mim é muito simples:
    aquele não é Deus.
  • 115:38 - 115:40
    Portanto é tudo justificável.
  • 115:40 - 115:41
    Ou seja, é normal.
  • 115:42 - 115:44
    Não tenho necessidade de explicar nada.
  • 115:45 - 115:47
    Leio a história de um governador de um povo
  • 115:48 - 115:51
    que se comportava mais ou menos como
    se comportavam os seus colegas.
  • 115:51 - 115:54
    É suficiente ler a Estela de Mesha
    (Pedra Moabita),
  • 115:54 - 115:55
    onde Mesha, o rei dos Moabitas,
  • 115:56 - 115:57
    que aliás eram primos
    de acordo com a Bíblia,
  • 115:58 - 116:00
    pois eram descendentes de Lot,
    primos dos Israelitas.
  • 116:02 - 116:05
    O rei Mesha fazia para o seu Elohim Kamosh…
  • 116:05 - 116:09
    ...deixemos de lado o significado de Elohim
    caso contrário falaremos durante semanas...,
  • 116:10 - 116:12
    ...fazia para o seu Elohim Kamosh
  • 116:12 - 116:16
    exatamente aquilo que os Israelitas faziam
    para o Elohim deles, Yahweh.
  • 116:17 - 116:20
    Portanto, para mim não tem
    necessidade de explicações.
  • 116:21 - 116:23
    É assim porque não era Deus.
  • 116:23 - 116:25
    Essa é a minha opinião, obviamente.
  • 116:25 - 116:26
    Emilio Salsi:
  • 116:26 - 116:29
    Eu li o Antigo Testamente somente uma vez
    e com um grande esforço.
  • 116:29 - 116:31
    Porém, a conclusão que tirei é essa:
  • 116:31 - 116:40
    o Homem nunca inventou uma divindade tão
    sanguinária como o deus que adoram.
  • 116:40 - 116:42
    Adorem vocês!
  • 116:43 - 116:44
    É uma coisa assustadora.
  • 116:49 - 116:50
    Ninguém mais quer intervir?
  • 116:51 - 116:53
    Sim. Faço uma pergunta a todos vocês.
  • 116:56 - 116:58
    Faço uma pergunta para todos vocês.
  • 116:59 - 117:00
    Em qual deus vocês creem?
  • 117:05 - 117:08
    Em qual deus vocês creem?
  • 117:11 - 117:21
    (O público dá variados tipos de respostas entre as quais um convite para que seja respondida a pergunta colocada ao invés de fazer outras.)
  • 117:22 - 117:25
    Nota: O doutor Di Porto deixa a sala
    porque deve pegar um trem.
  • 117:25 - 117:28
    Há perguntas relacionadas ainda
    ao Antigo Testamento.
  • 117:28 - 117:31
    Agora peço para que o doutor Garrone
    intervenha primeiro.
  • 117:31 - 117:34
    Dessa forma escutamos a sua opinião
    também em relação ao tópico:
  • 117:34 - 117:39
    Por que, se Deus é um Criador Universal,
    escolheu somente um povo, aquele hebraico?
  • 117:40 - 117:43
    Nossos seguidores insistem,
  • 117:44 - 117:46
    por que massacrou todos os outros?
  • 117:46 - 117:49
    Por que essa escolha de um único povo
    se é um Deus universal?
  • 117:50 - 117:55
    Parece estranho dizer após Rickert,
  • 117:56 - 118:01
    nós somos somente humanos que interpretam.
  • 118:02 - 118:08
    Vocês não devem confundir interpretação com conversa de alguém que quer lhe enganar.
  • 118:08 - 118:13
    Nenhum de nós, e até Biglino que diz: “ Eu não
    interpreto mas traduzo ao pé da letra”,
  • 118:14 - 118:17
    a sua tradução ao pé da letra é interpretação.
  • 118:18 - 118:26
    E que …não faço aqui, mas falerei a respeito com…. sim! E existem… é menos flexível, é menos flexível da…. fecho esse parêntesis.
  • 118:27 - 118:29
    Digo o que penso:
  • 118:30 - 118:35
    o Antigo Testamento chega ao universalismo
    somente em um segundo momento.
  • 118:36 - 118:39
    Essa religião começa com a ideia
  • 118:40 - 118:45
    de uma experiência de liberdade com um deus
    guerreiro que vem do deserto,
  • 118:47 - 118:49
    que guia um bando de escravos
  • 118:50 - 118:55
    e que o vincula a si através de uma
    aliança dizendo:
  • 118:55 - 118:57
    “A liberdade de vocês deve ser
    vivida dessa forma.”
  • 118:58 - 119:00
    Assim começou essa história.
  • 119:00 - 119:04
    E sabem quando usaram a linguagem da aliança?
  • 119:04 - 119:05
    No tempo dos assírios.
  • 119:05 - 119:08
    Quando assinavam tratados de vassalagem,
  • 119:08 - 119:12
    escreveram o Deuteronômio imitando os
    tratados de vassalagem e dizendo:
  • 119:13 - 119:17
    “Nós… a nossa liberdade não foi
    dada pelo soberano assírio,
  • 119:17 - 119:21
    mas sim esse deus do deserto
    que nos guiou até aqui,
  • 119:21 - 119:24
    nós nos ligamos a ele com essa liberdade.”
  • 119:26 - 119:30
    A partir disso desenvolveram
    um monoteísmo universal
  • 119:30 - 119:33
    e aquele ponto reinterpretaram.
  • 119:33 - 119:34
    Preciso resumir muito...
  • 119:34 - 119:38
    ...reinterpretaram esse vínculo especial,
  • 119:38 - 119:41
    simplesmente como uma função especial.
  • 119:41 - 119:44
    E se vocês pensam ou escutam dizer
  • 119:44 - 119:49
    que o Antigo Testamento quer dizer que a escolha
    dos hebreus, são os únicos que se salvam,
  • 119:50 - 119:54
    e todos os outros devem ser massacrados,
    é propaganda antissemita.
  • 119:55 - 119:56
    Os hebreus...
  • 119:56 - 119:58
    não, não.. mas já que dizem isso...
  • 119:58 - 120:01
    ...os hebreus nunca… nunca foi escrito
    na Bíblia hebraica,
  • 120:02 - 120:07
    e nunca disseram que aquele pacto
    é um pacto ligado à salvação.
  • 120:07 - 120:09
    E diferentemente dos cristãos...
  • 120:09 - 120:10
    ...peçam aos rabinos…
  • 120:10 - 120:15
    ...um rabino lhes dirá que nós, pagãos,
    o que acontecerá conosco no dia do juízo final?
  • 120:15 - 120:20
    Não nos será dito: “Você não observou
    o 613 mitzvot”
  • 120:20 - 120:22
    ou “não acreditou nisso ou naquilo”.
  • 120:22 - 120:23
    Mas nos será dito:
  • 120:23 - 120:26
    “Tinha um estado de direito,
    um tribunal no teu país?”
  • 120:26 - 120:26
    "Sim."
  • 120:26 - 120:27
    "Você era politeísta?"
  • 120:28 - 120:28
    "Não."
  • 120:28 - 120:32
    "Você era um pedófilo, incestuoso ou assassino? "
  • 120:32 - 120:33
    "Nao."
  • 120:33 - 120:35
    "Entre, e fique a vontade."
  • 120:35 - 120:40
    É suficiente um mínimo de integridade, digamos,
    exceto o monoteísmo, mas…

  • 120:41 - 120:44
    ...e de temor a Deus e… e de integridade moral
  • 120:44 - 120:48
    que não depende se pertencemos ou não ao povo
    de Israel ou da profissão a uma fé.
  • 120:48 - 120:52
    Essa é a visão… a visão hebraica.
  • 120:52 - 120:54
    Público: Mas isso não está escrito
    no Talmud.
  • 120:54 - 120:55
    Como?
  • 120:55 - 120:56
    Público: Mas isso não está escrito
    no Talmud.
  • 120:57 - 120:59
    O senhor já leu uma página do Talmud?
  • 120:59 - 121:00
    Público: Sim.
  • 121:00 - 121:03
    E no Talmud está escrito que nós
    iremos para o inferno?
  • 121:03 - 121:04
    Público: Não.
  • 121:05 - 121:09
    O Talmud se refere a nós como algo diferente
    dos hebreus. Uma mensagem muito racista.
  • 121:09 - 121:13
    Realmente nós somos. Realmente nós somos. Nós somos diferentes deles.
  • 121:15 - 121:16
    Sim, muito diferentes.
  • 121:16 - 121:18
    Público: Mas não do ponto de vista depreciativo,
    como eles dizem.
  • 121:18 - 121:19
    Ah ! Não, não.
  • 121:19 - 121:21
    Eu quero dizer, não… não…
  • 121:21 - 121:25
    ...pertencer ao povo de Israel não é uma
    condição preliminar para a salvação,
  • 121:26 - 121:30
    pelo contrário, é aquilo que os colocará a um julgamento, a um screening…
  • 121:31 - 121:34
    Público: Para eles somos goyim? Certo? Animais.
  • 121:35 - 121:36
    Goyim, animais?
  • 121:37 - 121:41
    Quer dizer povos, nação, pagão, (não cristão).
  • 121:42 - 121:44
    Goyim não quer dizer animais.
  • 121:45 - 121:51
    Que em todos os grupos sociais se usam termos em modo depreciativo....
  • 121:52 - 121:55
    Público: Mas por que eles podem usar
    termos em modo depreciativo?
  • 121:56 - 121:57
    Estou falando de nós.
  • 121:58 - 121:59
    Público: Eu também.
  • 122:00 - 122:01
    Por exemplo, cinquenta anos atrás
  • 122:02 - 122:03
    na minha cidade se dizia:
  • 122:03 - 122:06
    “Não pense nunca em se casar com uma católica!”
  • 122:07 - 122:11
    Porque éramos minoria… eh.. em um clima que não era aquele....
  • 122:11 - 122:14
    (Garrone se dá conta que ao
    seu lado tem um católico).
  • 122:14 - 122:15
    ...ele sabe tudo...
  • 122:17 - 122:18
    Vivíamos em um clima…
  • 122:18 - 122:20
    ...vivíamos em um clima …
  • 122:22 - 122:24
    ...vivíamos em um clima diferente desse de hoje.
  • 122:26 - 122:29
    Fechados no nosso gueto alpino,
  • 122:29 - 122:34
    e então é evidente que talvez meu bisavô
  • 122:34 - 122:37
    quando se referia aos católicos,
  • 122:37 - 122:39
    falava com uma conotação
  • 122:40 - 122:43
    e com um espírito diferente de como eu digo hoje,
  • 122:44 - 122:48
    e portanto posso entender que os hebreus,
    fechados no gueto, tenham dito:
  • 122:48 - 122:52
    “Os goyim lá fora querem o nosso mal”.
  • 122:53 - 122:56
    Corrijam-me… me desmintam se não é verdade.
  • 122:56 - 123:00
    Portanto, o povo que aquele Deus
    mais massacrou era o seu.
  • 123:03 - 123:04
    Não?
  • 123:04 - 123:06
    É aquele que mais massacrou.
  • 123:06 - 123:08
    Porque, felizmente, deixem-me terminar
    que coloco o meu ponto de vista.
  • 123:09 - 123:13
    Felizmente nenhum dos massacres que
    estão descritos no livro dos Juízes,
  • 123:14 - 123:16
    nenhuma dessas páginas,
  • 123:17 - 123:18
    que não é um homem...
  • 123:18 - 123:22
    ...Biglino usa como um pretexto para dizer: “Aquele
    que faz essa campanha aqui era somente um…”,
  • 123:22 - 123:24
    ...eles dizem que é Deus.
  • 123:24 - 123:26
    É Deus que ordena tudo isso aqui.
  • 123:27 - 123:31
    Nunca fizeram um. São projeções, são....
  • 123:31 - 123:32
    (O público ri).
  • 123:32 - 123:33
    Sim!
  • 123:33 - 123:34
    Sim!
  • 123:38 - 123:38
    Vocês....
  • 123:39 - 123:40
    Sabrina Pieragostini: Silêncio por favor.
  • 123:41 - 123:42
    Vocês creem...
  • 123:42 - 123:52
    ...vocês creem...vocês creem que realmente doze tribos entraram e derrubraram Jericó com um milagre e massacraram todos os cananeus?
  • 123:52 - 123:53
    Público: Sim!
  • 123:53 - 123:54
    Não!
  • 123:54 - 123:56
    Creiam aos... creiam aos...
  • 123:57 - 124:01
    ...creiam aos históricos que dizem que Israel surge
  • 124:01 - 124:05
    no meio da população cananeia,
    e muito mais tarde
  • 124:05 - 124:11
    são discutidas em Israel várias opções
    sobre a própria religião.
  • 124:11 - 124:14
    Existe uma linha que pensa que a segregação,
  • 124:14 - 124:18
    isto é, não misturar-se com os outros,
  • 124:19 - 124:21
    seja a única forma de defender
    a nossa indentidade.
  • 124:21 - 124:23
    Não se casar com mulheres estrangeiras.
  • 124:24 - 124:28
    É necessário… viver o máximo possível
    as próprias particularidades.
  • 124:28 - 124:30
    São aqueles que escrevem estes textos, narram:
  • 124:31 - 124:36
    “Se tivéssimos feito as coisas como deveriam ser feitas, necessitaria que todos tivessem sido massacrados.”
  • 124:36 - 124:41
    E existem outras páginas da Bíblia, e chego
    na resposta final sobre a violência,
  • 124:42 - 124:43
    outras páginas da Bíblia que dizem:
  • 124:44 - 124:51
    “E se a nossa especial vocação fosse
    aquela de viver no meio dos outros,
  • 124:52 - 124:59
    sem medo e simplesmente esperando
    que os outros sejam envolvidos.”
  • 124:59 - 125:01
    Por exemplo no fim do livro de Isaías:
  • 125:01 - 125:04
    “em um mundo no qual todos
    os povos vivem em paz”.
  • 125:05 - 125:08
    No Antigo Testamento vocês encontram
    essas duas linhas de pensamento.
  • 125:08 - 125:10
    Não foram canceladas.
  • 125:10 - 125:14
    Peço para reconhecerem o fato que embora
    esteja escrito na Bíblia,
  • 125:14 - 125:19
    o povo hebraico nunca pensou em aplicar
    ao pé da letra estes textos,
  • 125:20 - 125:22
    ao contrário dos cristãos, que fizeram.
  • 125:23 - 125:25
    E quem reviveu a grande epopeia,
  • 125:26 - 125:29
    que já pensou em reviver os textos de Josué,
  • 125:30 - 125:34
    são pessoas da minha parte,
  • 125:35 - 125:38
    que conquistavam o oeste dos Estados Unidos
  • 125:38 - 125:40
    e que davam os nomes das
    cidades bíblicas pensando:
  • 125:40 - 125:44
    “Nós somos fugitivos da Inglaterra
    por motivos religiosos,
  • 125:44 - 125:47
    encontramos aqui a nossa Terra Prometida,
    que é habitada
  • 125:48 - 125:51
    por cananeus, e Deus nos a concedeu, etc.etc..
  • 125:52 - 125:59
    Portanto, o uso e a interpretação desses textos
    diz respeito muito mais a nós que os hebreus.
  • 126:00 - 126:01
    Eu penso
  • 126:03 - 126:08
    que a coisa que me interessa da Bíblia
    é que no fim, O Antigo Testamento,
  • 126:08 - 126:09
    uma última coisa,
  • 126:09 - 126:14
    é uma tolice dizer que no Antigo Testamento há um Deus mau enquanto que aquele...
  • 126:16 - 126:19
    e dizer que o Deus do Novo Testamento é bom.
  • 126:19 - 126:22
    Leiam o Apocalipse para ver como termina.
  • 126:22 - 126:24
    Público: Então é tudo invenção?
  • 126:24 - 126:24
    Não.
  • 126:24 - 126:28
    Eu combato a ideia que seria necessário
    o Cristianismo para um Deus bom.
  • 126:29 - 126:32
    Existe também no Antigo Testamento
    um Deus bom.
  • 126:32 - 126:33
    E na minha opinião....
  • 126:33 - 126:35
    Público: Onde? Onde?
  • 126:38 - 126:41
    Tem um Deus bom no Antigo Testamento quando
  • 126:41 - 126:44
    mesmo podendo ser violento como
    os textos o descrevem,
  • 126:45 - 126:50
    existem páginas nas quais ele é descrito como um Deus que desarma.
  • 126:51 - 126:54
    Esperem um pouco....
  • 126:54 - 126:55
    Por favor façam silêncio.
  • 126:55 - 126:57
    Caso contrário não dá para ouvir nada.
  • 126:57 - 126:58
    Não falo sobre interpretação.
  • 126:58 - 127:01
    É uma questão de honestidade para com você.
  • 127:01 - 127:05
    Eu, como cristão, me encontro em relação
    a esses problemas em uma situação,
  • 127:05 - 127:07
    entre aspas, diferente.
  • 127:07 - 127:09
    Por qual motivo?
  • 127:09 - 127:12
    Porque Jesus Cristo se
    deixou crucificar por estas razões.
  • 127:12 - 127:15
    E agora estamos na semana da quaresma.
  • 127:15 - 127:17
    Se diz: Jesus morreu, morreu.
  • 127:17 - 127:21
    Foi assassinado por estes motivos. Está bem?
  • 127:22 - 127:27
    E isso coloca uma dialética entre o Testamento,
  • 127:27 - 127:34
    Novo Testamento e o Antigo Testamento que poderia ser tranquilamente colocada em um binário errado.
  • 127:34 - 127:38
    Por isso eu lamento que o representante
    do mundo hebraico não esteja presente.
  • 127:38 - 127:42
    Mas é um fato, porém, que
    o Antigo Testamento …
  • 127:42 - 127:47
    ...aquilo que eu consigo ler seguindo também
    as interpretações que pessoas fizeram
  • 127:47 - 127:53
    no decorrer no tempo, com competência
    e sensibilidade em relação aos textos.
  • 127:53 - 127:57
    O Antigo Testamento, entre aspas,
  • 127:57 - 128:02
    eu o aprecio porque representa a história
    da religião na sua dureza.
  • 128:03 - 128:06
    É necessário aceitar que uma parte não indiferente
  • 128:07 - 128:10
    do problema religioso, passou, não somente ele,
  • 128:11 - 128:13
    também através da violência em nome de Deus.
  • 128:13 - 128:15
    Isso deve ser dito assim.
  • 128:15 - 128:15
    Por quê?
  • 128:16 - 128:19
    Antes, na entrevista rápida que foi feita,
  • 128:20 - 128:23
    fiz exemplos de pessoas que eu
    conheço hoje, ligadas ao ISIS.
  • 128:25 - 128:28
    Essas pessoas atacaram aquilo que fazem,
  • 128:28 - 128:29
    pessoas entre eles mesmo,
  • 128:29 - 128:31
    e não outros mercenários
    que estão por trás.
  • 128:31 - 128:36
    Essas pessoas têm o senso de estarem fazendo
    aquilo que tem de mais nobre: dar a vida.
  • 128:36 - 128:45
    E aqueles que cometem homicídios,
    quanto mais crueis são, mais alto é o prêmio.
  • 128:46 - 128:47
    O que é mais alto que Deus?
  • 128:48 - 128:55
    Quanto mais alto é o objetivo, mais os meios infames são, não somente justificados, mas santificados.
  • 128:55 - 129:00
    Esse é o nó da questão religiosa no seu interior.
  • 129:00 - 129:05
    A Bíblia, na sua dureza, contém
    uma luta também sobre isso.
  • 129:05 - 129:16
    Deus, de qualquer forma… não, não, não… olhem que… como hoje no… como hoje.. é errado dizer, quando tem algum debate público com o Islam, dizer:
  • 129:16 - 129:18
    O Islam é pa…pa.... Não, não.
  • 129:18 - 129:22
    O Islam deve lidar com isso porque é uma
    possibilidade muito perigosa da religião.
  • 129:23 - 129:26
    Toca a alma em sua profundidade
    e como o objetivo é elevado,
  • 129:26 - 129:31
    os meios infames não são somente
    justificados mas também santificados.
  • 129:32 - 129:36
    Essa correção desses atos está na Bíblia.
  • 129:37 - 129:43
    Eu diria que fracamente a Bíblia nos apresenta
    a mesa sem descontos das relações com Deus.
  • 129:43 - 129:45
    Até mesmo aquelas mais perigosas.
  • 129:45 - 129:48
    No caso específico do cristianismo, porém,
  • 129:50 - 129:53
    a aposta do jogo sobre o assassinato
    de Jesus foi essa.
  • 129:54 - 129:57
    Foi essa: “Se você é Deus, sai da cruz
    e acreditamos.”
  • 129:58 - 130:04
    É aquilo que eu citava antes sobre
    o versículo 156 ou talvez 157,
  • 130:04 - 130:06
    de acordo com os textos do Islam,
  • 130:06 - 130:08
    da IV Sura, a Sura das mulheres diz:
  • 130:08 - 130:12
    “Deus não desiste do seu profeta. O faz vencer.”
  • 130:12 - 130:15
    Enquanto que no caso específico
    do Novo Testamento...
  • 130:15 - 130:18
    ...mas aqui gostaria que estivesse presente…
  • 130:18 - 130:22
    ...porque seria uma ótima dialética
    com ele (Rabino).
  • 130:22 - 130:27
    O Novo Testamento faz uma alteração de rota
    com o Antigo Testamento.
  • 130:28 - 130:30
    Alteração e não colisão.
  • 130:30 - 130:32
    Mas faz uma correção de rota.
  • 130:32 - 130:35
    Se você, em nome de Deus, em nome de Deus,
  • 130:35 - 130:37
    pensa que pode fazer qualquer coisa,
  • 130:37 - 130:41
    já que qualquer coisa que você faça,
    é feita a Deus, e é ainda mais santificada,
  • 130:41 - 130:44
    e é terrível contra as leis normais,
  • 130:44 - 130:49
    ao invés, na figura específica de Jesus,
    isso é derrotado.
  • 130:50 - 130:54
    Jesus aceita que Deus não seja visível
    através dessa lógica.
  • 130:55 - 130:56
    É uma lógica muito dura
  • 130:57 - 131:01
    que ainda hoje é inútil que escondamos,
    é uma lógica aberta.
  • 131:01 - 131:03
    Por isso, na minha opinião,
  • 131:03 - 131:06
    a Bíblia tem um valor de comparação
    dinâmica e também,
  • 131:06 - 131:09
    também aceitaria que, aceitaria também
  • 131:10 - 131:13
    que atrás dessas descrições tenha um cliché
  • 131:13 - 131:16
    que indica aquilo que me sugeria
    somente de passagem...
  • 131:16 - 131:18
    ...lamento (refere-se a ausência do Rabino)…
  • 131:19 - 131:25
    Dizia-me que atrás desse cliché existe o fato que, mais do que serem considerados vítimas, eram considerados consagrados.
  • 131:25 - 131:29
    Isto é, a linguagem é da vítima,
    mas na vítima como consagração.
  • 131:29 - 131:32
    Eu gostaria que ele tivesse dito isso,
    eu não quero interpretá-lo.
  • 131:32 - 131:35
    Deixemos que Mauro Biglino
    intervenha a esse respeito.
  • 131:36 - 131:37
    As perguntas são somente
    aquelas escritas.
  • 131:37 - 131:40
    Não façam perguntas que fujam
    daquelas já escritas. Obrigado.
  • 131:40 - 131:40
    Sim.
  • 131:40 - 131:43
    Gostaria simplesmente fazer uma observação.
  • 131:44 - 131:47
    Aqui é necessário distinguir bem entre,
    como posso dizer,
  • 131:47 - 131:49
    acusar os hebreus enquanto povo,
  • 131:49 - 131:52
    e recorrer aquilo que lemos em um texto,
  • 131:52 - 131:55
    porque depois se fala de antissemitismo,
    mas na realidade, quero dizer,
  • 131:56 - 132:01
    os amonitas, os moabitas, os amalequitas
    eram semitas exatamente como os israelitas.
  • 132:01 - 132:03
    Eles eram seus primos.
  • 132:03 - 132:06
    Combatiam entre si, isto é, combate entre semitas.
  • 132:07 - 132:11
    Portanto, falar em antissemitismo
    realmente não tem sentido.
  • 132:11 - 132:14
    Aquilo que Don Ermis Segatti dizia…
  • 132:15 - 132:24
    ...a Bíblia prevê e nos descreve até as partes
    mais duras da história da religião.
  • 132:24 - 132:26
    Antes foi colocado o problema do mal.
  • 132:26 - 132:32
    O problema do mal, aquele que vem, de um lado
    ligado à questão do eventual pecado original,
  • 132:32 - 132:36
    sendo o Homem, através da sua desobediência,
  • 132:36 - 132:40
    que traz o mal ao mundo,
    e através do mal, a morte.
  • 132:40 - 132:42
    Ou então que é Satanás a origem do mal.
  • 132:43 - 132:47
    Porque tem Deus que é a origem do bem
    e tem Satanás que é a origem do mal.
  • 132:47 - 132:50
    Na realidade, tem um versículo....
  • 132:50 - 132:58
    ... e sobre isso garanto que antes eu pedi confirmação para Di Porto enquanto ainda estava aqui.
  • 132:58 - 133:01
    Mostrei esse versículo a ele e pedi:
    “está correto?”
  • 133:01 - 133:03
    Ele fez sinal que sim.
  • 133:03 - 133:06
    Em Isaías 45:7, vocês sabem muito bem,
  • 133:07 - 133:07
    Deus disse:
  • 133:08 - 133:10
    “Eu faço o bem, eu crio o mal.”
  • 133:11 - 133:13
    Deus… isto é, o Elohim…
  • 133:14 - 133:16
    ...Ele diz: “Eu sou a origem do tudo.”
  • 133:17 - 133:19
    Portanto, colocar-se o problema
    da origem do mal,
  • 133:20 - 133:22
    atribuindo-o para um ou para outro,
  • 133:22 - 133:24
    esse problema é colocado
  • 133:24 - 133:27
    esquecendo com frequência
    essa afirmação específica
  • 133:27 - 133:32
    que está em 45:7 e sobre a qual pedi
    confirmação antes, e ele fez sinal de positivo.
  • 133:32 - 133:35
    Eu lhe perguntei: “Está correto?”
    e ele disse: “Sim, está correto.”
  • 133:36 - 133:39
    Portanto a questão do mal
    que está na Bíblia
  • 133:40 - 133:42
    é uma questão que, na minha opinião,
  • 133:43 - 133:46
    não existe nenhum problema para explicar,
  • 133:47 - 133:50
    já que eu penso que aquele indivíduo,
  • 133:50 - 133:56
    aquele personagem, o protagonista da Bíblia
    era um gover...,
  • 133:56 - 133:59
    ...o deus da estepe, o deus do deserto.
  • 133:59 - 134:01
    Aquele citado pela Bíblia de Jerusalém.
  • 134:01 - 134:03
    É claro que se a Bíblia,
  • 134:03 - 134:06
    e isso está escrito também na introdução
    da Bíblia de Jerusalém,
  • 134:06 - 134:14
    quando diz que todos estes textos foram criados,
    rescritos para sustentar uma tese religiosa.
  • 134:14 - 134:16
    Está muito claro na Bíblia de Jerusalém,
  • 134:16 - 134:19
    edição 2013, aquela mais atualizada.
  • 134:19 - 134:23
    Portanto, uma coisa é
    que esse livro tenha sido escrito
  • 134:23 - 134:25
    e seja utilizado para nos levar até Deus,
  • 134:26 - 134:30
    outra coisa é dizer que Deus é aquele, descrito ali. É isso que não consigo aceitar.
  • 134:31 - 134:35
    Olam, que é traduzido como “eternidade”
  • 134:35 - 134:37
    e que poderia, invés, ser entendido como
  • 134:38 - 134:39
    “longo tempo”.
  • 134:40 - 134:45
    Definir um Deus eterno é diferente de definir
    como um Deus que vive um longo tempo.
  • 134:45 - 134:48
    Existe essa discussão sobre o termo Olam?
  • 134:49 - 134:51
    Muito rapidamente….
  • 134:51 - 134:54
    ...eu lamento muito que Di Porto
    não esteja presente.
  • 134:55 - 134:59
    Realmente lamento porque poderia
    falar algo definitivo a esse respeito.
  • 135:00 - 135:02
    No sentido que, por exemplo,
    eu leio nos dicionários…
  • 135:03 - 135:07
    ...a coisa mais gritante e é difícil
    encontrar em um dicionário,
  • 135:07 - 135:11
    mas no dicionário de hebraico e aramaico bíblicos
    da Sociedade Bíblica Britânica,
  • 135:11 - 135:16
    como significado do termo Olam encontramos, como primeira coisa: “não traduzir como eternidade”.
  • 135:16 - 135:22
    Um senhor que está presente hoje me fez uma entrevista e entrevistou também Rav Riccardo Di Segni sobre mim.
  • 135:23 - 135:32
    Foi falar com o rabino-chefe da comunidade
    de Roma e lhe perguntou o que eu estava dizendo.
  • 135:32 - 135:34
    Que bobagens eu estava falando.
  • 135:35 - 135:38
    Quando lhe colocou a pergunta
    sobre eternidade,
  • 135:39 - 135:42
    ...felizmente está no youtube, portanto
    não é interpretação…
  • 135:43 - 135:45
    ... o rabino disse: “Mas quem disse
    que significa eternidade?”
  • 135:45 - 135:47
    "Trata-se de um tempo com
    duração desconhecida."
  • 135:48 - 135:51
    Isto é, não sabemos quando teve início e
    quando terminará, mas não é eternidade.
  • 135:52 - 135:56
    Portanto, lendo a Bíblia eu também não
    encontro o conceito de eternidade,
  • 135:56 - 135:59
    coerentemente com aquilo
    que está escrito.
  • 135:59 - 136:01
    Nos dicionários americanos
    está escrito:
  • 136:02 - 136:04
    “Long time in the past, in the future”,
  • 136:04 - 136:06
    ou seja, “um longo tempo seja
    no passado ou no futuro.”
  • 136:06 - 136:10
    Mas um longo tempo é um conceito completamente diferente do conceito de eternidade.
  • 136:11 - 136:13
    Isso é aquilo que eu penso.
  • 136:14 - 136:15
    Todos os dicionários…
  • 136:15 - 136:18
    ...não entendo a surpresa de Biglino…
  • 136:18 - 136:21
    ...lendo aquele dicionariozinho elementar
    que traduzimos em italiano,
  • 136:22 - 136:27
    todos os grandes dicionários… dizem isso,
    inclusive os dicionários teológicos.
  • 136:27 - 136:29
    As traduções estão, talvez,
    um pouco desatualizadas.
  • 136:30 - 136:34
    Nas que eu faço procuro usar:
    “desde sempre e para sempre.”
  • 136:34 - 136:37
    “Desde sempre e para sempre”.
  • 136:37 - 136:41
    Se é necessário usar um advérbio é preciso dizer:
    “para sempre”ou “desde sempre”.
  • 136:41 - 136:46
    Portanto, se é "meolham", ao passado, exprime
    um tempo não medido no passado,
  • 136:46 - 136:49
    um “desde tempos imemoriais”
    ou “desde sempre”.
  • 136:49 - 136:51
    Em seguida tem a questão
    da língua italiana.
  • 136:51 - 136:55
    Mas certamente eternidade no
    sentido grego não existe.
  • 136:56 - 136:58
    Na passagem anterior porém,
    não está escrito: “o bem e o mal”.
  • 136:59 - 137:05
    Está escrito que Deus faz salowm ubowre ra,
    ou seja, o bem-estar e o mal.
  • 137:05 - 137:08
    E portanto àquela pergunta, não,
    não tenho um a resposta, é…
  • 137:08 - 137:13
    ...e Biglino, justamente, disse que não
    dá para introduzir conceitos gregos no hebraico,
  • 137:13 - 137:17
    então a alternativa Deus….
    “de Deus vem salowm e ra”.
  • 137:17 - 137:20
    Salowm é um termo que eu traduzo como
    “bem-estar” porque não é somente a paz.
  • 137:20 - 137:25
    De Deus vem salowm e ra” quer dizer: o bem
    e o mal no sentido moral, ontológico,
  • 137:25 - 137:30
    ou então: de Deus vem seja a bênção,
    a vida que te sorri ou a desgraça?"
  • 137:30 - 137:32
    Era somente um esclarecimento sobre o tema.
  • 137:32 - 137:34
    Biglino: Totalmente possível.
  • 137:34 - 137:37
    Eu me coloco essa pergunta. Nada mais.
  • 137:37 - 137:38
    Biglino: Totalmente possível.
  • 137:38 - 137:39
    Sou absolutamente
    de acordo.
  • 137:40 - 137:44
    Na concretização daquele personagem, Ele
    poderia também ter dito, realmente:
  • 137:44 - 137:46
    “Tudo aquilo de bom que chega
    até vocês, deriva de mim,
  • 137:46 - 137:49
    e tudo aquilo que chega de mal
    a vocês, deriva de mim”.
  • 137:49 - 137:51
    Sou plenamente de acordo.
  • 137:51 - 137:53
    Absolutamente de acordo.
  • 137:54 - 137:57
    Gostaria de explicar a minha…. a minha
    surpresa, doutor Garrone.
  • 137:58 - 138:02
    A minha surpresa é que pela primeira
    vez leio em um dicionário:
  • 138:02 - 138:05
    “Não traduzir dessa forma”.
    Essa é a minha surpresa.
  • 138:05 - 138:10
    A outra parte da surpresa é que na Bíblia, porém,
    leio sempre traduzido como eternidade.
  • 138:15 - 138:18
    Eu creio que daquilo que eu conheço
    da mentalidade semítica,
  • 138:18 - 138:22
    de um modo geral, mas não somente
    do mundo hebraico mas do mundo circunstante,
  • 138:22 - 138:26
    que justamente foi dito, é semita.
    Semitas não são somente os hebreus.
  • 138:27 - 138:30
    Parece-me que naquele mundo,
    como princípios,
  • 138:30 - 138:33
    não existem conceitos
    filosóficos metafísicos.
  • 138:34 - 138:35
    Não existem mesmo !!
  • 138:35 - 138:40
    Existem aberturas nessa direção,
    mas não existe o conceito.
  • 138:40 - 138:42
    Por exemplo “eternidade”…
  • 138:42 - 138:46
    ...para voltar àquela importante
    página do Gênesis.
  • 138:47 - 138:49
    Quando se diz: “Em princípio”...
  • 138:49 - 138:57
    ...por exemplo, uma das traduções discutidas sobre esse texto é que ali estava indicada a criação do nada.
  • 138:58 - 139:00
    Que é um conceito metafísico.
  • 139:00 - 139:04
    Ou seja, não existia nada… não tinha nada antes,
    e do nada foi feito algo.
  • 139:04 - 139:10
    Esse conceito de criação do nada é uma visão que
    está completamente fora da mentalidade semítica.
  • 139:10 - 139:12
    Completamente fora.
  • 139:12 - 139:18
    Quando foi traduzido dessa forma foi traduzido
    com um outro tipo de mentalidade
  • 139:18 - 139:25
    que atribuiu àquela indicação uma tradução
    de caráter metafísico que no texto não tinha.
  • 139:25 - 139:29
    Era simplesmente que quando as coisas
    começaram, começaram já feitas.
  • 139:30 - 139:33
    Quando começaram, começaram já feitas.
  • 139:34 - 139:35
    É isso.
  • 139:35 - 139:39
    E da mesma forma o conceito de eternidade
    ou de imortalidade, por exemplo.
  • 139:39 - 139:42
    É um conceito incerto no Antigo Testamento.
  • 139:42 - 139:45
    Esses conceitos abstratos não existem.
  • 139:45 - 139:47
    Existe o conceito…
  • 139:47 - 139:52
    ...a imortalidade por exemplo é geralmente… está ligada na mentalidade circunstante, aquela que não é semítica,
  • 139:52 - 139:57
    é ligada a algo que pode se dar ao luxo
    de ser eterna, isto é, a parte espiritual.
  • 139:57 - 140:04
    E essa é a grande contribuição que deu…
    discutível, que nos deu o pensamento grego,
  • 140:04 - 140:10
    que concebeu para o espírito
    uma sua eternidade.
  • 140:10 - 140:13
    Independente de qualquer….
    ...esse conceito, por exemplo,
  • 140:13 - 140:18
    é combatido diretamente
    da mentalidade da Bíblia,
  • 140:18 - 140:23
    que diz invés, que uma imortalidade
    do espírito é inconcebível,
  • 140:24 - 140:26
    mas que deve existir uma
    imortalidade de vida,
  • 140:26 - 140:30
    na qual o corpo e alma, de qualquer forma,
    devem agir juntos.
  • 140:31 - 140:37
    Mas a imortalidade do puro espírito é uma das
    coisas que mais sugestionou também a mentalidade cristã.
  • 140:38 - 140:41
    Diria que sugestionou muito!
  • 140:41 - 140:48
    Por exemplo, dizendo que quem levava
    uma vida iluminada estaria cultivando a alma,
  • 140:49 - 140:51
    estaria em sintonia com a perfeição.
  • 140:52 - 140:56
    Enquanto que na tradição semítica a perfeição
    está na linha do bem-estar total do Homem.
  • 140:56 - 140:59
    Por isso pensando a uma imortalidade,
  • 140:59 - 141:05
    é aquela que prevê uma condição renovada
    da natureza física, mas não a exclui.
  • 141:06 - 141:10
    Ao invés, sabemos que isso era típico
    daquele outro tipo de realidade.
  • 141:10 - 141:15
    Para finalizar o assunto anterior:
  • 141:15 - 141:18
    sou perfeitamente de acordo, realmente.
  • 141:18 - 141:24
    Penso que um número tão alto de pessoas, sobre argumentos que interessam a todos diretamente,
  • 141:25 - 141:28
    deveriam encontrar um…
  • 141:28 - 141:31
    ...como posso dizer… uma diástole e sístole,
  • 141:31 - 141:34
    para não terminarmos com essas poucas
    palavras que colocamos aqui,
  • 141:34 - 141:38
    mas nos confrontarmos seriamente.
  • 141:38 - 141:41
    Caso um encontro desse tipo possa se realizar,
    serei feliz em participar.
  • 141:42 - 141:43
    Obrigado.
  • 141:45 - 141:46
    Em relação a Adão:
  • 141:46 - 141:50
    é uma daquelas passagens da Bíblia para
    ser lida como alegoria, evidentemente,
  • 141:50 - 141:54
    porque agora sabemos como o Homem
    veio parar nesse planeta.
  • 141:54 - 141:59
    Mas de acordo com a leitura Bíblica,
    daria para falar sobre a criação de Adão?
  • 142:00 - 142:04
    Adão foi feito, que é algo um pouco diferente.
  • 142:05 - 142:07
    O senhor é de acordo com Mauro Biglino?
  • 142:10 - 142:12
    Significa que foi….. com alguma outra coisa.
  • 142:13 - 142:14
    Surgiu...
  • 142:14 - 142:20
    Surgiu... vamos manter a referência mas
    não coloquemos palavras científicas na Bíblia.
  • 142:20 - 142:25
    Existe uma possível alusão que o Homem
    tenha sido feito de algo diferente...
  • 142:27 - 142:29
    Tenha sido feito de algo diferente...
  • 142:29 - 142:31
    ...não do… do… tenha sido feito
    com algo diferente.
  • 142:31 - 142:37
    Surgiu através de uma história precedente de
    tantas coisas que na realidade se desenvolveram.
  • 142:40 - 142:42
    Padre Avondios, gostaria de complementar?
  • 142:42 - 142:44
    A criação de Adão…
  • 142:45 - 142:51
    ...a criação de Adão e Eva, que
    são apenas dois termos,
  • 142:52 - 142:53
    vendo também aquilo
    que Mauro Biglino diz,
  • 142:54 - 142:56
    Adão e Eva…
  • 142:56 - 142:59
    ...e quando falamos de Adão e Eva..
  • 142:59 - 143:05
    ...eu repito, é a minha interpretação
    porque tenho a possibilidade de interpretar.
  • 143:06 - 143:10
    Eu não creio absolutamente e não sou o..
  • 143:12 - 143:16
    ...um que crê que existiam
    somente duas pessoas.
  • 143:16 - 143:23
    Disse, uma vez, em uma entrevista
    feita a mim e a Biglino,
  • 143:23 - 143:29
    eu disse que quando se fala da America
    se fala do presidente e da primeira dama.
  • 143:30 - 143:32
    Eles dois representam uma nação inteira.
  • 143:33 - 143:39
    Portanto, Adão e Eva são criados,
    foram criados, feitos.
  • 143:40 - 143:44
    Porque a criação… a criação começa
    no cérebro.
  • 143:44 - 143:47
    Se pensamos: eu sou um criador, eu crio.
  • 143:48 - 143:49
    Eu pinto.
  • 143:49 - 143:57
    Mas antes de pintar crio na minha mente
    o quadro e depois coloco em prática.
  • 143:58 - 144:02
    Somente com mente eu posso criar
    e pintar um quadro?
  • 144:04 - 144:07
    Fica na minha mente, porém,
    o senhor não o vê.
  • 144:08 - 144:10
    É isso que estou tentando explicar.
  • 144:10 - 144:15
    Para que eu possa pintar um quadro, antes eu o crio na minha mente e somente depois posso pintá-lo.
  • 144:15 - 144:16
    Emilio Salsi:
  • 144:16 - 144:18
    “Eu creio no Deus Padre Onipotente,
  • 144:18 - 144:21
    Criador e Senhor dos Céus e da Terra”.
  • 144:22 - 144:25
    Fui obrigado a dizer isso mil vezes
    quando era um menino.
  • 144:25 - 144:30
    Agora quem é …. Agora não tem…
    não existe mais o criador?
  • 144:30 - 144:31
    Padre Avondios:
  • 144:31 - 144:35
    O Criador do Céu e da Terra… é isso
    que estou… estou dizendo,
  • 144:35 - 144:38
    o Homem foi feito por Deus
    e criado por Deus.
  • 144:39 - 144:43
    Porém à criação do mundo se coloca
    a ação, o fazer.
  • 144:44 - 144:45
    A ação é física.
  • 144:46 - 144:50
    Portanto, o Homem não apareceu do nada,
    do céu, sem nenhuma ação.
  • 144:50 - 144:54
    E isso é algo metafórico que
    foi feito da terra.
  • 144:55 - 144:56
    Criado, plasmado.
  • 144:57 - 144:58
    E… ali podem surgir….
  • 144:59 - 145:05
    ...e retorno a Mauro que diz que a serpente do Antigo Testamento era um médico, um cientista que cria…
  • 145:06 - 145:08
    Emilio Salsi: Tenham paciência!!
  • 145:08 - 145:11
    Não seria melhor escrever tudo de novo
    esse Novo Testamento?
  • 145:18 - 145:20
    Sabrina Pieragostini: Podemos concluir....
  • 145:21 - 145:28
    Tradução e legendas: Jussara Matana
    Revisão: Regiane Gonzatto
Title:
Mauro Biglino - Encontro com os teólogos do dia 06 de março 2016 - Bíblia
Video Language:
Italian
Duration:
02:26:33

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions