O poder transformador da música clássica
-
0:00 - 0:04Provavelmente muitos de vocês conhecem
a história dos dois vendedores -
0:04 - 0:07que foram a África nos primeiros anos
do século XX. -
0:07 - 0:09Foram enviados para ver se havia
alguma oportunidade -
0:09 - 0:11para vender sapatos,
-
0:11 - 0:13e escreveram telegramas com a resposta
para Manchester. -
0:13 - 0:17Um deles escreveu:
"Não há esperança. -
0:17 - 0:19"Eles não usam sapatos."
-
0:19 - 0:21E o outro escreveu:
"Oportunidade fantástica! -
0:21 - 0:24"Eles ainda não têm sapatos!".
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0:24 - 0:24(Risos)
-
0:24 - 0:28Há uma situação idêntica no mundo da
música clássica, -
0:28 - 0:30porque há algumas pessoas que pensam
-
0:30 - 0:33que a música clássica está a morrer.
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0:33 - 0:36E há alguns de nós que pensam que
vocês ainda não viram nada. -
0:37 - 0:41E em vez de analisar
estatísticas e tendências, -
0:41 - 0:44e de vos falar sobre orquestras que
estão a deixar de tocar, -
0:44 - 0:46e de editoras que estão a fechar,
-
0:46 - 0:49eu pensei que poderíamos fazer
uma experiência esta noite. -
0:49 - 0:53Na verdade, não é uma experiência,
porque eu sei o resultado. -
0:54 - 0:56Mas é como se fosse uma experiência.
-
0:56 - 0:58Antes de começarmos...
-
0:58 - 1:00(Risos)
-
1:00 - 1:03Antes de começarmos, eu preciso de
fazer duas coisas. -
1:03 - 1:07Uma é lembrar-vos de como soa
uma criança de 7 anos -
1:07 - 1:09quando toca piano.
-
1:09 - 1:11Talvez tenham esta criança em casa.
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1:11 - 1:13Soa mais ou menos assim.
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1:13 - 1:15(Piano)
-
1:32 - 1:35Vejo que alguns de vós
reconhecem esta criança. -
1:35 - 1:39Se a criança praticar durante 1 ano
e tiver aulas, tem agora 8 anos -
1:39 - 1:40e soa assim.
-
1:40 - 1:43(Piano)
-
1:47 - 1:50Pratica mais um ano e tem aulas —
tem agora 9 anos. -
1:50 - 1:53(Piano)
-
1:57 - 2:00Pratica mais um ano e tem aulas —
tem agora 10 anos. -
2:00 - 2:03(Piano)
-
2:06 - 2:09Por esta altura, normalmente,
eles desistem. -
2:09 - 2:10(Risos)
-
2:10 - 2:11(Aplausos)
-
2:11 - 2:14Mas, se tivesse esperado mais um ano,
-
2:14 - 2:16talvez tivessem ouvido isto.
-
2:16 - 2:19(Piano)
-
2:24 - 2:28O que aconteceu não foi o que,
se calhar, pensaram, -
2:28 - 2:32ou seja, que a criança se entusiasmou,
se comprometeu, se dedicou mais, -
2:32 - 2:33arranjou um novo professor,
-
2:33 - 2:35chegou à puberdade, ou que quer que seja.
-
2:35 - 2:38Na realidade, o que aconteceu foi que
os impulsos foram reduzidos. -
2:38 - 2:40Vejam, na primeira vez,
-
2:40 - 2:42a criança toca
com um impulso em cada nota. -
2:42 - 2:44(Piano)
-
2:44 - 2:47Depois, com um impulso a cada duas notas.
-
2:47 - 2:49(Piano)
-
2:49 - 2:51Podem ver isso
olhando para a minha cabeça. -
2:51 - 2:53(Risos)
-
2:53 - 2:55A criança de 9 anos
-
2:55 - 2:56coloca um impulso a cada 4 notas.
-
2:56 - 2:58(Piano)
-
2:58 - 3:00E a de 10 anos, um impulso a cada 8 notas.
-
3:00 - 3:02(Piano)
-
3:02 - 3:05A de 11 anos, um impulso na frase inteira.
-
3:05 - 3:08(Piano)
-
3:08 - 3:11Não sei como chegámos a esta posição.
-
3:11 - 3:13(Risos)
-
3:13 - 3:16Eu não disse: "Vou levantar os ombros,
mexer o meu corpo". -
3:16 - 3:17Não, a música empurrou-me,
-
3:17 - 3:20que é a razão pela qual eu chamo a isto
tocar com uma nádega. -
3:20 - 3:22(Piano)
-
3:22 - 3:23Pode ser a outra nádega!
-
3:23 - 3:26(Piano)
-
3:26 - 3:30Sabem, um senhor estava uma vez
a assistir a uma das minhas palestras -
3:30 - 3:32e eu estava a trabalhar
com um jovem pianista. -
3:32 - 3:34O senhor era presidente
de uma empresa em Ohio. -
3:34 - 3:36Eu estava a trabalhar com o pianista
-
3:36 - 3:39e disse-lhe: "O teu problema é que és
um pianista de duas nádegas". -
3:39 - 3:41"Devias ser um pianista
de uma só nádega." -
3:41 - 3:43E movi-o assim,
enquanto ele estava a tocar. -
3:43 - 3:46E de repente, a música descolou.
Levantou voo. -
3:46 - 3:48O público ficou espantado quando
ouviu a diferença. -
3:48 - 3:50E dias depois, recebi uma carta
desse senhor. -
3:50 - 3:53Ele escreveu: "Fiquei tão comovido
que, quando voltei, -
3:53 - 3:55"transformei a minha empresa inteira
-
3:55 - 3:56"numa empresa de uma só nádega."
-
3:56 - 3:58(Risos)
-
3:58 - 4:01A outra coisa que queria fazer
é falar sobre vocês. -
4:01 - 4:03Creio que há 1600 pessoas nesta sala.
-
4:03 - 4:07A minha estimativa é que provavelmente
há aqui um grupo de 45 pessoas -
4:07 - 4:10que são absolutamente apaixonadas
por música clássica. -
4:10 - 4:11Adoram música clássica.
-
4:11 - 4:15O vosso rádio está sempre numa estação
que passa música clássica. -
4:15 - 4:17Têm CD no vosso carro e vão a concertos.
-
4:17 - 4:19E os vossos filhos tocam instrumentos.
-
4:19 - 4:22Não conseguem imaginar a vossa vida
sem música clássica. -
4:22 - 4:24Este é o primeiro grupo.
É um grupo pequeno. -
4:24 - 4:26Depois, há um outro grupo maior.
-
4:26 - 4:29Este é o grupo das pessoas que não se
interessam por música clássica. (Risos) -
4:29 - 4:31Chegam a casa depois de um longo dia,
-
4:31 - 4:34tomam um copo de vinho e colocam
os pés em repouso. -
4:34 - 4:37Um pouco de Vivaldi em música de fundo
não faz mal nenhum. (Risos) -
4:37 - 4:39Este é o segundo grupo.
Agora, vem o terceiro grupo. -
4:39 - 4:42Estas são as pessoas que nunca
ouvem música clássica. -
4:42 - 4:44Simplesmente, não faz parte da vossa vida.
-
4:44 - 4:47Talvez oiçam como se fossem
fumadores passivos no aeroporto, mas... -
4:47 - 4:48(Risos)
-
4:48 - 4:51E talvez um pouco da marcha
da "Aida" quando chegam a algum sítio. -
4:51 - 4:53Mas, tirando isso, nunca ouvem.
-
4:53 - 4:55Este é provavelmente
o maior grupo de todos. -
4:55 - 4:57E depois existe
um grupo muito pequeno. -
4:57 - 5:00Estas são pessoas que acreditam que
não têm ouvido para a música. -
5:00 - 5:03Um número incrível de pessoas
acredita não ter ouvido para a música. -
5:03 - 5:06De facto, oiço muitas vezes:
"O meu marido é surdo." (Risos) -
5:06 - 5:09Na verdade, isso não existe.
Todos temos ouvido para a música. -
5:09 - 5:10Se vocês não conseguissem distinguir
as notas musicais, -
5:10 - 5:13não poderiam fazer as mudanças
no vosso carro, manualmente. -
5:13 - 5:15Não saberiam diferenciar o sotaque
-
5:15 - 5:17entre alguém do Texas e alguém de Roma.
-
5:17 - 5:18E ao telefone.
-
5:18 - 5:22Se a vossa mãe vos ligar
naquele miserável telefone, -
5:22 - 5:24e vos disser: "Olá"
-
5:24 - 5:27vocês não só a reconhecem logo,
como sabem se está de mau humor. -
5:27 - 5:30Vocês têm um ouvido fantástico.
Todos temos um ouvido fantástico. -
5:30 - 5:33Assim, todos somos capazes
de reconhecer as notas musicais. -
5:33 - 5:35Mas digo-vos:
Não consigo continuar -
5:35 - 5:40com uma separação tão grande
entre aqueles que compreendem, -
5:40 - 5:43adoram e são apaixonados
por música clássica, -
5:43 - 5:46e aqueles que não têm
qualquer relação com ela. -
5:46 - 5:49As pessoas que não têm ouvido para
a música, já não estão aqui. -
5:49 - 5:52Mas mesmo entre as outras 3 categorias,
existe um abismo demasiado grande. -
5:52 - 5:56Então, não sairei daqui enquanto
cada pessoa nesta sala, -
5:56 - 6:00lá em baixo e em Aspen, e todas as outras
pessoas que nos estão a ver, -
6:01 - 6:05não vierem a gostar e a compreender
a música clássica. -
6:05 - 6:07Portanto, é isto que vamos fazer.
-
6:07 - 6:13Agora, repararam na minha cara que
eu não tenho a mínima dúvida -
6:13 - 6:15de que isto vai funcionar, certo?
-
6:15 - 6:19Uma das características de um líder
é nunca duvidar -
6:19 - 6:23da capacidade daqueles que lidera
-
6:23 - 6:26de perceberem
o quer que ele esteja a sonhar. -
6:26 - 6:28Imaginem se o Martin Luther King
tivesse dito: -
6:28 - 6:30"Eu tenho um sonho.
-
6:30 - 6:33"Contudo, não tenho a certeza se
eles estão prontos para ele." -
6:33 - 6:34(Risos)
-
6:34 - 6:36Muito bem. Vou então tocar
uma peça de Chopin. -
6:36 - 6:41Este é um belíssimo prelúdio de Chopin.
Alguns de vós vão reconhecê-lo. -
6:42 - 6:45(Música)
-
7:11 - 7:14Sabem o que é que eu acho que
provavelmente aconteceu nesta sala? -
7:14 - 7:17Quando eu comecei a tocar,
vocês pensaram: "Que bonito." -
7:17 - 7:20(Música)
-
7:29 - 7:32"Penso que não deveríamos ir
para o mesmo sítio -
7:32 - 7:34"nas nossas próximas férias de verão."
-
7:34 - 7:36(Risos)
-
7:36 - 7:37É engraçado, não é?
-
7:37 - 7:41É engraçado como estes pensamentos
surgem nas nossas cabeças. -
7:41 - 7:42E é claro...
-
7:42 - 7:45(Aplausos)
-
7:45 - 7:48É claro, se a peça é longa
e vocês tiveram um longo dia, -
7:48 - 7:50podem querer até dormir.
-
7:50 - 7:52E então, a vossa companheira
toca-vos nas costas -
7:52 - 7:54e diz: "Acorda! É cultura!"
-
7:54 - 7:56E vocês sentem-se ainda piores.
-
7:56 - 7:59Mas já vos ocorreu que o motivo
pelo qual se sentem sonolentos -
7:59 - 8:01quando ouvem música clássica,
é por nossa causa? -
8:01 - 8:04Alguém pensou,
enquanto eu estava a tocar: -
8:04 - 8:06"Porque é que ele está a usar
tantos impulsos?" -
8:06 - 8:08Se eu tivesse feito gestos
com a minha cabeça, -
8:08 - 8:10certamente que o teriam pensado.
-
8:10 - 8:13(Música)
-
8:15 - 8:19E agora, para o resto da vossa vida,
sempre que ouvirem música clássica, -
8:19 - 8:23irão reconhecer
se ouvirem estes impulsos. -
8:23 - 8:25Vamos lá ver o que realmente
está a acontecer aqui. -
8:25 - 8:30Temos um Si. Isto é um Si.
A próxima nota é um Dó. -
8:30 - 8:34E a função do Dó é tornar o Si triste.
E consegue, não consegue? -
8:34 - 8:35(Risos)
-
8:35 - 8:37Os compositores sabem disto.
-
8:37 - 8:40E se eles quiserem música triste,
tocam estas duas notas. -
8:40 - 8:43(Música)
-
8:43 - 8:46Mas basicamente, é um Si
com quatro tristezas. -
8:46 - 8:47(Risos)
-
8:48 - 8:53Agora, desce para Lá. Agora para Sol.
E depois para Fá. -
8:53 - 8:57Então temos, Si, Lá, Sol, Fá.
E se temos, Si, Lá, Sol, Fá, -
8:58 - 9:00o que esperamos a seguir?
-
9:00 - 9:03(Música)
-
9:03 - 9:05Oh, pode ter sido um lapso.
-
9:05 - 9:06Vamos tentar outra vez.
-
9:06 - 9:09(Música)
-
9:10 - 9:12Oh, o coro TED.
-
9:12 - 9:14(Risos)
-
9:14 - 9:17E repararam que não há ninguém
que não tenha um ouvido musical, certo? -
9:17 - 9:18Ninguém.
-
9:18 - 9:20Em qualquer aldeia no Bangladeche
-
9:20 - 9:25e em cada aldeia na China — todos sabem:
-
9:25 - 9:28da, da, da, da — da. Todos sabem que
se está à espera desse Mi. -
9:28 - 9:32Mas Chopin não quis chegar ao Mi aí,
-
9:32 - 9:33senão o que teria acontecido?
-
9:33 - 9:35A peça terminava aqui,
como em Hamlet. -
9:35 - 9:37Lembram-se de Hamlet?
Ato 1, cena 3: -
9:37 - 9:40ele descobre que foi o seu tio
quem matou o seu pai. -
9:40 - 9:42Lembram-se de que ele vai atrás do tio
e quase o mata. -
9:42 - 9:45Depois, recua, e vai novamente atrás dele
e quase o mata. -
9:45 - 9:48E os críticos, que se sentam
sempre na última fila, -
9:48 - 9:49e têm que ter uma opinião, dizem:
-
9:49 - 9:52"Hamlet está sempre a adiar
o que tem a fazer." -
9:52 - 9:53(Risos)
-
9:53 - 9:55Ou dizem: "Hamlet
tem o complexo de Édipo." -
9:55 - 9:58Que disparate! Se assim não fosse,
a peça teria terminado logo ali. -
9:58 - 10:01É por isso que Shakespeare coloca
tudo aquilo em Hamlet -
10:01 - 10:04— a Ofélia a enlouquecer, a peça dentro
da peça, a caveira de Yorick, os coveiros. -
10:04 - 10:08Isso é feito para atrasar — até ao Ato 5,
onde finalmente o mata. -
10:08 - 10:09É o mesmo com Chopin.
-
10:09 - 10:13Ele está quase a alcançar o Mi
e depois diz: -
10:13 - 10:15"Ups, é melhor voltar atrás e repetir."
-
10:15 - 10:16Então repete.
-
10:16 - 10:17(Música)
-
10:17 - 10:18Agora, ele fica excitado.
-
10:18 - 10:20(Música)
-
10:20 - 10:22É excitação, não têm que
se preocupar com ela. -
10:22 - 10:25Agora, ele chega ao Fá Sustenido e,
finalmente, desce para o Mi, -
10:25 - 10:29mas é o acorde errado — porque o acorde
de que ele realmente está à procura -
10:29 - 10:31é este, e em vez desse ele faz:
(Música) -
10:31 - 10:36Chamamos a isto uma cadência interrompida
ou de engano, porque nos engana. -
10:36 - 10:40Eu digo sempre aos meus alunos:
"Se tiverem uma cadência interrompida, -
10:40 - 10:42"levantem as sobrancelhas
e todos irão perceber." -
10:42 - 10:44(Risos)
-
10:44 - 10:46(Aplausos)
-
10:49 - 10:51Então, ele chega ao Mi,
mas é o acorde errado. -
10:51 - 10:54Agora, tenta o Mi novamente.
Mas aquele acorde não funciona. -
10:54 - 10:56Agora, tenta o Mi novamente.
Mas o acorde não funciona. -
10:56 - 10:59Agora, tenta o Mi novamente,
e não funciona. -
10:59 - 11:00Então, finalmente...
-
11:00 - 11:02(Música)
-
11:02 - 11:05Há um senhor na primeira fila
que fez: "Mmmm." -
11:05 - 11:06(Risos)
-
11:06 - 11:09É o mesmo gesto que ele faz
quando chega a casa -
11:09 - 11:12depois de um longo dia,
desliga o carro e diz: -
11:12 - 11:15"Ah, estou em casa." Porque todos
sabemos quando chegamos a casa. -
11:15 - 11:18Portanto, isto é uma peça
que chega a casa -
11:18 - 11:20depois de um longo caminho.
-
11:20 - 11:21E eu vou tocar a peça completa
-
11:21 - 11:24e vocês irão seguir:
Si, Dó, Si, Dó, Si, Só, Si -
11:24 - 11:26— desce para Lá, desce para Sol,
desce para Fá. -
11:26 - 11:29Quase alcança o Mi, mas não o faz
porque senão a obra acabava aqui. -
11:29 - 11:31Volta novamente para Si.
Fica muito excitado. -
11:31 - 11:34Vai para Fá sustenido. Vai para Mi.
Mas é o acorde errado. -
11:34 - 11:36E finalmente chega a Mi e está em casa.
-
11:36 - 11:40E o que vão ver é uma exibição
de uma só nádega. -
11:40 - 11:41(Risos)
-
11:41 - 11:44Porque para mim,
para juntar o Si com o Mi, -
11:44 - 11:49tenho que deixar de pensar sobre
cada nota individualmente, -
11:49 - 11:55e começar a pensar sobre o caminho longo,
muito longo entre Si e Mi. -
11:55 - 11:59Sabem, estivemos recentemente
na África do Sul, -
11:59 - 12:01e não podemos ir à África do Sul
-
12:01 - 12:03sem pensarmos em Mandela,
preso durante 27 anos. -
12:03 - 12:05Em que pensava? No almoço?
-
12:05 - 12:09Não, ele pensava na Visão que tinha
para a África do Sul -
12:09 - 12:11e para os seres humanos.
-
12:11 - 12:13Trata-se de Visão.
Trata-se de ver a longo prazo. -
12:13 - 12:16Tal como o pássaro que voa
por cima dos campos -
12:16 - 12:19sem se preocupar com as cercas
cá em baixo, certo? -
12:19 - 12:23Então, agora vão seguir todo
o caminho entre Si e Mi. -
12:23 - 12:27Antes disso, tenho apenas
um último pedido a fazer. -
12:27 - 12:32Poderiam pensar em alguém de que gostam
muito e que já não esteja entre nós? -
12:32 - 12:35Uma avó querida, uma pessoa amada
-
12:35 - 12:39— alguém na vossa vida que amam
com todo o vosso coração, -
12:39 - 12:41mas que já não está presente.
-
12:42 - 12:45Pensem nessa pessoa e ao mesmo tempo
-
12:45 - 12:50acompanhem o caminho entre Si e Mi,
-
12:50 - 12:54e irão ouvir tudo o que Chopin
tinha para vos dizer. -
12:57 - 13:00(Música)
-
14:48 - 14:51(Aplausos)
-
14:57 - 14:59Agora, devem estar a perguntar-se...
-
15:00 - 15:07Devem estar a perguntar-se
porque é que eu estou a aplaudir. -
15:07 - 15:09Bem, eu fiz isto numa escola de Boston
-
15:09 - 15:12com cerca de 70 crianças do 7.º ano,
com a idade de 12 anos. -
15:12 - 15:16Fiz exactamente o que fiz convosco,
disse-lhes e expliquei-lhes tudo. -
15:16 - 15:19E no fim, eles estavam doidos a aplaudir.
Eles aplaudiam. -
15:19 - 15:21Eu aplaudia. Eles aplaudiam.
-
15:21 - 15:24E por fim, eu perguntei: "Porque é que
eu estou a aplaudir?" -
15:24 - 15:27E uma das crianças respondeu:
"Porque nós estávamos a ouvir." -
15:27 - 15:28(Risos)
-
15:28 - 15:31Pensem nisto: 1600 pessoas,
pessoas ocupadas, -
15:31 - 15:34envolvidas em várias coisas,
-
15:34 - 15:39ouvindo, compreendendo e emocionando-se
com uma peça de Chopin. -
15:39 - 15:41Isto é uma conquista.
-
15:41 - 15:43Agora, tenho a certeza de que
cada pessoa acompanhou, -
15:43 - 15:45compreendeu e emocionou-se com isto?
-
15:45 - 15:47Claro que não posso ter a certeza.
-
15:47 - 15:49Mas digo-vos o que me aconteceu.
-
15:49 - 15:51Eu estava na Irlanda durante
os problemas de há 10 anos, -
15:51 - 15:54a trabalhar com crianças
católicas e protestantes -
15:54 - 15:56em resoluções de conflitos.
-
15:56 - 15:58Eu fiz isto com eles
-
15:58 - 16:01— uma coisa arriscada de fazer,
porque eram meninos da rua. -
16:01 - 16:04Um deles veio ter comigo
na manhã seguinte e disse-me: -
16:04 - 16:07"Sabe, eu nunca tinha ouvido
música clássica na minha vida, -
16:07 - 16:10"mas quando tocou aquela peça
do 'Shopping'..." -
16:10 - 16:11(Risos)
-
16:11 - 16:14Ele disse: "O meu irmão foi morto
com um tiro no ano passado -
16:14 - 16:16e eu não chorei por ele.
-
16:16 - 16:19"Mas ontem à noite, enquanto
estava a tocar aquela peça, -
16:19 - 16:20"era nele que eu estava a pensar.
-
16:20 - 16:23"E senti as lágrimas a correr
no meu rosto. -
16:23 - 16:26"E sabe, foi realmente bom ter chorado
pelo meu irmão." -
16:26 - 16:28Então, eu decidi naquele momento
-
16:28 - 16:32que a música clássica
é para todas as pessoas. -
16:33 - 16:35Todas as pessoas.
-
16:35 - 16:38Agora, como é que andariam...
-
16:38 - 16:42Na minha profissão, os músicos
profissionais não vêem isso dessa forma. -
16:42 - 16:45Eles dizem que 3% da população
gosta de música clássica. -
16:45 - 16:47Se pudéssemos aumentar
esse valor para 4%, -
16:47 - 16:49os nossos problemas estariam resolvidos.
-
16:49 - 16:53Eu pergunto-me: "Como é que andariam?
Como é que falariam? Como é que seriam? -
16:53 - 16:56"Se pensassem que 3% da população
gosta de música clássica, -
16:56 - 16:59"se pudéssemos aumentar esse valor
para 4%. Como é que andariam? -
16:59 - 17:01"Como é que falariam?
Como é que seriam? -
17:01 - 17:04"Se pensassem que todas as pessoas
adoram música clássica -
17:04 - 17:06"— só que ainda não o descobriram."
(Risos) -
17:06 - 17:09Estão a ver, são dois mundos
completamente distintos. -
17:09 - 17:11Eu tive uma experiência incrível.
-
17:11 - 17:14Eu tinha 45 anos,
já era maestro há 20 anos, -
17:14 - 17:17e, inesperadamente,
compreendi uma coisa. -
17:17 - 17:20O chefe de orquestra
não produz nenhum som. -
17:20 - 17:23A minha foto aparece na capa do CD
-
17:23 - 17:25(Risos)
-
17:26 - 17:28— mas o maestro não produz nenhum som.
-
17:28 - 17:33A sua força depende da sua força
para tornar as outras pessoas fortes. -
17:33 - 17:37E isso mudou tudo para mim.
Foi uma total transformação. -
17:37 - 17:40As pessoas na minha orquestra
vinham ter comigo e perguntavam-me: -
17:40 - 17:43"O que aconteceu, Ben?"
Isto foi o que se passou. -
17:43 - 17:46Eu percebi que o meu trabalho era
acender possibilidades nas outras pessoas. -
17:46 - 17:49E claro, queria saber se o estava
a conseguir ou não. -
17:49 - 17:52E sabem como é que se descobre?
Olhamos nos seus olhos. -
17:52 - 17:55Se os olhos estão a brilhar, sabemos
que estamos a fazer bem o nosso trabalho. -
17:56 - 17:59É possível acender uma aldeia
com os olhos deste rapaz. -
17:59 - 18:00(Risos)
-
18:00 - 18:03Certo. Se os olhos brilham, sabem que
estão a fazer bem o vosso trabalho. -
18:03 - 18:06Se os olhos não brilham, vocês devem
fazer uma pergunta. -
18:06 - 18:07E a pergunta é:
-
18:07 - 18:12Quem é que eu estou a ser se os olhos
dos meus músicos não brilham? -
18:12 - 18:14Podemos fazer isso com
as crianças, também. -
18:14 - 18:19Quem é que eu estou a ser para que
os olhos das minhas crianças não brilhem? -
18:19 - 18:22Isto é um mundo totalmente diferente.
-
18:22 - 18:27Agora, estamos quase a acabar
esta semana mágica na montanha, -
18:27 - 18:29e vamos voltar para o mundo.
-
18:29 - 18:32E é apropriado fazermos esta pergunta,
-
18:32 - 18:37o que seremos
quando voltarmos para o mundo? -
18:38 - 18:40Sabem, eu tenho uma definição de sucesso.
-
18:40 - 18:43Para mim, é simples. Não se relaciona
com riqueza, fama ou poder. -
18:43 - 18:47Relaciona-se com a quantidade de olhos
brilhantes que eu tenho à minha volta. -
18:47 - 18:49Tenho um último pensamento, que é:
-
18:49 - 18:53o que dizemos realmente
faz toda a diferença -
18:53 - 18:55— as palavras que saem da nossa boca.
-
18:55 - 18:58Eu aprendi isto de uma senhora
sobrevivente de Auschwitz, -
18:58 - 19:00uma das raras sobreviventes.
-
19:00 - 19:03Ela foi para Auschwitz aos 15 anos,
-
19:07 - 19:11e o irmão dela tinha 8 anos
e não sabiam dos pais. -
19:13 - 19:16Ela disse-me isto:
-
19:16 - 19:20"Nós íamos no comboio para Auschwitz,
eu olhei para baixo -
19:20 - 19:22"e vi que o meu irmão
não tinha os sapatos. -
19:22 - 19:24"Então eu disse:
'Como é que podes ser tão estúpido, -
19:24 - 19:28"não consegues manter as tuas coisas
juntas, por amor de Deus?' " -
19:28 - 19:31— da maneira como uma irmã mais velha
pode falar com o seu irmão mais novo. -
19:31 - 19:35Infelizmente, foi a última coisa que
lhe diria, porque ela nunca mais o viu. -
19:35 - 19:37Ele não sobreviveu.
-
19:37 - 19:41Então, quando ela saiu de Auschwitz,
ela fez uma promessa. -
19:41 - 19:42Ela disse-me isto:
-
19:42 - 19:46"Eu saí de Auschwitz com vida
e fiz uma promessa. -
19:46 - 19:50"E a promessa foi
que eu nunca vou dizer nada -
19:50 - 19:54"que não possa ficar como
a última coisa que tenha dito." -
19:54 - 19:56Agora, podemos nós fazer isto? Não.
-
19:56 - 20:00E vamos enganar-nos e enganar os outros.
-
20:00 - 20:03Mas é um objectivo
que podemos tentar. -
20:04 - 20:05Obrigado.
-
20:05 - 20:08(Aplausos)
-
20:12 - 20:16Olhos a brilhar, olhos a brilhar.
-
20:22 - 20:25Obrigado, obrigado.
- Title:
- O poder transformador da música clássica
- Speaker:
- Benjamin Zander
- Description:
-
Benjamin Zander tem duas paixões contagiantes: música clássica e ajudar-nos a todos a compreender o nosso amor ainda inexplorado por ela — e, por acréscimo, o nosso amor inexplorado por todas as novas possibilidades, as novas experiências, as novas ligações.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 20:26
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Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The transformative power of classical music | |
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Isabel Vaz Belchior edited Portuguese subtitles for The transformative power of classical music | |
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