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O poder transformador da música clássica

  • 0:00 - 0:04
    Provavelmente muitos de vocês conhecem
    a história dos dois vendedores
  • 0:04 - 0:07
    que foram a África nos primeiros anos
    do século XX.
  • 0:07 - 0:09
    Foram enviados para ver se havia
    alguma oportunidade
  • 0:09 - 0:11
    para vender sapatos,
  • 0:11 - 0:13
    e escreveram telegramas com a resposta
    para Manchester.
  • 0:13 - 0:17
    Um deles escreveu:
    "Não há esperança.
  • 0:17 - 0:19
    "Eles não usam sapatos."
  • 0:19 - 0:21
    E o outro escreveu:
    "Oportunidade fantástica!
  • 0:21 - 0:24
    "Eles ainda não têm sapatos!".
  • 0:24 - 0:24
    (Risos)
  • 0:24 - 0:28
    Há uma situação idêntica no mundo da
    música clássica,
  • 0:28 - 0:30
    porque há algumas pessoas que pensam
  • 0:30 - 0:33
    que a música clássica está a morrer.
  • 0:33 - 0:36
    E há alguns de nós que pensam que
    vocês ainda não viram nada.
  • 0:37 - 0:41
    E em vez de analisar
    estatísticas e tendências,
  • 0:41 - 0:44
    e de vos falar sobre orquestras que
    estão a deixar de tocar,
  • 0:44 - 0:46
    e de editoras que estão a fechar,
  • 0:46 - 0:49
    eu pensei que poderíamos fazer
    uma experiência esta noite.
  • 0:49 - 0:53
    Na verdade, não é uma experiência,
    porque eu sei o resultado.
  • 0:54 - 0:56
    Mas é como se fosse uma experiência.
  • 0:56 - 0:58
    Antes de começarmos...
  • 0:58 - 1:00
    (Risos)
  • 1:00 - 1:03
    Antes de começarmos, eu preciso de
    fazer duas coisas.
  • 1:03 - 1:07
    Uma é lembrar-vos de como soa
    uma criança de 7 anos
  • 1:07 - 1:09
    quando toca piano.
  • 1:09 - 1:11
    Talvez tenham esta criança em casa.
  • 1:11 - 1:13
    Soa mais ou menos assim.
  • 1:13 - 1:15
    (Piano)
  • 1:32 - 1:35
    Vejo que alguns de vós
    reconhecem esta criança.
  • 1:35 - 1:39
    Se a criança praticar durante 1 ano
    e tiver aulas, tem agora 8 anos
  • 1:39 - 1:40
    e soa assim.
  • 1:40 - 1:43
    (Piano)
  • 1:47 - 1:50
    Pratica mais um ano e tem aulas —
    tem agora 9 anos.
  • 1:50 - 1:53
    (Piano)
  • 1:57 - 2:00
    Pratica mais um ano e tem aulas —
    tem agora 10 anos.
  • 2:00 - 2:03
    (Piano)
  • 2:06 - 2:09
    Por esta altura, normalmente,
    eles desistem.
  • 2:09 - 2:10
    (Risos)
  • 2:10 - 2:11
    (Aplausos)
  • 2:11 - 2:14
    Mas, se tivesse esperado mais um ano,
  • 2:14 - 2:16
    talvez tivessem ouvido isto.
  • 2:16 - 2:19
    (Piano)
  • 2:24 - 2:28
    O que aconteceu não foi o que,
    se calhar, pensaram,
  • 2:28 - 2:32
    ou seja, que a criança se entusiasmou,
    se comprometeu, se dedicou mais,
  • 2:32 - 2:33
    arranjou um novo professor,
  • 2:33 - 2:35
    chegou à puberdade, ou que quer que seja.
  • 2:35 - 2:38
    Na realidade, o que aconteceu foi que
    os impulsos foram reduzidos.
  • 2:38 - 2:40
    Vejam, na primeira vez,
  • 2:40 - 2:42
    a criança toca
    com um impulso em cada nota.
  • 2:42 - 2:44
    (Piano)
  • 2:44 - 2:47
    Depois, com um impulso a cada duas notas.
  • 2:47 - 2:49
    (Piano)
  • 2:49 - 2:51
    Podem ver isso
    olhando para a minha cabeça.
  • 2:51 - 2:53
    (Risos)
  • 2:53 - 2:55
    A criança de 9 anos
  • 2:55 - 2:56
    coloca um impulso a cada 4 notas.
  • 2:56 - 2:58
    (Piano)
  • 2:58 - 3:00
    E a de 10 anos, um impulso a cada 8 notas.
  • 3:00 - 3:02
    (Piano)
  • 3:02 - 3:05
    A de 11 anos, um impulso na frase inteira.
  • 3:05 - 3:08
    (Piano)
  • 3:08 - 3:11
    Não sei como chegámos a esta posição.
  • 3:11 - 3:13
    (Risos)
  • 3:13 - 3:16
    Eu não disse: "Vou levantar os ombros,
    mexer o meu corpo".
  • 3:16 - 3:17
    Não, a música empurrou-me,
  • 3:17 - 3:20
    que é a razão pela qual eu chamo a isto
    tocar com uma nádega.
  • 3:20 - 3:22
    (Piano)
  • 3:22 - 3:23
    Pode ser a outra nádega!
  • 3:23 - 3:26
    (Piano)
  • 3:26 - 3:30
    Sabem, um senhor estava uma vez
    a assistir a uma das minhas palestras
  • 3:30 - 3:32
    e eu estava a trabalhar
    com um jovem pianista.
  • 3:32 - 3:34
    O senhor era presidente
    de uma empresa em Ohio.
  • 3:34 - 3:36
    Eu estava a trabalhar com o pianista
  • 3:36 - 3:39
    e disse-lhe: "O teu problema é que és
    um pianista de duas nádegas".
  • 3:39 - 3:41
    "Devias ser um pianista
    de uma só nádega."
  • 3:41 - 3:43
    E movi-o assim,
    enquanto ele estava a tocar.
  • 3:43 - 3:46
    E de repente, a música descolou.
    Levantou voo.
  • 3:46 - 3:48
    O público ficou espantado quando
    ouviu a diferença.
  • 3:48 - 3:50
    E dias depois, recebi uma carta
    desse senhor.
  • 3:50 - 3:53
    Ele escreveu: "Fiquei tão comovido
    que, quando voltei,
  • 3:53 - 3:55
    "transformei a minha empresa inteira
  • 3:55 - 3:56
    "numa empresa de uma só nádega."
  • 3:56 - 3:58
    (Risos)
  • 3:58 - 4:01
    A outra coisa que queria fazer
    é falar sobre vocês.
  • 4:01 - 4:03
    Creio que há 1600 pessoas nesta sala.
  • 4:03 - 4:07
    A minha estimativa é que provavelmente
    há aqui um grupo de 45 pessoas
  • 4:07 - 4:10
    que são absolutamente apaixonadas
    por música clássica.
  • 4:10 - 4:11
    Adoram música clássica.
  • 4:11 - 4:15
    O vosso rádio está sempre numa estação
    que passa música clássica.
  • 4:15 - 4:17
    Têm CD no vosso carro e vão a concertos.
  • 4:17 - 4:19
    E os vossos filhos tocam instrumentos.
  • 4:19 - 4:22
    Não conseguem imaginar a vossa vida
    sem música clássica.
  • 4:22 - 4:24
    Este é o primeiro grupo.
    É um grupo pequeno.
  • 4:24 - 4:26
    Depois, há um outro grupo maior.
  • 4:26 - 4:29
    Este é o grupo das pessoas que não se
    interessam por música clássica. (Risos)
  • 4:29 - 4:31
    Chegam a casa depois de um longo dia,
  • 4:31 - 4:34
    tomam um copo de vinho e colocam
    os pés em repouso.
  • 4:34 - 4:37
    Um pouco de Vivaldi em música de fundo
    não faz mal nenhum. (Risos)
  • 4:37 - 4:39
    Este é o segundo grupo.
    Agora, vem o terceiro grupo.
  • 4:39 - 4:42
    Estas são as pessoas que nunca
    ouvem música clássica.
  • 4:42 - 4:44
    Simplesmente, não faz parte da vossa vida.
  • 4:44 - 4:47
    Talvez oiçam como se fossem
    fumadores passivos no aeroporto, mas...
  • 4:47 - 4:48
    (Risos)
  • 4:48 - 4:51
    E talvez um pouco da marcha
    da "Aida" quando chegam a algum sítio.
  • 4:51 - 4:53
    Mas, tirando isso, nunca ouvem.
  • 4:53 - 4:55
    Este é provavelmente
    o maior grupo de todos.
  • 4:55 - 4:57
    E depois existe
    um grupo muito pequeno.
  • 4:57 - 5:00
    Estas são pessoas que acreditam que
    não têm ouvido para a música.
  • 5:00 - 5:03
    Um número incrível de pessoas
    acredita não ter ouvido para a música.
  • 5:03 - 5:06
    De facto, oiço muitas vezes:
    "O meu marido é surdo." (Risos)
  • 5:06 - 5:09
    Na verdade, isso não existe.
    Todos temos ouvido para a música.
  • 5:09 - 5:10
    Se vocês não conseguissem distinguir
    as notas musicais,
  • 5:10 - 5:13
    não poderiam fazer as mudanças
    no vosso carro, manualmente.
  • 5:13 - 5:15
    Não saberiam diferenciar o sotaque
  • 5:15 - 5:17
    entre alguém do Texas e alguém de Roma.
  • 5:17 - 5:18
    E ao telefone.
  • 5:18 - 5:22
    Se a vossa mãe vos ligar
    naquele miserável telefone,
  • 5:22 - 5:24
    e vos disser: "Olá"
  • 5:24 - 5:27
    vocês não só a reconhecem logo,
    como sabem se está de mau humor.
  • 5:27 - 5:30
    Vocês têm um ouvido fantástico.
    Todos temos um ouvido fantástico.
  • 5:30 - 5:33
    Assim, todos somos capazes
    de reconhecer as notas musicais.
  • 5:33 - 5:35
    Mas digo-vos:
    Não consigo continuar
  • 5:35 - 5:40
    com uma separação tão grande
    entre aqueles que compreendem,
  • 5:40 - 5:43
    adoram e são apaixonados
    por música clássica,
  • 5:43 - 5:46
    e aqueles que não têm
    qualquer relação com ela.
  • 5:46 - 5:49
    As pessoas que não têm ouvido para
    a música, já não estão aqui.
  • 5:49 - 5:52
    Mas mesmo entre as outras 3 categorias,
    existe um abismo demasiado grande.
  • 5:52 - 5:56
    Então, não sairei daqui enquanto
    cada pessoa nesta sala,
  • 5:56 - 6:00
    lá em baixo e em Aspen, e todas as outras
    pessoas que nos estão a ver,
  • 6:01 - 6:05
    não vierem a gostar e a compreender
    a música clássica.
  • 6:05 - 6:07
    Portanto, é isto que vamos fazer.
  • 6:07 - 6:13
    Agora, repararam na minha cara que
    eu não tenho a mínima dúvida
  • 6:13 - 6:15
    de que isto vai funcionar, certo?
  • 6:15 - 6:19
    Uma das características de um líder
    é nunca duvidar
  • 6:19 - 6:23
    da capacidade daqueles que lidera
  • 6:23 - 6:26
    de perceberem
    o quer que ele esteja a sonhar.
  • 6:26 - 6:28
    Imaginem se o Martin Luther King
    tivesse dito:
  • 6:28 - 6:30
    "Eu tenho um sonho.
  • 6:30 - 6:33
    "Contudo, não tenho a certeza se
    eles estão prontos para ele."
  • 6:33 - 6:34
    (Risos)
  • 6:34 - 6:36
    Muito bem. Vou então tocar
    uma peça de Chopin.
  • 6:36 - 6:41
    Este é um belíssimo prelúdio de Chopin.
    Alguns de vós vão reconhecê-lo.
  • 6:42 - 6:45
    (Música)
  • 7:11 - 7:14
    Sabem o que é que eu acho que
    provavelmente aconteceu nesta sala?
  • 7:14 - 7:17
    Quando eu comecei a tocar,
    vocês pensaram: "Que bonito."
  • 7:17 - 7:20
    (Música)
  • 7:29 - 7:32
    "Penso que não deveríamos ir
    para o mesmo sítio
  • 7:32 - 7:34
    "nas nossas próximas férias de verão."
  • 7:34 - 7:36
    (Risos)
  • 7:36 - 7:37
    É engraçado, não é?
  • 7:37 - 7:41
    É engraçado como estes pensamentos
    surgem nas nossas cabeças.
  • 7:41 - 7:42
    E é claro...
  • 7:42 - 7:45
    (Aplausos)
  • 7:45 - 7:48
    É claro, se a peça é longa
    e vocês tiveram um longo dia,
  • 7:48 - 7:50
    podem querer até dormir.
  • 7:50 - 7:52
    E então, a vossa companheira
    toca-vos nas costas
  • 7:52 - 7:54
    e diz: "Acorda! É cultura!"
  • 7:54 - 7:56
    E vocês sentem-se ainda piores.
  • 7:56 - 7:59
    Mas já vos ocorreu que o motivo
    pelo qual se sentem sonolentos
  • 7:59 - 8:01
    quando ouvem música clássica,
    é por nossa causa?
  • 8:01 - 8:04
    Alguém pensou,
    enquanto eu estava a tocar:
  • 8:04 - 8:06
    "Porque é que ele está a usar
    tantos impulsos?"
  • 8:06 - 8:08
    Se eu tivesse feito gestos
    com a minha cabeça,
  • 8:08 - 8:10
    certamente que o teriam pensado.
  • 8:10 - 8:13
    (Música)
  • 8:15 - 8:19
    E agora, para o resto da vossa vida,
    sempre que ouvirem música clássica,
  • 8:19 - 8:23
    irão reconhecer
    se ouvirem estes impulsos.
  • 8:23 - 8:25
    Vamos lá ver o que realmente
    está a acontecer aqui.
  • 8:25 - 8:30
    Temos um Si. Isto é um Si.
    A próxima nota é um Dó.
  • 8:30 - 8:34
    E a função do Dó é tornar o Si triste.
    E consegue, não consegue?
  • 8:34 - 8:35
    (Risos)
  • 8:35 - 8:37
    Os compositores sabem disto.
  • 8:37 - 8:40
    E se eles quiserem música triste,
    tocam estas duas notas.
  • 8:40 - 8:43
    (Música)
  • 8:43 - 8:46
    Mas basicamente, é um Si
    com quatro tristezas.
  • 8:46 - 8:47
    (Risos)
  • 8:48 - 8:53
    Agora, desce para Lá. Agora para Sol.
    E depois para Fá.
  • 8:53 - 8:57
    Então temos, Si, Lá, Sol, Fá.
    E se temos, Si, Lá, Sol, Fá,
  • 8:58 - 9:00
    o que esperamos a seguir?
  • 9:00 - 9:03
    (Música)
  • 9:03 - 9:05
    Oh, pode ter sido um lapso.
  • 9:05 - 9:06
    Vamos tentar outra vez.
  • 9:06 - 9:09
    (Música)
  • 9:10 - 9:12
    Oh, o coro TED.
  • 9:12 - 9:14
    (Risos)
  • 9:14 - 9:17
    E repararam que não há ninguém
    que não tenha um ouvido musical, certo?
  • 9:17 - 9:18
    Ninguém.
  • 9:18 - 9:20
    Em qualquer aldeia no Bangladeche
  • 9:20 - 9:25
    e em cada aldeia na China — todos sabem:
  • 9:25 - 9:28
    da, da, da, da — da. Todos sabem que
    se está à espera desse Mi.
  • 9:28 - 9:32
    Mas Chopin não quis chegar ao Mi aí,
  • 9:32 - 9:33
    senão o que teria acontecido?
  • 9:33 - 9:35
    A peça terminava aqui,
    como em Hamlet.
  • 9:35 - 9:37
    Lembram-se de Hamlet?
    Ato 1, cena 3:
  • 9:37 - 9:40
    ele descobre que foi o seu tio
    quem matou o seu pai.
  • 9:40 - 9:42
    Lembram-se de que ele vai atrás do tio
    e quase o mata.
  • 9:42 - 9:45
    Depois, recua, e vai novamente atrás dele
    e quase o mata.
  • 9:45 - 9:48
    E os críticos, que se sentam
    sempre na última fila,
  • 9:48 - 9:49
    e têm que ter uma opinião, dizem:
  • 9:49 - 9:52
    "Hamlet está sempre a adiar
    o que tem a fazer."
  • 9:52 - 9:53
    (Risos)
  • 9:53 - 9:55
    Ou dizem: "Hamlet
    tem o complexo de Édipo."
  • 9:55 - 9:58
    Que disparate! Se assim não fosse,
    a peça teria terminado logo ali.
  • 9:58 - 10:01
    É por isso que Shakespeare coloca
    tudo aquilo em Hamlet
  • 10:01 - 10:04
    — a Ofélia a enlouquecer, a peça dentro
    da peça, a caveira de Yorick, os coveiros.
  • 10:04 - 10:08
    Isso é feito para atrasar — até ao Ato 5,
    onde finalmente o mata.
  • 10:08 - 10:09
    É o mesmo com Chopin.
  • 10:09 - 10:13
    Ele está quase a alcançar o Mi
    e depois diz:
  • 10:13 - 10:15
    "Ups, é melhor voltar atrás e repetir."
  • 10:15 - 10:16
    Então repete.
  • 10:16 - 10:17
    (Música)
  • 10:17 - 10:18
    Agora, ele fica excitado.
  • 10:18 - 10:20
    (Música)
  • 10:20 - 10:22
    É excitação, não têm que
    se preocupar com ela.
  • 10:22 - 10:25
    Agora, ele chega ao Fá Sustenido e,
    finalmente, desce para o Mi,
  • 10:25 - 10:29
    mas é o acorde errado — porque o acorde
    de que ele realmente está à procura
  • 10:29 - 10:31
    é este, e em vez desse ele faz:
    (Música)
  • 10:31 - 10:36
    Chamamos a isto uma cadência interrompida
    ou de engano, porque nos engana.
  • 10:36 - 10:40
    Eu digo sempre aos meus alunos:
    "Se tiverem uma cadência interrompida,
  • 10:40 - 10:42
    "levantem as sobrancelhas
    e todos irão perceber."
  • 10:42 - 10:44
    (Risos)
  • 10:44 - 10:46
    (Aplausos)
  • 10:49 - 10:51
    Então, ele chega ao Mi,
    mas é o acorde errado.
  • 10:51 - 10:54
    Agora, tenta o Mi novamente.
    Mas aquele acorde não funciona.
  • 10:54 - 10:56
    Agora, tenta o Mi novamente.
    Mas o acorde não funciona.
  • 10:56 - 10:59
    Agora, tenta o Mi novamente,
    e não funciona.
  • 10:59 - 11:00
    Então, finalmente...
  • 11:00 - 11:02
    (Música)
  • 11:02 - 11:05
    Há um senhor na primeira fila
    que fez: "Mmmm."
  • 11:05 - 11:06
    (Risos)
  • 11:06 - 11:09
    É o mesmo gesto que ele faz
    quando chega a casa
  • 11:09 - 11:12
    depois de um longo dia,
    desliga o carro e diz:
  • 11:12 - 11:15
    "Ah, estou em casa." Porque todos
    sabemos quando chegamos a casa.
  • 11:15 - 11:18
    Portanto, isto é uma peça
    que chega a casa
  • 11:18 - 11:20
    depois de um longo caminho.
  • 11:20 - 11:21
    E eu vou tocar a peça completa
  • 11:21 - 11:24
    e vocês irão seguir:
    Si, Dó, Si, Dó, Si, Só, Si
  • 11:24 - 11:26
    — desce para Lá, desce para Sol,
    desce para Fá.
  • 11:26 - 11:29
    Quase alcança o Mi, mas não o faz
    porque senão a obra acabava aqui.
  • 11:29 - 11:31
    Volta novamente para Si.
    Fica muito excitado.
  • 11:31 - 11:34
    Vai para Fá sustenido. Vai para Mi.
    Mas é o acorde errado.
  • 11:34 - 11:36
    E finalmente chega a Mi e está em casa.
  • 11:36 - 11:40
    E o que vão ver é uma exibição
    de uma só nádega.
  • 11:40 - 11:41
    (Risos)
  • 11:41 - 11:44
    Porque para mim,
    para juntar o Si com o Mi,
  • 11:44 - 11:49
    tenho que deixar de pensar sobre
    cada nota individualmente,
  • 11:49 - 11:55
    e começar a pensar sobre o caminho longo,
    muito longo entre Si e Mi.
  • 11:55 - 11:59
    Sabem, estivemos recentemente
    na África do Sul,
  • 11:59 - 12:01
    e não podemos ir à África do Sul
  • 12:01 - 12:03
    sem pensarmos em Mandela,
    preso durante 27 anos.
  • 12:03 - 12:05
    Em que pensava? No almoço?
  • 12:05 - 12:09
    Não, ele pensava na Visão que tinha
    para a África do Sul
  • 12:09 - 12:11
    e para os seres humanos.
  • 12:11 - 12:13
    Trata-se de Visão.
    Trata-se de ver a longo prazo.
  • 12:13 - 12:16
    Tal como o pássaro que voa
    por cima dos campos
  • 12:16 - 12:19
    sem se preocupar com as cercas
    cá em baixo, certo?
  • 12:19 - 12:23
    Então, agora vão seguir todo
    o caminho entre Si e Mi.
  • 12:23 - 12:27
    Antes disso, tenho apenas
    um último pedido a fazer.
  • 12:27 - 12:32
    Poderiam pensar em alguém de que gostam
    muito e que já não esteja entre nós?
  • 12:32 - 12:35
    Uma avó querida, uma pessoa amada
  • 12:35 - 12:39
    — alguém na vossa vida que amam
    com todo o vosso coração,
  • 12:39 - 12:41
    mas que já não está presente.
  • 12:42 - 12:45
    Pensem nessa pessoa e ao mesmo tempo
  • 12:45 - 12:50
    acompanhem o caminho entre Si e Mi,
  • 12:50 - 12:54
    e irão ouvir tudo o que Chopin
    tinha para vos dizer.
  • 12:57 - 13:00
    (Música)
  • 14:48 - 14:51
    (Aplausos)
  • 14:57 - 14:59
    Agora, devem estar a perguntar-se...
  • 15:00 - 15:07
    Devem estar a perguntar-se
    porque é que eu estou a aplaudir.
  • 15:07 - 15:09
    Bem, eu fiz isto numa escola de Boston
  • 15:09 - 15:12
    com cerca de 70 crianças do 7.º ano,
    com a idade de 12 anos.
  • 15:12 - 15:16
    Fiz exactamente o que fiz convosco,
    disse-lhes e expliquei-lhes tudo.
  • 15:16 - 15:19
    E no fim, eles estavam doidos a aplaudir.
    Eles aplaudiam.
  • 15:19 - 15:21
    Eu aplaudia. Eles aplaudiam.
  • 15:21 - 15:24
    E por fim, eu perguntei: "Porque é que
    eu estou a aplaudir?"
  • 15:24 - 15:27
    E uma das crianças respondeu:
    "Porque nós estávamos a ouvir."
  • 15:27 - 15:28
    (Risos)
  • 15:28 - 15:31
    Pensem nisto: 1600 pessoas,
    pessoas ocupadas,
  • 15:31 - 15:34
    envolvidas em várias coisas,
  • 15:34 - 15:39
    ouvindo, compreendendo e emocionando-se
    com uma peça de Chopin.
  • 15:39 - 15:41
    Isto é uma conquista.
  • 15:41 - 15:43
    Agora, tenho a certeza de que
    cada pessoa acompanhou,
  • 15:43 - 15:45
    compreendeu e emocionou-se com isto?
  • 15:45 - 15:47
    Claro que não posso ter a certeza.
  • 15:47 - 15:49
    Mas digo-vos o que me aconteceu.
  • 15:49 - 15:51
    Eu estava na Irlanda durante
    os problemas de há 10 anos,
  • 15:51 - 15:54
    a trabalhar com crianças
    católicas e protestantes
  • 15:54 - 15:56
    em resoluções de conflitos.
  • 15:56 - 15:58
    Eu fiz isto com eles
  • 15:58 - 16:01
    — uma coisa arriscada de fazer,
    porque eram meninos da rua.
  • 16:01 - 16:04
    Um deles veio ter comigo
    na manhã seguinte e disse-me:
  • 16:04 - 16:07
    "Sabe, eu nunca tinha ouvido
    música clássica na minha vida,
  • 16:07 - 16:10
    "mas quando tocou aquela peça
    do 'Shopping'..."
  • 16:10 - 16:11
    (Risos)
  • 16:11 - 16:14
    Ele disse: "O meu irmão foi morto
    com um tiro no ano passado
  • 16:14 - 16:16
    e eu não chorei por ele.
  • 16:16 - 16:19
    "Mas ontem à noite, enquanto
    estava a tocar aquela peça,
  • 16:19 - 16:20
    "era nele que eu estava a pensar.
  • 16:20 - 16:23
    "E senti as lágrimas a correr
    no meu rosto.
  • 16:23 - 16:26
    "E sabe, foi realmente bom ter chorado
    pelo meu irmão."
  • 16:26 - 16:28
    Então, eu decidi naquele momento
  • 16:28 - 16:32
    que a música clássica
    é para todas as pessoas.
  • 16:33 - 16:35
    Todas as pessoas.
  • 16:35 - 16:38
    Agora, como é que andariam...
  • 16:38 - 16:42
    Na minha profissão, os músicos
    profissionais não vêem isso dessa forma.
  • 16:42 - 16:45
    Eles dizem que 3% da população
    gosta de música clássica.
  • 16:45 - 16:47
    Se pudéssemos aumentar
    esse valor para 4%,
  • 16:47 - 16:49
    os nossos problemas estariam resolvidos.
  • 16:49 - 16:53
    Eu pergunto-me: "Como é que andariam?
    Como é que falariam? Como é que seriam?
  • 16:53 - 16:56
    "Se pensassem que 3% da população
    gosta de música clássica,
  • 16:56 - 16:59
    "se pudéssemos aumentar esse valor
    para 4%. Como é que andariam?
  • 16:59 - 17:01
    "Como é que falariam?
    Como é que seriam?
  • 17:01 - 17:04
    "Se pensassem que todas as pessoas
    adoram música clássica
  • 17:04 - 17:06
    "— só que ainda não o descobriram."
    (Risos)
  • 17:06 - 17:09
    Estão a ver, são dois mundos
    completamente distintos.
  • 17:09 - 17:11
    Eu tive uma experiência incrível.
  • 17:11 - 17:14
    Eu tinha 45 anos,
    já era maestro há 20 anos,
  • 17:14 - 17:17
    e, inesperadamente,
    compreendi uma coisa.
  • 17:17 - 17:20
    O chefe de orquestra
    não produz nenhum som.
  • 17:20 - 17:23
    A minha foto aparece na capa do CD
  • 17:23 - 17:25
    (Risos)
  • 17:26 - 17:28
    — mas o maestro não produz nenhum som.
  • 17:28 - 17:33
    A sua força depende da sua força
    para tornar as outras pessoas fortes.
  • 17:33 - 17:37
    E isso mudou tudo para mim.
    Foi uma total transformação.
  • 17:37 - 17:40
    As pessoas na minha orquestra
    vinham ter comigo e perguntavam-me:
  • 17:40 - 17:43
    "O que aconteceu, Ben?"
    Isto foi o que se passou.
  • 17:43 - 17:46
    Eu percebi que o meu trabalho era
    acender possibilidades nas outras pessoas.
  • 17:46 - 17:49
    E claro, queria saber se o estava
    a conseguir ou não.
  • 17:49 - 17:52
    E sabem como é que se descobre?
    Olhamos nos seus olhos.
  • 17:52 - 17:55
    Se os olhos estão a brilhar, sabemos
    que estamos a fazer bem o nosso trabalho.
  • 17:56 - 17:59
    É possível acender uma aldeia
    com os olhos deste rapaz.
  • 17:59 - 18:00
    (Risos)
  • 18:00 - 18:03
    Certo. Se os olhos brilham, sabem que
    estão a fazer bem o vosso trabalho.
  • 18:03 - 18:06
    Se os olhos não brilham, vocês devem
    fazer uma pergunta.
  • 18:06 - 18:07
    E a pergunta é:
  • 18:07 - 18:12
    Quem é que eu estou a ser se os olhos
    dos meus músicos não brilham?
  • 18:12 - 18:14
    Podemos fazer isso com
    as crianças, também.
  • 18:14 - 18:19
    Quem é que eu estou a ser para que
    os olhos das minhas crianças não brilhem?
  • 18:19 - 18:22
    Isto é um mundo totalmente diferente.
  • 18:22 - 18:27
    Agora, estamos quase a acabar
    esta semana mágica na montanha,
  • 18:27 - 18:29
    e vamos voltar para o mundo.
  • 18:29 - 18:32
    E é apropriado fazermos esta pergunta,
  • 18:32 - 18:37
    o que seremos
    quando voltarmos para o mundo?
  • 18:38 - 18:40
    Sabem, eu tenho uma definição de sucesso.
  • 18:40 - 18:43
    Para mim, é simples. Não se relaciona
    com riqueza, fama ou poder.
  • 18:43 - 18:47
    Relaciona-se com a quantidade de olhos
    brilhantes que eu tenho à minha volta.
  • 18:47 - 18:49
    Tenho um último pensamento, que é:
  • 18:49 - 18:53
    o que dizemos realmente
    faz toda a diferença
  • 18:53 - 18:55
    — as palavras que saem da nossa boca.
  • 18:55 - 18:58
    Eu aprendi isto de uma senhora
    sobrevivente de Auschwitz,
  • 18:58 - 19:00
    uma das raras sobreviventes.
  • 19:00 - 19:03
    Ela foi para Auschwitz aos 15 anos,
  • 19:07 - 19:11
    e o irmão dela tinha 8 anos
    e não sabiam dos pais.
  • 19:13 - 19:16
    Ela disse-me isto:
  • 19:16 - 19:20
    "Nós íamos no comboio para Auschwitz,
    eu olhei para baixo
  • 19:20 - 19:22
    "e vi que o meu irmão
    não tinha os sapatos.
  • 19:22 - 19:24
    "Então eu disse:
    'Como é que podes ser tão estúpido,
  • 19:24 - 19:28
    "não consegues manter as tuas coisas
    juntas, por amor de Deus?' "
  • 19:28 - 19:31
    — da maneira como uma irmã mais velha
    pode falar com o seu irmão mais novo.
  • 19:31 - 19:35
    Infelizmente, foi a última coisa que
    lhe diria, porque ela nunca mais o viu.
  • 19:35 - 19:37
    Ele não sobreviveu.
  • 19:37 - 19:41
    Então, quando ela saiu de Auschwitz,
    ela fez uma promessa.
  • 19:41 - 19:42
    Ela disse-me isto:
  • 19:42 - 19:46
    "Eu saí de Auschwitz com vida
    e fiz uma promessa.
  • 19:46 - 19:50
    "E a promessa foi
    que eu nunca vou dizer nada
  • 19:50 - 19:54
    "que não possa ficar como
    a última coisa que tenha dito."
  • 19:54 - 19:56
    Agora, podemos nós fazer isto? Não.
  • 19:56 - 20:00
    E vamos enganar-nos e enganar os outros.
  • 20:00 - 20:03
    Mas é um objectivo
    que podemos tentar.
  • 20:04 - 20:05
    Obrigado.
  • 20:05 - 20:08
    (Aplausos)
  • 20:12 - 20:16
    Olhos a brilhar, olhos a brilhar.
  • 20:22 - 20:25
    Obrigado, obrigado.
Title:
O poder transformador da música clássica
Speaker:
Benjamin Zander
Description:

Benjamin Zander tem duas paixões contagiantes: música clássica e ajudar-nos a todos a compreender o nosso amor ainda inexplorado por ela — e, por acréscimo, o nosso amor inexplorado por todas as novas possibilidades, as novas experiências, as novas ligações.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
20:26

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