< Return to Video

Persona (1966) [MultiSub] [Film] - (Ingmar Bergman)

  • 0:00 - 0:07
    Persona
    Tradução: Rodrigo Borges
  • 0:10 - 0:15
    "...de graça recebestes, de graça dai." Mt 10.8
  • 6:30 - 6:35
    Queria falar comigo, doutora?
    Já viu a Sra. Vogler, irmã?
  • 6:35 - 6:38
    - Ainda não.
    - Vou explicar a situação dela...
  • 6:38 - 6:43
    ...e o motivo pelo qual foi
    contratada para cuidar dela.
  • 6:43 - 6:49
    A Sra. Vogler é uma atriz, como sabe.
    se apresentando em Electra.
  • 6:49 - 6:53
    No meio da apresentação ficou silente
    e olhou ao redor como se estivesse surpresa.
  • 6:53 - 6:56
    Ela ficou silente por um minuto.
  • 7:08 - 7:14
    Ela se desculpou depois, dizendo
    que sentiu vontade de rir.
  • 7:14 - 7:18
    No dia seguinte ligaram do teatro e
    perguntaram se ela esqueceu o ensaio.
  • 7:18 - 7:22
    Quando a empregada entrou
    ela estava ainda na cama.
  • 7:22 - 7:26
    Ela estava acordada, mas
    não respondia nem se movia.
  • 7:26 - 7:32
    Ela continua na mesma por três meses.
    E já fez todos os tipos de testes.
  • 7:32 - 7:37
    O resultado é claro. Está perfeitamente
    saudável, física e mentalmente.
  • 7:37 - 7:41
    Não existe nem um tipo
    de reação histérica.
  • 7:41 - 7:44
    Alguma pergunta, irmã Alma?
  • 7:44 - 7:48
    Não? Agora pode ir ver a Sra. Vogler.
  • 7:55 - 8:01
    Bom dia, Sra. Vogler.
    Meu nome é irmã Alma.
  • 8:01 - 8:04
    Fui contratada para cuidar
    um pouco de você.
  • 8:06 - 8:12
    Talvez eu deva falar um pouco de mim.
    Eu tenho 25, noiva...
  • 8:12 - 8:16
    Consegui meu certificado de
    enfermeira há dois anos.
  • 8:16 - 8:22
    Meus pais tem um sítio. Minha mãe
    também foi enfermeira antes de casar.
  • 8:24 - 8:26
    Vou buscar seu jantar.
  • 8:26 - 8:30
    Fígado frito e salada de frutas.
    Uma delícia.
  • 8:31 - 8:34
    Você quer levantar sua cabeça?
    Assim está bom?
  • 8:41 - 8:45
    lrmã Alma.
    Qual foi sua primeira impressão?
  • 8:45 - 8:48
    Não sei o que dizer, doutora.
  • 8:48 - 8:54
    Primeiro tem um semblante suave,
    quase infantil. Mas ao olhar seus olhos...
  • 8:54 - 8:57
    Ela ganha um aspecto severo, eu acho.
  • 8:57 - 9:01
    - Eu Não sei. Eu não deveria...
    - O que estava pensando?
  • 9:02 - 9:06
    - Pensei que deveria rejeitar este trabalho.
    - Alguma coisa incomodou você?
  • 9:07 - 9:13
    Não, mas ela merecia uma enfermeira
    mais velha e mais experiente.
  • 9:13 - 9:17
    - Experiente na vida. Eu posso não suportar.
    - Suportar?
  • 9:18 - 9:20
    Mentalmente.
  • 9:21 - 9:25
    Se o silêncio e imobilidade da Sra. Vogler
    forem resultado de uma decisão...
  • 9:25 - 9:28
    ...deve ser tão forte quanto era saudável.
    - E daí?
  • 9:28 - 9:34
    É uma decisão que mostra grande força
    mental. Talvez eu não seja capaz de lidar.
  • 9:36 - 9:40
    Você talvez gostaria de ver o pôr-do-sol,
    Sra. Vogler. Eu posso descrevê-lo depois.
  • 9:43 - 9:47
    Posso ligar o rádio?
    Há uma peça, eu acho.
  • 9:49 - 9:55
    Perdoe-me, meu amor.
    Oh, você deve me perdoar.
  • 9:55 - 9:59
    Eu não desejo nada além do seu perdão.
  • 10:00 - 10:04
    Do que está rindo, Sra. Vogler?
    A artista é engraçada?
  • 10:05 - 10:10
    O que você sabe sobre compaixão?
    O que você sabe?
  • 10:10 - 10:13
    O que você sabe sobre compaixão?
  • 10:17 - 10:21
    Eu não entendo coisas como essa,
    Sra. Vogler.
  • 10:21 - 10:26
    Sou interessada por filme e teatro,
    mas não vou tanto.
  • 10:26 - 10:29
    Tenho enorme admiração
    por artistas.
  • 10:29 - 10:33
    Penso que a arte tem uma enorme
    importância na vida.
  • 10:33 - 10:38
    Especialmente para pessoas que tem
    problemas de algum tipo.
  • 10:39 - 10:43
    Não deveria falar sobre coisas como essa
    com você. Estou esquiando em gelo fino.
  • 10:44 - 10:47
    Vou ver se encontro alguma música.
  • 10:47 - 10:49
    Esta está boa?
  • 10:51 - 10:54
    Boa noite, Sra. Vogler. Durma bem.
  • 12:40 - 12:42
    Droga!
  • 12:50 - 12:55
    É estranho.
    Pode-se ir a qualquer lugar antigo.
  • 12:55 - 12:59
    Fazer-se qualquer coisa antiga.
  • 13:00 - 13:05
    Me casarei com Karl-Henrik e teremos
    filhos que criarei.
  • 13:07 - 13:10
    Tudo está decidido. E faz parte de mim.
  • 13:10 - 13:14
    Não há o que ponderar.
  • 13:14 - 13:17
    É um imenso sentimento de segurança.
  • 13:17 - 13:21
    Então eu tenho um emprego que gosto
    e estou feliz com isso.
  • 13:21 - 13:25
    Isso é bom também. Mas por outro lado...
  • 13:26 - 13:30
    Mas isso é bom... bom.
  • 13:32 - 13:34
    Isso é bom.
  • 13:41 - 13:44
    Me pergunto... o que há de
    errado com ela?
  • 13:46 - 13:50
    Elisabet Vogler...
  • 13:51 - 13:53
    Elisabet.
  • 13:55 - 13:58
    "...hoje, entre as artilharias americanas
    e vietnamitas
  • 13:58 - 14:00
    "e a desesperada guerrilha do Vietcongue"
  • 14:00 - 14:02
    "que ataca a base vital costeira."
  • 14:02 - 14:05
    "Aviões da Marinha e a Força Aérea
    Americana em Quang"
  • 14:05 - 14:08
    "Estão bombardeando as posições
    do exército Vietcongue em Tay Ninh."
  • 14:08 - 14:12
    "Hoje os aviões saíram em
    mais de 48 missões de bombardeio."
  • 14:12 - 14:16
    "Em outras ações, vários batalhões
    de tropas dos EEUU"
  • 14:16 - 14:19
    "desembarcaram ontem perto da costa."
  • 14:19 - 14:26
    "onde foram capturados mais de 2000 Vietcongues."
  • 14:26 - 14:29
    "na maior operação dos últimos três meses.
  • 14:29 - 14:31
    "Hoje os protestos na rua"
  • 14:31 - 14:38
    "mandaram para os tribunais mais de
    141 Vietcongues.
  • 15:26 - 15:29
    Você gostaria que eu abrisse a
    carta, Sra. Vogler?
  • 15:35 - 15:37
    Devo lê-la?
  • 15:43 - 15:45
    Devo lê-la para você?
  • 15:53 - 15:58
    "Querida Elisabet: Como tenho
    permissão de vê-la, escrevo."
  • 15:58 - 16:02
    "Se você não quer ler minha
    carta pode ignorá-la."
  • 16:04 - 16:08
    "Eu não posso evitar procurar
    esse contato com você"
  • 16:08 - 16:12
    "Estou atormentado com uma
    dúvida constante:"
  • 16:12 - 16:18
    "Magoei você de algum modo?
    Machuquei você sem querer?"
  • 16:18 - 16:23
    "Há algum terrível mal entendido
    entre nós dois?"
  • 16:28 - 16:30
    Devo continuar a ler?
  • 16:38 - 16:44
    "Tanto como entendo, nós estávamos
    felizes recentemente. Nós nunca estivemos..."
  • 16:44 - 16:47
    "...tão perto um do outro"
  • 16:48 - 16:54
    "Você se lembra dizendo: Agora eu
    entendo o que casamento significa?"
  • 16:55 - 17:00
    "Ensinou-me que..."
    Não consigo entender o que está escrito aqui.
  • 17:00 - 17:03
    "Ensinou-me que..." Agora entendi...
  • 17:03 - 17:10
    "Ensinou-me que devemos nos ver
    como duas crianças ansiosas"
  • 17:10 - 17:14
    "tomadas de boa vontade
    e melhores intenções"
  • 17:14 - 17:17
    "Mas diri..."
  • 17:17 - 17:23
    Agora entendo. "Mas dirigidos por
    poderes que controlamos parcialmente"
  • 17:23 - 17:26
    "Você se lembra dizendo tudo isso?"
  • 17:26 - 17:32
    "Estávamos andando no bosque
    e você parou e segurou meu cinto..."
  • 17:40 - 17:43
    Há uma foto com a carta.
  • 17:43 - 17:48
    Uma foto do seu filho.
    Eu não sei se...
  • 17:48 - 17:51
    Gostaria de vê-la, Sra. Vogler?
  • 17:52 - 17:54
    Ele parece um doce.
  • 18:25 - 18:30
    Estive pensando, Elisabet. Eu não
    acho que deva permanecer no hospital.
  • 18:30 - 18:34
    Penso que é prejudicial.
    Como você não quer ir para casa...
  • 18:34 - 18:39
    ...você e irmã Alma podem ir
    para minha casa de verão na praia. Hmm?
  • 18:41 - 18:46
    Não imagina que entendo?
    O sonho sem esperança de ser.
  • 18:46 - 18:49
    Não parecer, mas ser.
  • 18:51 - 18:55
    Consciente a todo momento. Vigilante.
  • 18:56 - 19:01
    Ao mesmo tempo o abismo entre o que
    você é para os outros e para si mesmo.
  • 19:01 - 19:06
    O sentimento de vertigem e o desejo
    constante de por fim ser exposta.
  • 19:07 - 19:14
    Para ser vista por dentro, cortada,
    talvez mesmo aniquilada.
  • 19:15 - 19:21
    Cada tom de voz uma mentira, cada gesto
    uma mentira, cada sorriso uma careta.
  • 19:21 - 19:25
    Cometer suicídio? Ah, não!
  • 19:26 - 19:29
    Isso é feio. Você não faria isso.
  • 19:30 - 19:35
    Mas você pode ficar imóvel, pode silenciar.
    Assim, pelo menos, você não precisa mentir.
  • 19:35 - 19:39
    Você pode se isolar,
    e mesmo se calar.
  • 19:39 - 19:44
    Então não precisa interpretar papéis,
    mostrar faces ou gestos falsos.
  • 19:44 - 19:46
    Você pensa...
  • 19:47 - 19:52
    Mas você vê, a realidade é sanguinária.
    Seu esconderijo não é bem vedado.
  • 19:52 - 19:55
    A vida penetra em todas as partes.
  • 19:58 - 20:00
    Você é forçada a reagir.
  • 20:01 - 20:07
    Ninguém pergunta se é real ou irreal,
    se você é verdadeira ou falsa.
  • 20:07 - 20:12
    Isso só é importante no teatro.
    Talvez nem ali.
  • 20:13 - 20:19
    Eu entendo você, Elisabet. Eu entendo que
    você está em silêncio, que está imóvel.
  • 20:19 - 20:24
    Que você colocou esta falta de vontade
    em um sistema fantástico.
  • 20:24 - 20:27
    Eu entendo e admiro você.
  • 20:27 - 20:32
    Acho que deveria representar
    este papel até que se esgote.
  • 20:32 - 20:36
    Até que ele não seja mais interessante.
    Então você poderá deixá-lo.
  • 20:36 - 20:41
    Assim como pouco a pouco abandona
    todos os outros papéis.
  • 20:45 - 20:50
    Sra. Vogler e Irmã Alma se mudaram
    para a casa da médica no final do verão.
  • 20:50 - 20:54
    A estada perto do mar surtiu
    efeito favorável sobre a atriz.
  • 20:55 - 20:59
    A apatia que a machucava no hospital
    dá lugar a longas caminhadas,
  • 20:59 - 21:04
    pescarias, cozinhar, escrever cartas
    e outras diversões.
  • 21:04 - 21:09
    Irmã Alma desfruta sua reclusão rural e
    tem maior cuidado com sua paciente.
  • 21:50 - 21:54
    Não sabe que é má sorte
    comparar as mãos?
  • 22:11 - 22:16
    Elisabet, posso ler um pouco
    do meu livro para você?
  • 22:16 - 22:19
    Ou estou incomodando? Ouça isso:
  • 22:19 - 22:23
    "Toda a ansiedade que suportamos,
    todos os nossos sonhos frustrados"
  • 22:24 - 22:28
    "a crueldade incompreensível,
    nosso temor de extinção"
  • 22:28 - 22:31
    "a percepção dolorosa
    de nossa condição terrena"
  • 22:31 - 22:37
    "lentamente desgastou nossa esperança
    em qualquer outra salvação"
  • 22:38 - 22:42
    "O grito de nossa fé e dúvida
    contra a escuridão e o silêncio"
  • 22:42 - 22:46
    "é uma das provas mais terríveis
    de nosso abandono"
  • 22:46 - 22:50
    "e nosso aterrorizado e indescritível conhecimento."
  • 22:51 - 22:54
    Você acha que é assim?
  • 22:57 - 22:59
    Eu não acredito.
  • 23:00 - 23:04
    Fazer alterações... meu pior defeito é
    que sou tão preguiçosa.
  • 23:05 - 23:09
    E então percebo aquela má consciência.
    Karl-Henrik grita-me a falta de ambição.
  • 23:09 - 23:13
    Diz que eu ando por aí sonâmbula.
    Penso que isso é injusto.
  • 23:13 - 23:19
    Era a melhor em meu grupo com os exames.
    Mas ele provavelmente se refere a algo mais.
  • 23:20 - 23:22
    Você sabe...
  • 23:22 - 23:26
    Desculpe. Sabe o que eu às vezes penso?
  • 23:26 - 23:31
    No hospital onde eu fiz meu exame,
    há uma casa para enfermeiras velhas.
  • 23:31 - 23:36
    Umas que sempre foram enfermeiras,
    vivendo para seu trabalho. Sempre de uniforme.
  • 23:37 - 23:42
    Vivem em seus quartos pequenos.
    Imagine dedicar sua vida inteira a algo.
  • 23:43 - 23:46
    Quero dizer, acreditando em algo.
    Realizando algo.
  • 23:47 - 23:51
    Acreditando que a vida tem um propósito.
    Gosto de coisas assim.
  • 23:52 - 23:56
    Cumprindo algo intensamente, sem importar
    com nada. Acho isso um dever.
  • 23:57 - 24:02
    Significar algo para outras pessoas.
    Você não acha também?
  • 24:05 - 24:09
    Eu sei que parece infantil,
    mas eu acredito nisso.
  • 24:10 - 24:14
    Céus, está chovendo muito!
  • 24:14 - 24:19
    Ah, sim. Ele era casado. Nós tivemos
    um relacionamento de cinco anos.
  • 24:19 - 24:22
    Então ele se cansou, é claro.
  • 24:22 - 24:26
    Eu estava muito apaixonada, com certeza.
    E ele foi o primeiro.
  • 24:26 - 24:29
    Lembro-me de tudo como um grande tormento.
  • 24:31 - 24:35
    Longos períodos de dor e,
    em seguida, curtos momentos quando...
  • 24:35 - 24:41
    É como se você me ensinasse a fumar.
    Ele fumava muito.
  • 24:41 - 24:46
    Pensar nisso depois, é realmente banal.
    Uma ficção barata.
  • 24:47 - 24:51
    De certa forma,
    nunca foi real.
  • 24:52 - 24:57
    Eu não sei como descrevê-lo. Ao menos,
    eu nunca era bastante real para ele.
  • 24:58 - 25:02
    Minha dor era real, isso com certeza.
  • 25:03 - 25:08
    De certo modo era como se fosse
    parte dele, de modo desagradável.
  • 25:08 - 25:11
    Como se tivesse de ser assim.
  • 25:11 - 25:15
    Incluindo as coisas que
    dissemos uns aos outros ...
  • 25:20 - 25:26
    Dizem que sou uma boa
    ouvinte. Não é engraçado?
  • 25:26 - 25:31
    Ninguém nunca se importou em me ouvir.
    Como você está agora. Está ouvindo.
  • 25:31 - 25:35
    Eu acho que você é a primeira
    pessoa que me ouviu.
  • 25:35 - 25:40
    Não pode ser tão interessante.
    Mais valeria a você ler um livro.
  • 25:40 - 25:43
    Deus, e continuo...
    Não estou irritando?
  • 25:43 - 25:46
    É tão bom conversar.
    Me sinto tão bem e aquecida.
  • 25:47 - 25:50
    Sinto-me como eu nunca senti
    em minha vida inteira.
  • 25:52 - 25:56
    Sempre quis uma irmã.
    Só tenho um monte de irmão. Sete.
  • 25:57 - 26:02
    Engraçado, não? E depois cheguei.
    Fui cercada por rapazes toda a vida.
  • 26:03 - 26:10
    Gosto de meninos. Você sabe disso,
    com toda sua experiência de atriz.
  • 26:11 - 26:16
    Gosto tanto de Karl-Henrik, mas...
    você sabe, só amamos uma vez.
  • 26:17 - 26:22
    Sou fiel a ele. Em minha profissão
    há oportunidades, posso te contar.
  • 26:26 - 26:29
    Karl-Henrik e eu alugamos um
    chalé na praia uma vez.
  • 26:29 - 26:34
    Era Junho e estávamos sozinhos.
  • 26:34 - 26:39
    Um dia ele foi até a cidade.
    Eu fui à praia sozinha.
  • 26:39 - 26:43
    Era um dia quente e agradável.
  • 26:43 - 26:47
    Havia uma outra garota lá.
    Ela tinha vindo de outra ilha...
  • 26:47 - 26:52
    pois a nossa praia era ao sul
    e mais tranquila.
  • 26:53 - 26:57
    Nos deitamos nuas e
    tomamos sol...
  • 26:58 - 27:02
    tiramos cochilos, acordamos, e
    passamos bronzeador.
  • 27:03 - 27:08
    Usávamos uns chapéus, você
    sabe, aqueles baratos de palha.
  • 27:08 - 27:11
    O meu tinha uma fita azul.
  • 27:13 - 27:16
    Eu estava olhando debaixo
    do chapéu.
  • 27:16 - 27:20
    admirando a paisagem,
    o mar e o sol.
  • 27:20 - 27:22
    Foi tão curioso.
  • 27:28 - 27:33
    De repente eu vi duas pessoas
    sobre as rochas abaixo de nós.
  • 27:34 - 27:37
    Eles se esconderam
    e ficaram nos olhando.
  • 27:37 - 27:43
    "Há dois meninos nos olhando", disse
    a ela. Seu nome era Katarina.
  • 27:43 - 27:47
    "Bem, deixe que olhem", disse ela,
    e virou-se de costas.
  • 27:48 - 27:51
    Foi um sentimento estranho.
  • 27:52 - 27:56
    Eu queria correr e colocar minhas
    roupas, mas eu permanecia ali...
  • 27:56 - 28:02
    De bruços com a bunda para cima,
    totalmente desembaraçada e calma.
  • 28:05 - 28:11
    E Katarina estava ao meu lado
    com seus seios e coxas fartas.
  • 28:11 - 28:15
    Ela continuava ali, rindo
    e se divertindo consigo mesma.
  • 28:17 - 28:23
    Notei que os meninos se aproximavam.
    Continuaram olhando para nós.
  • 28:24 - 28:27
    Eu vi que eram muito jovens.
  • 28:27 - 28:32
    Depois um deles, o mais corajoso
  • 28:32 - 28:36
    Veio até nós e, agachado,
    ao lado Katarina.
  • 28:36 - 28:42
    Fingiu estar ocupado cutucando
    os dedos do pé.
  • 28:42 - 28:46
    Me senti totalmente estranha.
  • 28:48 - 28:51
    De repente Katarina disse a ele...
  • 28:51 - 28:55
    "Por que você não vem aqui?"
  • 28:55 - 28:59
    Então ela pegou sua mão e o
    ajudou a tirar a calça e a camisa.
  • 28:59 - 29:05
    De repente ele estava por cima.
    E ela o ajudou a penetrar por trás.
  • 29:07 - 29:11
    O outro menino apenas
    ficou olhando.
  • 29:11 - 29:16
    Ouvi Katarina sussurrar no ouvido
    do menino e rir.
  • 29:16 - 29:20
    Seu rosto estava ao lado do meu.
  • 29:20 - 29:23
    Estava vermelho e inchado.
  • 29:25 - 29:30
    Então eu me virei e disse...
    "Não quer vir comigo também?"
  • 29:31 - 29:36
    Katarina disse: "vá com ela agora."
    Ele a largou e veio para cima de mim.
  • 29:36 - 29:41
    ...ele veio sobre mim, com intensidade.
    Ele agarrou meu seio.
  • 29:41 - 29:45
    Deus, doeu tanto!
  • 29:45 - 29:50
    Fiquei excitava e gozei na hora.
    Acredita nisso?
  • 29:50 - 29:54
    la justamente dizer a ele: "cuidado
    para não me engravidar"
  • 29:55 - 29:58
    quando ele gozou eu senti.
  • 29:58 - 30:03
    Senti algo que nunca sentira na vida
    como ele jorrou dentro de mim.
  • 30:04 - 30:09
    Ele segurou meus ombros e inclinou para
    trás. E eu gozei uma e outra vez.
  • 30:13 - 30:17
    Katarina ficou olhando
    e o segurando por trás.
  • 30:20 - 30:25
    Depois que ele gozou ela o abraçou
    e usou a mão dele para gozar.
  • 30:26 - 30:30
    E quando ela gozou
    deu um grande grito.
  • 30:36 - 30:39
    Nós três começamos a rir.
  • 30:39 - 30:43
    Chamamos o outro menino sentado
    no declive. Seu nome era Peter.
  • 30:48 - 30:53
    Ele parecia confuso e
    tremia sob a luz do sol.
  • 30:55 - 31:00
    Katarina desabotoou sua calça
    e começou a brincar com ele.
  • 31:00 - 31:03
    Quando ele gozou ela
    colocou em sua boca.
  • 31:04 - 31:08
    Ele se inclinou e a beijou
    nas costas.
  • 31:08 - 31:12
    Ela olhou a volta, segurou a cabeça dele
    com as duas mãos e ofereceu seu seio.
  • 31:12 - 31:16
    O outro menino ficou tão excitado
    que começamos de novo.
  • 31:18 - 31:20
    Foi tão bom quanto antes.
  • 31:22 - 31:28
    Então nadamos partimos. Quando eu
    voltei, Karl-Henrik havia voltado.
  • 31:31 - 31:36
    Então Jantamos e tomamos o vinho
    tinto que estava com ele.
  • 31:37 - 31:40
    Depois fizemos amor.
  • 31:40 - 31:45
    Nunca havia sido tão bom, antes ou depois.
    Você pode entender isso?
  • 31:46 - 31:50
    Então eu fiquei grávida, é claro.
  • 31:50 - 31:55
    Karl-Henrik estudava medicina e me
    levou a um colega que fez o aborto.
  • 31:56 - 32:00
    Ficamos satisfeitos.
    Não queríamos ter nenhum filho.
  • 32:00 - 32:04
    Não na época, de qualquer modo.
  • 32:09 - 32:15
    Não faz sentido.
    Nada se encaixa.
  • 32:15 - 32:20
    Então temos uma má consciência por
    pequenas coisas. Entende isso?
  • 32:20 - 32:26
    E o que acontece com tudo o que você
    acredita? Não é necessário?
  • 32:28 - 32:33
    É possível ser uma e a mesma pessoa
    ao mesmo tempo?
  • 32:33 - 32:37
    Quero dizer, tornei-me duas pessoas?
    Deus, que bobagem...
  • 32:37 - 32:41
    Eu não tenho qualquer razão para começar
    a choramingar, de qualquer jeito.
  • 32:41 - 32:44
    Espere, vou pegar um lenço.
  • 33:04 - 33:09
    Está quase amanhecendo...
    e ainda está chovendo.
  • 33:16 - 33:21
    Imagine, tenho conversado sem parar.
    Conversei e você me escutou.
  • 33:21 - 33:26
    Que entediante para você. De que interesse
    pode ser minha vida para você?
  • 33:26 - 33:28
    Eu devia ser como você.
  • 33:30 - 33:34
    Sabe o que pensei depois
    que vi seu filme aquela noite?
  • 33:34 - 33:40
    Quando cheguei em casa e olhei no
    espelho, pensei: Somos parecidas.
  • 33:40 - 33:44
    Não me leva a mal. Você é muito mais
    bonita, mas somos parecidas numa parte.
  • 33:44 - 33:49
    Eu acho que poderia me tornar você
    se fizesse um real esforço.
  • 33:49 - 33:51
    Quero dizer, por dentro.
  • 33:53 - 33:57
    Você poderia tornar-se eu, justo assim.
  • 33:57 - 34:02
    Embora sua alma seja grande demais,
    ia ficar para fora do corpo.
  • 34:05 - 34:10
    Você deve ir para a cama. Ou então
    vai acabar dormindo na mesa.
  • 34:23 - 34:28
    Não, eu preciso ir para a cama.
    Senão eu vou dormir na mesa.
  • 34:28 - 34:31
    Não seria confortável.
  • 34:34 - 34:35
    Boa noite.
  • 37:28 - 37:30
    Escute, Elisabet...
  • 37:32 - 37:36
    Você falou comigo ontem à noite?
  • 38:05 - 38:08
    Esteve no meu quarto?
  • 38:48 - 38:51
    Quer que eu leve também
    sua correspondência?
  • 38:52 - 38:54
    Posso provar?
  • 38:56 - 38:58
    Adeus.
  • 40:01 - 40:06
    "Querida doutora: Eu viveria assim para
    sempre. Este silêncio, vivendo isolada
  • 40:06 - 40:11
    Sentir como a alma maltratada
    começa finalmente a curar-se.
  • 40:16 - 40:19
    A Alma me cativa da
    maneira mais comovedora.
  • 40:21 - 40:26
    Eu acho, a propósito, que ela está gostando
    de si e tem grande estima por mim.
  • 40:26 - 40:32
    Mesmo entusiasmada de modo inconsciente
    e delicioso. É divertido estudá-la.
  • 40:41 - 40:44
    Às vezes chora por
    pecados do passado.
  • 40:44 - 40:48
    Uma efêmera orgia com um menino
    desconhecido, seguido de um aborto.
  • 40:48 - 40:53
    Ela concorda que suas noções de vida
    não estão de acordo com suas ações."
  • 46:23 - 46:29
    Vejo que você está lendo uma peça. Isso é
    um sinal saudável, vou dizer ao médico.
  • 46:32 - 46:37
    Não achas que deveríamos sair em breve?
    Começo a sentir saudade da cidade.
  • 46:37 - 46:40
    Você não?
  • 46:54 - 46:57
    Gostaria de me fazer
    realmente feliz?
  • 46:57 - 47:02
    Sei que é um sacrifício, mas necessito
    de sua ajuda agora mesmo.
  • 47:02 - 47:06
    Não é nada perigoso. Mas
    quero que converse comigo.
  • 47:06 - 47:12
    Não tem de ser especial. Qualquer coisa.
    O que nós temos para o jantar...
  • 47:12 - 47:17
    Se a água está fria depois da tempestade.
    Se está muito frio para nadar.
  • 47:17 - 47:20
    Só precisamos falar de alguns minutos.
    Um minuto.
  • 47:20 - 47:24
    Você pode ler a partir de seu livro.
    Basta dizer algumas palavras.
  • 47:25 - 47:31
    Devo tentar não ficar irritada. Você
    permanece calada e essa é sua idéia.
  • 47:31 - 47:34
    Mas agora preciso que fale comigo.
  • 47:36 - 47:40
    Minha cara mulher, você não pode dizer
    somente uma única palavra?
  • 47:42 - 47:48
    Eu sabia que você recusaria.
    Você não imagina como me sinto.
  • 47:49 - 47:55
    Eu sempre pensei que grandes artistas
    sentiam grande compaixão pelos outros.
  • 47:55 - 48:00
    Que criavam a partir do sentimento de
    grande simpatia e necessidade de ajudar.
  • 48:00 - 48:02
    Isso foi estúpido de minha parte.
  • 48:05 - 48:10
    Você me usou. Agora que não
    necessita de mim, me joga fora.
  • 48:11 - 48:15
    Sim, eu ouço muito bem como soa,
    como falso isso soa!
  • 48:15 - 48:19
    Você me usou, agora me descarta.
    Toda palavra!
  • 48:19 - 48:21
    E então estes óculos!
  • 48:29 - 48:34
    Você realmente me machucou.
    Riu de mim nas minhas costas.
  • 48:36 - 48:39
    Eu li a carta que enviou ao médico.
  • 48:39 - 48:44
    Basta pensar, não foi selada!
    E a li cuidadosamente!
  • 48:45 - 48:49
    Você me fez falar. Me fez falar coisas
    que eu nunca disse a ninguém.
  • 48:49 - 48:53
    E você contou.
    E que análise, heim? Você não...
  • 48:54 - 48:59
    Você vai falar agora! Se tem algo
    a dizer, diga, droga...
  • 49:12 - 49:15
    Não! Pare!
  • 49:25 - 49:28
    Está realmente com medo agora, não?
  • 49:29 - 49:33
    Por um segundo você estava
    realmente com medo, não?
  • 49:34 - 49:39
    Um verdadeiro medo da morte, não?
    Alma ficou louca, você pensou.
  • 49:39 - 49:42
    Que tipo de pessoa você é, realmente?
  • 49:42 - 49:46
    Ou você pensa assim:
    "Me lembrarei daquela face.
  • 49:46 - 49:52
    Aquele tom de voz, aquela expressão."
    Eu vou lhe dar algo que não vai esquecer.
  • 50:12 - 50:15
    Você está rindo, não está?
  • 50:16 - 50:21
    Não é tão simples para mim.
    Nem tão engraçado, também.
  • 50:21 - 50:24
    Mas você sempre teve seu riso.
  • 51:45 - 51:49
    Tem de ser assim?
  • 51:50 - 51:54
    É realmente importante não mentir,
    para falar a verdade,
  • 51:54 - 51:57
    para falar com um tom de voz genuíno?
  • 51:57 - 52:01
    Pode alguém viver absolutamente
    sem conversar livremente?
  • 52:01 - 52:06
    Mentir, desviar-se e fugir das coisas.
  • 52:06 - 52:11
    Não é melhor permitir a si mesma
    ser preguiçosa, desleixada e falsa?
  • 52:13 - 52:18
    Talvez se torne um pouco melhor
    se apenas deixar que seja o que é.
  • 52:21 - 52:25
    Não, você não compreende.
    Você não entende o que estou dizendo.
  • 52:25 - 52:27
    Você é inacessível.
  • 52:27 - 52:31
    Disseram que você era mentalmente
    saudável, mas a sua loucura é o pior.
  • 52:31 - 52:35
    Está atuando de modo saudável.
    Age tão bem que todos acreditam em você.
  • 52:36 - 52:40
    Todos menos eu, porque eu sei
    como você é podre.
  • 52:45 - 52:47
    O que estou fazendo?
  • 52:48 - 52:52
    Elisabet! Elisabet, perdoe-me.
  • 52:52 - 52:56
    Me comportei como uma idiota,
    não sei o que deu em mim.
  • 52:56 - 53:01
    Estou aqui para ajudá-la. Então
    houve aquela terrível carta.
  • 53:01 - 53:05
    Fiquei tão decepcionada. Você me
    pediu para falar de mim mesmo.
  • 53:06 - 53:10
    Foi bom, você parecia tão compreensiva.
    Eu tinha bebido muito...
  • 53:10 - 53:14
    É tão bom falar sobre tudo isso.
  • 53:14 - 53:19
    Fiquei feliz por uma grande atriz
    como você me ouvir.
  • 53:19 - 53:24
    Achei que seria bom se
    isso a ajudasse.
  • 53:24 - 53:28
    Mas é tão horrível, não?
    É exibicionismo.
  • 53:28 - 53:31
    Elisabet, quero que me perdoe.
  • 53:31 - 53:34
    Eu gosto de você tanto,
    você significa tanto para mim.
  • 53:35 - 53:38
    Aprendi muito com você,
    eu não quero inimizade.
  • 54:00 - 54:04
    Não quer me perdoar.
    Você é orgulhosa demais.
  • 54:04 - 54:08
    Não quer se rebaixar
    porque você não precisa.
  • 54:08 - 54:12
    Não vou, não vou... !
  • 58:07 - 58:11
    Não falamos... não ouvimos...
    não entendemos...
  • 58:15 - 58:20
    - Elisabet?
    - Que significa ser capaz?
  • 59:02 - 59:06
    Quando dormes tem a face flácida.
  • 59:08 - 59:12
    Sua boca fica inchada e feia.
  • 59:13 - 59:17
    Tem uma ruga feia na testa.
  • 59:24 - 59:27
    Você tem cheiro de
    sono e lágrimas.
  • 59:30 - 59:34
    Posso ver seu batimento
    no pescoço.
  • 59:34 - 59:38
    Você tem uma cicatriz que normalmente
    cobre com maquiagem.
  • 59:40 - 59:42
    Elisabet!
  • 59:43 - 59:45
    Ele está chamando de novo.
  • 59:46 - 59:50
    Vou descobrir o que ele quer de nós.
  • 59:50 - 59:53
    Fora daqui, longe de nossa solidão.
  • 60:15 - 60:16
    Elisabet?
  • 60:17 - 60:21
    Elisabet? Desculpe-me se te assustei.
  • 60:22 - 60:27
    - Eu não sou Elisabet.
    - Não venho exigir nada.
  • 60:27 - 60:31
    Não queria incomodar.
    Acha que não entendo?
  • 60:31 - 60:35
    A doutora explicou uma série
    de coisas para mim.
  • 60:35 - 60:41
    O mais difícil é explicar para o menino.
    Estou fazendo o meu melhor.
  • 60:42 - 60:47
    Há algo que está mais profundo,
    difícil de entender.
  • 60:47 - 60:52
    Você ama alguém, ou mais correctamente,
    diz que ama alguém, é...
  • 60:52 - 60:57
    É compreensível. Tangível como
    as palavras são, isto é.
  • 60:57 - 61:00
    Sr. Vogler, não sou sua esposa.
  • 61:00 - 61:05
    Você também é amada.
    Construiu um vínculo.
  • 61:05 - 61:11
    Gera segurança. Você vê a
    possibilidade de suportar, não?
  • 61:13 - 61:19
    Como posso me explicar sem
    me perder, aborrecendo você?
  • 61:27 - 61:31
    Eu amo você, tanto quando amava.
  • 61:37 - 61:42
    Não, não fique tão ansiosa, minha querida.
    Temos um ao outro.
  • 61:42 - 61:45
    Temos fé, sabemos um os
    pensamentos do outro.
  • 61:45 - 61:49
    Amamos um ao outro.
    É verdade, não é?
  • 61:49 - 61:53
    É o esforço que é o mais importante,
    não o que nós conseguimos. Não é?
  • 61:56 - 62:00
    Ver cada um como criança. Atormentada,
    desamparada, solitária criança.
  • 62:01 - 62:06
    - Elisabet.
    - Diga ao menino que estou indo em breve.
  • 62:06 - 62:10
    Mamãe ficou doente mas ela
    deseja ver seu pequeno menino.
  • 62:10 - 62:15
    Lembre-se de comprar um presente para ele.
    Da mamãe, não se esqueça.
  • 62:15 - 62:19
    Você sabe que eu sinto
    essa ternura por você.
  • 62:22 - 62:24
    É difícil de suportar.
  • 62:25 - 62:29
    Não sei o que fazer
    com a minha ternura.
  • 62:30 - 62:32
    Eu vivo de seu carinho.
  • 62:34 - 62:39
    Elisabet, você gosta de estar comigo?
    Isso é bom?
  • 62:41 - 62:46
    - Você é um amante maravilhoso. Você sabe.
    - Minha querida...
  • 62:48 - 62:51
    Maldize-me... livre-se de mim!
  • 62:52 - 62:54
    Não, não posso, não posso suportar mais!
  • 62:55 - 62:59
    Me deixe em paz!
    É uma vergonha, tudo uma vergonha!
  • 62:59 - 63:04
    Deixe-me em paz!
    Estou fria, podre e indiferente!
  • 63:04 - 63:07
    É tudo mentira e imitação,
    tudo do mesmo!
  • 63:14 - 63:17
    Elisabet, o que você tem aí?
  • 63:18 - 63:22
    O que está escondendo na mão?
    Deixe-me ver.
  • 63:25 - 63:29
    É a foto do seu menino.
    A que você rasgou.
  • 63:29 - 63:32
    Temos de falar sobre isso.
  • 63:39 - 63:42
    Conte-me sobre ele, Elisabet.
  • 63:42 - 63:45
    Então me vou.
  • 63:45 - 63:51
    Foi uma noite em uma festa, não?
    Ficou tarde e muito barulhento.
  • 63:52 - 63:56
    Pela manhã alguém
    do grupo disse:
  • 63:56 - 64:01
    "Elisabet, você tem tudo
    como mulher e artista."
  • 64:01 - 64:04
    "Mas carece de sentimentos maternos."
  • 64:04 - 64:08
    Você riu porque
    pensou que era bobagem.
  • 64:08 - 64:13
    Mas depois de um tempo reparou
    e pensou sobre o que ele disse.
  • 64:14 - 64:20
    Ficou mais e mais preocupada.
    Deixou seu marido engravidar você.
  • 64:20 - 64:23
    Você queria ser uma mãe.
  • 64:23 - 64:26
    Quando percebeu que era definitivo,
    ficou assustada.
  • 64:26 - 64:32
    Assustada com a responsabilidade,
    de se prender, de deixar o teatro.
  • 64:32 - 64:39
    Assustada de dor, com a morte, assustada
    com o seu corpo inchando.
  • 64:39 - 64:44
    Mas assumiu o papel. O papel de uma
    feliz, jovem e futura mãe.
  • 64:46 - 64:50
    Todo o mundo disse, "Ela não é linda?
    Ela nunca foi tão linda"
  • 64:53 - 64:58
    Entretanto você tentou de abortar
    o feto várias vezes.
  • 64:58 - 65:00
    Mas fracassou.
  • 65:00 - 65:05
    Quando viu que era irreversível,
    começou a odiar o bebê.
  • 65:05 - 65:08
    E desejou que fosse natimorto.
  • 65:11 - 65:14
    Desejou que o bebê estivesse morto.
  • 65:16 - 65:18
    Desejou um bebê morto.
  • 65:23 - 65:26
    Foi um parto difícil e longo.
  • 65:26 - 65:32
    Sofreu agonia durante dias. Finalmente
    o bebê chegou com fórceps.
  • 65:32 - 65:36
    Olhou com repugnância e terror seu
    bebê gritando e sussurrou:
  • 65:36 - 65:39
    "Você não pode morrer em breve?
    Não pode morrer?"
  • 65:41 - 65:43
    Mas ele sobreviveu.
  • 65:44 - 65:47
    O menino gritava dia e noite.
  • 65:50 - 65:56
    E você o odiava. Estava com medo,
    teve uma má consciência.
  • 65:58 - 66:02
    Finalmente, o menino foi cuidado
    por parentes e uma babá.
  • 66:02 - 66:07
    Podia levantar-se da cama de
    doente e retornar ao teatro.
  • 66:09 - 66:12
    Mas o sofrimento não terminou.
  • 66:13 - 66:18
    O menino foi tomado por um
    incomensurável amor por sua mãe.
  • 66:18 - 66:22
    Você se defendeu sozinha.
    Você se defendeu em desespero.
  • 66:22 - 66:28
    Você sente que não pode retribuir.
    Então, você tenta e tenta...
  • 66:29 - 66:32
    Mas só havia cruéis estranhos
    encontros entre vocês.
  • 66:32 - 66:37
    Você não conseguia.
    Você está fria e indiferente.
  • 66:37 - 66:42
    Ele olha para você.
    Ele te ama e é tão gentil.
  • 66:42 - 66:46
    Você quer bater porque ele
    não a deixa sozinha.
  • 66:46 - 66:50
    Você o achava repulsivo, com seus
    lábios grossos e corpo feio.
  • 66:50 - 66:55
    Seus olhos umedecidos e carentes.
    Ele é repulsivo e você está assustada.
  • 66:59 - 67:04
    O que você está escondendo
    sob a sua mão? Deixe-me ver.
  • 67:08 - 67:11
    É a foto de seu menino.
    A que você rasgou.
  • 67:11 - 67:13
    Temos de falar sobre isso.
  • 67:22 - 67:24
    Conte-me sobre isso, Elisabet.
  • 67:27 - 67:29
    Então eu vou.
  • 67:31 - 67:35
    Foi uma noite em uma festa,
    não é mesmo?
  • 67:35 - 67:39
    Ficou tarde e muito barulhento.
  • 67:39 - 67:42
    Pela manhã alguém do grupo disse:
  • 67:42 - 67:47
    "Elisabet, você tem tudo
    como mulher e artista."
  • 67:47 - 67:50
    "Mas carece de sentimentos maternos."
  • 67:51 - 67:55
    Você riu porque
    pensou que era bobagem.
  • 67:56 - 68:00
    Mas depois de um tempo reparou
    e pensou sobre o que ele disse.
  • 68:00 - 68:05
    Ficou mais e mais preocupada.
    Deixou seu marido engravidar você.
  • 68:07 - 68:10
    Você queria ser uma mãe.
  • 68:12 - 68:16
    Quando percebeu que era definitivo,
    ficou assustada.
  • 68:16 - 68:22
    Assustada com a responsabilidade,
    de se prender, de deixar o teatro.
  • 68:22 - 68:28
    Assustada de dor, com a morte, assustada
    com o seu corpo inchando.
  • 68:30 - 68:36
    Mas assumiu o papel. O papel de uma
    feliz, jovem e futura mãe.
  • 68:37 - 68:42
    Todo o mundo disse, "Ela não é linda?
    Ela nunca foi tão linda"
  • 68:43 - 68:47
    Entretanto você tentou de abortar
    o feto várias vezes.
  • 68:47 - 68:49
    Mas fracassou.
  • 68:50 - 68:53
    Quando viu que era irreversível...
  • 68:54 - 68:57
    ...começou a odiar o bebê.
  • 68:59 - 69:02
    E desejou que fosse natimorto.
  • 69:04 - 69:07
    Desejou que o bebê estivesse morto.
  • 69:11 - 69:14
    Desejou um bebê morto.
  • 69:18 - 69:21
    Foi um parto difícil e longo.
  • 69:21 - 69:27
    Sofreu agonia durante dias. Finalmente
    o bebê chegou com fórceps.
  • 69:28 - 69:32
    Olhou com repugnância e terror seu
    bebê gritando e sussurrou:
  • 69:32 - 69:36
    "Você não pode morrer em breve?
    Não pode morrer?"
  • 69:37 - 69:41
    O menino gritava dia e noite.
    E você o odiava.
  • 69:42 - 69:46
    Estava com medo,
    teve uma má consciência.
  • 69:48 - 69:52
    Finalmente, o menino foi cuidado
    por parentes e uma babá.
  • 69:52 - 69:56
    Podia levantar-se da cama de
    doente e retornar ao teatro.
  • 69:58 - 70:00
    Mas o sofrimento não terminou.
  • 70:02 - 70:07
    O menino foi tomado por um
    incomensurável amor por sua mãe.
  • 70:07 - 70:13
    Você se defendeu em desespero.
    Você sente que não pode retribuir.
  • 70:13 - 70:15
    Então você tenta, e tenta...
  • 70:16 - 70:20
    Mas só havia cruéis estranhos
    encontros entre vocês.
  • 70:20 - 70:26
    Você não consegue.
    Você está fria e indiferente.
  • 70:26 - 70:31
    Ele olha para você.
    Ele te ama e é tão gentil.
  • 70:31 - 70:35
    Você quer bater porque ele
    não a deixa sozinha.
  • 70:35 - 70:39
    Você o achava repulsivo, com seus
    lábios grossos e corpo feio.
  • 70:39 - 70:44
    Seus olhos umedecidos e carentes.
    Ele é repulsivo e você está assustada.
  • 70:52 - 70:54
    Não!
  • 70:55 - 71:00
    Eu não sou como você. Não me sinto como você.
  • 71:00 - 71:03
    Sou a irmã Alma.
    Estou aqui para ajudá-la.
  • 71:03 - 71:08
    Eu não sou Elisabet Vogler.
    Você é Elisabet Vogler.
  • 71:08 - 71:10
    Eu gostaria de ter...
  • 71:11 - 71:13
    Eu amo...
  • 71:15 - 71:17
    Não tenho...
  • 71:50 - 71:52
    Eu aprendi bastante.
  • 72:06 - 72:09
    Veremos quanto tempo eu aguento.
  • 72:14 - 72:17
    Eu nunca vou ser como você, nunca.
    Eu mudo o tempo todo.
  • 72:18 - 72:21
    Você pode fazer o que quiser,
    você não vai me afetar.
  • 72:53 - 72:58
    Falar não adianta de nada.
    Corte uma vela.
  • 72:58 - 73:03
    É como ser outro.
    Não agora, não. Não, não.
  • 73:04 - 73:07
    Alerta e sem tempo.
    Imprevisto.
  • 73:08 - 73:12
    Quando se supôs que ocorreria
    não aconteceu, por isso, fracasso.
  • 73:12 - 73:16
    Fique onde estás.
    Mas eu devo fazê-lo.
  • 73:16 - 73:20
    Não interiormente, não...
    Recolha e avise os outros...
  • 73:20 - 73:24
    Os desconsolados, talvez...
  • 73:27 - 73:31
    Por exemplo, sim...
    mas qual é o mais próximo...?
  • 73:32 - 73:36
    Como se chama...? Não, não, não...
  • 73:36 - 73:39
    Nós, nós, eu, eu...
  • 73:39 - 73:44
    Muitas palavras e essa náusea...
    Dor incompreensível.
  • 75:13 - 75:18
    Agora me escute.
    Repita depois de mim.
  • 75:22 - 75:25
    Nada...
  • 75:27 - 75:31
    Nada. Não, nada...
  • 75:38 - 75:40
    Nada.
  • 75:41 - 75:46
    É isso. Muito bom.
    É assim que deveria ser.
Title:
Persona (1966) [MultiSub] [Film] - (Ingmar Bergman)
Description:

more » « less
Video Language:
Swedish
Duration:
01:19:08

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions