< Return to Video

Quase cometi um atentado armado contra uma escola | Aaron Stark | TEDxBoulder

  • 0:06 - 0:08
    Quase cometi um atentado
    contra uma escola.
  • 0:09 - 0:13
    Em 1996, em Denver, Colorado,
    eu era aluno da North High.
  • 0:13 - 0:17
    Num momento de dor e raiva,
    quase cometi uma atrocidade terrível.
  • 0:19 - 0:21
    Desde criança aprendi
  • 0:21 - 0:24
    que existe uma estranha sensação
    de conforto e calma na escuridão.
  • 0:25 - 0:26
    Eu era sempre o novato.
  • 0:26 - 0:29
    Minha família era violenta e agressiva;
    meus pais, viciados.
  • 0:29 - 0:32
    Nos mudávamos o tempo todo,
    passei por 30 ou 40 escolas,
  • 0:32 - 0:35
    como se mudasse de escola
    a cada duas semanas.
  • 0:35 - 0:37
    Éramos acordados às quatro
    da manhã pela polícia,
  • 0:37 - 0:41
    e fugíamos país afora, e eu acabava
    numa nova escola por duas semanas
  • 0:41 - 0:43
    e, aí, tinha que fazer tudo de novo
    alguns dias depois.
  • 0:44 - 0:49
    Eu era sempre o novato
    e, como tinha uma família desestruturada,
  • 0:50 - 0:54
    as coisas só pioravam pelo fato de eu
    cheirar muito mal por nunca tomar banho
  • 0:54 - 0:56
    e por não ter nenhuma roupa limpa.
  • 0:57 - 0:59
    Minhas roupas eram sujas e rasgadas.
  • 0:59 - 1:02
    Eu tinha problemas com peso.
    Eu era inteligente.
  • 1:02 - 1:05
    Gostava de quadrinhos numa época
    em que as crianças não gostavam
  • 1:05 - 1:07
    de gente que gostava tanto de quadrinhos.
  • 1:07 - 1:11
    Sempre que eu chegava numa escola nova,
    encontrava novos valentões,
  • 1:11 - 1:14
    que se aproximavam e me davam tiros
    de arpão como se eu fosse uma baleia,
  • 1:14 - 1:17
    ou me jogavam comida na cabeça
    por eu ser "gordo demais".
  • 1:17 - 1:21
    Eu sofria bullying não só na escola.
    Também sofria muito em casa.
  • 1:21 - 1:25
    Praticamente todos em minha vida
    me diziam que eu era inútil.
  • 1:25 - 1:28
    Quando te dizem isso o tempo todo,
    você acaba acreditando.
  • 1:28 - 1:31
    Aí, você vai fazer de tudo
    pra que os outros acreditem nisso também.
  • 1:31 - 1:32
    Foi o que fiz.
  • 1:32 - 1:35
    Me envolvi naquela escuridão
    como num cobertor, num escudo,
  • 1:35 - 1:39
    que mantinha perto os poucos que
    concordavam comigo, afastando os demais.
  • 1:39 - 1:42
    Sempre ouvia dizer
    que havia pessoas boas e más.
  • 1:42 - 1:43
    Eu devia ser uma das más.
  • 1:43 - 1:46
    Então, achei que tinha que fazer
    o que tinha que fazer.
  • 1:46 - 1:48
    Aí, me tornei bem agressivo.
  • 1:48 - 1:51
    Aos 12, 13 anos de idade,
    comecei a curtir muito "heavy metal"
  • 1:51 - 1:54
    e, nos shows, ficava na beira dos palcos,
    pulando como um louco.
  • 1:55 - 1:58
    As agressões pareciam nunca ter fim.
  • 2:00 - 2:02
    Comecei a me cortar aos 14 ou 15 anos
  • 2:02 - 2:06
    porque entendi que havia todas
    aquelas emoções extremas em minha vida
  • 2:06 - 2:08
    que eu não podia controlar
  • 2:08 - 2:11
    e eu tinha que descobrir uma forma
    de ter controle sobre algo.
  • 2:11 - 2:14
    Aí, passei a me cortar.
    Tenho as cicatrizes até hoje.
  • 2:16 - 2:18
    Aos 15, 16 anos, acabei indo morar na rua.
  • 2:18 - 2:20
    Meu pais tinham me expulsado de casa
  • 2:20 - 2:23
    porque eu não queria mais lidar
    com as brigas e embriaguez deles.
  • 2:23 - 2:24
    Passei a morar na rua.
  • 2:24 - 2:26
    Achei que tinha afastado
    todos os meus amigos.
  • 2:26 - 2:29
    Tinha afastado todos,
    mentindo pra eles e roubando deles,
  • 2:29 - 2:32
    agindo da forma que tinha aprendido
    com minha família,
  • 2:32 - 2:34
    uma forma completamente errada de agir.
  • 2:34 - 2:37
    Mas eu não fazia ideia.
    Eu só fazia o que tinha aprendido.
  • 2:38 - 2:41
    Por fim, aos 16 anos, me vi sentado
    na cabana do meu melhor amigo,
  • 2:41 - 2:45
    que eu acreditava também ter afastado
    por roubar dele e mentir pra ele.
  • 2:45 - 2:48
    Deitado naquela cabana, sem telhado,
  • 2:48 - 2:51
    com a chuva caindo em cima de mim
    numa poltrona velha,
  • 2:51 - 2:55
    coberta de teias de aranha e sujeira,
    que não era usada havia meses,
  • 2:55 - 2:57
    eu ficava lá sentado com meu braço
    coberto de sangue,
  • 2:57 - 3:01
    sabendo que, se não fizesse alguma coisa,
    eu logo ia acabar me matando.
  • 3:02 - 3:05
    Então, fiz a única coisa
    em que poderia pensar:
  • 3:05 - 3:08
    peguei uma lista telefônica e liguei
    pro serviço de assistência social.
  • 3:08 - 3:10
    Então, fui até lá.
  • 3:10 - 3:14
    Infelizmente, eles não levaram só a mim,
    mas levaram minha mãe junto,
  • 3:14 - 3:18
    ela que tinha sido uma das maiores
    fontes de dor durante minha infância.
  • 3:18 - 3:20
    Como ela tinha passado a vida
    fugindo de um lugar pra outro
  • 3:20 - 3:23
    e lidando com policiais
    e assistentes sociais,
  • 3:23 - 3:26
    ela sabia exatamente o que dizer
    para fazê-los acreditar
  • 3:26 - 3:27
    que eu estava inventando tudo,
  • 3:27 - 3:30
    que era tudo encenação,
    que eu só queria atenção.
  • 3:30 - 3:32
    Aí, eles me mandaram pra casa com ela.
  • 3:32 - 3:36
    Voltando pra casa, ela me disse:
  • 3:36 - 3:40
    "Da próxima vez, faça um serviço melhor:
    eu compro lâminas pra você se matar".
  • 3:40 - 3:43
    Meu coração ficou despedaçado
    naquele momento.
  • 3:43 - 3:46
    Mergulhei de cabeça na escuridão
    que observava há muito tempo.
  • 3:46 - 3:50
    Não tinha mais nada pelo que viver.
    Não tinha literalmente nada a perder.
  • 3:50 - 3:53
    Quando você não tem nada a perder,
    você é capaz de qualquer coisa,
  • 3:53 - 3:55
    e essa é uma situação assustadora.
  • 3:57 - 4:03
    Decidi que eu iria expressar minha raiva
    e fúria extremas arranjando uma arma.
  • 4:03 - 4:06
    Eu ia atacar ou a minha escola
    ou uma praça de alimentação.
  • 4:06 - 4:08
    Não importava qual.
  • 4:08 - 4:11
    Não se tratava das pessoas,
    mas do maior estrago possível,
  • 4:11 - 4:14
    no menor tempo possível,
    com o mínimo de seguranças possível.
  • 4:14 - 4:16
    Ambos os locais eram alvos ideais.
  • 4:16 - 4:19
    Eu gostaria de ter uma história melhor
    sobre como consegui a arma,
  • 4:19 - 4:21
    mas foi como um negócio entre irmãos.
  • 4:21 - 4:24
    Havia jovens delinquentes
    perto da minha escola nos anos 90,
  • 4:24 - 4:28
    quando as gangues ainda eram um grave
    problema nas escolas do norte de Denver.
  • 4:29 - 4:33
    Um deles conhecia minha família
    e havia vendido drogas pra eles antes.
  • 4:33 - 4:36
    Ele sabia que eu não frequentava a escola,
    que apenas ficava por lá.
  • 4:36 - 4:38
    Sabia que não era policial ou algo assim.
  • 4:38 - 4:42
    Eu não sabia nada além do primeiro
    nome dele, e só precisava disso.
  • 4:42 - 4:45
    Sabia que eles tinham acesso a armas.
    Falavam disso o tempo todo.
  • 4:45 - 4:48
    Eu disse: "Oi, me arruma uma arma?"
    "Claro, em troca de erva".
  • 4:48 - 4:49
    "Está bem, me dê três dias".
  • 4:49 - 4:51
    Foi assim.
  • 4:51 - 4:54
    Fiquei esperando receber a arma
    pra poder matar muita gente.
  • 4:55 - 4:58
    Felizmente, eu não estava sozinho
    naquela escuridão.
  • 4:58 - 5:01
    O melhor amigo que tinha me salvado
    quando eu dormia naquela cabana
  • 5:01 - 5:04
    viu a situação em que estava.
  • 5:04 - 5:06
    Embora eu tivesse roubado dele
    e mentido pra ele,
  • 5:06 - 5:09
    pegado suas coisas e arruinado tudo,
  • 5:09 - 5:13
    mesmo assim ele me levou à casa dele
    e me mostrou bondade,
  • 5:13 - 5:14
    com atitudes simples.
  • 5:14 - 5:17
    Não foi o tipo de "bondade"
    em que a pessoa diz:
  • 5:17 - 5:19
    "Posso ajudar em alguma coisa?
    Alguma assistência?
  • 5:19 - 5:21
    Algo que eu possa fazer
    pra te deixar melhor?
  • 5:21 - 5:23
    Como posso te ajudar?"
  • 5:23 - 5:25
    Ele simplesmente se sentou ao meu lado:
  • 5:25 - 5:27
    "Oi, quer comer alguma coisa?
    Vamos ver um filme?"
  • 5:27 - 5:31
    Ele agiu como se fosse um dia normal,
    e me tratou como gente.
  • 5:31 - 5:35
    Quando te tratam como gente
    quando você sequer se sente como humano,
  • 5:35 - 5:38
    isso muda todo o seu mundo,
    e foi o que aconteceu comigo.
  • 5:39 - 5:43
    Com seus atos de bondade, ele me impediu
    de cometer uma atrocidade naquele dia.
  • 5:43 - 5:47
    Se você vir alguém nessa situação,
    precisando de amor, dê-lhe amor.
  • 5:47 - 5:49
    Ame aqueles que você acha
    que menos mereçam
  • 5:49 - 5:51
    porque são os que mais precisam.
  • 5:51 - 5:53
    Vai ajudar a você tanto quanto à pessoa.
  • 5:53 - 5:57
    Estamos num momento muito perigoso
    com essa coisa de armar professores,
  • 5:57 - 6:00
    procurando jovens que possam ser
    uma ameaça nas escolas,
  • 6:00 - 6:02
    e talvez entregá-los à polícia.
  • 6:02 - 6:05
    O que isso fará com um jovem
    na mesma situação que eu há 25 anos,
  • 6:05 - 6:08
    sozinho, deprimido, agredido,
  • 6:08 - 6:12
    abandonado, machucado por dentro,
    e alguém acha que ele é uma ameaça?
  • 6:12 - 6:14
    Ele é entregue à polícia
  • 6:14 - 6:16
    e um mês de dor se torna uma vida
    de problemas com a justiça
  • 6:16 - 6:20
    só porque alguém achou
    que ele seria um problema.
  • 6:20 - 6:22
    Em vez de enxergar esse jovem
    como uma ameaça,
  • 6:22 - 6:25
    enxergue-o como se pudesse
    ser um amigo seu,
  • 6:25 - 6:27
    como se pudesse acolhê-lo.
  • 6:27 - 6:30
    Mostre a ele que é um dia normal.
    Mostre que ele tem valor.
  • 6:30 - 6:34
    Mostre que ele pode sobreviver à dor,
    mesmo que ela seja intensa,
  • 6:34 - 6:37
    e que há uma luz no fim do túnel.
  • 6:38 - 6:39
    Eu encontrei a minha luz.
  • 6:39 - 6:42
    Hoje sou feliz e tenho uma família.
    Tenho quatro filhos.
  • 6:42 - 6:44
    Minha esposa e filha estão na plateia.
  • 6:44 - 6:46
    (Aplausos)
  • 6:56 - 6:58
    E ainda por cima,
  • 6:58 - 7:01
    o amigo que salvou minha vida
    também está na plateia.
  • 7:01 - 7:03
    Amizade verdadeira nunca acaba.
  • 7:03 - 7:05
    (Aplausos)
  • 7:10 - 7:14
    Temos que mostrar amor às pessoas
    que achamos menos merecerem.
  • 7:14 - 7:16
    Obrigado.
  • 7:16 - 7:18
    (Aplausos) (Vivas)
Title:
Quase cometi um atentado armado contra uma escola | Aaron Stark | TEDxBoulder
Description:

Depois de crescer em um ambiente de dor e violência, Aaron Stark quase cometeu uma atrocidade, mas atitudes simples de bondade mudaram sua vida para sempre. "Minha missão é mostrar às pessoas que, por pior que uma situação pareça, existe luz no fim do túnel. Não estamos sós".

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
07:29

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions