Quase cometi um atentado contra uma escola. Em 1996, em Denver, Colorado, eu era aluno da North High. Num momento de dor e raiva, quase cometi uma atrocidade terrível. Desde criança aprendi que existe uma estranha sensação de conforto e calma na escuridão. Eu era sempre o novato. Minha família era violenta e agressiva; meus pais, viciados. Nos mudávamos o tempo todo, passei por 30 ou 40 escolas, como se mudasse de escola a cada duas semanas. Éramos acordados às quatro da manhã pela polícia, e fugíamos país afora, e eu acabava numa nova escola por duas semanas e, aí, tinha que fazer tudo de novo alguns dias depois. Eu era sempre o novato e, como tinha uma família desestruturada, as coisas só pioravam pelo fato de eu cheirar muito mal por nunca tomar banho e por não ter nenhuma roupa limpa. Minhas roupas eram sujas e rasgadas. Eu tinha problemas com peso. Eu era inteligente. Gostava de quadrinhos numa época em que as crianças não gostavam de gente que gostava tanto de quadrinhos. Sempre que eu chegava numa escola nova, encontrava novos valentões, que se aproximavam e me davam tiros de arpão como se eu fosse uma baleia, ou me jogavam comida na cabeça por eu ser "gordo demais". Eu sofria bullying não só na escola. Também sofria muito em casa. Praticamente todos em minha vida me diziam que eu era inútil. Quando te dizem isso o tempo todo, você acaba acreditando. Aí, você vai fazer de tudo pra que os outros acreditem nisso também. Foi o que fiz. Me envolvi naquela escuridão como num cobertor, num escudo, que mantinha perto os poucos que concordavam comigo, afastando os demais. Sempre ouvia dizer que havia pessoas boas e más. Eu devia ser uma das más. Então, achei que tinha que fazer o que tinha que fazer. Aí, me tornei bem agressivo. Aos 12, 13 anos de idade, comecei a curtir muito "heavy metal" e, nos shows, ficava na beira dos palcos, pulando como um louco. As agressões pareciam nunca ter fim. Comecei a me cortar aos 14 ou 15 anos porque entendi que havia todas aquelas emoções extremas em minha vida que eu não podia controlar e eu tinha que descobrir uma forma de ter controle sobre algo. Aí, passei a me cortar. Tenho as cicatrizes até hoje. Aos 15, 16 anos, acabei indo morar na rua. Meu pais tinham me expulsado de casa porque eu não queria mais lidar com as brigas e embriaguez deles. Passei a morar na rua. Achei que tinha afastado todos os meus amigos. Tinha afastado todos, mentindo pra eles e roubando deles, agindo da forma que tinha aprendido com minha família, uma forma completamente errada de agir. Mas eu não fazia ideia. Eu só fazia o que tinha aprendido. Por fim, aos 16 anos, me vi sentado na cabana do meu melhor amigo, que eu acreditava também ter afastado por roubar dele e mentir pra ele. Deitado naquela cabana, sem telhado, com a chuva caindo em cima de mim numa poltrona velha, coberta de teias de aranha e sujeira, que não era usada havia meses, eu ficava lá sentado com meu braço coberto de sangue, sabendo que, se não fizesse alguma coisa, eu logo ia acabar me matando. Então, fiz a única coisa em que poderia pensar: peguei uma lista telefônica e liguei pro serviço de assistência social. Então, fui até lá. Infelizmente, eles não levaram só a mim, mas levaram minha mãe junto, ela que tinha sido uma das maiores fontes de dor durante minha infância. Como ela tinha passado a vida fugindo de um lugar pra outro e lidando com policiais e assistentes sociais, ela sabia exatamente o que dizer para fazê-los acreditar que eu estava inventando tudo, que era tudo encenação, que eu só queria atenção. Aí, eles me mandaram pra casa com ela. Voltando pra casa, ela me disse: "Da próxima vez, faça um serviço melhor: eu compro lâminas pra você se matar". Meu coração ficou despedaçado naquele momento. Mergulhei de cabeça na escuridão que observava há muito tempo. Não tinha mais nada pelo que viver. Não tinha literalmente nada a perder. Quando você não tem nada a perder, você é capaz de qualquer coisa, e essa é uma situação assustadora. Decidi que eu iria expressar minha raiva e fúria extremas arranjando uma arma. Eu ia atacar ou a minha escola ou uma praça de alimentação. Não importava qual. Não se tratava das pessoas, mas do maior estrago possível, no menor tempo possível, com o mínimo de seguranças possível. Ambos os locais eram alvos ideais. Eu gostaria de ter uma história melhor sobre como consegui a arma, mas foi como um negócio entre irmãos. Havia jovens delinquentes perto da minha escola nos anos 90, quando as gangues ainda eram um grave problema nas escolas do norte de Denver. Um deles conhecia minha família e havia vendido drogas pra eles antes. Ele sabia que eu não frequentava a escola, que apenas ficava por lá. Sabia que não era policial ou algo assim. Eu não sabia nada além do primeiro nome dele, e só precisava disso. Sabia que eles tinham acesso a armas. Falavam disso o tempo todo. Eu disse: "Oi, me arruma uma arma?" "Claro, em troca de erva". "Está bem, me dê três dias". Foi assim. Fiquei esperando receber a arma pra poder matar muita gente. Felizmente, eu não estava sozinho naquela escuridão. O melhor amigo que tinha me salvado quando eu dormia naquela cabana viu a situação em que estava. Embora eu tivesse roubado dele e mentido pra ele, pegado suas coisas e arruinado tudo, mesmo assim ele me levou à casa dele e me mostrou bondade, com atitudes simples. Não foi o tipo de "bondade" em que a pessoa diz: "Posso ajudar em alguma coisa? Alguma assistência? Algo que eu possa fazer pra te deixar melhor? Como posso te ajudar?" Ele simplesmente se sentou ao meu lado: "Oi, quer comer alguma coisa? Vamos ver um filme?" Ele agiu como se fosse um dia normal, e me tratou como gente. Quando te tratam como gente quando você sequer se sente como humano, isso muda todo o seu mundo, e foi o que aconteceu comigo. Com seus atos de bondade, ele me impediu de cometer uma atrocidade naquele dia. Se você vir alguém nessa situação, precisando de amor, dê-lhe amor. Ame aqueles que você acha que menos mereçam porque são os que mais precisam. Vai ajudar a você tanto quanto à pessoa. Estamos num momento muito perigoso com essa coisa de armar professores, procurando jovens que possam ser uma ameaça nas escolas, e talvez entregá-los à polícia. O que isso fará com um jovem na mesma situação que eu há 25 anos, sozinho, deprimido, agredido, abandonado, machucado por dentro, e alguém acha que ele é uma ameaça? Ele é entregue à polícia e um mês de dor se torna uma vida de problemas com a justiça só porque alguém achou que ele seria um problema. Em vez de enxergar esse jovem como uma ameaça, enxergue-o como se pudesse ser um amigo seu, como se pudesse acolhê-lo. Mostre a ele que é um dia normal. Mostre que ele tem valor. Mostre que ele pode sobreviver à dor, mesmo que ela seja intensa, e que há uma luz no fim do túnel. Eu encontrei a minha luz. Hoje sou feliz e tenho uma família. Tenho quatro filhos. Minha esposa e filha estão na plateia. (Aplausos) E ainda por cima, o amigo que salvou minha vida também está na plateia. Amizade verdadeira nunca acaba. (Aplausos) Temos que mostrar amor às pessoas que achamos menos merecerem. Obrigado. (Aplausos) (Vivas)