Está na hora de estourar a bolha do mundo acadêmico | Mariana Cerdeira | TEDxHUBerlin
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0:16 - 0:22Quem aqui nasceu entre a década
de 1980 e início dos anos 2000? -
0:23 - 0:24Certo, a maioria.
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0:25 - 0:28Então, a maioria aqui, inclusive eu,
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0:28 - 0:32faz parte da geração dos "millennials",
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0:33 - 0:35ou "geração Y".
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0:36 - 0:42Desconfio que "geração Y"
significa "geração incompreendida". -
0:44 - 0:46(Risos)
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0:46 - 0:50Um dos esteriótipos sobre a geração Y
é o de que aprendemos bem cedo -
0:50 - 0:53que poderíamos ser tudo que quiséssemos.
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0:54 - 0:57Ao contrário das gerações
dos nossos pais e avós, -
0:57 - 0:59nós da geração Y tivemos o privilégio
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0:59 - 1:02de não termos que lidar
com guerras, nem recessão, -
1:02 - 1:05nem ter que migrar
para encontrar um emprego. -
1:06 - 1:09Não, a vida finalmente
estava relativamente estável, -
1:09 - 1:12então fomos criados para sonhar alto.
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1:12 - 1:15"O céu é o limite.
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1:15 - 1:17O mundo é o seu playground."
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1:19 - 1:20Então,
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1:20 - 1:24quando eu tinha 17 anos,
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1:24 - 1:26eu estava concluindo
o ensino médio no Brasil, -
1:27 - 1:28meu país de origem,
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1:28 - 1:33enfrentando a questão que muitos
adolescentes da geração Y enfrentaram: -
1:34 - 1:37"O que eu quero fazer quando crescer?"
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1:37 - 1:42Sabendo que eu provavelmente não
encontraria essa resposta ainda tão jovem, -
1:42 - 1:47decidi responder a uma pergunta
mais simples naquele momento: -
1:48 - 1:52"O que quero estudar
na faculdade no ano que vem?" -
1:52 - 1:55Uma vez na faculdade, vou pensar
no que quero fazer depois, -
1:55 - 1:58e repetir esse processo;
um passo de cada vez. -
1:59 - 2:00Parecia uma boa estratégia.
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2:01 - 2:03Por acaso vocês sempre
souberam, desde pequenos, -
2:03 - 2:05o que queriam estudar na faculdade?
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2:06 - 2:07Caso sim, eu invejo vocês,
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2:07 - 2:11mas minha linha
de pensamento foi mais assim: -
2:12 - 2:14"Bem, eu gosto de biologia na escola,
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2:15 - 2:16mas, pra ser sincera,
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2:16 - 2:20não tenho interesse em estudar
plantas e insetos, -
2:20 - 2:23e ser médica não é bem o que eu quero".
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2:24 - 2:27Então, pensei em começar
uma faculdade em Biomedicina, -
2:27 - 2:29para estudar biologia humana.
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2:29 - 2:31Parecia fazer sentido.
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2:32 - 2:34Logo depois que comecei,
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2:34 - 2:38eu vi que minha desconfiança
da época de ensino médio era verdade: -
2:38 - 2:41ciência era incrível!
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2:42 - 2:46O corpo humano funciona
de formas extraordinárias! -
2:46 - 2:52É incrível quanta coisa acontece dentro
de uma minúscula célula do nosso corpo. -
2:53 - 2:56Eu estava gostando muito
das disciplinas da graduação, -
2:56 - 2:58e tinha notas muito boas.
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2:58 - 3:00Então, pensei: "Devo estar
no caminho certo". -
3:01 - 3:04Mas algo ainda me incomodava.
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3:04 - 3:08Havia chegado a hora de me perguntar
o que eu faria depois. -
3:08 - 3:13Mas todos a quem perguntava quais eram
minhas opções depois de formada -
3:13 - 3:15me diziam a mesma coisa:
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3:16 - 3:18"Não existem 'opções'.
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3:19 - 3:21Existe 'uma' opção:
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3:22 - 3:25Depois da faculdade, você faz um mestrado;
-
3:25 - 3:28depois do mestrado, você faz um doutorado;
-
3:28 - 3:34pois o objetivo máximo é se tornar
professora universitária e pesquisadora." -
3:37 - 3:41Todos me diziam isso
porque era só isso que conheciam. -
3:41 - 3:44Mas como assim "só existe 'uma' opção"?
-
3:44 - 3:47Sou da geração Y; me disseram
que o céu era o limite. -
3:49 - 3:51Pra mim, era tudo bem
fazer mestrado e doutorado -
3:51 - 3:54Eu adorava ciência
e queria me aprofundar nela, -
3:54 - 3:56e continuar a fazer
coisas legais no laboratório. -
3:56 - 3:59Mas a parte sobre me tornar professora
universitária realmente me preocupava -
4:00 - 4:05porque, naquela época, eu já sabia
que não queria fazer pesquisa pra sempre. -
4:06 - 4:08Então, fiz meu mestrado e meu doutorado,
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4:08 - 4:10ainda apaixonada pela ciência,
-
4:10 - 4:14mas sempre me sentindo como a ovelha
negra do meu programa de pós-graduação, -
4:15 - 4:18aquela que não compartilhava
do sonho ser acadêmica, -
4:19 - 4:21a diferente.
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4:22 - 4:24Então, fui em frente, a princípio sozinha,
-
4:24 - 4:28quase envergonhada,
quase que pedindo desculpas, -
4:28 - 4:30tentando encontrar a resposta
para a minha nova pergunta: -
4:31 - 4:36que tipos de emprego eu poderia ter
que não tivessem a ver com experimentos, -
4:36 - 4:38mas que ainda tivessem a ver com ciência?
-
4:39 - 4:42Então passei anos fazendo
minha própria pesquisa, -
4:42 - 4:46tendo um projeto extra,
paralelo à minha tese, -
4:46 - 4:49lendo e conversando com muitas pessoas.
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4:49 - 4:51Comecei a encontrar cada vez mais colegas
-
4:51 - 4:54que estavam em busca da resposta
para essa mesma pergunta. -
4:54 - 4:56Eu não era a única, afinal.
-
4:57 - 4:59Havia algumas outras
ovelhas negras iguais a mim. -
5:00 - 5:03E descobri que existem
diversos tipos de trabalho -
5:03 - 5:06que têm como base
a ciência e a tecnologia. -
5:06 - 5:08Dá pra trabalhar
com consultoria empresarial, -
5:08 - 5:10gerenciamento de projetos,
jornalismo científico, -
5:10 - 5:13saúde digital e tecnologia científica,
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5:13 - 5:15editorial de um jornal científico,
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5:15 - 5:16políticas públicas,
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5:16 - 5:18registro de patentes
e propriedade intelectual, -
5:18 - 5:19saúde pública;
-
5:19 - 5:22empreendedorismo,
abrir um negócio próprio ... -
5:22 - 5:24Só pra citar alguns exemplos.
-
5:25 - 5:29De repente, passei de "preocupada
por não haver nenhuma opção" -
5:29 - 5:33para "perplexa com as dezenas
de possibilidades". -
5:34 - 5:36E me perguntei:
-
5:36 - 5:40"Por que nem todos os alunos
de pós-graduação sabem disso?" -
5:40 - 5:44Por que levei tanto tempo
pra descobrir essa verdade? -
5:45 - 5:51E percebi que é porque
o mundo acadêmico é uma bolha. -
5:52 - 5:55Às vezes, parece que as pessoas
que estão nessa bolha -
5:55 - 5:58não têm tanto contato
com o mundo exterior. -
5:59 - 6:02Há pouco espaço para a luz do dia
ou para férias nessa bolha. -
6:02 - 6:05Por isso, os alunos
de pós-graduação são tão pálidos. -
6:06 - 6:10Uma dieta à base de macarrão instantâneo
e café também não ajuda. -
6:11 - 6:15Sei disso porque vivi nessa bolha
durante dez anos, -
6:15 - 6:20e percebi que minha falta de acesso
a informação vinda de fora da bolha -
6:20 - 6:23se devia à cultura do mundo acadêmico.
-
6:26 - 6:29Um dos aspectos fundamentais
da cultura acadêmica -
6:29 - 6:31é que a maioria das pessoas ainda acredita
-
6:31 - 6:34que o principal objetivo
de se cursar um doutorado -
6:34 - 6:37é se tornar professor
universitário e pesquisador. -
6:37 - 6:40Bem, historicamente, isso é verdade.
-
6:40 - 6:42Era assim no passado;
-
6:42 - 6:45foi assim na geração dos meus avós.
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6:45 - 6:49E ainda é verdade que, se quiser
seguir a vida acadêmica hoje, -
6:49 - 6:51você precisa cursar um doutorado.
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6:51 - 6:53E um um pós-doutorado.
-
6:53 - 6:55E um segundo pós-doutorado.
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6:56 - 6:58E às vezes um terceiro ...
-
6:58 - 7:03Mas você não precisa necessariamente
ser pesquisador acadêmico pra vida toda -
7:03 - 7:05só porque fez um mestrado e um doutorado.
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7:06 - 7:08Na verdade, a maioria dos doutores -
-
7:08 - 7:11de 90 a 99% deles, dependendo do país -
-
7:11 - 7:15acabam em outras áreas, fora do mundo
acadêmico, depois dos estudos. -
7:16 - 7:20Então, seguir a carreira acadêmica
não é mais o "caminho clássico". -
7:20 - 7:23Esse tornou-se o "caminho alternativo".
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7:24 - 7:28Mas mesmo que fazer outra coisa
seja o caminho mais comum, -
7:28 - 7:33ainda existe uma cultura de desestímulo
se você quiser deixar o mundo acadêmico, -
7:33 - 7:37o que contribuiu pra que eu me sentisse
como uma ovelha negra enquanto estudava. -
7:38 - 7:42Já ouvi acadêmicos
chamarem de quatro coisas -
7:42 - 7:43aqueles que deixam a bolha acadêmica
-
7:45 - 7:46"Desperdício de tempo."
-
7:47 - 7:52Para eles, deixar o mundo acadêmico
é jogar pela janela todo o tempo e esforço -
7:52 - 7:55que você aplicou aprendendo
ciência durante tantos anos. -
7:56 - 7:59Mas uma carreira
fora do mundo acadêmico -
7:59 - 8:02não significa que ela não tenha
a ver com pesquisa. -
8:03 - 8:07Também te chamam de "traidor".
-
8:08 - 8:10Esse é meu favorito.
-
8:11 - 8:14"A universidade investiu
tanto dinheiro na sua formação, -
8:14 - 8:18e agora você está dando as costas
para a pesquisa acadêmica." -
8:19 - 8:22Devemos ser eternamente gratos
aos nossos programas de pós-graduação, -
8:22 - 8:25mas não me recordo de ter
assinado nenhum contrato vitalício -
8:25 - 8:27de pesquisadora.
-
8:29 - 8:33Também te chamam
de "cientista fracassado". -
8:34 - 8:36Ai!
-
8:37 - 8:39Pois é, se você está deixando
a bolha do mundo acadêmico, -
8:39 - 8:43deve ser porque você não foi bom
o bastante para ter sucesso dentro dela. -
8:45 - 8:48Já inclusive ouvi um acadêmico dizer,
quase que como se lamentando: -
8:49 - 8:51"Já tive um aluno brilhante
-
8:51 - 8:54que mais tarde foi
trabalhar no setor privado. -
8:54 - 8:56Não sei onde foi que errei".
-
8:57 - 9:01Bem, talvez esse aluno
tenha saído porque quis, -
9:01 - 9:03não porque teve que sair.
-
9:05 - 9:07Por fim, você é chamado de "ganancioso".
-
9:08 - 9:12Sim, porque o setor privado
paga melhor do que as universidades. -
9:13 - 9:17Na verdade, o setor privado
paga salários razoáveis, -
9:17 - 9:20apropriados para profissionais
com alto grau de formação. -
9:20 - 9:23É o mundo acadêmico
que não paga o bastante. -
9:25 - 9:29Eu não entendo porque os acadêmicos
ficam tanto na defensiva -
9:29 - 9:32em relação a alunos de pós-graduação
que buscam empregos não acadêmicos. -
9:33 - 9:36Não há empregos suficientes
no mundo acadêmico mesmo! -
9:36 - 9:41O número de doutores recém-formados
disparou nos últimos anos, -
9:41 - 9:45enquanto o número de cargos acadêmicos
permaneceu praticamente o mesmo. -
9:45 - 9:49Hoje, as universidades simplesmente
não conseguem empregar tantos doutores -
9:49 - 9:51como pesquisadores permanentes.
-
9:52 - 9:53Então,
-
9:53 - 9:55se você quiser deixar o mundo acadêmico,
-
9:55 - 10:00você é um Judas ganancioso e
fracassado que desperdiçou tempo. -
10:01 - 10:04Mas, se você quiser ficar,
-
10:04 - 10:06não há emprego pra você!
-
10:08 - 10:12Para solucionar esse paradoxo acadêmico,
existem algumas opções. -
10:13 - 10:18Uma delas é limitar a quantidade de alunos
aceitos em programas de pós-graduação, -
10:18 - 10:21para tentar controlar o número
de novos doutores se formando, -
10:21 - 10:26mas eu particularmente não gosto da ideia
de restringir o acesso à educação. -
10:28 - 10:33Uma segunda forma, óbvia,
é criar mais cargos de pesquisador, -
10:33 - 10:36contratar mais pessoas
como cientistas permanentes. -
10:37 - 10:41Isso já ajudaria muito,
mas não seria suficiente. -
10:42 - 10:44Então, precisamos encarar os fatos
-
10:44 - 10:47e lidar com essa questão
de uma perspectiva diferente. -
10:49 - 10:53Os programas de pós-graduação
precisam começar a preparar seus alunos -
10:53 - 10:57para tarefas que eles realmente
vão realizar no futuro. -
10:57 - 11:02As empresas querem contratar doutores
por seu profundo conhecimento cientifico -
11:02 - 11:05e sua capacidade de resolver
problemas e aprender rápido. -
11:05 - 11:10E os pós-graduandos estão sendo treinados
pra se tornarem excelentes investigadores, -
11:10 - 11:12o que é ótimo,
-
11:12 - 11:15mas, se a maioria deles vai acabar
trabalhando no setor privado, -
11:15 - 11:19eles também deveriam ser treinados
para se tornarem ótimos administradores, -
11:19 - 11:21negociadores,
-
11:21 - 11:23comunicadores,
-
11:23 - 11:24líderes.
-
11:25 - 11:28Os programas de pós-graduação
precisam começar a oferecer, -
11:28 - 11:30pelo menos de forma opcional,
-
11:30 - 11:32cursos sobre conceitos empresariais,
-
11:32 - 11:34empreendedorismo,
-
11:34 - 11:37gestão de projetos,
marketing, finanças ... -
11:37 - 11:43Está na hora de trazermos
um pouco do MBA para o doutorado. -
11:45 - 11:47Além disso, os alunos
de pós-graduação precisam receber -
11:48 - 11:50mais apoio e orientação de carreira.
-
11:50 - 11:52Muitos deles sequer sabem
-
11:52 - 11:55que suas chances de conseguir
um cargo acadêmico é mínima. -
11:56 - 11:58Logo no início de seus cursos,
-
11:58 - 12:02eles precisam ser constantemente
expostos a, em vez de privados de, -
12:02 - 12:05todas as possibilidades
além da bolha do mundo acadêmico -
12:05 - 12:10pra que posam tomar uma decisão
consciente e se prepararem pra ela, -
12:10 - 12:13e não simplesmente aceitar
qualquer coisa que apareça, -
12:13 - 12:19pra que só façam um pós-doutorado
se realmente decidirem fazê-lo, -
12:19 - 12:23não por não saberem o que mais fazer
e ligarem o piloto-automático. -
12:26 - 12:29Os alunos também precisam
ser mais proativos -
12:29 - 12:31em obter informações sobre carreira.
-
12:31 - 12:33Sei que é difícil ...
-
12:33 - 12:37Não temos tempo pra nada
que não seja nossas teses -
12:37 - 12:41e, quase sempre, simplesmente
preferimos não pensar sobre o futuro. -
12:42 - 12:44Mas, sabe,
-
12:44 - 12:46ele vai chegar de qualquer forma.
-
12:46 - 12:49Sua formação acadêmica
não é toda a sua carreira. -
12:49 - 12:51É a sua base.
-
12:52 - 12:56Nenhuma graduação, mestrado
ou doutorado dura pra sempre, -
12:56 - 12:59embora muitas vezes pareçam durar.
-
13:00 - 13:02São cargos temporários,
-
13:02 - 13:05e logo temos que descobrir
qual será nosso próximo passo. -
13:05 - 13:07Você não precisa fazer isso sozinho.
-
13:07 - 13:11Você pode se juntar com colegas
que estão no mesmo barco. -
13:11 - 13:14Foi assim que criamos
a Career Development Initiative, -
13:14 - 13:17a CDI, aqui em Berlim,
-
13:17 - 13:20que é organizada
por alunos, ex-alunos -
13:20 - 13:24e um professor que reconhece
a necessidade de uma mudança cultural. -
13:24 - 13:26Eles ainda são raros, mas existem.
-
13:27 - 13:31Juntos, usamos o tempo
que nenhum de nós tem - -
13:31 - 13:32noites, fins de semana -
-
13:32 - 13:37para organizar eventos,
programas de estudo e estágio, -
13:37 - 13:41para ajudar alunos a encontrar empregos
onde se sintam realizados e reconhecidos, -
13:41 - 13:43dentro ou fora da bolha.
-
13:43 - 13:45Fico feliz por compartilhar com os alunos
-
13:45 - 13:49o que aprendi sobre opções
de carreira após o doutorado -
13:49 - 13:51para que não se sintam
como ovelhas negras também. -
13:54 - 13:57Para que tudo isso funcione,
-
13:57 - 14:00pra que alunos de pós-graduação
recebam mais informação e capacitação -
14:00 - 14:04e se prepararem para a transição
para o mercado de trabalho, -
14:04 - 14:09seus professores-orientadores
precisam apoiá-los. -
14:09 - 14:12Se você for professor e não puder
ser um mentor de carreira - -
14:12 - 14:16porque, afinal, você também
faz parte da bolha - -
14:16 - 14:21pelo menos não desestimule seus alunos.
-
14:21 - 14:24Deixe que eles participem de cursos
e atividades extracurriculares, -
14:24 - 14:28mesmo que não sejam diretamente
relacionadas à pesquisa. -
14:28 - 14:32Muito provavelmente, isso não vai
interferir na qualidade de suas teses, -
14:32 - 14:36e pode fazer uma grande
diferença no futuro deles. -
14:36 - 14:41Tenhamos em mente que a maioria deles
buscarão empregos não acadêmicos -
14:41 - 14:44e que isso não é sinal de fracasso.
-
14:46 - 14:50Sei que, se você não faz parte da bolha,
-
14:50 - 14:52talvez esteja pensando:
-
14:53 - 14:56"Tá bom, a vida é difícil
para os alunos de pós-graduação. -
14:56 - 14:58Estou 'supercomovido'!"
-
14:59 - 15:02"Foi escolha deles seguir esse caminho."
-
15:03 - 15:05"Sou advogado. Por que devo
me importar com isso?" -
15:06 - 15:08Vou explicar por que
você deve se importar. -
15:09 - 15:14A maioria das inovações,
das ideias que melhoram a sociedade - -
15:14 - 15:17curas para doenças,
-
15:17 - 15:19soluções para a fome no mundo,
-
15:19 - 15:21as tecnologias mais recentes -
-
15:21 - 15:23nascem em universidades.
-
15:24 - 15:28E a maioria das pessoas que trabalham
nisso são alunos de pós-graduação. -
15:28 - 15:32Claro, professores-orientadores
gerenciam e supervisionam tudo, -
15:32 - 15:37mas o trabalho "sujo",
pesado e do dia a dia -
15:37 - 15:39é feito pelos pós-graduandos.
-
15:40 - 15:43Se a pesquisa é como
construir um arranha-céu, -
15:43 - 15:46eles são os milhares de construtores.
-
15:46 - 15:49Se ela é uma guerra, eles são o exército.
-
15:50 - 15:52Se ela é Game of Thrones,
-
15:52 - 15:54eles são os "white walkers".
-
15:55 - 15:57São inclusive tão pálidos quanto.
-
15:57 - 15:58(Risos)
-
15:58 - 16:03O progresso da ciência e da inovação
depende dos alunos de pós-graduação. -
16:05 - 16:07Então, vamos cuidar bem deles,
-
16:07 - 16:12valorizá-los e dar a eles orientação
de carreira e apoio a saúde mental. -
16:12 - 16:16Vamos encorajá-los a serem
o melhor que puderem ser. -
16:16 - 16:18A ciência é incrível,
-
16:18 - 16:23e ela pode melhorar muito a nossa vida,
se feita por paixão em vez de por pressão. -
16:24 - 16:27Precisamos de uma mudança
na cultura do mundo acadêmico. -
16:27 - 16:30Antes de mais nada, vamos parar de pensar:
-
16:30 - 16:34"Hum, as coisas não são perfeitas,
mas é assim mesmo, sempre foi assim". -
16:34 - 16:37Não, quando sairmos daqui hoje,
-
16:37 - 16:40não vamos mais reproduzir
o discurso antiquado -
16:40 - 16:44de que o doutorado é uma passagem
só de ida para a "Academicolândia", -
16:44 - 16:46e vamos começar a abrir os olhos
-
16:46 - 16:50para todas as coisas que um graduado
da geração Y é capaz de fazer. -
16:50 - 16:53Se ele ou ela conseguir largar o celular.
-
16:56 - 17:00Os acadêmicos precisam começar a se
aproximar mais das pessoas fora da bolha -
17:00 - 17:03e a apoiar seus colegas.
-
17:03 - 17:06Os cursos de pós-graduação
precisam ouvir mais os seus alunos -
17:06 - 17:09e se adaptar às necessidades deles.
-
17:10 - 17:14Vamos estourar essa bolha e trazer
o mundo acadêmico para o século 21. -
17:16 - 17:20Acima de tudo, é fundamental que estejamos
conscientes dessas questões -
17:20 - 17:23e que falemos sobre elas,
como estamos fazendo aqui. -
17:24 - 17:27Vamos manter um olhar crítico
sobre o sistema em que vivemos, -
17:27 - 17:30e, sim, mudá-lo, se ele precisar melhorar.
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17:32 - 17:33Afinal,
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17:34 - 17:37foi isso que a universidade
nos ensinou a fazer. -
17:39 - 17:41(Aplausos)
- Title:
- Está na hora de estourar a bolha do mundo acadêmico | Mariana Cerdeira | TEDxHUBerlin
- Description:
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Em sua palestra, a Dra. Mariana Cerdeira revela o que acontece nos bastidores da pesquisa científica, e fala sobre a necessidade de uma mudança cultural no mundo acadêmico.
Mariana Cerdeira é doutora em Neurociências Médicas pela Charité e Humboldt University, é consultora de estratégia em biofarma na Catenion, em Berlim. Desde o início de seu doutorado, ela participa de projetos que visam a melhorar a orientação profissional para alunos de pós-graduação, promover o alcance público da ciência e conscientizar as pessoas sobre problemas existentes no meio acadêmico.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:45