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Tornar justo o mercado de trabalho global

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    Este telemóvel
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    iniciou o seu caminho
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    numa mina artesanal
    na região este do Congo.
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    É explorada por grupos armados
    usando crianças escravas,
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    aquilo a que o Conselho de Segurança
    da ONU chama "minérios de sangue",
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    que viajam até alguns dos componentes
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    que acabam numa fábrica
    em Shinjin, na China.
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    Nessa fábrica suicidaram-se
    mais de uma dúzia de pessoas
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    durante este ano.
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    Um homem morreu depois de trabalhar
    um turno de 36 horas.
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    Todos nós adoramos chocolate.
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    Compramo-los para os nossos filhos.
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    80% do cacau vem
    da Costa do Marfim e do Gana
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    e a colheita é feita por crianças.
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    Na Costa do Marfim temos um enorme
    problema de escravatura infantil.
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    Os traficantes levam as crianças
    de outras zonas de conflito
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    para irem trabalhar
    nas plantações de café.
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    A heparina, um anticoagulante,
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    um produto farmacêutico,
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    começa em oficinas artesanais
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    como esta na China,
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    porque a substância ativa
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    vem dos intestinos de porcos.
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    Provavelmente já todos ouviram falar
    ou viram o filme "Diamante de sangue".
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    Esta é uma mina no Zimbabué
    numa foto atual.
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    Algodão: o Uzbequistão é o segundo
    maior exportador mundial de algodão.
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    Todos os anos, quando é época
    da colheita de algodão,
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    o governo fecha as escolas,
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    põe os miúdos em autocarros
    e leva-os para os campos de algodão
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    para passarem três semanas
    na colheita do algodão.
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    É trabalho infantil forçado
    à escala institucional.
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    Todos estes produtos provavelmente
    acabam a sua vida
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    numa lixeira como esta em Manila.
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    Este lugares, estas origens,
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    representam falhas na governação.
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    Esta é a descrição mais bem-educada
    que tenho para isso.
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    Estas são as poças escuras
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    onde começam as cadeias
    de distribuição globais,
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    as cadeias de distribuição globais
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    que nos trazem
    os nossos produtos de marca favoritos.
  • 1:58 - 2:00
    Algumas destas falhas de governação
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    são dirigidas por estados marginais.
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    Alguns já não são estados de forma alguma,
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    são estados falhados.
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    Alguns deles são apenas países
    onde se acredita
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    que a desregulação ou nenhuma regulação
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    é a melhor forma de captar investimentos,
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    de promover o comércio.
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    De qualquer forma, eles proporcionam-nos
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    um enorme dilema moral e ético.
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    Eu sei que nenhum de nós quer ser cúmplice
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    depois do ato consumado
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    da violação de Direitos Humanos
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    numa cadeia de distribuição global.
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    Porém, de momento,
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    a maior parte das empresas envolvidas
    nessas cadeias de distribuição
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    não têm forma de nos assegurar
  • 2:41 - 2:44
    que ninguém teve
    de hipotecar o seu futuro,
  • 2:44 - 2:46
    ninguém teve
    de sacrificar os seus direitos
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    para nos trazer o nosso produto
    de marca favorito.
  • 2:51 - 2:54
    Eu não vim aqui hoje para vos deprimir
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    com o estado atual
    das cadeias de distribuição globais.
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    Precisamos de encarar a realidade.
  • 2:59 - 3:01
    Precisamos de reconhecer a gravidade
  • 3:01 - 3:04
    do défice de direitos que nós temos.
  • 3:04 - 3:06
    Isto é uma república independente,
  • 3:06 - 3:08
    provavelmente um estado falhado.
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    Definitivamente
    não é um estado democrático.
  • 3:13 - 3:14
    Neste momento,
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    esta república independente
    da cadeia de distribuição
  • 3:17 - 3:21
    não está a ser governada
    de uma forma que nos garanta
  • 3:21 - 3:24
    que podemos tomar parte
    num comércio ou num consumo éticos.
  • 3:26 - 3:28
    Isto não é uma novidade.
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    Vocês viram os documentários
  • 3:29 - 3:32
    sobre fábricas de miséria,
    onde se produz vestuário
  • 3:32 - 3:34
    por todo o mundo,
    mesmo em países desenvolvidos.
  • 3:34 - 3:36
    Se quiserem ver uma fábrica de miséria
  • 3:36 - 3:39
    venham ter comigo
    a Madison Square Garden.
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    Eu levo-vos a uma rua e mostro-vos
    uma fábrica de miséria chinesa.
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    Vejam o exemplo da heparina.
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    É um produto farmacêutico.
  • 3:47 - 3:50
    Vocês esperam que a cadeia de distribuição
    que a leva até ao hospital,
  • 3:50 - 3:53
    seja impecavelmente limpa.
  • 3:53 - 3:55
    O problema é que a substância ativa
  • 3:55 - 3:57
    — como eu já disse antes —
  • 3:57 - 3:59
    vem dos porcos.
  • 3:59 - 4:04
    O principal fornecedor nos EUA
    dessa substância ativa
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    decidiu há uns anos mudar-se para a China
  • 4:07 - 4:10
    porque a China é
    o maior fornecedor mundial de porcos.
  • 4:11 - 4:12
    Mas a fábrica na China
  • 4:12 - 4:15
    — que provavelmente é bastante limpa —
  • 4:15 - 4:17
    está a obter todos os ingredientes
  • 4:17 - 4:19
    de pequenos matadouros caseiros
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    onde pequenas empresas familiares
    abatem porcos
  • 4:22 - 4:24
    e extraem o ingrediente.
  • 4:24 - 4:26
    Aqui há uns anos tivemos um escândalo,
  • 4:26 - 4:28
    que vitimou cerca de 80 pessoas
    no mundo inteiro,
  • 4:28 - 4:30
    por causa de contaminantes
  • 4:30 - 4:33
    que penetraram na cadeia
    de distribuição da heparina.
  • 4:33 - 4:36
    Pior, alguns dos fornecedores
  • 4:36 - 4:39
    descobriram que a podiam
    substituir por um produto
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    que nos testes aparentava ser heparina.
  • 4:43 - 4:46
    Este substituto custa 4,5 dólares por kg.,
  • 4:46 - 4:49
    enquanto que a verdadeira heparina
    — o verdadeiro ingrediente —
  • 4:49 - 4:52
    custa 450 dólares por kg.
  • 4:52 - 4:54
    Não havia como hesitar.
  • 4:54 - 4:57
    O problema é que isto matou mais gente.
  • 4:57 - 4:59
    Por isso, devem estar a perguntar:
  • 4:59 - 5:03
    "Como é que a FDA permitiu
    que isto sucedesse?"
  • 5:03 - 5:05
    "Como é que as autoridades chinesas
  • 5:05 - 5:07
    "permitiram que isto acontecesse?"
  • 5:08 - 5:10
    A resposta é simples:
  • 5:10 - 5:12
    os chineses classificam estas instalações
  • 5:12 - 5:15
    como fábricas de químicos,
    não de produtos farmacêuticos,
  • 5:15 - 5:17
    por isso não fazem auditorias.
  • 5:18 - 5:21
    E a FDA norte-americana
    tem um problema de jurisdição.
  • 5:21 - 5:23
    Isto passa-se fora das fronteiras.
  • 5:23 - 5:26
    Na realidade, realizam
    algumas investigações no estrangeiro
  • 5:26 - 5:28
    — uma dúzia por ano —
    talvez 20 num ano bom.
  • 5:29 - 5:32
    Só na China, existem 500 destas fábricas
  • 5:32 - 5:35
    a produzir a substância ativa.
  • 5:35 - 5:39
    De facto, cerca de 80%
    das substâncias ativas
  • 5:39 - 5:42
    dos medicamentos, hoje em dia,
    vêm do estrangeiro,
  • 5:42 - 5:44
    em particular, da China e da Índia.
  • 5:45 - 5:47
    Nós não temos um sistema de governação,
  • 5:47 - 5:49
    um sistema de regulação,
  • 5:49 - 5:53
    capaz de garantir
    que essa produção é segura.
  • 5:55 - 5:57
    Não temos um sistema que garanta
  • 5:57 - 6:01
    que estão protegidos os Direitos Humanos,
    a dignidade pessoal
  • 6:02 - 6:05
    Portanto, a nível nacional
  • 6:05 - 6:07
    — e nós trabalhamos
    em cerca de 60 países —
  • 6:07 - 6:09
    a nível nacional,
  • 6:09 - 6:11
    encontramos sérias falhas
  • 6:11 - 6:14
    na capacidade de os governos
    regularem a produção
  • 6:14 - 6:17
    dentro das suas próprias fronteiras.
  • 6:17 - 6:20
    O verdadeiros problema
    com a cadeia de distribuição global
  • 6:20 - 6:22
    é que ela é supranacional.
  • 6:22 - 6:25
    Os governos que estão a falhar,
    a falhar miseravelmente,
  • 6:25 - 6:27
    a nível nacional,
  • 6:27 - 6:30
    têm ainda menos capacidade
    de controlar o problema
  • 6:30 - 6:32
    a nível internacional.
  • 6:32 - 6:34
    Podemos ver isto nas notícias.
  • 6:34 - 6:37
    Vejam a Conferência de Copenhaga,
    o ano passado,
  • 6:37 - 6:40
    um falhanço completo
    por parte dos governos
  • 6:40 - 6:41
    para tomar uma ação correta,
  • 6:41 - 6:44
    para fazer face
    a um problema internacional.
  • 6:44 - 6:47
    Vejam o exemplo da reunião do G20
    há poucas semanas.
  • 6:48 - 6:51
    Recuaram em relação aos seus compromissos
    de há apenas uns meses.
  • 6:52 - 6:55
    Podemos pegar em qualquer
    dos maiores desafios globais
  • 6:55 - 6:58
    de que falámos esta semana,
    e perguntarmos:
  • 6:58 - 7:00
    "Onde está a liderança dos governos
  • 7:00 - 7:04
    "para encontrarem e assumirem soluções,
  • 7:04 - 7:05
    "respostas,
  • 7:05 - 7:08
    "para esses problemas internacionais?"
  • 7:08 - 7:12
    A resposta é que eles não podem.
    Eles são nacionais.
  • 7:12 - 7:14
    Os seus eleitores são locais.
  • 7:14 - 7:16
    Eles têm interesses paroquiais.
  • 7:16 - 7:18
    Não podem subordinar esses interesses
  • 7:18 - 7:21
    a um superior bem público global.
  • 7:21 - 7:24
    Portanto, se vamos garantir a concretização
  • 7:24 - 7:27
    de um bem público essencial,
    a nível internacional
  • 7:28 - 7:30
    — neste caso, na cadeia
    de distribuição global —
  • 7:30 - 7:33
    teremos que encontrar
    um mecanismo diferente.
  • 7:34 - 7:36
    Precisamos de uma máquina diferente.
  • 7:37 - 7:40
    Felizmente, temos alguns exemplos.
  • 7:41 - 7:43
    Na década de 1990,
  • 7:43 - 7:45
    houve uma série de escândalos
  • 7:45 - 7:48
    afetando a produção de produtos
    de marca nos EUA
  • 7:48 - 7:50
    — trabalho infantil, trabalho forçado,
  • 7:50 - 7:52
    abusos na saúde e segurança no trabalho.
  • 7:52 - 7:55
    Por fim, o presidente Clinton, em 1996,
  • 7:55 - 7:57
    organizou uma reunião na Casa Branca,
  • 7:57 - 8:01
    convidando industriais, ONG defensoras
    dos Direitos Humanos,
  • 8:01 - 8:02
    sindicatos, o Ministério do Trabalho.
  • 8:02 - 8:05
    Chamou-os para uma sala de reuniões
    e disse:
  • 8:05 - 8:06
    "Escutem, eu não quero
  • 8:06 - 8:08
    "que a globalização
    seja uma corrida para o fundo.
  • 8:09 - 8:10
    "Não sei como o impedir,
  • 8:10 - 8:13
    "mas, pelo menos, vou usar
    os meus escritórios
  • 8:13 - 8:16
    "para vos reunir
    para encontrar uma resposta."
  • 8:17 - 8:19
    Formaram um grupo de trabalho
    na Casa Branca,
  • 8:19 - 8:22
    e passaram cerca de três anos a discutir
  • 8:22 - 8:25
    quem assumia que responsabilidades
  • 8:25 - 8:28
    na cadeia de distribuição global.
  • 8:28 - 8:31
    As empresas não achavam
    que fosse da sua responsabilidade.
  • 8:31 - 8:33
    Não eram donas dessas fábricas.
  • 8:33 - 8:35
    Não empregavam esses trabalhadores.
  • 8:35 - 8:38
    Não tinham responsabilidade legal.
  • 8:38 - 8:40
    Todos os outros em torno da mesa disseram:
  • 8:40 - 8:42
    "Amigos, isso não pode ser.
  • 8:42 - 8:45
    "Vocês têm um dever solidário,
    um dever de diligência,
  • 8:45 - 8:47
    "para garantirem que os produtos
  • 8:47 - 8:50
    "cheguem a qualquer loja
  • 8:50 - 8:53
    "de forma que permita
    que nós os consumamos
  • 8:53 - 8:56
    "sem recear pela nossa segurança,
  • 8:56 - 9:00
    "ou sem ter que sacrificar
    a nossa consciência
  • 9:00 - 9:03
    "para consumir esse produto."
  • 9:03 - 9:05
    Então todos concordaram.
  • 9:05 - 9:08
    "Certo, vamos acordar um conjunto
    de normas comuns,
  • 9:08 - 9:10
    "um código de conduta.
  • 9:10 - 9:13
    "Vamos aplicá-lo em toda a nossa cadeia
    de distribuição global
  • 9:13 - 9:16
    "independentemente
    da propriedade ou controlo.
  • 9:16 - 9:18
    "Passará a fazer parte do contrato."
  • 9:19 - 9:22
    Isto foi um golpe de mestre
  • 9:22 - 9:25
    porque usaram o poder do contrato,
  • 9:26 - 9:28
    o poder privado,
  • 9:28 - 9:30
    para concretizar um bem público.
  • 9:31 - 9:32
    Encaremos a realidade:
  • 9:32 - 9:35
    o contrato de uma marca multinacional
  • 9:35 - 9:37
    para um fornecedor na Índia ou na China
  • 9:37 - 9:39
    tem muito mais força de persuasão
  • 9:39 - 9:42
    do que a legislação laboral local,
  • 9:42 - 9:44
    do que os regulamentos ambientais,
  • 9:44 - 9:46
    do que as normas locais
    de Direitos Humanos.
  • 9:46 - 9:49
    Essas fábricas provavelmente
    nunca viam um inspetor.
  • 9:50 - 9:52
    Se um inspetor aparecesse,
  • 9:52 - 9:54
    seria espantoso se ele fosse capaz
  • 9:54 - 9:57
    de resistir a um suborno.
  • 9:58 - 10:00
    Mesmo que ele fizesse o seu trabalho,
  • 10:00 - 10:03
    e que denunciasse irregularidades
    nessas fábricas,
  • 10:04 - 10:06
    a multa seria insignificante.
  • 10:07 - 10:10
    Porém, se a fábrica perder esse contrato
    com uma marca importante,
  • 10:10 - 10:12
    essa é a diferença
  • 10:12 - 10:15
    entre continuar a funcionar
    ou ir à falência.
  • 10:15 - 10:17
    Isso faz a diferença.
  • 10:17 - 10:19
    Então o que fomos capazes de fazer,
  • 10:19 - 10:22
    foi colocar ao nosso serviço
  • 10:22 - 10:23
    o poder e a influência
  • 10:23 - 10:26
    da única verdadeira
    instituição transnacional
  • 10:26 - 10:29
    na cadeia de distribuição global:
  • 10:29 - 10:31
    a empresa multinacional,
  • 10:31 - 10:33
    para a levar a tomar a atitude certa
  • 10:33 - 10:36
    de usar esse poder para o bem,
  • 10:36 - 10:39
    para concretizar o bem público.
  • 10:40 - 10:43
    Como é claro, isto não é
    o comportamento natural
  • 10:43 - 10:44
    das empresas multinacionais.
  • 10:44 - 10:48
    Elas não foram feitas para isto,
    foram feitas para fazer dinheiro.
  • 10:48 - 10:51
    Porém, elas são organizações
    extremamente eficazes.
  • 10:51 - 10:53
    Têm recursos,
  • 10:53 - 10:56
    e, se formos capazes de acrescentar
    a vontade e o empenho,
  • 10:56 - 10:58
    elas sabem como concretizar esse produto.
  • 11:00 - 11:03
    Chegar lá não é fácil.
  • 11:03 - 11:06
    As cadeias de distribuição
    que eu pus no ecrã há bocado,
  • 11:06 - 11:08
    não estão lá.
  • 11:08 - 11:10
    É preciso um espaço seguro.
  • 11:10 - 11:13
    É preciso um lugar onde as pessoas
    se possam reunir,
  • 11:13 - 11:16
    sentar-se à mesa de discussões
    sem medo de serem julgadas,
  • 11:16 - 11:17
    sem recriminações,
  • 11:17 - 11:20
    para efetivamente encararem o problema,
  • 11:20 - 11:23
    concordarem qual o problema
    e encontrarem soluções.
  • 11:23 - 11:25
    Nós podemos fazê-lo,
    há soluções técnicas.
  • 11:26 - 11:28
    O problema é a falta de confiança,
  • 11:28 - 11:30
    a falta de sentido de parceria
  • 11:30 - 11:32
    entre ONG, grupos de pressão,
  • 11:32 - 11:35
    organizações da sociedade civil
  • 11:35 - 11:38
    e empresas multinacionais.
  • 11:38 - 11:41
    Se conseguirmos ter estes dois grupos
    num espaço seguro,
  • 11:41 - 11:43
    levá-los a trabalhar em conjunto,
  • 11:43 - 11:46
    podemos concretizar
    o bem comum agora mesmo,
  • 11:46 - 11:48
    ou muito em breve.
  • 11:49 - 11:51
    Esta é uma proposta radical,
  • 11:51 - 11:53
    e parece loucura pensar
  • 11:53 - 11:57
    que para uma rapariga
    do Bangladeche, de 15 anos,
  • 11:57 - 11:59
    que sai da sua aldeia rural
  • 11:59 - 12:02
    para ir trabalhar numa fábrica em Dhaka
  • 12:02 - 12:06
    — a 22, 23, 24 dólares por mês —
  • 12:07 - 12:10
    a sua melhor hipótese
    de ter direitos no trabalho
  • 12:10 - 12:13
    é se essa fábrica estiver a produzir
  • 12:13 - 12:14
    para uma empresa de prestígio
  • 12:14 - 12:16
    que tenha um código de conduta
  • 12:16 - 12:20
    e que incluiu no contrato
    esse código de conduta.
  • 12:21 - 12:22
    Parece loucura,
  • 12:22 - 12:24
    multinacionais a proteger
    os Direitos Humanos?
  • 12:24 - 12:26
    Sei que vai haver descrença.
  • 12:26 - 12:28
    Dirão: "Como podemos confiar nelas?"
  • 12:28 - 12:30
    Bem, não confiamos.
  • 12:30 - 12:33
    É como nas conversações
    sobre o desarmamento nuclear:
  • 12:33 - 12:35
    "Confiem, mas verifiquem."
  • 12:35 - 12:36
    Então, nós auditamos.
  • 12:36 - 12:40
    Vamos ver a cadeia de distribuição,
    pegamos nos nomes das fábricas,
  • 12:40 - 12:41
    fazemos uma amostra aleatória,
  • 12:41 - 12:44
    enviamos inspetores sem pré-aviso
  • 12:44 - 12:46
    para inspecionar essas fábricas
  • 12:46 - 12:48
    e depois publicamos os resultados.
  • 12:48 - 12:51
    A transparência
    é absolutamente fundamental.
  • 12:53 - 12:55
    Uma pessoa pode dizer-se responsável,
  • 12:55 - 12:58
    mas responsabilidade sem prestar contas
  • 12:58 - 13:00
    muitas vezes não resulta.
  • 13:00 - 13:03
    Não estamos só
    a envolver as multinacionais,
  • 13:03 - 13:06
    estamos a dar-lhes as ferramentas
    para concretizarem este bem comum
  • 13:06 - 13:09
    — o respeito pelos Direitos Humanos —
  • 13:09 - 13:10
    e estamos a verificar.
  • 13:10 - 13:13
    Vocês não têm que acreditar em mim.
    Não devem acreditar em mim.
  • 13:13 - 13:16
    Vão ao website.
    Leiam os resultados das auditorias.
  • 13:16 - 13:18
    Perguntem se esta empresa
    está a comportar-se
  • 13:18 - 13:20
    de uma forma socialmente responsável.
  • 13:20 - 13:22
    Se posso comprar aquele produto
  • 13:22 - 13:25
    sem comprometer os meus princípios.
  • 13:25 - 13:28
    É assim que o sistema funciona.
  • 13:30 - 13:32
    Eu detesto a ideia
  • 13:32 - 13:36
    de que os governos não estão a proteger
    os Direitos Humanos pelo mundo fora.
  • 13:36 - 13:37
    Detesto a ideia
  • 13:37 - 13:40
    de que os governos falharam
    miseravelmente nesta matéria.
  • 13:40 - 13:42
    E não consigo habituar-me à ideia
  • 13:42 - 13:45
    de que não conseguimos
    que eles façam o seu trabalho.
  • 13:45 - 13:47
    Tenho estado envolvido há 30 anos,
  • 13:47 - 13:50
    e durante esse tempo
    tenho visto a reduzir-se
  • 13:50 - 13:54
    a capacidade, o empenho,
    a vontade dos governos
  • 13:55 - 13:57
    e não antevejo uma recuperação para breve.
  • 13:57 - 13:59
    Por isso, começámos a pensar
  • 13:59 - 14:01
    que isto seria uma medida provisória.
  • 14:02 - 14:04
    Estamos agora a pensar que, de facto,
  • 14:04 - 14:06
    este é provavelmente o começo
  • 14:06 - 14:09
    de uma nova forma de regular
  • 14:09 - 14:11
    e de abordar problemas internacionais.
  • 14:12 - 14:15
    Chamemos-lhe uma governação em rede,
    ou chamemos-lhe outra coisa,
  • 14:15 - 14:17
    os agentes privados,
  • 14:17 - 14:19
    as empresas e as ONG
  • 14:19 - 14:21
    têm que se reunir
  • 14:21 - 14:23
    para encarar os grandes problemas
    que vamos encontrar.
  • 14:23 - 14:25
    Vejam, por exemplo, as pandemias
  • 14:25 - 14:29
    — a gripe suína, a gripe das aves, a H1N1.
  • 14:29 - 14:31
    Vejam os sistemas de saúde
    em tantos países.
  • 14:31 - 14:35
    Terão eles os recursos
    para encarar uma pandemia?
  • 14:36 - 14:37
    Não.
  • 14:38 - 14:40
    Conseguiriam o setor provado e as ONG,
  • 14:40 - 14:42
    em conjunto, produzir uma resposta?
  • 14:42 - 14:44
    Absolutamente sim.
  • 14:44 - 14:47
    O que lhes falta é aquele espaço seguro
  • 14:47 - 14:50
    para se reunirem, acordarem
    e passarem à ação.
  • 14:50 - 14:53
    É isso que estamos a tentar providenciar.
  • 14:54 - 14:56
    Sei também
  • 14:56 - 14:58
    que isto parece, muitas vezes,
  • 14:58 - 15:00
    um nível de responsabilidade esmagador
  • 15:00 - 15:02
    para alguém assumir.
  • 15:02 - 15:04
    "Vocês querem que eu garanta
    os Direitos Humanos
  • 15:04 - 15:07
    "em toda a minha cadeia de distribuição?"
  • 15:07 - 15:09
    Há milhares de fornecedores
    por esse mundo fora.
  • 15:09 - 15:12
    Parece assustador demais,
    demasiado perigoso,
  • 15:12 - 15:14
    para qualquer empresa se comprometer.
  • 15:14 - 15:16
    Porém, há empresas que o fazem.
  • 15:16 - 15:19
    Temos 4000 empresas como membros.
  • 15:19 - 15:21
    Algumas são empresas muito grandes.
  • 15:21 - 15:24
    A indústria de produtos
    para desporto, em particular,
  • 15:24 - 15:26
    assumiu um papel de destaque.
  • 15:27 - 15:29
    O exemplo, o modelo a seguir está lá.
  • 15:30 - 15:32
    Sempre que discutimos
  • 15:32 - 15:35
    um desses problemas
    que temos que abordar
  • 15:35 - 15:37
    — trabalho infantil
    em campos de algodão na Índia —
  • 15:37 - 15:41
    este ano vamos vigiar 50 000 produtores
    de algodão na Índia.
  • 15:41 - 15:43
    Parece ser esmagador.
  • 15:43 - 15:46
    Estes números só fazem uma pessoa
    querer distanciar-se.
  • 15:46 - 15:49
    No entanto, nós decompomos a questão
    nalguns factos básicos.
  • 15:49 - 15:51
    Os Direitos Humanos
  • 15:51 - 15:54
    levam a uma questão muito simples:
  • 15:54 - 15:57
    Posso devolver a dignidade a esta pessoa?
  • 15:58 - 16:01
    Pessoas pobres, pessoas
    cujos Direitos Humanos foram violados.
  • 16:01 - 16:05
    Na essência, isso é a perda de dignidade,
  • 16:05 - 16:07
    a falta de dignidade.
  • 16:07 - 16:10
    Tudo começa com o devolver
    a dignidade às pessoas.
  • 16:10 - 16:13
    Estava eu sentado num bairro de lata
    junto a Gurgaon,
  • 16:13 - 16:15
    mesmo ao lado de Deli,
  • 16:15 - 16:18
    uma das cidades
    mais espantosas e brilhantes
  • 16:18 - 16:21
    que está a crescer na Índia neste momento,
  • 16:21 - 16:23
    e estava a falar com trabalhadores
  • 16:23 - 16:25
    de fábricas de miséria
    que produzem roupas ali perto.
  • 16:25 - 16:29
    Perguntei-lhes que mensagem
    gostariam que eu levasse às marcas.
  • 16:29 - 16:33
    Eles não disseram "dinheiro",
    disseram:
  • 16:33 - 16:36
    "As pessoas que nos empregam
  • 16:36 - 16:38
    "tratam-nos como se fôssemos
    menos do que humanos,
  • 16:38 - 16:40
    "como se nós não existíssemos.
  • 16:40 - 16:44
    "Por favor, peça-lhes que nos tratem
    como seres humanos."
  • 16:44 - 16:47
    Este é o meu entendimento mais simples
    do que são Direitos Humanos.
  • 16:47 - 16:49
    É a minha proposta para vós,
  • 16:49 - 16:52
    o meu simples apelo a todos
    os que tomam decisões
  • 16:52 - 16:55
    nesta sala, a todos lá fora.
  • 16:55 - 16:57
    Podemos todos tomar uma decisão
  • 16:57 - 17:00
    para, em conjunto,
    tomarmos conta
  • 17:00 - 17:03
    daquilo que os governos deixaram cair.
  • 17:03 - 17:06
    Se não o fizermos,
  • 17:06 - 17:08
    estaremos a abandonar a esperança,
  • 17:08 - 17:10
    a abandonar a essência
    da nossa humanidade,
  • 17:10 - 17:12
    e sei que não é para aí que queremos ir,
  • 17:12 - 17:14
    e não temos que lá chegar.
  • 17:14 - 17:16
    Portanto, o meu apelo para vós,
  • 17:16 - 17:19
    juntem-se a nós, venham
    para esse espaço seguro,
  • 17:19 - 17:21
    e vamos começar a fazer
    tudo isto acontecer.
  • 17:21 - 17:22
    Muito obrigado.
  • 17:22 - 17:25
    (Aplausos)
Title:
Tornar justo o mercado de trabalho global
Speaker:
Auret van Heerden
Description:

Auret van Heerden é um ativista dos direitos laborais que nos fala da próxima fronteira dos direitos laborais — indústrias globalizadas em que nenhum órgão estatal nacional consegue garantir segurança e proteção dos trabalhadores. Como podemos assegurar a honestidade da nossa cadeia de distribuição global? Van Heerden defende uma proposta de trabalho justo.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
17:25
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Making global labor fair
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Making global labor fair
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Making global labor fair
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Making global labor fair
Nuno Lima added a translation

Portuguese subtitles

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