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Como transformo comentários on-line negativos em conversas off-line positivas

  • 0:00 - 0:02
    Oi.
  • 0:03 - 0:06
    Eu recebo ódio on-line.
  • 0:06 - 0:10
    Muito, e ele ocorre
    no contexto do meu trabalho.
  • 0:10 - 0:15
    Sou um criador digital: faço coisas
    especificamente para a internet.
  • 0:15 - 0:19
    Há alguns anos, fiz uma série de vídeos
    chamada "Every Single Word",
  • 0:19 - 0:21
    em que editei filmes populares
  • 0:21 - 0:24
    mostrando apenas as palavras
    ditas por pessoas negras,
  • 0:24 - 0:28
    como forma de falar na prática e de forma
    acessível sobre representatividade
  • 0:28 - 0:30
    em Hollywood.
  • 0:30 - 0:33
    Depois, quando o projeto de lei
    transfóbico "Bathroom Bill"
  • 0:33 - 0:37
    começou a ganhar a atenção
    da mídia nos Estados Unidos,
  • 0:37 - 0:40
    apresentei e produzi
    uma série de entrevistas
  • 0:40 - 0:42
    chamada "Sentado no banheiro
    com pessoas trans",
  • 0:43 - 0:44
    na qual eu fazia exatamente isso.
  • 0:44 - 0:45
    (Risos)
  • 0:45 - 0:47
    E...
  • 0:47 - 0:48
    Aceito os aplausos.
  • 0:48 - 0:50
    (Aplausos)
  • 0:50 - 0:51
    Obrigado.
  • 0:52 - 0:56
    Vocês conhecem aqueles vídeos
    de unboxing no YouTube
  • 0:56 - 0:59
    em que youtubers desembalam
    aparelhos eletrônicos modernos?
  • 1:00 - 1:03
    Eu os satirizei em uma série semanal
  • 1:03 - 1:06
    na qual desembalava
    ideologias inatingíveis,
  • 1:06 - 1:12
    como brutalidade policial, masculinidade
    e maus tratos contra nativos americanos.
  • 1:12 - 1:13
    (Risos)
  • 1:13 - 1:14
    Meu trabalho...
  • 1:14 - 1:15
    Obrigado.
  • 1:15 - 1:17
    Uma pessoa aplaudindo. Que bom.
  • 1:17 - 1:19
    (Risos)
  • 1:20 - 1:21
    Oi, mãe.
  • 1:21 - 1:23
    (Risos)
  • 1:23 - 1:26
    Meu trabalho tornou-se popular.
  • 1:26 - 1:27
    Muito popular.
  • 1:27 - 1:31
    Tive milhões de visualizações,
    ótimo destaque na imprensa
  • 1:31 - 1:33
    e enorme quantidade de novos seguidores.
  • 1:33 - 1:36
    Mas o outro lado do sucesso na internet
  • 1:36 - 1:37
    é o ódio na internet.
  • 1:38 - 1:40
    Fui chamado de tudo:
  • 1:40 - 1:45
    de "beta" a "floco de neve"
    e o mais popular: "corno".
  • 1:45 - 1:48
    Calma, vou explicar estes termos.
  • 1:48 - 1:49
    (Risos)
  • 1:49 - 1:52
    "Beta", para quem não conhece,
  • 1:52 - 1:55
    é o jargão de internet para "macho beta".
  • 1:55 - 1:58
    Sejamos francos: eu uso brinco de pérolas
  • 1:58 - 2:01
    e minha inspiração de moda são
    mulheres brancas ricas atarefadas,
  • 2:01 - 2:03
    então, não pretendo ser um alfa.
  • 2:03 - 2:06
    (Aplausos)
  • 2:06 - 2:08
    Com certeza não funcionaria.
  • 2:08 - 2:09
    (Risos)
  • 2:09 - 2:13
    "Floco de neve" é uma ofensa
    a pessoas que são sensíveis
  • 2:13 - 2:15
    e acreditam serem únicas,
  • 2:15 - 2:18
    e eu sou um millennial
    e filho único, então...
  • 2:18 - 2:21
    (Risos)
  • 2:21 - 2:25
    Mas o meu favorito é "corno".
  • 2:25 - 2:28
    É um insulto, similar a "chifrudo"
  • 2:28 - 2:30
    para homens que foram
    traídos pelas esposas.
  • 2:30 - 2:33
    Mas, amigos, eu sou tão gay
  • 2:33 - 2:36
    que se eu tivesse esposa,
    a encorajaria a me trair.
  • 2:36 - 2:39
    (Risos)
  • 2:39 - 2:40
    Obrigado.
  • 2:41 - 2:44
    Vamos dar uma olhada em algumas
    dessas negatividades em ação.
  • 2:45 - 2:47
    Às vezes elas são diretas.
  • 2:47 - 2:50
    Como o Marcos, que escreveu:
    "Você é tudo que odeio em um ser humano".
  • 2:51 - 2:52
    Obrigado, Marcos.
  • 2:52 - 2:54
    Outros são mais concisos,
  • 2:54 - 2:58
    como o Donovan, que escreveu: "Bichona".
  • 2:58 - 3:02
    Eu preciso enfatizar:
    Donovan não está errado.
  • 3:03 - 3:07
    Na verdade, ele tem toda a razão,
    por isso, créditos a ele.
  • 3:07 - 3:08
    Obrigado, Donovan.
  • 3:08 - 3:11
    Alguns escrevem perguntas,
    como o Brian, que escreveu:
  • 3:11 - 3:15
    "Você nasceu vadia
    ou aprendeu com o tempo?"
  • 3:15 - 3:17
    Mas a minha parte favorita
  • 3:18 - 3:21
    é que quando Brian terminou de digitar,
    os dedos dele devem ter escorregado,
  • 3:21 - 3:25
    porque ele me mandou um emoji de "joinha".
  • 3:25 - 3:26
    (Risos)
  • 3:26 - 3:29
    Querido, "joinha" pra você também.
  • 3:29 - 3:31
    (Risos)
  • 3:31 - 3:35
    É engraçado falar sobre
    essas mensagens agora, certo?
  • 3:35 - 3:38
    E é catártico rir delas.
  • 3:38 - 3:43
    Mas posso afirmar que não é
    nada bom recebê-las.
  • 3:45 - 3:47
    Primeiro, eu copiava a tela
    com os comentários
  • 3:47 - 3:49
    e tirava sarro dos erros,
  • 3:49 - 3:53
    mas logo isso pareceu elitista
    e, depois de um tempo, inútil.
  • 3:53 - 3:57
    Com o tempo, desenvolvi
    um mecanismo de defesa.
  • 3:58 - 4:01
    Como a maioria das mensagens
    eram enviadas pelas redes sociais,
  • 4:01 - 4:05
    eu podia clicar na foto do perfil
    da pessoa que as enviou
  • 4:05 - 4:07
    e descobrir tudo que podia sobre ela.
  • 4:07 - 4:11
    Podia ver fotos em que ela foi marcada,
    publicações escritas, memes compartilhados
  • 4:11 - 4:15
    e, de certa forma, ver que era
    um ser humano do outro lado da tela
  • 4:15 - 4:17
    fazia eu me sentir melhor.
  • 4:17 - 4:22
    Não justificando o que haviam escrito,
    mas para ter um contexto.
  • 4:22 - 4:25
    Mesmo assim, não parecia ser o suficiente.
  • 4:25 - 4:28
    Então, chamei algumas dessas pessoas,
  • 4:28 - 4:31
    só aquelas com as quais me senti
    seguro para conversar,
  • 4:31 - 4:34
    com uma simples pergunta inicial:
  • 4:34 - 4:36
    "Por que você escreveu aquilo?"
  • 4:36 - 4:38
    A primeira pessoa
    com quem conversei foi o Josh.
  • 4:38 - 4:41
    Ele escreveu para dizer que eu era idiota,
  • 4:41 - 4:43
    eu era o motivo desse país estar dividido,
  • 4:43 - 4:47
    e acrescentou ao final
    que ser gay é pecado.
  • 4:48 - 4:51
    Eu estava tão nervoso
    com nossa primeira conversa!
  • 4:51 - 4:53
    Não era a seção de comentários.
  • 4:53 - 4:56
    Então eu não podia usar ferramentas
    como silenciar ou bloquear.
  • 4:56 - 5:00
    Claro que eu poderia
    ter desligado na cara dele.
  • 5:00 - 5:02
    Mas eu não quis.
  • 5:02 - 5:04
    Porque gostei de falar com ele.
  • 5:04 - 5:05
    Porque eu gostei dele.
  • 5:06 - 5:09
    Este é um áudio de uma
    das nossas conversas:
  • 5:09 - 5:14
    (Áudio) Dylan Marron: Josh, você falou
    que está para se formar no ensino médio.
  • 5:14 - 5:16
    Josh: Aham.
    DM: Como é o ensino médio para você?
  • 5:16 - 5:20
    Josh: Posso usar a palavra inferno?
    DM: Claro que pode.
  • 5:21 - 5:23
    Josh: Foi um inferno.
    DM: Sério?
  • 5:23 - 5:27
    Josh: Ainda é um inferno,
    mesmo com duas semanas restantes.
  • 5:27 - 5:30
    Sou um pouco grande,
    não gosto de dizer "gordo",
  • 5:30 - 5:36
    mas sou um pouco maior do que meus colegas
    e eles me julgam antes de me conhecer.
  • 5:37 - 5:38
    DM: Isso é horrível.
  • 5:38 - 5:41
    Eu gostaria que você soubesse
  • 5:41 - 5:43
    que eu sofri bullying na escola também.
  • 5:45 - 5:48
    O fato de nós dois termos
    sofrido bullying na escola
  • 5:48 - 5:50
    apagou o que ele escreveu?
  • 5:51 - 5:52
    Não.
  • 5:52 - 5:55
    E nossa única conversa telefônica
  • 5:55 - 5:58
    curou radicalmente um país
    dividido politicamente
  • 5:58 - 6:00
    e curou uma injustiça sistêmica?
  • 6:00 - 6:03
    Absolutamente não.
  • 6:03 - 6:06
    Mas nossa conversa nos humanizou
  • 6:06 - 6:10
    mais do que fotos de perfil
    e publicações poderiam fazer?
  • 6:10 - 6:11
    Com certeza.
  • 6:11 - 6:13
    Eu não parei aí.
  • 6:13 - 6:17
    Porque um pouco do ódio
    que recebi veio do "meu lado".
  • 6:17 - 6:21
    Quando Matthew,
    um artista gay liberal como eu,
  • 6:21 - 6:26
    escreveu publicamente que eu representava
    alguns dos piores aspectos do liberalismo,
  • 6:26 - 6:28
    quis perguntar isso a ele:
  • 6:28 - 6:32
    (Áudio) DM: Você me marcou nessa
    publicação. Queria que eu a visse?
  • 6:32 - 6:35
    Matthew (Risos): Honestamente,
    não achava que você veria.
  • 6:35 - 6:37
    DM: Você já foi humilhado publicamente?
  • 6:38 - 6:42
    Matthew: Já fui, sim,
    e eu disse: "Eu não ligo".
  • 6:42 - 6:44
    Matthew: Mas foi difícil.
    DM: Você não se importava?
  • 6:46 - 6:47
    Matthew: Sim, me importava.
  • 6:49 - 6:53
    Ao final destas conversas,
    existe um momento de reflexão.
  • 6:53 - 6:54
    Uma reconsideração.
  • 6:54 - 6:58
    Foi exatamente o que aconteceu
    numa ligação com uma pessoa chamada Doug,
  • 6:58 - 7:02
    que escreveu que eu era
    um exibido sem talento.
  • 7:03 - 7:05
    (Áudio) DM: A conversa que nós tivemos
  • 7:05 - 7:08
    fez você se sentir diferente
    sobre como você escreve on-line?
  • 7:08 - 7:12
    Doug: Sim, quando falei aquilo,
    que você não tinha talento,
  • 7:12 - 7:17
    nunca havia conversado com você,
    não conhecia nada a seu respeito.
  • 7:17 - 7:21
    E acho que, muitas vezes, é isso
    que a seção de comentários é:
  • 7:21 - 7:25
    uma forma de colocar sua raiva
    contra o mundo para fora
  • 7:25 - 7:29
    em perfis de pessoas
    aleatórias, basicamente.
  • 7:29 - 7:30
    DM (Risos): Certo.
  • 7:31 - 7:34
    Doug: Com certeza me fez repensar
  • 7:34 - 7:37
    a forma como interajo com pessoas on-line.
  • 7:39 - 7:42
    Juntei essas conversas e algumas outras
  • 7:42 - 7:45
    para o meu podcast:
    "Conversas com pessoas que me odeiam".
  • 7:45 - 7:47
    (Risos)
  • 7:48 - 7:50
    Antes de iniciar esse projeto,
  • 7:50 - 7:53
    achava que a melhor forma de fazer mudança
  • 7:53 - 7:56
    era derrubando pontos de vista contrários
  • 7:56 - 8:00
    com ensaios em vídeo, comentários
    e publicações epicamente formulados,
  • 8:00 - 8:05
    mas aprendi que eles eram apoiados apenas
    por pessoas que já concordavam comigo.
  • 8:05 - 8:07
    Às vezes... Saúde!
  • 8:07 - 8:10
    Às vezes a coisa mais subversiva
    que podemos fazer...
  • 8:10 - 8:11
    Aplausos para ele.
  • 8:11 - 8:13
    (Risos)
  • 8:15 - 8:18
    Às vezes, a coisa mais subversiva
    que podemos fazer
  • 8:18 - 8:21
    é falar com a pessoa de quem discordamos,
  • 8:21 - 8:24
    e não simplesmente falar para ela.
  • 8:24 - 8:25
    Em todas as minhas ligações,
  • 8:25 - 8:29
    sempre peço aos meus convidados
    que falem a respeito de si.
  • 8:29 - 8:33
    E é a resposta a essa pergunta
    que me permite ter empatia por eles.
  • 8:34 - 8:36
    E empatia, na verdade,
  • 8:36 - 8:39
    é o ingrediente-chave
    para elevar essas conversas,
  • 8:39 - 8:41
    mas pode parecer vulnerável
  • 8:41 - 8:45
    ter empatia por alguém de quem você
    discorda profundamente.
  • 8:46 - 8:49
    Então, estabeleci um mantra útil para mim:
  • 8:49 - 8:52
    "Empatia não é aprovação".
  • 8:53 - 8:55
    Ter empatia por alguém
    de quem você discorda
  • 8:56 - 9:00
    não compromete as suas crenças
    e aprova as do outro.
  • 9:00 - 9:05
    Ter empatia por alguém que acredita
    que ser gay é um pecado
  • 9:05 - 9:07
    não significa que vou deixar tudo,
  • 9:07 - 9:10
    arrumar minha mala
    e ir direto para o inferno.
  • 9:11 - 9:13
    Significa que estou tomando conhecimento
  • 9:13 - 9:17
    da humanidade de alguém que foi criado
    para pensar diferentemente de mim.
  • 9:18 - 9:20
    Também quero ser claro a respeito de algo:
  • 9:20 - 9:23
    isso não é uma receita para ativismo.
  • 9:23 - 9:27
    Entendo que algumas pessoas não se sentem
    seguras falando com seus detratores,
  • 9:27 - 9:29
    e algumas sentem-se tão marginalizadas
  • 9:29 - 9:33
    que sentem que não têm
    nenhuma empatia a oferecer.
  • 9:33 - 9:35
    Entendo perfeitamente.
  • 9:35 - 9:37
    Isso é apenas o que acredito
    ser o melhor a fazer.
  • 9:38 - 9:41
    Eu busquei muitas pessoas
    para esse podcast.
  • 9:41 - 9:43
    Algumas rejeitaram educadamente,
  • 9:43 - 9:45
    algumas leram minha mensagem e ignoraram,
  • 9:45 - 9:48
    algumas me bloquearam
    quando enviei o convite,
  • 9:48 - 9:53
    e um rapaz concordou em falar e, depois
    de cinco minutos, desligou na minha cara.
  • 9:54 - 9:57
    Também estou ciente de que esta palestra
    aparecerá na internet.
  • 9:58 - 10:00
    E com a internet vem
    a seção de comentários,
  • 10:00 - 10:03
    e com a seção de comentários,
    inevitavelmente, vem o ódio.
  • 10:03 - 10:05
    Enquanto você assiste a esta palestra,
  • 10:05 - 10:08
    sinta-se livre para me chamar
    do que você quiser.
  • 10:08 - 10:13
    Pode me chamar de "bichona",
    "floco de neve", "corno", "beta",
  • 10:13 - 10:16
    ou "tudo de errado com o liberalismo".
  • 10:16 - 10:19
    Mas saiba que, se você fizer isso,
    posso pedir para conversar com você.
  • 10:20 - 10:23
    E, se você recusar ou me bloquear
  • 10:23 - 10:25
    ou concordar e desligar na minha cara,
  • 10:25 - 10:28
    talvez, amor, o floco de neve seja você.
  • 10:29 - 10:30
    Muito obrigado.
  • 10:30 - 10:32
    (Aplausos)
Title:
Como transformo comentários on-line negativos em conversas off-line positivas
Speaker:
Dylan Marron
Description:

O criador digital Dylan Marron acumulou milhões de visualizações por projetos como "Every Single Word" e "Sitting in Bathrooms With Trans People". Mas descobriu que o lado negativo do sucesso on-line é o ódio na internet. Com o tempo, ele desenvolveu um mecanismo de defesa inesperado: chamar as pessoas que deixam comentários insensíveis e fazer uma pergunta simples: "Por que você escreveu isso?". Em uma palestra reflexiva sobre como interagimos on-line, Marron explica como, às vezes, a coisa mais subversiva a se fazer é falar com as pessoas das quais você discorda e não confrontá-las.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
10:52

Portuguese, Brazilian subtitles

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