< Return to Video

MDMA é o antibiótico da psiquiatria? | Ben Sessa | TEDxUniversityofBristol

  • 0:17 - 0:22
    3,4-Methylenedioxymethamphetamine: MDMA.
  • 0:22 - 0:28
    Já devem ter ouvido falar desse composto
    no contexto da droga recreacional Ecstasy.
  • 0:28 - 0:32
    Mas hoje quero falar sobre a MDMA,
    não como uma droga recreacional,
  • 0:32 - 0:35
    mas como um potencial
    novo tratamento na medicina,
  • 0:36 - 0:38
    e um tratamento importante
    para a psiquiatria
  • 0:38 - 0:42
    porque a MDMA, pela primeira vez,
    pode nos oferecer,
  • 0:42 - 0:45
    a oportunidade de tratar o trauma.
  • 0:45 - 0:47
    E o trauma psicológico,
  • 0:47 - 0:50
    particularmente aquele causado
    por abuso infantil e maus-tratos,
  • 0:50 - 0:55
    está no centro de todos, ou da maioria,
    dos distúrbios psiquiátricos
  • 0:55 - 0:58
    devido a ansiedade e dependências.
  • 0:58 - 1:02
    A psiquiatria precisa
    dessa abordagem inovadora,
  • 1:02 - 1:05
    pois os tratamentos atuais
    estão falhando com os pacientes.
  • 1:06 - 1:08
    Olá, meu nome é Ben Sessa.
  • 1:08 - 1:10
    Sou psiquiatra de crianças e adolescentes.
  • 1:10 - 1:12
    Isso significa que me formei como médico,
  • 1:12 - 1:14
    me especializei em saúde mental,
  • 1:14 - 1:17
    e então me especializei na saúde mental
    da criança e do adolescente.
  • 1:17 - 1:19
    Mas nos últimos cinco anos,
  • 1:19 - 1:22
    tenho trabalhado com adultos
    com distúrbios mentais
  • 1:22 - 1:24
    e dependência devido
    ao uso indevido de drogas.
  • 1:24 - 1:27
    E esse desenvolvimento do meu caminho,
  • 1:27 - 1:32
    de trabalhar com abuso infantil para
    adultos com distúrbios mentais e vícios,
  • 1:32 - 1:34
    me trouxe para a porta da MDMA.
  • 1:35 - 1:36
    E eu irei propor hoje
  • 1:36 - 1:39
    que MDMA pode ser tão importante
    para o futuro da psiquiatria
  • 1:39 - 1:44
    quanto o descobrimento de antibióticos
    foi para a medicina geral 100 anos atrás.
  • 1:45 - 1:48
    Quando pensamos em abuso infantil,
  • 1:48 - 1:52
    consideramos o abuso físico,
    mental, emocional,
  • 1:53 - 1:55
    abuso sexual e negligência.
  • 1:55 - 1:58
    E pensamos em ambientes nocivos,
  • 1:58 - 2:02
    em pais com distúrbios mentais
    ou viciados em drogas,
  • 2:02 - 2:07
    e questões sociais como pobreza,
    habitações precárias, baixa escolaridade.
  • 2:07 - 2:10
    Vou ilustrar minha palestra
    de hoje com uma paciente,
  • 2:10 - 2:12
    e vou chamá-la de Claire.
  • 2:12 - 2:16
    Ela não era uma paciente
    minha em particular.
  • 2:16 - 2:19
    Pelo contrário, ela é uma mistura
    de diferentes pessoas
  • 2:19 - 2:22
    que conheci nos últimos 18 anos
    trabalhando como médico.
  • 2:23 - 2:25
    Ela certamente não é a pior delas.
  • 2:26 - 2:29
    E qual era o ambiente de Claire
    enquanto ela crescia?
  • 2:29 - 2:31
    Sua mãe era depressiva.
  • 2:31 - 2:34
    Infelizmente, o médico não tinha tempo
  • 2:34 - 2:37
    para diagnosticar e tratar
    com precisão a depressão.
  • 2:37 - 2:40
    Ao invés disso, a mãe de Claire
    era medicada com antidepressivos,
  • 2:40 - 2:43
    e nunca fez terapia.
  • 2:43 - 2:45
    Ela também sentia muitas dores,
  • 2:45 - 2:48
    típico dos chamados sintomas
    psicossomáticos da depressão,
  • 2:48 - 2:53
    e, como resultado, o médico prescrevia
    analgésicos a base de opiáceos
  • 2:53 - 2:55
    aos quais ela rapidamente
    se tornou dependente.
  • 2:56 - 2:58
    O pai de Claire era alcoólatra,
  • 2:58 - 3:01
    e muitas vezes estava ausente,
    entrando e saindo da prisão,
  • 3:01 - 3:04
    o que era bom, porque quando estava lá,
  • 3:04 - 3:06
    ele era fisicamente abusivo
    com Claire e sua mãe.
  • 3:07 - 3:11
    O que esse tipo de ambiente
    caótico e assustador faz
  • 3:11 - 3:14
    para um cérebro em desenvolvimento?
  • 3:14 - 3:17
    Vou dar a vocês uma rápida
    lição de neurofisiologia.
  • 3:17 - 3:19
    Existe uma parte do cérebro
    chamada amígdala,
  • 3:19 - 3:23
    que é uma parte muito antiga
    do cérebro dos mamíferos,
  • 3:23 - 3:26
    e muitos outros animais,
    além dos humanos, a possuem.
  • 3:26 - 3:32
    A amígdala se ilumina quando
    estimulada por medo no ambiente.
  • 3:33 - 3:37
    Ela se acende e diz:
    "Brigue ou fuja, saia daqui!"
  • 3:37 - 3:40
    Há outra parte do cérebro,
    muito mais sofisticada,
  • 3:40 - 3:42
    chamada córtex pré-frontal,
  • 3:42 - 3:45
    que fica aqui, na frente, acima dos olhos.
  • 3:45 - 3:47
    Apenas humanos possuem
    o córtex pré-frontal,
  • 3:47 - 3:52
    e é nele que usamos
    a lógica e o raciocínio
  • 3:52 - 3:54
    para racionalizar a situação,
  • 3:54 - 3:56
    e podemos usar nosso córtex pré-frontal
  • 3:56 - 4:01
    para superar aquela resposta
    instintiva de medo da amígdala.
  • 4:01 - 4:03
    Quando Claire estava crescendo,
  • 4:03 - 4:08
    ela nunca sabia se o adulto entrando
    em seu quarto iria lhe dar um beijo,
  • 4:08 - 4:10
    um abraço, montar um quebra-cabeças,
  • 4:10 - 4:12
    ou lhe dar um soco, um chute,
  • 4:12 - 4:14
    ou queimá-la com seu cigarro.
  • 4:14 - 4:17
    Ou se iriam estuprá-la.
  • 4:17 - 4:21
    Porque, por toda sua infância,
    Claire também foi vítima de abuso sexual.
  • 4:22 - 4:26
    Existe um grupo de distúrbios
    chamado distúrbios de ansiedade,
  • 4:26 - 4:30
    e um dos mais importantes é o chamado
    transtorno de estresse pós-traumático,
  • 4:30 - 4:31
    ou TEPT.
  • 4:32 - 4:35
    Alguns dos principais sintomas do TEPT:
  • 4:35 - 4:39
    humor muito ruim,
    altos níveis de ansiedade,
  • 4:39 - 4:41
    o que chamamos de hipervigilância,
  • 4:41 - 4:43
    nervosismo, agitação.
  • 4:43 - 4:47
    Exatamente como Claire se sentiu,
    ao longo de sua infância e adolescência,
  • 4:47 - 4:51
    nunca sabendo se o próximo
    agressor estava à espreita.
  • 4:52 - 4:56
    Outro sintoma principal do TEPT,
    os fenômenos de reviver a experiência,
  • 4:56 - 4:58
    de flashback,
  • 4:58 - 5:02
    em que paciente tem lembranças repentinas
    dessas memórias traumáticas dolorosas.
  • 5:02 - 5:05
    Elas podem apenas surgir na cabeça
    a qualquer momento,
  • 5:05 - 5:07
    provocada por algum sinal no ambiente.
  • 5:08 - 5:11
    E quando eles têm essas experiências,
    essa lembrança durante o dia,
  • 5:11 - 5:14
    eles revivem o trauma em todas
    as modalidades sensoriais,
  • 5:14 - 5:18
    e isso resulta em paralisia ou dissociação
  • 5:18 - 5:20
    na tentativa de bloquear a dor.
  • 5:20 - 5:23
    Claire teve todas essas
    experiências enquanto crescia.
  • 5:25 - 5:29
    Altos níveis de automutilação
    e suicídio são associados com TEPT.
  • 5:29 - 5:32
    Claire cortava suas coxas e seus seios,
  • 5:33 - 5:37
    uma forma muito comum de mutilação
    numa criança que foi sexualmente abusadas.
  • 5:37 - 5:40
    Ela era sexualmente abusada
    pelos clientes de sua mãe,
  • 5:40 - 5:44
    que havia evoluído do vício em analgésicos
  • 5:44 - 5:47
    e estava usando heroína
    quando Claire era adolescente.
  • 5:47 - 5:50
    Devido à forma que a guerra
    contra as drogas se organiza,
  • 5:50 - 5:54
    isso reduz o acesso ao tratamento
    para pessoas com dependência de opiáceos,
  • 5:54 - 5:56
    ela teve de pagar por heroína
    em trabalhos sexuais
  • 5:56 - 5:59
    e os clientes abusavam
    sexualmente de Claire.
  • 6:00 - 6:05
    É muito difícil tratar TEPT
    e há uma alta resistência ao tratamento.
  • 6:05 - 6:09
    Metade das pessoas não respondem
    aos tratamentos tradicionais.
  • 6:10 - 6:11
    Como o tratamos?
  • 6:11 - 6:15
    Podemos tratá-lo com medicações,
    ou com psicoterapia.
  • 6:15 - 6:19
    E há uma ampla gama
    de medicamentos que usamos.
  • 6:19 - 6:21
    Nenhuma droga, e isso é muito importante,
  • 6:21 - 6:24
    nenhuma droga cura TEPT.
  • 6:25 - 6:27
    Ao invés disso, tratamos
    os sintomas do distúrbio.
  • 6:27 - 6:30
    Se o paciente está deprimido,
    dê antidepressivos.
  • 6:30 - 6:34
    Se seu humor oscila,
    dê estabilizadores de humor.
  • 6:34 - 6:37
    Se não consegue dormir, dê um hipnótico.
  • 6:37 - 6:41
    E se esse nervosismo e medo
    se transforma em paranoia e psicose,
  • 6:41 - 6:44
    dê ao paciente um antipsicótico.
  • 6:44 - 6:46
    E eles devem tomar
    esses medicamentos todo dia,
  • 6:46 - 6:49
    por semanas, meses, décadas.
  • 6:49 - 6:53
    E isso porque os medicamentos
    que usamos para tratar o trauma,
  • 6:53 - 6:56
    quando é por causa
    desse nível de gravidade,
  • 6:56 - 6:59
    não atacam a causa principal do trauma.
  • 6:59 - 7:01
    Eles camuflam os problemas.
  • 7:01 - 7:08
    Uma boa analogia seria tomar uma aspirina
    ou ibuprofeno quando você tem febre.
  • 7:08 - 7:13
    A febre é causada por infecção,
    por um micro-organismo.
  • 7:13 - 7:16
    Você pode tomar paracetamol ou ibuprofeno,
  • 7:16 - 7:19
    e isso diminuirá sua temperatura,
    te fará sentir um pouco melhor,
  • 7:19 - 7:22
    mas não ataca a raiz do problema.
  • 7:22 - 7:26
    E é isso que fazemos quando damos
    aos pacientes medicamentos ISRS diários.
  • 7:26 - 7:31
    Camuflamos os problemas, mantendo
    os sintomas em um nível gerenciável.
  • 7:32 - 7:38
    Usamos psicoterapias para tratar TEPT,
    e novamente há uma ampla gama destas:
  • 7:38 - 7:44
    TDC, TCC, EMDR, psicoterapia focada
    em trauma, TAC, APT...
  • 7:44 - 7:47
    Todos elas têm uma abordagem muito similar
  • 7:47 - 7:49
    que na verdade é uma mentira:
  • 7:49 - 7:51
    um problema compartilhado
    é um problema pela metade.
  • 7:51 - 7:53
    "Vamos falar sobre seu trauma.
  • 7:53 - 7:56
    Claire, me conte sobre seu estupro."
  • 7:56 - 8:00
    E isso funciona para 50% dos pacientes,
  • 8:00 - 8:04
    mas para uma importante metade,
    eles simplesmente não conseguem.
  • 8:04 - 8:08
    Assim que pedem que Claire fale
    sobre seu estupro, ela paralisa,
  • 8:08 - 8:10
    foge, abandona o tratamento.
  • 8:10 - 8:12
    Na época que ela tinha 15 anos,
  • 8:12 - 8:14
    Claire foi removida da casa da família,
  • 8:14 - 8:17
    e foi criada em uma sucessão
    de lares adotivos,
  • 8:17 - 8:22
    abrigos infantis, e albergues
    onde os abusos continuaram.
  • 8:22 - 8:25
    Ela se automutilava, e começou a beber,
  • 8:25 - 8:29
    e, quando tinha 18 anos,
    também estava usando heroína.
  • 8:29 - 8:32
    Às vezes trabalhar em psiquiatria
    pode parecer desesperador,
  • 8:32 - 8:34
    e nos sentimos sem esperança.
  • 8:34 - 8:39
    Às vezes parece que a psiquiatria é
    uma profissão de cuidados paliativos.
  • 8:39 - 8:41
    E essa é a verdade,
    pois os tratamentos que usamos
  • 8:41 - 8:45
    não chegam à causa principal
    do problema, o trauma;
  • 8:45 - 8:47
    eles camuflam os problemas.
  • 8:47 - 8:49
    E acho que a indústria
    farmacêutica sabe disso,
  • 8:49 - 8:52
    e eles nos fornecem um produto após outro
  • 8:52 - 8:55
    para prescrevermos aos nossos pacientes
    que não os curam de verdade,
  • 8:55 - 8:58
    mas que os deixam ligeiramente
    melhores para funcionar.
  • 8:58 - 9:00
    E eles devem continuar tomando.
  • 9:00 - 9:02
    Eu diria que estamos na psiquiatria, hoje,
  • 9:02 - 9:05
    onde estávamos na medicina
    geral 100 anos atrás.
  • 9:05 - 9:07
    Na medicina geral, há um século,
  • 9:07 - 9:10
    a humanidade estava perdendo
    a batalha para doenças infecciosas.
  • 9:10 - 9:13
    Éramos muito bons
    em classificá-las e diagnosticá-las.
  • 9:13 - 9:15
    Nós sabíamos quem tinha varíola.
  • 9:15 - 9:17
    Sabíamos que pessoas morriam
    de cirurgia pós-operatória,
  • 9:17 - 9:21
    e que havia micro-organismos,
    mas não tínhamos um tratamento.
  • 9:21 - 9:23
    E então, no começo do século 20,
  • 9:23 - 9:26
    nós descobrimos os antibióticos.
  • 9:26 - 9:27
    Não um tratamento sintomático,
  • 9:27 - 9:30
    mas um tratamento
    que vai no centro da causa,
  • 9:30 - 9:33
    e começamos a dominar
    as doenças infecciosas.
  • 9:34 - 9:37
    A psiquiatria, hoje, está
    em um momento similar.
  • 9:37 - 9:40
    Somos muito bons
    em classificar e diagnosticar.
  • 9:40 - 9:42
    Nossa epidemiologia é soberba.
  • 9:42 - 9:44
    Escrevemos densos manuais diagnósticos.
  • 9:44 - 9:47
    Sabemos quem tem depressão ou ansiedade.
  • 9:47 - 9:49
    Sabemos até a causa:
  • 9:49 - 9:51
    trauma, abuso infantil, maus-tratos,
  • 9:52 - 9:54
    condições sociais precárias.
  • 9:54 - 9:56
    Mas nossos tratamentos são péssimos.
  • 9:58 - 10:02
    Fico bem chocado com o modo
    como o botão da empatia
  • 10:02 - 10:05
    e nosso entendimento desses pacientes
    parece estar desligado.
  • 10:05 - 10:08
    Temos muito sentimentalismo transbordando
  • 10:08 - 10:11
    pelas crianças de cinco ou seis anos
    que tem sofrido abusos,
  • 10:11 - 10:13
    e gastamos dinheiro pela TV
  • 10:13 - 10:18
    nessas campanhas para melhorar
    a vida dessas pobres e inocentes vítimas.
  • 10:18 - 10:21
    Mas vou contar o que acontece
    com aquelas criancinhas
  • 10:21 - 10:23
    quando elas chegam aos 11 ou 12 anos.
  • 10:24 - 10:27
    Colocam o capuz, começam a fumar maconha.
  • 10:27 - 10:29
    Com 16 anos, estão comprando
    e vendendo anfetamina,
  • 10:29 - 10:32
    quando chegam à idade de Claire,
    com seus 20 anos,
  • 10:32 - 10:34
    estão viciados em heroína e álcool.
  • 10:34 - 10:37
    E, de repente, perdemos nossa empatia.
  • 10:37 - 10:39
    Eles são o inimigo público número um.
  • 10:39 - 10:41
    "É culpa sua, Claire.
  • 10:41 - 10:43
    Você fez isso consigo mesma.
  • 10:43 - 10:45
    É sua escolha de estilo de vida."
  • 10:45 - 10:48
    E fico muito chocado,
    e tendo trabalhado em pediatria
  • 10:48 - 10:54
    e vendo a inevitável trajetória
    de desenvolvimento do trauma precoce
  • 10:54 - 10:57
    até a adolescência, e depois,
    a saúde mental adulta e os vícios,
  • 10:58 - 11:00
    temos que nos apegar
    àquele senso de compaixão
  • 11:00 - 11:05
    e compreensão baseada em evidências
    sobre a trajetória de desenvolvimento.
  • 11:06 - 11:09
    Isso soa desesperador,
    mas nem tudo está perdido.
  • 11:10 - 11:11
    MDMA.
  • 11:11 - 11:14
    MDMA tem algumas qualidades fascinantes.
  • 11:14 - 11:17
    Eu sugeriria que se você fosse inventar
  • 11:17 - 11:20
    uma droga hipotética para tratar trauma,
  • 11:20 - 11:21
    seria a MDMA.
  • 11:22 - 11:25
    Ela age nos receptores
    e efeitos psicológicos subjetivos,
  • 11:25 - 11:28
    com muitos pontos positivos.
  • 11:28 - 11:31
    Em um nível de receptores,
    causa uma melhora no humor,
  • 11:31 - 11:34
    diminuindo a depressão e a ansiedade.
  • 11:34 - 11:37
    Em um outro grupo de receptores,
    ele acelera o paciente,
  • 11:37 - 11:42
    uma estimulação leve que os motiva
    a se engajar na terapia.
  • 11:42 - 11:45
    Em outro nível, a droga relaxa
    o paciente, paradoxalmente,
  • 11:45 - 11:47
    ao mesmo tempo que o estimula,
  • 11:47 - 11:51
    e coloca o paciente
    na zona excitação ideal
  • 11:51 - 11:54
    onde ele pode se engajar na psicoterapia.
  • 11:54 - 11:58
    Talvez o mais importante sobre a MDMA e
    sua ferramenta clínica mais significativa
  • 11:58 - 12:01
    é a habilidade de proporcionar um sentido
  • 12:01 - 12:06
    de empatia, compreensão,
    e segurança emocional.
  • 12:07 - 12:12
    Ela consegue manter o paciente num estado
    no qual pode pensar no trauma e acessá-lo
  • 12:12 - 12:15
    como ele nunca pôde fazer antes.
  • 12:16 - 12:18
    Uma das maneiras pelas quais MDMA age
  • 12:18 - 12:21
    é aumentando a liberação
    de um hormônio chamado ocitocina,
  • 12:21 - 12:26
    o qual, por exemplo, o cérebro libera
    quando mães estão amamentando.
  • 12:26 - 12:29
    É um hormônio que produz
    um senso de afeto e união,
  • 12:29 - 12:32
    e é isso que acontece
    com o paciente que usa MDMA.
  • 12:33 - 12:38
    E ela também age diretamente na amígdala
    para reduzir aquela resposta de medo,
  • 12:38 - 12:41
    enquanto, ao mesmo tempo,
    aumenta a resposta pré-frontal,
  • 12:41 - 12:46
    permitindo que o paciente veja coisas
    sob uma luz nova e positiva.
  • 12:46 - 12:48
    Então vamos voltar a Claire.
  • 12:49 - 12:50
    Ela agora tem 40 anos.
  • 12:50 - 12:53
    Ela tem entrado e saído
    de hospitais psiquiátricos,
  • 12:53 - 12:55
    tentado cometer suicídio desde o início.
  • 12:55 - 12:59
    Ela tem tomado antipsicóticos,
    antidepressivos, estabilizadores do humor.
  • 12:59 - 13:02
    Tentou todas as psicoterapias,
    mas não consegue se engajar,
  • 13:02 - 13:05
    porque não fala sobre seus sentimentos.
  • 13:06 - 13:12
    Então ela começa um período
    de psicoterapia assistida por MDMA.
  • 13:12 - 13:13
    Como é isso?
  • 13:13 - 13:18
    São sessões semanais, talvez
    com 8, 10, 12 semanas de duração,
  • 13:18 - 13:20
    com 2 terapeutas,
    pares de homens e mulheres.
  • 13:21 - 13:25
    Não se usa MDMA todo dia, nem toda semana.
  • 13:25 - 13:29
    Durante esse período de 12 sessões,
    a MDMA é usada 3 vezes,
  • 13:29 - 13:30
    e nas outras sessões,
  • 13:30 - 13:35
    conversa-se sobre o material
    que foi revelado na sessão de MDMA.
  • 13:35 - 13:40
    Então o que Claire realmente
    sente quando ela usa MDMA?
  • 13:41 - 13:44
    Ela sente um senso de calor e compreensão,
  • 13:44 - 13:46
    e um senso de controle
  • 13:46 - 13:50
    no relacionamento com os terapeutas.
  • 13:51 - 13:56
    MDMA é como um colete salva-vidas,
    um colete à prova de balas,
  • 13:56 - 13:59
    para vestir na batalha
    contra seus traumas.
  • 13:59 - 14:01
    Isso não é Ecstasy!
  • 14:01 - 14:06
    Ela não está curtindo o prazer eufórico
    do Ecstasy numa rave.
  • 14:06 - 14:08
    Ainda é uma psicoterapia focada em trauma,
  • 14:08 - 14:14
    e ainda é difícil e angustiante para ela,
    mas ela pode fazer isso com MDMA.
  • 14:15 - 14:20
    Então quando o terapeuta diz:
    "Claire, me conte sobre seu estupro".
  • 14:20 - 14:22
    No passado, só a palavra estupro,
    e ela sairia pela porta,
  • 14:22 - 14:27
    mas com MDMA ela diz:
    "Sim, eu posso falar sobre isso!
  • 14:27 - 14:29
    Eu posso vê-lo entrando no meu quarto,
  • 14:29 - 14:32
    posso sentir o cheiro de uísque
    na sua respiração,
  • 14:32 - 14:36
    e posso sentir sua barba
    enquanto ele me estupra".
  • 14:36 - 14:38
    E ela fala sobre isso, explora o assunto,
  • 14:38 - 14:40
    e reflete sobre isso,
  • 14:40 - 14:43
    e ela pode começar o processo de cura.
  • 14:43 - 14:46
    E a partir daqui,
    pode começar sua jornada.
  • 14:46 - 14:49
    Pode atacar a raiz dos seus problemas,
  • 14:49 - 14:53
    não apenas manter os sintomas
    em um certo nível.
  • 14:55 - 14:57
    Isso funciona?
  • 14:57 - 14:59
    Nós conhecemos a MDMA por um bom tempo,
  • 14:59 - 15:05
    e a temos usado na terapia
    clandestina por 30 ou 40 anos,
  • 15:05 - 15:07
    e existem milhares de casos positivos.
  • 15:07 - 15:10
    Eu recebo cinco e-mails
    por semana de todo o mundo:
  • 15:10 - 15:13
    "Dr. Sessa, eu tenho TEPT há anos.
  • 15:13 - 15:18
    Tentei de tudo, e agora com MDMA,
    estou começando a fazer um avanço!"
  • 15:18 - 15:22
    Relatos informais assim são interessantes,
    mas eles não são ciência.
  • 15:22 - 15:26
    Então fizemos a ciência e alguns estudos
    importantes nos últimos anos.
  • 15:26 - 15:31
    Um grande estudo nos EUA mostrou
    que um único período de terapia com MDMA
  • 15:31 - 15:36
    de 16 semanas, pacientes usam MDMA
    3 vezes, testado contra o placebo.
  • 15:36 - 15:38
    No final daquele período,
  • 15:38 - 15:44
    85% das pessoas já não cumpriam
    os critérios de diagnóstico para TEPT.
  • 15:44 - 15:49
    Não apenas um alívio dos sintomas,
    elas não tinham TEPT!
  • 15:49 - 15:54
    Esse grupo foi então acompanhado
    três anos depois, nada de TEPT.
  • 15:54 - 15:58
    Muitas dessas pessoas não tomavam
    mais suas medicações diárias.
  • 15:58 - 16:00
    Elas estavam curadas!
  • 16:00 - 16:03
    Não usamos a palavra "cura"
    na psiquiatria.
  • 16:03 - 16:07
    Nos tornamos instruídos desesperados
    nesta posição de...
  • 16:07 - 16:08
    Essa é a verdade!
  • 16:08 - 16:11
    Se você é diagnosticado
    com um distúrbio mental,
  • 16:11 - 16:13
    como ansiedade ou depressão,
    em seus 20 anos de idade,
  • 16:13 - 16:17
    e a rota de desenvolvimento
    desse transtorno é o abuso infantil grave,
  • 16:17 - 16:21
    há uma grande chance,
    e sinto em dizer isso,
  • 16:21 - 16:24
    que você continue indo a clínicas
    psiquiátricas aos 60 ou 70 anos.
  • 16:24 - 16:27
    Isso não é bom o suficiente,
  • 16:27 - 16:31
    e estamos nessa posição porque
    não estamos combatendo o trauma.
  • 16:32 - 16:34
    Funciona, mas é seguro?
  • 16:35 - 16:38
    Quando pensamos a respeito
    da segurança da MDMA clínica,
  • 16:38 - 16:44
    o que não devemos fazer é considerar
    os riscos do Ecstasy recreacional.
  • 16:44 - 16:47
    Eu nem sei mais o que é o Ecstasy!
  • 16:47 - 16:49
    Ecstasy está aqui; o que é Ecstasy?
  • 16:49 - 16:53
    Umas pílulas duvidosas compradas
    num clube duvidoso, de algum esquisito,
  • 16:53 - 16:56
    que pode ou não conter MDMA,
  • 16:56 - 17:00
    e talvez qualquer outra
    substância ainda mais tóxica.
  • 17:01 - 17:06
    E quando você ouve sobre as mortes
    de pessoas que usam Ecstasy,
  • 17:06 - 17:09
    invariavelmente não é MDMA.
  • 17:10 - 17:13
    Não vamos olhar para o Ecstasy
    como uma medida para a MDMA.
  • 17:13 - 17:15
    Vamos olhar para a MDMA clínica.
  • 17:15 - 17:20
    Quando você usa a MDMA clínica,
    isso é feito sob supervisão médica,
  • 17:20 - 17:21
    a droga é pura.
  • 17:21 - 17:26
    A que uso em meus estudos é 99,98% pura!
  • 17:27 - 17:29
    Muito cara!
  • 17:29 - 17:31
    (Risos)
  • 17:31 - 17:35
    Fazemos isso sob supervisão médica:
    com médico, enfermeiro e psicólogo.
  • 17:35 - 17:40
    E sob essas condições, os riscos
    são reduzidos ao mínimo absoluto.
  • 17:40 - 17:43
    Depois de 40 anos de pesquisas com MDMA,
  • 17:43 - 17:48
    não houve uma única reação adversa
    séria à droga, nenhuma!
  • 17:48 - 17:50
    E com certeza nenhuma morte.
  • 17:51 - 17:54
    Nós precisamos fazer essa pesquisa,
  • 17:54 - 17:59
    e precisamos fazê-la baseada
    em evidências, de uma forma solidária,
  • 17:59 - 18:01
    considerando os dados.
  • 18:02 - 18:04
    É preciso ignorar a pauta sociopolítica
  • 18:04 - 18:07
    que diz que qualquer droga
    usada de forma recreativa
  • 18:07 - 18:10
    também deve ser muito ruim e perigosa.
  • 18:11 - 18:14
    Esse tipo de atitude dificulta a pesquisa.
  • 18:15 - 18:19
    E precisamos que cientistas conduzam isso.
  • 18:19 - 18:21
    Funciona, é seguro,
  • 18:21 - 18:24
    e oferece a pacientes como Claire,
    pela primeira vez na vida,
  • 18:24 - 18:26
    uma oportunidade de romper
    com aquele trauma
  • 18:26 - 18:30
    e não se tornar alguém que sofre de TEPT
    cronicamente por toda vida.
  • 18:30 - 18:32
    E aonde iremos com a pesquisa de MDMA?
  • 18:32 - 18:36
    Já fizemos alguns estudos,
    temos mais alguns a caminho.
  • 18:36 - 18:38
    Estou fazendo um estudo
    em Cardiff com neuroimagem,
  • 18:38 - 18:42
    no qual iremos usar MDMA e placebo
    com pacientes que sofrem de TEPT,
  • 18:42 - 18:47
    e observar a relação entre a amígdala
    e o córtex pré-frontal.
  • 18:47 - 18:50
    Também estamos fazendo
    um estudo aqui em Bristol,
  • 18:50 - 18:54
    fornecendo MDMA a pacientes
    com transtorno de uso de álcool,
  • 18:54 - 18:58
    porque por baixo da raiz
    desse vício está o trauma.
  • 18:58 - 19:00
    Esse é um momento emocionante.
  • 19:00 - 19:02
    As pessoas dizem: "Isso é polêmico!"
  • 19:02 - 19:05
    E de fato, fui apresentado como
    um palestrante polêmico, mas não sou!
  • 19:05 - 19:08
    Sou um médico conservador muito chato.
  • 19:08 - 19:10
    Eu gosto de dados.
  • 19:10 - 19:13
    Gosto de dados baseados em evidências
    que ajudam meus pacientes.
  • 19:14 - 19:16
    Vou lhes dizer o que é polêmico.
  • 19:16 - 19:21
    É polêmico que mais pessoas morreram
    após voltar do Afeganistão e Iraque
  • 19:21 - 19:24
    porque cometeram suicídio
    devido ao TEPT não tratado
  • 19:24 - 19:27
    do que morreram lá em conflito!
  • 19:27 - 19:31
    Isso é polêmico, e antiético.
  • 19:32 - 19:36
    Esse é um momento importante
    para a ciência.
  • 19:36 - 19:40
    MDMA pode ser o antibiótico
    pelo qual a psiquiatria tem esperado.
  • 19:40 - 19:44
    Devemos isso a esse grupo de pacientes
    com o qual estamos falhando,
  • 19:44 - 19:46
    devemos a eles essa pesquisa.
  • 19:46 - 19:48
    Devemos isso a Claire.
  • 19:48 - 19:49
    Obrigada.
  • 19:49 - 19:51
    (Aplausos)
Title:
MDMA é o antibiótico da psiquiatria? | Ben Sessa | TEDxUniversityofBristol
Description:

Essa palestra TEDx explora a prática da Psicoterapia com MDMA, ilustrada com a história de uma típica paciente ficcional. Nós devemos isso à população de pacientes vulneráveis e não tratados, com persistentes distúrbios mentais devido a traumas psicológicos, para explorar a terapia com MDMA como um potencial novo tratamento para o futuro da medicina psiquiátrica.

Ben Sessa é consultor psiquiátrico e trabalha meio período com dependentes adultos no Addaction em Weston-Super-Mare e é pesquisador sênior nas Universidades Bristol, Cardiff, e Imperial College London, onde ele atualmente dedica parte de seu tempo longe da prática médica para estudar para seu PhD em Psicoterapia MDMA. Ele é autor de dois livros que exploram a medicina psicodélica: The Psychedelic Renaissance (2012) e To Fathom Hell or Soar Angelic (2015) e atualmente conduz pesquisa com as Universidades Imperial College London e Cardiff, estudando o papel potencial da terapia assistida com MDMA para o tratamento de TEPT e síndrome da dependência do álcool. Dr. Sessa é franco a respeito do lobbying para mudar o atual sistema pelo qual as drogas são classificadas no Reino Unido, acreditando que uma política de regulamentação mais progressiva reduziria os danos causados pelo uso recreacional das drogas. Ele também é o co-fundador e diretor da principal conferência psicodélica internacional do Reino Unido, a Breaking Convention.

Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx

more » « less
Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
19:59

Portuguese, Brazilian subtitles

Revisions