MDMA é o antibiótico da psiquiatria? | Ben Sessa | TEDxUniversityofBristol
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0:17 - 0:223,4-Methylenedioxymethamphetamine: MDMA.
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0:22 - 0:28Já devem ter ouvido falar desse composto
no contexto da droga recreacional Ecstasy. -
0:28 - 0:32Mas hoje quero falar sobre a MDMA,
não como uma droga recreacional, -
0:32 - 0:35mas como um potencial
novo tratamento na medicina, -
0:36 - 0:38e um tratamento importante
para a psiquiatria -
0:38 - 0:42porque a MDMA, pela primeira vez,
pode nos oferecer, -
0:42 - 0:45a oportunidade de tratar o trauma.
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0:45 - 0:47E o trauma psicológico,
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0:47 - 0:50particularmente aquele causado
por abuso infantil e maus-tratos, -
0:50 - 0:55está no centro de todos, ou da maioria,
dos distúrbios psiquiátricos -
0:55 - 0:58devido a ansiedade e dependências.
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0:58 - 1:02A psiquiatria precisa
dessa abordagem inovadora, -
1:02 - 1:05pois os tratamentos atuais
estão falhando com os pacientes. -
1:06 - 1:08Olá, meu nome é Ben Sessa.
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1:08 - 1:10Sou psiquiatra de crianças e adolescentes.
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1:10 - 1:12Isso significa que me formei como médico,
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1:12 - 1:14me especializei em saúde mental,
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1:14 - 1:17e então me especializei na saúde mental
da criança e do adolescente. -
1:17 - 1:19Mas nos últimos cinco anos,
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1:19 - 1:22tenho trabalhado com adultos
com distúrbios mentais -
1:22 - 1:24e dependência devido
ao uso indevido de drogas. -
1:24 - 1:27E esse desenvolvimento do meu caminho,
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1:27 - 1:32de trabalhar com abuso infantil para
adultos com distúrbios mentais e vícios, -
1:32 - 1:34me trouxe para a porta da MDMA.
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1:35 - 1:36E eu irei propor hoje
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1:36 - 1:39que MDMA pode ser tão importante
para o futuro da psiquiatria -
1:39 - 1:44quanto o descobrimento de antibióticos
foi para a medicina geral 100 anos atrás. -
1:45 - 1:48Quando pensamos em abuso infantil,
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1:48 - 1:52consideramos o abuso físico,
mental, emocional, -
1:53 - 1:55abuso sexual e negligência.
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1:55 - 1:58E pensamos em ambientes nocivos,
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1:58 - 2:02em pais com distúrbios mentais
ou viciados em drogas, -
2:02 - 2:07e questões sociais como pobreza,
habitações precárias, baixa escolaridade. -
2:07 - 2:10Vou ilustrar minha palestra
de hoje com uma paciente, -
2:10 - 2:12e vou chamá-la de Claire.
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2:12 - 2:16Ela não era uma paciente
minha em particular. -
2:16 - 2:19Pelo contrário, ela é uma mistura
de diferentes pessoas -
2:19 - 2:22que conheci nos últimos 18 anos
trabalhando como médico. -
2:23 - 2:25Ela certamente não é a pior delas.
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2:26 - 2:29E qual era o ambiente de Claire
enquanto ela crescia? -
2:29 - 2:31Sua mãe era depressiva.
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2:31 - 2:34Infelizmente, o médico não tinha tempo
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2:34 - 2:37para diagnosticar e tratar
com precisão a depressão. -
2:37 - 2:40Ao invés disso, a mãe de Claire
era medicada com antidepressivos, -
2:40 - 2:43e nunca fez terapia.
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2:43 - 2:45Ela também sentia muitas dores,
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2:45 - 2:48típico dos chamados sintomas
psicossomáticos da depressão, -
2:48 - 2:53e, como resultado, o médico prescrevia
analgésicos a base de opiáceos -
2:53 - 2:55aos quais ela rapidamente
se tornou dependente. -
2:56 - 2:58O pai de Claire era alcoólatra,
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2:58 - 3:01e muitas vezes estava ausente,
entrando e saindo da prisão, -
3:01 - 3:04o que era bom, porque quando estava lá,
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3:04 - 3:06ele era fisicamente abusivo
com Claire e sua mãe. -
3:07 - 3:11O que esse tipo de ambiente
caótico e assustador faz -
3:11 - 3:14para um cérebro em desenvolvimento?
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3:14 - 3:17Vou dar a vocês uma rápida
lição de neurofisiologia. -
3:17 - 3:19Existe uma parte do cérebro
chamada amígdala, -
3:19 - 3:23que é uma parte muito antiga
do cérebro dos mamíferos, -
3:23 - 3:26e muitos outros animais,
além dos humanos, a possuem. -
3:26 - 3:32A amígdala se ilumina quando
estimulada por medo no ambiente. -
3:33 - 3:37Ela se acende e diz:
"Brigue ou fuja, saia daqui!" -
3:37 - 3:40Há outra parte do cérebro,
muito mais sofisticada, -
3:40 - 3:42chamada córtex pré-frontal,
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3:42 - 3:45que fica aqui, na frente, acima dos olhos.
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3:45 - 3:47Apenas humanos possuem
o córtex pré-frontal, -
3:47 - 3:52e é nele que usamos
a lógica e o raciocínio -
3:52 - 3:54para racionalizar a situação,
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3:54 - 3:56e podemos usar nosso córtex pré-frontal
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3:56 - 4:01para superar aquela resposta
instintiva de medo da amígdala. -
4:01 - 4:03Quando Claire estava crescendo,
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4:03 - 4:08ela nunca sabia se o adulto entrando
em seu quarto iria lhe dar um beijo, -
4:08 - 4:10um abraço, montar um quebra-cabeças,
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4:10 - 4:12ou lhe dar um soco, um chute,
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4:12 - 4:14ou queimá-la com seu cigarro.
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4:14 - 4:17Ou se iriam estuprá-la.
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4:17 - 4:21Porque, por toda sua infância,
Claire também foi vítima de abuso sexual. -
4:22 - 4:26Existe um grupo de distúrbios
chamado distúrbios de ansiedade, -
4:26 - 4:30e um dos mais importantes é o chamado
transtorno de estresse pós-traumático, -
4:30 - 4:31ou TEPT.
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4:32 - 4:35Alguns dos principais sintomas do TEPT:
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4:35 - 4:39humor muito ruim,
altos níveis de ansiedade, -
4:39 - 4:41o que chamamos de hipervigilância,
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4:41 - 4:43nervosismo, agitação.
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4:43 - 4:47Exatamente como Claire se sentiu,
ao longo de sua infância e adolescência, -
4:47 - 4:51nunca sabendo se o próximo
agressor estava à espreita. -
4:52 - 4:56Outro sintoma principal do TEPT,
os fenômenos de reviver a experiência, -
4:56 - 4:58de flashback,
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4:58 - 5:02em que paciente tem lembranças repentinas
dessas memórias traumáticas dolorosas. -
5:02 - 5:05Elas podem apenas surgir na cabeça
a qualquer momento, -
5:05 - 5:07provocada por algum sinal no ambiente.
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5:08 - 5:11E quando eles têm essas experiências,
essa lembrança durante o dia, -
5:11 - 5:14eles revivem o trauma em todas
as modalidades sensoriais, -
5:14 - 5:18e isso resulta em paralisia ou dissociação
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5:18 - 5:20na tentativa de bloquear a dor.
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5:20 - 5:23Claire teve todas essas
experiências enquanto crescia. -
5:25 - 5:29Altos níveis de automutilação
e suicídio são associados com TEPT. -
5:29 - 5:32Claire cortava suas coxas e seus seios,
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5:33 - 5:37uma forma muito comum de mutilação
numa criança que foi sexualmente abusadas. -
5:37 - 5:40Ela era sexualmente abusada
pelos clientes de sua mãe, -
5:40 - 5:44que havia evoluído do vício em analgésicos
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5:44 - 5:47e estava usando heroína
quando Claire era adolescente. -
5:47 - 5:50Devido à forma que a guerra
contra as drogas se organiza, -
5:50 - 5:54isso reduz o acesso ao tratamento
para pessoas com dependência de opiáceos, -
5:54 - 5:56ela teve de pagar por heroína
em trabalhos sexuais -
5:56 - 5:59e os clientes abusavam
sexualmente de Claire. -
6:00 - 6:05É muito difícil tratar TEPT
e há uma alta resistência ao tratamento. -
6:05 - 6:09Metade das pessoas não respondem
aos tratamentos tradicionais. -
6:10 - 6:11Como o tratamos?
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6:11 - 6:15Podemos tratá-lo com medicações,
ou com psicoterapia. -
6:15 - 6:19E há uma ampla gama
de medicamentos que usamos. -
6:19 - 6:21Nenhuma droga, e isso é muito importante,
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6:21 - 6:24nenhuma droga cura TEPT.
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6:25 - 6:27Ao invés disso, tratamos
os sintomas do distúrbio. -
6:27 - 6:30Se o paciente está deprimido,
dê antidepressivos. -
6:30 - 6:34Se seu humor oscila,
dê estabilizadores de humor. -
6:34 - 6:37Se não consegue dormir, dê um hipnótico.
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6:37 - 6:41E se esse nervosismo e medo
se transforma em paranoia e psicose, -
6:41 - 6:44dê ao paciente um antipsicótico.
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6:44 - 6:46E eles devem tomar
esses medicamentos todo dia, -
6:46 - 6:49por semanas, meses, décadas.
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6:49 - 6:53E isso porque os medicamentos
que usamos para tratar o trauma, -
6:53 - 6:56quando é por causa
desse nível de gravidade, -
6:56 - 6:59não atacam a causa principal do trauma.
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6:59 - 7:01Eles camuflam os problemas.
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7:01 - 7:08Uma boa analogia seria tomar uma aspirina
ou ibuprofeno quando você tem febre. -
7:08 - 7:13A febre é causada por infecção,
por um micro-organismo. -
7:13 - 7:16Você pode tomar paracetamol ou ibuprofeno,
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7:16 - 7:19e isso diminuirá sua temperatura,
te fará sentir um pouco melhor, -
7:19 - 7:22mas não ataca a raiz do problema.
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7:22 - 7:26E é isso que fazemos quando damos
aos pacientes medicamentos ISRS diários. -
7:26 - 7:31Camuflamos os problemas, mantendo
os sintomas em um nível gerenciável. -
7:32 - 7:38Usamos psicoterapias para tratar TEPT,
e novamente há uma ampla gama destas: -
7:38 - 7:44TDC, TCC, EMDR, psicoterapia focada
em trauma, TAC, APT... -
7:44 - 7:47Todos elas têm uma abordagem muito similar
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7:47 - 7:49que na verdade é uma mentira:
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7:49 - 7:51um problema compartilhado
é um problema pela metade. -
7:51 - 7:53"Vamos falar sobre seu trauma.
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7:53 - 7:56Claire, me conte sobre seu estupro."
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7:56 - 8:00E isso funciona para 50% dos pacientes,
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8:00 - 8:04mas para uma importante metade,
eles simplesmente não conseguem. -
8:04 - 8:08Assim que pedem que Claire fale
sobre seu estupro, ela paralisa, -
8:08 - 8:10foge, abandona o tratamento.
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8:10 - 8:12Na época que ela tinha 15 anos,
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8:12 - 8:14Claire foi removida da casa da família,
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8:14 - 8:17e foi criada em uma sucessão
de lares adotivos, -
8:17 - 8:22abrigos infantis, e albergues
onde os abusos continuaram. -
8:22 - 8:25Ela se automutilava, e começou a beber,
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8:25 - 8:29e, quando tinha 18 anos,
também estava usando heroína. -
8:29 - 8:32Às vezes trabalhar em psiquiatria
pode parecer desesperador, -
8:32 - 8:34e nos sentimos sem esperança.
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8:34 - 8:39Às vezes parece que a psiquiatria é
uma profissão de cuidados paliativos. -
8:39 - 8:41E essa é a verdade,
pois os tratamentos que usamos -
8:41 - 8:45não chegam à causa principal
do problema, o trauma; -
8:45 - 8:47eles camuflam os problemas.
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8:47 - 8:49E acho que a indústria
farmacêutica sabe disso, -
8:49 - 8:52e eles nos fornecem um produto após outro
-
8:52 - 8:55para prescrevermos aos nossos pacientes
que não os curam de verdade, -
8:55 - 8:58mas que os deixam ligeiramente
melhores para funcionar. -
8:58 - 9:00E eles devem continuar tomando.
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9:00 - 9:02Eu diria que estamos na psiquiatria, hoje,
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9:02 - 9:05onde estávamos na medicina
geral 100 anos atrás. -
9:05 - 9:07Na medicina geral, há um século,
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9:07 - 9:10a humanidade estava perdendo
a batalha para doenças infecciosas. -
9:10 - 9:13Éramos muito bons
em classificá-las e diagnosticá-las. -
9:13 - 9:15Nós sabíamos quem tinha varíola.
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9:15 - 9:17Sabíamos que pessoas morriam
de cirurgia pós-operatória, -
9:17 - 9:21e que havia micro-organismos,
mas não tínhamos um tratamento. -
9:21 - 9:23E então, no começo do século 20,
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9:23 - 9:26nós descobrimos os antibióticos.
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9:26 - 9:27Não um tratamento sintomático,
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9:27 - 9:30mas um tratamento
que vai no centro da causa, -
9:30 - 9:33e começamos a dominar
as doenças infecciosas. -
9:34 - 9:37A psiquiatria, hoje, está
em um momento similar. -
9:37 - 9:40Somos muito bons
em classificar e diagnosticar. -
9:40 - 9:42Nossa epidemiologia é soberba.
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9:42 - 9:44Escrevemos densos manuais diagnósticos.
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9:44 - 9:47Sabemos quem tem depressão ou ansiedade.
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9:47 - 9:49Sabemos até a causa:
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9:49 - 9:51trauma, abuso infantil, maus-tratos,
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9:52 - 9:54condições sociais precárias.
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9:54 - 9:56Mas nossos tratamentos são péssimos.
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9:58 - 10:02Fico bem chocado com o modo
como o botão da empatia -
10:02 - 10:05e nosso entendimento desses pacientes
parece estar desligado. -
10:05 - 10:08Temos muito sentimentalismo transbordando
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10:08 - 10:11pelas crianças de cinco ou seis anos
que tem sofrido abusos, -
10:11 - 10:13e gastamos dinheiro pela TV
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10:13 - 10:18nessas campanhas para melhorar
a vida dessas pobres e inocentes vítimas. -
10:18 - 10:21Mas vou contar o que acontece
com aquelas criancinhas -
10:21 - 10:23quando elas chegam aos 11 ou 12 anos.
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10:24 - 10:27Colocam o capuz, começam a fumar maconha.
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10:27 - 10:29Com 16 anos, estão comprando
e vendendo anfetamina, -
10:29 - 10:32quando chegam à idade de Claire,
com seus 20 anos, -
10:32 - 10:34estão viciados em heroína e álcool.
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10:34 - 10:37E, de repente, perdemos nossa empatia.
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10:37 - 10:39Eles são o inimigo público número um.
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10:39 - 10:41"É culpa sua, Claire.
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10:41 - 10:43Você fez isso consigo mesma.
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10:43 - 10:45É sua escolha de estilo de vida."
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10:45 - 10:48E fico muito chocado,
e tendo trabalhado em pediatria -
10:48 - 10:54e vendo a inevitável trajetória
de desenvolvimento do trauma precoce -
10:54 - 10:57até a adolescência, e depois,
a saúde mental adulta e os vícios, -
10:58 - 11:00temos que nos apegar
àquele senso de compaixão -
11:00 - 11:05e compreensão baseada em evidências
sobre a trajetória de desenvolvimento. -
11:06 - 11:09Isso soa desesperador,
mas nem tudo está perdido. -
11:10 - 11:11MDMA.
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11:11 - 11:14MDMA tem algumas qualidades fascinantes.
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11:14 - 11:17Eu sugeriria que se você fosse inventar
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11:17 - 11:20uma droga hipotética para tratar trauma,
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11:20 - 11:21seria a MDMA.
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11:22 - 11:25Ela age nos receptores
e efeitos psicológicos subjetivos, -
11:25 - 11:28com muitos pontos positivos.
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11:28 - 11:31Em um nível de receptores,
causa uma melhora no humor, -
11:31 - 11:34diminuindo a depressão e a ansiedade.
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11:34 - 11:37Em um outro grupo de receptores,
ele acelera o paciente, -
11:37 - 11:42uma estimulação leve que os motiva
a se engajar na terapia. -
11:42 - 11:45Em outro nível, a droga relaxa
o paciente, paradoxalmente, -
11:45 - 11:47ao mesmo tempo que o estimula,
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11:47 - 11:51e coloca o paciente
na zona excitação ideal -
11:51 - 11:54onde ele pode se engajar na psicoterapia.
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11:54 - 11:58Talvez o mais importante sobre a MDMA e
sua ferramenta clínica mais significativa -
11:58 - 12:01é a habilidade de proporcionar um sentido
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12:01 - 12:06de empatia, compreensão,
e segurança emocional. -
12:07 - 12:12Ela consegue manter o paciente num estado
no qual pode pensar no trauma e acessá-lo -
12:12 - 12:15como ele nunca pôde fazer antes.
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12:16 - 12:18Uma das maneiras pelas quais MDMA age
-
12:18 - 12:21é aumentando a liberação
de um hormônio chamado ocitocina, -
12:21 - 12:26o qual, por exemplo, o cérebro libera
quando mães estão amamentando. -
12:26 - 12:29É um hormônio que produz
um senso de afeto e união, -
12:29 - 12:32e é isso que acontece
com o paciente que usa MDMA. -
12:33 - 12:38E ela também age diretamente na amígdala
para reduzir aquela resposta de medo, -
12:38 - 12:41enquanto, ao mesmo tempo,
aumenta a resposta pré-frontal, -
12:41 - 12:46permitindo que o paciente veja coisas
sob uma luz nova e positiva. -
12:46 - 12:48Então vamos voltar a Claire.
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12:49 - 12:50Ela agora tem 40 anos.
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12:50 - 12:53Ela tem entrado e saído
de hospitais psiquiátricos, -
12:53 - 12:55tentado cometer suicídio desde o início.
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12:55 - 12:59Ela tem tomado antipsicóticos,
antidepressivos, estabilizadores do humor. -
12:59 - 13:02Tentou todas as psicoterapias,
mas não consegue se engajar, -
13:02 - 13:05porque não fala sobre seus sentimentos.
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13:06 - 13:12Então ela começa um período
de psicoterapia assistida por MDMA. -
13:12 - 13:13Como é isso?
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13:13 - 13:18São sessões semanais, talvez
com 8, 10, 12 semanas de duração, -
13:18 - 13:20com 2 terapeutas,
pares de homens e mulheres. -
13:21 - 13:25Não se usa MDMA todo dia, nem toda semana.
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13:25 - 13:29Durante esse período de 12 sessões,
a MDMA é usada 3 vezes, -
13:29 - 13:30e nas outras sessões,
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13:30 - 13:35conversa-se sobre o material
que foi revelado na sessão de MDMA. -
13:35 - 13:40Então o que Claire realmente
sente quando ela usa MDMA? -
13:41 - 13:44Ela sente um senso de calor e compreensão,
-
13:44 - 13:46e um senso de controle
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13:46 - 13:50no relacionamento com os terapeutas.
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13:51 - 13:56MDMA é como um colete salva-vidas,
um colete à prova de balas, -
13:56 - 13:59para vestir na batalha
contra seus traumas. -
13:59 - 14:01Isso não é Ecstasy!
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14:01 - 14:06Ela não está curtindo o prazer eufórico
do Ecstasy numa rave. -
14:06 - 14:08Ainda é uma psicoterapia focada em trauma,
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14:08 - 14:14e ainda é difícil e angustiante para ela,
mas ela pode fazer isso com MDMA. -
14:15 - 14:20Então quando o terapeuta diz:
"Claire, me conte sobre seu estupro". -
14:20 - 14:22No passado, só a palavra estupro,
e ela sairia pela porta, -
14:22 - 14:27mas com MDMA ela diz:
"Sim, eu posso falar sobre isso! -
14:27 - 14:29Eu posso vê-lo entrando no meu quarto,
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14:29 - 14:32posso sentir o cheiro de uísque
na sua respiração, -
14:32 - 14:36e posso sentir sua barba
enquanto ele me estupra". -
14:36 - 14:38E ela fala sobre isso, explora o assunto,
-
14:38 - 14:40e reflete sobre isso,
-
14:40 - 14:43e ela pode começar o processo de cura.
-
14:43 - 14:46E a partir daqui,
pode começar sua jornada. -
14:46 - 14:49Pode atacar a raiz dos seus problemas,
-
14:49 - 14:53não apenas manter os sintomas
em um certo nível. -
14:55 - 14:57Isso funciona?
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14:57 - 14:59Nós conhecemos a MDMA por um bom tempo,
-
14:59 - 15:05e a temos usado na terapia
clandestina por 30 ou 40 anos, -
15:05 - 15:07e existem milhares de casos positivos.
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15:07 - 15:10Eu recebo cinco e-mails
por semana de todo o mundo: -
15:10 - 15:13"Dr. Sessa, eu tenho TEPT há anos.
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15:13 - 15:18Tentei de tudo, e agora com MDMA,
estou começando a fazer um avanço!" -
15:18 - 15:22Relatos informais assim são interessantes,
mas eles não são ciência. -
15:22 - 15:26Então fizemos a ciência e alguns estudos
importantes nos últimos anos. -
15:26 - 15:31Um grande estudo nos EUA mostrou
que um único período de terapia com MDMA -
15:31 - 15:36de 16 semanas, pacientes usam MDMA
3 vezes, testado contra o placebo. -
15:36 - 15:38No final daquele período,
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15:38 - 15:4485% das pessoas já não cumpriam
os critérios de diagnóstico para TEPT. -
15:44 - 15:49Não apenas um alívio dos sintomas,
elas não tinham TEPT! -
15:49 - 15:54Esse grupo foi então acompanhado
três anos depois, nada de TEPT. -
15:54 - 15:58Muitas dessas pessoas não tomavam
mais suas medicações diárias. -
15:58 - 16:00Elas estavam curadas!
-
16:00 - 16:03Não usamos a palavra "cura"
na psiquiatria. -
16:03 - 16:07Nos tornamos instruídos desesperados
nesta posição de... -
16:07 - 16:08Essa é a verdade!
-
16:08 - 16:11Se você é diagnosticado
com um distúrbio mental, -
16:11 - 16:13como ansiedade ou depressão,
em seus 20 anos de idade, -
16:13 - 16:17e a rota de desenvolvimento
desse transtorno é o abuso infantil grave, -
16:17 - 16:21há uma grande chance,
e sinto em dizer isso, -
16:21 - 16:24que você continue indo a clínicas
psiquiátricas aos 60 ou 70 anos. -
16:24 - 16:27Isso não é bom o suficiente,
-
16:27 - 16:31e estamos nessa posição porque
não estamos combatendo o trauma. -
16:32 - 16:34Funciona, mas é seguro?
-
16:35 - 16:38Quando pensamos a respeito
da segurança da MDMA clínica, -
16:38 - 16:44o que não devemos fazer é considerar
os riscos do Ecstasy recreacional. -
16:44 - 16:47Eu nem sei mais o que é o Ecstasy!
-
16:47 - 16:49Ecstasy está aqui; o que é Ecstasy?
-
16:49 - 16:53Umas pílulas duvidosas compradas
num clube duvidoso, de algum esquisito, -
16:53 - 16:56que pode ou não conter MDMA,
-
16:56 - 17:00e talvez qualquer outra
substância ainda mais tóxica. -
17:01 - 17:06E quando você ouve sobre as mortes
de pessoas que usam Ecstasy, -
17:06 - 17:09invariavelmente não é MDMA.
-
17:10 - 17:13Não vamos olhar para o Ecstasy
como uma medida para a MDMA. -
17:13 - 17:15Vamos olhar para a MDMA clínica.
-
17:15 - 17:20Quando você usa a MDMA clínica,
isso é feito sob supervisão médica, -
17:20 - 17:21a droga é pura.
-
17:21 - 17:26A que uso em meus estudos é 99,98% pura!
-
17:27 - 17:29Muito cara!
-
17:29 - 17:31(Risos)
-
17:31 - 17:35Fazemos isso sob supervisão médica:
com médico, enfermeiro e psicólogo. -
17:35 - 17:40E sob essas condições, os riscos
são reduzidos ao mínimo absoluto. -
17:40 - 17:43Depois de 40 anos de pesquisas com MDMA,
-
17:43 - 17:48não houve uma única reação adversa
séria à droga, nenhuma! -
17:48 - 17:50E com certeza nenhuma morte.
-
17:51 - 17:54Nós precisamos fazer essa pesquisa,
-
17:54 - 17:59e precisamos fazê-la baseada
em evidências, de uma forma solidária, -
17:59 - 18:01considerando os dados.
-
18:02 - 18:04É preciso ignorar a pauta sociopolítica
-
18:04 - 18:07que diz que qualquer droga
usada de forma recreativa -
18:07 - 18:10também deve ser muito ruim e perigosa.
-
18:11 - 18:14Esse tipo de atitude dificulta a pesquisa.
-
18:15 - 18:19E precisamos que cientistas conduzam isso.
-
18:19 - 18:21Funciona, é seguro,
-
18:21 - 18:24e oferece a pacientes como Claire,
pela primeira vez na vida, -
18:24 - 18:26uma oportunidade de romper
com aquele trauma -
18:26 - 18:30e não se tornar alguém que sofre de TEPT
cronicamente por toda vida. -
18:30 - 18:32E aonde iremos com a pesquisa de MDMA?
-
18:32 - 18:36Já fizemos alguns estudos,
temos mais alguns a caminho. -
18:36 - 18:38Estou fazendo um estudo
em Cardiff com neuroimagem, -
18:38 - 18:42no qual iremos usar MDMA e placebo
com pacientes que sofrem de TEPT, -
18:42 - 18:47e observar a relação entre a amígdala
e o córtex pré-frontal. -
18:47 - 18:50Também estamos fazendo
um estudo aqui em Bristol, -
18:50 - 18:54fornecendo MDMA a pacientes
com transtorno de uso de álcool, -
18:54 - 18:58porque por baixo da raiz
desse vício está o trauma. -
18:58 - 19:00Esse é um momento emocionante.
-
19:00 - 19:02As pessoas dizem: "Isso é polêmico!"
-
19:02 - 19:05E de fato, fui apresentado como
um palestrante polêmico, mas não sou! -
19:05 - 19:08Sou um médico conservador muito chato.
-
19:08 - 19:10Eu gosto de dados.
-
19:10 - 19:13Gosto de dados baseados em evidências
que ajudam meus pacientes. -
19:14 - 19:16Vou lhes dizer o que é polêmico.
-
19:16 - 19:21É polêmico que mais pessoas morreram
após voltar do Afeganistão e Iraque -
19:21 - 19:24porque cometeram suicídio
devido ao TEPT não tratado -
19:24 - 19:27do que morreram lá em conflito!
-
19:27 - 19:31Isso é polêmico, e antiético.
-
19:32 - 19:36Esse é um momento importante
para a ciência. -
19:36 - 19:40MDMA pode ser o antibiótico
pelo qual a psiquiatria tem esperado. -
19:40 - 19:44Devemos isso a esse grupo de pacientes
com o qual estamos falhando, -
19:44 - 19:46devemos a eles essa pesquisa.
-
19:46 - 19:48Devemos isso a Claire.
-
19:48 - 19:49Obrigada.
-
19:49 - 19:51(Aplausos)
- Title:
- MDMA é o antibiótico da psiquiatria? | Ben Sessa | TEDxUniversityofBristol
- Description:
-
Essa palestra TEDx explora a prática da Psicoterapia com MDMA, ilustrada com a história de uma típica paciente ficcional. Nós devemos isso à população de pacientes vulneráveis e não tratados, com persistentes distúrbios mentais devido a traumas psicológicos, para explorar a terapia com MDMA como um potencial novo tratamento para o futuro da medicina psiquiátrica.
Ben Sessa é consultor psiquiátrico e trabalha meio período com dependentes adultos no Addaction em Weston-Super-Mare e é pesquisador sênior nas Universidades Bristol, Cardiff, e Imperial College London, onde ele atualmente dedica parte de seu tempo longe da prática médica para estudar para seu PhD em Psicoterapia MDMA. Ele é autor de dois livros que exploram a medicina psicodélica: The Psychedelic Renaissance (2012) e To Fathom Hell or Soar Angelic (2015) e atualmente conduz pesquisa com as Universidades Imperial College London e Cardiff, estudando o papel potencial da terapia assistida com MDMA para o tratamento de TEPT e síndrome da dependência do álcool. Dr. Sessa é franco a respeito do lobbying para mudar o atual sistema pelo qual as drogas são classificadas no Reino Unido, acreditando que uma política de regulamentação mais progressiva reduziria os danos causados pelo uso recreacional das drogas. Ele também é o co-fundador e diretor da principal conferência psicodélica internacional do Reino Unido, a Breaking Convention.
Esta palestra foi dada em um evento TEDx, que usa o formato de conferência TED, mas é organizado de forma independente por uma comunidade local. Para saber mais visite http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 19:59