O surpreendente declínio da violência
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0:00 - 0:04Imagens como esta, do campo de concentração de Auschwitz,
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0:04 - 0:09foram gravadas na nossa consciência durante o século XX
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0:09 - 0:14e permitiram-nos uma nova compreensão sobre quem somos,
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0:14 - 0:17de onde viemos e os tempos em que vivemos.
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0:17 - 0:21Durante o século XX, assistimos às atrocidades
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0:21 - 0:26de Estaline, Hitler, Mao, Pol Pot, Ruanda e outros genocídios,
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0:26 - 0:30e embora o século XXI tenha apenas sete anos,
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0:30 - 0:34já assistimos a um genocídio em Darfur
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0:34 - 0:36e aos horrores diários do Iraque.
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0:37 - 0:40Isto levou a uma perceção comum da nossa situação,
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0:40 - 0:44a saber: que a modernidade despoletou uma violência terrível, e talvez ainda
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0:44 - 0:47que os povos nativos viviam num estado de harmonia do qual nos temos afastado, com os riscos que isso comporta para nós.
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0:47 - 0:52Eis um exemplo
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0:52 - 0:55de um artigo de opinião sobre o Dia de Ação de Graças no jornal Boston Globe
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0:55 - 0:58há alguns anos, onde o autor escreveu: "A vida dos índios
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0:59 - 1:02era difícil, mas não havia problemas de emprego,
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1:02 - 1:04a harmonia da comunidade era forte, o abuso de substâncias desconhecido,
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1:05 - 1:08a criminalidade quase inexistente, a guerra que havia entre as tribos
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1:09 - 1:12era em grande parte ritualística e raramente conduzia a um massacre
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1:12 - 1:16indiscriminado." Bom, todos nós conhecemos bem esta história.
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1:17 - 1:20Ensinamo-la aos nossos filhos, ouvimo-la na televisão
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1:20 - 1:25e em livros de histórias. O título original desta sessão
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1:25 - 1:28era: "Tudo o que você sabe está errado", e eu vou apresentar provas
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1:28 - 1:31de que esta parte específica do nosso conhecimento geral está errada:
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1:31 - 1:35que na verdade os nossos antepassados eram muito mais violentos do que nós,
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1:35 - 1:38que a violência tem sofrido um declínio desde há muito tempo,
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1:39 - 1:42e que hoje estamos a viver a época mais pacífica da existência da nossa espécie.
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1:42 - 1:46Bom, na década de Darfur e do Iraque,
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1:47 - 1:50uma declaração como esta pode parecer algo alucinante
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1:50 - 1:53ou obsceno. Mas eu vou tentar convencer-vos
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1:53 - 1:59de que essa é a imagem correta. O declínio da violência
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1:59 - 2:02é um fenómeno fractal. Podemos constatá-lo ao longo de milénios,
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2:02 - 2:05ao longo de séculos, ao longo de décadas e ao longo de vários anos,
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2:06 - 2:08embora pareça ter ocorrido um ponto de viragem no início
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2:08 - 2:12da Idade da Razão, no século XVI. É visível
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2:12 - 2:15em todo o mundo, embora não de forma homogénea.
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2:16 - 2:18É especialmente evidente no Ocidente, a começar com a Inglaterra
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2:19 - 2:21e a Holanda na época do Iluminismo.
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2:22 - 2:25Deixem que vos leve numa viagem de várias potências de 10 --
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2:26 - 2:28da escala de milénios até a escala de anos --
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2:28 - 2:32para tentar persuadir-vos disso. Até há 10.000 anos, todos os humanos
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2:32 - 2:35viviam como caçadores-recoletores, sem assentamentos ou governos
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2:35 - 2:38permanentes. E é assim que normalmente se imagina
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2:38 - 2:43uma situação de harmonia primordial. Mas o arqueólogo
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2:44 - 2:48Lawrence Keeley, ao observar as taxas de acidentes
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2:48 - 2:51entre os caçadores-recoletores contemporâneos -- que são a nossa melhor fonte
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2:52 - 2:58de provas sobre este modo de vida -- demonstrou uma conclusão bem diferente.
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2:58 - 3:00Eis um gráfico que ele concebeu
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3:00 - 3:03mostrando a percentagem de mortalidade masculina causada por guerras
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3:03 - 3:07em várias sociedades de forrageamento, ou de caça e recoleção.
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3:08 - 3:14As barras vermelhas correspondem à probabilidade de um homem morrer
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3:14 - 3:17pelas mãos de outro homem, ao contrário de falecer
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3:17 - 3:21de causas naturais, numa variedade de sociedades de forrageamento
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3:21 - 3:24nas montanhas da Nova Guiné e na Floresta Amazónica.
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3:25 - 3:28E elas variam de uma taxa de quase 60% de probabilidade de um homem morrer
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3:28 - 3:31pelas mãos de outro homem para, no caso dos Gebusi,
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3:32 - 3:36apenas 15%. A barrinha azul no canto
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3:36 - 3:39inferior esquerdo mostra a estatística correspondente dos Estados Unidos
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3:40 - 3:44e da Europa no século XX, e inclui todas as mortes
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3:44 - 3:49das duas Guerras Mundiais. Se a taxa de mortes em guerras tribais tivesse prevalecido
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3:49 - 3:55durante o século XX, teria havido dois mil milhões de mortes ao invés de cem milhões.
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3:55 - 3:58Também pela escala milenar, podemos observar
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3:58 - 4:03o modo de vida das civilizações antigas tais como as que são descritas
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4:03 - 4:08na Bíblia. E nesta suposta fonte dos nossos valores morais
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4:08 - 4:12podem-se ler as descrições do que era esperado na guerra,
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4:12 - 4:15como o seguinte (de "Números" 31): "E pelejaram
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4:15 - 4:18contra os midianitas, como o Senhor ordenara a Moisés,
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4:18 - 4:21e mataram todos os homens. E disse-lhes Moisés:
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4:21 - 4:25"Deixastes viver todas as mulheres? Agora, pois, matai, dentre as crianças,
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4:25 - 4:28todas as do sexo masculino; e matai todas as mulheres que hajam conhecido algum homem,
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4:28 - 4:32deitando-se com ele; mas as jovens que não tenham conhecido um homem
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4:32 - 4:35deitando-se com ele, deixem-nas viver e fiquem com elas." Por outras palavras,
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4:35 - 4:40matem os homens, matem os filhos, se encontrarem alguma virgem
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4:40 - 4:42então deixem-na viver para que possam violá-la.
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4:43 - 4:47E pode-se encontrar quatro ou cinco passagens deste tipo na Bíblia.
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4:47 - 4:50Também na Bíblia podemos ver que a pena de morte
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4:50 - 4:55era a punição aceite para crimes como a homossexualidade,
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4:55 - 4:59adultério, blasfémia, idolatria, responder torto aos pais --
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4:59 - 5:03(Risos) -- e apanhar lenha no sábado.
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5:03 - 5:06Bem, vamos fazer zoom
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5:06 - 5:09para uma ordem de grandeza abaixo e observar a escala de séculos.
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5:09 - 5:13Embora não tenhamos dados estatísticos para as guerras de toda
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5:14 - 5:15a Idade Média até os tempos modernos,
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5:15 - 5:18sabemos apenas pela história convencional -- as evidências
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5:18 - 5:22estiveram sempre debaixo do nosso nariz, revelando que houve uma redução
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5:22 - 5:25em formas socialmente sancionadas de violência.
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5:25 - 5:29Por exemplo, qualquer história social revela que a mutilação e a tortura
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5:29 - 5:32eram formas rotineiras de punição criminal. O tipo de infração
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5:32 - 5:36que hoje em dia daria uma multa, naqueles dias resultaria em
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5:36 - 5:40cortar a língua, cortar as orelhas, cegar,
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5:40 - 5:42cortar uma mão, e assim por diante.
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5:42 - 5:46Havia inúmeras formas engenhosas de penas capitais sádicas:
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5:47 - 5:49queimar na fogueira, estripar, quebrar o corpo na roda,
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5:50 - 5:52ser dilacerado por cavalos, e assim por diante.
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5:53 - 5:57A pena de morte era uma punição para uma longa lista de crimes não-violentos:
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5:57 - 6:01criticar o rei, roubar um pedaço de pão. A escravidão, é claro,
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6:02 - 6:05era o dispositivo preferido para poupar trabalho, e a crueldade era
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6:06 - 6:09uma forma popular de entretenimento. Talvez o exemplo mais expressivo
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6:09 - 6:12era a prática de queimar gatos, sendo que um gato era içado
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6:12 - 6:15sobre um palco e deitado numa fogueira,
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6:15 - 6:20enquanto os espetadores riam histericamente ao ver o gato uivar de dor,
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6:21 - 6:23e a ser queimado até a morte.
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6:23 - 6:26E que dizer do homicídio mano-a-mano? Bem, neste caso existem boas estatísticas,
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6:26 - 6:32pois muitos municípios registavam a causa da morte.
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6:32 - 6:36O criminologista Manuel Eisner
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6:37 - 6:39consultou todos os registos históricos em toda a Europa
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6:39 - 6:44para verificar as taxas de homicídio em todas as aldeias, vilas, cidades e condados
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6:44 - 6:46que conseguiu encontrar, e suplementou-as
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6:46 - 6:49com dados nacionais, quando as nações começaram a registar dados estatísticos.
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6:50 - 6:57Ele usou uma escala logarítmica, a partir de 100 mortes
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6:57 - 7:03por 100 mil pessoas por ano, que era aproximadamente a taxa de
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7:03 - 7:08homicídios na Idade Média. E o valor decai
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7:08 - 7:12para menos de 1 homicídio para cada 100 mil pessoas por ano
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7:13 - 7:17em sete ou oito países europeus. Depois, há um ligeiro aumento
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7:17 - 7:21nos anos 60. As pessoas que diziam que o rock 'n' roll levaria
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7:21 - 7:24à decadência dos valores morais afinal tinham alguma razão.
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7:25 - 7:28Mas houve uma queda de pelo menos duas ordens de grandeza
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7:29 - 7:31em homicídios desde a Idade Média até ao presente,
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7:32 - 7:35e a curva ocorreu no início do século XVI.
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7:37 - 7:39Vamos clicar na escala de décadas.
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7:39 - 7:41De acordo com organizações não-governamentais
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7:42 - 7:46que registam estas estatísticas, desde 1945 na Europa e nas Américas
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7:46 - 7:49tem-se verificado um declínio acentuado nas guerras interestatais,
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7:50 - 7:54tumultos étnicos mortais ou pogroms, bem como em golpes militares,
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7:54 - 7:58mesmo na América do Sul. Mundialmente, tem havido um declínio acentuado
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7:58 - 8:03de mortes em guerras interestatais. As barras amarelas aqui mostram o número
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8:04 - 8:08de mortes por guerra por ano a partir de 1950 até ao presente.
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8:09 - 8:13E, como podem ver, a taxa de mortalidade cai de 65 mil mortes
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8:13 - 8:17por conflito por ano em 1950 para menos de 2 mil mortes
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8:17 - 8:21por conflito por ano nesta década, mesmo sendo horrífica como é.
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8:21 - 8:24Mesmo na escala de anos, pode-se constatar um declínio da violência.
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8:25 - 8:28Desde o fim da Guerra Fria houve menos guerras civis,
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8:28 - 8:34menos genocídios -- de facto, houve uma redução de 90% desde os números elevados do pós-II Guerra Mundial --
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8:34 - 8:40e até mesmo uma reversão do aumento dos anos 60 em homicídios e crimes violentos.
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8:40 - 8:44Estes dados derivam das Estatísticas Criminais Uniformes (Uniform Crime Statistics) do FBI: podem verificar
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8:44 - 8:47que há uma taxa relativamente baixa de violência nos anos 50 e 60;
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8:48 - 8:52em seguida, dispara para cima durante várias décadas e inicia
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8:52 - 8:56um rápido declínio a partir dos anos 90, até voltar
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8:56 - 9:00quase ao nível em que estava em 1960.
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9:00 - 9:02Presidente Clinton, se está aqui presente, obrigado.
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9:02 - 9:04(Risos)
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9:04 - 9:07Então a questão é: porque será que há tantas pessoas tão erradas
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9:07 - 9:11sobre algo tão importante? Eu acho que há uma série de razões.
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9:11 - 9:14Uma deles é que possuímos melhores sistemas de informação: "A Associated Press
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9:14 - 9:18é melhor cronista de guerra por todo o planeta
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9:18 - 9:22do que os monges do século XVI."
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9:22 - 9:27Há uma ilusão cognitiva: nós psicólogos cognitivos sabemos que quanto mais facilmente
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9:27 - 9:30se memorizam detalhes específicos de algo,
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9:30 - 9:33maior probabilidade lhes é atribuída.
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9:33 - 9:36As coisas que lemos no jornal com fotos sangrentas
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9:37 - 9:41ficam mais gravadas na memória do que relatos sobre a morte de muitas pessoas
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9:41 - 9:46na cama por velhice. Há uma dinâmica na opinião
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9:47 - 9:52e nos mercados de advocacia: ninguém nunca atraiu observadores, advogados
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9:52 - 9:53e doadores, por dizer:
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9:54 - 9:56"As coisas parecem estar cada vez melhores."
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9:56 - 9:57(Risos)
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9:57 - 9:59Existe um sentimento de culpa sobre o nosso tratamento dos povos indígenas
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10:00 - 10:03na vida intelectual moderna, e uma relutância em reconhecer
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10:03 - 10:05que poderá haver algo de bom na cultura ocidental.
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10:06 - 10:10E, claro, a nossa mudança a nível de padrões pode ultrapassar a mudança
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10:11 - 10:13a nível de comportamento. Uma das razões pelas quais a violência caiu
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10:14 - 10:17foi que as pessoas enjoaram da carnificina e crueldade do seu tempo.
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10:17 - 10:20Isto é um processo que parece ser contínuo,
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10:20 - 10:24mas se ele ultrapassa o comportamento da perspetiva dos padrões da época,
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10:24 - 10:27as coisas parecem sempre mais bárbaras do que seriam se vistas
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10:27 - 10:31da perspetiva dos padrões históricos. Pelo que hoje em dia ficamos perturbados -- e com razão --
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10:31 - 10:37se um punhado de assassinos são executados por injeção letal
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10:37 - 10:41no Texas após um processo de recurso de 15 anos. Não consideramos
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10:42 - 10:45que há duzentos anos eles poderiam ter sido queimados
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10:45 - 10:48na fogueira por criticar o rei depois de um julgamento
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10:48 - 10:51com a duração de 10 minutos -- e de facto, isto viria a repetir-se
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10:51 - 10:55cada vez mais. Hoje olhamos para a pena capital
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10:56 - 10:59como evidência de quão baixo podemos descer em termos de comportamento,
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10:59 - 11:01ao invés de pensarmos em como os nossos padrões subiram.
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11:03 - 11:06Bom, por que terá a violência diminuido? Ninguém sabe realmente,
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11:06 - 11:10mas eu li quatro explicações, e todas elas, penso,
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11:11 - 11:14têm alguma plausibilidade. A primeira é: talvez
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11:14 - 11:17Thomas Hobbes estivesse certo. Foi ele quem disse
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11:17 - 11:22que a vida num estado de natureza era "solitária, pobre, sórdida, embrutecida
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11:22 - 11:26e curta." Não porque, argumenta,
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11:26 - 11:29os humanos têm alguma sede primordial de sangue,
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11:29 - 11:32ou um instinto agressivo ou imperativo territorial,
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11:33 - 11:36mas por causa da lógica da anarquia. Num estado de anarquia
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11:36 - 11:40há uma tentação constante de invadir os vizinhos preventivamente,
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11:40 - 11:43antes que eles invadam primeiro. Mais recentemente, Thomas Schelling
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11:43 - 11:45ofereceu a analogia de um inquilino que ouve um ruído
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11:46 - 11:48no porão. Como bom americano que é, ele tem uma pistola
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11:48 - 11:51na mesinha de cabeceira, pega na arma e desce as escadas.
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11:52 - 11:54E que vê ele se não um assaltante com uma arma na mão.
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11:55 - 11:56Cada um deles está a pensar:
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11:56 - 12:00"Na verdade, eu não quero matar este gajo, mas ele está prestes a matar-me.
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12:00 - 12:04Talvez seja melhor disparar sobre ele antes que ele dispare sobre mim,
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12:04 - 12:06especialmente porque, mesmo que ele não me queira matar,
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12:06 - 12:09provavelmente está preocupado com a possibilidade de eu o querer matar
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12:09 - 12:11antes que ele me mate." E assim por diante.
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12:12 - 12:16Os povos caçadores-recoletores passam explicitamente por este raciocínio,
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12:17 - 12:20e atacam frequentemente os seus vizinhos por medo de serem atacados primeiro.
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12:22 - 12:25Uma maneira de lidar com este problema é pela dissuasão:
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12:25 - 12:30não atacando primeiro, mas possuindo uma política anunciada publicamente
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12:30 - 12:33de que haverá uma feroz retaliação se uma invasão ocorrer.
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12:33 - 12:35O único problema é que essa política é
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12:35 - 12:39suscetível de ser chamada a expor o seu blefe, e logo só pode funcionar
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12:40 - 12:44se for credível. Para torná-la credível, é necessário vingar todos os insultos
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12:45 - 12:49e acertar todas as contas, o que leva a ciclos de vinganças sangrentas.
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12:49 - 12:54A vida torna-se um episódio dos "Sopranos". A solução de Hobbes,
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12:54 - 12:58o "Leviatã", era que, se a autoridade para o uso legítimo
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12:58 - 13:03de violência for atribuída a um único órgão democrático -- um leviatã --
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13:04 - 13:07então um tal estado poderá reduzir a tentação de ataque,
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13:07 - 13:10porque qualquer tipo de agressão será punida,
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13:10 - 13:15anulando assim o seu proveito. Isso eliminaria a tentação
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13:15 - 13:19de invadir preventivamente por medo de se ser atacado primeiro.
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13:19 - 13:23E elimina a necessidade de um estado de prontidão avançada para a retaliação
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13:23 - 13:26para tornar credível a sua ameaça dissuasiva. E por conseguinte, isso conduziria
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13:26 - 13:32a um estado de paz. Eisner -- aquele que mostrou as taxas de homicídio
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13:32 - 13:34que vocês não conseguiram ver no slide de há pouco --
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13:35 - 13:38argumentou que o momento da queda de homicídios na Europa
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13:39 - 13:43coincidiu com o surgimento de estados centralizados.
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13:43 - 13:46O que corrobora em parte a teoria do Leviatã.
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13:46 - 13:50Um outro elemento que corrobora a teoria é o facto de que vemos hoje em dia explosões de violência
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13:50 - 13:54em zonas de anarquia: em estados falhados, impérios em ruínas,
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13:54 - 13:58regiões fronteiriças, máfias, gangues de rua, e assim por diante.
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14:00 - 14:03A segunda explicação é que em muitas épocas e lugares
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14:03 - 14:06há um sentimento generalizado de que a vida é barata.
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14:07 - 14:11Antigamente, quando o sofrimento e a morte precoce eram comuns
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14:11 - 14:15durante a vida das pessoas, havia menos escrúpulos em infligi-los
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14:15 - 14:19noutras pessoas. E à medida que a tecnologia e a eficiência económica tornam a vida
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14:19 - 14:23mais longa e agradável, dá-se um valor maior à vida em geral.
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14:23 - 14:26Este foi um argumento do cientista político James Payne.
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14:27 - 14:31Uma terceira explicação invoca o conceito de um "jogo de soma não-zero",
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14:31 - 14:35e foi elaborada no livro "Não Zero", escrito pelo jornalista
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14:35 - 14:38Robert Wright. Wright aponta para o facto de que em certas circunstâncias,
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14:39 - 14:42a cooperação, incluindo a não-violência, pode beneficiar ambas as partes
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14:42 - 14:48numa interação, como os ganhos numa troca comercial quando duas entidades negoceiam
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14:48 - 14:52os seus excedentes e as duas saem a ganhar, ou quando ambas as partes
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14:52 - 14:55baixam as armas e dividem os chamados dividendos da paz
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14:55 - 14:58cujo resultado leva a que não tenham de lutar o tempo todo.
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14:59 - 15:01Wright argumenta que a tecnologia aumentou o número
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15:01 - 15:05de jogos de soma positiva em que os humanos tendem a envolver-se
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15:06 - 15:09ao permitir o comércio de bens, serviços e ideias
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15:09 - 15:12entre áreas separadas por longas distâncias e entre grupos maiores de pessoas.
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15:13 - 15:16O resultado é que as outras pessoas tornam-se mais valiosas vivas do que mortas,
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15:16 - 15:21e a violência diminui por motivos egoístas. Tal como diz Wright:
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15:22 - 15:24"Entre as muitas razões pelas quais eu acho que não devemos bombardear
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15:24 - 15:27os japoneses é que eles construíram o meu monovolume."
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15:27 - 15:29(Risos)
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15:29 - 15:33A quarta explicação é bem resumida pelo título de um livro
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15:33 - 15:36chamado "O Círculo em Expansão", do filósofo Peter Singer,
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15:37 - 15:40que argumenta que a evolução legou aos humanos um sentido
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15:40 - 15:45de empatia: uma capacidade de considerarmos os interesses de outras pessoas
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15:45 - 15:49como sendo comparáveis aos nossos próprios interesses. Infelizmente, por defeito,
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15:49 - 15:53apenas aplicamos esta empatia num círculo muito restrito de amigos e familiares.
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15:53 - 15:56As pessoas fora desse círculo são tratadas como sub-humanas,
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15:56 - 16:00e podem ser exploradas com impunidade. Mas ao longo da história,
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16:00 - 16:04o círculo tem-se expandido. Podemos verificar, em documentos históricos,
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16:04 - 16:07que se tem expandido da vila, para o clã, para a tribo,
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16:08 - 16:11para a nação, para outras raças, para ambos os sexos
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16:11 - 16:13e, seguindo os próprios argumentos de Singer, é algo que devemos estender
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16:13 - 16:18a outras espécies conscientes. A questão é:
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16:18 - 16:21se isso aconteceu, o que tem alimentado essa expansão?
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16:21 - 16:24E há uma série de possibilidades. Círculos crescentes
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16:24 - 16:28de reciprocidade nos termos que Robert Wright defende.
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16:29 - 16:33A lógica da regra de ouro: quanto mais uma pessoa pensar e interagir
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16:33 - 16:37com outras pessoas, mais ela percebe que é insustentável
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16:37 - 16:41privilegiar os seus interesses sobre os dos outros,
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16:41 - 16:44pelo menos se se pretende ser ouvido. Não se pode dizer
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16:44 - 16:47que se tem interesses mais especiais do que os de outrem,
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16:47 - 16:49tal como eu não posso dizer que o ponto específico
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16:50 - 16:52em que me encontro é uma parte única do universo
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16:53 - 16:55só porque por acaso estou de pé neste mesmo ponto, neste mesmo instante.
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16:56 - 17:00A expansão pode também ser alimentada pelo cosmopolitismo: por histórias,
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17:00 - 17:04jornalismo, memórias, ficção realista, viagens
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17:04 - 17:08e alfabetização, que permitem a uma pessoa projetar-se para as vidas
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17:08 - 17:12de outras pessoas, as quais antigamente teria talvez tratado como sub-humanas,
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17:12 - 17:16e também perceber a contingência acidental da sua própria situação na vida,
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17:16 - 17:19no sentido de "there but for fortune go I" (lá vou eu, levado por nada a não ser o destino).
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17:21 - 17:24Seja qual for a sua causa, o declínio da violência
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17:24 - 17:28tem profundas implicações. Devemos obrigar-nos a não perguntar apenas:
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17:28 - 17:32"Porque existe a guerra?" mas também "Porque existe a paz?" Não só
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17:33 - 17:36"O que estamos a fazer de errado?" mas também "O que fizemos certo?"
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17:37 - 17:38Porque temos de facto feito alguma coisa certa,
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17:39 - 17:41e seria certamente bom descobrir o quê.
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17:41 - 17:42Muito obrigado.
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17:42 - 17:53(Aplausos).
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17:53 - 17:57Chris Anderson: Gostei imenso desta palestra. Creio que muitos aqui na sala diriam
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17:57 - 18:00que essa expansão do -- do que estava a falar,
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18:00 - 18:03de que Peter Singer fala, também é impulsionada pela tecnologia,
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18:03 - 18:07por uma maior visibilidade do outro, e o sentido de que o mundo
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18:07 - 18:10se está a tornar mais pequeno. Quero dizer, será que isso também tem um fundo de verdade?
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18:11 - 18:14Steven Pinker: Muito. Isso enquadrar-se-ia na teoria de Wright,
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18:15 - 18:18no sentido em que nos permite desfrutar dos benefícios da cooperação
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18:19 - 18:22em círculos cada vez maiores. Mas creio que nos ajuda igualmente
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18:24 - 18:27a imaginar como é ser outra pessoa. Eu acho que quando lemos sobre
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18:27 - 18:30as torturas horríveis que eram comuns na Idade Média, pensamos
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18:30 - 18:32como é que eles eram capazes daquilo,
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18:32 - 18:34como é que eram capazes de não sentir empatia com a pessoa
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18:35 - 18:37que estavam a desmembrar? Mas claramente,
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18:38 - 18:41na opinião deles, a pessoa era apenas um ser alienígena
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18:41 - 18:44que não tinha sentimentos como os deles. Qualquer coisa, creio eu,
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18:44 - 18:46que torne mais fácil imaginar trocar de lugar
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18:47 - 18:50com outra pessoa aumenta logo a consideração moral
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18:50 - 18:51para com essa outra pessoa.
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18:51 - 18:55CA: Bom, Steve, adorava que todos os dirigentes da comunicação social ouvissem esta palestra
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18:55 - 18:57durante este próximo ano. Acho que é realmente importante. Muito obrigado.
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18:57 - 18:58SP: O prazer é meu.
- Title:
- O surpreendente declínio da violência
- Speaker:
- Steven Pinker
- Description:
-
Steven Pinker delineia o declínio da violência desde os tempos bíblicos até ao presente, e argumenta que, embora possa parecer ilógico e até mesmo obsceno se considerarmos a situação no Iraque e em Darfur, nós estamos a viver o período mais tranquilo de toda a existência da nossa espécie.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:58
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for The surprising decline in violence | ||
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Francisco Dubiela added a translation |