Porque é que ter uma certidão de nascimento é um direito humano
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0:01 - 0:03Quando eu tinha 14 anos,
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0:03 - 0:08a minha família estava no processo
de adoção dos meus irmãos da Etiópia. -
0:08 - 0:10E a minha mãe perguntou-me um dia:
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0:10 - 0:13"Qual é o dia que pomos
para os aniversários deles?" -
0:13 - 0:16"O dia em que nasceram, não é óbvio?!"
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0:16 - 0:18Que pergunta ridícula.
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0:18 - 0:20E a minha mãe disse:
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0:20 - 0:21"Bem, Kristen,
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0:21 - 0:24"nenhum dos teus irmãos
tem certidão de nascimento, -
0:24 - 0:26"por isso o que é que
sugeres que façamos?" -
0:27 - 0:28Fiquei pasmada.
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0:28 - 0:31Agora, passados 20 anos,
a minha busca continua -
0:31 - 0:33mas, em vez de tentar resolver o mistério
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0:33 - 0:35da falta de certidões
de nascimento dos meus irmãos, -
0:35 - 0:37tento resolver este problema
a nível global. -
0:38 - 0:40Qual a relação entre as certidões
de nascimento -
0:40 - 0:42e o desenvolvimento internacional?
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0:42 - 0:45A resposta está na agenda
do desenvolvimento inicial -
0:45 - 0:47a agenda dos Direitos Humanos.
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0:47 - 0:50Em 1948, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, -
0:50 - 0:52pela primeira vez,
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0:52 - 0:56estabeleceu uma visão partilhada
de dignidades e direitos humanos -
0:56 - 0:59que se aplicam a todas as pessoas
de todas as nações: -
0:59 - 1:03Artigo 6, o direito a ser reconhecido
como uma pessoa perante a lei. -
1:03 - 1:05Ou seja, uma identidade legal.
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1:05 - 1:08Para as crianças, uma
certidão de nascimento. -
1:08 - 1:10Apesar de isto ser
um direito humano universal, -
1:11 - 1:15há mil milhões de pessoas hoje
sem registo de que existem, -
1:15 - 1:19o que constitui uma das maiores violações
dos direitos humanos da nossa época -
1:19 - 1:22embora, segundo parece,
ninguém saiba disso. -
1:22 - 1:25Face à pobreza e fome mundiais,
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1:25 - 1:28ter a certeza que toda a gente
tem uma identidade legal -
1:28 - 1:31não parece muito importante,
mas na realidade é. -
1:31 - 1:33No início da minha carreira,
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1:33 - 1:37trabalhei com uma assistente social
numa favela em Mumbai, -
1:37 - 1:40acompanhando o caso duma rapariguinha
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1:40 - 1:44que tinha contraído pólio em bebé
e estava paralisada da cintura para baixo. -
1:44 - 1:46Quando chegámos a casa dela,
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1:47 - 1:48encontrámo-la no chão.
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1:48 - 1:51Estava cheia de cicatrizes
e infeções nas pernas, -
1:51 - 1:53estava mal nutrida,
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1:53 - 1:55nunca tinha ido à escola
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1:55 - 2:00e havia passado quase toda a vida
confinada num pequeno quarto escuro. -
2:01 - 2:05Quando saímos, perguntei à assistente
qual era o plano e ela disse: -
2:05 - 2:08"Primeiro, temos de lhe arranjar
uma certidão de nascimento." -
2:08 - 2:10Fiquei um bocado confusa e disse:
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2:10 - 2:13"Não achas que ela precisa
de assistência social -
2:13 - 2:15"e de um lugar seguro
para viver e ir à escola?" -
2:15 - 2:19E ela: "Exato, é por isso que ela tem
de ter uma certidão de nascimento." -
2:19 - 2:21É que, sem uma identidade legal,
-
2:21 - 2:23não somos reconhecidos
pelo governo como uma pessoa. -
2:24 - 2:28E uma pessoa que não existe oficialmente
não tem acesso aos serviços sociais, -
2:28 - 2:30e o governo só pode
prestar esses serviços -
2:30 - 2:33ao número de pessoas
de que tem conhecimento. -
2:33 - 2:37As pessoas são ignoradas, por exemplo,
em serviços rotineiros de imunização. -
2:38 - 2:42As pessoas sem identidade legal
não contam e estão desprotegidas. -
2:43 - 2:45Estão entre os membros
mais pobres da sociedade -
2:45 - 2:48das comunidades mais marginalizadas.
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2:48 - 2:50São vítimas de tráfico.
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2:50 - 2:53Os traficantes de seres humanos sabem
que é praticamente impossível -
2:53 - 2:57encontrar alguém,
se nunca houve registo da sua existência . -
2:57 - 3:01São vítimas de exploração infantil,
tanto no casamento como no trabalho. -
3:01 - 3:05Como é que se prova que uma criança
ainda é uma criança sem uma certidão? -
3:06 - 3:07Estão entre os sem pátria.
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3:07 - 3:10As certidões de nascimento
provam quem são os nossos pais -
3:10 - 3:11e onde é que nascemos,
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3:11 - 3:15os dois principais fatores
para adquirir uma nacionalidade. -
3:15 - 3:19Dos mil milhões de pessoas no mundo
sem uma identidade legal, -
3:19 - 3:22a grande maioria são crianças
que nunca foram registadas à nascença. -
3:22 - 3:24Nas nações menos desenvolvidas,
-
3:24 - 3:28mais de 60% dos nascimentos
nunca foram registados. -
3:28 - 3:32Um estudo sobre 17 países
da África subsaariana -
3:32 - 3:36mostrou que 80% das crianças
não possuem certidão de nascimento. -
3:36 - 3:38Tirando os países que ainda não atingiram
-
3:38 - 3:41a cobertura universal
de registos de nascimento, -
3:41 - 3:45em 26 países, é preciso uma certidão
de nascimento para os serviços de saúde, -
3:45 - 3:47incluindo vacinas.
-
3:48 - 3:51Em 37 países, é necessária
para ter acesso à assistência social -
3:51 - 3:54destinada a tirar as pessoas da pobreza.
-
3:55 - 3:59E em 59 países, é necessária
uma certidão de nascimento -
3:59 - 4:02para uma criança se matricular
ou completar a escola. -
4:03 - 4:07É também precisa para
outras formas de identificação, -
4:07 - 4:09tal como um bilhete de identidade
ou um passaporte. -
4:09 - 4:13E em quase todos os países
é exigida uma identificação legal qualquer -
4:13 - 4:16para votar, para ter um cartão SIM
ou para abrir uma conta bancária. -
4:16 - 4:20De facto, 20% dos 1700 milhões
de pessoas que não têm conta bancária, -
4:20 - 4:23é por não terem um documento
legal de identificação. -
4:24 - 4:28Não é preciso ser especialista
para ver que isto, vezes mil milhões, -
4:28 - 4:30é um grande problema.
-
4:30 - 4:32Não é surpreendente
que as provas mostrem -
4:32 - 4:35que uma melhor cobertura
do registo de nascimentos -
4:35 - 4:38corresponde a melhores resultados
na redução da pobreza, -
4:38 - 4:41na melhoria na saúde,
na nutrição, no ensino, -
4:41 - 4:43na prosperidade económica
-
4:43 - 4:45e numa migração segura e ordenada.
-
4:47 - 4:51Em 2015, os líderes mundiais reuniram
-
4:51 - 4:55e prometeram defender
os direitos humanos de toda a gente -
4:55 - 4:57sem deixar ninguém para trás
-
4:57 - 5:00com o intuito de acabar
com a pobreza, com a fome -
5:00 - 5:01e reduzir as desigualdades.
-
5:02 - 5:04Mas como é que vão defender
os direitos humanos -
5:04 - 5:06e como é que sabem
se alguém fica para trás -
5:06 - 5:09se não sabem quem são
ou onde é que se encontram -
5:09 - 5:11em primeiro lugar?
-
5:14 - 5:16Então o que é que os países podem fazer?
-
5:16 - 5:18Não há um modelo que sirva a todos,
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5:18 - 5:20porque cada contexto é único em cada país.
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5:20 - 5:22Há cinco intervenções comprovadas
-
5:22 - 5:25que podem ser aplicadas
a qualquer sistema. -
5:25 - 5:27Número um, reduzir a distância.
-
5:27 - 5:29Dois, eliminar o custo.
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5:29 - 5:31Três, simplificar o processo.
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5:31 - 5:33Quatro, eliminar a discriminação.
-
5:33 - 5:35Cinco, aumentar a procura.
-
5:35 - 5:39A discriminação de género
ainda é um problema escondido, -
5:39 - 5:41porque estatisticamente, não há diferença
-
5:41 - 5:43na relação de registos
de rapazes e raparigas. -
5:43 - 5:46Mas a discriminação
não é contra a criança, -
5:46 - 5:47é contra a mãe.
-
5:47 - 5:51Angola era um dos 35 países
que exigia o nome de um pai -
5:51 - 5:54ou a sua presença para o registo
do nascimento da criança. -
5:55 - 5:58Por isso, nas situações
em que o pai seja desconhecido, -
5:58 - 6:00não queira ou não possa
assumir a paternidade, -
6:00 - 6:03as mães estão legalmente impedidas
de registar o nascimento -
6:03 - 6:05dos seus próprios filhos.
-
6:05 - 6:08Então para resolver isso,
Angola estabeleceu a política -
6:08 - 6:12de permitir que as mães registem
os seus filhos como mãe solteira. -
6:12 - 6:14Na Tanzânia, em 2012,
-
6:14 - 6:17apenas 13% das crianças
tinham certidão de nascimento. -
6:18 - 6:20Então o governo criou um novo sistema.
-
6:21 - 6:26Foram postos centros de registo
em infraestruturas já existentes -
6:26 - 6:30— centros comunitários
e centros de saúde — -
6:30 - 6:34levando para mais perto das pessoas
os serviços de que elas precisavam. -
6:34 - 6:35A taxa foi abolida.
-
6:35 - 6:38O processo foi simplificado
e automatizado. -
6:38 - 6:41sendo possível emitir
uma certidão no local. -
6:41 - 6:44Para aumentar a procura, houve
uma campanha de consciencialização, -
6:44 - 6:46dando a conhecer às pessoas
este novo processo -
6:46 - 6:50e a importância de registar
o nascimento dos filhos. -
6:51 - 6:54Em poucos anos, nos distritos
onde isto tinha sido implementado, -
6:54 - 6:5783% das crianças passaram
a ter certidão de nascimento, -
6:57 - 7:01e estão a caminho de aplicar
esta medida a toda a nação. -
7:01 - 7:03Então o que é que se faz?
-
7:04 - 7:07Eu acredito que estamos todos
unidos pela nossa humanidade. -
7:07 - 7:10Vivemos na mesma terra.
Respiramos o mesmo ar. -
7:10 - 7:14E apesar de não termos escolhido nascer
ou em que situação nascemos, -
7:14 - 7:16podemos escolher como vivemos.
-
7:17 - 7:20A mudança acontece
quando um momento de consciência -
7:20 - 7:22ou um momento de compaixão
-
7:22 - 7:24leva uma pessoa a agir.
-
7:24 - 7:26E através do nosso esforço coletivo,
-
7:26 - 7:29tornamo-nos nos mais poderosos
agentes de mudança. -
7:29 - 7:33Quando o preço da falta de ação
são crianças inocentes desprotegidas, -
7:33 - 7:36não vacinadas, sem poderem ir à escola,
-
7:36 - 7:40que chegam a adultos sem poderem
arranjar um trabalho decente ou votar, -
7:40 - 7:45presas num ciclo de pobreza,
de exclusão e de invisibilidade, -
7:45 - 7:46cabe-nos a nós
-
7:46 - 7:49tirar esta questão da escuridão
-
7:49 - 7:50e expô-la à luz.
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7:51 - 7:54Porque não é todos os dias que
temos oportunidade de mudar o mundo, -
7:54 - 7:56mas hoje,
-
7:56 - 7:57vocês podem.
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7:58 - 7:59Obrigada.
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7:59 - 8:01(Aplausos)
- Title:
- Porque é que ter uma certidão de nascimento é um direito humano
- Speaker:
- Kristen Wenz
- Description:
-
Mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente crianças, não possuem certidão de nascimento. Em muitos países, isso significa que não podem ter acesso a serviços vitais, como assistência médica e ensino, diz Kristen Wenz, especialista em identidade legal. Ela questiona o facto de este problema ser uma das maiores violações dos direitos humanos do nosso tempo — e partilha cinco estratégias para garantir que toda a gente possa estar registada e protegida.
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- English
- Team:
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