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Child Circumcision: An Elephant in the Hospital

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    Então eu sou o Ryan, um amigo da Lizzie.
  • 0:04 - 0:08
    Sou investigador em biofísica
    na Universidade de Georgetown
  • 0:08 - 0:13
    e também coordeno duas organizações
    sem fins lucrativos que lidam sobretudo com o apoio às famílias
  • 0:13 - 0:15
    e as as pessoas nos seus relacionamentos.
  • 0:16 - 0:17
    Esta é a minha família.
  • 0:19 - 0:23
    A minha missão na vida é
    basicamente ajudar as pessoas a se relacionarem bem.
  • 0:23 - 0:26
    Nesse sentido, realizo muitos workshops
    para famílias
  • 0:26 - 0:29
    também as ajudo a compreender
    questões médicas.
  • 0:31 - 0:34
    Estou aqui para falar da circuncisão,
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    à qual chamo o "Elefante no Hospital",
  • 0:37 - 0:41
    porque, a meu ver, é algo assustador
    que acontece na nossa cultura,
  • 0:41 - 0:43
    embora falemos pouco sobre isso.
  • 0:43 - 0:47
    São feitas cerca de 500.000 a 1.000.000 milhões
    de circuncisões por ano nos EUA,
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    quase sempre nos três primeiros
    dias de vida dos bebés
  • 0:52 - 0:57
    e é algo completamente desnecessário.
    Segundo as minhas pesquisas,
  • 0:57 - 0:59
    acredito que se trata de um procedimento
    totalmente prejudicial para as crianças.
  • 1:00 - 1:04
    O que vamos fazer, o mais rápido que conseguir,
  • 1:04 - 1:09
    é um debate sobre o que esse processo implica
    do ponto de vista da criança,
  • 1:09 - 1:11
    de quais os seus efeitos sobre sobreviventes adultos,
  • 1:11 - 1:16
    sobre o porquê dos pais aceitarem este procedimento,
    e o que sabem sobre o mesmo
  • 1:16 - 1:19
    e como existem médicos
    que o fazem.
  • 1:21 - 1:26
    Antes disso, quero olhar para todos,
    para que nos conheçamos melhor.
  • 1:26 - 1:32
    Farei algumas perguntas e usaremos esta tecnologia tradicional.
  • 1:33 - 1:34
    Vou pedir a vocês, por favor,
  • 1:34 - 1:37
    que apontem em determinada direção
    em cada questão.
  • 1:37 - 1:39
    Esta parede significa "benéfica",
  • 1:40 - 1:44
    o tecto é "neutro",
    e "prejudicial" é aquela parede.
  • 1:45 - 1:48
    Por exemplo,
    o que pensam dos pés de lírio?
  • 1:48 - 1:50
    São antropólogos pelo que
    a maioria já terá ouvido falar dos pés de lírio.
  • 1:50 - 1:52
    Qual o sentido de ...?
  • 1:52 - 1:56
    Bem, todos os que responderam
    acham que é prejudicial.
  • 1:56 - 1:58
    Ainda bem, fico satisfeito com a resposta.
  • 1:58 - 1:59
    Mutilação genital feminina,
  • 2:00 - 2:01
    quantas pessoas já ouviram falar disso?
  • 2:02 - 2:03
    Óptimo, consideram universalmente prejudicial.
  • 2:04 - 2:07
    E se fizessemos mastectomias profiláticas,
  • 2:08 - 2:09
    Digamos que para evitar
    o cancro da mama
  • 2:10 - 2:12
    e salvar centenas de milhares de vidas de mulheres por ano,
  • 2:13 - 2:16
    e imaginem que o fazíamos a todos as bebés.
  • 2:16 - 2:18
    Consideram benéfico? Prejudicial? Neutro?
  • 2:19 - 2:22
    Bem, temos alguns alguns "neutrais"
    e aguns "prejudicais.
  • 2:22 - 2:23
    Tudo bem.
  • 2:24 - 2:27
    E o que pensam do corte de tecido não essencial a uma criança?
  • 2:27 - 2:29
    Como o corte
    dos lóbulos da orelhas de todos,
  • 2:30 - 2:32
    porque nos parecem desnecessários,
    inconvenientes ou feios?
  • 2:33 - 2:34
    Ok, é prejudicial.
  • 2:35 - 2:36
    E quanto à circuncisão?
  • 2:36 - 2:38
    Por onde começar?
  • 2:38 - 2:41
    Há todo o tipo de repostas.
  • 2:41 - 2:43
    Bem, temos um público diversificado.
  • 2:45 - 2:46
    Agora, duas outras questões
  • 2:46 - 2:47
    para que nos conhecermos melhor.
  • 2:48 - 2:49
    Quem de vós acha
    que tem prepúcio?
  • 2:51 - 2:52
    Alguém?
  • 2:53 - 2:55
    Quem acha que tem prepúcio?
  • 2:56 - 2:59
    É a parte removida durante a circuncisão.
  • 2:59 - 3:00
    Está bem, é uma pergunta complicada.
  • 3:01 - 3:04
    Ambos, homens e mulheres, nascem com prepúcios.
  • 3:04 - 3:08
    "Prepúcio" ´é simplemente um nome
    de uma parte do clitóris ou pénis.
  • 3:09 - 3:12
    Provavelmente a maioria
    das mulheres aqui presentes o tem
  • 3:12 - 3:14
    e quem sabe alguns dos homens também.
  • 3:14 - 3:16
    Quem aqui vem de uma cultura onde
  • 3:17 - 3:19
    a mutilação genital feminina
    é uma norma social?
  • 3:19 - 3:21
    Ninguém, ok.
  • 3:21 - 3:23
    Quem aqui vem de uma cultura onde
  • 3:23 - 3:25
    a mutilação genital masculina
    é uma norma social?
  • 3:25 - 3:26
    Praticamente todos nós.
  • 3:27 - 3:31
    Quem conhece alguém
    mutilado genitalmente em criança?
  • 3:31 - 3:34
    Podem ser vocês, um amigo vosso,
    os vossos pais ou filho.
  • 3:35 - 3:35
    A maioria (todos).
  • 3:36 - 3:41
    Isto prova que é algo que já afectou
    as nossas vidas de alguma forma.
  • 3:44 - 3:48
    Estou a demonstrar que é um assunto importante
    do qual não falamos muito.
  • 3:49 - 3:51
    Agora vou explicar porque penso assim.
  • 3:51 - 3:54
    Creio que a forma de falar
    da circuncisão na nossa cultura
  • 3:55 - 3:58
    serve para ocultar
    o tipo de procedimento que é.
  • 3:59 - 4:02
    Talvez tenham ouvido que
    há melhor limpeza do pénis,
  • 4:03 - 4:07
    que todos e que muitos pensam
    "eu sou circuncidado e estou bem".
  • 4:08 - 4:11
    "É um pequeno corte" ou
    "remoção de uma prega de pele inútil",
  • 4:11 - 4:12
    em linguagem banal.
  • 4:13 - 4:15
    Já todos ouvimos isto.
  • 4:15 - 4:17
    O que vos vou pedir é
    que coloquem tudo isso de lado,
  • 4:18 - 4:20
    tudo aquilo em que pensam
  • 4:21 - 4:24
    e que consigam pensar
    de uma nova forma na qual
  • 4:24 - 4:28
    estes argumentos ilógicos a favor
    não interfiram na vossa opinião.
  • 4:30 - 4:34
    Suponham que a circuncisão é
    um processo cíclico na nossa cultura
  • 4:34 - 4:38
    feito às crianças,
    que se tornam sobreviventes adultos,
  • 4:38 - 4:39
    alguns agora pais
  • 4:39 - 4:44
    e que os médicos os convencem
    a realizar esta cirurgia nos filhos.
  • 4:44 - 4:49
    Esta, ao contrário de qualquer outra cirurgia
    nos hospitais dos Estados Unidos,
  • 4:49 - 4:51
    elimina uma parte que é saudável e única
    de um órgão,
  • 4:51 - 4:54
    com exeção
    da alteração da genitália interna,
  • 4:55 - 4:57
    mas são decerto muito semelhantes.
  • 4:57 - 4:59
    Elimina uma parte saudável do corpo.
  • 4:59 - 5:01
    Não é utilizada como tratamento.
  • 5:01 - 5:03
    Os médicos não pensam que
    estão a tratar crianças,
  • 5:04 - 5:05
    eles sabem que é
    uma cirurgía social.
  • 5:06 - 5:08
    Tem complicações significativas.
  • 5:08 - 5:11
    É realizada em menores
    que não podem dar os seu consentimento.
  • 5:11 - 5:14
    É ilegal, um crime federal grave
    fazê-la em bebés do sexo feminino,
  • 5:14 - 5:16
    mas é incentivada e realizada em bebés do sexo masculino.
  • 5:16 - 5:19
    Isso resulta na perda de
    uma função para o resto da vida
  • 5:19 - 5:21
    e o tecido é usado comercialmente.
  • 5:23 - 5:25
    Apenas uma pequena contextualização.
  • 5:26 - 5:28
    Percebo-vos, acreditem,
    e vou dar-vos provas disso.
  • 5:29 - 5:32
    Não faria uma afirmação tão radical
    sem provas.
  • 5:33 - 5:36
    Primeiro terminemos com um contexto
    geográfico e histórico.
  • 5:37 - 5:40
    Este é um mapa do mundo.
  • 5:41 - 5:46
    No geral, nos países a verde não se pratica
    a mutilação genital masculina.
  • 5:47 - 5:50
    Nos poucos e pequenos países
    amarelos a norte
  • 5:50 - 5:53
    é uma prática cada vez mais questionada a nível legal.
  • 5:55 - 5:58
    A circuncisão é agora rara
    no Canadá, na Inglaterra e Austrália,
  • 5:58 - 6:00
    onde também era praticada em bebés,
  • 6:01 - 6:03
    mas parou nos anos 50
    devido a um artigo
  • 6:04 - 6:07
    que provava que morriam crianças
    todos os anos em Inglaterra,
  • 6:07 - 6:09
    cerca de 14 crianças por ano,
  • 6:09 - 6:10
    pelo que deixou de ser feita.
  • 6:11 - 6:14
    Noutros países, excepto nos Estados Unidos,
    onde é feita a bebés,
  • 6:15 - 6:18
    é realizada em adolescentes
    na maioria das vezes,
  • 6:18 - 6:22
    na África Sub sariana
    e nas culturas Islâmicas Sunitas.
  • 6:24 - 6:25
    Como aconteceu isto?
  • 6:27 - 6:31
    Tornou-se uma prática médica
    em vez de ser uma prática tribal ou cultural.
  • 6:32 - 6:34
    E surgiu no fim do século XIX,
  • 6:34 - 6:37
    quando as pessoas não tinham a teoria
    dos germes,
  • 6:37 - 6:40
    mas a teoria da excitação
    do sistema nervoso.
  • 6:41 - 6:42
    E a moral Vitoriana,
  • 6:43 - 6:45
    na qual a pessoa vê
    o quer ver a maior parte das vezes.
  • 6:45 - 6:49
    Existem muitas publicações médicas
    que mostram que a circuncisão curou
  • 6:50 - 6:53
    a paralisia, a epilepsia,
    a doença do quadril
  • 6:54 - 6:57
    e todo o tipo de problemas que,
    atualmente,
  • 6:58 - 7:02
    para os quais é improvável
    haver uma cura.
  • 7:03 - 7:06
    A intenção era realmente mutilar
    os orgãos genitais das crianças.
  • 7:08 - 7:10
    Pensavam que tal os ajudaría a longo prazo
  • 7:10 - 7:13
    porque evitaria que sentissem
    muita excitação sexual,
  • 7:14 - 7:19
    que de acordo com o modelo vitoriano era
    o tipo de excitação mais perigosa.
  • 7:21 - 7:22
    Peço desculpa,
  • 7:23 - 7:25
    Deveria ter-vos advertido antes ...
  • 7:26 - 7:27
    Desculpem-me.
  • 7:27 - 7:29
    Vou mostrar alguns slides
    ilustrativos
  • 7:29 - 7:33
    e aconselho-vos a não olharem para eles
    caso não se sintam confortáveis
  • 7:34 - 7:37
    Tentarei avisar quando eles surgirem.
  • 7:40 - 7:42
    Também gostaria de referir outra coisa:
  • 7:43 - 7:45
    vou utilizar expressões diferentes.
  • 7:45 - 7:49
    Vou passar a chamar à circuncisão de
    "mutilação genital"
  • 7:50 - 7:52
    porque é uma expressão mais neutra,
  • 7:52 - 7:54
    mais precisa e descritiva.
  • 7:55 - 8:00
    Penso que 'circuncisão' é um eufemismo
    que associamos a algo bom.
  • 8:00 - 8:03
    O termo 'incircunciso'
    vou substituir por 'intacto',
  • 8:03 - 8:08
    uma vez que 'incircunciso' dá a sensação
    de que a circuncisão é a "norma"
  • 8:08 - 8:11
    e que os não circuncidados
    simplesmente não o foram ainda.
  • 8:12 - 8:16
    Seria como chamar 'não mastectomizadas'
    às mulheres que têm seios
  • 8:18 - 8:20
    o que seria inconveniente.
  • 8:20 - 8:25
    Da mesma forma, espero vos sensibilizar
    para o desconforto de chamar "intatos" aos incircuncisos.
  • 8:29 - 8:32
    Os seguintes slides
    têm algumas coisas menos agradáveis e,
  • 8:32 - 8:35
    novamente,
    aconselho que não olhem, se preferirem.
  • 8:36 - 8:38
    Esta é a parte sobre a criança.
  • 8:38 - 8:42
    Vamos ver como é este procedimento para a criança.
  • 8:42 - 8:45
    Esta é a parte mais gráfica,
    junto com as complicações.
  • 8:45 - 8:49
    E o que quero é que pensem
    no que é vulgarmente discutido
  • 8:49 - 8:53
    a partir da perspectiva dos pais que pensam
    "Os pais têm o direito de escolher".
  • 8:53 - 8:57
    Quero que questionem este discurso
    e pensem no ponto de vista da criança.
  • 8:57 - 8:59
    A quem pertence o corpo da criança?
  • 8:59 - 9:01
    Quais os direitos das crianças?
  • 9:01 - 9:03
    Porque fazem isto aos meninos e às meninas não?
  • 9:03 - 9:05
    O que isso nos diz sobre
    a nossa opinião sobre os diferentes géneros?
  • 9:09 - 9:13
    Neste slide vemos três exemplos diferentes
    de mutilação.
  • 9:14 - 9:17
    No canto superior esquerdo vemos uma jovem
  • 9:18 - 9:21
    a ser circuncidada no seu contexto cultural.
  • 9:22 - 9:25
    No canto superior direito,
    um jovem a ser circuncidado no seu contexto cultural.
  • 9:26 - 9:29
    E no canto inferior direito, um bebé a ser circuncidado no hospital.
  • 9:30 - 9:32
    Quero que olhem para os rostos deles,
  • 9:32 - 9:33
    simplesmente olhem para eles,
  • 9:34 - 9:36
    porque quero que pensem
    no que eles sentiram.
  • 9:36 - 9:39
    Acredito que estavam a passar
    por uma experiência muito semelhante.
  • 9:40 - 9:42
    Ainda assim, na nossa cultura,
  • 9:42 - 9:44
    na qual nos vejo como uma espécie de imperialistas,
  • 9:45 - 9:47
    estamos prontos a apontar o dedo e dizer
  • 9:47 - 9:51
    "Oh estas coisas terríveis que fazem nos países
    onde se pratica a mutilação genital feminina".
  • 9:51 - 9:55
    Mas não falamos da masculina,
  • 9:55 - 9:58
    que é praticada em crianças sob
    as mesmas condições de higiene,
  • 9:58 - 10:00
    e tem a mesma taxa de mortalidade
    nesses países.
  • 10:01 - 10:03
    E ainda incentivamos a sua prática em rapazes no nosso país.
  • 10:05 - 10:07
    Como se faz uma circuncisão?
  • 10:07 - 10:09
    Os slides seguintes vão ser os mais exemplificativos.
  • 10:09 - 10:11
    Isto é um exemplo do suporte
  • 10:12 - 10:13
    ao qual se amarra o bebé
  • 10:13 - 10:16
    e onde é feito o procedimento.
  • 10:16 - 10:18
    Vamos visionar um pequeno vídeo exemplificativo.
  • 10:18 - 10:19
    O vídeo tem som,
  • 10:19 - 10:21
    se estiver bem conetado.
  • 10:23 - 10:26
    Mais uma vez, não olhem,
    caso vos incomode.
  • 11:08 - 11:10
    Aconselho que respirem fundo
  • 11:10 - 11:13
    se tiveram dificuldade em respirar
    como me aconteceu durante o vídeo.
  • 11:16 - 11:19
    Consigo perceber uma certa
    indiferença traquila
  • 11:20 - 11:21
    no tom de voz do médico,
  • 11:22 - 11:24
    que não está minimamente perturbado pela situação.
  • 11:24 - 11:25
    O bebé chora
  • 11:26 - 11:28
    como choram os bebés submetidos
  • 11:28 - 11:30
    a situações de pressão extrema,
  • 11:30 - 11:32
    não é choro de "estou com fome".
  • 11:36 - 11:38
    Para além da dor do procedimento em si
  • 11:39 - 11:40
    e dos vários dias que leva a sarar
  • 11:41 - 11:45
    existem complicações inerentes à circuncisão
    que podem colocar a criança em risco.
  • 11:46 - 11:47
    Podemos classificá-las e dividi-las em dois tipos.
  • 11:48 - 11:49
    As complicações cirúrgicas,
  • 11:49 - 11:51
    que começam pelas mais pequenas
  • 11:51 - 11:54
    como a cicatriz que
    todos os circuncisos têm.
  • 11:54 - 11:58
    Muitos homens não sabem que
    o anel ao redor do seu pénis
  • 11:58 - 11:59
    é uma cicatriz de circuncisão,
  • 11:59 - 12:01
    ou descobrem ao me ouvirem falar.
  • 12:02 - 12:04
    É algo que acontece sempre.
  • 12:04 - 12:07
    Mas existe uma série de outras complicações
    que podem ser problemáticas
  • 12:07 - 12:09
    e que nem sempre ocorrem.
  • 12:09 - 12:11
    Como a aderência balano-prepucial,
  • 12:11 - 12:12
    quando o processo de cicatrização corre mal
  • 12:12 - 12:16
    e as duas partes do pénis que não deviam estar unidas
    se unem.
  • 12:17 - 12:20
    Estas imagens mostram,
    em cima, à esquerda,
  • 12:20 - 12:22
    uma fístula.
  • 12:22 - 12:25
    É como se o médico induzisse a formação de hipospádias.
  • 12:25 - 12:29
    A linha preta que desce é uma sonda
    que é introduzida no meato,
  • 12:29 - 12:30
    a abertura da uretra
  • 12:30 - 12:33
    e sai para fora pelo buraco adicional
    que o médico criou.
  • 12:35 - 12:37
    Em cima, à direita, vemos a glande quase amputada.
  • 12:38 - 12:40
    Abaixo, à esquerda, foi retirada tanta pele
  • 12:40 - 12:44
    que os corpos cavernosos e a glande do pénis
    são introduzidos no escroto.
  • 12:45 - 12:48
    Em baixo, à direita, o pénis foi
    acidentalmente amputado.
  • 12:49 - 12:52
    Também existem complicações pós-operatórias
  • 12:52 - 12:54
    como problemas na amamentação,
  • 12:54 - 12:57
    que é algo importante pois o desenvolvimento
    da capacidade de amamentação
  • 12:58 - 12:59
    é essencial para os bebés.
  • 13:00 - 13:01
    O termo "hemorragia",
  • 13:01 - 13:02
    que parece pouco importante,
  • 13:03 - 13:06
    consta no formulário de consentimento
    e pensamos "Oh, não é nada demais",
  • 13:06 - 13:09
    mas um bebé tem apenas
    cerca de 354 mililitros de sangue,
  • 13:09 - 13:12
    pelo que a perda de alguns mililitros pode
    pode ser fatal
  • 13:12 - 13:14
    ou obrigar a uma transfusão de sangue.
  • 13:14 - 13:16
    Aumento da resposta à dor.
  • 13:16 - 13:18
    Infeção, que também é muito grave
    para um recém-nascido.
  • 13:19 - 13:22
    Meatite, que é uma irritação no meato.
  • 13:22 - 13:24
    Tudo isto pode ser um problema porque,
    caso se agrave,
  • 13:25 - 13:28
    o bebé não poderá urinar
    e será preciso fazer um cateterismo.
  • 13:29 - 13:30
    Necrose
  • 13:30 - 13:33
    e até mesmo a perda permanente do pénis,
    ou morte.
  • 13:36 - 13:38
    Falei com um urologista pediátrico,
  • 13:38 - 13:41
    que é quem resolve estas complicações.
  • 13:42 - 13:45
    Ele disse que durante dois anos
    tratou mais de 275 bebés,
  • 13:45 - 13:48
    dos quais quase metade
    precisaram ser operados.
  • 13:49 - 13:51
    Foram então submetidos a outra operação
  • 13:51 - 13:53
    para tentar reparar os danos que sofreram.
  • 13:55 - 13:58
    Já vimos grande parte das imagens,
  • 13:58 - 14:02
    mas nos próximos slides
    vamos ver a anatomia dos adultos,
  • 14:02 - 14:04
    e podem não olhar, caso preferirem.
  • 14:05 - 14:07
    Quantos de vocês já viram um pénis intato?
  • 14:07 - 14:09
    O vosso ou o de um amigo?
  • 14:13 - 14:16
    Se não viram, peçam a alguém
    que esteja disposto a vos mostrar.
  • 14:20 - 14:22
    Tenho conversado com centenas de homens,
  • 14:23 - 14:27
    quer circuncidados quer não circuncidados
  • 14:28 - 14:30
    Muitos homens que foram circuncidados
  • 14:31 - 14:32
    não estão satisfeitos.
  • 14:32 - 14:36
    Estão conscientes, ou começam a ficar,
    de que lhes retiram alguma coisa
  • 14:37 - 14:39
    e foram submetidos
    a algo que não escolheram.
  • 14:41 - 14:44
    Também falei com pais arrependidos
    do procedimento.
  • 14:46 - 14:48
    O que é o prepúcio?
  • 14:49 - 14:53
    O prepúcio é
    uma espécie de idea construída socialmente.
  • 14:53 - 14:54
    É apenas uma parte do pénis
  • 14:55 - 14:57
    mas, como o cortámos,
    precisamos dar-lhe outro nome.
  • 14:59 - 15:03
    De facto, no formulário de consentimento
    são mencionadas as possíveis complicações
  • 15:03 - 15:07
    que confirmam o risco de lesionar o pénis.
  • 15:08 - 15:12
    Criámos uma realidade na qual
    a amputação do pénis não é considerada lesão.
  • 15:12 - 15:15
    Só é lesão
    se cortarmos parte do que se pretendia cortar.
  • 15:18 - 15:20
    Quero mostrar-vos o que é o prepúcio,
  • 15:21 - 15:22
    dedicar-lhe algum tempo.
  • 15:22 - 15:25
    O prepúcio de um homem adulto,
    a parte que teria sido removida,
  • 15:25 - 15:27
    mede entre 30 a 40
    centímetros quadrados,
  • 15:28 - 15:30
    tem o tamanho de
    un post-it retangular.
  • 15:30 - 15:32
    É a parte mais erógena do homem.
  • 15:32 - 15:35
    Contém 10.000 a 20.000
    terminações nervosas.
  • 15:36 - 15:39
    E também torna a pele que cobre o eixo do pénis móvel.
  • 15:40 - 15:42
    Esta é a diferença, durante o coito
  • 15:42 - 15:44
    ou outro tipo de interação sexual,
  • 15:45 - 15:47
    a distinção entre
    este tipo de interação
  • 15:47 - 15:51
    e o que passa nas partes do corpo
    onde a pele se move facilmente.
  • 15:51 - 15:54
    Por exemplo, as minhas bochechas são flexíveis
    para que eu possa fazer isto.
  • 15:54 - 15:56
    De facto, isto é uma coisa importante
  • 15:57 - 16:00
    porque há outro tipo de nervo,
    chamado mecanorrecetor,
  • 16:00 - 16:01
    que é estimulado pelo movimento
  • 16:02 - 16:06
    e é o contributo masculino
    para a lubrificação durante a relação sexual,
  • 16:07 - 16:10
    seja ela entre dois homens
    ou um homem e uma mulher.
  • 16:11 - 16:13
    O prepúcio tem duas partes diferentes.
  • 16:14 - 16:15
    O freio é...
  • 16:16 - 16:18
    A minha mão é pequena para exemplificar mas...
  • 16:18 - 16:21
    É esta zona em forma de leque.
  • 16:21 - 16:25
    Abaixo, no sulco coronal,
    estão a maioria dos nervos.
  • 16:25 - 16:27
    E o músculo dartos é um músculo cutâneo
  • 16:27 - 16:30
    que permite ao prepúcio
    responder ao frio e ao medo
  • 16:30 - 16:33
    rodeando o pénis,
    fazendo-o contrair.
  • 16:36 - 16:40
    Em 2007, realizou-se
    a primeira investigação
  • 16:40 - 16:43
    para tentar avaliar onde o pénis é sensível.
  • 16:44 - 16:47
    Avaliaram um grupo de homens intatos
  • 16:48 - 16:49
    e um grupo de homens circuncidados.
  • 16:50 - 16:52
    Neste gráfico colorido verificamos que
  • 16:52 - 16:55
    as áreas com maior sensibilidade,
    têm cor castanha
  • 16:55 - 16:58
    seguidas das de cor arroxeada.
  • 16:59 - 17:02
    Em comparação
    com um pénis circuncidado,
  • 17:02 - 17:07
    vemos que a maioria das áreas sensíveis
    foi eliminada.
  • 17:07 - 17:12
    Somente a zona da cicatriz
    e o que restou do freio
  • 17:13 - 17:15
    são áreas sensíveis nos homens circuncidados.
  • 17:16 - 17:18
    Podemos compará-los desta forma
  • 17:18 - 17:22
    e nem precisam acreditar em mim,
    perguntem a amigos,
  • 17:22 - 17:24
    a um circuncidado e a outro não circuncidado
  • 17:25 - 17:26
    ou até a vocês,
  • 17:27 - 17:29
    onde há maior sensibilidade.
  • 17:31 - 17:33
    Para a maioria dos homens é na área do freio
  • 17:33 - 17:35
    ou na zona da cicatriz.
  • 17:39 - 17:40
    Para que tenham uma idéia real,
  • 17:41 - 17:43
    o que John, o fotógrafo, fez
  • 17:43 - 17:46
    foi basear-se num homem com prepúcio
  • 17:46 - 17:49
    para desenhar estas linhas e saber
    que tecido foi retirado.
  • 17:50 - 17:52
    A outra diferença que quero mencionar
  • 17:53 - 17:57
    é que o interior que
    normalmente rodeia o pénis
  • 17:57 - 17:59
    de alguma forma acaba por o invaginar,
  • 17:59 - 18:00
    protege-o,
  • 18:01 - 18:02
    e mantém-no húmido.
  • 18:02 - 18:04
    Se compararmos com um pénis circuncidado,
  • 18:05 - 18:06
    o tecido parece mais suave,
  • 18:07 - 18:08
    húmido e quente,
  • 18:09 - 18:11
    tem maior volume
  • 18:11 - 18:12
    e não tem cicatriz.
  • 18:13 - 18:14
    As setas estão a apontar para a cicatriz
  • 18:15 - 18:16
    para que vejam onde ela está.
  • 18:18 - 18:21
    Caso tenham alguma pergunta
  • 18:22 - 18:24
    perguntem,
    consoante avançamos,
  • 18:24 - 18:26
    porque estou a passar muita informação.
  • 18:28 - 18:29
    Agora, vamos falar sobre os pais.
  • 18:31 - 18:33
    Como disse, falei com centenas de pais
  • 18:33 - 18:36
    sobretudo devido ao meu trabalho com deles.
  • 18:36 - 18:38
    Para muitos pais, é quando recebem os seus filhos,
  • 18:39 - 18:42
    que tomam consciência do formulário que assinaram.
  • 18:43 - 18:46
    Existe um problema com o consentimento informado.
  • 18:47 - 18:48
    Ou há falta de informação,
  • 18:49 - 18:52
    ou perguntam se os pais querem
    circuncidar os filhos em momentos difíceis,
  • 18:52 - 18:53
    como o parto.
  • 18:54 - 18:57
    E perguntam como se não fosse algo importante.
  • 18:57 - 19:00
    Querem uma almofada?
    Uma chícara de chá?
  • 19:00 - 19:01
    Querem que circuncidemos o vosso filho?
  • 19:02 - 19:03
    Dizem tudo no mesmo tom,
  • 19:08 - 19:09
    e isso é preocupante.
  • 19:09 - 19:14
    Vejo todos envolvidos num pseudo processo
    de consentimento informado
  • 19:15 - 19:17
    no qual os pais
    precisam confiar nos médicos.
  • 19:18 - 19:22
    São os médicos que supostamente
    se ocupam da parte da medicina.
  • 19:24 - 19:28
    Todavia, a informação que transmitem
    é muito superficial,
  • 19:28 - 19:30
    falam pouco das complicações envolvidas
  • 19:31 - 19:32
    as mesmas são banalizadas,
  • 19:32 - 19:34
    omitem as funções do prepúcio,
  • 19:35 - 19:37
    não se menciona que é um órgão sexual,
  • 19:38 - 19:42
    e omitem as questões éticas
    das decisões que envolvem o corpo do bebé.
  • 19:43 - 19:45
    Há também
    um conflito de intereses implícito,
  • 19:46 - 19:48
    uma vez que este tecido
    tem muitas utilizações comerciais.
  • 19:52 - 19:57
    Os pais nem tão pouco sabem que
    é doloroso por uma semana ou mais.
  • 19:57 - 20:00
    E o bebé sofre durante o processo.
  • 20:01 - 20:02
    Existe uma ferida que precisa sarar,
  • 20:03 - 20:04
    é uma ferida no pénis
  • 20:04 - 20:06
    e os bebés são muito sensíveis à dor.
  • 20:07 - 20:12
    Quantos de vocês já brincaram com um bebé
    de um amigo ou vosso, com poucos dias de idade?
  • 20:12 - 20:14
    Eles são muito frágeis.
  • 20:15 - 20:17
    O que acontece é que ferimos um bebé
  • 20:17 - 20:21
    e agora os recém-pais
    têm de lidar com o processo de cura
  • 20:21 - 20:24
    e também descobrir o que é a parentalidade.
  • 20:24 - 20:28
    Têm as complicações acrescidas
    da vigilância de sinais de infeção,
  • 20:29 - 20:33
    da troca do penso e de cuidarem
    de um bebé mais chateado do que o normal.
  • 20:35 - 20:37
    Em comparação, com
    um bebé circuncidado
  • 20:38 - 20:41
    não há quase nada para fazer.
  • 20:41 - 20:43
    De facto, nem há que lavar o pénis,
  • 20:44 - 20:46
    tal como não se lavaria
    a vagina de uma bebé com sabão,
  • 20:47 - 20:48
    basta limpar com água.
  • 20:48 - 20:49
    Não é necessário retrair a pele,
  • 20:50 - 20:51
    ela retrai-se sozinha.
  • 20:52 - 20:54
    é um bebé com menos problemas de saúde
    e mais feliz.
  • 20:56 - 21:01
    Agora prometi que eu iria mostrar
    que realmente utilizamos o prepúcio.
  • 21:01 - 21:03
    Usamo-lo para três coisas
  • 21:03 - 21:05
    que tenho sido capaz de descobrir.
  • 21:05 - 21:07
    Investigação.
  • 21:07 - 21:10
    Há um grande número de produtos
    que podemos comprar pela Invitrogen,
  • 21:10 - 21:14
    que é uma empresa onde compro
    outras coisas sem células de prepúcio
  • 21:14 - 21:16
    para a minha investigação em biofísica.
  • 21:16 - 21:19
    Vendem alguns produtos com prepúcios neonatais,
  • 21:19 - 21:22
    vocês mesmos podem procurá-los.
  • 21:23 - 21:26
    No hospital podem receber
    um "tratamento de pele mágico"
  • 21:27 - 21:29
    com tecido de prepúcio cultivado.
  • 21:29 - 21:32
    E quem é muito rico
    pode comprar cosméticos
  • 21:32 - 21:36
    que também são derivados
    de tecido de prepúcio neonatal.
  • 21:37 - 21:38
    Ah, os cósméticos.
  • 21:41 - 21:42
    Podem falar mais alto?
  • 21:43 - 21:45
    "Por que é que as pessoas querem usá-los na pele?"
  • 21:45 - 21:47
    As pessoas julgam que
    terão menos rugas.
  • 21:47 - 21:49
    A ideia é que as células dos bebés...
  • 21:50 - 21:51
    São jovens e eficazes.
  • 21:54 - 21:56
    Se isto vos deixa preocupados, fico satisfeito
  • 21:56 - 21:59
    porque quero que isto nos preocupe.
  • 22:02 - 22:06
    Vamos ouvir de uma obstetra
    como justificam estas coisas.
  • 22:06 - 22:10
    Esta é Lisa Masterson, entrevistada
    no programa de Craig Ferguson Late, o Late Show.
  • 22:11 - 22:13
    Sabes que, novamente, é uma decisão pessoal.
  • 22:13 - 22:16
    Como obstetra, falo muito com os meus pacientes.
  • 22:16 - 22:19
    Há muitos benefícios para a saúde
    e reduz alguns riscos,
  • 22:19 - 22:21
    mas é realmente um procedimento social.
  • 22:21 - 22:25
    Tem que decidir se quer
    que o seu filho seja como você.
  • 22:25 - 22:28
    É algo cultural, social.
  • 22:28 - 22:32
    Existem vantagens para a sáude,
    sobretudo para a mulher,
  • 22:32 - 22:38
    como a redução de DSTs e da transmissão
    del VPH, que provoca cancro cervical.
  • 22:39 - 22:41
    Reduz as DSTs, os casos de cancro e outras problemas.
  • 22:42 - 22:45
    Mas não aconteceria a mesma coisa
    com a lavagem regular do pénis?
  • 22:47 - 22:48
    Claro que sim.
  • 22:49 - 22:51
    Então podemos cortá-lo,
    ou podem lavá-lo,
  • 22:52 - 22:53
    Nós podemos decidir?
  • 22:54 - 22:54
    Exato.
  • 22:56 - 22:58
    É uma decisão difícil, Doutora.
    Não sei...
  • 23:01 - 23:03
    É claro que aprecio o ponto de vista de Craig.
  • 23:04 - 23:07
    Ele é Escocês, e no país dele,
    não se faz este procedimento aos bebés.
  • 23:08 - 23:10
    Mas lembremo-nos do que ela disse.
  • 23:10 - 23:13
    Ela está a diz que,
    enquanto pais, temos que escolher,
  • 23:14 - 23:16
    e quero questionar essa perspectiva.
  • 23:17 - 23:22
    Temos que escolher para o nosso filho
    outras opções de modificação corporal?
  • 23:22 - 23:24
    Como um novo nariz ou algo do género?
  • 23:26 - 23:30
    Se a ideia de fazer fazer algo ao nosso filho é
    porque queremos que eles pareçam diferentes,
  • 23:30 - 23:31
    fico contente pois é o que desejo.
  • 23:31 - 23:33
    Quero que nos questionemos
  • 23:33 - 23:38
    porque nos preocupamos tanto que as crianças
    tenham o aspeto que desejamos que elas tenham
  • 23:38 - 23:42
    Neste caso, temos noção de como devem ser
    os orgãos genitais dos rapazes.
  • 23:44 - 23:48
    Ok, então na última parte falaremos de
    como convencemos os médicos realizar este procedimento.
  • 23:49 - 23:52
    Tenho algumas citações de profissionais
    que deixaram de fazê-lo,
  • 23:52 - 23:53
    como Marilynn Milos,
  • 23:53 - 23:56
    uma enfermeira
    que se recusou a cooperar na cirurgia
  • 23:56 - 23:59
    e foi despedida por dizer aos pais
    que a mesma não é obrigatória.
  • 24:00 - 24:03
    Michelle Storms,
    uma obstetra muito conhecida,
  • 24:03 - 24:07
    foi ridicularizada
    por deixar de praticar essas cirurgias em 1988.
  • 24:08 - 24:13
    Falei com o Chefe de Obstetrícia
    do Hospital Universitario de Georgetown,
  • 24:13 - 24:15
    porque os obstetras fazem
    a maioria das cirurgias, e ela disse
  • 24:16 - 24:17
    "Medicamente não faz sentido.
  • 24:18 - 24:20
    Não gosto do procedimento,
    mas sou boa a fazê-lo.
  • 24:21 - 24:23
    Já fiz milhares de circuncisões".
  • 24:23 - 24:25
    Ela foi clara ao dizer que é algo social,
  • 24:25 - 24:27
    sem sentido médico,
  • 24:27 - 24:30
    mas disse-me
    que vai continuar a fazê-las.
  • 24:34 - 24:38
    Como convencemos os médicos a fazer este procedimento?
  • 24:40 - 24:42
    Começamos por patologizar um órgão saudável.
  • 24:43 - 24:48
    Não se fala no prepúcio na maiora dos livros
    de anatomia e medicina dos EUA,
  • 24:48 - 24:51
    e portanto não se discute qual a função dele.
  • 24:51 - 24:53
    Não é considerado um órgão sexualmente importante;
  • 24:55 - 24:57
    Apenas ensinam os médicos
    como removê-lo.
  • 24:58 - 25:02
    Levam-nos erradamente a crer
    na filosofia do retrair e lavar,
  • 25:02 - 25:06
    o que é problemático porque,
    como podem ver na imagem,
  • 25:07 - 25:09
    quando nascemos o prepúcio
    normalmente está ligado à glande.
  • 25:10 - 25:12
    O que vimos anteriormente no vídeo da circuncisão
  • 25:12 - 25:16
    era uma ferramenta que girava
    para soltar o prepúcio e cortá-lo.
  • 25:18 - 25:22
    O prepúcio está unido para proteger os bebés
    dos problemas comuns dos bebés.
  • 25:22 - 25:24
    As fraldas deles podem conter urina ou fezes
  • 25:25 - 25:26
    e os bebés podem ficar com assaduras.
  • 25:27 - 25:29
    O prepúcio tem uma função protetora
    quando somos jovens.
  • 25:30 - 25:31
    Vai-se despegando gradualmente
  • 25:31 - 25:34
    e torna-se retrátil,
  • 25:34 - 25:37
    mas quando o forçamos ele rompe-se
  • 25:37 - 25:39
    e gera-se uma infeção.
  • 25:39 - 25:42
    Caso o lavemos com sabão
    também criamos um foco de infeção.
  • 25:43 - 25:46
    Por último,
    fazemos um diagnóstico errado de fimose.
  • 25:47 - 25:49
    Existe fimose quando
    há tecido cicatrizado
  • 25:49 - 25:53
    na abertura do prepúcio
    e este não pode retrarir-se.
  • 25:53 - 25:56
    Há tratamentos com creme esteróide
    para amaciar o tecido cicatricial.
  • 25:57 - 26:00
    Mas quando um bebé de três meses tem fimose
    algo está errado
  • 26:01 - 26:03
    pois não podemos puxar o prepúcio para trás
    sem que doa.
  • 26:04 - 26:10
    Deve estar unido à glande, nasce assim
    e será retrátil por si mesmo.
  • 26:13 - 26:15
    Então,
    por que se fazem circuncisões?
  • 26:16 - 26:19
    Segundo os pais,
    a principal razão é uma questão de aparência.
  • 26:19 - 26:24
    Querem que filho seja
    como os outros ou como o próprio pai.
  • 26:25 - 26:28
    Também acreditam que é mais bonito
    ou mais fácil de limpar.
  • 26:29 - 26:34
    Considero que é a solicitação dos médicos
    que reforça ou valida a escolha do procedimento.
  • 26:34 - 26:39
    Gostariam que o vosso filho fosse circuncidado?
    Como um procedimento feito por médicos parece nos aceitável.
  • 26:40 - 26:44
    Os médicos também utilizam
    outros argumentos que corroboram esta ideia.
  • 26:44 - 26:46
    Dizem que reduz
    a taxa de cancro do pénis,
  • 26:47 - 26:49
    as infeções do trato urinário,
  • 26:49 - 26:54
    a taxa de cancro cervical
    nas futuras parceiras sexuais do vosso filho
  • 26:55 - 26:58
    e a taxa de transmissão
    do HIV de mulher para homem,
  • 26:58 - 27:00
    que é a razão mais recente.
  • 27:00 - 27:03
    Como vos mostrei no início,
    temos muita bagagem cultural
  • 27:03 - 27:08
    e as razões estámos habituados a fazer
    circuncisões já não fazem sentido no contexto atual.
  • 27:09 - 27:14
    Criámos razões à posteriori para
    nos sentirmos mais confortáveis com o que fazemos.
  • 27:14 - 27:16
    Irei aprofundá-las.
  • 27:16 - 27:20
    Além da crítica social de que são
    razões criadas para que nos sintamos bem,
  • 27:21 - 27:26
    observamos que a aparência e a limpeza
    são as principais razões para a circuncisão.
  • 27:26 - 27:30
    Este argumento é usado para apoiar
    a mutilação genital masculina e feminina,
  • 27:31 - 27:35
    em todas as culturas nas quais sei
    que essas práticas são realizadas.
  • 27:35 - 27:37
    E são apenas argumentos inventados.
  • 27:37 - 27:40
    Como se sabe
    que algo está mais limpo de uma forma ou outra?
  • 27:42 - 27:46
    A Sociedade Americana do Cancro alega
    que isso não protege do cancro do pénis.
  • 27:46 - 27:49
    E é irrelevante,
    a taxa é de 1 em cada 100.000.
  • 27:50 - 27:52
    Morrem mais pessoas na circuncisão
    do que por cancro do pénis.
  • 27:52 - 27:54
    As infeções do trato urinário;
  • 27:55 - 27:57
    tiveram por base um extenso estudo de 1986
  • 27:57 - 28:00
    efetuado por um senhor chamado Wiswell.
  • 28:01 - 28:05
    O problema é que as suas instruções
    geravam infeções do trato urinário
  • 28:06 - 28:07
    em indivíduos com prepúcio
  • 28:07 - 28:11
    porque dizia aos pais
    para forçar, retrair o prepúcio e lavar com sabão.
  • 28:11 - 28:14
    É como se uma bebé pequena
    fosse submetida a duches vaginais.
  • 28:14 - 28:17
    Haveria uma taxa mais elevada
    de infecções fungicas e do trato urinário
  • 28:18 - 28:21
    pois as colónias
    de barreiras protetoras seriam destruídas.
  • 28:22 - 28:24
    Cancro cervical em parceiras sexuais.
  • 28:25 - 28:28
    Em primeiro lugar,
    é uma intervenção preventiva
  • 28:28 - 28:31
    para proteger possíveis
    parceiras dos bebés quando estes crescem.
  • 28:31 - 28:35
    E como sabemos se essa pessoa não será monge ou homossexual?
  • 28:36 - 28:38
    Eles podem ser operados mais tarde.
  • 28:38 - 28:42
    Além disso, o cancro cervical é orginado
    pelo vírus do papiloma humano.
  • 28:42 - 28:45
    Provavelmente muitos aparenderam isto
    nas aulas de Educação Sexual.
  • 28:45 - 28:49
    Os próprios autores que examinaram
    os maridos e as mulheres do estudo
  • 28:49 - 28:52
    descobriram que
    tinham diferentes tipos de VPH.
  • 28:53 - 28:57
    Não sei se eram casos de poligamia encoberta ou algo parecido.
  • 28:58 - 29:01
    Mas isto coloca em causa
    os resultados do estudo,
  • 29:01 - 29:06
    porque os homens nao tinham o VPH
    que causou cancro cervical às suas parceiras.
  • 29:07 - 29:08
    Gesundheit.
  • 29:10 - 29:13
    Em último lugar está
    a circuncisão como prevenção do VIH.
  • 29:14 - 29:17
    Esta ideia começou
    sobretudo em 2000 e anos seguintes.
  • 29:18 - 29:20
    A prova disso são
    três estudos aleatórios,
  • 29:20 - 29:22
    realizados em África,
  • 29:22 - 29:26
    possivelmente porque nenhum
    Conselho de Revisão Ética o teria permitido nos EUA.
  • 29:26 - 29:29
    Conseguiram
    voluntários para serem circuncidados,
  • 29:29 - 29:31
    circuncidaram metade aleatoriamente
  • 29:31 - 29:33
    e observaram a rapidez com que eles contraiam VIH.
  • 29:34 - 29:38
    Eles tinham uma metodologia problemática
    da qual falarei mais adiante.
  • 29:38 - 29:43
    Afirmaram que a possibilidade dos homens contrairem
    VIH era 60 por cento menor.
  • 29:44 - 29:48
    As provas que mostram o contrário
  • 29:48 - 29:50
    estão nos outros estudos
    que foram realizados.
  • 29:51 - 29:52
    Os dados geográficos,
  • 29:52 - 29:55
    ao verificarmos a correlação
    entre a porcentagem dos circuncidados
  • 29:56 - 29:58
    e as taxas de VIH na população,
    contradizem o que foi dito.
  • 29:59 - 30:00
    Por exemplo,
  • 30:00 - 30:04
    Os EUA têm a taxa mais elevada de VIH
    entre todos os países industrializados
  • 30:04 - 30:07
    e também
    a taxa mais alta de circuncisões.
  • 30:08 - 30:10
    Não seria assim
    se a circuncisão protegesse tanto.
  • 30:13 - 30:17
    Nos minutos que ainda me sobram
    vou falar do que correu mal no estudo.
  • 30:18 - 30:24
    Nos três estudos, agruparam homens intatos,
    circuncidaram-nos e observaram a rapidez com que contraiam VIH.
  • 30:25 - 30:28
    De cada vez que iam à clínica
    davam-lhes preservativos
  • 30:29 - 30:31
    e aconselhamento sobre sobre sexo seguro.
  • 30:31 - 30:34
    O grupo circuncidado foi
    pelo menos o dobro das vezes à clínica
  • 30:34 - 30:37
    para serem circuncidados
    e acompanhados.
  • 30:38 - 30:40
    Além disso, quando se é circuncidado,
  • 30:40 - 30:43
    não se pode ter relações sexuais
    durante quatro a seis semanas.
  • 30:44 - 30:48
    Pediram ao grupo de circuncisos
    abstinência durante seis semanas
  • 30:49 - 30:51
    mas eles não começaram a contar
    em seis semanas
  • 30:51 - 30:53
    começaram a contar no momento.
  • 30:53 - 30:56
    Assim, os circuncidados
    estiveram protegidos por seis semanas
  • 30:56 - 30:58
    pois não conseguiam ter relações.
  • 30:59 - 31:01
    Para além disso, usaram um teste anticorpos.
  • 31:01 - 31:04
    E, como sabem, quando se faz
    um destes testes numa clínca
  • 31:04 - 31:06
    dizem
    que existe um período de três meses
  • 31:06 - 31:09
    de espera
    desde a última exposição
  • 31:09 - 31:11
    para saber se temos VIH.
  • 31:11 - 31:13
    Mas eles não esperaram esses três meses
  • 31:13 - 31:16
    e a maioria ou metade dos benefícios
    ocorreram nesse tempo,
  • 31:17 - 31:20
    pelo que aquelas infeções são
    anteriores ao estudo,
  • 31:20 - 31:22
    anteriores
    ao ensaio e aleatorização.
  • 31:23 - 31:25
    Também haviam
    muitos problemas de controlos,
  • 31:25 - 31:28
    incluindo o contato com sangue
    e o coito anal recetivo.
  • 31:31 - 31:33
    Também me preocupa que os autores do estudo
  • 31:33 - 31:36
    comparem a circuncisão
    a uma vacina eficaz.
  • 31:38 - 31:41
    O que dizem é que,
    se os resultados são precisos,
  • 31:41 - 31:42
    o que eu duvido,
  • 31:42 - 31:44
    reduz a possibilidade de contrair VIH,
  • 31:45 - 31:47
    cada vez que praticamos sexo,
    em 60 por cento.
  • 31:47 - 31:51
    Se praticarmos sexo desprotegido com frequência,
    também acabaremos por contrair VIH.
  • 31:51 - 31:52
    Pensemos na vacina contra o sarampo.
  • 31:53 - 31:57
    Com as doses de reforço,
    99 por cento das pessoas fica imune.
  • 31:57 - 31:58
    Provavelmente é o vosso caso.
  • 31:58 - 32:00
    Isto é o exemplo de uma vacina eficaz.
  • 32:01 - 32:02
    99 por ciento de imunidade permanente.
  • 32:03 - 32:06
    Não é como 60 por cento menos probabilidade
    de sermos infetados em cada exposição.
  • 32:06 - 32:10
    Há seres humanos que acreditam
    que são imunes ao VIH porque foram circuncidados
  • 32:10 - 32:11
    dos países africanos.
  • 32:13 - 32:15
    E isso é algo que me preocupa bastante.
  • 32:16 - 32:17
    Para recapitular,
  • 32:18 - 32:21
    julgo que socialmente temos tendência
    para a mutilação infantil,
  • 32:22 - 32:23
    sobretudo em relação aos rapazes.
  • 32:23 - 32:25
    Acredito que é muito prejudicial para as crianças,
  • 32:25 - 32:27
    bem como para os sobreviventes,
  • 32:27 - 32:30
    para os pais,
    que querem o melhor para os filhos,
  • 32:30 - 32:31
    e para os médicos,
  • 32:32 - 32:35
    porque julgo que
    eles estudam para ajudar as pessoas,
  • 32:35 - 32:38
    e aprendem este procedimento
    de uma forma descontextualizada.
  • 32:40 - 32:43
    Muitos pensam que
    não é da sua responsabilidade fazer alguma coisa,
  • 32:44 - 32:48
    incluindo organizaçõs profisionais
    como a Academia Americana de Pediatria,
  • 32:48 - 32:50
    o Colégio Americano
    de Obstetras e Ginecologistas,
  • 32:51 - 32:52
    e também os médicos,
  • 32:52 - 32:55
    porque têm que transmitir uma boa imagem.
  • 32:55 - 32:59
    Se dissermos que os médicos fazem algo mal,
    estamos a dar-les má imagem.
  • 33:00 - 33:04
    Os administradores do hospital
    e os médicos não querem destaque negativo.
  • 33:05 - 33:08
    Os obstetras
    não pensam na criança que operam como paciente.
  • 33:08 - 33:10
    O comité de ética do hospital disse
  • 33:10 - 33:13
    que não são as pessoas indicadas
    para tratar deste tema.
  • 33:14 - 33:18
    Penso que todas estas organizações estão a negligenciar
    pais, filhos e a todos.
  • 33:20 - 33:22
    Espero que vos tenha motivado
  • 33:23 - 33:24
    e que partilhem esta informação,
  • 33:24 - 33:28
    porque, se eles não assumem responsabilidades,
    espero que nós o façamos.
  • 33:28 - 33:30
    Contem aos vossos amigos.
  • 33:30 - 33:32
    Vou deixar o link desta aprentação para o vosso professor.
Title:
Child Circumcision: An Elephant in the Hospital
Description:

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Duration:
33:33

Portuguese, Brazilian subtitles

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