Então eu sou o Ryan, um amigo da Lizzie. Sou investigador em biofísica na Universidade de Georgetown e também coordeno duas organizações sem fins lucrativos que lidam sobretudo com o apoio às famílias e as as pessoas nos seus relacionamentos. Esta é a minha família. A minha missão na vida é basicamente ajudar as pessoas a se relacionarem bem. Nesse sentido, realizo muitos workshops para famílias também as ajudo a compreender questões médicas. Estou aqui para falar da circuncisão, à qual chamo o "Elefante no Hospital", porque, a meu ver, é algo assustador que acontece na nossa cultura, embora falemos pouco sobre isso. São feitas cerca de 500.000 a 1.000.000 milhões de circuncisões por ano nos EUA, quase sempre nos três primeiros dias de vida dos bebés e é algo completamente desnecessário. Segundo as minhas pesquisas, acredito que se trata de um procedimento totalmente prejudicial para as crianças. O que vamos fazer, o mais rápido que conseguir, é um debate sobre o que esse processo implica do ponto de vista da criança, de quais os seus efeitos sobre sobreviventes adultos, sobre o porquê dos pais aceitarem este procedimento, e o que sabem sobre o mesmo e como existem médicos que o fazem. Antes disso, quero olhar para todos, para que nos conheçamos melhor. Farei algumas perguntas e usaremos esta tecnologia tradicional. Vou pedir a vocês, por favor, que apontem em determinada direção em cada questão. Esta parede significa "benéfica", o tecto é "neutro", e "prejudicial" é aquela parede. Por exemplo, o que pensam dos pés de lírio? São antropólogos pelo que a maioria já terá ouvido falar dos pés de lírio. Qual o sentido de ...? Bem, todos os que responderam acham que é prejudicial. Ainda bem, fico satisfeito com a resposta. Mutilação genital feminina, quantas pessoas já ouviram falar disso? Óptimo, consideram universalmente prejudicial. E se fizessemos mastectomias profiláticas, Digamos que para evitar o cancro da mama e salvar centenas de milhares de vidas de mulheres por ano, e imaginem que o fazíamos a todos as bebés. Consideram benéfico? Prejudicial? Neutro? Bem, temos alguns alguns "neutrais" e aguns "prejudicais. Tudo bem. E o que pensam do corte de tecido não essencial a uma criança? Como o corte dos lóbulos da orelhas de todos, porque nos parecem desnecessários, inconvenientes ou feios? Ok, é prejudicial. E quanto à circuncisão? Por onde começar? Há todo o tipo de repostas. Bem, temos um público diversificado. Agora, duas outras questões para que nos conhecermos melhor. Quem de vós acha que tem prepúcio? Alguém? Quem acha que tem prepúcio? É a parte removida durante a circuncisão. Está bem, é uma pergunta complicada. Ambos, homens e mulheres, nascem com prepúcios. "Prepúcio" ´é simplemente um nome de uma parte do clitóris ou pénis. Provavelmente a maioria das mulheres aqui presentes o tem e quem sabe alguns dos homens também. Quem aqui vem de uma cultura onde a mutilação genital feminina é uma norma social? Ninguém, ok. Quem aqui vem de uma cultura onde a mutilação genital masculina é uma norma social? Praticamente todos nós. Quem conhece alguém mutilado genitalmente em criança? Podem ser vocês, um amigo vosso, os vossos pais ou filho. A maioria (todos). Isto prova que é algo que já afectou as nossas vidas de alguma forma. Estou a demonstrar que é um assunto importante do qual não falamos muito. Agora vou explicar porque penso assim. Creio que a forma de falar da circuncisão na nossa cultura serve para ocultar o tipo de procedimento que é. Talvez tenham ouvido que há melhor limpeza do pénis, que todos e que muitos pensam "eu sou circuncidado e estou bem". "É um pequeno corte" ou "remoção de uma prega de pele inútil", em linguagem banal. Já todos ouvimos isto. O que vos vou pedir é que coloquem tudo isso de lado, tudo aquilo em que pensam e que consigam pensar de uma nova forma na qual estes argumentos ilógicos a favor não interfiram na vossa opinião. Suponham que a circuncisão é um processo cíclico na nossa cultura feito às crianças, que se tornam sobreviventes adultos, alguns agora pais e que os médicos os convencem a realizar esta cirurgia nos filhos. Esta, ao contrário de qualquer outra cirurgia nos hospitais dos Estados Unidos, elimina uma parte que é saudável e única de um órgão, com exeção da alteração da genitália interna, mas são decerto muito semelhantes. Elimina uma parte saudável do corpo. Não é utilizada como tratamento. Os médicos não pensam que estão a tratar crianças, eles sabem que é uma cirurgía social. Tem complicações significativas. É realizada em menores que não podem dar os seu consentimento. É ilegal, um crime federal grave fazê-la em bebés do sexo feminino, mas é incentivada e realizada em bebés do sexo masculino. Isso resulta na perda de uma função para o resto da vida e o tecido é usado comercialmente. Apenas uma pequena contextualização. Percebo-vos, acreditem, e vou dar-vos provas disso. Não faria uma afirmação tão radical sem provas. Primeiro terminemos com um contexto geográfico e histórico. Este é um mapa do mundo. No geral, nos países a verde não se pratica a mutilação genital masculina. Nos poucos e pequenos países amarelos a norte é uma prática cada vez mais questionada a nível legal. A circuncisão é agora rara no Canadá, na Inglaterra e Austrália, onde também era praticada em bebés, mas parou nos anos 50 devido a um artigo que provava que morriam crianças todos os anos em Inglaterra, cerca de 14 crianças por ano, pelo que deixou de ser feita. Noutros países, excepto nos Estados Unidos, onde é feita a bebés, é realizada em adolescentes na maioria das vezes, na África Sub sariana e nas culturas Islâmicas Sunitas. Como aconteceu isto? Tornou-se uma prática médica em vez de ser uma prática tribal ou cultural. E surgiu no fim do século XIX, quando as pessoas não tinham a teoria dos germes, mas a teoria da excitação do sistema nervoso. E a moral Vitoriana, na qual a pessoa vê o quer ver a maior parte das vezes. Existem muitas publicações médicas que mostram que a circuncisão curou a paralisia, a epilepsia, a doença do quadril e todo o tipo de problemas que, atualmente, para os quais é improvável haver uma cura. A intenção era realmente mutilar os orgãos genitais das crianças. Pensavam que tal os ajudaría a longo prazo porque evitaria que sentissem muita excitação sexual, que de acordo com o modelo vitoriano era o tipo de excitação mais perigosa. Peço desculpa, Deveria ter-vos advertido antes ... Desculpem-me. Vou mostrar alguns slides ilustrativos e aconselho-vos a não olharem para eles caso não se sintam confortáveis Tentarei avisar quando eles surgirem. Também gostaria de referir outra coisa: vou utilizar expressões diferentes. Vou passar a chamar à circuncisão de "mutilação genital" porque é uma expressão mais neutra, mais precisa e descritiva. Penso que 'circuncisão' é um eufemismo que associamos a algo bom. O termo 'incircunciso' vou substituir por 'intacto', uma vez que 'incircunciso' dá a sensação de que a circuncisão é a "norma" e que os não circuncidados simplesmente não o foram ainda. Seria como chamar 'não mastectomizadas' às mulheres que têm seios o que seria inconveniente. Da mesma forma, espero vos sensibilizar para o desconforto de chamar "intatos" aos incircuncisos. Os seguintes slides têm algumas coisas menos agradáveis e, novamente, aconselho que não olhem, se preferirem. Esta é a parte sobre a criança. Vamos ver como é este procedimento para a criança. Esta é a parte mais gráfica, junto com as complicações. E o que quero é que pensem no que é vulgarmente discutido a partir da perspectiva dos pais que pensam "Os pais têm o direito de escolher". Quero que questionem este discurso e pensem no ponto de vista da criança. A quem pertence o corpo da criança? Quais os direitos das crianças? Porque fazem isto aos meninos e às meninas não? O que isso nos diz sobre a nossa opinião sobre os diferentes géneros? Neste slide vemos três exemplos diferentes de mutilação. No canto superior esquerdo vemos uma jovem a ser circuncidada no seu contexto cultural. No canto superior direito, um jovem a ser circuncidado no seu contexto cultural. E no canto inferior direito, um bebé a ser circuncidado no hospital. Quero que olhem para os rostos deles, simplesmente olhem para eles, porque quero que pensem no que eles sentiram. Acredito que estavam a passar por uma experiência muito semelhante. Ainda assim, na nossa cultura, na qual nos vejo como uma espécie de imperialistas, estamos prontos a apontar o dedo e dizer "Oh estas coisas terríveis que fazem nos países onde se pratica a mutilação genital feminina". Mas não falamos da masculina, que é praticada em crianças sob as mesmas condições de higiene, e tem a mesma taxa de mortalidade nesses países. E ainda incentivamos a sua prática em rapazes no nosso país. Como se faz uma circuncisão? Os slides seguintes vão ser os mais exemplificativos. Isto é um exemplo do suporte ao qual se amarra o bebé e onde é feito o procedimento. Vamos visionar um pequeno vídeo exemplificativo. O vídeo tem som, se estiver bem conetado. Mais uma vez, não olhem, caso vos incomode. Aconselho que respirem fundo se tiveram dificuldade em respirar como me aconteceu durante o vídeo. Consigo perceber uma certa indiferença traquila no tom de voz do médico, que não está minimamente perturbado pela situação. O bebé chora como choram os bebés submetidos a situações de pressão extrema, não é choro de "estou com fome". Para além da dor do procedimento em si e dos vários dias que leva a sarar existem complicações inerentes à circuncisão que podem colocar a criança em risco. Podemos classificá-las e dividi-las em dois tipos. As complicações cirúrgicas, que começam pelas mais pequenas como a cicatriz que todos os circuncisos têm. Muitos homens não sabem que o anel ao redor do seu pénis é uma cicatriz de circuncisão, ou descobrem ao me ouvirem falar. É algo que acontece sempre. Mas existe uma série de outras complicações que podem ser problemáticas e que nem sempre ocorrem. Como a aderência balano-prepucial, quando o processo de cicatrização corre mal e as duas partes do pénis que não deviam estar unidas se unem. Estas imagens mostram, em cima, à esquerda, uma fístula. É como se o médico induzisse a formação de hipospádias. A linha preta que desce é uma sonda que é introduzida no meato, a abertura da uretra e sai para fora pelo buraco adicional que o médico criou. Em cima, à direita, vemos a glande quase amputada. Abaixo, à esquerda, foi retirada tanta pele que os corpos cavernosos e a glande do pénis são introduzidos no escroto. Em baixo, à direita, o pénis foi acidentalmente amputado. Também existem complicações pós-operatórias como problemas na amamentação, que é algo importante pois o desenvolvimento da capacidade de amamentação é essencial para os bebés. O termo "hemorragia", que parece pouco importante, consta no formulário de consentimento e pensamos "Oh, não é nada demais", mas um bebé tem apenas cerca de 354 mililitros de sangue, pelo que a perda de alguns mililitros pode pode ser fatal ou obrigar a uma transfusão de sangue. Aumento da resposta à dor. Infeção, que também é muito grave para um recém-nascido. Meatite, que é uma irritação no meato. Tudo isto pode ser um problema porque, caso se agrave, o bebé não poderá urinar e será preciso fazer um cateterismo. Necrose e até mesmo a perda permanente do pénis, ou morte. Falei com um urologista pediátrico, que é quem resolve estas complicações. Ele disse que durante dois anos tratou mais de 275 bebés, dos quais quase metade precisaram ser operados. Foram então submetidos a outra operação para tentar reparar os danos que sofreram. Já vimos grande parte das imagens, mas nos próximos slides vamos ver a anatomia dos adultos, e podem não olhar, caso preferirem. Quantos de vocês já viram um pénis intato? O vosso ou o de um amigo? Se não viram, peçam a alguém que esteja disposto a vos mostrar. Tenho conversado com centenas de homens, quer circuncidados quer não circuncidados Muitos homens que foram circuncidados não estão satisfeitos. Estão conscientes, ou começam a ficar, de que lhes retiram alguma coisa e foram submetidos a algo que não escolheram. Também falei com pais arrependidos do procedimento. O que é o prepúcio? O prepúcio é uma espécie de idea construída socialmente. É apenas uma parte do pénis mas, como o cortámos, precisamos dar-lhe outro nome. De facto, no formulário de consentimento são mencionadas as possíveis complicações que confirmam o risco de lesionar o pénis. Criámos uma realidade na qual a amputação do pénis não é considerada lesão. Só é lesão se cortarmos parte do que se pretendia cortar. Quero mostrar-vos o que é o prepúcio, dedicar-lhe algum tempo. O prepúcio de um homem adulto, a parte que teria sido removida, mede entre 30 a 40 centímetros quadrados, tem o tamanho de un post-it retangular. É a parte mais erógena do homem. Contém 10.000 a 20.000 terminações nervosas. E também torna a pele que cobre o eixo do pénis móvel. Esta é a diferença, durante o coito ou outro tipo de interação sexual, a distinção entre este tipo de interação e o que passa nas partes do corpo onde a pele se move facilmente. Por exemplo, as minhas bochechas são flexíveis para que eu possa fazer isto. De facto, isto é uma coisa importante porque há outro tipo de nervo, chamado mecanorrecetor, que é estimulado pelo movimento e é o contributo masculino para a lubrificação durante a relação sexual, seja ela entre dois homens ou um homem e uma mulher. O prepúcio tem duas partes diferentes. O freio é... A minha mão é pequena para exemplificar mas... É esta zona em forma de leque. Abaixo, no sulco coronal, estão a maioria dos nervos. E o músculo dartos é um músculo cutâneo que permite ao prepúcio responder ao frio e ao medo rodeando o pénis, fazendo-o contrair. Em 2007, realizou-se a primeira investigação para tentar avaliar onde o pénis é sensível. Avaliaram um grupo de homens intatos e um grupo de homens circuncidados. Neste gráfico colorido verificamos que as áreas com maior sensibilidade, têm cor castanha seguidas das de cor arroxeada. Em comparação com um pénis circuncidado, vemos que a maioria das áreas sensíveis foi eliminada. Somente a zona da cicatriz e o que restou do freio são áreas sensíveis nos homens circuncidados. Podemos compará-los desta forma e nem precisam acreditar em mim, perguntem a amigos, a um circuncidado e a outro não circuncidado ou até a vocês, onde há maior sensibilidade. Para a maioria dos homens é na área do freio ou na zona da cicatriz. Para que tenham uma idéia real, o que John, o fotógrafo, fez foi basear-se num homem com prepúcio para desenhar estas linhas e saber que tecido foi retirado. A outra diferença que quero mencionar é que o interior que normalmente rodeia o pénis de alguma forma acaba por o invaginar, protege-o, e mantém-no húmido. Se compararmos com um pénis circuncidado, o tecido parece mais suave, húmido e quente, tem maior volume e não tem cicatriz. As setas estão a apontar para a cicatriz para que vejam onde ela está. Caso tenham alguma pergunta perguntem, consoante avançamos, porque estou a passar muita informação. Agora, vamos falar sobre os pais. Como disse, falei com centenas de pais sobretudo devido ao meu trabalho com deles. Para muitos pais, é quando recebem os seus filhos, que tomam consciência do formulário que assinaram. Existe um problema com o consentimento informado. Ou há falta de informação, ou perguntam se os pais querem circuncidar os filhos em momentos difíceis, como o parto. E perguntam como se não fosse algo importante. Querem uma almofada? Uma chícara de chá? Querem que circuncidemos o vosso filho? Dizem tudo no mesmo tom, e isso é preocupante. Vejo todos envolvidos num pseudo processo de consentimento informado no qual os pais precisam confiar nos médicos. São os médicos que supostamente se ocupam da parte da medicina. Todavia, a informação que transmitem é muito superficial, falam pouco das complicações envolvidas as mesmas são banalizadas, omitem as funções do prepúcio, não se menciona que é um órgão sexual, e omitem as questões éticas das decisões que envolvem o corpo do bebé. Há também um conflito de intereses implícito, uma vez que este tecido tem muitas utilizações comerciais. Os pais nem tão pouco sabem que é doloroso por uma semana ou mais. E o bebé sofre durante o processo. Existe uma ferida que precisa sarar, é uma ferida no pénis e os bebés são muito sensíveis à dor. Quantos de vocês já brincaram com um bebé de um amigo ou vosso, com poucos dias de idade? Eles são muito frágeis. O que acontece é que ferimos um bebé e agora os recém-pais têm de lidar com o processo de cura e também descobrir o que é a parentalidade. Têm as complicações acrescidas da vigilância de sinais de infeção, da troca do penso e de cuidarem de um bebé mais chateado do que o normal. Em comparação, com um bebé circuncidado não há quase nada para fazer. De facto, nem há que lavar o pénis, tal como não se lavaria a vagina de uma bebé com sabão, basta limpar com água. Não é necessário retrair a pele, ela retrai-se sozinha. é um bebé com menos problemas de saúde e mais feliz. Agora prometi que eu iria mostrar que realmente utilizamos o prepúcio. Usamo-lo para três coisas que tenho sido capaz de descobrir. Investigação. Há um grande número de produtos que podemos comprar pela Invitrogen, que é uma empresa onde compro outras coisas sem células de prepúcio para a minha investigação em biofísica. Vendem alguns produtos com prepúcios neonatais, vocês mesmos podem procurá-los. No hospital podem receber um "tratamento de pele mágico" com tecido de prepúcio cultivado. E quem é muito rico pode comprar cosméticos que também são derivados de tecido de prepúcio neonatal. Ah, os cósméticos. Podem falar mais alto? "Por que é que as pessoas querem usá-los na pele?" As pessoas julgam que terão menos rugas. A ideia é que as células dos bebés... São jovens e eficazes. Se isto vos deixa preocupados, fico satisfeito porque quero que isto nos preocupe. Vamos ouvir de uma obstetra como justificam estas coisas. Esta é Lisa Masterson, entrevistada no programa de Craig Ferguson Late, o Late Show. Sabes que, novamente, é uma decisão pessoal. Como obstetra, falo muito com os meus pacientes. Há muitos benefícios para a saúde e reduz alguns riscos, mas é realmente um procedimento social. Tem que decidir se quer que o seu filho seja como você. É algo cultural, social. Existem vantagens para a sáude, sobretudo para a mulher, como a redução de DSTs e da transmissão del VPH, que provoca cancro cervical. Reduz as DSTs, os casos de cancro e outras problemas. Mas não aconteceria a mesma coisa com a lavagem regular do pénis? Claro que sim. Então podemos cortá-lo, ou podem lavá-lo, Nós podemos decidir? Exato. É uma decisão difícil, Doutora. Não sei... É claro que aprecio o ponto de vista de Craig. Ele é Escocês, e no país dele, não se faz este procedimento aos bebés. Mas lembremo-nos do que ela disse. Ela está a diz que, enquanto pais, temos que escolher, e quero questionar essa perspectiva. Temos que escolher para o nosso filho outras opções de modificação corporal? Como um novo nariz ou algo do género? Se a ideia de fazer fazer algo ao nosso filho é porque queremos que eles pareçam diferentes, fico contente pois é o que desejo. Quero que nos questionemos porque nos preocupamos tanto que as crianças tenham o aspeto que desejamos que elas tenham Neste caso, temos noção de como devem ser os orgãos genitais dos rapazes. Ok, então na última parte falaremos de como convencemos os médicos realizar este procedimento. Tenho algumas citações de profissionais que deixaram de fazê-lo, como Marilynn Milos, uma enfermeira que se recusou a cooperar na cirurgia e foi despedida por dizer aos pais que a mesma não é obrigatória. Michelle Storms, uma obstetra muito conhecida, foi ridicularizada por deixar de praticar essas cirurgias em 1988. Falei com o Chefe de Obstetrícia do Hospital Universitario de Georgetown, porque os obstetras fazem a maioria das cirurgias, e ela disse "Medicamente não faz sentido. Não gosto do procedimento, mas sou boa a fazê-lo. Já fiz milhares de circuncisões". Ela foi clara ao dizer que é algo social, sem sentido médico, mas disse-me que vai continuar a fazê-las. Como convencemos os médicos a fazer este procedimento? Começamos por patologizar um órgão saudável. Não se fala no prepúcio na maiora dos livros de anatomia e medicina dos EUA, e portanto não se discute qual a função dele. Não é considerado um órgão sexualmente importante; Apenas ensinam os médicos como removê-lo. Levam-nos erradamente a crer na filosofia do retrair e lavar, o que é problemático porque, como podem ver na imagem, quando nascemos o prepúcio normalmente está ligado à glande. O que vimos anteriormente no vídeo da circuncisão era uma ferramenta que girava para soltar o prepúcio e cortá-lo. O prepúcio está unido para proteger os bebés dos problemas comuns dos bebés. As fraldas deles podem conter urina ou fezes e os bebés podem ficar com assaduras. O prepúcio tem uma função protetora quando somos jovens. Vai-se despegando gradualmente e torna-se retrátil, mas quando o forçamos ele rompe-se e gera-se uma infeção. Caso o lavemos com sabão também criamos um foco de infeção. Por último, fazemos um diagnóstico errado de fimose. Existe fimose quando há tecido cicatrizado na abertura do prepúcio e este não pode retrarir-se. Há tratamentos com creme esteróide para amaciar o tecido cicatricial. Mas quando um bebé de três meses tem fimose algo está errado pois não podemos puxar o prepúcio para trás sem que doa. Deve estar unido à glande, nasce assim e será retrátil por si mesmo. Então, por que se fazem circuncisões? Segundo os pais, a principal razão é uma questão de aparência. Querem que filho seja como os outros ou como o próprio pai. Também acreditam que é mais bonito ou mais fácil de limpar. Considero que é a solicitação dos médicos que reforça ou valida a escolha do procedimento. Gostariam que o vosso filho fosse circuncidado? Como um procedimento feito por médicos parece nos aceitável. Os médicos também utilizam outros argumentos que corroboram esta ideia. Dizem que reduz a taxa de cancro do pénis, as infeções do trato urinário, a taxa de cancro cervical nas futuras parceiras sexuais do vosso filho e a taxa de transmissão do HIV de mulher para homem, que é a razão mais recente. Como vos mostrei no início, temos muita bagagem cultural e as razões estámos habituados a fazer circuncisões já não fazem sentido no contexto atual. Criámos razões à posteriori para nos sentirmos mais confortáveis com o que fazemos. Irei aprofundá-las. Além da crítica social de que são razões criadas para que nos sintamos bem, observamos que a aparência e a limpeza são as principais razões para a circuncisão. Este argumento é usado para apoiar a mutilação genital masculina e feminina, em todas as culturas nas quais sei que essas práticas são realizadas. E são apenas argumentos inventados. Como se sabe que algo está mais limpo de uma forma ou outra? A Sociedade Americana do Cancro alega que isso não protege do cancro do pénis. E é irrelevante, a taxa é de 1 em cada 100.000. Morrem mais pessoas na circuncisão do que por cancro do pénis. As infeções do trato urinário; tiveram por base um extenso estudo de 1986 efetuado por um senhor chamado Wiswell. O problema é que as suas instruções geravam infeções do trato urinário em indivíduos com prepúcio porque dizia aos pais para forçar, retrair o prepúcio e lavar com sabão. É como se uma bebé pequena fosse submetida a duches vaginais. Haveria uma taxa mais elevada de infecções fungicas e do trato urinário pois as colónias de barreiras protetoras seriam destruídas. Cancro cervical em parceiras sexuais. Em primeiro lugar, é uma intervenção preventiva para proteger possíveis parceiras dos bebés quando estes crescem. E como sabemos se essa pessoa não será monge ou homossexual? Eles podem ser operados mais tarde. Além disso, o cancro cervical é orginado pelo vírus do papiloma humano. Provavelmente muitos aparenderam isto nas aulas de Educação Sexual. Os próprios autores que examinaram os maridos e as mulheres do estudo descobriram que tinham diferentes tipos de VPH. Não sei se eram casos de poligamia encoberta ou algo parecido. Mas isto coloca em causa os resultados do estudo, porque os homens nao tinham o VPH que causou cancro cervical às suas parceiras. Gesundheit. Em último lugar está a circuncisão como prevenção do VIH. Esta ideia começou sobretudo em 2000 e anos seguintes. A prova disso são três estudos aleatórios, realizados em África, possivelmente porque nenhum Conselho de Revisão Ética o teria permitido nos EUA. Conseguiram voluntários para serem circuncidados, circuncidaram metade aleatoriamente e observaram a rapidez com que eles contraiam VIH. Eles tinham uma metodologia problemática da qual falarei mais adiante. Afirmaram que a possibilidade dos homens contrairem VIH era 60 por cento menor. As provas que mostram o contrário estão nos outros estudos que foram realizados. Os dados geográficos, ao verificarmos a correlação entre a porcentagem dos circuncidados e as taxas de VIH na população, contradizem o que foi dito. Por exemplo, Os EUA têm a taxa mais elevada de VIH entre todos os países industrializados e também a taxa mais alta de circuncisões. Não seria assim se a circuncisão protegesse tanto. Nos minutos que ainda me sobram vou falar do que correu mal no estudo. Nos três estudos, agruparam homens intatos, circuncidaram-nos e observaram a rapidez com que contraiam VIH. De cada vez que iam à clínica davam-lhes preservativos e aconselhamento sobre sobre sexo seguro. O grupo circuncidado foi pelo menos o dobro das vezes à clínica para serem circuncidados e acompanhados. Além disso, quando se é circuncidado, não se pode ter relações sexuais durante quatro a seis semanas. Pediram ao grupo de circuncisos abstinência durante seis semanas mas eles não começaram a contar em seis semanas começaram a contar no momento. Assim, os circuncidados estiveram protegidos por seis semanas pois não conseguiam ter relações. Para além disso, usaram um teste anticorpos. E, como sabem, quando se faz um destes testes numa clínca dizem que existe um período de três meses de espera desde a última exposição para saber se temos VIH. Mas eles não esperaram esses três meses e a maioria ou metade dos benefícios ocorreram nesse tempo, pelo que aquelas infeções são anteriores ao estudo, anteriores ao ensaio e aleatorização. Também haviam muitos problemas de controlos, incluindo o contato com sangue e o coito anal recetivo. Também me preocupa que os autores do estudo comparem a circuncisão a uma vacina eficaz. O que dizem é que, se os resultados são precisos, o que eu duvido, reduz a possibilidade de contrair VIH, cada vez que praticamos sexo, em 60 por cento. Se praticarmos sexo desprotegido com frequência, também acabaremos por contrair VIH. Pensemos na vacina contra o sarampo. Com as doses de reforço, 99 por cento das pessoas fica imune. Provavelmente é o vosso caso. Isto é o exemplo de uma vacina eficaz. 99 por ciento de imunidade permanente. Não é como 60 por cento menos probabilidade de sermos infetados em cada exposição. Há seres humanos que acreditam que são imunes ao VIH porque foram circuncidados dos países africanos. E isso é algo que me preocupa bastante. Para recapitular, julgo que socialmente temos tendência para a mutilação infantil, sobretudo em relação aos rapazes. Acredito que é muito prejudicial para as crianças, bem como para os sobreviventes, para os pais, que querem o melhor para os filhos, e para os médicos, porque julgo que eles estudam para ajudar as pessoas, e aprendem este procedimento de uma forma descontextualizada. Muitos pensam que não é da sua responsabilidade fazer alguma coisa, incluindo organizaçõs profisionais como a Academia Americana de Pediatria, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas, e também os médicos, porque têm que transmitir uma boa imagem. Se dissermos que os médicos fazem algo mal, estamos a dar-les má imagem. Os administradores do hospital e os médicos não querem destaque negativo. Os obstetras não pensam na criança que operam como paciente. O comité de ética do hospital disse que não são as pessoas indicadas para tratar deste tema. Penso que todas estas organizações estão a negligenciar pais, filhos e a todos. Espero que vos tenha motivado e que partilhem esta informação, porque, se eles não assumem responsabilidades, espero que nós o façamos. Contem aos vossos amigos. Vou deixar o link desta aprentação para o vosso professor.