Uma economia de macacos tão irracional como a nossa
-
0:02 - 0:05Vou começar a minha palestra
com duas observações -
0:05 - 0:07sobre a espécie humana.
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0:07 - 0:10Podem pensar que a primeira observação
é bastante óbvia, -
0:10 - 0:12e é que a nossa espécie, o Homo sapiens,
-
0:12 - 0:14é, na verdade, muito, muito inteligente
-
0:14 - 0:16— ou seja, ridiculamente inteligente —
-
0:16 - 0:18do género, todos nós fazemos coisas
-
0:18 - 0:20que nenhuma outra espécie
no planeta consegue fazer. -
0:20 - 0:23Claro que esta não é a primeira vez
-
0:23 - 0:25que, provavelmente, se apercebem disto.
-
0:25 - 0:28Para além de sermos inteligentes,
também somos extremamente convencidos. -
0:28 - 0:31Gostamos de assinalar
que somos inteligentes. -
0:31 - 0:34Eu poderia recorrer a qualquer sábio,
de Shakespeare a Stephen Colbert, -
0:34 - 0:36para assinalar o facto de sermos
-
0:36 - 0:38nobres em raciocínio
e infinitos em faculdades -
0:38 - 0:41e muito mais fantásticos
do que tudo no planeta, -
0:41 - 0:43no que toca a tudo o que seja cerebral.
-
0:43 - 0:46Mas, claro, há uma segunda observação
sobre a espécie humana -
0:46 - 0:48que quero realçar um pouco mais.
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0:48 - 0:52É que, embora sejamos muito inteligentes,
por vezes, os únicos inteligentes, -
0:52 - 0:55também podemos ser incrivelmente burros
-
0:55 - 0:58no que toca a alguns aspetos
da tomada de decisões. -
0:58 - 1:00Estou a ver muitos sorrisos
desconfortáveis por aí. -
1:00 - 1:03Não se preocupem, não vou apontar
ninguém em particular -
1:03 - 1:05nem quaisquer aspetos dos nossos erros.
-
1:05 - 1:07Mas, nos últimos dois anos,
-
1:07 - 1:10temos visto exemplos sem precedente
da inépcia humana. -
1:10 - 1:12Temos visto como os instrumentos
que só nós construímos -
1:12 - 1:15para extrair os recursos
do nosso meio ambiente, -
1:15 - 1:16explodem à nossa frente.
-
1:16 - 1:19Temos observado
como os mercados financeiros -
1:19 - 1:21— mercados supostamente
à prova de falhas — -
1:21 - 1:23se desmoronam diante dos nossos olhos.
-
1:23 - 1:26Mas acho que estes
dois exemplos embaraçosos, -
1:26 - 1:29não realçam o que eu acho
que é mais vergonhoso -
1:29 - 1:31nos erros que os seres humanos fazem,
-
1:31 - 1:33ou seja, gostarmos de pensar
que os erros que fazemos -
1:33 - 1:36são o resultado de indivíduos ineptos
-
1:36 - 1:39ou de decisões tão más
que merecem ser incluídas no blogue FAIL. -
1:39 - 1:41Ao que parece, os cientistas sociais
estão a descobrir -
1:41 - 1:45que a maior parte de nós,
quando colocados em certos contextos, -
1:45 - 1:47fazemos erros muito específicos.
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1:47 - 1:49Os erros que fazemos são previsíveis.
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1:49 - 1:51Fazemo-los vezes sem conta.
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1:51 - 1:54São imunes a demonstrações e provas.
-
1:54 - 1:56Mesmo após recebermos uma reação negativa,
-
1:56 - 1:58quando voltamos a encontrar-nos
num certo contexto, -
1:58 - 2:00temos a tendência para fazer
os mesmos erros. -
2:00 - 2:03Isto, para mim,
é um enigma muito interessante, -
2:03 - 2:04enquanto estudiosa da natureza humana.
-
2:04 - 2:06O que me deixa mais curiosa é,
-
2:06 - 2:09como é que uma espécie
tão inteligente como nós, -
2:09 - 2:11é capaz de erros
-
2:11 - 2:13tão maus e tão consistentes, o tempo todo?
-
2:13 - 2:17Somos a coisa mais inteligente que há,
porque é que não conseguimos resolver isto? -
2:17 - 2:19De onde é que vêm os nosso erros?
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2:19 - 2:22Como tenho pensado nisto há algum tempo,
vejo duas possibilidades. -
2:22 - 2:25Uma possibilidade é que,
de certa forma, a culpa não é nossa. -
2:25 - 2:27Como somos uma espécie inteligente,
-
2:27 - 2:29podemos criar todos os tipos de ambientes
-
2:29 - 2:31que são muito complicados,
-
2:31 - 2:34por vezes, demasiado complicados
para podermos entendê-los, -
2:34 - 2:36embora os tenhamos criado.
-
2:36 - 2:38Criamos mercados financeiros
muito complexos. -
2:38 - 2:41Criamos cláusulas hipotecárias
que não conseguimos gerir. -
2:41 - 2:44Se nos encontramos em ambientes
que não conseguimos gerir, -
2:44 - 2:48faz sentido que acabemos
por fazer asneira. -
2:48 - 2:50Se isto fosse a verdade,
teríamos uma solução simples -
2:50 - 2:52para o problema dos erros humanos.
-
2:52 - 2:54Diríamos: "OK, vamos perceber
-
2:54 - 2:56"que tipo de tecnologias
não conseguimos entender, -
2:56 - 2:58"que tipos de ambientes são maus".
-
2:58 - 3:00Livrávamo-nos deles,
construíamos melhor as coisas, -
3:00 - 3:03e seríamos a espécie nobre
que esperamos ser. -
3:04 - 3:07Mas há uma outra possibilidade
que eu acho mais preocupante: -
3:07 - 3:10talvez não sejam os nossos ambientes
que sejam maus. -
3:10 - 3:13Talvez sejamos nós
que fomos mal construídos. -
3:13 - 3:15Esta é uma sugestão que me surgiu
-
3:15 - 3:19ao observar o que os cientistas sociais
têm aprendido sobre os erros humanos. -
3:19 - 3:21Observamos que as pessoas
continuam a fazer erros -
3:21 - 3:24exatamente da mesma forma,
vezes sem conta. -
3:24 - 3:26Parece que talvez
tenhamos sido construídos -
3:26 - 3:28para fazer erros de determinada forma.
-
3:28 - 3:31Esta é uma possibilidade
que me preocupa mais -
3:31 - 3:33porque, se somos nós
que somos disfuncionais, -
3:33 - 3:36não é óbvio como lidar com isso.
-
3:36 - 3:39Talvez tenhamos de aceitar
o facto de sermos propensos a errar -
3:39 - 3:41e tentar construir as coisas
em volta disso. -
3:41 - 3:43É a esta questão que queremos responder.
-
3:43 - 3:46Como descobrir a diferença
entre estas duas possibilidades? -
3:46 - 3:48Precisamos de uma população inteligente,
-
3:48 - 3:50que possa tomar muitas decisões,
-
3:50 - 3:53mas que não tenha acesso
aos sistemas que nós temos, -
3:53 - 3:55às coisas que talvez nos confundam,
-
3:55 - 3:57sem tecnologia humana,
sem cultura humana, -
3:57 - 3:58sem linguagem humana.
-
3:58 - 4:00Por isso, recorremos a estes tipos aqui.
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4:00 - 4:03Este é um dos indivíduos com que trabalho.
É um macaco-prego. -
4:03 - 4:05São macacos do Novo Mundo,
-
4:05 - 4:07o que significa que se separaram
do ramo humano, -
4:07 - 4:09há cerca de 35 milhões de anos.
-
4:09 - 4:11Ou seja, os nossos antepassados,
-
4:11 - 4:13há cerca de cinco milhões de gerações,
-
4:13 - 4:15foram provavelmente os mesmos antepassados
-
4:15 - 4:17cinco milhões de gerações pelo meio,
-
4:17 - 4:19que os antepassados
da Holly na foto. -
4:19 - 4:22Podem ficar tranquilos,
este indivíduo é muito afastado, -
4:22 - 4:24mas, evolutivamente, é um parente.
-
4:24 - 4:26Felizmente, a Holly
-
4:26 - 4:29não tem as mesmas tecnologias
que nós temos. -
4:29 - 4:32É uma criatura inteligente e esperta,
também é primata, -
4:32 - 4:34mas sem todas as coisas
que achamos que nos confundem. -
4:34 - 4:36Portanto, é perfeita para experiência.
-
4:36 - 4:39Que acontecerá se pusermos a Holly
no mesmo contexto que os humanos? -
4:39 - 4:41Fará os mesmos erros que nós?
-
4:41 - 4:43Será que ela aprende com esses erros?
-
4:43 - 4:45Foram estas coisas que decidimos fazer.
-
4:45 - 4:47Ficámos entusiasmados
com isto há uns anos. -
4:47 - 4:50Dissemos: "Vamos pôr
alguns problemas à Holly -
4:50 - 4:51"para ver se ela faz erros".
-
4:51 - 4:53O primeiro problema é:
por onde começar? -
4:53 - 4:56Porque, para nós, é ótimo,
mas é mau para as pessoas. -
4:56 - 4:58Nós fazemos muitos erros
em diversos contextos. -
4:58 - 5:00Por onde é que devíamos começar?
-
5:00 - 5:03Como começámos este projeto
por altura do colapso financeiro, -
5:03 - 5:06na altura em que se começou
a falar nas hipotecas falidas -
5:06 - 5:08pensámos que talvez devêssemos
-
5:08 - 5:10começar pelo domínio financeiro.
-
5:10 - 5:12Talvez devêssemos estudar
as decisões económicas dos macacos -
5:12 - 5:15e ver se eles fazem as coisas estúpidas
que nós fazemos. -
5:15 - 5:18Foi nessa altura que surgiu
um segundo problema -
5:18 - 5:19— um pouco mais metodológico —
-
5:19 - 5:22que é, não sei se sabem,
que os macacos não usam dinheiro. -
5:22 - 5:24Eu sei que não os conhecem.
-
5:24 - 5:27Mas é por isso que não os encontramos
na fila atrás de nós -
5:27 - 5:29na mercearia ou no multibanco.
-
5:29 - 5:32Assim, deparámo-nos com um problema.
-
5:32 - 5:34Como é que vamos falar
aos macacos sobre dinheiro -
5:34 - 5:36se eles não o utilizam?
-
5:36 - 5:40Talvez devêssemos ensinar
os macacos a usar dinheiro. -
5:40 - 5:42Foi isso mesmo que fizemos.
-
5:42 - 5:45Estão a ver aqui a primeira unidade,
tanto quanto sei, -
5:45 - 5:47de dinheiro não humano.
-
5:47 - 5:49Não fomos muito criativos
-
5:49 - 5:51por isso chamámos-lhe apenas "moeda".
-
5:51 - 5:54Mas esta é a unidade monetária
que ensinámos aos macacos, em Yale, -
5:54 - 5:56para usar com os seres humanos,
-
5:56 - 5:59para comprar diversas peças de comida.
-
5:59 - 6:01Não parece grande coisa.
-
6:01 - 6:03Tal como o nosso dinheiro,
é apenas uma peça de metal. -
6:03 - 6:06Como sabemos, o dinheiro das viagens,
-
6:06 - 6:08quando voltamos para casa, é inútil.
-
6:08 - 6:10No início, era inútil para os macacos,
-
6:10 - 6:12antes de eles perceberem a sua utilidade.
-
6:12 - 6:14Quando inicialmente lhes demos as moedas,
-
6:14 - 6:16eles pegaram nelas, olharam para elas.
-
6:16 - 6:18Eram coisas esquisitas.
-
6:18 - 6:20Mas rapidamente, os macacos perceberam
-
6:20 - 6:22que podiam dar estas moedas
-
6:22 - 6:25a diversos seres humanos no laboratório,
em troca de comida. -
6:25 - 6:27Vemos aqui a Mayday, a fazer isso.
-
6:27 - 6:30Em A e B vemos a fase em que ela está
-
6:30 - 6:32um pouco curiosa acerca destas coisas.
-
6:32 - 6:34Está ali uma mão humana, à espera,
-
6:34 - 6:37e a Mayday rapidamente percebe
que o ser humano quer aquilo. -
6:37 - 6:39Entrega-o e recebe comida.
-
6:39 - 6:40Mas não é só a Mayday.
-
6:40 - 6:42Todos os macacos tornam-se excelentes
-
6:42 - 6:44a negociar com os vendedores humanos.
-
6:44 - 6:46Este é um pequeno vídeo do que acontece.
-
6:46 - 6:48Cá está a Mayday que vai trocar
uma moeda por comida, -
6:48 - 6:51espera contente e recebe a comida.
-
6:51 - 6:54Aqui está o Felix.
É o nosso macho alfa, um tipo grande. -
6:54 - 6:56Mas também espera pacientemente,
recebe a comida e segue. -
6:56 - 6:58Os macacos tornam-se muito bons nisto.
-
6:58 - 7:01São surpreendentemente bons nisto,
com muito pouco treino. -
7:01 - 7:03Eles descobriram isto sozinhos.
-
7:03 - 7:05Mas será que isto é parecido
com dinheiro humano? -
7:05 - 7:07Será isto um mercado?
-
7:07 - 7:09Ou será que fizemos um truque psicológico
-
7:09 - 7:11ao conseguir pôr macacos a fazer uma coisa
-
7:11 - 7:13que parece inteligente, mas não o é?
-
7:13 - 7:16Então pensámos no que fariam
os macacos, espontaneamente, -
7:16 - 7:19se esta fosse a sua moeda, se estivessem
a usar isto como dinheiro real? -
7:19 - 7:23Podemos imaginá-los a fazer
todo o tipo de coisas inteligentes -
7:23 - 7:26que as pessoas fazem quando começam
a trocar dinheiro uns com os outros. -
7:26 - 7:29Talvez comecem a prestar atenção a preços,
-
7:29 - 7:31a prestar atenção a quanto compram,
-
7:31 - 7:34a prestar atenção a quantas moedas têm.
-
7:34 - 7:36Os macacos farão essas coisas?
-
7:36 - 7:39Foi assim que nasceu
o nosso mercado para macacos. -
7:39 - 7:41Funciona da seguinte forma:
-
7:41 - 7:44os nossos macacos vivem num grande recinto
como num jardim zoológico. -
7:44 - 7:46Quando sentem vontade de guloseimas,
-
7:46 - 7:48permitimos que entrem
num recinto mais pequeno -
7:48 - 7:50onde podem entrar no mercado.
-
7:50 - 7:52Quando entram no mercado
-
7:52 - 7:55— é um mercado muito mais divertido
do que os mercados humanos -
7:55 - 7:57porque quando os macacos
entram no mercado, -
7:57 - 7:59recebem uma carteira grande
cheia de moedas -
7:59 - 8:01para poderem trocar as moedas
-
8:01 - 8:03com um destes dois tipos aqui.
-
8:03 - 8:05Encontram dois vendedores humanos
-
8:05 - 8:07a quem podem comprar coisas.
-
8:07 - 8:09Os vendedores eram estudantes
do meu laboratório. -
8:09 - 8:12Vestiam-se de forma diferente,
eram pessoas diferentes. -
8:12 - 8:14Faziam sempre a mesma coisa
-
8:14 - 8:16para os macacos poderem aprender,
-
8:16 - 8:19quem vendia o quê e a que preço,
quem era fiável, quem não era. -
8:19 - 8:22Podem ver que cada um dos investigadores
-
8:22 - 8:24segura num pequeno prato amarelo
-
8:24 - 8:26que é o que o macaco
pode obter por uma moeda. -
8:26 - 8:28Tudo custa uma moeda,
-
8:28 - 8:31mas, como podem ver, às vezes
as moedas podem comprar -
8:31 - 8:32mais uvas que outras vezes.
-
8:32 - 8:35Vou mostrar-vos um vídeo
sobre como funciona este mercado. -
8:35 - 8:38Isto é visto da altura de um macaco.
-
8:38 - 8:40Cá está a Honey.
-
8:40 - 8:42Está à espera, impaciente,
que o mercado abra. -
8:42 - 8:45De repente, o mercado abre.
Esta é a escolha: uma ou duas uvas. -
8:45 - 8:47Vemos que a Honey
é boa economista de mercado, -
8:47 - 8:50vai ter com o vendedor que lhe dá mais.
-
8:50 - 8:53Podia ensinar umas coisas
aos assessores financeiros. -
8:53 - 8:54Mas não é só a Honey,
-
8:54 - 8:57a maioria dos macacos preferia
o vendedor que dava mais, -
8:57 - 8:59preferia os vendedores
com comida melhor. -
8:59 - 9:02Quando fizemos saldos,
os macacos prestaram atenção a isso. -
9:02 - 9:05Eles cuidavam do seu dinheiro de macaco.
-
9:05 - 9:08O mais surpreendente foi que,
quando colaborámos com economistas -
9:08 - 9:12para analisar os resultados dos macacos
a utilizarem ferramentas económicas, -
9:12 - 9:14eles correspondiam,
não só qualitativamente -
9:14 - 9:16mas também quantitativamente
ao que observámos -
9:16 - 9:18nos seres humanos, num mercado real.
-
9:18 - 9:20De tal forma que não se percebia
-
9:20 - 9:23se provinham de um macaco
ou de uma pessoa. -
9:23 - 9:25Pensámos que tínhamos feito
-
9:25 - 9:27como que introduzir uma coisa
-
9:27 - 9:29que, pelo menos
para os macacos e para nós, -
9:29 - 9:31funciona como um mercado financeiro real.
-
9:31 - 9:34Será que os macacos começam
a errar da mesma forma que nós? -
9:34 - 9:37Já vimos alguns sinais
de que provavelmente sim. -
9:37 - 9:39Uma coisa que nunca vimos
no mercado de macacos -
9:39 - 9:41foi qualquer indício de poupança,
-
9:41 - 9:43tal como na nossa espécie.
-
9:43 - 9:46Os macacos entram no mercado,
gastam todo o seu orçamento -
9:46 - 9:47e depois voltam para a colónia.
-
9:47 - 9:50Outra coisa que também observámos
espontaneamente, -
9:50 - 9:53vergonhosamente, foram indícios de roubo.
-
9:53 - 9:56Os macacos surripiavam as moedas
uns aos outros, -
9:56 - 9:58em qualquer oportunidade,
-
9:58 - 10:00coisas que não pensámos introduzir,
-
10:00 - 10:02mas coisas que surgiram espontaneamente.
-
10:02 - 10:04Pensámos que aquilo era mau.
-
10:04 - 10:07Será que os macacos fazem exatamente
-
10:07 - 10:09as mesmas coisas estúpidas
que as pessoas fazem? -
10:09 - 10:11Uma possibilidade seria deixar
-
10:11 - 10:13que o sistema financeiro
dos macacos se desenvolva, -
10:13 - 10:15e ver se eles nos pedem
ajudas financeiras. -
10:15 - 10:19Mas somos impacientes e quisemos
apressar um pouco as coisas. -
10:19 - 10:21Por isso, decidimos dar aos macacos
-
10:21 - 10:23o mesmo tipo de problemas
-
10:23 - 10:25em que as pessoas
têm tendência para errar, -
10:25 - 10:27nalguns tipos de desafios económicos,
-
10:27 - 10:29ou em certas experiências económicas.
-
10:29 - 10:32Como a melhor forma de ver
como as pessoas erram, -
10:32 - 10:34é fazermos nós próprios o mesmo erro,
-
10:34 - 10:36vou apresentar-vos uma pequena experiência
-
10:36 - 10:39para ver as vossas intuições
financeiras em ação. -
10:39 - 10:40Imaginem que, neste momento,
-
10:40 - 10:42dou a cada um de vocês mil dólares
-
10:42 - 10:45— dez notas novinhas de cem dólares.
-
10:45 - 10:47Guardem essas notas na carteira
-
10:47 - 10:49e imaginem por momentos
o que vão fazer com elas. -
10:49 - 10:53Como é vosso, podem comprar
o que quiserem, doá-lo, gastá-lo, etc. -
10:53 - 10:56Parece excelente, mas há uma oportunidade
de ganhar mais algum dinheiro. -
10:56 - 10:59E esta é a vossa escolha: podem arriscar.
-
10:59 - 11:01Nesse caso, vou lançar ao ar
esta moeda de macaco. -
11:01 - 11:04Se sair cara, ganham mais mil dólares,
-
11:04 - 11:05se sair coroa, não ganham nada.
-
11:05 - 11:08É uma possibilidade de ganhar mais,
mas é bastante arriscada. -
11:08 - 11:11A outra opção é mais segura.
Recebem mais dinheiro, de certeza. -
11:11 - 11:13Vou-vos dar simplesmente 500 dólares.
-
11:13 - 11:16Podem enfiá-los na carteira
e usá-los imediatamente. -
11:16 - 11:18Pensem um pouco qual é
aqui a vossa intuição. -
11:18 - 11:21A maior parte das pessoas
opta pela opção segura, pensando: -
11:21 - 11:24"Porquê arriscar, se posso obter
1500 dólares de certeza? -
11:24 - 11:26"Parece uma boa aposta.
Vou optar por essa." -
11:26 - 11:28Podem dizer: "Isso é racional.
-
11:28 - 11:30"As pessoas não gostam de arriscar.
E depois?" -
11:30 - 11:33O problema é quando começamos a pensar
-
11:33 - 11:36no mesmo problema explicado
de uma forma um pouco diferente. -
11:36 - 11:39Imaginem que eu dou a cada um 2000 dólares
-
11:39 - 11:41— 20 notas novinhas de 100 dólares.
-
11:41 - 11:43Podem comprar o dobro
do que podiam comprar antes. -
11:43 - 11:46Pensem no que sentiriam
com esse dinheiro na carteira. -
11:46 - 11:49Mas imaginem uma outra opção
que é um pouco pior. -
11:49 - 11:52Vão ter que decidir
como preferem perder dinheiro, -
11:52 - 11:54vão ter de escolher
entre as mesmas opções. -
11:54 - 11:57Podem escolher arriscar uma perda maior,
eu lanço a moeda ao ar. -
11:57 - 11:59Se calhar cara, vão perder bastante,
-
11:59 - 12:02se calhar coroa, não perdem nada,
podem guardar tudo. -
12:02 - 12:05Ou podem jogar pelo seguro, ou seja,
têm que ir à vossa carteira -
12:05 - 12:08e dar-me cinco dessas notas
de 100 dólares. -
12:08 - 12:11Estou a ver por aí
muito sobrolho franzido. -
12:11 - 12:13Por isso, talvez tenham a mesma intuição
-
12:13 - 12:15que os indivíduos que foram testados,
-
12:15 - 12:17quando lhes apresentam estas opções.
-
12:17 - 12:19As pessoas não escolhem jogar pelo seguro,
-
12:19 - 12:21têm tendência para arriscar um pouco.
-
12:21 - 12:24Isto é irracional porque demos às pessoas
a mesma escolha -
12:24 - 12:26em ambas as situações,
-
12:26 - 12:29É uma probabilidade de 50%
de obter 1000 ou 2000. -
12:29 - 12:31ou apenas 1500 dólares pelo seguro.
-
12:31 - 12:34Mas as intuições das pessoas
sobre o risco a tomar -
12:34 - 12:36depende da quantia com que começaram.
-
12:36 - 12:38Então, o que é que se passa aqui?
-
12:38 - 12:41Parece que é o resultado de,
pelo menos, duas tendências -
12:41 - 12:43que temos a nível psicológico.
-
12:43 - 12:46Uma é que temos dificuldade
em pensar em termos absolutos. -
12:46 - 12:49Temos que trabalhar bastante para perceber
-
12:49 - 12:51que uma opção é 1000 ou 2000
-
12:51 - 12:52e a outra opção é 1500.
-
12:52 - 12:55Pelo contrário, achamos muito fácil
pensar em termos relativos -
12:55 - 12:58à medida que as opções se alteram
de uma para a outra. -
12:58 - 13:01Aí pensamos em termos de "vou receber mais"
ou "vou receber menos". -
13:01 - 13:03Isto está tudo muito bem,
-
13:03 - 13:05exceto que as mudanças
em direções diferentes -
13:05 - 13:07afetam o nosso pensamento
-
13:07 - 13:10quanto as nossas opções serem boas ou não.
-
13:10 - 13:11Isso leva à segunda tendência,
-
13:11 - 13:13a que os economistas
chamam "aversão à perda". -
13:13 - 13:16A ideia é que nós detestamos
que o nosso saldo seja negativo. -
13:16 - 13:18Detestamos termos
de perder algum dinheiro. -
13:18 - 13:20Isto significa que, às vezes,
-
13:20 - 13:22mudamos as nossas preferências
para evitar isso. -
13:22 - 13:24Observámos no segundo cenário
-
13:24 - 13:26que os sujeitos arriscam mais
-
13:26 - 13:29porque querem aquela pequena hipótese
de não perderem nada. -
13:29 - 13:33Ou seja, quando estamos
numa mentalidade de perda -
13:33 - 13:35temos maior propensão para o risco,
-
13:35 - 13:37o que pode ser muito preocupante.
-
13:37 - 13:40Estas coisas desenvolvem-se
negativamente nas pessoas. -
13:40 - 13:43Assim, os investidores da bolsa
conservam ações em queda por mais tempo, -
13:43 - 13:45porque avaliam-nas em termos relativos.
-
13:45 - 13:48Por isso, as pessoas recusam-se
a vender a casa, -
13:48 - 13:50porque não querem perder dinheiro.
-
13:50 - 13:53Estávamos interessados em saber
se os macacos tinham as mesmas tendências. -
13:53 - 13:56Se criássemos os mesmos cenários
no mercado de macacos, -
13:56 - 13:58fariam eles as mesmas coisas
que as pessoas? -
13:58 - 14:00Assim, demos aos macacos opções
-
14:00 - 14:03entre vendedores que eram seguros
— faziam sempre a mesma coisa — -
14:03 - 14:05ou vendedores que eram incertos
-
14:05 - 14:08— metade das vezes faziam
as coisas de maneira diferente. -
14:08 - 14:09Demos-lhe opções de bónus
-
14:09 - 14:11— como vocês fizeram no primeiro cenário —
-
14:11 - 14:13assim tinham oportunidade
de ganhar mais, -
14:13 - 14:15ou opções em que eles sofriam perdas
-
14:15 - 14:18— pensavam que iam receber mais
do que realmente recebiam. -
14:18 - 14:20O que aconteceu foi isto.
-
14:20 - 14:22Apresentámos aos macacos
dois novos vendedores. -
14:22 - 14:24Ambos os vendedores começam com uma uva,
-
14:24 - 14:26por isso parece bastante bom.
-
14:26 - 14:28Mas vão dar aos macacos um bónus.
-
14:28 - 14:30O vendedor da esquerda dá um bónus seguro.
-
14:30 - 14:33Adiciona sempre uma uva
e dá ao macaco as duas. -
14:33 - 14:35O vendedor da direita
dá um bónus de risco. -
14:35 - 14:38Às vezes os macacos não recebem bónus
— é um bónus zero. -
14:38 - 14:41Outras vezes, os macacos
recebem duas uvas extra. -
14:41 - 14:43É um bónus grande, recebem três uvas.
-
14:43 - 14:45É a mesma escolha que vocês enfrentaram.
-
14:45 - 14:48Será que os macacos jogam pelo seguro
-
14:48 - 14:51e compram ao vendedor
que dá sempre um bonus igual? -
14:51 - 14:52Ou quererão arriscar
-
14:52 - 14:54e tentar obter um bónus
incerto mas grande, -
14:54 - 14:57mesmo com a possibilidade
de não obter bónus nenhum? -
14:57 - 14:59As pessoas aqui jogaram pelo seguro.
-
14:59 - 15:01Os macacos também jogaram pelo seguro.
-
15:01 - 15:02Qualitativa e quantitativamente,
-
15:02 - 15:05escolhem exatamente
da mesma forma que as pessoas, -
15:05 - 15:07quando testadas na mesma coisa.
-
15:07 - 15:09Podem dizer:
"Talvez os macacos não gostem do risco. -
15:09 - 15:11"Como é que lidam com perdas?".
-
15:11 - 15:13Então, implementámos
a segunda versão. -
15:13 - 15:16Agora, os macacos encontram
dois vendedores que não lhes dão bónus, -
15:16 - 15:18dão-lhes menos do que esperam.
-
15:18 - 15:21Começam com uma quantidade grande,
com três uvas. -
15:21 - 15:22Os macacos ficam entusiasmados.
-
15:22 - 15:25Mas aprendem que os vendedores
lhes vão dar menos que o esperado. -
15:25 - 15:28O vendedor da esquerda é uma perda segura.
-
15:28 - 15:32Retira sempre uma uva
e dá ao macaco apenas duas uvas. -
15:32 - 15:34O vendedor da direita
é uma perda arriscada. -
15:34 - 15:37Umas vezes não há perda nenhuma,
e os macacos ficam todos contentes, -
15:37 - 15:39mas às vezes ele provoca uma grande perda,
-
15:39 - 15:41retirando duas, dando ao macaco
apenas uma uva. -
15:41 - 15:43O que é que os macacos fazem?
-
15:43 - 15:45De novo, a mesma escolha.
-
15:45 - 15:48Podem jogar pelo seguro e receber sempre
duas uvas de cada vez, -
15:48 - 15:51ou podem escolher a aposta arriscada
e obter uma uva ou três. -
15:51 - 15:54O extraordinária é que,
quando damos esta escolha aos macacos, -
15:54 - 15:57eles fazem a escolha irracional
que as pessoas fazem. -
15:57 - 15:59Têm maior propensão para arriscar,
-
15:59 - 16:01dependendo da forma
como os investigadores começaram. -
16:01 - 16:04Isto é de loucos porque sugere
que os macacos -
16:04 - 16:06também estão a avaliar as coisas
de forma relativa -
16:06 - 16:09e consideram as perdas
de forma diferente dos ganhos. -
16:09 - 16:11O que significa isto tudo?
-
16:11 - 16:12Primeiro, o que demonstrámos
-
16:12 - 16:15é que podemos dar aos macacos
um sistema financeiro, -
16:15 - 16:17e eles fazem coisas
muito semelhantes com ele. -
16:17 - 16:19Fazem as coisas inteligentes
que nós fazemos, -
16:19 - 16:22algumas das coisas menos agradáveis
que nós fazemos, como roubar. -
16:22 - 16:25Mas também fazem coisas irracionais
que nós fazemos. -
16:25 - 16:27Sistematicamente fazem os mesmos erros
-
16:27 - 16:28da mesma forma que nós os fazemos.
-
16:28 - 16:31Esta é a primeira mensagem desta palestra.
-
16:31 - 16:32Se no início disto pensaram:
-
16:32 - 16:35"Vou contratar um macaco-prego
para meu assessor financeiro. -
16:35 - 16:37"Eles são muito mais giros..."
-
16:37 - 16:38não façam isso.
-
16:38 - 16:41Provavelmente, eles vão ser tão burros
como a pessoa que têm agora. -
16:41 - 16:43Ou seja, bastante mau
— peço imensa desculpa — -
16:43 - 16:45bastante mau para os investidores macacos.
-
16:45 - 16:49Obviamente, vocês riem-se
porque também é mau para as pessoas. -
16:49 - 16:51Porque respondemos à questão
com que começámos. -
16:51 - 16:53Queríamos saber de onde vêm
este tipo de erros. -
16:53 - 16:55Começámos com a esperança
-
16:55 - 16:58de podermos ajustar
as nossas instituições financeiras, -
16:58 - 17:00ajustar as nossas tecnologias
para nos melhorarmos. -
17:00 - 17:03Mas aprendemos que estas tendências
podem ser mais profundas que isso. -
17:03 - 17:06De facto, podem ser devidas
à própria natureza -
17:06 - 17:07da nossa história evolutiva.
-
17:07 - 17:09Talvez não sejam só os seres humanos,
-
17:09 - 17:11deste lado da cadeia de ignorância.
-
17:11 - 17:13Talvez a cadeia seja ignorante
desde o princípio. -
17:13 - 17:16Se acreditarmos nos resultados
dos macacos-prego, -
17:16 - 17:18isso significa
que estas estratégias ignorantes -
17:18 - 17:20poderão ter pelo menos 35 milhões de anos.
-
17:20 - 17:23Isso é muito tempo
para que uma estratégia muito velha -
17:23 - 17:25seja potencialmente alterada.
-
17:25 - 17:27O que é que sabemos sobre
outras estratégias como esta? -
17:27 - 17:31Uma coisa que sabemos é que elas são
bastante difíceis de superar. -
17:31 - 17:33Por exemplo, pensem
na nossa predileção evolutiva -
17:33 - 17:36por comer coisas doces ou cheias
de gordura como "cheesecake". -
17:36 - 17:37Não conseguimos mudar.
-
17:37 - 17:41Não conseguimos olhar e dizer:
"Não, não. Isso parece-me nojento." -
17:41 - 17:44Vamos sempre olhar para elas
como uma coisa que tentamos obter. -
17:44 - 17:46Suponho que o mesmo será verdade
-
17:46 - 17:49quando os seres humanos avaliam
diferentes decisões financeiras. -
17:49 - 17:52Quando vemos as nossas ações
caírem para o negativo, -
17:52 - 17:54quando vemos o preço da casa a descer,
-
17:54 - 17:56não vamos conseguir ver isso
-
17:56 - 17:58senão sob a forma evolutiva.
-
17:58 - 18:02Isto significa que as tendências
que levaram os investidores a perdas, -
18:02 - 18:04que levaram à crise hipotecária,
-
18:04 - 18:06muito dificilmente vão ser superadas.
-
18:06 - 18:09Tudo isto são más notícias.
Haverá notícias boas? -
18:09 - 18:11Eu estou aqui para vos dar boas notícias.
-
18:11 - 18:14Penso que as boas notícias são
aquilo com que comecei a palestra, -
18:14 - 18:17ou seja, que os seres humanos
não só são inteligentes, -
18:17 - 18:19como são mesmo
inspiradoramente inteligentes -
18:19 - 18:21em relação ao resto dos animais
do reino biológico. -
18:21 - 18:24Somos tão bons a superar
as nossas limitações biológicas -
18:24 - 18:26— por exemplo, eu vim até aqui de avião,
-
18:26 - 18:28mas não tive sequer
que tentar bater as asas. -
18:28 - 18:31Estou a usar lentes de contacto
para poder ver-vos a todos. -
18:31 - 18:34Não tenho que depender da minha miopia.
-
18:34 - 18:36Temos todos estes exemplos
-
18:36 - 18:39em que superámos
as nossas limitações biológicas -
18:39 - 18:42através de tecnologia e outros meios,
de forma relativamente fácil. -
18:42 - 18:45Mas temos que reconhecer
que temos essas limitações. -
18:45 - 18:47E é este o problema.
-
18:47 - 18:49Camus disse: "O Homem é a única espécie
-
18:49 - 18:52"que se recusa a ser o que realmente é."
-
18:52 - 18:56Mas a ironia é que, só reconhecendo
as nossas limitações -
18:56 - 18:58poderemos realmente superá-las.
-
18:58 - 19:01A esperança é que todos pensemos
nas nossas limitações, -
19:01 - 19:04não necessariamente como insuperáveis,
-
19:04 - 19:06mas reconhecê-las, aceitá-las
-
19:06 - 19:09e depois usar o mundo do "design"
para as solucionar. -
19:09 - 19:13Essa poderá ser a única forma
pela qual seremos capazes de alcançar -
19:13 - 19:15o nosso verdadeiro potencial humano
-
19:15 - 19:17e ser a espécie nobre
que todos esperamos ser. -
19:17 - 19:19Obrigada.
-
19:19 - 19:22(Aplausos)
- Title:
- Uma economia de macacos tão irracional como a nossa
- Speaker:
- Laurie Santos
- Description:
-
Laurie Santos investiga as raízes da irracionalidade humana observando a forma como os nossos parentes primatas tomam decisões. Uma série de experiências inteligentes em "macaconomia" mostra que algumas das escolhas tolas que fazemos, são também feitas pelos macacos.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:25
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A monkey economy as irrational as ours | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A monkey economy as irrational as ours | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for A monkey economy as irrational as ours | ||
Inês Pereira added a translation |