A era da inovação aberta
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0:01 - 0:04Dentro do espírito
da criatividade colaborativa, -
0:04 - 0:06vou apenas repetir muitos dos pontos
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0:06 - 0:09já abordados pelos três oradores anteriores.
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0:09 - 0:11Mas mesmo assim vou fazê-lo.
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0:11 - 0:15A isto chama-se "colaboração criativa",
mas na realidade é "pedir emprestado" -
0:16 - 0:18mas utilizando uma perspetiva diferente,
-
0:19 - 0:22ou seja, questionar o papel
dos utilizadores e dos consumidores -
0:22 - 0:26neste mundo emergente
de criatividade colaborativa -
0:26 - 0:28de que falaram o Jimmy e os outros.
-
0:29 - 0:32Para começar, vou fazer
uma simples pergunta: -
0:32 - 0:35Quem inventou a bicicleta de montanha?
-
0:35 - 0:38A teoria económica tradicional
diria que a bicicleta de montanha -
0:38 - 0:41foi provavelmente inventada
por alguma grande empresa de bicicletas -
0:41 - 0:44num laboratório de pesquisa
e desenvolvimento -
0:44 - 0:45onde se imaginavam novos projetos.
-
0:45 - 0:47Podia ter sido lá inventada, mas não foi.
-
0:48 - 0:51Uma outra resposta seria ter sido
inventada por algum génio solitário -
0:51 - 0:54a trabalhar na garagem,
em diversos tipos de bicicletas -
0:54 - 0:56que inventou uma bicicleta
a partir do nada. -
0:56 - 0:58Mas não, não foi ele que a inventou.
-
0:58 - 1:02A bicicleta de montanha
foi inventada por jovens utilizadores, -
1:02 - 1:05mais precisamente por um grupo
do Norte da Califórnia, -
1:05 - 1:08frustrado com as bicicletas
de corrida tradicionais -
1:08 - 1:12iguais à bicicleta que Eddy Merck
ou o vosso irmão mais velho utilizavam. -
1:12 - 1:13E até são bastante encantadoras.
-
1:13 - 1:16Mas também estavam frustrados
com as bicicletas dos pais -
1:16 - 1:18que tinham guiadores grandes
e eram muito pesadas. -
1:18 - 1:21Assim, pegaram na armação
dessas grandes bicicletas, -
1:21 - 1:23colocaram-lhe as mudanças
das bicicletas de corrida -
1:23 - 1:26e os travões das motas.
-
1:27 - 1:29Misturaram e combinaram
diversos ingredientes. -
1:29 - 1:32E durante os primeiros
três a cinco anos de vida, -
1:32 - 1:35as bicicletas de montanha,
conhecidas por "clunkers", -
1:35 - 1:37eram feitas apenas
numa comunidade de ciclistas, -
1:37 - 1:39principalmente no Norte da Califórnia.
-
1:40 - 1:43Nessa altura, uma empresa que importava
peças para as "clunkers" -
1:43 - 1:46decidiu criar um negócio
e começou a vendê-las a outras pessoas. -
1:46 - 1:50A seguir apareceu
uma outra empresa, a Marin, -
1:50 - 1:54e passaram-se uns 10 ou 15 anos,
-
1:54 - 1:56até as grandes empresas perceberem
-
1:56 - 1:58que havia um mercado
para essas bicicletas. -
1:58 - 2:01Trinta anos depois, as vendas
de bicicletas de montanha -
2:01 - 2:03e do respetivo equipamento
-
2:03 - 2:06constituíam 65% das vendas
de bicicletas nos EUA, -
2:06 - 2:08ou seja, 58 mil milhões de dólares.
-
2:08 - 2:11É uma categoria totalmente
criada por consumidores -
2:11 - 2:14que não teria sido criada
pelo mercado normal de bicicletas -
2:14 - 2:18porque este não identificara
a necessidade e a oportunidade. -
2:18 - 2:21Não havia o incentivo para inovar.
-
2:21 - 2:25Acho que a única coisa em que discordo
da palestra de Yochai -
2:25 - 2:28é quando ele diz que a Internet dá vida
-
2:28 - 2:30a esta capacidade distributiva
para a inovação. -
2:31 - 2:33É quando a Internet se combina
-
2:33 - 2:37com esse tipo de consumidores
apaixonados semiprofissionais -
2:37 - 2:40— que têm conhecimentos,
que têm incentivos para inovar, -
2:40 - 2:42que têm as ferramentas, têm a vontade —
-
2:42 - 2:46que se obtém este tipo de explosão
de colaboração criativa. -
2:46 - 2:50A partir daí, criamos
a necessidade do tipo de coisas -
2:50 - 2:52de que Jimmy falou,
ou seja, novos tipos de organização -
2:52 - 2:54ou, melhor dizendo,
-
2:54 - 2:57como nos organizamos sem organizações?
-
2:57 - 2:59Isso agora é possível.
-
2:59 - 3:02Não precisamos de uma organização
para nos organizarmos -
3:02 - 3:04para concretizar tarefas
importantes e complexas, -
3:04 - 3:07como a criação
de novos programas de "software". -
3:07 - 3:09Portanto, isto é um desafio enorme
-
3:09 - 3:12para a forma como
concebemos a criatividade. -
3:13 - 3:16A perspetiva tradicional,
estreitamente ligada -
3:16 - 3:18à ideia que fazemos da criatividade
-
3:18 - 3:20— nas organizações, no governo —
-
3:20 - 3:23é que a criatividade
pertence a pessoas especiais, -
3:23 - 3:25com bonés de basebol,
virados ao contrário, -
3:25 - 3:28assistem a palestras como estas,
em locais especiais -
3:28 - 3:32— universidades de elite, laboratórios
de pesquisa em florestas, ou na água, -
3:32 - 3:36talvez em salas especiais de empresas,
pintadas de cores vistosas, -
3:36 - 3:40pufes, talvez aquela mesa esquisita
de futebol de mesa. -
3:40 - 3:43Pessoas especiais, locais especiais,
imaginando ideias especiais. -
3:43 - 3:46Depois temos um tubo condutor
que transmite as ideias -
3:46 - 3:49até aos consumidores,
que esperam passivamente. -
3:49 - 3:51Eles podem dizer "sim" ou "não"
à invenção. -
3:52 - 3:53É essa a ideia da criatividade.
-
3:53 - 3:55Qual é a política recomendada
-
3:55 - 3:59se estiverem no governo,
ou a dirigir uma grande empresa? -
3:59 - 4:02Mais pessoas especiais,
mais locais especiais. -
4:02 - 4:04Construir polos criativos nas cidades.
-
4:04 - 4:07Criar mais parques de pesquisa
e desenvolvimento, etc. etc. -
4:07 - 4:10Aumentar o tubo condutor
até aos consumidores. -
4:11 - 4:14Penso que esta perspetiva
é cada vez mais errada. -
4:14 - 4:15Penso que foi sempre errada,
-
4:15 - 4:19porque penso que a criatividade
foi sempre fortemente colaborativa. -
4:19 - 4:21Provavelmente é muito interativa.
-
4:21 - 4:24Mas está profundamente errada
e uma das razões para tal -
4:24 - 4:28é que as ideias fazem refluxo
no tubo condutor. -
4:28 - 4:30As ideias refluem dos consumidores
-
4:30 - 4:33que muitas vezes, estão mais avançados
do que os produtores. -
4:33 - 4:34Porque será?
-
4:37 - 4:40Um problema é que as inovações radicais,
-
4:40 - 4:41quando temos ideias
-
4:41 - 4:45que afetam um grande número
de tecnologias ou de pessoas, -
4:45 - 4:47têm uma grande parte de incerteza
que as acompanha. -
4:48 - 4:50Os retornos da inovação são tanto maiores
-
4:50 - 4:52quanto maior for a incerteza.
-
4:53 - 4:55Quando temos uma inovação radical,
-
4:55 - 4:57frequentemente a sua aplicação
é muito incerta. -
4:57 - 4:59Toda a história da telefonia
-
4:59 - 5:02é uma história de gerir essa incerteza.
-
5:03 - 5:05Os inventores dos primeiros telefones fixos
-
5:05 - 5:08pensavam que eles iriam ser usados
-
5:08 - 5:11para as pessoas ouvirem
transmissões ao vivo -
5:11 - 5:13dos teatros do West End.
-
5:14 - 5:16Quando as empresas de telemóveis
inventaram os SMS -
5:16 - 5:18não faziam ideia
de qual seria a sua utilização. -
5:18 - 5:20Foi só quando essa tecnologia
-
5:20 - 5:23chegou às mãos
dos utilizadores adolescentes -
5:23 - 5:25que eles inventaram essa utilização.
-
5:25 - 5:28Quanto mais radical for a inovação,
-
5:28 - 5:30quanto maior for a incerteza,
-
5:30 - 5:32tanto mais é preciso inovar na utilização
-
5:32 - 5:35para explorar uma tecnologia.
-
5:35 - 5:38Todas as nossas patentes,
toda a nossa abordagem -
5:38 - 5:40às patentes e às invenções,
baseiam-se na ideia -
5:40 - 5:43de que o inventor sabe
para que serve a invenção, -
5:43 - 5:46de que sabemos
para que é que ela serve. -
5:46 - 5:48Cada vez mais, os inventores das coisas
-
5:48 - 5:50não poderão dizer isso de antemão.
-
5:50 - 5:53Logo se verá, quando for usada.
-
5:53 - 5:54em colaboração com os utilizadores.
-
5:55 - 5:59Gostamos de pensar que a invenção
é uma espécie de momento de criação. -
5:59 - 6:02Há como que um nascimento
quando alguém aparece com uma ideia. -
6:03 - 6:05A verdade é que
a maior parte da criatividade -
6:05 - 6:07é cumulativa e colaborativa.
-
6:07 - 6:11Tal como a Wikipedia, evolui
ao longo de muito tempo. -
6:12 - 6:16A segunda razão por que os utilizadores
são cada vez mais importantes -
6:16 - 6:19é que eles são a fonte de grandes
inovações revolucionárias. -
6:19 - 6:23Se quiserem encontrar
as grandes ideias novas, -
6:23 - 6:26dificilmente as encontrarão
nos mercados tradicionais, -
6:26 - 6:28nas grandes organizações.
-
6:28 - 6:31Observem o que se passa
dentro das grandes organizações -
6:31 - 6:33e perceberão porque é assim.
-
6:34 - 6:36Imaginem estarem numa grande empresa.
-
6:36 - 6:39Obviamente, estão ansiosos
para subir na hierarquia. -
6:39 - 6:42Será que chegam ao diretor e dizem:
-
6:42 - 6:44"Oiça, tenho uma ideia fantástica
-
6:44 - 6:47"para um produto embrionário
num mercado marginal, -
6:47 - 6:50"com consumidores com
quem nunca trabalhámos. -
6:50 - 6:52"Não sei bem se vai funcionar,
-
6:52 - 6:54"mas talvez seja uma coisa
em grande no futuro"? -
6:54 - 6:56Não, não dizemos isso.
Dizemos: -
6:56 - 6:59"Tive uma ideia fantástica
para uma inovação adicional -
6:59 - 7:02"para um produto que já existe
que vendemos nos canais existentes -
7:02 - 7:05"a utilizadores existentes
e posso garantir -
7:05 - 7:08"que vamos ter este retorno
durante os próximos três anos". -
7:08 - 7:11As grandes empresas
têm uma tendência intrínseca -
7:11 - 7:13para reforçar os êxitos do passado.
-
7:13 - 7:15Investiram tanto neles
-
7:15 - 7:19que lhes é muito difícil reconhecer
novos mercados emergentes. -
7:19 - 7:22Mas os novos mercados emergentes
são o terreno fértil -
7:22 - 7:24para os utilizadores apaixonados.
-
7:24 - 7:26O melhor exemplo:
-
7:26 - 7:30Na indústria da música,
quem diria, há 30 anos: -
7:30 - 7:33"Sim, vamos inventar uma forma musical
-
7:33 - 7:37"com negros destituídos, nos guetos,
-
7:37 - 7:39"que exprimem a sua frustração
com palavras -
7:39 - 7:41"através duma forma de música
-
7:41 - 7:44"que, no início, seja difícil
as pessoas ouvirem. -
7:44 - 7:47"Parece ser uma ideia vencedora;
vamos avançar com isso". -
7:47 - 7:48(Risos)
-
7:48 - 7:51O que aconteceu? A música "rap"
foi criada pelos utilizadores. -
7:51 - 7:54Fazem-no com as suas gravações,
com o seu equipamento de gravação, -
7:54 - 7:56distribuem-na eles mesmos.
-
7:56 - 7:57Trinta anos depois,
-
7:57 - 8:00a música "rap" é a forma musical
dominante da cultura popular -
8:00 - 8:02mas nunca teria saído
das grandes empresas. -
8:02 - 8:05Tinha que começar
— este é o terceiro ponto — -
8:05 - 8:06com estes amadores-profissionais.
-
8:06 - 8:10Esta é a frase que eu usei
numas coisas que eu fiz -
8:10 - 8:13com um grupo de discussão, em Londres,
chamado Demos, -
8:13 - 8:16em que estivemos a analisar
essas pessoas que são amadoras, -
8:16 - 8:18— ou seja, fazem-no por amor —
-
8:18 - 8:21mas querem faze-lo
com alto nível de exigência -
8:21 - 8:23Em toda uma ampla gama de áreas
-
8:23 - 8:26— desde o "software", a astronomia,
-
8:26 - 8:28as ciências naturais,
-
8:28 - 8:31enormes áreas de lazer e de cultura,
-
8:31 - 8:34como o "kite-surfing", etc. etc. —
-
8:34 - 8:37encontramos pessoas que querem
fazer coisas porque gostam disso -
8:37 - 8:40mas querem fazer essas coisas
com grande exigência. -
8:41 - 8:42Trabalham por prazer, se quiserem.
-
8:42 - 8:45Levam o seu prazer muito a sério:
-
8:45 - 8:47adquirem competências, investem tempo,
-
8:47 - 8:50usam tecnologia que é cada vez mais barata
— não é só a Internet, -
8:50 - 8:53mas máquinas fotográficas,
tecnologia de "design", -
8:53 - 8:56tecnologia de lazer,
pranchas de "surf", etc. -
8:57 - 8:59Sobretudo através da globalização,
-
8:59 - 9:02muito destes equipamentos
são hoje muito mais baratos. -
9:02 - 9:04Consumidores mais conhecedores,
mais bem informados, -
9:04 - 9:06mais capazes de se ligarem uns aos outros,
-
9:06 - 9:09mais capazes de fazerem coisas em conjunto.
-
9:09 - 9:12Nesse sentido, o consumo é uma expressão
do seu potencial produtivo. -
9:13 - 9:16Descobrimos que as pessoas
interessam-se por isto, -
9:16 - 9:19porque não se sentem realizados
no seu trabalho. -
9:19 - 9:23Não sentem que estão a fazer
uma coisa que, para eles, seja importante, -
9:23 - 9:25Por isso, arranjam
este tipo de atividades. -
9:25 - 9:28Isso tem implicações organizativas enormes
-
9:28 - 9:30em enormes áreas da vida.
-
9:30 - 9:33Vejam, por exemplo, a astronomia
a que Yochai já se referiu. -
9:35 - 9:37Há 20 anos, há 30 anos,
-
9:37 - 9:40só os importantes astrónomos profissionais
-
9:40 - 9:44com telescópios gigantescos
podiam perscrutar o espaço. -
9:44 - 9:48Há um grande telescópio, o Jodrell Bank
no Norte da Inglaterra. -
9:48 - 9:50Quando eu era miúdo, era espantoso,
-
9:50 - 9:54porque tinha começado a exploração lunar
e esta coisa deslocava-se sobre carris. -
9:54 - 9:56E era enorme, absolutamente enorme.
-
9:56 - 9:59Hoje, seis astrónomos amadores,
-
9:59 - 10:01a trabalhar na Internet,
-
10:01 - 10:03com telescópios de Dobson digitais
-
10:03 - 10:05— que são de código aberto —
-
10:05 - 10:07com uns sensores de luz
-
10:07 - 10:10desenvolvidos nos últimos 10 anos,
na Internet, -
10:10 - 10:13podem fazer o que só o Jodrell Bank
fazia há 30 anos. -
10:13 - 10:16Na astronomia, temos esta ampla explosão
-
10:16 - 10:18de novos recursos produtivos.
-
10:18 - 10:21Os utilizadores podem ser produtores.
-
10:22 - 10:25Então, o que é que isto significa
para a nossa paisagem organizativa? -
10:26 - 10:31Imaginem um mundo,
para já, dividido em dois campos. -
10:31 - 10:34Deste lado, temos o modelo empresarial
antigo, tradicional. -
10:35 - 10:37Pessoas especiais, locais especiais.
-
10:37 - 10:39Patenteiem, enviem-nos pelo tubo condutor
-
10:39 - 10:42para os consumidores
passivos e expectantes. -
10:42 - 10:44Deste lado, imaginemos que temos
-
10:44 - 10:47a Wikipedia, o Linux, e não só
— o código aberto. -
10:47 - 10:49Deste lado, está aberto;
deste lado está fechado. -
10:49 - 10:52Este é novo; este é tradicional.
-
10:52 - 10:55A primeira coisa que dizemos,
penso que com toda a certeza, -
10:55 - 10:56é o que Yochai já disse:
-
10:57 - 11:00é que há uma grande luta
entre as duas formas de organização. -
11:01 - 11:04Estas pessoas aqui farão
todos os possíveis -
11:04 - 11:07para impedir que este tipo
de organizações tenham êxito, -
11:07 - 11:09porque são ameaçadas por elas.
-
11:09 - 11:12Daí as discussões sobre
direitos de autor, -
11:12 - 11:15sobre direitos digitais, etc.
-
11:15 - 11:18Tudo isso, na minha opinião,
são formas de asfixiar -
11:18 - 11:20esse tipo de organizações.
-
11:20 - 11:25Assistimos a uma corrupção total
da ideia de patentes e direitos de autor. -
11:25 - 11:29Destinados a serem uma forma
de incentivar a invenção, -
11:29 - 11:33destinados a serem uma forma de
orquestrar a propagação do conhecimento, -
11:33 - 11:36estão a ser usados cada vez mais
pelas grandes empresas -
11:36 - 11:38para criarem um muro de patentes
-
11:38 - 11:40para impedirem que se instale a inovação.
-
11:40 - 11:42Vou dar-vos dois exemplos.
-
11:42 - 11:46O primeiro é: imaginem que vão
ter com um investidor de risco e dizem: -
11:46 - 11:48"Tive uma ideia fantástica.
-
11:48 - 11:50"Inventei um novo programa brilhante
-
11:50 - 11:53"que é muito melhor
do que o Microsoft Outlook". -
11:54 - 11:58Que investidor, no seu pleno juízo,
vos dará dinheiro para uma empresa -
11:58 - 12:02concorrente da Microsoft,
com o Microsoft Outlook? Ninguém. -
12:02 - 12:05É por isso que a competição
com a Microsoft está condenada a sair -
12:05 - 12:06— só poderá sair —
-
12:06 - 12:08dum projeto de código aberto.
-
12:08 - 12:11Há uma enorme discussão competitiva
-
12:11 - 12:13sobre manter a capacidade
de inovação -
12:13 - 12:16por parte do consumidor
e do código aberto. -
12:16 - 12:20porque é uma das maiores alavancas
para lutar contra o monopólio. -
12:20 - 12:23Haverá também enormes
discussões profissionais, -
12:23 - 12:27porque os profissionais, aqui,
nestas organizações fechadas, -
12:27 - 12:30podem ser académicos,
podem ser programadores, -
12:30 - 12:33podem ser médicos,
podem ser jornalistas, -
12:33 - 12:34— a minha antiga profissão —
-
12:34 - 12:37dizem: "Não, não podemos confiar
nestas pessoas aqui". -
12:38 - 12:41Quando eu comecei no jornalismo
-
12:41 - 12:44— há 20 anos, no Financial Times —
-
12:44 - 12:48era muito excitante
ver alguém a ler o jornal. -
12:48 - 12:51Espreitávamos por cima
do ombro dele, no metro, -
12:51 - 12:54para ver se estava a ler o nosso artigo.
-
12:54 - 12:56Normalmente, estava a ler
as cotações da Bolsa. -
12:56 - 13:00e o pedaço de papel com o nosso artigo
estava no chão, ou coisa assim. -
13:00 - 13:02"Céus! O que é que ele está a fazer?
-
13:02 - 13:05"Não está a ler o meu brilhante artigo!"
-
13:05 - 13:07E permitíamos aos utilizadores,
aos leitores, -
13:07 - 13:10dois sítios onde eles podiam
contribuir para o jornal: -
13:10 - 13:12a página das cartas, onde eles
podiam publicar uma carta -
13:12 - 13:15e nós aceitávamos,
depois de a cortar ao meio, -
13:15 - 13:16e publicávamo-la três dias depois.
-
13:16 - 13:19Ou a página de opinião, na qual
quem conhecia o editor -
13:19 - 13:22— quem andara na escola com ele,
ou dormira com a mulher dele — -
13:22 - 13:24podia escrever um artigo
na página de opinião. -
13:24 - 13:26Eram esses os dois locais.
-
13:26 - 13:29"Que horror! Agora os leitores
querem ser escritores e editores! -
13:29 - 13:32"Não é o papel deles.
Eles têm que ler o que nós escrevemos." -
13:32 - 13:34Mas eles não querem ser jornalistas.
-
13:34 - 13:38Os jornalistas julgam que os bloguistas
querem ser jornalistas. -
13:38 - 13:40Mas eles não querem,
só querem fazer ouvir a sua voz. -
13:40 - 13:43Como Jimmy disse, querem diálogo,
querem conversa. -
13:43 - 13:45Querem fazer parte
do fluxo de informações. -
13:46 - 13:48O que acontece aqui é que todo o domínio
-
13:48 - 13:50da criatividade está em expansão.
-
13:50 - 13:52Vai haver uma guerra tremenda.
-
13:52 - 13:57Mas também vai haver
um movimento tremendo, -
13:57 - 13:58do aberto para o fechado.
-
13:59 - 14:02Penso que vamos ver duas coisas
que são fundamentais. -
14:02 - 14:05Penso que são dois desafios
para o movimento aberto. -
14:05 - 14:07O primeiro é:
-
14:07 - 14:10podemos sobreviver com voluntários?
-
14:10 - 14:12Se isso é tão importante,
-
14:12 - 14:15será que não precisamos que isso
seja financiado, organizado e apoiado -
14:15 - 14:17de modo muito mais estruturado?
-
14:17 - 14:19Penso que a ideia de criar a Cruz Vermelha
-
14:19 - 14:22para a informação e o conhecimento
é uma ideia fantástica, -
14:22 - 14:26mas conseguimos organizar isso,
apenas com voluntários? -
14:26 - 14:29Que tipo de mudanças precisamos
na política pública -
14:29 - 14:31e no financiamento
para que isso seja possível? -
14:31 - 14:34Qual será o papel da BBC,
por exemplo, nesse mundo? -
14:34 - 14:37Qual deverá ser o papel
da política pública? -
14:37 - 14:39E, por fim, penso que veremos
-
14:39 - 14:42organizações fechadas inteligentes
-
14:42 - 14:46a dirigir-se cada vez mais
na direção da abertura. -
14:46 - 14:48Portanto, não vai ser uma competição
entre dois campos, -
14:48 - 14:52mas haverá todo o tipo de locais
intermédios interessantes -
14:52 - 14:53que as pessoas vão ocupar.
-
14:54 - 14:56Estão a aparecer
novos modelos organizativos, -
14:56 - 14:59misturando o fechado e o aberto
de forma habilidosa. -
14:59 - 15:03Não vai ser uma distinção clara,
Não vai ser a Microsoft contra o Linux. -
15:03 - 15:06Haverá no meio todo o tipo de coisas.
-
15:06 - 15:10Acontece que esses modelos organizativos
são incrivelmente poderosos -
15:10 - 15:14e as pessoas que os compreenderem
terão muito êxito. -
15:14 - 15:17Vou dar-vos um último exemplo
do que isso significa. -
15:18 - 15:20Eu estive em Xangai,
-
15:20 - 15:22num bloco de escritórios,
-
15:22 - 15:25construído sobre um antigo arrozal,
há cinco anos, -
15:25 - 15:28um dos 2500 arranha-céus
-
15:28 - 15:31construídos em Xangai
nos últimos 10 anos. -
15:31 - 15:34Estava a jantar com Timothy Chan.
-
15:34 - 15:39Timothy Chan fundou um negócio
pela Internet, em 2000. -
15:39 - 15:41Não continuou na Internet,
guardou o seu dinheiro, -
15:41 - 15:44decidiu dedicar-se aos jogos
para computador. -
15:44 - 15:46Dirige uma empresa chamada Shanda,
-
15:46 - 15:50que é a maior empresa de jogos
para computador da China. -
15:50 - 15:53Nove mil servidores por toda a China,
-
15:53 - 15:57tem 250 milhões de assinantes.
-
15:58 - 16:02A cada momento, há quatro milhões
de pessoas a jogar um dos seus jogos. -
16:02 - 16:07Quantas pessoas é que ele emprega
para servir aquela população? -
16:07 - 16:09Quinhentas pessoas.
-
16:09 - 16:11Como é que ele consegue prestar serviços
-
16:11 - 16:14a 250 milhões de pessoas
só com 500 empregados? -
16:14 - 16:17Porque, na prática,
não lhes presta serviços nenhuns. -
16:17 - 16:19Ele dá-lhes uma plataforma,
-
16:19 - 16:21dá-lhes algumas regras,
dá-lhes as ferramentas -
16:21 - 16:24e depois orquestra a conversa,
-
16:24 - 16:26orquestra a ação.
-
16:26 - 16:30Na verdade, a maior parte do conteúdo
é criada pelos próprios utilizadores. -
16:31 - 16:35Cria-se uma espécie de adesão
entre a comunidade e a empresa -
16:35 - 16:37que é muito poderosa.
-
16:37 - 16:40A melhor forma de medir isso:
entramos num dos seus jogos, -
16:40 - 16:42criamos uma personagem,
-
16:42 - 16:45que vamos fazendo evoluir
no decurso do jogo. -
16:45 - 16:47Se, por qualquer razão,
o cartão de crédito falha -
16:47 - 16:50ou há outro problema qualquer,
-
16:50 - 16:51perdemos a personagem.
-
16:51 - 16:53Temos duas opções.
-
16:53 - 16:56Uma opção: podemos criar
uma nova personagem, -
16:56 - 16:59a partir do zero, mas sem a história
da personagem anterior. -
16:59 - 17:01Isso custa cerca de 100 dólares.
-
17:01 - 17:04Ou podemos meter-nos num avião,
ir a Xangai, -
17:04 - 17:07metermo-nos na bicha
para os escritórios de Shanda -
17:07 - 17:11— provavelmente custa 600, 700 dólares —
-
17:11 - 17:14e reclamamos a nossa personagem,
recuperamos toda a sua história. -
17:14 - 17:18Todas as manhãs, há 600 pessoas
na bicha junto aos escritórios -
17:18 - 17:20para reclamar as suas personagens.
-
17:21 - 17:23Trata-se de empresas construídas
sobre comunidades -
17:23 - 17:25que fornecem às comunidades,
-
17:25 - 17:29ferramentas, recursos, plataformas
que eles podem partilhar. -
17:29 - 17:32Não é em código aberto,
mas é muito poderoso. -
17:32 - 17:35Penso que este é um dos problemas
-
17:35 - 17:40para pessoas como eu,
que fazem muito trabalho com o governo. -
17:40 - 17:42Se formos uma empresa de jogos
-
17:42 - 17:46e tivermos um milhão de jogadores
no nosso jogo, -
17:46 - 17:49só precisamos de 1% deles
-
17:49 - 17:52que sejam co-desenvolvedores,
que contribuam com ideias -
17:52 - 17:56e temos uma mão-de-obra
de desenvolvimento de 10 000 pessoas. -
17:57 - 17:58Imaginem que podiam agarrar
-
17:58 - 18:01em todas as crianças da escola
na Grã-Bretanha -
18:01 - 18:04e 1% delas serem
co-desenvolvedoras do ensino. -
18:05 - 18:08Quais seriam os recursos disponíveis
para o sistema de ensino? -
18:08 - 18:11Ou se agarrassem
em 1% dos doentes do SNS -
18:11 - 18:14para serem co-produtores na saúde.
-
18:15 - 18:16A razão por que
-
18:16 - 18:20— apesar de todos os esforços
para o reduzir, -
18:20 - 18:22para o restringir, para o adiar —
-
18:22 - 18:25a razão por que estes modelos abertos
vão começar a surgir -
18:25 - 18:26com uma força tremenda,
-
18:26 - 18:29é que eles multiplicam
os nossos recursos produtivos. -
18:29 - 18:31Uma das razões por que eles fazem isso
-
18:31 - 18:33é que transformam utilizadores
em produtores, -
18:33 - 18:35os consumidores em "designers".
-
18:35 - 18:36Muito obrigado.
-
18:36 - 18:38(Aplausos)
- Title:
- A era da inovação aberta
- Speaker:
- Charles Leadbeater
- Description:
-
Nesta palestra ilusoriamente descontraída, Charles Leadbeater esgrime um forte argumento de que a inovação já não é só para os profissionais. Amadores apaixonados, usando novos instrumentos, estão a criar produtos criativos e paradigmas que asempresas não podem criar.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 18:37
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