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Apaixonado por um polvo

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    Desde tenra idade,
    os polvos sempre me fascinaram.
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    Cresci em Mobile, Alabama
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    — alguém tem que ser de Mobile, não é?
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    Mobile situa-se na confluência
    de cinco rios,
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    que formam um formoso delta.
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    O delta tem jacarés que entram e saem
    dos rios cheios de peixes,
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    e ciprestes repletos de cobras
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    e aves de todos os tipos.
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    É um país mágico para viver
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    para um miúdo interessado em animais.
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    A água do delta corre para a Baía Mobile
    e, por fim, para o Golfo do México.
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    Recordo o meu primeiro contacto
    a sério com um polvo
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    quando tinha uns cinco ou seis anos.
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    Eu estava a nadar no golfo
    e vi um pequeno polvo no fundo.
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    Mergulhei e apanhei-o
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    e fiquei logo fascinado e impressionado
    pela sua velocidade, força e agilidade.
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    Meteu-se entre os meus dedos
    estendeu-se nas costas da minha mão.
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    Consegui agarrar
    naquela criatura fantástica.
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    Depois, acalmou-se na palma da minha mão
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    e começou a passar duma cor a outra,
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    emitindo uma data de cores.
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    Enquanto eu olhava para ele,
    escondeu os tentáculos por baixo dele,
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    ergueu-se numa forma esférica
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    e mudou para cor de chocolate
    com duas riscas brancas.
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    E eu: "Caramba!" Nunca tinha visto
    uma coisa assim na minha vida!
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    Fiquei maravilhado por momentos
    e, depois, decidi que tinha que o libertar
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    por isso, larguei-o.
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    O polvo saiu da minha mão
    e fez uma coisa espantosa:
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    meteu-se por baixo do cascalho
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    e desapareceu. mesmo
    em frente dos meus olhos.
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    Já nessa altura, com seis anos, eu sabia
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    que era um animal que eu queria
    conhecer melhor e foi o que fiz.
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    Fui para a faculdade e tirei
    o curso de zoologia marinha.
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    Depois fui para o Havai
    fazer uma pós-graduação
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    na Universidade do Havai.
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    Enquanto estudante no Havai,
    trabalhei no Aquário Waikiki.
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    O aquário tinha muitos tanques
    de grandes peixes
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    mas poucos com invertebrados.
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    Como eu era o tipo dos "sem-espinha",
    pensei:
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    "Tenho que ir para o terreno
    e apanhar esses animais maravilhosos".
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    Tinha andado a estudá-los e apanhei-os.
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    Construi umas instalações complicadas
    para os exibir.
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    Os peixes nos tanques eram uma beleza,
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    mas não interagiam com as pessoas.
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    Mas os polvos interagiam.
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    Se nos aproximávamos
    de um tanque com polvos,
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    de manhã cedo, antes de chegar alguém,
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    o polvo levantava-se, olhava para nós
    e nós pensávamos:
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    "Este tipo está mesmo a olhar para mim?
    Está a olhar para mim!"
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    E aproximávamo-nos do tanque.
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    Depois, percebíamos que estes animais
    tinham personalidades diferentes:
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    alguns deles não se afastavam
    um milímetro.
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    Outros deslizavam para o fundo do tanque
    e desapareciam no meio das pedras.
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    Havia um, em especial,
    um animal espantoso...
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    Eu aproximei-me do tanque
    e ele pôs-se a olhar para mim,
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    tinha uns corninhos por cima dos olhos.
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    Eu pus-me mesmo em frente do tanque
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    — estava a 8 ou 10 cm do vidro.
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    O polvo estava empoleirado
    numa pedra,
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    saiu da pedra e dirigiu-se para o vidro.
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    Eu via o animal a 15 ou 18 cm
    de distância.
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    Naquela época eu conseguia
    focar a essa curta distância;
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    agora, olho para os meus dedos desfocados
    e percebo que esses dias acabaram.
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    Ali estávamos nós,
    a olhar um para o outro.
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    Ele agarra num punhado de cascalho
  • 2:57 - 3:00
    e liberta-o no jato de água
    que entra no tanque,
  • 3:00 - 3:02
    do sistema de filtração,
  • 3:02 - 3:05
    e — tchac tchac tchac tchac —
    o cascalho bate no vidro e cai.
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    Ele volta a apanhar cascalho, liberta-o
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    — tchac tchac tchac tchac —
    a mesma coisa.
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    Depois levanta um braço
    e eu levanto um braço.
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    Depois levanta outro braço
    e eu levanto o outro braço.
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    Percebo que o polvo ganhou
    a competição dos braços:
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    eu já não tinha mais nenhum
    e ele ainda tinha seis.
  • 3:23 - 3:24
    (Risos)
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    Mas a única forma por que posso
    descrever o que vi naquele dia
  • 3:28 - 3:30
    é que o polvo estava a brincar,
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    o que é um comportamento
    muito sofisticado
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    para um simples invertebrado.
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    Quando eu andava no 3.º ano,
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    aconteceu uma coisa engraçada
    a caminho do escritório
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    que alterou o curso da minha vida.
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    Apareceu um homem no aquário
    — é uma longa história,
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    mas, resumindo, enviou-me, a mim
    e a alguns amigos meus, ao Pacífico Sul,
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    para apanharmos animais para ele.
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    Quando partimos, deu-nos câmaras
    de filmar de 16 mm e disse:
  • 3:53 - 3:55
    "Façam um filme da vossa expedição".
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    "Ok, um grupo de biólogos
    a fazer um filme, vai ser interessante".
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    Partimos. E fizemos um filme
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    que deve ter sido
    o pior filme jamais feito
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    na história do cinema,
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    mas foi o máximo, diverti-me imenso.
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    Recordo aquela lampadazinha
    por cima da minha cabeça, quando pensei:
  • 4:10 - 4:13
    "Espera, talvez possa fazer
    isto mais vezes.
  • 4:13 - 4:15
    "Boa, vou ser cineasta".
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    Quando acabei aquele trabalho,
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    saí da escola, pendurei ao pescoço
    a insígnia de cineasta
  • 4:20 - 4:23
    e nunca disse a ninguém
    que não sabia o que estava a fazer.
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    Tem sido uma boa caminhada.
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    Mas o que aprendi na escola
    foi muito benéfico.
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    Um cineasta da vida na natureza
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    que vai para o terreno filmar animais,
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    em especial, o seu comportamento,
  • 4:32 - 4:35
    deve ter conhecimentos fundamentais
  • 4:35 - 4:36
    sobre quem são esses animais,
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    como funcionam e um pouco
    como se comportam.
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    Mas o que aprendi sobre polvos
  • 4:41 - 4:44
    foi no terreno, enquanto cineasta,
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    fazendo filmes com eles,
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    em que temos que passar
    grandes temporadas com os animais,
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    vendo os polvos a serem polvos
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    nas suas casas no oceano.
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    Recordo que fiz uma viagem à Austrália,
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    fui a uma ilha chamada One Tree Island.
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    Aparentemente, a evolução tinha ocorrido
  • 5:01 - 5:03
    a um ritmo muito rápido na One Tree,
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    entre a altura em que a batizaram
    e a altura em que lá cheguei,
  • 5:06 - 5:09
    porque havia, pelo menos, três árvores
    na ilha, quando lá estivemos.
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    Seja como for, uma árvore está situada
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    muito perto de um belo recife de coral.
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    Há ali um canal
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    em que a maré avança e recua,
    duas vezes por dia, muito rapidamente.
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    É um belo recife, muito complexo,
    com muitos animais,
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    incluindo muitos polvos.
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    Não são só eles
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    mas os polvos na Austrália
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    são certamente mestres da camuflagem.
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    Na realidade, está um ali mesmo.
  • 5:34 - 5:36
    O nosso primeiro problema
    foi encontrá-los
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    e foi um verdadeiro problema.
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    Mas a ideia era que
    íamos ficar ali durante um mês,
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    e eu queria que os animais
    se habituassem a nós
  • 5:43 - 5:46
    para observarmos o seu
    comportamento sem os perturbar.
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    A primeira semana foi passada
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    a aproximarmo-nos o mais possível,
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    todos os dias um pouco mais,
    um pouco mais perto.
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    Sabíamos qual era o limite:
    eles começavam a contrair-se
  • 5:54 - 5:56
    nós íamo-nos embora
    e voltámos horas depois.
  • 5:56 - 5:59
    Ao fim da primeira semana,
    passaram a ignorar-nos, tipo:
  • 5:59 - 6:02
    "Não sei o que é esta coisa,
    mas não é uma ameaça".
  • 6:02 - 6:04
    E continuaram com os seus afazeres.
  • 6:04 - 6:05
    A 30 cm de distância, observávamo-los
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    a acasalar, a fazer a parada nupcial
    e a lutar.
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    É uma experiência incrível.
  • 6:10 - 6:12
    Uma das imagens mais fantásticas
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    que recordo, pelo menos, visualmente,
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    foi um comportamento de caça.
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    Tinham muitas técnicas diferentes
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    que usavam para se alimentarem,
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    mas esta, em especial, usava a visão.
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    Viam uma cabeça de coral
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    talvez a três metros de distância,
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    e começavam a mover-se
    na direção dessa cabeça de coral.
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    Não sei se viam um caranguejo
    ou se imaginavam que podia haver um
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    mas, fosse como fosse,
    saltavam do fundo
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    nadavam pela água e aterravam
    em cima dessa cabeça de coral.
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    Depois, a membrana entre os tentáculos
  • 6:42 - 6:43
    envolvia totalmente a cabeça de coral,
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    e assim nadavam em busca de caranguejos.
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    Logo que os caranguejos tocavam no braço,
    era o fim deles.
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    Eu queria saber o que se passava
    por baixo daquela membrana.
  • 6:51 - 6:53
    Portanto, arranjámos forma de o descobrir
  • 6:53 - 6:56
    e, pela primeira vez, vi
    o famoso bico em ação.
  • 6:56 - 6:58
    Foi fantástico.
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    Se pretendemos fazer filmes
    sobre um grupo de animais, em particular,
  • 7:01 - 7:03
    é melhor escolher um grupo
    que seja vulgar.
  • 7:03 - 7:05
    Os polvos são vulgares,
    vivem nos oceanos
  • 7:05 - 7:07
    e também vivem em profundidade.
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    Não posso dizer que os polvos
    sejam responsáveis
  • 7:09 - 7:11
    pelo meu grande interesse
  • 7:11 - 7:13
    em meter-me em submarinos
    e descer em profundidade
  • 7:13 - 7:15
    mas a verdade é que gosto disso.
  • 7:15 - 7:18
    Não se parece com nada que já fizemos.
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    Se quiserem abandonar tudo
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    e ver uma coisa que nunca viram,
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    e ter boas hipóteses de ver uma coisa
    que nunca ninguém viu,
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    metam-se num submarino,
  • 7:26 - 7:28
    fechem a escotilha, abram o oxigénio,
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    e liguem o depurador que elimina o CO2
    do ar que respiramos.
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    Depois, atiram-nos pela borda fora.
  • 7:33 - 7:37
    Descemos. Não estamos ligados
    à superfície senão por um rádio moderno.
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    À medida que baixamos,
    a máquina de lavar
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    à superfície acalma-se.
  • 7:41 - 7:43
    Fica tudo muito silencioso.
  • 7:43 - 7:45
    Começa a ser uma coisa muito agradável.
  • 7:45 - 7:47
    À medida que descemos,
  • 7:47 - 7:51
    a água azul para onde nos atiraram
    passa a um azul cada vez mais escuro.
  • 7:51 - 7:53
    Por fim, fica cor de alfazema
  • 7:53 - 7:56
    e, após umas centenas de metros,
    fica negra como breu.
  • 7:57 - 7:58
    Entramos no reino
  • 7:58 - 8:01
    da comunidade das águas médias.
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    Podia fazer uma palestra inteira
  • 8:03 - 8:06
    sobre as criaturas que vivem
    nas águas médias.
  • 8:06 - 8:09
    Mas basta dizer,
    tanto quanto me diz respeito,
  • 8:09 - 8:11
    sem qualquer dúvida,
    os "designs" mais bizarros
  • 8:11 - 8:14
    e os comportamentos mais escandalosos
  • 8:14 - 8:17
    são nos animais que vivem
    na comunidade das águas médias.
  • 8:17 - 8:19
    Mas vamos ultrapassar esta área
  • 8:19 - 8:24
    que inclui cerca de 95%
    do espaço vivo no nosso planeta
  • 8:24 - 8:27
    e entrar na dorsal oceânica
    que ainda é mais extraordinária.
  • 8:27 - 8:30
    A dorsal oceânica é uma enorme
    cadeia de montanhas,
  • 8:30 - 8:33
    com mais de 60 000 km de comprimento
    que serpenteia por todo o globo.
  • 8:33 - 8:36
    São montanhas,
    com centenas de metros de altura.
  • 8:36 - 8:38
    Algumas atingem vários quilómetros
  • 8:38 - 8:39
    e chegam à superfície,
  • 8:39 - 8:41
    criando ilhas como o Havai.
  • 8:41 - 8:44
    O cume desta cadeia de montanhas
  • 8:44 - 8:47
    afasta-se, criando uma fossa submarina.
  • 8:47 - 8:50
    Quando mergulhamos nesta fossa submarina,
    é aí que se passa qualquer coisa
  • 8:50 - 8:52
    porque há milhares de vulcões ativos
  • 8:52 - 8:55
    que entram em erupção a cada instante,
  • 8:55 - 8:57
    a todo o comprimento dessa cadeia
    com 60 000 km.
  • 8:57 - 9:00
    Como as placas tectónicas se afastam,
  • 9:00 - 9:03
    o magma, a lava, sobe à superfície
    e preenche essas brechas.
  • 9:03 - 9:05
    Vemos uma terra, uma terra nova,
  • 9:05 - 9:07
    a criar-se, mesmo diante dos olhos.
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    Por cima desses cumes, há cerca
    de 3000 a 4000 metros de água
  • 9:10 - 9:12
    que cria uma enorme pressão
  • 9:12 - 9:16
    que obriga a água a descer pelas fendas
    para o centro da terra,
  • 9:16 - 9:18
    até atingirem uma câmara de magma
  • 9:18 - 9:21
    onde é super aquecida
    e super saturada com minerais.
  • 9:21 - 9:24
    Aí, inverte o fluxo e é projetada
    de novo para a superfície
  • 9:24 - 9:27
    saindo como um geiser
    em Yellowstone.
  • 9:27 - 9:28
    Com efeito, toda esta região
  • 9:28 - 9:32
    parece o Parque Nacional de Yellowstone
    com tudo o que ele tem.
  • 9:32 - 9:35
    Este líquido que se escapa está
    à temperatura de cerca de 350º Celsius.
  • 9:35 - 9:38
    A água que o rodeia está
    a poucos graus acima de zero.
  • 9:38 - 9:39
    Esse líquido arrefece imediatamente,
  • 9:39 - 9:41
    e não pode manter em suspensão
  • 9:41 - 9:44
    todos os materiais
    que nele foram dissolvidos
  • 9:44 - 9:46
    e que se precipitaram no exterior,
    formando um fumo negro.
  • 9:46 - 9:49
    É isso que forma estas torres,
    estas chaminés
  • 9:49 - 9:51
    que medem 3, 7, 10 metros de altura.
  • 9:51 - 9:53
    A todo o comprimento, as paredes
    destas chaminés
  • 9:53 - 9:56
    vibram com o calor
    e estão repletas de vida.
  • 9:57 - 9:59
    Há fumos negros por toda a parte
  • 9:59 - 10:01
    e chaminés com vermes tubulares
  • 10:01 - 10:03
    que podem medir
    até 3 metros de comprimento.
  • 10:03 - 10:06
    No extremo superior,
    esses vermes tubulares
  • 10:06 - 10:08
    têm belas plumas vermelhas.
  • 10:08 - 10:10
    No meio deste emaranhado
    de vermes tubulares
  • 10:10 - 10:13
    vive toda uma comunidade de animais:
  • 10:13 - 10:15
    camarões, peixes, lagostas,
    caranguejos,
  • 10:15 - 10:17
    amêijoas e enxames de artrópodes
  • 10:17 - 10:19
    que brincam a um jogo perigoso
  • 10:19 - 10:22
    entre um sítio escaldante
    e um sítio extremamente frio.
  • 10:22 - 10:23
    Todo este ecossistema
  • 10:23 - 10:27
    não era conhecido até há 33 anos.
  • 10:28 - 10:31
    Deram-nos a volta à cabeça.
  • 10:31 - 10:33
    Obrigou os cientistas a refletir
  • 10:33 - 10:36
    sobre o local onde a vida
    poderá ter começado na Terra.
  • 10:36 - 10:38
    Antes da descoberta destes vermes,
  • 10:38 - 10:41
    julgava-se que o segredo da vida na Terra
  • 10:41 - 10:43
    era o Sol e a fotossíntese.
  • 10:43 - 10:44
    Mas, lá em baixo, não há sol,
  • 10:44 - 10:46
    não há fotossíntese,
  • 10:46 - 10:49
    é um ambiente quimiossintético
    que lhe dá origem
  • 10:49 - 10:51
    e é tudo muito efémero.
  • 10:52 - 10:53
    Podemos filmar isto
  • 10:53 - 10:55
    um incrível respiradouro hidrotérmico
  • 10:55 - 10:58
    que, por momentos, julgamos
    só existir noutro planeta.
  • 10:58 - 11:01
    É espantoso pensar que está na Terra.
  • 11:01 - 11:04
    Parecem extraterrestres
    num ambiente extraterrestre.
  • 11:04 - 11:07
    Mas se voltarmos ao mesmo respiradouro
    oito anos depois,
  • 11:07 - 11:08
    pode estar totalmente morto.
  • 11:08 - 11:10
    Não há água quente.
  • 11:10 - 11:12
    Todos os animais desapareceram,
    estão mortos
  • 11:12 - 11:14
    mas as chaminés continuam ali
  • 11:14 - 11:16
    criando uma cidade fantasma
    muito simpática,
  • 11:16 - 11:18
    uma cidade misteriosa, fantasmagórica,
  • 11:18 - 11:20
    mas desprovida de animais.
  • 11:21 - 11:23
    Mas a 15 km da dorsal
  • 11:23 - 11:25
    há outro vulcão em atividade.
  • 11:25 - 11:29
    E formou-se toda uma nova comunidade
    do respiradouro hidrotérmico.
  • 11:29 - 11:32
    Este tipo de vida e morte das comunidades
    dos respiradouros hidrotérmicos
  • 11:32 - 11:34
    ocorre todos os 30 ou 40 anos
  • 11:34 - 11:36
    a todo o comprimento da dorsal.
  • 11:36 - 11:37
    Essa natureza efémera
  • 11:37 - 11:39
    da comunidade dos respiradouros
    hidrotérmicos
  • 11:39 - 11:43
    não é diferente de algumas
    das áreas que vimos
  • 11:43 - 11:46
    em 35 anos de viagens, a fazer filmes.
  • 11:46 - 11:50
    Onde vamos filmar
    uma bela sequência numa baía?
  • 11:50 - 11:52
    Regressamos e, já em casa, penso:
  • 11:52 - 11:54
    "Bom, o que é que posso filmar?
  • 11:54 - 11:55
    "Já sei onde posso filmar isso.
  • 11:55 - 11:58
    "Há uma bela baía que tem
    muitos corais e estomatópodes",
  • 11:58 - 12:00
    Chegamos lá e está morta.
  • 12:00 - 12:04
    Não há corais, há algas em crescimento,
    e a água parece sopa de ervilhas.
  • 12:04 - 12:05
    "O que é que aconteceu?"
  • 12:05 - 12:07
    Damos meia volta
  • 12:07 - 12:10
    e vemos uma colina atrás de nós
    com um bairro em construção,
  • 12:10 - 12:13
    Os "bulldozers" transportam
    pilhas de terra de um lado para o outro.
  • 12:13 - 12:16
    E ali estão a construir um campo de golfe.
  • 12:17 - 12:20
    Estamos nos trópicos.
    Está a chover a cântaros.
  • 12:20 - 12:23
    Portanto, a água da chuva
    escorre pela colina abaixo,
  • 12:23 - 12:25
    transportando sedimentos
    do local de construção,
  • 12:25 - 12:28
    sufocando os corais e matando-os,
  • 12:28 - 12:30
    Os fertilizantes e os pesticidas
  • 12:30 - 12:32
    escorrem para a baía,
    do campo de golfe
  • 12:32 - 12:35
    — os pesticidas matam todas as larvas
    e os pequenos animais,
  • 12:35 - 12:38
    os fertilizantes criam esta bela
    invasão de plâncton —
  • 12:38 - 12:40
    e cá está a sopa de ervilhas.
  • 12:40 - 12:42
    Mas, felizmente, também vi o oposto.
  • 12:42 - 12:45
    Tinha estado num local que era
    uma baía muito degradada,
  • 12:45 - 12:47
    olhei para ela e disse: "Bolas",
  • 12:47 - 12:49
    "e fui trabalhar
    para o outro lado da ilha.
  • 12:49 - 12:51
    Cinco anos depois, voltei lá
  • 12:51 - 12:54
    e essa mesma baía está hoje
    esplêndida, uma beleza.
  • 12:54 - 12:57
    Está a dar corais, peixes por todo o lado,
  • 12:57 - 12:59
    uma água límpida como cristal.
  • 12:59 - 13:01
    "O que é que aconteceu?"
  • 13:01 - 13:03
    Aconteceu que a comunidade
    mobilizou-se.
  • 13:03 - 13:06
    Reconheceram o que estava a acontecer
    na colina e puseram-lhe fim,
  • 13:06 - 13:08
    aprovaram leis e exigiram autorizações
  • 13:09 - 13:11
    para uma construção responsável
  • 13:11 - 13:12
    e para manutenção do campo de golfe.
  • 13:12 - 13:16
    Impediram que os sedimentos
    e os químicos escorressem para a baía,
  • 13:17 - 13:18
    e a baía recuperou.
  • 13:18 - 13:20
    O oceano tem uma capacidade espantosa
  • 13:20 - 13:23
    de recuperar, se o deixarmos em paz.
  • 13:23 - 13:25
    Penso que Margaret Mead
  • 13:25 - 13:27
    o disse de forma melhor.
  • 13:27 - 13:30
    Disse que um pequeno grupo
    de pessoas criteriosas
  • 13:30 - 13:32
    podem mudar o mundo.
  • 13:32 - 13:34
    Com efeito, é a única coisa
    que o pode fazer.
  • 13:34 - 13:37
    Um pequeno grupo
    de pessoas criteriosas
  • 13:37 - 13:38
    alterou aquela baía.
  • 13:38 - 13:41
    Sou um grande adepto
    de organizações de base.
  • 13:41 - 13:43
    Já fiz muitas palestras
  • 13:43 - 13:46
    onde, no final, inevitavelmente,
  • 13:46 - 13:48
    uma das primeiras perguntas
    que surge é:
  • 13:48 - 13:49
    "O que é que eu posso fazer?
  • 13:49 - 13:51
    "Sou só um indivíduo, só uma pessoa.
  • 13:51 - 13:54
    "Estes problemas são enormes e globais,
    é uma coisa esmagadora".
  • 13:55 - 13:56
    Uma pergunta muito pertinente.
  • 13:56 - 14:01
    A minha resposta é que não olhem
    para os grandes problemas do mundo.
  • 14:01 - 14:03
    Olhem para o vosso quintal.
  • 14:04 - 14:06
    Olhem para o vosso coração.
  • 14:06 - 14:09
    Aquilo que vos preocupa não é
    o sítio onde vivem?
  • 14:10 - 14:11
    Consertem-no.
  • 14:11 - 14:13
    Criem uma zona de cura
    no vosso bairro
  • 14:13 - 14:15
    e encorajem os outros
    a fazer o mesmo.
  • 14:15 - 14:18
    Talvez essas zonas de cura
    possam salpicar um mapa,
  • 14:18 - 14:20
    pequenos pontos num mapa.
  • 14:20 - 14:23
    Na verdade, a forma como
    podemos comunicar hoje em dia
  • 14:23 - 14:26
    — em que o Alasca sabe instantaneamente
    o que se passa na China,
  • 14:26 - 14:28
    e os que fizeram isto em Inglaterra
    tentaram...
  • 14:28 - 14:30
    e toda a gente fala com toda a gente —
  • 14:30 - 14:32
    já não são pontos isolados num mapa,
  • 14:32 - 14:34
    é uma rede que criámos.
  • 14:34 - 14:36
    Essas zonas de cura
    talvez comecem a crescer
  • 14:36 - 14:39
    e, talvez até se sobreponham,
    e possam acontecer coisas boas.
  • 14:39 - 14:41
    É assim que eu respondo àquela pergunta.
  • 14:42 - 14:44
    Procurem no vosso quintal,
    olhem para o espelho.
  • 14:44 - 14:47
    O que é que podem fazer
    que seja mais responsável
  • 14:47 - 14:48
    do que o que estão a fazer agora?
  • 14:49 - 14:51
    Façam isso e passem a palavra.
  • 14:52 - 14:54
    Os animais da comunidade dos respiradouros
  • 14:54 - 14:55
    não podem fazer muito
  • 14:55 - 14:59
    quanto à vida e à morte
    que se passa onde vivem,
  • 14:59 - 15:00
    mas nós podemos.
  • 15:00 - 15:04
    Em teoria, nós somos seres humanos
    pensantes, racionais.
  • 15:04 - 15:06
    Podemos alterar
    o nosso comportamento
  • 15:06 - 15:09
    o que influenciará e afetará o ambiente,
  • 15:09 - 15:11
    como aquelas pessoas alteraram
    a saúde da baía.
  • 15:12 - 15:14
    O desejo de Sylvia, prémio TED,
  • 15:14 - 15:17
    foi implorar-nos a fazer
    tudo o que pudermos,
  • 15:18 - 15:19
    tudo o pudermos,
  • 15:19 - 15:21
    para pôr de lado,
    não coisas insignificantes,
  • 15:21 - 15:23
    mas coisas significativas
  • 15:23 - 15:25
    para a preservação do oceano
  • 15:25 - 15:28
    "os locais de esperança",
    como ela lhes chama.
  • 15:28 - 15:31
    Eu aplaudo isso. Aplaudo fortemente.
  • 15:31 - 15:34
    Tenho esperança que alguns
    desses "locais de esperança"
  • 15:34 - 15:36
    possam ser no oceano profundo,
  • 15:36 - 15:39
    uma zona que, historicamente,
  • 15:39 - 15:42
    tem sido seriamente negligenciada,
    ou mesmo abusada.
  • 15:42 - 15:45
    O termo "afundar" vem-me à cabeça:
  • 15:45 - 15:48
    "Se é demasiado grande,
    ou demasiado tóxico para um aterro,
  • 15:48 - 15:49
    "afundem-no!"
  • 15:49 - 15:52
    Portanto, espero
    que também possamos tratar
  • 15:52 - 15:54
    de alguns desses "locais de esperança"
    no fundo do mar.
  • 15:56 - 15:58
    Eu não vou fazer um desejo,
  • 15:58 - 16:00
    mas certamente posso dizer
  • 16:00 - 16:02
    que farei tudo o que puder
  • 16:02 - 16:05
    para apoiar o desejo de Sylvia Earle.
  • 16:05 - 16:06
    Fá-lo-ei.
  • 16:06 - 16:07
    Muito obrigado.
  • 16:07 - 16:10
    (Aplausos)
Title:
Apaixonado por um polvo
Speaker:
Mike deGruy
Description:

O cineasta submarino, Mike deGruy passou décadas a observar o oceano com intimidade. Um comunicador consumado, sobe ao palco da Mission Blue para nos contar a sua admiração e entusiasmo — e os seus receios — pelo coração azul do nosso planeta.

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English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
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