Apaixonado por um polvo
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0:00 - 0:03Desde tenra idade,
os polvos sempre me fascinaram. -
0:03 - 0:05Cresci em Mobile, Alabama
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0:06 - 0:08— alguém tem que ser de Mobile, não é?
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0:08 - 0:10Mobile situa-se na confluência
de cinco rios, -
0:10 - 0:12que formam um formoso delta.
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0:12 - 0:16O delta tem jacarés que entram e saem
dos rios cheios de peixes, -
0:16 - 0:19e ciprestes repletos de cobras
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0:19 - 0:20e aves de todos os tipos.
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0:20 - 0:23É um país mágico para viver
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0:23 - 0:26para um miúdo interessado em animais.
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0:26 - 0:30A água do delta corre para a Baía Mobile
e, por fim, para o Golfo do México. -
0:30 - 0:33Recordo o meu primeiro contacto
a sério com um polvo -
0:33 - 0:35quando tinha uns cinco ou seis anos.
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0:35 - 0:38Eu estava a nadar no golfo
e vi um pequeno polvo no fundo. -
0:38 - 0:40Mergulhei e apanhei-o
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0:40 - 0:45e fiquei logo fascinado e impressionado
pela sua velocidade, força e agilidade. -
0:45 - 0:48Meteu-se entre os meus dedos
estendeu-se nas costas da minha mão. -
0:48 - 0:51Consegui agarrar
naquela criatura fantástica. -
0:51 - 0:53Depois, acalmou-se na palma da minha mão
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0:53 - 0:55e começou a passar duma cor a outra,
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0:56 - 0:57emitindo uma data de cores.
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0:57 - 1:00Enquanto eu olhava para ele,
escondeu os tentáculos por baixo dele, -
1:00 - 1:02ergueu-se numa forma esférica
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1:02 - 1:05e mudou para cor de chocolate
com duas riscas brancas. -
1:05 - 1:08E eu: "Caramba!" Nunca tinha visto
uma coisa assim na minha vida! -
1:08 - 1:12Fiquei maravilhado por momentos
e, depois, decidi que tinha que o libertar -
1:12 - 1:13por isso, larguei-o.
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1:13 - 1:17O polvo saiu da minha mão
e fez uma coisa espantosa: -
1:17 - 1:20meteu-se por baixo do cascalho
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1:20 - 1:23e desapareceu. mesmo
em frente dos meus olhos. -
1:23 - 1:25Já nessa altura, com seis anos, eu sabia
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1:25 - 1:28que era um animal que eu queria
conhecer melhor e foi o que fiz. -
1:28 - 1:31Fui para a faculdade e tirei
o curso de zoologia marinha. -
1:31 - 1:33Depois fui para o Havai
fazer uma pós-graduação -
1:33 - 1:35na Universidade do Havai.
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1:35 - 1:38Enquanto estudante no Havai,
trabalhei no Aquário Waikiki. -
1:38 - 1:40O aquário tinha muitos tanques
de grandes peixes -
1:40 - 1:42mas poucos com invertebrados.
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1:42 - 1:45Como eu era o tipo dos "sem-espinha",
pensei: -
1:45 - 1:48"Tenho que ir para o terreno
e apanhar esses animais maravilhosos". -
1:49 - 1:51Tinha andado a estudá-los e apanhei-os.
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1:51 - 1:54Construi umas instalações complicadas
para os exibir. -
1:55 - 1:58Os peixes nos tanques eram uma beleza,
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1:59 - 2:01mas não interagiam com as pessoas.
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2:01 - 2:03Mas os polvos interagiam.
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2:03 - 2:05Se nos aproximávamos
de um tanque com polvos, -
2:05 - 2:07de manhã cedo, antes de chegar alguém,
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2:07 - 2:10o polvo levantava-se, olhava para nós
e nós pensávamos: -
2:10 - 2:13"Este tipo está mesmo a olhar para mim?
Está a olhar para mim!" -
2:13 - 2:14E aproximávamo-nos do tanque.
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2:14 - 2:18Depois, percebíamos que estes animais
tinham personalidades diferentes: -
2:18 - 2:20alguns deles não se afastavam
um milímetro. -
2:20 - 2:24Outros deslizavam para o fundo do tanque
e desapareciam no meio das pedras. -
2:24 - 2:26Havia um, em especial,
um animal espantoso... -
2:26 - 2:29Eu aproximei-me do tanque
e ele pôs-se a olhar para mim, -
2:29 - 2:31tinha uns corninhos por cima dos olhos.
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2:31 - 2:33Eu pus-me mesmo em frente do tanque
-
2:33 - 2:35— estava a 8 ou 10 cm do vidro.
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2:36 - 2:38O polvo estava empoleirado
numa pedra, -
2:38 - 2:42saiu da pedra e dirigiu-se para o vidro.
-
2:42 - 2:45Eu via o animal a 15 ou 18 cm
de distância. -
2:45 - 2:49Naquela época eu conseguia
focar a essa curta distância; -
2:49 - 2:52agora, olho para os meus dedos desfocados
e percebo que esses dias acabaram. -
2:52 - 2:54Ali estávamos nós,
a olhar um para o outro. -
2:54 - 2:57Ele agarra num punhado de cascalho
-
2:57 - 3:00e liberta-o no jato de água
que entra no tanque, -
3:00 - 3:02do sistema de filtração,
-
3:02 - 3:05e — tchac tchac tchac tchac —
o cascalho bate no vidro e cai. -
3:05 - 3:08Ele volta a apanhar cascalho, liberta-o
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3:08 - 3:11— tchac tchac tchac tchac —
a mesma coisa. -
3:11 - 3:14Depois levanta um braço
e eu levanto um braço. -
3:14 - 3:18Depois levanta outro braço
e eu levanto o outro braço. -
3:18 - 3:20Percebo que o polvo ganhou
a competição dos braços: -
3:20 - 3:23eu já não tinha mais nenhum
e ele ainda tinha seis. -
3:23 - 3:24(Risos)
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3:24 - 3:28Mas a única forma por que posso
descrever o que vi naquele dia -
3:28 - 3:30é que o polvo estava a brincar,
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3:30 - 3:32o que é um comportamento
muito sofisticado -
3:32 - 3:34para um simples invertebrado.
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3:34 - 3:36Quando eu andava no 3.º ano,
-
3:36 - 3:39aconteceu uma coisa engraçada
a caminho do escritório -
3:39 - 3:41que alterou o curso da minha vida.
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3:41 - 3:43Apareceu um homem no aquário
— é uma longa história, -
3:43 - 3:47mas, resumindo, enviou-me, a mim
e a alguns amigos meus, ao Pacífico Sul, -
3:47 - 3:49para apanharmos animais para ele.
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3:49 - 3:53Quando partimos, deu-nos câmaras
de filmar de 16 mm e disse: -
3:53 - 3:55"Façam um filme da vossa expedição".
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3:55 - 3:59"Ok, um grupo de biólogos
a fazer um filme, vai ser interessante". -
3:59 - 4:01Partimos. E fizemos um filme
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4:01 - 4:03que deve ter sido
o pior filme jamais feito -
4:03 - 4:05na história do cinema,
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4:05 - 4:07mas foi o máximo, diverti-me imenso.
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4:07 - 4:10Recordo aquela lampadazinha
por cima da minha cabeça, quando pensei: -
4:10 - 4:13"Espera, talvez possa fazer
isto mais vezes. -
4:13 - 4:15"Boa, vou ser cineasta".
-
4:15 - 4:17Quando acabei aquele trabalho,
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4:17 - 4:20saí da escola, pendurei ao pescoço
a insígnia de cineasta -
4:20 - 4:23e nunca disse a ninguém
que não sabia o que estava a fazer. -
4:23 - 4:24Tem sido uma boa caminhada.
-
4:24 - 4:26Mas o que aprendi na escola
foi muito benéfico. -
4:26 - 4:28Um cineasta da vida na natureza
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4:28 - 4:30que vai para o terreno filmar animais,
-
4:30 - 4:32em especial, o seu comportamento,
-
4:32 - 4:35deve ter conhecimentos fundamentais
-
4:35 - 4:36sobre quem são esses animais,
-
4:36 - 4:39como funcionam e um pouco
como se comportam. -
4:39 - 4:41Mas o que aprendi sobre polvos
-
4:41 - 4:44foi no terreno, enquanto cineasta,
-
4:44 - 4:45fazendo filmes com eles,
-
4:45 - 4:49em que temos que passar
grandes temporadas com os animais, -
4:49 - 4:51vendo os polvos a serem polvos
-
4:51 - 4:54nas suas casas no oceano.
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4:54 - 4:56Recordo que fiz uma viagem à Austrália,
-
4:56 - 4:58fui a uma ilha chamada One Tree Island.
-
4:58 - 5:01Aparentemente, a evolução tinha ocorrido
-
5:01 - 5:03a um ritmo muito rápido na One Tree,
-
5:03 - 5:06entre a altura em que a batizaram
e a altura em que lá cheguei, -
5:06 - 5:09porque havia, pelo menos, três árvores
na ilha, quando lá estivemos. -
5:09 - 5:11Seja como for, uma árvore está situada
-
5:11 - 5:13muito perto de um belo recife de coral.
-
5:13 - 5:15Há ali um canal
-
5:15 - 5:18em que a maré avança e recua,
duas vezes por dia, muito rapidamente. -
5:18 - 5:22É um belo recife, muito complexo,
com muitos animais, -
5:22 - 5:24incluindo muitos polvos.
-
5:24 - 5:26Não são só eles
-
5:26 - 5:28mas os polvos na Austrália
-
5:28 - 5:30são certamente mestres da camuflagem.
-
5:30 - 5:33Na realidade, está um ali mesmo.
-
5:34 - 5:36O nosso primeiro problema
foi encontrá-los -
5:36 - 5:38e foi um verdadeiro problema.
-
5:38 - 5:41Mas a ideia era que
íamos ficar ali durante um mês, -
5:41 - 5:43e eu queria que os animais
se habituassem a nós -
5:43 - 5:46para observarmos o seu
comportamento sem os perturbar. -
5:46 - 5:47A primeira semana foi passada
-
5:47 - 5:49a aproximarmo-nos o mais possível,
-
5:49 - 5:51todos os dias um pouco mais,
um pouco mais perto. -
5:51 - 5:54Sabíamos qual era o limite:
eles começavam a contrair-se -
5:54 - 5:56nós íamo-nos embora
e voltámos horas depois. -
5:56 - 5:59Ao fim da primeira semana,
passaram a ignorar-nos, tipo: -
5:59 - 6:02"Não sei o que é esta coisa,
mas não é uma ameaça". -
6:02 - 6:04E continuaram com os seus afazeres.
-
6:04 - 6:05A 30 cm de distância, observávamo-los
-
6:05 - 6:08a acasalar, a fazer a parada nupcial
e a lutar. -
6:08 - 6:10É uma experiência incrível.
-
6:10 - 6:12Uma das imagens mais fantásticas
-
6:12 - 6:14que recordo, pelo menos, visualmente,
-
6:14 - 6:16foi um comportamento de caça.
-
6:16 - 6:19Tinham muitas técnicas diferentes
-
6:19 - 6:21que usavam para se alimentarem,
-
6:21 - 6:23mas esta, em especial, usava a visão.
-
6:23 - 6:25Viam uma cabeça de coral
-
6:25 - 6:27talvez a três metros de distância,
-
6:27 - 6:30e começavam a mover-se
na direção dessa cabeça de coral. -
6:30 - 6:34Não sei se viam um caranguejo
ou se imaginavam que podia haver um -
6:34 - 6:36mas, fosse como fosse,
saltavam do fundo -
6:36 - 6:40nadavam pela água e aterravam
em cima dessa cabeça de coral. -
6:40 - 6:42Depois, a membrana entre os tentáculos
-
6:42 - 6:43envolvia totalmente a cabeça de coral,
-
6:43 - 6:45e assim nadavam em busca de caranguejos.
-
6:45 - 6:48Logo que os caranguejos tocavam no braço,
era o fim deles. -
6:48 - 6:51Eu queria saber o que se passava
por baixo daquela membrana. -
6:51 - 6:53Portanto, arranjámos forma de o descobrir
-
6:53 - 6:56e, pela primeira vez, vi
o famoso bico em ação. -
6:56 - 6:58Foi fantástico.
-
6:58 - 7:01Se pretendemos fazer filmes
sobre um grupo de animais, em particular, -
7:01 - 7:03é melhor escolher um grupo
que seja vulgar. -
7:03 - 7:05Os polvos são vulgares,
vivem nos oceanos -
7:05 - 7:07e também vivem em profundidade.
-
7:07 - 7:09Não posso dizer que os polvos
sejam responsáveis -
7:09 - 7:11pelo meu grande interesse
-
7:11 - 7:13em meter-me em submarinos
e descer em profundidade -
7:13 - 7:15mas a verdade é que gosto disso.
-
7:15 - 7:18Não se parece com nada que já fizemos.
-
7:18 - 7:19Se quiserem abandonar tudo
-
7:19 - 7:21e ver uma coisa que nunca viram,
-
7:21 - 7:24e ter boas hipóteses de ver uma coisa
que nunca ninguém viu, -
7:24 - 7:26metam-se num submarino,
-
7:26 - 7:28fechem a escotilha, abram o oxigénio,
-
7:28 - 7:31e liguem o depurador que elimina o CO2
do ar que respiramos. -
7:32 - 7:33Depois, atiram-nos pela borda fora.
-
7:33 - 7:37Descemos. Não estamos ligados
à superfície senão por um rádio moderno. -
7:37 - 7:39À medida que baixamos,
a máquina de lavar -
7:39 - 7:41à superfície acalma-se.
-
7:41 - 7:43Fica tudo muito silencioso.
-
7:43 - 7:45Começa a ser uma coisa muito agradável.
-
7:45 - 7:47À medida que descemos,
-
7:47 - 7:51a água azul para onde nos atiraram
passa a um azul cada vez mais escuro. -
7:51 - 7:53Por fim, fica cor de alfazema
-
7:53 - 7:56e, após umas centenas de metros,
fica negra como breu. -
7:57 - 7:58Entramos no reino
-
7:58 - 8:01da comunidade das águas médias.
-
8:01 - 8:03Podia fazer uma palestra inteira
-
8:03 - 8:06sobre as criaturas que vivem
nas águas médias. -
8:06 - 8:09Mas basta dizer,
tanto quanto me diz respeito, -
8:09 - 8:11sem qualquer dúvida,
os "designs" mais bizarros -
8:11 - 8:14e os comportamentos mais escandalosos
-
8:14 - 8:17são nos animais que vivem
na comunidade das águas médias. -
8:17 - 8:19Mas vamos ultrapassar esta área
-
8:19 - 8:24que inclui cerca de 95%
do espaço vivo no nosso planeta -
8:24 - 8:27e entrar na dorsal oceânica
que ainda é mais extraordinária. -
8:27 - 8:30A dorsal oceânica é uma enorme
cadeia de montanhas, -
8:30 - 8:33com mais de 60 000 km de comprimento
que serpenteia por todo o globo. -
8:33 - 8:36São montanhas,
com centenas de metros de altura. -
8:36 - 8:38Algumas atingem vários quilómetros
-
8:38 - 8:39e chegam à superfície,
-
8:39 - 8:41criando ilhas como o Havai.
-
8:41 - 8:44O cume desta cadeia de montanhas
-
8:44 - 8:47afasta-se, criando uma fossa submarina.
-
8:47 - 8:50Quando mergulhamos nesta fossa submarina,
é aí que se passa qualquer coisa -
8:50 - 8:52porque há milhares de vulcões ativos
-
8:52 - 8:55que entram em erupção a cada instante,
-
8:55 - 8:57a todo o comprimento dessa cadeia
com 60 000 km. -
8:57 - 9:00Como as placas tectónicas se afastam,
-
9:00 - 9:03o magma, a lava, sobe à superfície
e preenche essas brechas. -
9:03 - 9:05Vemos uma terra, uma terra nova,
-
9:05 - 9:07a criar-se, mesmo diante dos olhos.
-
9:07 - 9:10Por cima desses cumes, há cerca
de 3000 a 4000 metros de água -
9:10 - 9:12que cria uma enorme pressão
-
9:12 - 9:16que obriga a água a descer pelas fendas
para o centro da terra, -
9:16 - 9:18até atingirem uma câmara de magma
-
9:18 - 9:21onde é super aquecida
e super saturada com minerais. -
9:21 - 9:24Aí, inverte o fluxo e é projetada
de novo para a superfície -
9:24 - 9:27saindo como um geiser
em Yellowstone. -
9:27 - 9:28Com efeito, toda esta região
-
9:28 - 9:32parece o Parque Nacional de Yellowstone
com tudo o que ele tem. -
9:32 - 9:35Este líquido que se escapa está
à temperatura de cerca de 350º Celsius. -
9:35 - 9:38A água que o rodeia está
a poucos graus acima de zero. -
9:38 - 9:39Esse líquido arrefece imediatamente,
-
9:39 - 9:41e não pode manter em suspensão
-
9:41 - 9:44todos os materiais
que nele foram dissolvidos -
9:44 - 9:46e que se precipitaram no exterior,
formando um fumo negro. -
9:46 - 9:49É isso que forma estas torres,
estas chaminés -
9:49 - 9:51que medem 3, 7, 10 metros de altura.
-
9:51 - 9:53A todo o comprimento, as paredes
destas chaminés -
9:53 - 9:56vibram com o calor
e estão repletas de vida. -
9:57 - 9:59Há fumos negros por toda a parte
-
9:59 - 10:01e chaminés com vermes tubulares
-
10:01 - 10:03que podem medir
até 3 metros de comprimento. -
10:03 - 10:06No extremo superior,
esses vermes tubulares -
10:06 - 10:08têm belas plumas vermelhas.
-
10:08 - 10:10No meio deste emaranhado
de vermes tubulares -
10:10 - 10:13vive toda uma comunidade de animais:
-
10:13 - 10:15camarões, peixes, lagostas,
caranguejos, -
10:15 - 10:17amêijoas e enxames de artrópodes
-
10:17 - 10:19que brincam a um jogo perigoso
-
10:19 - 10:22entre um sítio escaldante
e um sítio extremamente frio. -
10:22 - 10:23Todo este ecossistema
-
10:23 - 10:27não era conhecido até há 33 anos.
-
10:28 - 10:31Deram-nos a volta à cabeça.
-
10:31 - 10:33Obrigou os cientistas a refletir
-
10:33 - 10:36sobre o local onde a vida
poderá ter começado na Terra. -
10:36 - 10:38Antes da descoberta destes vermes,
-
10:38 - 10:41julgava-se que o segredo da vida na Terra
-
10:41 - 10:43era o Sol e a fotossíntese.
-
10:43 - 10:44Mas, lá em baixo, não há sol,
-
10:44 - 10:46não há fotossíntese,
-
10:46 - 10:49é um ambiente quimiossintético
que lhe dá origem -
10:49 - 10:51e é tudo muito efémero.
-
10:52 - 10:53Podemos filmar isto
-
10:53 - 10:55um incrível respiradouro hidrotérmico
-
10:55 - 10:58que, por momentos, julgamos
só existir noutro planeta. -
10:58 - 11:01É espantoso pensar que está na Terra.
-
11:01 - 11:04Parecem extraterrestres
num ambiente extraterrestre. -
11:04 - 11:07Mas se voltarmos ao mesmo respiradouro
oito anos depois, -
11:07 - 11:08pode estar totalmente morto.
-
11:08 - 11:10Não há água quente.
-
11:10 - 11:12Todos os animais desapareceram,
estão mortos -
11:12 - 11:14mas as chaminés continuam ali
-
11:14 - 11:16criando uma cidade fantasma
muito simpática, -
11:16 - 11:18uma cidade misteriosa, fantasmagórica,
-
11:18 - 11:20mas desprovida de animais.
-
11:21 - 11:23Mas a 15 km da dorsal
-
11:23 - 11:25há outro vulcão em atividade.
-
11:25 - 11:29E formou-se toda uma nova comunidade
do respiradouro hidrotérmico. -
11:29 - 11:32Este tipo de vida e morte das comunidades
dos respiradouros hidrotérmicos -
11:32 - 11:34ocorre todos os 30 ou 40 anos
-
11:34 - 11:36a todo o comprimento da dorsal.
-
11:36 - 11:37Essa natureza efémera
-
11:37 - 11:39da comunidade dos respiradouros
hidrotérmicos -
11:39 - 11:43não é diferente de algumas
das áreas que vimos -
11:43 - 11:46em 35 anos de viagens, a fazer filmes.
-
11:46 - 11:50Onde vamos filmar
uma bela sequência numa baía? -
11:50 - 11:52Regressamos e, já em casa, penso:
-
11:52 - 11:54"Bom, o que é que posso filmar?
-
11:54 - 11:55"Já sei onde posso filmar isso.
-
11:55 - 11:58"Há uma bela baía que tem
muitos corais e estomatópodes", -
11:58 - 12:00Chegamos lá e está morta.
-
12:00 - 12:04Não há corais, há algas em crescimento,
e a água parece sopa de ervilhas. -
12:04 - 12:05"O que é que aconteceu?"
-
12:05 - 12:07Damos meia volta
-
12:07 - 12:10e vemos uma colina atrás de nós
com um bairro em construção, -
12:10 - 12:13Os "bulldozers" transportam
pilhas de terra de um lado para o outro. -
12:13 - 12:16E ali estão a construir um campo de golfe.
-
12:17 - 12:20Estamos nos trópicos.
Está a chover a cântaros. -
12:20 - 12:23Portanto, a água da chuva
escorre pela colina abaixo, -
12:23 - 12:25transportando sedimentos
do local de construção, -
12:25 - 12:28sufocando os corais e matando-os,
-
12:28 - 12:30Os fertilizantes e os pesticidas
-
12:30 - 12:32escorrem para a baía,
do campo de golfe -
12:32 - 12:35— os pesticidas matam todas as larvas
e os pequenos animais, -
12:35 - 12:38os fertilizantes criam esta bela
invasão de plâncton — -
12:38 - 12:40e cá está a sopa de ervilhas.
-
12:40 - 12:42Mas, felizmente, também vi o oposto.
-
12:42 - 12:45Tinha estado num local que era
uma baía muito degradada, -
12:45 - 12:47olhei para ela e disse: "Bolas",
-
12:47 - 12:49"e fui trabalhar
para o outro lado da ilha. -
12:49 - 12:51Cinco anos depois, voltei lá
-
12:51 - 12:54e essa mesma baía está hoje
esplêndida, uma beleza. -
12:54 - 12:57Está a dar corais, peixes por todo o lado,
-
12:57 - 12:59uma água límpida como cristal.
-
12:59 - 13:01"O que é que aconteceu?"
-
13:01 - 13:03Aconteceu que a comunidade
mobilizou-se. -
13:03 - 13:06Reconheceram o que estava a acontecer
na colina e puseram-lhe fim, -
13:06 - 13:08aprovaram leis e exigiram autorizações
-
13:09 - 13:11para uma construção responsável
-
13:11 - 13:12e para manutenção do campo de golfe.
-
13:12 - 13:16Impediram que os sedimentos
e os químicos escorressem para a baía, -
13:17 - 13:18e a baía recuperou.
-
13:18 - 13:20O oceano tem uma capacidade espantosa
-
13:20 - 13:23de recuperar, se o deixarmos em paz.
-
13:23 - 13:25Penso que Margaret Mead
-
13:25 - 13:27o disse de forma melhor.
-
13:27 - 13:30Disse que um pequeno grupo
de pessoas criteriosas -
13:30 - 13:32podem mudar o mundo.
-
13:32 - 13:34Com efeito, é a única coisa
que o pode fazer. -
13:34 - 13:37Um pequeno grupo
de pessoas criteriosas -
13:37 - 13:38alterou aquela baía.
-
13:38 - 13:41Sou um grande adepto
de organizações de base. -
13:41 - 13:43Já fiz muitas palestras
-
13:43 - 13:46onde, no final, inevitavelmente,
-
13:46 - 13:48uma das primeiras perguntas
que surge é: -
13:48 - 13:49"O que é que eu posso fazer?
-
13:49 - 13:51"Sou só um indivíduo, só uma pessoa.
-
13:51 - 13:54"Estes problemas são enormes e globais,
é uma coisa esmagadora". -
13:55 - 13:56Uma pergunta muito pertinente.
-
13:56 - 14:01A minha resposta é que não olhem
para os grandes problemas do mundo. -
14:01 - 14:03Olhem para o vosso quintal.
-
14:04 - 14:06Olhem para o vosso coração.
-
14:06 - 14:09Aquilo que vos preocupa não é
o sítio onde vivem? -
14:10 - 14:11Consertem-no.
-
14:11 - 14:13Criem uma zona de cura
no vosso bairro -
14:13 - 14:15e encorajem os outros
a fazer o mesmo. -
14:15 - 14:18Talvez essas zonas de cura
possam salpicar um mapa, -
14:18 - 14:20pequenos pontos num mapa.
-
14:20 - 14:23Na verdade, a forma como
podemos comunicar hoje em dia -
14:23 - 14:26— em que o Alasca sabe instantaneamente
o que se passa na China, -
14:26 - 14:28e os que fizeram isto em Inglaterra
tentaram... -
14:28 - 14:30e toda a gente fala com toda a gente —
-
14:30 - 14:32já não são pontos isolados num mapa,
-
14:32 - 14:34é uma rede que criámos.
-
14:34 - 14:36Essas zonas de cura
talvez comecem a crescer -
14:36 - 14:39e, talvez até se sobreponham,
e possam acontecer coisas boas. -
14:39 - 14:41É assim que eu respondo àquela pergunta.
-
14:42 - 14:44Procurem no vosso quintal,
olhem para o espelho. -
14:44 - 14:47O que é que podem fazer
que seja mais responsável -
14:47 - 14:48do que o que estão a fazer agora?
-
14:49 - 14:51Façam isso e passem a palavra.
-
14:52 - 14:54Os animais da comunidade dos respiradouros
-
14:54 - 14:55não podem fazer muito
-
14:55 - 14:59quanto à vida e à morte
que se passa onde vivem, -
14:59 - 15:00mas nós podemos.
-
15:00 - 15:04Em teoria, nós somos seres humanos
pensantes, racionais. -
15:04 - 15:06Podemos alterar
o nosso comportamento -
15:06 - 15:09o que influenciará e afetará o ambiente,
-
15:09 - 15:11como aquelas pessoas alteraram
a saúde da baía. -
15:12 - 15:14O desejo de Sylvia, prémio TED,
-
15:14 - 15:17foi implorar-nos a fazer
tudo o que pudermos, -
15:18 - 15:19tudo o pudermos,
-
15:19 - 15:21para pôr de lado,
não coisas insignificantes, -
15:21 - 15:23mas coisas significativas
-
15:23 - 15:25para a preservação do oceano
-
15:25 - 15:28"os locais de esperança",
como ela lhes chama. -
15:28 - 15:31Eu aplaudo isso. Aplaudo fortemente.
-
15:31 - 15:34Tenho esperança que alguns
desses "locais de esperança" -
15:34 - 15:36possam ser no oceano profundo,
-
15:36 - 15:39uma zona que, historicamente,
-
15:39 - 15:42tem sido seriamente negligenciada,
ou mesmo abusada. -
15:42 - 15:45O termo "afundar" vem-me à cabeça:
-
15:45 - 15:48"Se é demasiado grande,
ou demasiado tóxico para um aterro, -
15:48 - 15:49"afundem-no!"
-
15:49 - 15:52Portanto, espero
que também possamos tratar -
15:52 - 15:54de alguns desses "locais de esperança"
no fundo do mar. -
15:56 - 15:58Eu não vou fazer um desejo,
-
15:58 - 16:00mas certamente posso dizer
-
16:00 - 16:02que farei tudo o que puder
-
16:02 - 16:05para apoiar o desejo de Sylvia Earle.
-
16:05 - 16:06Fá-lo-ei.
-
16:06 - 16:07Muito obrigado.
-
16:07 - 16:10(Aplausos)
- Title:
- Apaixonado por um polvo
- Speaker:
- Mike deGruy
- Description:
-
O cineasta submarino, Mike deGruy passou décadas a observar o oceano com intimidade. Um comunicador consumado, sobe ao palco da Mission Blue para nos contar a sua admiração e entusiasmo — e os seus receios — pelo coração azul do nosso planeta.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 16:09
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