O meu pai, as doenças mentais e a pena de morte | Clive Stafford Smith | TEDxExeter
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0:13 - 0:14Olá.
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0:14 - 0:16Sabem, eu aqui sinto-me em casa,
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0:16 - 0:19porque estive em Guantánamo,
muitas vezes, 34 vezes. -
0:19 - 0:20(Risos)
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0:20 - 0:23Portanto, estar numa área muito fechada,
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0:23 - 0:27com luzes brilhantes de interrogatório,
proibição de comer ou de beber, -
0:27 - 0:29para mim é como estar em casa.
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0:29 - 0:31(Risos)
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0:31 - 0:35Vou começar por ser incorreto
com o pessoal do TEDx, claro, -
0:35 - 0:37mas vou começar por fazer
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0:37 - 0:40um pequeno tributo à minha tia
que morreu há pouco tempo. -
0:40 - 0:44A minha tia Jean tinha 94 anos,
teve uma vida boa. -
0:45 - 0:49Mas a tia Jean escolheu
a data errada para nascer. -
0:49 - 0:51Nasceu em 1920.
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0:52 - 0:55Enquanto filha, na nossa família,
teve muito poucas oportunidades. -
0:55 - 0:57Era uma mulher brilhante,
muito inteligente, -
0:57 - 1:01mas foi o meu pai, o seu irmão mais novo,
que teve todas as regalias, -
1:01 - 1:05que foi para Cambridge
onde foi o primeiro do curso. -
1:05 - 1:08A minha tia não teve nada
e eu provocava-a, -
1:08 - 1:11dizendo que se ela tivesse tido
— ela era muito conservadora — -
1:11 - 1:14provavelmente teria governado o país
com mão de ferro, -
1:14 - 1:18mais eficazmente do que Margaret Thatcher
que eu considerava terrível. -
1:19 - 1:22O meu pai, como disse, foi
quem teve as oportunidades -
1:22 - 1:27mas, infelizmente, sofreu toda a vida
de doença bipolar. -
1:28 - 1:32Apesar de também ser muito inteligente,
e de ter tido todas as oportunidades, -
1:33 - 1:35era-lhe muito difícil fazer coisas.
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1:35 - 1:40Vou contar-vos algumas histórias
de que me lembrei ultimamente. -
1:40 - 1:43Uma foi quando tinha sete anos
— e é só para ilustrar — -
1:43 - 1:46gosto muito do meu pai,
não quero denegri-lo de forma alguma. -
1:47 - 1:50Quando eu tinha sete anos,
ele chamou-me à biblioteca e disse: -
1:50 - 1:55"Clive, a tua geração mantém-se
muito infantil, imatura. -
1:56 - 1:59"Francamente, tu já tens sete anos
e é altura de viveres por tua conta". -
1:59 - 2:01(Risos)
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2:01 - 2:04"Toma lá £200, e desaparece".
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2:04 - 2:06Estão a ver, fiquei confuso.
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2:06 - 2:08A minha semanada, na altura,
era um xelim por semana. -
2:08 - 2:10Na altura, eu não sabia fazer contas
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2:10 - 2:12mas fiz as contas ontem à noite.
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2:12 - 2:15Ele tinha-me dado 80 anos
da minha semanada! -
2:15 - 2:18Apesar disso, não me sentia
preparado para sair de casa -
2:18 - 2:22e, felizmente, como sempre,
a minha mãe resolveu o problema, -
2:22 - 2:24guardando o dinheiro
e mandando-me para a cama. -
2:25 - 2:28Estas coisas aconteciam
regularmente com o meu pai. -
2:28 - 2:31Houve outra história de que me lembro
algum tempo depois, -
2:31 - 2:35quando eu estava a defender um caso
da pena de morte no sul do Mississippi. -
2:35 - 2:38O meu pai apareceu para me ajudar
-
2:38 - 2:43e, como sempre, chegou à conclusão
de que eu estava a fazer asneira. -
2:43 - 2:45Por isso, foi de boleia
a Jackson, no Mississippi, -
2:45 - 2:48conseguiu entrar na mansão
do governador, -
2:48 - 2:50onde disse ao governador que achava
-
2:50 - 2:52que não só o meu cliente
devia ser executado -
2:52 - 2:55como faria um favor ao mundo
se também me executasse a mim. -
2:56 - 2:57(Risos)
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2:57 - 3:01Muitas autoridades do Mississippi
concordavam com ele. -
3:01 - 3:03(Risos)
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3:03 - 3:06Mas, naquela altura, para mim,
foi um bocado embaraçoso. -
3:06 - 3:08O que me ajudou, por fim,
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3:08 - 3:11— dado o meu trabalho
com casos de pena de morte — -
3:11 - 3:15foi compreender o meu pai
e que algumas das coisas que ele fazia -
3:15 - 3:18não eram produto de um espírito racional.
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3:19 - 3:22Infelizmente, muita gente via
as coisas que o meu pai fazia -
3:22 - 3:26e odiavam-no por isso, achavam
que ele era uma fraude ou pior. -
3:26 - 3:29Na verdade, ele fez algumas coisas
extraordinariamente bizarras, -
3:29 - 3:31ao longo dos anos.
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3:31 - 3:33Uma dessas pessoas era a minha tia.
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3:33 - 3:36A minha tia Jean era uma mulher
extremamente compreensiva, -
3:36 - 3:41mas não conseguia compreender
ou aceitar, talvez seja a melhor palavra, -
3:41 - 3:45que o seu irmão mais novo,
de olhos azuis, tivesse uma doença mental. -
3:45 - 3:48Por isso, achava sempre
que o que ele fazia era mau, -
3:48 - 3:51em vez de ser o produto
da sua doença mental. -
3:52 - 3:55O que é triste, porque eu penso
que, se o meu pai -
3:55 - 3:58tivesse sido diagnosticado mais cedo,
talvez tivesse tido ajuda. -
3:58 - 4:01Ele só foi observado uma vez
e só recebeu tratamento uma vez. -
4:01 - 4:03Isso arruinou-lhe a vida.
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4:03 - 4:06Isto leva-me, naturalmente,
a Ricky Langley. -
4:06 - 4:11Ricky Langley é um tipo
que representei na Louisiana. -
4:12 - 4:16Ricky Langley é um pedófilo
que molestou muitas crianças -
4:16 - 4:20e que acabou por matar um miúdo
de seis anos, chamado Jeremy Guillory. -
4:21 - 4:26Acabei por aceitar o caso dele
em 1993, pela primeira vez. -
4:26 - 4:31A história dele começa muito
antes de ele ter nascido. -
4:32 - 4:34Vou falar-vos desta história
-
4:34 - 4:36porque leva a uma mulher
chamada Lorelei Guillory -
4:36 - 4:39que é a mãe da criança que foi morta
-
4:39 - 4:41e que é uma das minhas grandes heroínas.
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4:41 - 4:47Antes de Ricky nascer, a mãe e o pai dele
seguiam por uma estrada -
4:47 - 4:49com os dois filhos no banco de trás.
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4:49 - 4:51Alcide ia a guiar e estava embriagado,
-
4:51 - 4:53saiu da estrada e embateu
num poste telegráfico. -
4:53 - 4:57Uma das crianças era uma criança
de cabelo louro, com seis anos, -
4:58 - 4:59chamado Oscar-Lee.
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4:59 - 5:03Uma criança encantadora,
que era o menino dos olhos dos pais. -
5:03 - 5:05Morreu instantaneamente.
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5:05 - 5:08A irmã, um pouco mais nova que ele,
ficou decapitada e morreu. -
5:08 - 5:10Uma coisa pavorosa.
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5:10 - 5:13Betsy, a mãe, foi projetada
pelo vidro da frente -
5:13 - 5:15e sofreu ferimentos terríveis.
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5:15 - 5:19Acabou no Hospital Charity
durante quase dois anos. -
5:19 - 5:23Esteve metida em gesso
do pescoço até aos tornozelos. -
5:23 - 5:27No julgamento, arranjei um voluntário
australiano para servir de modelo, -
5:27 - 5:29o que vos deve servir de aviso
-
5:29 - 5:31para nunca trabalharem
como voluntários num caso destes. -
5:31 - 5:36Mas, enquanto estava metida
em gesso, ficou grávida. -
5:36 - 5:39Claro que isso teve a ver com Alcide,
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5:39 - 5:44e com as suas ideias retrógradas
quanto ao papel de maridos e mulheres. -
5:45 - 5:48Ninguém acreditou que ela estava
grávida, como é que podia ser? -
5:48 - 5:51Embora isso fosse outra coisa
que demonstrámos no julgamento, -
5:51 - 5:54pelo menos para grande gozo do juiz
que era um bocado pervertido. -
5:54 - 5:56(Risos)
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5:56 - 5:58Um tipo encantador.
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5:58 - 5:59Portanto, ela ficou grávida
-
5:59 - 6:02mas, durante cinco meses,
ninguém acreditou nela. -
6:02 - 6:05Durante esses cinco meses,
Ricky, que era o feto, -
6:06 - 6:09foi sujeito a uma Hiroxima privada
de raios X -
6:09 - 6:11e a todos os medicamentos
que ela estava a tomar -
6:11 - 6:14que nunca deviam ser dados
a uma mulher grávida. -
6:14 - 6:18Curiosamente, um desses medicamentos
tem sido relacionado com a pedofilia. -
6:18 - 6:20Quando se expõe um feto a esse medicamento
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6:20 - 6:24esse indivíduo fica mais suscetível
de vir a ser um pedófilo. -
6:24 - 6:27É tão estranho que não apresentámos
isso ao júri, -
6:27 - 6:30porque eles pensariam que o tínhamos
inventado, mas é verdade. -
6:30 - 6:36Ao fim de cinco meses, os médicos
concordaram que ela estava grávida, -
6:36 - 6:40cortaram o gesso, ficaram
assarapantados e disseram: -
6:40 - 6:42"Tem de fazer um aborto.
Não há outra solução, -
6:42 - 6:45"depois de tudo o que lhe fizemos
a si e a este feto". -
6:45 - 6:47Mas Alcide, o marido, disse:
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6:47 - 6:50"Não, não pode ser. Sou católico,
não fazemos abortos". -
6:51 - 6:54Por isso, Betsy manteve Ricky até ao fim.
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6:54 - 6:58Quando ele nasceu, era óbvio
que não era louro, de olhos azuis, -
6:58 - 7:00como Oscar-Lee, o menino dos seus olhos.
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7:00 - 7:04Tinha um aspeto estranho que, suponho,
é o melhor que se pode dizer dele. -
7:04 - 7:08Acredito que disseram
isso de mim, em criança, e ainda dizem. -
7:08 - 7:11Mas Ricky, obviamente,
tinha sofrido imenso -
7:12 - 7:16e rapidamente se tornou óbvio
que se passava qualquer coisa. -
7:17 - 7:18Não era Oscar-Lee.
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7:18 - 7:22O pai zombava dele
por ele não ser Oscar-Lee. -
7:22 - 7:25Ele mesmo foi molestado.
-
7:25 - 7:29Depois, aos oito anos, começa a dormir
nas sepulturas do cemitério local. -
7:29 - 7:34Aos 10 anos, põe um anúncio
no quadro das informações da escola: -
7:34 - 7:36"Eu não sou Ricky Langley,
eu sou Oscar-Lee," -
7:36 - 7:39que, como se lembram,
era o irmão morto. -
7:39 - 7:42Ricky já estava a desenvolver a psicose
-
7:42 - 7:44de que era o irmão morto, Oscar-Lee
-
7:44 - 7:48ou que Oscar-Lee era o seu "alter ego"
que era o seu atormentador, -
7:48 - 7:51que o obrigava a fazer coisas
que ele não queria fazer. -
7:52 - 7:55Ricky começou a molestar
outras crianças, sem dúvida nenhuma. -
7:56 - 7:59Ele não tinha noção, nessa altura,
do que se estava a passar. -
7:59 - 8:03Acabou por ir parar
a uma prisão na Geórgia, -
8:03 - 8:08por molestar uma criança,
o filho do seu primo. -
8:08 - 8:10Foi a primeira vez que recebeu ajuda
-
8:10 - 8:12e os conselheiros disseram-lhe:
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8:12 - 8:16"És pedófilo, és doente mental,
não podemos tratar-te, não há tratamento. -
8:16 - 8:18"Vais continuar a molestar
-
8:18 - 8:21— com esta terapia,
que é um pouco bizarra — -
8:21 - 8:24"e daqui a um ano sais da prisão
-
8:24 - 8:27"e inevitavelmente vais molestar
outra criança". -
8:27 - 8:30Ricky, tal como o meu pai,
era um rapaz muito inteligente. -
8:30 - 8:34Há com frequência o estereótipo
que uma pessoa muito inteligente -
8:34 - 8:38não pode ter perturbações mentais
o que obviamente é absurdo. -
8:38 - 8:41Quando lhe disseram aquilo,
Ricky disse: "Vocês convenceram-me". -
8:41 - 8:44E escreveu uma carta ao Conselho
de Indultos e Penas Suspensas da Geórgia: -
8:44 - 8:47"Por amor de Deus,
não me deixem sair em liberdade. -
8:47 - 8:50"Ponham-me num hospital psiquiátrico
onde é o meu lugar". -
8:50 - 8:53Mas como a burocracia é o que é,
-
8:53 - 8:55ignoraram-no e puseram-no em liberdade.
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8:55 - 9:00Claro que, um ano depois,
ele acaba por matar uma criança, -
9:00 - 9:04Jeremy Guillory, de seis anos,
que era o filho de Lorelei Guillory, -
9:04 - 9:06a mulher a que já me referi.
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9:07 - 9:11Quando falei com ele a primeira vez,
e ele me contou tudo, disse-me: -
9:11 - 9:14"Eu pensei que ele era Oscar-Lee,
o meu atormentador, -
9:14 - 9:16"e eu estava a tentar ver-me livre dele".
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9:16 - 9:20Obviamente, uma das grandes dificuldades
de lidar com um caso como este -
9:20 - 9:23é tentar explicar a pessoas razoáveis
-
9:25 - 9:28uma coisa que é irracional,
que é muito difícil de compreender. -
9:28 - 9:31Mas uma das poucas vantagens
que Ricky tinha -
9:31 - 9:33era que havia uma foto de Oscar-Lee
-
9:33 - 9:35e uma foto de Jeremy Guillory
-
9:35 - 9:37e nem a tia de Oscar-Lee
conseguia distingui-las. -
9:37 - 9:41Talvez houvesse uma pequena pista
do que Ricky estava a sentir ou a ver. -
9:41 - 9:44Mas, sem dúvida, ele tinha
matado a pobre criança. -
9:44 - 9:46Foi condenado à morte,
no primeiro julgamento. -
9:46 - 9:49Os jurados aceitaram
a sua doença mental, mas disseram: -
9:49 - 9:51"Pois, mas ele é perigoso,
o melhor é matá-lo". -
9:51 - 9:53Recorremos a um novo julgamento
-
9:53 - 9:55e, antes dele, comecei
a conhecer Ricky muito melhor. -
9:55 - 9:59Conheci Lorelei, a mãe
da criança que ele tinha matado. -
9:59 - 10:02Lorelei era uma personagem fascinante.
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10:02 - 10:05Era uma alcoólica recuperada,
tinha pouca instrução, -
10:05 - 10:08mas tinha uma compaixão descomunal.
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10:08 - 10:11O que ela queria sobretudo,
enquanto mãe da vítima, -
10:11 - 10:13era perceber "Porquê?"
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10:13 - 10:15Porque é que aquilo tinha acontecido?
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10:16 - 10:17Eu falei com ela e disse-lhe:
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10:18 - 10:21"Se quer compreender,
pode falar com Ricky. -
10:21 - 10:24"Eu sei que isso deve ser difícil,
mas Ricky gostaria de falar consigo, -
10:24 - 10:28"para pedir perdão, porque ele sabe
que tirou a vida ao seu filho. -
10:28 - 10:31"Mas explicar um pouco
até que ponto ele é doente mental -
10:32 - 10:35"isso não vai explicar tudo
completamente, -
10:35 - 10:39"porque foi um ato irracional,
mas pode ajudá-la". -
10:39 - 10:42Penso que foi uma ajuda
para Lorelei, e ela disse: -
10:42 - 10:44"Sim, vou fazer isso".
-
10:44 - 10:47Então, foi à prisão, sozinha,
para falar com Ricky. -
10:47 - 10:48Eu disse-lhe: "Olhe, fale com Ricky
-
10:48 - 10:50"Se não gostar do que ele diz,
-
10:50 - 10:53"pode testemunhar contra ele,
eu não me importo, é justo para si". -
10:53 - 10:56Então, ela foi lá, tratou-o
sempre por "Langley". -
10:57 - 11:00Obviamente, no início,
ela tinha reservas quanto a ele. -
11:00 - 11:05Ricky explicou toda a história
da sua vida e pediu-lhe perdão. -
11:05 - 11:07Ao fim de três horas
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11:07 - 11:10a falar com a pessoa que tinha matado
o seu filho de seis anos, -
11:10 - 11:13ela diz-lhe, tratando-o por Ricky,
pela primeira vez: -
11:13 - 11:16"Ricky, vou defender-te!"
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11:16 - 11:19Sai da prisão, vai ao gabinete
do promotor público -
11:19 - 11:22— não vou dizer quem era,
eu não gostava nada dele — -
11:22 - 11:26vai ao gabinete dele
e explica-lhe tudo aquilo. -
11:26 - 11:29Diz: "Penso que Ricky Langley
estava doente -
11:29 - 11:32"e não quero essa estupidez
da pena de morte. -
11:32 - 11:35"Só vai contribuir para o meu sofrimento,
-
11:35 - 11:37"não vai resolver nada".
-
11:37 - 11:39O promotor público diz-lhe,
segundo ela conta: -
11:39 - 11:44"Miss Guillory, a senhora é uma defensora
muita estranha, sendo a vítima". -
11:44 - 11:48Então, ele trata de pedir
a pena de morte, mais uma vez. -
11:48 - 11:52As autoridades tentaram
tirar-lhe o outro filho -
11:52 - 11:55porque ela não era boa mãe,
porque tinha feito um contacto estranho -
11:55 - 11:58com a pessoa que tinha matado
o seu primeiro filho. -
11:58 - 12:01Vamos para o julgamento
e uma das coisas adoráveis -
12:01 - 12:03— gosto de julgamentos
de pena capital nos EUA, -
12:03 - 12:06porque faz-se todo o tipo
de perguntas às pessoas — -
12:06 - 12:07gostava de fazer isso com vocês.
-
12:07 - 12:10"Está sob juramento, tem de responder
a tudo o que eu perguntar". -
12:10 - 12:12É muito divertido.
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12:12 - 12:13(Risos)
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12:13 - 12:16Muito divertido para mim,
mas não para vocês. -
12:16 - 12:17(Risos)
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12:18 - 12:21Eu estava a escolher o júri,
eram pessoas simpáticas. -
12:21 - 12:23Arranjámos 12 pessoas
que tinham familiares próximos -
12:23 - 12:25que tinham graves doenças mentas
-
12:25 - 12:27e que percebiam bem a situação.
-
12:27 - 12:31E que se riam das piadas idiotas
que eu contava. -
12:31 - 12:35Eu estava confiante de que o resultado
ia ser bom neste julgamento, -
12:35 - 12:38porque eles também
não gostavam do promotor. -
12:38 - 12:40Então, falei com Lorelei.
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12:40 - 12:43Num processo de pena de morte,
nos EUA, há dois julgamentos. -
12:43 - 12:45O primeiro é definir se há ou não
um homicídio qualificado -
12:45 - 12:48e, só se se trata
de um homicídio qualificado -
12:48 - 12:50é que se realiza o segundo,
que é de vida ou morte, -
12:50 - 12:53ou é condenado a prisão perpétua
ou à pena de morte. -
12:53 - 12:55Eu disse a Lorelei:
"Estas pessoas são boas pessoas, -
12:55 - 12:58"não vão condená-lo à pena de morte.
-
12:58 - 13:02"Você não vai ter a hipótese que queria
de testemunhar na fase da condenação, -
13:02 - 13:06"para dizer que a pena de morte
teria um efeito terrível para si. -
13:06 - 13:08"Não vai ter essa oportunidade.
-
13:08 - 13:12"Preciso de lhe dizer isto, porque
receio que seja o que vai acontecer. -
13:13 - 13:15"Estou muito contente,
mas tenho pena por sua causa". -
13:15 - 13:19Então, ela foi-se embora
e, muito religiosa, rezou. -
13:19 - 13:21Quando voltou, na manhã seguinte, disse:
-
13:21 - 13:24"A lógica da minha posição é..."
-
13:24 - 13:27Ela disse isto com um sotaque
pronunciado do sul da Louisiana. -
13:27 - 13:31"A lógica da minha posição
é que ele tem uma doença mental, -
13:32 - 13:35"ele não devia estar na prisão,
devia estar num hospital psiquiátrico. -
13:35 - 13:38"Quero testemunhar que ele devia
ser considerado 'não culpado' -
13:38 - 13:39"por razões de insanidade,
-
13:39 - 13:42"porque ele estava insano
na altura em que matou o meu filho". -
13:42 - 13:44Eu disse: "Ok".
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13:45 - 13:48Ela disse: "Mas há uma coisa
de que preciso, é a garantia -
13:48 - 13:51"de que ele nunca sairá
do hospital psiquiátrico -
13:51 - 13:52"para fazer mal a outra criança".
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13:52 - 13:54Eu disse: "Isso é fácil.
-
13:54 - 13:56"É o que Ricky quer".
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13:56 - 13:57Ele queria ser uma cobaia
-
13:57 - 14:01porque ele sabia o que era,
o que tinha feito. -
14:02 - 14:04Uma das coisas nisto tudo,
-
14:04 - 14:07não obstante o que o "News of the World"
costumava fazer, -
14:07 - 14:12é que ninguém odeia mais Ricky Langley
do que o próprio Ricky Langley. -
14:12 - 14:15Ele queria ser uma cobaia
para poder ser estudado, -
14:15 - 14:18para outras pessoas não sofrerem
o que ele tinha sofrido -
14:18 - 14:21e outras crianças não sofressem
o que ele tinha causado. -
14:21 - 14:24Assim, ele assinou
tudo o que tinha de assinar. -
14:24 - 14:25Perguntei a Lorelei:
-
14:26 - 14:28"O que lhe vou perguntar
enquanto testemunha?" -
14:28 - 14:30E ela: "Só me faça uma pergunta".
-
14:30 - 14:31Foi o que eu fiz.
-
14:31 - 14:34Desculpem, esta parte
sempre me comove um pouco, -
14:34 - 14:38quando falo disto, porque foi
um momento humano extraordinário. -
14:38 - 14:41Ela está no banco das testemunhas
e faço-lhe uma pergunta: -
14:41 - 14:45"Miss Guillory, o que é que pensa
daquele homem ali -
14:45 - 14:47"que matou o seu filho de seis anos?
-
14:47 - 14:50"Ele estava doente quando o fez?"
-
14:50 - 14:54Ela vira-se para os jurados e diz:
"Sim, na realidade, penso que estava. -
14:54 - 14:59"Penso que Ricky Langley tem pedido ajuda,
desde o dia em que nasceu. -
14:59 - 15:04"Não sei por que razão,
a família, a sociedade, o sistema legal -
15:04 - 15:06"nunca o escutaram.
-
15:06 - 15:08"Aqui, sentada no banco das testemunhas,
-
15:08 - 15:11"eu oiço os gritos de socorro
do meu filho, Jeremy. -
15:11 - 15:14"Mas também oiço aquele homem
a pedir ajuda. -
15:14 - 15:18"Penso que ele estava mentalmente
doente na atura em que matou o meu filho". -
15:18 - 15:21Quando fazemos a argumentação
final num processo de pena de morte -
15:21 - 15:23— e eu já fiz muitos —
-
15:23 - 15:25é muito difícil,
é uma grande responsabilidade. -
15:26 - 15:28Já não é tão divertido
como a primeira parte, -
15:28 - 15:29que é a dos interrogatórios.
-
15:29 - 15:32Mas esta foi fácil. Só disse aos jurados:
-
15:32 - 15:35"Oiçam o que aquela senhora diz.
Não posso fazer melhor". -
15:36 - 15:39Claro, eles absolveram-no
do homicídio em primeiro grau, -
15:39 - 15:42embora ainda estejamos a lutar,
a batalha dele e de Lorelei -
15:42 - 15:44por uma verdadeira justiça.
-
15:45 - 15:46Há duas razões para eu contar isto.
-
15:46 - 15:49Uma é que ela é uma vítima.
-
15:49 - 15:52Uma das coisas terríveis
da nossa sociedade atual -
15:52 - 15:53é a forma como o governo,
-
15:53 - 15:57o grande guardião do bem ou do mal,
ensina as vítimas a odiar. -
15:58 - 16:02Lorelei é uma das minhas grandes heroínas
porque tentou compreender -
16:02 - 16:05e, obviamente, é o que está certo fazer.
-
16:05 - 16:08Mas a outra coisa é sobre
as doenças mentais. -
16:10 - 16:13Ricky compreende que tem
uma doença mental, -
16:13 - 16:16o que é mais do que
o meu pobre pai percebia. -
16:16 - 16:18Mas o que é importante
-
16:18 - 16:21é que, apesar de a minha tia
ser solidária e inteligente -
16:21 - 16:24nunca compreendeu realmente o meu pai,
-
16:24 - 16:26que ele tinha uma doença mental.
-
16:26 - 16:28Mas Lorelei Guillory compreendeu.
-
16:28 - 16:32Lorelei Guillory pôde ver
não só que Ricky era doente mental -
16:32 - 16:36mas que precisamos de compreendê-lo
em vez de o odiar. -
16:36 - 16:40Essa é a base para compreender as pessoas,
-
16:40 - 16:44e, talvez, para nos levar a um sítio
em que talvez possamos evitar -
16:44 - 16:47que algumas dessas coisas
aconteçam no futuro. -
16:47 - 16:49É essa a razão por que eu quero
contar esta história -
16:49 - 16:53porque Lorelei Guillory é uma
das grandes heroínas anónimas -
16:53 - 16:55ou de todos os heróis do mundo
-
16:55 - 16:58e eu aproveito esta altura
para contar a história dela. -
16:58 - 16:59Muito obrigado.
-
16:59 - 17:00(Aplausos)
- Title:
- O meu pai, as doenças mentais e a pena de morte | Clive Stafford Smith | TEDxExeter
- Description:
-
A história de Ricky, um molestador e assassino de crianças, condenado à morte, e da mãe da criança que ele matou, e a história de uma doença mental, da pena de morte e da tentativa de compreensão por parte da mãe da vítima.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 17:13
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter | ||
Mafalda Ferreira accepted Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter | ||
Mafalda Ferreira edited Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for My father, mental illness, and the death penalty | Clive Stafford Smith | TEDxExeter |