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O meu pai, as doenças mentais e a pena de morte | Clive Stafford Smith | TEDxExeter

  • 0:13 - 0:14
    Olá.
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    Sabem, eu aqui sinto-me em casa,
  • 0:16 - 0:19
    porque estive em Guantánamo,
    muitas vezes, 34 vezes.
  • 0:19 - 0:20
    (Risos)
  • 0:20 - 0:23
    Portanto, estar numa área muito fechada,
  • 0:23 - 0:27
    com luzes brilhantes de interrogatório,
    proibição de comer ou de beber,
  • 0:27 - 0:29
    para mim é como estar em casa.
  • 0:29 - 0:31
    (Risos)
  • 0:31 - 0:35
    Vou começar por ser incorreto
    com o pessoal do TEDx, claro,
  • 0:35 - 0:37
    mas vou começar por fazer
  • 0:37 - 0:40
    um pequeno tributo à minha tia
    que morreu há pouco tempo.
  • 0:40 - 0:44
    A minha tia Jean tinha 94 anos,
    teve uma vida boa.
  • 0:45 - 0:49
    Mas a tia Jean escolheu
    a data errada para nascer.
  • 0:49 - 0:51
    Nasceu em 1920.
  • 0:52 - 0:55
    Enquanto filha, na nossa família,
    teve muito poucas oportunidades.
  • 0:55 - 0:57
    Era uma mulher brilhante,
    muito inteligente,
  • 0:57 - 1:01
    mas foi o meu pai, o seu irmão mais novo,
    que teve todas as regalias,
  • 1:01 - 1:05
    que foi para Cambridge
    onde foi o primeiro do curso.
  • 1:05 - 1:08
    A minha tia não teve nada
    e eu provocava-a,
  • 1:08 - 1:11
    dizendo que se ela tivesse tido
    — ela era muito conservadora —
  • 1:11 - 1:14
    provavelmente teria governado o país
    com mão de ferro,
  • 1:14 - 1:18
    mais eficazmente do que Margaret Thatcher
    que eu considerava terrível.
  • 1:19 - 1:22
    O meu pai, como disse, foi
    quem teve as oportunidades
  • 1:22 - 1:27
    mas, infelizmente, sofreu toda a vida
    de doença bipolar.
  • 1:28 - 1:32
    Apesar de também ser muito inteligente,
    e de ter tido todas as oportunidades,
  • 1:33 - 1:35
    era-lhe muito difícil fazer coisas.
  • 1:35 - 1:40
    Vou contar-vos algumas histórias
    de que me lembrei ultimamente.
  • 1:40 - 1:43
    Uma foi quando tinha sete anos
    — e é só para ilustrar —
  • 1:43 - 1:46
    gosto muito do meu pai,
    não quero denegri-lo de forma alguma.
  • 1:47 - 1:50
    Quando eu tinha sete anos,
    ele chamou-me à biblioteca e disse:
  • 1:50 - 1:55
    "Clive, a tua geração mantém-se
    muito infantil, imatura.
  • 1:56 - 1:59
    "Francamente, tu já tens sete anos
    e é altura de viveres por tua conta".
  • 1:59 - 2:01
    (Risos)
  • 2:01 - 2:04
    "Toma lá £200, e desaparece".
  • 2:04 - 2:06
    Estão a ver, fiquei confuso.
  • 2:06 - 2:08
    A minha semanada, na altura,
    era um xelim por semana.
  • 2:08 - 2:10
    Na altura, eu não sabia fazer contas
  • 2:10 - 2:12
    mas fiz as contas ontem à noite.
  • 2:12 - 2:15
    Ele tinha-me dado 80 anos
    da minha semanada!
  • 2:15 - 2:18
    Apesar disso, não me sentia
    preparado para sair de casa
  • 2:18 - 2:22
    e, felizmente, como sempre,
    a minha mãe resolveu o problema,
  • 2:22 - 2:24
    guardando o dinheiro
    e mandando-me para a cama.
  • 2:25 - 2:28
    Estas coisas aconteciam
    regularmente com o meu pai.
  • 2:28 - 2:31
    Houve outra história de que me lembro
    algum tempo depois,
  • 2:31 - 2:35
    quando eu estava a defender um caso
    da pena de morte no sul do Mississippi.
  • 2:35 - 2:38
    O meu pai apareceu para me ajudar
  • 2:38 - 2:43
    e, como sempre, chegou à conclusão
    de que eu estava a fazer asneira.
  • 2:43 - 2:45
    Por isso, foi de boleia
    a Jackson, no Mississippi,
  • 2:45 - 2:48
    conseguiu entrar na mansão
    do governador,
  • 2:48 - 2:50
    onde disse ao governador que achava
  • 2:50 - 2:52
    que não só o meu cliente
    devia ser executado
  • 2:52 - 2:55
    como faria um favor ao mundo
    se também me executasse a mim.
  • 2:56 - 2:57
    (Risos)
  • 2:57 - 3:01
    Muitas autoridades do Mississippi
    concordavam com ele.
  • 3:01 - 3:03
    (Risos)
  • 3:03 - 3:06
    Mas, naquela altura, para mim,
    foi um bocado embaraçoso.
  • 3:06 - 3:08
    O que me ajudou, por fim,
  • 3:08 - 3:11
    — dado o meu trabalho
    com casos de pena de morte —
  • 3:11 - 3:15
    foi compreender o meu pai
    e que algumas das coisas que ele fazia
  • 3:15 - 3:18
    não eram produto de um espírito racional.
  • 3:19 - 3:22
    Infelizmente, muita gente via
    as coisas que o meu pai fazia
  • 3:22 - 3:26
    e odiavam-no por isso, achavam
    que ele era uma fraude ou pior.
  • 3:26 - 3:29
    Na verdade, ele fez algumas coisas
    extraordinariamente bizarras,
  • 3:29 - 3:31
    ao longo dos anos.
  • 3:31 - 3:33
    Uma dessas pessoas era a minha tia.
  • 3:33 - 3:36
    A minha tia Jean era uma mulher
    extremamente compreensiva,
  • 3:36 - 3:41
    mas não conseguia compreender
    ou aceitar, talvez seja a melhor palavra,
  • 3:41 - 3:45
    que o seu irmão mais novo,
    de olhos azuis, tivesse uma doença mental.
  • 3:45 - 3:48
    Por isso, achava sempre
    que o que ele fazia era mau,
  • 3:48 - 3:51
    em vez de ser o produto
    da sua doença mental.
  • 3:52 - 3:55
    O que é triste, porque eu penso
    que, se o meu pai
  • 3:55 - 3:58
    tivesse sido diagnosticado mais cedo,
    talvez tivesse tido ajuda.
  • 3:58 - 4:01
    Ele só foi observado uma vez
    e só recebeu tratamento uma vez.
  • 4:01 - 4:03
    Isso arruinou-lhe a vida.
  • 4:03 - 4:06
    Isto leva-me, naturalmente,
    a Ricky Langley.
  • 4:06 - 4:11
    Ricky Langley é um tipo
    que representei na Louisiana.
  • 4:12 - 4:16
    Ricky Langley é um pedófilo
    que molestou muitas crianças
  • 4:16 - 4:20
    e que acabou por matar um miúdo
    de seis anos, chamado Jeremy Guillory.
  • 4:21 - 4:26
    Acabei por aceitar o caso dele
    em 1993, pela primeira vez.
  • 4:26 - 4:31
    A história dele começa muito
    antes de ele ter nascido.
  • 4:32 - 4:34
    Vou falar-vos desta história
  • 4:34 - 4:36
    porque leva a uma mulher
    chamada Lorelei Guillory
  • 4:36 - 4:39
    que é a mãe da criança que foi morta
  • 4:39 - 4:41
    e que é uma das minhas grandes heroínas.
  • 4:41 - 4:47
    Antes de Ricky nascer, a mãe e o pai dele
    seguiam por uma estrada
  • 4:47 - 4:49
    com os dois filhos no banco de trás.
  • 4:49 - 4:51
    Alcide ia a guiar e estava embriagado,
  • 4:51 - 4:53
    saiu da estrada e embateu
    num poste telegráfico.
  • 4:53 - 4:57
    Uma das crianças era uma criança
    de cabelo louro, com seis anos,
  • 4:58 - 4:59
    chamado Oscar-Lee.
  • 4:59 - 5:03
    Uma criança encantadora,
    que era o menino dos olhos dos pais.
  • 5:03 - 5:05
    Morreu instantaneamente.
  • 5:05 - 5:08
    A irmã, um pouco mais nova que ele,
    ficou decapitada e morreu.
  • 5:08 - 5:10
    Uma coisa pavorosa.
  • 5:10 - 5:13
    Betsy, a mãe, foi projetada
    pelo vidro da frente
  • 5:13 - 5:15
    e sofreu ferimentos terríveis.
  • 5:15 - 5:19
    Acabou no Hospital Charity
    durante quase dois anos.
  • 5:19 - 5:23
    Esteve metida em gesso
    do pescoço até aos tornozelos.
  • 5:23 - 5:27
    No julgamento, arranjei um voluntário
    australiano para servir de modelo,
  • 5:27 - 5:29
    o que vos deve servir de aviso
  • 5:29 - 5:31
    para nunca trabalharem
    como voluntários num caso destes.
  • 5:31 - 5:36
    Mas, enquanto estava metida
    em gesso, ficou grávida.
  • 5:36 - 5:39
    Claro que isso teve a ver com Alcide,
  • 5:39 - 5:44
    e com as suas ideias retrógradas
    quanto ao papel de maridos e mulheres.
  • 5:45 - 5:48
    Ninguém acreditou que ela estava
    grávida, como é que podia ser?
  • 5:48 - 5:51
    Embora isso fosse outra coisa
    que demonstrámos no julgamento,
  • 5:51 - 5:54
    pelo menos para grande gozo do juiz
    que era um bocado pervertido.
  • 5:54 - 5:56
    (Risos)
  • 5:56 - 5:58
    Um tipo encantador.
  • 5:58 - 5:59
    Portanto, ela ficou grávida
  • 5:59 - 6:02
    mas, durante cinco meses,
    ninguém acreditou nela.
  • 6:02 - 6:05
    Durante esses cinco meses,
    Ricky, que era o feto,
  • 6:06 - 6:09
    foi sujeito a uma Hiroxima privada
    de raios X
  • 6:09 - 6:11
    e a todos os medicamentos
    que ela estava a tomar
  • 6:11 - 6:14
    que nunca deviam ser dados
    a uma mulher grávida.
  • 6:14 - 6:18
    Curiosamente, um desses medicamentos
    tem sido relacionado com a pedofilia.
  • 6:18 - 6:20
    Quando se expõe um feto a esse medicamento
  • 6:20 - 6:24
    esse indivíduo fica mais suscetível
    de vir a ser um pedófilo.
  • 6:24 - 6:27
    É tão estranho que não apresentámos
    isso ao júri,
  • 6:27 - 6:30
    porque eles pensariam que o tínhamos
    inventado, mas é verdade.
  • 6:30 - 6:36
    Ao fim de cinco meses, os médicos
    concordaram que ela estava grávida,
  • 6:36 - 6:40
    cortaram o gesso, ficaram
    assarapantados e disseram:
  • 6:40 - 6:42
    "Tem de fazer um aborto.
    Não há outra solução,
  • 6:42 - 6:45
    "depois de tudo o que lhe fizemos
    a si e a este feto".
  • 6:45 - 6:47
    Mas Alcide, o marido, disse:
  • 6:47 - 6:50
    "Não, não pode ser. Sou católico,
    não fazemos abortos".
  • 6:51 - 6:54
    Por isso, Betsy manteve Ricky até ao fim.
  • 6:54 - 6:58
    Quando ele nasceu, era óbvio
    que não era louro, de olhos azuis,
  • 6:58 - 7:00
    como Oscar-Lee, o menino dos seus olhos.
  • 7:00 - 7:04
    Tinha um aspeto estranho que, suponho,
    é o melhor que se pode dizer dele.
  • 7:04 - 7:08
    Acredito que disseram
    isso de mim, em criança, e ainda dizem.
  • 7:08 - 7:11
    Mas Ricky, obviamente,
    tinha sofrido imenso
  • 7:12 - 7:16
    e rapidamente se tornou óbvio
    que se passava qualquer coisa.
  • 7:17 - 7:18
    Não era Oscar-Lee.
  • 7:18 - 7:22
    O pai zombava dele
    por ele não ser Oscar-Lee.
  • 7:22 - 7:25
    Ele mesmo foi molestado.
  • 7:25 - 7:29
    Depois, aos oito anos, começa a dormir
    nas sepulturas do cemitério local.
  • 7:29 - 7:34
    Aos 10 anos, põe um anúncio
    no quadro das informações da escola:
  • 7:34 - 7:36
    "Eu não sou Ricky Langley,
    eu sou Oscar-Lee,"
  • 7:36 - 7:39
    que, como se lembram,
    era o irmão morto.
  • 7:39 - 7:42
    Ricky já estava a desenvolver a psicose
  • 7:42 - 7:44
    de que era o irmão morto, Oscar-Lee
  • 7:44 - 7:48
    ou que Oscar-Lee era o seu "alter ego"
    que era o seu atormentador,
  • 7:48 - 7:51
    que o obrigava a fazer coisas
    que ele não queria fazer.
  • 7:52 - 7:55
    Ricky começou a molestar
    outras crianças, sem dúvida nenhuma.
  • 7:56 - 7:59
    Ele não tinha noção, nessa altura,
    do que se estava a passar.
  • 7:59 - 8:03
    Acabou por ir parar
    a uma prisão na Geórgia,
  • 8:03 - 8:08
    por molestar uma criança,
    o filho do seu primo.
  • 8:08 - 8:10
    Foi a primeira vez que recebeu ajuda
  • 8:10 - 8:12
    e os conselheiros disseram-lhe:
  • 8:12 - 8:16
    "És pedófilo, és doente mental,
    não podemos tratar-te, não há tratamento.
  • 8:16 - 8:18
    "Vais continuar a molestar
  • 8:18 - 8:21
    — com esta terapia,
    que é um pouco bizarra —
  • 8:21 - 8:24
    "e daqui a um ano sais da prisão
  • 8:24 - 8:27
    "e inevitavelmente vais molestar
    outra criança".
  • 8:27 - 8:30
    Ricky, tal como o meu pai,
    era um rapaz muito inteligente.
  • 8:30 - 8:34
    Há com frequência o estereótipo
    que uma pessoa muito inteligente
  • 8:34 - 8:38
    não pode ter perturbações mentais
    o que obviamente é absurdo.
  • 8:38 - 8:41
    Quando lhe disseram aquilo,
    Ricky disse: "Vocês convenceram-me".
  • 8:41 - 8:44
    E escreveu uma carta ao Conselho
    de Indultos e Penas Suspensas da Geórgia:
  • 8:44 - 8:47
    "Por amor de Deus,
    não me deixem sair em liberdade.
  • 8:47 - 8:50
    "Ponham-me num hospital psiquiátrico
    onde é o meu lugar".
  • 8:50 - 8:53
    Mas como a burocracia é o que é,
  • 8:53 - 8:55
    ignoraram-no e puseram-no em liberdade.
  • 8:55 - 9:00
    Claro que, um ano depois,
    ele acaba por matar uma criança,
  • 9:00 - 9:04
    Jeremy Guillory, de seis anos,
    que era o filho de Lorelei Guillory,
  • 9:04 - 9:06
    a mulher a que já me referi.
  • 9:07 - 9:11
    Quando falei com ele a primeira vez,
    e ele me contou tudo, disse-me:
  • 9:11 - 9:14
    "Eu pensei que ele era Oscar-Lee,
    o meu atormentador,
  • 9:14 - 9:16
    "e eu estava a tentar ver-me livre dele".
  • 9:16 - 9:20
    Obviamente, uma das grandes dificuldades
    de lidar com um caso como este
  • 9:20 - 9:23
    é tentar explicar a pessoas razoáveis
  • 9:25 - 9:28
    uma coisa que é irracional,
    que é muito difícil de compreender.
  • 9:28 - 9:31
    Mas uma das poucas vantagens
    que Ricky tinha
  • 9:31 - 9:33
    era que havia uma foto de Oscar-Lee
  • 9:33 - 9:35
    e uma foto de Jeremy Guillory
  • 9:35 - 9:37
    e nem a tia de Oscar-Lee
    conseguia distingui-las.
  • 9:37 - 9:41
    Talvez houvesse uma pequena pista
    do que Ricky estava a sentir ou a ver.
  • 9:41 - 9:44
    Mas, sem dúvida, ele tinha
    matado a pobre criança.
  • 9:44 - 9:46
    Foi condenado à morte,
    no primeiro julgamento.
  • 9:46 - 9:49
    Os jurados aceitaram
    a sua doença mental, mas disseram:
  • 9:49 - 9:51
    "Pois, mas ele é perigoso,
    o melhor é matá-lo".
  • 9:51 - 9:53
    Recorremos a um novo julgamento
  • 9:53 - 9:55
    e, antes dele, comecei
    a conhecer Ricky muito melhor.
  • 9:55 - 9:59
    Conheci Lorelei, a mãe
    da criança que ele tinha matado.
  • 9:59 - 10:02
    Lorelei era uma personagem fascinante.
  • 10:02 - 10:05
    Era uma alcoólica recuperada,
    tinha pouca instrução,
  • 10:05 - 10:08
    mas tinha uma compaixão descomunal.
  • 10:08 - 10:11
    O que ela queria sobretudo,
    enquanto mãe da vítima,
  • 10:11 - 10:13
    era perceber "Porquê?"
  • 10:13 - 10:15
    Porque é que aquilo tinha acontecido?
  • 10:16 - 10:17
    Eu falei com ela e disse-lhe:
  • 10:18 - 10:21
    "Se quer compreender,
    pode falar com Ricky.
  • 10:21 - 10:24
    "Eu sei que isso deve ser difícil,
    mas Ricky gostaria de falar consigo,
  • 10:24 - 10:28
    "para pedir perdão, porque ele sabe
    que tirou a vida ao seu filho.
  • 10:28 - 10:31
    "Mas explicar um pouco
    até que ponto ele é doente mental
  • 10:32 - 10:35
    "isso não vai explicar tudo
    completamente,
  • 10:35 - 10:39
    "porque foi um ato irracional,
    mas pode ajudá-la".
  • 10:39 - 10:42
    Penso que foi uma ajuda
    para Lorelei, e ela disse:
  • 10:42 - 10:44
    "Sim, vou fazer isso".
  • 10:44 - 10:47
    Então, foi à prisão, sozinha,
    para falar com Ricky.
  • 10:47 - 10:48
    Eu disse-lhe: "Olhe, fale com Ricky
  • 10:48 - 10:50
    "Se não gostar do que ele diz,
  • 10:50 - 10:53
    "pode testemunhar contra ele,
    eu não me importo, é justo para si".
  • 10:53 - 10:56
    Então, ela foi lá, tratou-o
    sempre por "Langley".
  • 10:57 - 11:00
    Obviamente, no início,
    ela tinha reservas quanto a ele.
  • 11:00 - 11:05
    Ricky explicou toda a história
    da sua vida e pediu-lhe perdão.
  • 11:05 - 11:07
    Ao fim de três horas
  • 11:07 - 11:10
    a falar com a pessoa que tinha matado
    o seu filho de seis anos,
  • 11:10 - 11:13
    ela diz-lhe, tratando-o por Ricky,
    pela primeira vez:
  • 11:13 - 11:16
    "Ricky, vou defender-te!"
  • 11:16 - 11:19
    Sai da prisão, vai ao gabinete
    do promotor público
  • 11:19 - 11:22
    — não vou dizer quem era,
    eu não gostava nada dele —
  • 11:22 - 11:26
    vai ao gabinete dele
    e explica-lhe tudo aquilo.
  • 11:26 - 11:29
    Diz: "Penso que Ricky Langley
    estava doente
  • 11:29 - 11:32
    "e não quero essa estupidez
    da pena de morte.
  • 11:32 - 11:35
    "Só vai contribuir para o meu sofrimento,
  • 11:35 - 11:37
    "não vai resolver nada".
  • 11:37 - 11:39
    O promotor público diz-lhe,
    segundo ela conta:
  • 11:39 - 11:44
    "Miss Guillory, a senhora é uma defensora
    muita estranha, sendo a vítima".
  • 11:44 - 11:48
    Então, ele trata de pedir
    a pena de morte, mais uma vez.
  • 11:48 - 11:52
    As autoridades tentaram
    tirar-lhe o outro filho
  • 11:52 - 11:55
    porque ela não era boa mãe,
    porque tinha feito um contacto estranho
  • 11:55 - 11:58
    com a pessoa que tinha matado
    o seu primeiro filho.
  • 11:58 - 12:01
    Vamos para o julgamento
    e uma das coisas adoráveis
  • 12:01 - 12:03
    — gosto de julgamentos
    de pena capital nos EUA,
  • 12:03 - 12:06
    porque faz-se todo o tipo
    de perguntas às pessoas —
  • 12:06 - 12:07
    gostava de fazer isso com vocês.
  • 12:07 - 12:10
    "Está sob juramento, tem de responder
    a tudo o que eu perguntar".
  • 12:10 - 12:12
    É muito divertido.
  • 12:12 - 12:13
    (Risos)
  • 12:13 - 12:16
    Muito divertido para mim,
    mas não para vocês.
  • 12:16 - 12:17
    (Risos)
  • 12:18 - 12:21
    Eu estava a escolher o júri,
    eram pessoas simpáticas.
  • 12:21 - 12:23
    Arranjámos 12 pessoas
    que tinham familiares próximos
  • 12:23 - 12:25
    que tinham graves doenças mentas
  • 12:25 - 12:27
    e que percebiam bem a situação.
  • 12:27 - 12:31
    E que se riam das piadas idiotas
    que eu contava.
  • 12:31 - 12:35
    Eu estava confiante de que o resultado
    ia ser bom neste julgamento,
  • 12:35 - 12:38
    porque eles também
    não gostavam do promotor.
  • 12:38 - 12:40
    Então, falei com Lorelei.
  • 12:40 - 12:43
    Num processo de pena de morte,
    nos EUA, há dois julgamentos.
  • 12:43 - 12:45
    O primeiro é definir se há ou não
    um homicídio qualificado
  • 12:45 - 12:48
    e, só se se trata
    de um homicídio qualificado
  • 12:48 - 12:50
    é que se realiza o segundo,
    que é de vida ou morte,
  • 12:50 - 12:53
    ou é condenado a prisão perpétua
    ou à pena de morte.
  • 12:53 - 12:55
    Eu disse a Lorelei:
    "Estas pessoas são boas pessoas,
  • 12:55 - 12:58
    "não vão condená-lo à pena de morte.
  • 12:58 - 13:02
    "Você não vai ter a hipótese que queria
    de testemunhar na fase da condenação,
  • 13:02 - 13:06
    "para dizer que a pena de morte
    teria um efeito terrível para si.
  • 13:06 - 13:08
    "Não vai ter essa oportunidade.
  • 13:08 - 13:12
    "Preciso de lhe dizer isto, porque
    receio que seja o que vai acontecer.
  • 13:13 - 13:15
    "Estou muito contente,
    mas tenho pena por sua causa".
  • 13:15 - 13:19
    Então, ela foi-se embora
    e, muito religiosa, rezou.
  • 13:19 - 13:21
    Quando voltou, na manhã seguinte, disse:
  • 13:21 - 13:24
    "A lógica da minha posição é..."
  • 13:24 - 13:27
    Ela disse isto com um sotaque
    pronunciado do sul da Louisiana.
  • 13:27 - 13:31
    "A lógica da minha posição
    é que ele tem uma doença mental,
  • 13:32 - 13:35
    "ele não devia estar na prisão,
    devia estar num hospital psiquiátrico.
  • 13:35 - 13:38
    "Quero testemunhar que ele devia
    ser considerado 'não culpado'
  • 13:38 - 13:39
    "por razões de insanidade,
  • 13:39 - 13:42
    "porque ele estava insano
    na altura em que matou o meu filho".
  • 13:42 - 13:44
    Eu disse: "Ok".
  • 13:45 - 13:48
    Ela disse: "Mas há uma coisa
    de que preciso, é a garantia
  • 13:48 - 13:51
    "de que ele nunca sairá
    do hospital psiquiátrico
  • 13:51 - 13:52
    "para fazer mal a outra criança".
  • 13:52 - 13:54
    Eu disse: "Isso é fácil.
  • 13:54 - 13:56
    "É o que Ricky quer".
  • 13:56 - 13:57
    Ele queria ser uma cobaia
  • 13:57 - 14:01
    porque ele sabia o que era,
    o que tinha feito.
  • 14:02 - 14:04
    Uma das coisas nisto tudo,
  • 14:04 - 14:07
    não obstante o que o "News of the World"
    costumava fazer,
  • 14:07 - 14:12
    é que ninguém odeia mais Ricky Langley
    do que o próprio Ricky Langley.
  • 14:12 - 14:15
    Ele queria ser uma cobaia
    para poder ser estudado,
  • 14:15 - 14:18
    para outras pessoas não sofrerem
    o que ele tinha sofrido
  • 14:18 - 14:21
    e outras crianças não sofressem
    o que ele tinha causado.
  • 14:21 - 14:24
    Assim, ele assinou
    tudo o que tinha de assinar.
  • 14:24 - 14:25
    Perguntei a Lorelei:
  • 14:26 - 14:28
    "O que lhe vou perguntar
    enquanto testemunha?"
  • 14:28 - 14:30
    E ela: "Só me faça uma pergunta".
  • 14:30 - 14:31
    Foi o que eu fiz.
  • 14:31 - 14:34
    Desculpem, esta parte
    sempre me comove um pouco,
  • 14:34 - 14:38
    quando falo disto, porque foi
    um momento humano extraordinário.
  • 14:38 - 14:41
    Ela está no banco das testemunhas
    e faço-lhe uma pergunta:
  • 14:41 - 14:45
    "Miss Guillory, o que é que pensa
    daquele homem ali
  • 14:45 - 14:47
    "que matou o seu filho de seis anos?
  • 14:47 - 14:50
    "Ele estava doente quando o fez?"
  • 14:50 - 14:54
    Ela vira-se para os jurados e diz:
    "Sim, na realidade, penso que estava.
  • 14:54 - 14:59
    "Penso que Ricky Langley tem pedido ajuda,
    desde o dia em que nasceu.
  • 14:59 - 15:04
    "Não sei por que razão,
    a família, a sociedade, o sistema legal
  • 15:04 - 15:06
    "nunca o escutaram.
  • 15:06 - 15:08
    "Aqui, sentada no banco das testemunhas,
  • 15:08 - 15:11
    "eu oiço os gritos de socorro
    do meu filho, Jeremy.
  • 15:11 - 15:14
    "Mas também oiço aquele homem
    a pedir ajuda.
  • 15:14 - 15:18
    "Penso que ele estava mentalmente
    doente na atura em que matou o meu filho".
  • 15:18 - 15:21
    Quando fazemos a argumentação
    final num processo de pena de morte
  • 15:21 - 15:23
    — e eu já fiz muitos —
  • 15:23 - 15:25
    é muito difícil,
    é uma grande responsabilidade.
  • 15:26 - 15:28
    Já não é tão divertido
    como a primeira parte,
  • 15:28 - 15:29
    que é a dos interrogatórios.
  • 15:29 - 15:32
    Mas esta foi fácil. Só disse aos jurados:
  • 15:32 - 15:35
    "Oiçam o que aquela senhora diz.
    Não posso fazer melhor".
  • 15:36 - 15:39
    Claro, eles absolveram-no
    do homicídio em primeiro grau,
  • 15:39 - 15:42
    embora ainda estejamos a lutar,
    a batalha dele e de Lorelei
  • 15:42 - 15:44
    por uma verdadeira justiça.
  • 15:45 - 15:46
    Há duas razões para eu contar isto.
  • 15:46 - 15:49
    Uma é que ela é uma vítima.
  • 15:49 - 15:52
    Uma das coisas terríveis
    da nossa sociedade atual
  • 15:52 - 15:53
    é a forma como o governo,
  • 15:53 - 15:57
    o grande guardião do bem ou do mal,
    ensina as vítimas a odiar.
  • 15:58 - 16:02
    Lorelei é uma das minhas grandes heroínas
    porque tentou compreender
  • 16:02 - 16:05
    e, obviamente, é o que está certo fazer.
  • 16:05 - 16:08
    Mas a outra coisa é sobre
    as doenças mentais.
  • 16:10 - 16:13
    Ricky compreende que tem
    uma doença mental,
  • 16:13 - 16:16
    o que é mais do que
    o meu pobre pai percebia.
  • 16:16 - 16:18
    Mas o que é importante
  • 16:18 - 16:21
    é que, apesar de a minha tia
    ser solidária e inteligente
  • 16:21 - 16:24
    nunca compreendeu realmente o meu pai,
  • 16:24 - 16:26
    que ele tinha uma doença mental.
  • 16:26 - 16:28
    Mas Lorelei Guillory compreendeu.
  • 16:28 - 16:32
    Lorelei Guillory pôde ver
    não só que Ricky era doente mental
  • 16:32 - 16:36
    mas que precisamos de compreendê-lo
    em vez de o odiar.
  • 16:36 - 16:40
    Essa é a base para compreender as pessoas,
  • 16:40 - 16:44
    e, talvez, para nos levar a um sítio
    em que talvez possamos evitar
  • 16:44 - 16:47
    que algumas dessas coisas
    aconteçam no futuro.
  • 16:47 - 16:49
    É essa a razão por que eu quero
    contar esta história
  • 16:49 - 16:53
    porque Lorelei Guillory é uma
    das grandes heroínas anónimas
  • 16:53 - 16:55
    ou de todos os heróis do mundo
  • 16:55 - 16:58
    e eu aproveito esta altura
    para contar a história dela.
  • 16:58 - 16:59
    Muito obrigado.
  • 16:59 - 17:00
    (Aplausos)
Title:
O meu pai, as doenças mentais e a pena de morte | Clive Stafford Smith | TEDxExeter
Description:

A história de Ricky, um molestador e assassino de crianças, condenado à morte, e da mãe da criança que ele matou, e a história de uma doença mental, da pena de morte e da tentativa de compreensão por parte da mãe da vítima.

Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDxTalks
Duration:
17:13

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