A heroína do barco de refugiados que salvou uma criança e abalou o mundo | Melissa Fleming | TEDxThessaloniki
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0:11 - 0:15Todos os dias oiço
as histórias angustiantes -
0:15 - 0:17de pessoas que fogem para salvar a vida
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0:17 - 0:21atravessando perigosas fronteiras
e mares inóspitos. -
0:23 - 0:27Mas há uma história
que me mantém acordada de noite -
0:27 - 0:28Trata-se de Doaa,
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0:28 - 0:32uma refugiada síria, de 19 anos,
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0:32 - 0:38que estava a viver uma existência opressiva
no Egito, a trabalhar a dias. -
0:38 - 0:43O pai dela estava sempre a pensar
no seu negócio na Síria -
0:43 - 0:47que tinha sido reduzido a pedaços
por uma bomba. -
0:48 - 0:53A guerra que os expulsara de lá
já ia no quarto ano. -
0:54 - 0:57A comunidade que, a princípio,
os tinha recebido bem -
0:57 - 1:00já se tinha cansado deles.
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1:01 - 1:04Um dia, uns homens de motocicleta
tentaram raptá-la. -
1:04 - 1:09Outrora candidata a estudante,
pensando no futuro -
1:09 - 1:13ela andava agora sempre assustada.
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1:13 - 1:16Mas também estava cheia de esperança,
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1:16 - 1:21porque estava apaixonada
por um refugiado sírio chamado Bassem. -
1:21 - 1:25Bassem também estava a debater-se
no Egito e disse a Doaa: -
1:26 - 1:30"Vamos para a Europa, pedir asilo,
viver em segurança. -
1:30 - 1:34"Eu vou trabalhar, tu podes estudar.
É a promessa duma nova vida". -
1:35 - 1:40E pediu a mão dela em casamento ao pai
e o pai disse que sim. -
1:41 - 1:45Mas eles sabiam que, para chegar à Europa,
iam arriscar a vida, -
1:46 - 1:49para atravessar o Mar Mediterrâneo,
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1:49 - 1:54entregando-se aos contrabandistas
conhecidos pela sua crueldade. -
1:55 - 1:58Doaa tinha horror à água.
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1:59 - 2:02Sempre tivera. Nunca aprendera a nadar.
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2:04 - 2:09Estava-se em agosto desse ano
e já tinham morrido 2000 pessoas -
2:09 - 2:11a tentar atravessar o Mediterrâneo.
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2:11 - 2:15Mas Doaa conhecia um amigo que tinha
conseguido chegar ao norte da Europa, -
2:15 - 2:18e pensou: "Talvez nós também consigamos".
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2:18 - 2:21Por isso perguntou aos pais se podiam ir.
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2:22 - 2:25Depois duma discussão penosa,
eles consentiram -
2:25 - 2:31e Bassem entregou todas as suas poupanças
— 2500 dólares por cada um — -
2:31 - 2:33aos contrabandistas
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2:33 - 2:36Foi num domingo de manhã
que foram chamados. -
2:37 - 2:41Foram levados de autocarro para uma praia,
havia centenas de pessoas na praia. -
2:41 - 2:45Foram levados em pequenos barcos
para um velho barco de pesca, -
2:45 - 2:48500 apinhados naquele barco,
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2:48 - 2:51300 em baixo, 200 em cima.
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2:52 - 2:56Havia sírios, palestinos, africanos.
muçulmanos e cristãos -
2:56 - 3:04100 crianças, incluindo Sandra
— a pequena Sandra, de seis anos — -
3:04 - 3:07e Masa, de 18 meses.
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3:08 - 3:12Havia famílias naquele barco,
apinhadas, ombro com ombro, -
3:12 - 3:13pés com pés.
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3:13 - 3:18Doaa ia sentada com as pernas
encolhidas contra o peito, -
3:19 - 3:21Bassem segurava-lhe na mão.
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3:22 - 3:26No segundo dia sobre a água,
estavam doentes com preocupação -
3:26 - 3:28e enjoados por causa do mar agitado
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3:29 - 3:32No terceiro dia, Doaa teve uma premonição.
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3:33 - 3:37Disse a Bassem:
"Receio que não consigamos. -
3:38 - 3:40"Tenho medo que o barco se afunde".
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3:40 - 3:44Bassem disse-lhe: "Tenta ter paciência.
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3:44 - 3:47"Vamos chegar à Suécia, casamo-nos lá
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3:47 - 3:49"e teremos um futuro".
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3:50 - 3:54No quarto dia, os passageiros
começaram a ficar agitados. -
3:54 - 3:57Perguntaram ao capitão;
"Quando é que lá chegamos?" -
3:57 - 4:01Ele disse-lhes para se calarem
e insultou-os. -
4:01 - 4:05Disse: "Dentro de 16 horas
chegamos às praias da Itália". -
4:05 - 4:08Estavam fracos e assustados.
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4:08 - 4:10Em breve viram um barco a aproximar-se,
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4:10 - 4:13um barco mais pequeno,
com 10 homens a bordo, -
4:13 - 4:16que começaram a gritar, lançando insultos,
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4:16 - 4:20atirando paus, dizendo-lhes
para desembarcarem todos -
4:20 - 4:24e entrarem naquele barco mais pequeno
e menos adequado para o mar. -
4:24 - 4:27Os pais ficaram horrorizados
por causa dos filhos, -
4:28 - 4:32e em conjunto recusaram-se a desembarcar.
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4:33 - 4:36Por isso o barco afastou-se furioso,
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4:36 - 4:39e meia hora depois voltou.
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4:40 - 4:45Começou a abrir propositadamente
um buraco na borda do barco de Doaa, -
4:46 - 4:49mesmo por baixo do sítio
onde ela e Bassem estavam sentados. -
4:50 - 4:54Ela ouvia-os a gritar:
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4:54 - 4:58"Que os peixes comam a vossa carne!"
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4:59 - 5:04Começaram a rir
quando o barco se virou e se afundou. -
5:05 - 5:08As 300 pessoas lá em baixo
ficaram condenadas. -
5:08 - 5:13Doaa estava agarrada à borda do barco,
à medida que ele se afundava -
5:13 - 5:20e observou horrorizada uma criança
a ser feita em pedaços pela hélice. -
5:21 - 5:24Bassem disse-lhe: "Por favor, sai daí,
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5:24 - 5:27"senão afundamo-nos
e a hélice também te mata". -
5:27 - 5:29Lembrem-se, ela não sabe nadar.
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5:30 - 5:35Mas deixou-se ir e começou a mexer
os braços e as pernas, pensando: -
5:35 - 5:37"Estou a nadar".
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5:37 - 5:40Milagrosamente, Bassem encontrou
uma boia de salvação. -
5:41 - 5:43Era uma dessas boias de criança
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5:43 - 5:46usadas para brincar
nas piscinas e no mar calmo. -
5:47 - 5:49Doaa subiu para a boia,
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5:49 - 5:53com os braços e as pernas
pendurados de fora. -
5:54 - 5:55Bassem era bom nadador,
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5:55 - 5:59por isso agarrou na mão dela e nadou.
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6:01 - 6:04Em volta deles havia cadáveres.
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6:04 - 6:06Inicialmente sobreviveram
cerca de 100 pessoas -
6:06 - 6:10e começaram a juntar-se em grupos,
rezando por um salvamento. -
6:10 - 6:14Mas quando o dia acabou
e não apareceu ninguém, -
6:14 - 6:17algumas pessoas perderam a esperança,
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6:17 - 6:19e Doaa e Bassem observaram
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6:19 - 6:23homens à distância que tiravam
os seus coletes de salvação -
6:23 - 6:26e se afundavam na água.
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6:27 - 6:32Um homem aproximou-se deles
com um bebé empoleirado nos ombros, -
6:32 - 6:34um bebé de nove meses — Malek.
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6:34 - 6:39Estava agarrado a uma lata de gás
para se manter à tona e disse-lhes: -
6:39 - 6:42"Receio não sobreviver.
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6:42 - 6:44"Estou muito fraco,
já não tenho mais coragem". -
6:45 - 6:49E entregou a pequena Malek
a Bassem e a Doaa. -
6:50 - 6:53Eles puseram-na na boia
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6:54 - 6:58Portanto agora eram três,
Doaa, Bassem e a pequena Malek. -
6:59 - 7:02Agora vou fazer uma pausa nesta história
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7:02 - 7:04e perguntar:
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7:05 - 7:09"Porque é que os refugiados
como a Doaa correm este tipo de riscos?" -
7:11 - 7:16Há milhões de refugiados
a viver no exílio, num limbo. -
7:17 - 7:21Vivem em países, fugindo duma guerra
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7:21 - 7:24que já dura há quatro anos.
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7:26 - 7:30Mesmo que quisessem regressar, não podem
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7:30 - 7:32As suas casas, os seus negócios,
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7:32 - 7:36as suas cidades e aldeias
estão totalmente destruídas. -
7:36 - 7:41Eu própria vi, numa visita recente
a Homs, na Síria. -
7:42 - 7:45Esta é uma cidade
Património Mundial da Unesco -
7:45 - 7:50e este é o aspeto atual
de um local outrora cheio de vida. -
7:50 - 7:57Por isso as pessoas continuam a fugir
para os países vizinhos. -
7:58 - 8:01Nós montámos
campos de refugiados no deserto. -
8:01 - 8:05Centenas de milhares de pessoas
vivem em campos como estes, -
8:05 - 8:10e outros milhares de milhares,
milhões, vivem em cidades. -
8:10 - 8:12E as comunidades dos países vizinhos
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8:12 - 8:14que outrora os recebiam bem
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8:14 - 8:16de braços e corações abertos
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8:16 - 8:18estão sobrecarregados.
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8:18 - 8:23Não há escolas suficientes,
nem sistemas de água, nem saneamento. -
8:23 - 8:28Mesmo os países ricos da Europa
nunca poderiam acolher um influxo destes -
8:28 - 8:31sem um investimento maciço.
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8:33 - 8:36A guerra da Síria já expulsou
para fora das fronteiras -
8:36 - 8:39quase quatro milhões de pessoas,
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8:39 - 8:43mas há sete milhões de pessoas a fugir,
no interior do país. -
8:43 - 8:47Isso significa que mais de metade
da população da Síria -
8:47 - 8:50foi forçada a fugir,
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8:50 - 8:54voltando aos países vizinhos
que têm acolhido tantos. -
8:55 - 9:00Sentem que o mundo mais rico
pouco tem feito para os ajudar. -
9:01 - 9:06Os dias transformaram-se em meses,
os meses em anos. -
9:07 - 9:11Supostamente, a estadia de um refugiado
deve ser temporária. -
9:11 - 9:14Voltemos a Doaa e Bassem na água.
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9:14 - 9:19Era o segundo dia
e Bassem estava a ficar muito fraco. -
9:19 - 9:23Foi a vez de Doaa dizer a Bassem:
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9:23 - 9:28"Meu amor, agarra-te à esperança,
ao nosso futuro. Vamos conseguir". -
9:30 - 9:32Ele disse-lhe:
-
9:32 - 9:36"Desculpa, meu amor,
ter-te posto nesta situação. -
9:37 - 9:41"Nunca amei ninguém
tanto quanto te amo a ti". -
9:43 - 9:47E deixou-se ir água abaixo.
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9:47 - 9:53Doaa viu como o amor da sua vida
se afogava diante dos seus olhos. -
9:56 - 9:59Mais tarde, nesse dia,
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9:59 - 10:04chegou uma mãe ao pé de Doaa,
com a sua filhinha de 18 meses, Masa. -
10:05 - 10:08Era a pequenina que mostrei
naquela fotografia há bocado, -
10:08 - 10:10com o colete de salvação.
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10:10 - 10:13A irmã mais velha, a Sandra,
tinha acabado de se afogar, -
10:13 - 10:16e a mãe sabia que tinha feito
todos os possíveis -
10:16 - 10:18para salvar a filha.
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10:19 - 10:22Disse a Doaa:
"Por favor, fica com esta criança. -
10:22 - 10:26"Que ela faça parte da tua vida.
Eu não vou sobreviver". -
10:28 - 10:31Afastou-se e afogou-se.
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10:32 - 10:37Doaa, a refugiada de 19 anos,
que tinha horror à água, -
10:37 - 10:38que não sabia nadar,
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10:38 - 10:43encontrou-se a tomar conta
de duas crianças. -
10:44 - 10:47Elas tinham sede e tinham fome
e estavam agitadas. -
10:48 - 10:51Ela tentou o melhor para as entreter,
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10:51 - 10:54cantar-lhes, dizer-lhes palavras do Corão.
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10:56 - 11:00À volta delas, os corpos
iam inchando e ficando negros. -
11:01 - 11:03O sol estivera escaldante durante o dia.
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11:03 - 11:05À noite, havia uma lua fria e nevoeiro.
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11:05 - 11:07Era muito assustador.
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11:09 - 11:13No quarto dia na água,
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11:13 - 11:20provavelmente,
Doaa teria este aspeto, -
11:20 - 11:22na boia com as duas crianças.
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11:23 - 11:26No quarto dia, chegou-se
ao pé dela uma mulher -
11:26 - 11:29e pediu-lhe para ficar com outra criança,
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11:29 - 11:33um rapazinho com apenas quatro anos.
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11:34 - 11:38Quando Doaa agarrou no rapazinho
e a mãe se afogou -
11:38 - 11:41disse para a criança que soluçava:
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11:41 - 11:44"Ela foi-se embora
para procurar água e comida". -
11:45 - 11:47Mas o coração dele parou
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11:47 - 11:51e Doaa teve que deixar o rapazinho
ir por água abaixo. -
11:52 - 11:54Mais tarde, naquele dia,
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11:54 - 11:58ela olhou para o céu com esperança
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11:58 - 12:02porque vira dois aviões a cruzar o céu.
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12:02 - 12:06Agitou os braços, esperando que a vissem,
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12:06 - 12:09mas os aviões desapareceram.
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12:09 - 12:12Mas naquela tarde,
quando o sol estava a descer, -
12:12 - 12:17viu um barco, um navio mercante e pensou:
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12:17 - 12:20"Por favor, meu Deus, que eles me salvem".
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12:20 - 12:24Agitou os braços e sentia
que estava a gritar há duas horas. -
12:24 - 12:28Já estava escuro mas por fim
as luzes de pesquisa encontraram-na -
12:29 - 12:31e atiraram-lhe uma corda,
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12:31 - 12:36espantados por verem
uma mulher agarrada a dois bebés. -
12:37 - 12:40Içaram-na para o barco,
foram buscar oxigénio e cobertores. -
12:40 - 12:43Veio um helicóptero grego buscá-las
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12:43 - 12:46e levou-as para a ilha de Creta.
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12:46 - 12:50Doaa olhou à roda e perguntou:
"Onde está Malek?" -
12:50 - 12:54Disseram-lhe que a bebé
não tinha sobrevivido, -
12:54 - 12:57tinha dado o último suspiro
na clínica do barco. -
12:58 - 13:01Mas Doaa tinha a certeza de que,
-
13:01 - 13:04quando as tinham içado
para o barco de salvamento, -
13:04 - 13:07a bebé estava a sorrir.
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13:09 - 13:16Só sobreviveram 11 pessoas
do naufrágio, das 500. -
13:16 - 13:20Nunca houve uma investigação
internacional ao que acontecera. -
13:21 - 13:25Houve algumas notícias nos "media"
sobre um assassínio em massa no mar, -
13:25 - 13:27uma tragédia terrível.
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13:27 - 13:29mas isso durou apenas um dia.
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13:30 - 13:34Depois as notícias
passaram para outra coisa. -
13:35 - 13:39Entretanto,
num hospital pediátrico em Creta, -
13:39 - 13:43a pequena Masa estava à beira da morte.
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13:44 - 13:47Estava muito desidratada.
Os rins estavam a falhar. -
13:48 - 13:50Os níveis de glucose
estavam perigosamente baixos. -
13:50 - 13:53Os médicos fizeram tudo
o que puderam para a salvar, -
13:53 - 13:57e as enfermeiras gregas
não saíam do pé dela, -
13:57 - 13:59com ela ao colo,
abraçando-a, cantando-lhe. -
13:59 - 14:04Os meus colegas também a visitaram
e disseram-lhe palavras simpáticas em árabe. -
14:05 - 14:09Espantosamente, a pequena Masa sobreviveu.
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14:09 - 14:15Em breve a imprensa grega começou
a dar noticias sobre a bebé milagre, -
14:15 - 14:22que tinha sobrevivido quatro dias na água
sem alimento nem nada para beber, -
14:22 - 14:26e apareceram ofertas
de todo o país para a adotar. -
14:28 - 14:32Entretanto Doaa estava
noutro hospital em Creta, -
14:32 - 14:34magra, desidratada.
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14:35 - 14:40Uma família egípcia acompanhou-a
durante todo esse tempo -
14:40 - 14:44e levou-a para sua casa
logo que lhe deram alta. -
14:45 - 14:50Em breve se espalhou
a notícia da sobrevivência de Doaa -
14:50 - 14:53e foi publicado um número de telefone
no Facebook. -
14:54 - 14:57Começaram a chegar mensagens.
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14:58 - 15:02"Doaa, sabe o que aconteceu ao meu irmão?
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15:03 - 15:07"À minha irmã? Aos meus pais?
Aos meus amigos? -
15:07 - 15:10"Sabe se eles sobreviveram?"
-
15:10 - 15:13Uma dessas mensagens dizia:
-
15:14 - 15:19"Doaa, acho que salvaste
a minha sobrinha, Masa". -
15:21 - 15:24E trazia esta foto.
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15:25 - 15:27Era do tio de Masa,
-
15:27 - 15:31um refugiado sírio que tinha conseguido
ir para a Suécia com a família -
15:32 - 15:34e com a irmã mais velha de Masa.
-
15:34 - 15:40Em breve, segundo esperamos,
Masa estará junto dele na Suécia. -
15:40 - 15:45Até lá, está a ser tratada
num ótimo orfanato em Atenas. -
15:47 - 15:52E Doaa? Também se espalhou
a notícia da sua sobrevivência. -
15:54 - 15:58Os "media" escreveram
sobre aquela modesta mulher, -
15:58 - 16:02e não imaginavam como é que ela
tinha sobrevivido tanto tempo -
16:02 - 16:05naquelas condições, no mar
-
16:05 - 16:08e ainda tinha salvo outra vida.
-
16:10 - 16:14A Academia de Atenas, uma das instituições
mais prestigiadas da Grécia, -
16:14 - 16:18deu-lhe um prémio pela bravura,
-
16:18 - 16:21e ela merece esse elogio
-
16:21 - 16:24e merece uma segunda hipótese.
-
16:26 - 16:29Mas ela continua
a querer ir para a Suécia. -
16:29 - 16:32Quer reunir-se lá à sua família.
-
16:32 - 16:36Também quer trazer do Egito.
a mãe, o pai e os irmãos mais novos. -
16:37 - 16:40E acredito que ela vai conseguir.
-
16:40 - 16:43Quer vir a ser advogada ou política
-
16:43 - 16:47ou qualquer coisa que possa
ajudar a combater a injustiça. -
16:48 - 16:52É uma sobrevivente extraordinária.
-
16:52 - 16:54Mas eu tenho que perguntar:
-
16:55 - 16:57E se ela não tivesse
que correr aquele risco? -
16:57 - 17:00Porque é que ela teve
que passar por tudo aquilo? -
17:00 - 17:05Porque é que não havia uma forma legal
de ela estudar na Europa? -
17:05 - 17:09Porque é que Masa não pôde apanhar
um avião para a Suécia? -
17:09 - 17:12Porque é que Bassem
não pôde arranjar trabalho? -
17:13 - 17:19Porque é que não há um grande programa
de instalação para os refugiados sírios, -
17:19 - 17:22que são vítimas
da pior guerra da nossa época? -
17:23 - 17:27O mundo não fez isso
pelos vietnamitas nos anos 70? -
17:27 - 17:29Porque não para nós agora?
-
17:29 - 17:35Porque é que há tão pouco investimento
nos países vizinhos -
17:35 - 17:37que acolhem tantos refugiados?
-
17:38 - 17:41E porquê — a pergunta fundamental —
-
17:41 - 17:47está a fazer-se tão pouco
para parar com as guerras, a perseguição -
17:47 - 17:52e a pobreza que está
a empurrar tanta gente -
17:52 - 17:54para as praias da Europa?
-
17:55 - 17:58Enquanto estes problemas
não forem resolvidos, -
17:58 - 18:01as pessoas continuarão a fazer-se ao mar
-
18:01 - 18:04e a procurar segurança e asilo.
-
18:05 - 18:07O que acontecerá a seguir?
-
18:07 - 18:10Essa é fundamentalmente
uma opção da Europa. -
18:10 - 18:13Eu compreendo os receios do público,
-
18:14 - 18:16As pessoas preocupam-se
com a sua segurança, -
18:16 - 18:20a sua economia, as mudanças de cultura.
-
18:21 - 18:25Mas isso é mais importante
do que salvar vidas humanas? -
18:26 - 18:29Porque há aqui uma coisa fundamental
-
18:29 - 18:31que eu penso que ultrapassa todo o resto.
-
18:32 - 18:35Trata-se da nossa humanidade comum.
-
18:36 - 18:40Nenhuma pessoa que foge da guerra
ou da perseguição -
18:40 - 18:46devia ter que morrer a atravessar
o mar para obter segurança. -
18:46 - 18:50(Aplausos)
-
19:02 - 19:04Uma coisa é certa,
-
19:04 - 19:07nenhum refugiado estaria
naqueles barcos perigosos -
19:07 - 19:09se pudessem viver onde estão.
-
19:09 - 19:12Nenhum migrante faria
aquela perigosa viagem -
19:12 - 19:16se tivessem comida suficiente
para si e para os seus filhos. -
19:16 - 19:19Ninguém poria todas as suas poupanças
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19:19 - 19:21nas mãos destes conhecidos contrabandistas
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19:21 - 19:25se houvesse uma forma legal de emigrar.
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19:26 - 19:29Por isso, em nome da pequena Masa
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19:30 - 19:32em nome de Doaa
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19:32 - 19:34e de Bassem
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19:34 - 19:38e daquelas 500 pessoas
que se afogaram com ele, -
19:39 - 19:42podemos garantir
que eles não morreram em vão? -
19:44 - 19:47Podemos ser inspirados pelo que aconteceu
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19:47 - 19:52e defender um mundo
em que todas as vidas são importantes. -
19:54 - 19:55Obrigada.
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19:56 - 20:00(Aplausos)
- Title:
- A heroína do barco de refugiados que salvou uma criança e abalou o mundo | Melissa Fleming | TEDxThessaloniki
- Description:
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Esta palestra foi feita num evento local TEDx, produzido independentemente das Conferências TED.
A bordo de um barco sobrecarregado, que transportava mais de 500 refugiados, uma rapariga torna-se numa heroína improvável. Esta história singela e ponderosa, contada por Melissa Fleming, da organização de refugiados das Nações Unidas, dá um rosto humano aos terríveis números de seres humanos que tentam fugir para uma vida melhor... enquanto os barcos de refugiados continuam a chegar
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 21:51