Confissões de um comediante depressivo | Kevin Breel | TEDxKids@Ambleside

Esta palestra foi dada em um evento TEDx local, produzido independentemente das conferências TED.
Nessa palestra emocionante, Kevin Breel fala do fundo do coração sobre sua história com a depressão, como ela impactou sua vida, e porque ele finalmente se tornou grato por ela. Um jovem comediante em ascensão no Cadaná, Kevin também é extremamente envolvido com trabalhos de saúde mental, falando ativamente em escolas e organizações.

Por um longo tempo na minha vida

eu me sentia como se estivesse
vivendo duas vidas diferentes.

A vida que todos veem,

mas também a vida que só eu vejo.

E na vida que todos veem quem sou

como um amigo, um filho, um irmão,

um comediante de stand-up,
e um adolescente,

essa é a vida que todos veem.

Se alguém perguntasse a meus amigos
e minha família, é isso que eles diriam

e essa é uma grande parte
de mim, esse sou eu.

Se alguém pedisse para eu
me descrever,

eu provavelmente diria
algumas das mesmas coisas,

e eu não estaria mentindo,

mas eu também não estaria
contando toda a verdade

porque a verdade é que essa é a vida
que todos os outros veem.

Na vida que apenas eu vejo,

quem eu sou, quem eu realmente sou,

é alguém que luta
intensamente contra a depressão

de que tenho sofrido
pelos últimos seis anos,

e continuo lutando todo dia.

Para alguém que nunca
passou por uma depressão,

ou não sabe exatamente o que significa,

ouvir isso pode causar surpresa

porque há uma concepção
popular errônea

de que depressão é apenas estar triste
quando algo dá errado na vida.

Quando se termina um namoro,
se perde um ente querido,

não se consegue o trabalho desejado.

Mas isso é tristeza, é algo natural,

é uma emoção humana natural.

Depressão verdadeira não é estar triste

quando algo dá errado na vida.

Depressão verdadeira é estar triste
quando tudo na vida está indo bem.

Isso é depressão verdadeira,
e é disso que eu sofro.

E para ser totalmente franco,
para mim é difícil vir aqui e falar.

Para mim, é difícil falar sobre isso.

E parece ser difícil para todos
falar sobre isso.

Tanto que ninguém
fala sobre isso.

E ninguém fala sobre
depressão, mas nós precisamos

porque neste exato momento
ela é um problema massivo.

É um problema massivo.

Mas não a vemos nas mídias sociais,
não a vemos no Facebook, no Twitter,

não a vemos no jornal porque
não é algo feliz, divertido, iluminado.

E então, por não a vermos,
não vemos sua severidade.

Mas sua severidade,
sua seriedade é a seguinte:

a cada 30 segundos, em algum
lugar, alguém no mundo

tira sua própria vida
por causa da depressão.

E pode ser a duas quadras de distância,
ou dois países, dois continentes,

mas está acontecendo,
e está acontecendo todos os dias.

E nós temos a tendência como uma sociedade

de olhar para isso e dizer:

"E daí? E daí?"

Olhamos para isso e dizemos:
"O problema é seu, o problema é deles."

Dizemos estar tristes, sentir muito,
mas também dizemos "E daí?"

Bem, dois anos atrás
o problema era meu

porque eu me sentei no pé da cama,

onde eu me sentei
um milhão de vezes antes,

e eu quis me matar, eu quis me matar.

E se alguém olhasse para a minha vida,
na superfície,

não veria um garoto suicida,

veria o garoto que era capitão
de seu time de basquete,

o aluno do ano no teatro,
o aluno do ano em inglês,

alguém que estava o tempo todo entre os
convidados de honra em todas as festas.

E diria que eu não era depressivo
ou suicida, mas estaria enganado.

Naquela noite eu fiquei ao lado
de um frasco de comprimidos,

com papel e caneta na mão,

e eu pensei em tirar minha própria vida,
e cheguei perto assim de fazê-lo.

Eu cheguei perto assim.
E eu não o fiz.

Isso me faz um dos sortudos,

um dos que consegue subir no prédio,
olhar para baixo mas não pular.

Um dos sortudos que sobrevive.

Bem, eu sobrevivi, e isso me deixa
com minha história, e ela é a seguinte:

quatro palavras simples:
eu sofro de depressão.

Eu sofro de depressão.

E por um longo tempo,

eu acho que vivi duas vidas
totalmente diferentes,

em que uma pessoa sempre
tinha medo da outra,

medo de que eu fosse visto
como eu realmente era,

que eu não era o garoto perfeito,
popular, que todos pensavam.

Que sob meu sorriso, havia uma luta,
e sob a minha luz, havia escuridão,

e sob minha grande personalidade,
estava escondida uma enorme dor.

Alguns garotos têm medo
que as garotas não gostem deles.

Algumas pessoas têm medo
de tubarões, ou da morte,

mas para mim, por um longo tempo
da minha vida, eu tive medo de mim mesmo.

Tive medo da minha verdade,
minha honestidade, minha vulnerabilidade,

e esse medo fez com que eu
me sentisse acuado,

e só haveria um jeito de sair.

E eu pensava nisso todos os dias.

Eu pensava nisso todos os dias,

e já que estou sendo franco
falando aqui,

eu já pensei nisso de novo,
porque essa é a doença.

Essa é a luta.
Isso é depressão.

E depressão não é como catapora,

você não tem apenas uma vez na vida,
você convive com ela.

É algo que sempre está ali,
é o colega que não se pode expulsar,

a voz que não se pode ignorar,
o sentimento de que não se escapa.

E o que mais dá medo é:

depois de um tempo,

você fica amortecido,
se torna algo normal.

E o que você mais tem medo
não é o sofrimento dentro de você,

é o estigma dentro dos outros;
a vergonha, o constrangimento,

o olhar de reprovação de um amigo,

os murmúrios e comentários nos corredores,
dizendo que você é fraco, que é maluco.

É isso que impede que você busque ajuda,
faz você guardar e esconder tudo.

É o estigma.
Então você guarda e esconde tudo.

E não importa que a depressão
não deixe você sair da cama todos os dias,

torne sua vida vazia,

não importa o quanto você a
preencha, você esconde,

porque o estigma em nossa sociedade
sobre a depressão é muito real.

É muito real, e se você achar que não,
se pergunte o seguinte:

você prefere que seu próximo
status no Facebook diga

que você não consegue sair da cama
porque machucou as costas,

ou que você não consegue

sair da cama todo dia
porque tem depressão?

Esse é o estigma.

Porque infelizmente, vivemos em um mundo

em que se você quebra o braço,
todo mundo corre para assinar no gesso,

mas se você diz às pessoas que
está deprimido, todos fogem de você.

Esse é o estigma.

Nós aceitamos muito, muito bem

qualquer parte do corpo
tendo problemas, menos o cérebro.

E isso é ignorância.
É pura ignorância.

Essa ignorância criou um mundo que
não entende depressão,

que não entende saúde mental,

e para mim é irônico, porque a depressão
é um dos problemas mais bem documentados

que existem no mundo e ainda assim
um dos menos debatidos.

A colocamos de lado, num canto,

fingimos que não existe,
e esperamos que se resolva sozinha.

Bem, não vai.

Não aconteceu nem irá acontecer,
porque isso é uma esperança.

E esperança não é um plano de ação,
é procrastinação.

E não podemos procrastinar
algo tão importante.

O primeiro passo para resolver qualquer
problema, é reconhecer sua existência.

Não fizemos isso ainda.

Não podemos esperar de verdade encontrar
uma resposta se temos medo da pergunta.

E eu não sei qual é a solução.
Bem que gostaria, mas não sei.

Mas acho que tem que começar aqui.
Tem que começar comigo.

Tem que começar com você. Tem que
começar com quem está sofrendo.

Os que estão escondidos nas sombras.

Temos que falar alto e quebrar o silêncio.

Temos que ser os que brigam
pelo que acreditam,

porque se há algo que eu descobri,

se há algo que eu vejo
que é o maior problema,

não está em construir um mundo em que
eliminemos a ignorância dos outros.

Está em construir um mundo em que
ensinemos a aceitação de nós mesmos.

Quando estivermos bem conosco,

porque quando somos francos,
vemos que toda a luta e sofrimento

seja com isso, com outra coisa,
nós todos sabemos o que é a dor.

Todos nós sabemos a dor
que sentimos no coração,

e todos nós sabemos
o quão importante é ficar melhor.

Mas neste momento a depressão é
o corte mais sério na sociedade

que ficamos contentes em
colocar um Band-Aid

e fingir que não está ali;
mas está.

E sabem do que mais? Está tudo bem.

Tudo bem ter depressão,
saiba que se você tem, está tudo bem,

e que você está doente,
e não que você é fraco.

E que é um problema, não uma identidade,

porque quando você vence
o medo, a ridicularização,

o julgamento e o estigma dos outros,

você consegue ver a depressão
pelo que ela realmente é.

E isso é só uma parte da vida.

Só uma parte da vida.

E por mais que eu deteste
alguns dos lugares,

algumas das partes da minha vida,
para onde a depressão me afundou,

eu sou grato por elas de várias maneiras.

Porque me colocou nos vales,
mas apenas para me mostrar que há picos.

E sim, ela me arrastou para a escuridão,
mas apenas pra me lembrar que há luz.

E minha dor, mais do que tudo
nesses 19 anos neste planeta,

me deu perspectiva.

E minha dor, minha dor me
forçou a ter esperança.

Ter esperança e ter fé.
Fé em mim mesmo. Fé nos outros.

Fé de que podemos melhorar,
podemos mudar isso, falar mais alto.

E falar claramente e reagir
à ignorância.

Reagir à intolerância.

E mais do que tudo, aprender
a amarmos a nós mesmos.

Aprender a aceitar a nós mesmos
pelo que somos,

as pessoas que somos,
não as que querem que sejamos.

Porque o mundo em que acredito

é um mundo em que abraçar sua luz
não significa ignorar sua escuridão.

O mundo em que acredito é um mundo

onde somos avaliados pela nossa habilidade
de superar adversidades, e não evitá-las.

O mundo em que acredito

é um mundo onde posso
olhar nos olhos de alguém e dizer:

"Estou passando por um inferno."

E esse alguém me olhar e dizer:
"Eu também, mas está tudo bem".

E está tudo bem porque
tudo bem ter depressão. Somos pessoas.

E lutamos, sofremos, sangramos, choramos,

e se você acha que a verdadeira força
é nunca mostrar nenhuma fraqueza,

então estou aqui para lhe dizer
que você está errado.

Porque é o oposto.

Nós somos pessoas, e temos problemas.

E não somos perfeitos, e tudo bem.
Nós precisamos acabar com a ignorância.

Acabar com a intolerância.
Acabar com o estigma.

E acabar com o silêncio.
E precisamos quebrar os tabus.

Olhar para a verdade e começar um diálogo.

Porque a única maneira

de vencer um problema em que
as pessoas batalham sozinhas,

é nos fortalecendo juntos.

Nos fortalecendo juntos.

E eu acredito que podemos.
Acredito que podemos.

Muito obrigado, pessoal, estou
realizando um sonho. Obrigado!

(Aplausos)

Obrigado.

(Aplausos)