Até onde pode-se confiar na memória?
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0:01 - 0:05Gostaria de contar a vocês sobre
um caso judicial em que trabalhei, -
0:05 - 0:08envolvendo um homem
chamado Steve Titus. -
0:08 - 0:11Titus era gerente de um restaurante.
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0:11 - 0:16Ele tinha 31 anos de idade,
morava em Seattle, Washington, -
0:16 - 0:17era noivo de Gretchen,
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0:17 - 0:20prestes a se casar.
Ela era o amor da vida dele. -
0:20 - 0:23Certa noite, o casal saiu
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0:23 - 0:26para um jantar romântico
num restaurante. -
0:26 - 0:27E estavam voltando para casa,
-
0:27 - 0:30quando foram parados por um policial.
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0:30 - 0:34Vejam, o carro de Titus
meio que lembrava -
0:34 - 0:37um carro que foi usado
mais cedo, ao anoitecer, -
0:37 - 0:41por um homem que estuprou
uma mulher que pedia carona, -
0:41 - 0:44e Titus meio que se parecia
com o estuprador. -
0:44 - 0:47Então, a polícia tirou
uma fotografia de Titus, -
0:47 - 0:50puseram-na em um grupo de fotos,
-
0:50 - 0:52que depois mostraram à vítima,
-
0:52 - 0:54e ela apontou para a foto de Titus
-
0:54 - 0:58e disse: "Este é o que mais se parece".
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0:58 - 1:02A polícia e a promotoria
procederam a um inquérito -
1:02 - 1:05e, quando Steve Titus foi levado
a julgamento por estupro, -
1:05 - 1:07a vítima do estupro se manifestou
-
1:07 - 1:11e disse: "Tenho absoluta certeza
de que é esse o homem". -
1:11 - 1:14E Titus foi condenado.
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1:14 - 1:16Ele se declarou inocente,
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1:16 - 1:19sua família gritou com o júri,
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1:19 - 1:22sua noiva desabou no chão aos prantos,
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1:22 - 1:25e Titus foi levado para a prisão.
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1:25 - 1:29Então, o que vocês fariam nesta situação?
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1:29 - 1:30O que vocês fariam?
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1:30 - 1:34Bem, Titus perdeu totalmente
a fé no sistema judiciário, -
1:34 - 1:36mas teve uma ideia.
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1:36 - 1:38Ele chamou o jornal local,
-
1:38 - 1:42despertou o interesse
de um jornalista investigativo, -
1:42 - 1:47e esse jornalista, na verdade,
encontrou o verdadeiro estuprador, -
1:47 - 1:50um homem que, por fim, confessou o crime,
-
1:50 - 1:53um homem que acreditava-se
ter cometido 50 estupros -
1:53 - 1:55naquela região.
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1:55 - 1:58E, quando essa informação
foi passada ao juiz, -
1:58 - 2:01o juiz libertou Titus.
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2:01 - 2:05Realmente, este caso devia
ter terminado ali. -
2:05 - 2:06Devia ter se encerrado.
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2:06 - 2:08Titus deveria lembrar daquele
ano como um ano terrível, -
2:08 - 2:12um ano de acusação e julgamento,
mas já encerrado. -
2:12 - 2:14Não foi assim que terminou.
-
2:14 - 2:17Titus ficou muito amargo.
-
2:17 - 2:20Ele perdeu o emprego.
Não conseguiu recuperá-lo. -
2:20 - 2:21Perdeu sua noiva.
-
2:21 - 2:24Ela não conseguia lidar
com sua raiva persistente. -
2:24 - 2:26Ele perdeu todas as suas economias
-
2:26 - 2:29e decidiu entrar com uma ação judicial
-
2:29 - 2:32contra a polícia e contra outras
pessoas que ele sentia -
2:32 - 2:34serem os responsáveis
por seu sofrimento. -
2:34 - 2:39E foi quando eu realmente
comecei a trabalhar nesse caso, -
2:39 - 2:41tentando entender
-
2:41 - 2:43como aquela vítima passou de
-
2:43 - 2:44"este é o que mais se parece"
-
2:44 - 2:49para "tenho absoluta certeza
de que é esse o cara". -
2:49 - 2:52Bem, Titus ficou esgotado
com sua ação judicial. -
2:52 - 2:55Ele passou cada instante
de sua vida pensando nisso -
2:55 - 2:59e, a apenas dias de sua
audiência no tribunal, -
2:59 - 3:02ele acordou de manhã,
-
3:02 - 3:03contorcendo-se de dor,
-
3:03 - 3:06e morreu de um ataque
cardíaco por estresse. -
3:06 - 3:09Ele tinha 35 anos de idade.
-
3:09 - 3:14Então, pediram-me que
eu trabalhasse no caso de Titus, -
3:14 - 3:17porque sou cientista
na área de psicologia. -
3:17 - 3:20Eu estudo a memória.
Estudo a memória há décadas. -
3:20 - 3:24E, quando eu conheço
alguém num avião -- -
3:24 - 3:26isso aconteceu a caminho da Escócia --
-
3:26 - 3:28quando conheço alguém em um avião,
-
3:28 - 3:31e nos perguntamos:
"O que você faz? Trabalha em quê?", -
3:31 - 3:32e eu digo: "Eu estudo a memória",
-
3:32 - 3:36geralmente acabam me contando sobre
a dificuldade que têm em lembrar de nomes, -
3:36 - 3:38ou que têm um parente com Alzheimer,
-
3:38 - 3:40ou algum tipo de problema de memória,
-
3:40 - 3:43mas tenho de dizer a eles
-
3:43 - 3:46que meu objeto de estudo não
é o esquecimento das pessoas. -
3:46 - 3:49Eu estudo o contrário:
quando elas se lembram, -
3:49 - 3:52quando se lembram de coisas
que não aconteceram -
3:52 - 3:54ou se lembram de coisas
que são diferentes -
3:54 - 3:56das que aconteceram realmente.
-
3:56 - 4:01Eu estudo falsas memórias.
-
4:01 - 4:05Infelizmente, Steve Titus
não é a única pessoa -
4:05 - 4:09a ser condenada com base
na falsa memória de alguém. -
4:09 - 4:13Em um projeto nos Estados Unidos,
-
4:13 - 4:15foi coletada informação
-
4:15 - 4:19sobre 300 pessoas inocentes,
-
4:19 - 4:23300 réus que foram condenados
por crimes que não cometeram. -
4:23 - 4:28Eles passaram 10, 20, 30 anos
na prisão por esses crimes, -
4:28 - 4:30e, agora, o teste de DNA provou
-
4:30 - 4:33que eles são, na verdade, inocentes.
-
4:33 - 4:36E quando esse casos
foram analisados, foi descoberto -
4:36 - 4:38que três quartos deles
-
4:38 - 4:44são devidos a falhas de memória,
falhas de memória de testemunhas oculares. -
4:44 - 4:45Bem, mas por quê?
-
4:45 - 4:48Como os jurados que condenaram
essas pessoas inocentes -
4:48 - 4:51e os jurados que condenaram Titus,
-
4:51 - 4:53muitas pessoas acreditam
que a memória -
4:53 - 4:54funciona como um gravador.
-
4:54 - 4:57Você simplesmente grava a informação,
-
4:57 - 4:59depois a acessa e a reproduz,
-
4:59 - 5:03quando quer responder perguntas
ou identificar imagens. -
5:03 - 5:05Mas décadas de trabalho na psicologia
-
5:05 - 5:08mostraram que isso não é verdade.
-
5:08 - 5:11Nossas memórias são construtivas.
-
5:11 - 5:12São reconstrutivas.
-
5:12 - 5:16A memória funciona mais como
uma página da Wikipedia: -
5:16 - 5:21você pode visitá-la e modificá-la,
mas outras pessoas também podem. -
5:21 - 5:26Comecei a estudar esse processo
de memória construtiva -
5:26 - 5:28na década de 1970.
-
5:28 - 5:33Realizei experiências que consistiam
em mostrar às pessoas -
5:33 - 5:35simulações de crimes e acidentes
-
5:35 - 5:39e em perguntar a elas sobre
o que elas lembravam. -
5:39 - 5:43Em um estudo, mostramos às pessoas
uma simulação de acidente -
5:43 - 5:44e perguntamos a elas:
-
5:44 - 5:47"A que velocidade estavam os carros
quando bateram um no outro? -
5:47 - 5:49E perguntamos a outras pessoas:
-
5:49 - 5:52"A que velocidade estavam os carros
quando se chocaram? -
5:52 - 5:55E se fizéssemos a pergunta sugestiva,
"se chocaram", -
5:55 - 5:59as testemunhas nos diziam que os carros
estavam a uma velocidade maior -
5:59 - 6:03e, além disso, essa pergunta sugestiva,
"se chocaram", -
6:03 - 6:05tornava mais provável que
as pessoas nos dissessem -
6:05 - 6:08que viram estilhaços de vidro
na cena do acidente, -
6:08 - 6:12quando não havia nenhum
estilhaço sequer. -
6:12 - 6:15Em outro estudo,
mostramos uma simulação de acidente, -
6:15 - 6:19em que um carro atravessou um cruzamento
com uma placa de "Pare" -
6:19 - 6:24e, se fizéssemos uma pergunta que insinuasse
que era uma placa de "Dê a preferência", -
6:24 - 6:28muitas testemunhas nos diriam que se lembravam
de ver uma placa de "Dê a preferência" -
6:28 - 6:31no cruzamento, não uma placa de "Pare".
-
6:31 - 6:33E você deve estar pensando: "Bem, sabe,
-
6:33 - 6:35são eventos filmados,
-
6:35 - 6:36eles não são particularmente estressantes.
-
6:36 - 6:39Será que os mesmos
erros seriam cometidos -
6:39 - 6:42com um evento realmente estressante?"
-
6:42 - 6:45Em um estudo que publicamos
há poucos meses, -
6:45 - 6:48temos uma resposta para esta pergunta,
-
6:48 - 6:50porque o incomum neste estudo
-
6:50 - 6:56é que fizemos com que as pessoas tivessem
uma experiência bem estressante. -
6:56 - 6:58Os alvos deste estudo
-
6:58 - 7:01foram membros do exército americano,
-
7:01 - 7:05que estavam sendo submetidos
a exercícios angustiantes de treinamento, -
7:05 - 7:08para aprenderem como vai ser para eles,
-
7:08 - 7:12caso aconteça de serem capturados
como prisioneiros de guerra. -
7:12 - 7:14E, como parte desse exercício
de treinamento, -
7:14 - 7:18esses soldados são interrogados
de forma agressiva, -
7:18 - 7:23hostil e com abusos físicos,
durante 30 minutos -
7:23 - 7:26e, mais tarde, eles têm de tentar identificar
-
7:26 - 7:29a pessoa que conduziu esse interrogatório.
-
7:29 - 7:33E quando lhes fornecemos dados sugestivos
-
7:33 - 7:35que insinuam ser uma pessoa diferente,
-
7:35 - 7:39muitos deles erram
a identidade do interrogador, -
7:39 - 7:43normalmente identificando alguém
que não lembra -
7:43 - 7:46nem de longe o verdadeiro interrogador.
-
7:46 - 7:49Então, o que esses estudos têm mostrado
-
7:49 - 7:52é que, quando fornecemos às pessoas
informação incorreta -
7:52 - 7:56sobre alguma experiência
pela qual tenham passado, -
7:56 - 8:01podemos distorcer, ou contaminar,
ou modificar sua memória. -
8:01 - 8:04Bem, lá fora, no mundo real,
-
8:04 - 8:07há informações erradas em toda parte.
-
8:07 - 8:08Recebemos informações erradas
-
8:08 - 8:11não apenas se formos questionados
de forma manipuladora, -
8:11 - 8:13mas se conversarmos
com outras testemunhas -
8:13 - 8:16que talvez conscientemente
ou inadvertidamente nos forneçam -
8:16 - 8:18alguma informação falsa,
-
8:18 - 8:23ou se virmos reportagens sobre algum evento
pelo qual tenhamos passado, -
8:23 - 8:26tudo isso gera uma oportunidade
-
8:26 - 8:30para esse tipo de contaminação
de nossa memória. -
8:30 - 8:34Na década de 90, começamos a ver
-
8:34 - 8:39um tipo de problema de memória
ainda mais extremo. -
8:39 - 8:42Alguns pacientes faziam terapia
por conta de um problema -- -
8:42 - 8:45talvez por depressão,
ou um transtorno alimentar -- -
8:45 - 8:48e saíam da terapia
-
8:48 - 8:50com um problema diferente.
-
8:50 - 8:54Memórias extremas de brutalidades horríveis,
-
8:54 - 8:56às vezes em rituais satânicos,
-
8:56 - 9:01às vezes envolvendo elementos
muito bizarros e incomuns. -
9:01 - 9:03Uma mulher saiu da psicoterapia
-
9:03 - 9:06crendo ter suportado anos
-
9:06 - 9:09de abusos ritualísticos, em que tinha
sido forçada a engravidar -
9:09 - 9:12e em que o bebê tinha
sido arrancado de sua barriga. -
9:12 - 9:14Mas não havia cicatrizes visíveis
-
9:14 - 9:16ou qualquer tipo de evidência física
-
9:16 - 9:19que comprovassem sua história.
-
9:19 - 9:22E quando comecei
a analisar esses casos, -
9:22 - 9:24eu ficava me perguntando:
-
9:24 - 9:26"De onde vêm essas memórias bizarras?"
-
9:26 - 9:30E descobri que a maior parte
dessas situações -
9:30 - 9:36envolvia algum tipo específico
de psicoterapia. -
9:36 - 9:38Então, perguntei:
-
9:38 - 9:41"Será que algumas das coisas
que aconteciam nessa psicoterapia -- -
9:41 - 9:44como os exercícios de imaginação,
-
9:44 - 9:46ou de interpretação de sonhos,
-
9:46 - 9:48ou, em alguns casos, de hipnose,
-
9:48 - 9:52ou, em alguns casos,
de exposição a informação falsa -- -
9:52 - 9:55será que levavam esses pacientes
-
9:55 - 9:57a desenvolverem essas memórias
-
9:57 - 10:00totalmente bizarras e improváveis?"
-
10:00 - 10:02E criei alguns testes
-
10:02 - 10:07para tentar estudar
os processos que eram usados -
10:07 - 10:10nessa psicoterapia,
permitindo-me estudar -
10:10 - 10:14o desenvolvimento dessas
riquíssimas falsas memórias. -
10:14 - 10:16Em um dos primeiros estudos que fizemos,
-
10:16 - 10:19usamos sugestão,
-
10:19 - 10:23um método inspirado pela psicoterapia
que vimos nesses casos. -
10:23 - 10:25Usamos esse tipo de sugestão
-
10:25 - 10:27e plantamos uma falsa memória
-
10:27 - 10:30de que, quando criança,
aos cinco ou seis anos de idade, -
10:30 - 10:32você se perdeu em um shopping.
-
10:32 - 10:35Você estava com medo.
Estava chorando. -
10:35 - 10:37Você foi, por fim,
salvo por uma pessoa de idade -
10:37 - 10:39e levado de volta à sua família.
-
10:39 - 10:42E conseguimos plantar essa memória
-
10:42 - 10:46nas mentes de cerca de um quarto
das pessoas com que trabalhamos. -
10:46 - 10:48Talvez você esteja pensando: "Bem,
-
10:48 - 10:50isso não é particularmente estressante."
-
10:50 - 10:53Mas nós e outros investigadores plantamos
-
10:53 - 10:56ricas falsas memórias de coisas que eram
-
10:56 - 10:59muito mais incomuns
e muito mais estressantes. -
10:59 - 11:02Então, em um estudo feito no Tennessee,
-
11:02 - 11:04pesquisadores plantaram
a falsa memória -
11:04 - 11:07de que, quando criança,
você quase se afogou -
11:07 - 11:09e teve de ser resgatado
por um salva-vidas. -
11:09 - 11:11E em um estudo feito no Canadá,
-
11:11 - 11:14pesquisadores plantaram a falsa memória
-
11:14 - 11:15de que, quando criança,
-
11:15 - 11:19algo horrível, como ser atacado
por um animal perigoso, -
11:19 - 11:20aconteceu com você,
-
11:20 - 11:24obtendo sucesso com cerca
de metade das pessoas. -
11:24 - 11:26E em um estudo feito na Itália,
-
11:26 - 11:29pesquisadores plantaram
a falsa memória -
11:29 - 11:34de que, quando criança, você testemunhou
uma possessão demoníaca. -
11:34 - 11:36Quero acrescentar que talvez pareça
-
11:36 - 11:40que estamos traumatizando
essas pessoas testadas -
11:40 - 11:42em nome da ciência,
-
11:42 - 11:46mas nossos estudos passaram
pela avaliação rigorosa -
11:46 - 11:48de conselhos éticos de pesquisa,
-
11:48 - 11:50os quais decidiram
-
11:50 - 11:54que o incômodo temporário que algumas
-
11:54 - 11:57dessas pessoas viessem
a experimentar nesses estudos -
11:57 - 12:01é compensado pela importância
desse problema, -
12:01 - 12:04para a compreensão
dos processos de memória -
12:04 - 12:07e do abuso de memória
que está ocorrendo -
12:07 - 12:10em alguns lugares do mundo.
-
12:10 - 12:13Bem, para minha surpresa,
-
12:13 - 12:17quando publiquei esse trabalho
e comecei a me manifestar -
12:17 - 12:21contra esse tipo
de psicoterapia em particular, -
12:21 - 12:25isso me gerou alguns
problemas bem ruins: -
12:25 - 12:30hostilidades, inicialmente da parte
de terapeutas de memória reprimidas, -
12:30 - 12:31que sentiram-se atacados,
-
12:31 - 12:35e de pacientes a quem
eles tinham influenciado. -
12:35 - 12:38Às vezes, eu tinha seguranças
armados nas palestras -
12:38 - 12:40que me convidavam para apresentar,
-
12:40 - 12:44pessoas tentando levantar campanhas
de cartas para me verem demitida. -
12:44 - 12:46Mas, talvez o pior
-
12:46 - 12:49foi que suspeitei de que uma mulher
-
12:49 - 12:51era inocente do abuso
-
12:51 - 12:54de que estava sendo acusada
por sua filha adulta. -
12:54 - 12:57Ela acusava sua mãe de abuso sexual,
-
12:57 - 12:59com base em uma memória reprimida.
-
12:59 - 13:02E essa filha acusadora,
na verdade, permitiu que sua história -
13:02 - 13:05fosse filmada e apresentada
em locais públicos. -
13:05 - 13:08Eu suspeitei dessa história
-
13:08 - 13:10e aí comecei a investigar,
-
13:10 - 13:15e, no fim, descobri informações
que me convenceram -
13:15 - 13:17de que essa mãe era inocente.
-
13:17 - 13:20Eu publiquei um dossiê sobre o caso,
-
13:20 - 13:23e, pouco tempo depois, a filha acusadora
-
13:23 - 13:25entrou com uma ação judicial.
-
13:25 - 13:27Embora eu jamais tivesse
mencionado o nome dela, -
13:27 - 13:32ela me processou por difamação
e invasão de privacidade. -
13:32 - 13:34E passei quase cinco anos
-
13:34 - 13:41lidando com esse litígio
insano e desagradável, -
13:41 - 13:45mas, enfim, ele chegou ao fim
e eu pude realmente -
13:45 - 13:47retomar o meu trabalho.
-
13:47 - 13:49No processo, entretanto,
eu me tornei parte -
13:49 - 13:52de uma moda perturbadora nos EUA,
-
13:52 - 13:54onde cientistas estão
sendo processados -
13:54 - 13:59simplesmente por se manifestarem
em questões de grande polêmica. -
13:59 - 14:02Quando retomei o meu trabalho,
fiz esta pergunta: -
14:02 - 14:05"Se eu plantar uma memória
falsa em sua mente, -
14:05 - 14:06isso tem alguma consequência?
-
14:06 - 14:08Será que isso afeta
seus pensamentos futuros, -
14:08 - 14:10seus comportamentos futuros?"
-
14:10 - 14:13Nosso primeiro estudo plantou
uma falsa memória -
14:13 - 14:16de que você adoeceu, quando criança,
ao comer certos alimentos: -
14:16 - 14:19ovos cozidos, picles de endro,
ou sorvete de morango. -
14:19 - 14:22E descobrimos que,
uma vez plantada essa falsa memória, -
14:22 - 14:24as pessoas já não queriam
tanto comer esses alimentos, -
14:24 - 14:27em um piquenique ao ar livre.
-
14:27 - 14:31As falsas memórias não são
necessariamente ruins ou desagradáveis. -
14:31 - 14:33Se plantássemos uma memória
boa e gostosa, -
14:33 - 14:36envolvendo um alimento
saudável como o aspargo, -
14:36 - 14:39conseguiríamos fazer com que
as pessoas comessem mais aspargos. -
14:39 - 14:42Então, esses estudos estão mostrando
-
14:42 - 14:44que podemos plantar falsas memórias
-
14:44 - 14:45e que elas têm consequências
-
14:45 - 14:50que afetam o comportamento até muito tempo
depois de as memórias se estabelecerem. -
14:50 - 14:53Bem, junto com essa habilidade
-
14:53 - 14:56de plantar memórias
e controlar o comportamento, -
14:56 - 15:00é óbvio que vêm algumas
questões éticas importantes, -
15:00 - 15:03como: quando deveríamos
usar essa tecnologia da mente? -
15:03 - 15:07Deveríamos proibir
o uso dessa tecnologia? -
15:07 - 15:10Os terapeutas não podem, de forma ética,
plantar falsas memórias -
15:10 - 15:11na mente de seus pacientes,
-
15:11 - 15:14mesmo que elas
ajudassem o paciente, -
15:14 - 15:15mas não há nada
que possa impedir os pais -
15:15 - 15:20de tentar isso em seus filhos adolescentes
obesos ou com sobrepeso. -
15:20 - 15:22E, quando sugeri isso publicamente,
-
15:22 - 15:26novamente ocorreram protestos.
-
15:26 - 15:30"Lá vem ela. Ela é a favor de que
os pais mintam para os filhos". -
15:30 - 15:32Fala sério! Cadê o Papai Noel?
(Risadas) -
15:32 - 15:41Ou seja, outra forma de enxergar isso é:
-
15:41 - 15:43você prefere ter
-
15:43 - 15:47um filho com obesidade, diabetes,
expectativa de vida curta, -
15:47 - 15:48e tudo que essas coisas acarretam,
-
15:48 - 15:51ou um filho com um pouquinho
de falsa memória? -
15:51 - 15:54Eu sei o que eu escolheria,
se fosse um filho meu. -
15:54 - 15:58Mas talvez meu trabalho tenha me tornado
diferente da maioria das pessoas. -
15:58 - 16:01A maioria das pessoas
estima suas memórias, -
16:01 - 16:03sabem que elas representam
sua identidade, -
16:03 - 16:05quem são, suas origens.
-
16:05 - 16:08E admiro isso. Também me sinto assim.
-
16:08 - 16:10Mas sei, por causa do meu trabalho,
-
16:10 - 16:14o quanto de ficção
já está embutida nisso tudo. -
16:14 - 16:17Se houve algo aprendi nessas décadas
-
16:17 - 16:19de trabalho com esses
problemas, foi isto: -
16:19 - 16:22só porque alguém
diz algo a você -
16:22 - 16:23e o dizem com confiança,
-
16:23 - 16:26só porque o dizem
com riqueza de detalhes, -
16:26 - 16:29só porque expressam
emoção quando o dizem, -
16:29 - 16:32isso não significa que o que dizem
de fato aconteceu. -
16:32 - 16:36Não podemos distinguir com certeza
as memórias reais das falsas memórias. -
16:36 - 16:39Precisamos de confirmação imparcial.
-
16:39 - 16:42Tal descoberta me tornou mais tolerante
-
16:42 - 16:44com os erros comuns de memória
-
16:44 - 16:47que meus amigos e familiares cometem.
-
16:47 - 16:52Tal descoberta poderia ter
salvado Steve Titus, -
16:52 - 16:55o homem que teve roubado
todo um futuro, -
16:55 - 16:58por causa de uma falsa memória.
-
16:58 - 17:01Mas, contudo,
devemos todos ter em mente, -
17:01 - 17:02seria bom que fizéssemos isso,
-
17:02 - 17:06que a memória, como a liberdade,
-
17:06 - 17:10é algo frágil.
-
17:10 - 17:13Obrigada. Obrigada.
-
17:13 - 17:15Obrigada.
(Aplausos) -
17:15 - 17:19Muito obrigada.
(Aplausos)
- Title:
- Até onde pode-se confiar na memória?
- Speaker:
- Elizabeth Loftus
- Description:
-
A psicóloga Elizabeth Loftus estuda a memória. Mais especificamente, ela estuda as falsas memórias, isto é, quando pessoas se lembram de coisas que não aconteceram, ou quando a lembrança contém detalhes que não correspondem à realidade. Isso é mais comum do que você possa imaginar, e Loftus compartilha algumas histórias e estatísticas surpreendentes, levantando várias questões éticas de extrema importância que devemos nos lembrar de levar em consideração.
- Video Language:
- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 17:36
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Gustavo Rocha edited Portuguese, Brazilian subtitles for How reliable is your memory? | |
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Gustavo Rocha approved Portuguese, Brazilian subtitles for How reliable is your memory? | |
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Ryan Martinez accepted Portuguese, Brazilian subtitles for How reliable is your memory? |