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Como recuperar a economia global

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    Chris Anderson: Vou apresentar-vos
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    uma das mulheres
    mais poderosas do mundo.
  • 0:07 - 0:11
    Se queremos sair das dificuldades
    em que estamos hoje,
  • 0:11 - 0:15
    ela vai desempenhar um papel importante
    para nos ajudar a fazer isso.
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    É a diretora-geral
    do Fundo Monetário Internacional.
  • 0:19 - 0:22
    É um prazer recebê-la aqui,
    Kristalina Georgieva
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    Kristalina, bem-vinda.
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    Kristalina Georgieva:
    É um prazer, Chris.
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    Obrigada por me ter convidado.
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    CA: Assumiu este cargo no ano passado
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    e, quatro meses depois, chegou a COVID.
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    Foi um início dos diabos
    no seu novo cargo.
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    Como é que se tem dado?
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    KG: Bem, tenho encontrado força na ação.
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    No FMI, desde o primeiro dia
    desta crise,
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    temo-nos concentrado
    em tudo o que temos
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    para proporcionar linhas financeiras
    de segurança aos países,
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    ou seja, a povos e a empresas.
  • 1:04 - 1:08
    Já recebemos mais de 90 pedidos
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    e oferecemos a 56 países
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    pacotes financeiros importantes.
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    CA: Descreveu esta pandemia
    como uma crise sem precedentes.
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    Em que aspeto é que esta crise
    é diferente de qualquer outra?
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    KG: Na verdade, é diferente
    de qualquer outra.
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    Primeiro, nunca até hoje
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    prejudicámos tanto a economia,
    deliberadamente,
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    para combater um vírus e salvar vidas.
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    Estamos a pedir às empresas
    que não produzam
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    e aos consumidores
    que não saiam e não consumam.
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    No FMI, chamámos-lhe
    o "Grande Confinamento".
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    Em segundo lugar,
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    nunca anteriormente
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    houve uma mudança
    tão rápida no destino,
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    praticamente para toda a gente
    pelo mundo inteiro.
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    Em janeiro, estive em Davos
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    a falar do "crescimento anémico"
    um crescimento de 3%.
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    Em abril, nas sessões da primavera,
    já era de 3% negativos,
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    Em janeiro, prevíamos
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    o aumento de receitas "per capita"
    para 160 países.
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    Agora, são 170 países com diminuição
    de receitas "per capita".
  • 2:39 - 2:43
    Chamamos a isto a "Grande Inversão".
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    Muito doloroso.
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    E em terceiro lugar, a incerteza.
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    Sempre lidámos com a incerteza, Chris,
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    mas desta vez
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    é a incerteza de um novo coronavírus
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    que os políticos têm de integrar.
  • 3:01 - 3:07
    Nós, no FMI, combinamos
    as projeções epidemiológicas
  • 3:07 - 3:10
    com os nossos modelos
    macroeconómicos tradicionais
  • 3:10 - 3:13
    para ver as coisas
    para além dessa incerteza.
  • 3:15 - 3:19
    Devo acrescentar que tenho a esperança
  • 3:19 - 3:22
    de que, quando passarmos
    para a recuperação,
  • 3:22 - 3:26
    possamos usar um novo termo
    e chamar-lhe a "Grande Transformação".
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    Tornar o mundo um sítio melhor.
  • 3:32 - 3:35
    CA: Estou interessado em voltar
    a esse tema daqui a pouco.
  • 3:35 - 3:38
    Mas, neste momento de resposta à crise,
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    a principal ferramenta
    que parece ter sido utilizada,
  • 3:41 - 3:43
    pelo menos pelos países ricos,
  • 3:43 - 3:47
    tem sido um enorme
    estímulo económico,
  • 3:47 - 3:50
    ao nível de biliões de dólares.
  • 3:50 - 3:53
    Será uma resposta inteligente?
  • 3:53 - 3:56
    KG: É uma necessidade.
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    Não é todos os dias
    que ouvimos o FMI dizer aos países:
  • 4:01 - 4:02
    "Por favor, gastem,
  • 4:02 - 4:04
    "Gastem o mais que puderem."
  • 4:04 - 4:06
    É o que estamos a dizer hoje.
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    E ainda acrescentamos:
  • 4:08 - 4:10
    "E guardem os recibos.
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    "Não apresentem as contas
    aos cidadãos, aos contribuintes."
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    É necessária uma injeção financeira,
  • 4:21 - 4:27
    estas medidas fiscais de quase
    nove biliões de dólares são necessárias
  • 4:27 - 4:31
    porque, quando a economia
    fica paralisada,
  • 4:31 - 4:33
    se não houver ajuda,
  • 4:33 - 4:37
    se não houver um estímulo
    de política monetária,
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    as empresas vão todas à falência,
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    as pessoas perdem todas os seus empregos,
  • 4:44 - 4:46
    a economia entra em colapso.
  • 4:46 - 4:48
    Se passarmos para esse lado,
  • 4:48 - 4:52
    esse colapso torna a recuperação
    muito mais difícil.
  • 4:53 - 4:56
    Portanto, é uma coisa inteligente a fazer.
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    Além disso, os bancos centrais
    das economias mais importantes
  • 5:01 - 5:05
    têm agido de modo sincronizado
  • 5:05 - 5:08
    e esse estímulo fiscal
    apareceu muito rapidamente.
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    É assim que vemos as pessoas
    a conseguirem ultrapassar
  • 5:13 - 5:15
    este período muito difícil.
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    CA: Mas até que ponto se poderá ir?
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    Tem-se falado, de certo modo,
    de "imprimir dinheiro"
  • 5:21 - 5:23
    — os governos estão a emitir
    cada vez mais obrigações
  • 5:23 - 5:27
    que terão de ser reembolsadas
    mais tarde ou mais cedo.
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    Em economia, há o conceito
    do "momento Minsky",
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    em que as coisas podem correr
    muito bem durante uns tempos
  • 5:33 - 5:36
    enquanto todos acreditarem
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    que o comboio continua a andar
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    o ciclo continua a rodar,
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    que os governos têm esse dinheiro todo.
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    Mas a certa altura,
    não se atingirá o ponto de rotura?
  • 5:46 - 5:49
    Não receia que possamos
    estar perto de um momento Minsky,
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    como no filme "Mary Poppins",
    quando Michael
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    reclama os seus tostões
    e cria o pânico no banco?
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    Não há tensão no sistema
    financeiro internacional
  • 5:58 - 6:00
    que a preocupe,
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    que lhe dê a sensação de que
    a sua margem de manobra está a reduzir-se?
  • 6:04 - 6:08
    KG: Claro que isto não pode
    continuar indefinidamente.
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    Para já, tenho confiança
    nos nossos cientistas.
  • 6:12 - 6:14
    Penso que vamos assistir a inovações
  • 6:14 - 6:18
    e também vamos ver
    pessoas nas empresas
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    a habituarem-se ao distanciamento social,
  • 6:21 - 6:26
    às micromedidas que impedem
    a doença de se espalhar.
  • 6:26 - 6:31
    Já assistimos a injeções maciças
    nos sistemas de saúde,
  • 6:31 - 6:35
    por isso os hospitais podem
    tratar as pessoas que procuram ajuda.
  • 6:36 - 6:40
    Obviamente, se isto continuar
    por muito tempo,
  • 6:40 - 6:42
    ficaremos preocupados.
  • 6:42 - 6:46
    Para já, o que estamos a prever
  • 6:46 - 6:50
    é que vai haver
    uma reabertura gradual
  • 6:50 - 6:54
    — vemos que isso já está a acontecer
    numa série de países.
  • 6:54 - 6:57
    Prevemos para o próximo ano, 2021,
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    uma recuperação parcial.
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    Infelizmente, não será
    uma recuperação total,
  • 7:02 - 7:04
    mas o regresso a uma situação melhor.
  • 7:05 - 7:06
    O que nos ajuda
  • 7:06 - 7:10
    é uma coisa que
    não me agrada especialmente,
  • 7:10 - 7:14
    mas que vejo como um facto positivo
  • 7:14 - 7:19
    — taxas de juro muito baixas,
    nalguns casos, mesmo negativas —
  • 7:19 - 7:26
    que permite que esta injeção
    de medidas fiscais e liquidez
  • 7:27 - 7:30
    se mantenham durante
    uma série de anos.
  • 7:30 - 7:33
    Para já, não se perfila no horizonte
  • 7:33 - 7:37
    qualquer retorno a um aumento
    das taxas de juro.
  • 7:37 - 7:40
    Portanto, manter-se-ão baixas
    ainda muito tempo,
  • 7:40 - 7:45
    e neste cenário, é um aspeto positivo.
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    CA: A crise financeira de 2008
  • 7:51 - 7:54
    aproximou-se perigosamente
    do colapso de todo o sistema financeiro
  • 7:54 - 7:56
    — podemos dizê-lo.
  • 7:56 - 7:58
    Segundo os cálculos de muita gente,
  • 7:58 - 8:02
    esta crise terá um impacto muito pior
    na economia em geral.
  • 8:02 - 8:05
    O mundo aprendeu alguma coisa
    com a crise de 2008
  • 8:05 - 8:09
    que nos tenha ajudado
    a sermos mais resilientes desta vez?
  • 8:10 - 8:12
    KG: O que o mundo aprendeu
  • 8:12 - 8:17
    é que o sistema financeiro
    tem de ser testado
  • 8:18 - 8:22
    e depois reforçado
    para aguentar com os choques.
  • 8:22 - 8:25
    E isso está a ajudar-nos
    imensamente hoje.
  • 8:26 - 8:30
    O sistema bancário é resiliente
  • 8:30 - 8:36
    e mesmo nas instituições
    financeiras, não bancárias,
  • 8:36 - 8:38
    presta-se mais atenção
  • 8:39 - 8:45
    até onde se pode ir
    sem se meterem em sarilhos.
  • 8:46 - 8:47
    Eu diria
  • 8:47 - 8:49
    que, se olharmos para o mundo,
  • 8:49 - 8:56
    a lição mais importante era
    "criar resiliência aos choques".
  • 8:57 - 9:01
    Os que fizeram isso
    têm agora menos dificuldades.
  • 9:01 - 9:05
    E os que não o fizeram
    estão numa situação muito mais difícil.
  • 9:05 - 9:07
    Na verdade, para o FMI,
  • 9:07 - 9:09
    o que desejamos
  • 9:09 - 9:15
    é que possamos sair desta crise
    com esta lição sobre resiliência
  • 9:15 - 9:19
    disseminada para além
    do sistema bancário,
  • 9:19 - 9:23
    para adquirirmos esta mentalidade
    de gestão de crises
  • 9:23 - 9:29
    num mundo que, inevitavelmente,
    está mais propenso a choques
  • 9:29 - 9:31
    por causa do clima
  • 9:31 - 9:37
    e também por causa da forte densidade
    da vida económica e social no planeta.
  • 9:38 - 9:40
    CA: No seu cargo,
  • 9:40 - 9:45
    está a prestar especial atenção
    à situação nos países em desenvolvimento.
  • 9:45 - 9:49
    Parece que eles estão a enfrentar
    uma situação terrível, neste momento.
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    Muitos deles têm uma dívida
    significativa em dólares.
  • 9:56 - 9:57
    Na atual crise,
  • 9:58 - 10:02
    as divisas deles depreciam-se
    em relação ao dólar,
  • 10:02 - 10:08
    o que os impossibilita
    de executar esse tipo de injeções,
  • 10:08 - 10:09
    de injeções de estímulo,
  • 10:09 - 10:11
    que os países ricos estão a fazer
  • 10:11 - 10:14
    e parece ser a única forma de saída.
  • 10:14 - 10:16
    Isto parece um ciclo
    realmente perigoso.
  • 10:16 - 10:19
    Haverá alguma forma
    de quebrar este ciclo?
  • 10:19 - 10:23
    KG: Primeiro, temos de separar
  • 10:23 - 10:27
    os países que construíram
    alicerces sólidos.
  • 10:27 - 10:28
    Nesta crise,
  • 10:28 - 10:33
    à medida que vamos recebendo informações
  • 10:33 - 10:37
    ainda aparecem algumas
    surpresas positivas, embora poucas.
  • 10:38 - 10:41
    Provêm de países
    que criaram almofadas mais sólidas,
  • 10:41 - 10:43
    alicerces mais sólidos,
  • 10:43 - 10:46
    foram mais disciplinados
    durante os bons tempos.
  • 10:46 - 10:48
    Mas, na verdade, vemos
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    uma série de mercados emergentes,
    de países em desenvolvimento,
  • 10:52 - 10:55
    que enfrentam múltiplas pressões.
  • 10:55 - 10:58
    Foram atingidos pelo coronavírus.
  • 10:58 - 11:02
    muitos deles têm sistemas
    de saúdes muito frágeis.
  • 11:02 - 11:06
    Depois, têm um alto nível
    de endividamento,
  • 11:06 - 11:08
    anterior a esta crise,
  • 11:08 - 11:11
    o que cria um ambiente
    muito mais difícil para eles.
  • 11:12 - 11:15
    Depois, muitos deles
    são exportadores de matérias-primas.
  • 11:16 - 11:19
    Os preços das matérias-primas,
    o preço do petróleo,
  • 11:19 - 11:21
    baixaram drasticamente.
  • 11:21 - 11:23
    Isso atinge-os de novo.
  • 11:23 - 11:26
    Muitos dependem de remessas do exterior.
  • 11:26 - 11:30
    As remessas do exterior
    diminuíram em 20 a 30%.
  • 11:30 - 11:35
    Depois, temos uma série de países
    muito dependentes do turismo.
  • 11:35 - 11:39
    O turismo é o setor mais fortemente
    atingido, ou um dos piores.
  • 11:39 - 11:42
    É muito difícil para esses países
  • 11:42 - 11:48
    mas é por isso que foram criadas
    as instituições como o FMI.
  • 11:49 - 11:53
    O FMI, o Banco Mundial,
    os bancos de desenvolvimento regional
  • 11:53 - 11:57
    todos trabalhamos estreitamente
    em contacto, nesta crise.
  • 11:57 - 11:59
    Felizmente, o FMI
  • 11:59 - 12:06
    — foi uma das lições
    da crise de 2008-2009 —
  • 12:06 - 12:11
    garante que, no centro
    da rede de segurança financeira,
  • 12:11 - 12:13
    está um FMI com força financeira.
  • 12:13 - 12:17
    Temos hoje quatro vezes
    mais dinheiro para emprestar
  • 12:18 - 12:20
    do que tínhamos nessa altura.
  • 12:20 - 12:23
    Passámos de 250 mil milhões
    para um bilião de dólares.
  • 12:23 - 12:27
    Claro que estamos
    a afetar estes fundos
  • 12:27 - 12:30
    para os países que mais precisam.
  • 12:30 - 12:32
    Fizemos mais uma coisa.
  • 12:32 - 12:36
    Com David Malpass,
    o presidente do Banco Mundial,
  • 12:36 - 12:42
    pedimos uma moratória de dívida
    para os países mais pobres
  • 12:42 - 12:45
    aos seus credores oficiais bilaterais.
  • 12:45 - 12:48
    As pessoas costumam dizer:
  • 12:48 - 12:50
    "Oh, não trabalhamos em conjunto.
    Não é lá muito bom."
  • 12:50 - 12:56
    Mas esta é uma área em que lançámos
    um apelo no final de março
  • 12:56 - 12:58
    e, em meados de abril
  • 12:58 - 13:02
    o G20 concordou com esta moratória.
  • 13:03 - 13:05
    Foi espantoso, tínhamos
    o Paris Club, a China,
  • 13:05 - 13:07
    os países do Golfo,
  • 13:07 - 13:13
    todos de acordo em que não devíamos
    sufocar os países mais pobres
  • 13:13 - 13:15
    pedindo-lhes para pagarem as suas dívidas
  • 13:15 - 13:18
    quando tinham as economias paralisadas.
  • 13:19 - 13:22
    CA: Será possível
    que alguns países em desenvolvimento
  • 13:22 - 13:26
    estejam a exagerar
    a política do confinamento?
  • 13:26 - 13:30
    Se grande quantidade de cidadãos
    já estão a lutar para sobreviverem
  • 13:30 - 13:34
    não será uma sentença de morte
    obrigá-los a não saírem de casa?
  • 13:35 - 13:39
    KG: Chris, uma das conversas
    mais pungentes que já tenho tido
  • 13:39 - 13:45
    é com os líderes dos países
    que têm de enfrentar
  • 13:45 - 13:49
    a escolha entre as pessoas
    a morrerem do vírus
  • 13:49 - 13:51
    ou a morrerem de fome.
  • 13:52 - 13:56
    Para eles, é uma situação dramática.
  • 13:58 - 14:02
    Quando uma grande parte
    da economia que temos é informal,
  • 14:02 - 14:06
    em que as pessoas vivem todos os dias
    de chapa ganha, chapa gasta,
  • 14:08 - 14:10
    não é possível de aplicar
  • 14:10 - 14:13
    o confinamento que temos
    nas economias avançadas,
  • 14:13 - 14:15
    Mas, mesmo aí
  • 14:15 - 14:19
    os países estão a comportar-se
    muito bem, no distanciamento social
  • 14:19 - 14:21
    na medida do possível.
  • 14:22 - 14:24
    Muitos países em África
  • 14:24 - 14:27
    apressaram-se a instituir
    medidas preventivas.
  • 14:28 - 14:29
    Porquê?
  • 14:29 - 14:32
    Aprenderam com o Ébola,
    aprenderam com crises anteriores,
  • 14:32 - 14:33
    que, em matéria de higiene,
  • 14:33 - 14:38
    a tomada de medidas
    pode ajudar realmente.
  • 14:38 - 14:40
    Mais uma vez, não me canso de sublinhar
  • 14:40 - 14:44
    a importância da solidariedade
    para com estes países,
  • 14:44 - 14:50
    a importância para a minha instituição
    de apoiá-los atempadamente.
  • 14:50 - 14:52
    E é isso que fazemos.
  • 14:53 - 14:54
    CA: Whitney.
  • 14:55 - 14:57
    Whitney Pennington Rogers:
    Olá. Obrigada.
  • 14:57 - 14:59
    Esta conversa é excelente
  • 14:59 - 15:02
    e começamos a ver
    algumas perguntas da comunidade.
  • 15:02 - 15:04
    A primeira é de Bill Elkus.
  • 15:04 - 15:07
    É na sequência duma coisa
    que referiu há bocado,
  • 15:07 - 15:09
    relacionada com o estímulo, Kristalina.
  • 15:09 - 15:13
    Quais são os riscos de inflação
    após um estímulo tão grande?
  • 15:16 - 15:17
    KG: Neste momento,
  • 15:17 - 15:21
    não estamos preocupados com a inflação
    nas economias avançadas
  • 15:21 - 15:27
    e na maioria dos países emergentes
    de economia de mercado.
  • 15:27 - 15:29
    Preocupa-nos a inflação
  • 15:29 - 15:34
    nos países que têm alicerces fracos,
  • 15:34 - 15:39
    com acesso difícil a câmbios estrangeiros,
  • 15:39 - 15:44
    onde a única forma de fazer face à crise
  • 15:44 - 15:47
    é a nossa ajuda
  • 15:47 - 15:51
    ou porem os seus bancos centrais
    a imprimir mais dinheiro.
  • 15:52 - 15:55
    Por vezes, é uma combinação
    destas duas coisas.
  • 15:55 - 15:59
    Porque é que eu não me preocupo
    com a inflação nas economias avançadas?
  • 15:59 - 16:04
    Porque os países que têm
    uma divisa forte
  • 16:05 - 16:09
    estão a implementar a liquidez
  • 16:10 - 16:12
    mas, em simultâneo,
  • 16:12 - 16:18
    não assistem a uma grande
    expansão da procura
  • 16:18 - 16:21
    e os preços não sobem demasiado.
  • 16:22 - 16:24
    Para estes países,
  • 16:25 - 16:28
    pelo menos num futuro observável,
  • 16:28 - 16:32
    não prevemos uma inflação galopante
  • 16:32 - 16:36
    como depois da II Guerra Mundial.
  • 16:38 - 16:42
    Os consumidores não estão
    a consumir tão agressivamente,
  • 16:42 - 16:45
    a procura não é tão grande.
  • 16:45 - 16:51
    São sociedades onde há
    muita maturidade
  • 16:51 - 16:56
    na forma como exercem
    as suas opções políticas.
  • 16:56 - 16:59
    Mas, se for um país pobre,
  • 16:59 - 17:04
    que, em desespero por não ter
    acesso aos mercados,
  • 17:04 - 17:07
    por não ter acesso a uma divisa forte,
  • 17:07 - 17:13
    se vê forçado a aumentar
    o fornecimento da moeda,
  • 17:13 - 17:15
    aí a inflação vai ser grande.
  • 17:15 - 17:18
    Um caso extremo é o Zimbabué
  • 17:18 - 17:21
    e penso que possa haver
    outros países.
  • 17:21 - 17:27
    É por isso que estamos tão determinados
    a intervir rapidamente nesses países.
  • 17:28 - 17:32
    Também olhamos para alguns
    dos países fortemente endividados.
  • 17:33 - 17:37
    Será necessário, país a país,
  • 17:38 - 17:40
    restruturar dívidas
  • 17:40 - 17:46
    para impedir uma evolução
    numa direção desesperada.
  • 17:48 - 17:49
    WPR: Obrigada.
  • 17:49 - 17:52
    Temos outra pergunta
    da nossa comunidade.
  • 17:52 - 17:54
    É de Keith Yamashita.
  • 17:54 - 17:57
    Pretende saber como podemos
    contribuir para essa mudança.
  • 17:57 - 18:00
    "A senhora tem a seu cargo
    o esforço financeiro e macroeconómico.
  • 18:01 - 18:04
    "O que é que os cidadãos podem fazer,
    para ajudar à renovação e à recuperação?"
  • 18:05 - 18:09
    KG: Bom, é extremamente importante
    para todos nós, cidadãos
  • 18:09 - 18:15
    — e, para além de ser diretora do FMI,
    também sou cidadã do mundo —
  • 18:15 - 18:21
    transmitir esta noção de solidariedade
  • 18:22 - 18:24
    num momento de crise.
  • 18:25 - 18:30
    Adorei a forma como este segmento
  • 18:30 - 18:36
    teve como música de fundo
    "Lean on Me".
  • 18:37 - 18:42
    É muito importante
    que criemos este sentimento:
  • 18:42 - 18:46
    "Estamos todos no mesmo barco,
    ultrapassaremos isto em conjunto."
  • 18:47 - 18:50
    Por favor, sejam porta-vozes disto.
  • 18:50 - 18:54
    Durante muitos anos
    fui comissária de gestão de crises.
  • 18:54 - 18:59
    Uma das coisas que aprendi
    é que a maioria das pessoas
  • 18:59 - 19:02
    são positivas, são boa gente.
  • 19:03 - 19:05
    Podemos apoiar-nos nelas.
  • 19:06 - 19:11
    E há uma minoria que é
    odiosa e temível
  • 19:12 - 19:14
    e também muito ruidosa.
  • 19:14 - 19:18
    Portanto, pessoas boas,
    sejam porta-vozes!
  • 19:19 - 19:23
    Espalhem este sentimento
    de "estamos todos no mesmo barco,
  • 19:23 - 19:25
    "ultrapassaremos isto em conjunto."
  • 19:26 - 19:29
    WPR: Obrigada. Eu depois volto
    com mais perguntas.
  • 19:31 - 19:34
    CA: Kristalina, gostava
    de aprofundar um tema
  • 19:34 - 19:37
    e perguntar mais coisas
    sobre liderança,
  • 19:37 - 19:41
    Quando as pessoas pensam
    nas nações que se saíram melhor,
  • 19:41 - 19:43
    normalmente referem-se
  • 19:43 - 19:47
    — quando digo melhor,
    é em relação à atual pandemia —
  • 19:47 - 19:50
    referem-se habitualmente
    à Alemanha, à Nova Zelândia,
  • 19:50 - 19:53
    à Coreia do Sul, a Taiwan,
    à Dinamarca e à Noruega.
  • 19:54 - 19:56
    Quando pensam naqueles
    que se saíram pior,
  • 19:56 - 20:01
    pensam habitualmente na Espanha,
    na Itália, no Reino Unido, na Bélgica,
  • 20:01 - 20:06
    na Suécia, no Irão, no Brasil,
    na Rússia e nos EUA.
  • 20:08 - 20:11
    Todos os países do segundo grupo
    são governados por homens.
  • 20:11 - 20:13
    Todos os países do primeiro grupo,
    com exceção de um,
  • 20:13 - 20:15
    são governados por mulheres.
  • 20:15 - 20:17
    Será uma coincidência?
  • 20:17 - 20:23
    KG: Bom, falando um pouco subjetivamente,
  • 20:24 - 20:25
    enquanto mulher,
  • 20:25 - 20:31
    creio que as mulheres
    são ótimas para liderar uma crise.
  • 20:32 - 20:37
    São mais suscetíveis de mostrar empatia,
  • 20:37 - 20:41
    preocupam-se mais
    com as pessoas vulneráveis
  • 20:41 - 20:44
    e conseguem falar nisso.
  • 20:45 - 20:46
    São decisivas.
  • 20:46 - 20:48
    Posso dizê-lo por mim mesma.
  • 20:48 - 20:53
    Obtemos energia a partir da ação.
  • 20:53 - 20:59
    E não temos tendência
    a choramingar e a queixar-nos
  • 20:59 - 21:01
    em demasia.
  • 21:04 - 21:06
    Talvez seja altura de falar
  • 21:06 - 21:11
    do valor da igualdade de sexos
    para o futuro.
  • 21:13 - 21:18
    Trazer mais mulheres para este mundo
    de mais crises que se avizinham.
  • 21:20 - 21:23
    CA: É obviamente difícil fazer
    generalizações sobre géneros
  • 21:23 - 21:26
    mas haverá também alguma coisa
  • 21:26 - 21:28
    quanto à aceitação da diferença
  • 21:28 - 21:31
    de que as mulheres possam ser
    melhores do que os homens?
  • 21:31 - 21:34
    Os homens são muitas vezes:
    "havemos de ganhar, de conquistar"
  • 21:35 - 21:38
    numa situação como esta
    em que só há probabilidades.
  • 21:39 - 21:43
    é como se houvesse tantos
    manípulos complexos a acionar
  • 21:43 - 21:47
    nesta perigosa máquina pandémica
    que estamos a tentar dominar.
  • 21:49 - 21:52
    Serão as mulheres melhores?
  • 21:52 - 21:54
    KG: Vou dizer-lhe uma coisa, Chris.
  • 21:54 - 21:56
    Precisamos de toda a gente,
  • 21:56 - 22:00
    precisamos desta mistura de experiências,
    de conhecimentos e de predisposições.
  • 22:01 - 22:03
    Homens e mulheres, em conjunto.
  • 22:03 - 22:09
    Penso que é estupendo
    ter diferentes perspetivas
  • 22:09 - 22:10
    quando tomamos decisões.
  • 22:10 - 22:15
    Assim, as hipóteses de tomar
    uma boa decisão são mais altas.
  • 22:16 - 22:18
    Precisamos uns dos outros
  • 22:18 - 22:22
    mas também precisamos de reconhecer
    que há determinadas coisas
  • 22:22 - 22:25
    — estou farta de ver isso —
  • 22:25 - 22:30
    em que as mulheres estão mais dispostas
    a encontrar uma via de compromisso,
  • 22:30 - 22:36
    estão mais dispostas a serem corrigidas
    se estiverem erradas e a dizerem:
  • 22:36 - 22:38
    "OK, é uma boa questão.
  • 22:38 - 22:41
    "Vou integrar isso na forma
    como penso sobre essa questão."
  • 22:41 - 22:44
    Quando estamos numa incerteza,
  • 22:44 - 22:48
    isso é uma vantagem enorme
    para a tomada de decisões.
  • 22:50 - 22:53
    CA: Talvez então falar mais um pouco
    da sua liderança neste momento.
  • 22:53 - 22:56
    Eu referi que só assumiu
    este cargo há pouco tempo.
  • 22:56 - 22:58
    Antes disso, era Comissária Europeia,
  • 22:58 - 23:03
    lidou com crises humanitárias
    em várias partes do mundo.
  • 23:03 - 23:05
    E no seu país, na Bulgária,
  • 23:05 - 23:08
    assistiu à total transformação do país,
  • 23:08 - 23:10
    tanto política como economicamente.
  • 23:10 - 23:14
    Que lições pode contar-nos
    dessa experiência passada
  • 23:14 - 23:16
    até este momento?
  • 23:17 - 23:19
    KG: Aprendi muitas coisas.
  • 23:19 - 23:23
    Tive muita sorte por ter tido
    essas experiências múltiplas.
  • 23:23 - 23:26
    para o cargo que tenho agora.
  • 23:26 - 23:29
    Mas vou destacar três delas.
  • 23:29 - 23:34
    A primeira, até que ponto é importante
  • 23:34 - 23:39
    prepararmo-nos para uma crise.
  • 23:39 - 23:42
    Pensar no impensável
  • 23:42 - 23:47
    e depois agir com alguma clarividência
  • 23:47 - 23:50
    quando somos atingidos
    por qualquer choque.
  • 23:51 - 23:57
    Temos um nome para esta série
    chamada "Voltar a reconstruir".
  • 23:58 - 24:01
    Gostava de o modificar, se é que posso.
  • 24:01 - 24:06
    e chamar-lhe
    "Reconstruir melhor do que antes".
  • 24:07 - 24:12
    A preparação e a prevenção
    fazem poupar muito tempo.
  • 24:13 - 24:14
    A segunda coisa
  • 24:14 - 24:18
    — não necessariamente por ordem
    de importância, é igualmente importante —
  • 24:18 - 24:20
    é a ação coletiva,
  • 24:20 - 24:23
    o trabalho em conjunto.
  • 24:24 - 24:26
    Procurar ajuda, oferecer ajuda.
  • 24:27 - 24:31
    Isso faz uma grande diferença
    numa emergência.
  • 24:32 - 24:35
    E a terceira é uma coisa
    que aprendi vezes sem conta.
  • 24:36 - 24:40
    Só conhecemos a nossa força interior
  • 24:40 - 24:43
    quando somos atingidos.
  • 24:44 - 24:46
    Somos tão resilientes,
  • 24:46 - 24:50
    temos tanta capacidade
    para aguentar com choques,
  • 24:50 - 24:53
    especialmente quando juntamos forças,
  • 24:54 - 24:58
    que isso dá-me sempre
    esta sensação de otimismo
  • 24:58 - 25:04
    que, por mais difícil que seja,
    conseguimos superá-los.
  • 25:05 - 25:09
    Desde a época em que o meu país
    entrou em colapso, a economia caiu,
  • 25:09 - 25:11
    em que me levantava às quatro da manhã,
  • 25:12 - 25:15
    para ir buscar o leite
    para a minha filha,
  • 25:15 - 25:21
    até aos dias em que via
    refugiados sírios em situações terríveis
  • 25:21 - 25:23
    a ajudarem-se uns aos outros,
  • 25:23 - 25:27
    até hoje, quando sou a diretora do FMI,
  • 25:27 - 25:30
    que a força interior,
  • 25:30 - 25:33
    o nosso poder de resiliência,
  • 25:34 - 25:36
    quanto mais nos juntarmos
  • 25:36 - 25:39
    mais se ampliam.
  • 25:40 - 25:43
    CA: Pode falar-nos mais um pouco
    sobre o papel do FMI
  • 25:43 - 25:47
    especialmente quando pensamos
    na recuperação desta crise?
  • 25:47 - 25:50
    O que é que, especificamente,
    a sua organização pode fazer
  • 25:50 - 25:53
    para nos ajudar a seguir em frente?
  • 25:53 - 25:56
    KG: Há três coisas que são
    únicas para o FMI
  • 25:56 - 26:00
    e são muito importantes
    numa época de crise.
  • 26:01 - 26:05
    A primeira é fazer um bom diagnóstico
    do que está a acontecer
  • 26:05 - 26:08
    e qual é o caminho a seguir.
  • 26:08 - 26:12
    Nas primeiras semanas desta crise,
  • 26:12 - 26:18
    pusemos em prática um rastreador
    da ação política para 193 países
  • 26:18 - 26:21
    Que ações é que os países estão a tomar?
  • 26:21 - 26:23
    Como podem aprender uns com os outros,
  • 26:23 - 26:26
    para podermos ser mais eficazes,
    em conjunto.
  • 26:26 - 26:28
    Neste momento, estamos a adicionar
  • 26:28 - 26:31
    ações para uma reabertura
    responsável das economias,
  • 26:31 - 26:34
    exatamente com esse objetivo.
  • 26:34 - 26:36
    Aquilo em que somos melhores,
  • 26:36 - 26:40
    somos os primeiros na área financeira.
  • 26:41 - 26:45
    Intervimos neste choque incrível
  • 26:45 - 26:49
    com um poder de fogo financeiro
    muito significativo.
  • 26:50 - 26:56
    O que as pessoas não sabem
    é que o FMI tem instrumentos múltiplos.
  • 26:57 - 27:01
    Duplicámos o financiamento
    de emergência para esta crise.
  • 27:02 - 27:04
    E não há condições.
  • 27:04 - 27:07
    Só pedimos uma coisa, Chris.
  • 27:07 - 27:11
    Paguem aos médicos,
    aos enfermeiros, aos hospitais,
  • 27:11 - 27:14
    protejam as pessoas mais vulneráveis
    e as áreas económicas.
  • 27:14 - 27:17
    Ou seja, estas são as condições.
  • 27:17 - 27:20
    A terceira coisa que fazemos, no FMI,
  • 27:20 - 27:25
    é ajudar os países a terem
    capacidade para boas políticas.
  • 27:25 - 27:27
    Depois da crise financeira,
  • 27:27 - 27:31
    ajudámos muitos países
    a terem uma boa gestão da dívida,
  • 27:31 - 27:33
    uma boa gestão fiscal,
  • 27:33 - 27:35
    transparência e prestação de contas
  • 27:35 - 27:39
    para melhorar o desempenho
    das finanças públicas.
  • 27:40 - 27:44
    O FMI não é uma organização muito grande
  • 27:44 - 27:46
    seja em que padrão for.
  • 27:46 - 27:48
    Somos umas 3000 pessoas,
  • 27:48 - 27:51
    altamente profissionais,
    extremamente empenhadas.
  • 27:52 - 27:57
    Quando usamos a expressão
    "arregaçar as mangas", somos nós.
  • 27:59 - 28:02
    Hoje são mangas digitais.
  • 28:03 - 28:05
    CA: Isto é uma crise mundial.
  • 28:05 - 28:08
    Muitas pessoas receiam que,
    ao contrário de 2008,
  • 28:08 - 28:11
    em que parece ter havido
    muita cooperação global,
  • 28:11 - 28:16
    desta vez, haja menos cooperação.
  • 28:17 - 28:19
    Sente-se preocupada com isso,
  • 28:19 - 28:22
    uma coisa tão importante
    para nos fazer ultrapassar esta crise?
  • 28:22 - 28:25
    KG: A minha maior preocupação,
  • 28:25 - 28:29
    no nosso mandato,
    na minha área de responsabilidade,
  • 28:29 - 28:31
    é unir todos os países membros.
  • 28:31 - 28:33
    Temos quase o mundo inteiro,
  • 28:33 - 28:36
    há 189 países que são nossos membros.
  • 28:36 - 28:42
    Até aqui, sinto-me impressionada
    por os nossos membros serem tão recetivos.
  • 28:42 - 28:46
    Na primavera, coloquei à frente deles
  • 28:46 - 28:49
    um pacote muito forte de medidas
  • 28:49 - 28:53
    para expandir o papel do FMI na crise.
  • 28:53 - 28:55
    Tudo aquilo que pedimos
  • 28:55 - 28:58
    — pedimos o dobro
    do financiamento de emergência —
  • 28:58 - 28:59
    conseguimos obtê-lo.
  • 28:59 - 29:01
    Muito interessante.
  • 29:01 - 29:04
    Pedimos o triplo
    da concessão de financiamento.
  • 29:04 - 29:08
    Porque, tal como o vírus
    ataca com mais força
  • 29:08 - 29:10
    as pessoas com um sistema mais frágil,
  • 29:10 - 29:14
    a crise também ataca com mais força
    as economias mais frágeis.
  • 29:14 - 29:17
    Assim, queríamos triplicar
    a concessão de financiamentos.
  • 29:17 - 29:21
    Ao fim de um mês, já o tínhamos.
  • 29:22 - 29:24
    Pedimos subsídios para alívio da dívida,
  • 29:24 - 29:26
    já obtivemos.
  • 29:27 - 29:31
    O que quero dizer
    é que precisamos de nos concentrar
  • 29:31 - 29:35
    nas formas de conseguir unir o mundo.
  • 29:36 - 29:39
    E depois agir com isso.
  • 29:39 - 29:43
    Em vez de nos lamentarmos,
  • 29:43 - 29:46
    de que talvez nem tudo
    esteja a correr como devia ser,
  • 29:47 - 29:51
    fazermos o nosso dever
    para com a comunidade global.
  • 29:51 - 29:53
    CA: Sim, certamente.
  • 29:53 - 29:57
    O FMI está dependente
    do financiamento dos seus membros,
  • 29:57 - 29:59
    dos seus membros principais.
  • 29:59 - 30:00
    KG: Sim, claro.
  • 30:00 - 30:02
    CA: Falou há pouco de biliões de dólares
  • 30:02 - 30:06
    necessários para disponibilizar
    aos países que necessitem.
  • 30:06 - 30:08
    Segundo li, isso provém
  • 30:08 - 30:12
    desses instrumentos conhecidos
    por Direitos Especiais de Saque.
  • 30:12 - 30:14
    Basicamente, criam
    uma moeda dos membros,
  • 30:14 - 30:18
    a fundo perdido, proveniente dos EUA.
  • 30:18 - 30:23
    para bloquear esse esforço
    de angariar todo esse dinheiro?
  • 30:24 - 30:29
    KG: O bilião de dólares
    provém das nossas quotas
  • 30:29 - 30:34
    e também da nossa capacidade
    de movimentar dinheiro,
  • 30:34 - 30:40
    de países membros abastados
    das economias avançadas
  • 30:40 - 30:44
    e de o emprestar a juros
    muito baixos ou inexistentes
  • 30:44 - 30:47
    para desenvolvimento
    de mercados emergentes.
  • 30:47 - 30:49
    Tínhamos esse bilião
  • 30:49 - 30:52
    e o que foi interessante
    — nem toda a gente se apercebeu disso —
  • 30:52 - 30:57
    os EUA, no seu pacote de estímulo
    de dois biliões de dólares
  • 30:57 - 31:01
    incluiu o apoio ao FMI.
  • 31:01 - 31:03
    Os Direitos Especiais de Saque
  • 31:03 - 31:06
    são uma coisa que ainda não recebeu
  • 31:06 - 31:10
    o consenso de todos os países membros.
  • 31:10 - 31:15
    Foi uma coisa feita na crise de 2009,
  • 31:16 - 31:19
    a emissão de liquidez,
  • 31:19 - 31:22
    e dirige-se a toda a gente
  • 31:22 - 31:24
    Há muitas vozes, incluindo a minha
  • 31:24 - 31:27
    — falei no G20 sobre isso —
  • 31:27 - 31:30
    que dizem que pode ser
    uma boa coisa a fazer agora.
  • 31:31 - 31:35
    Não é apoiado por determinadas razões.
  • 31:35 - 31:38
    Não é por capricho.
  • 31:38 - 31:41
    O problema com
    os Direitos Especiais de Saque
  • 31:41 - 31:45
    é que, quando os emitimos,
    vão para todos os membros
  • 31:45 - 31:50
    e as economias avançadas
    obtêm 62% da nova distribuição
  • 31:50 - 31:52
    e há quem diga:
  • 31:53 - 31:56
    "Podemos pensar
    nalguma coisa mais dirigida
  • 31:56 - 31:59
    "ou exclusivamente dirigida
    para os que mais precisam dela?"
  • 31:59 - 32:02
    Mas, Chris, está tudo em cima da mesa.
  • 32:03 - 32:07
    À medida que a crise se desenrola,
  • 32:07 - 32:11
    precisamos de fazer mais,
    de levar os países membros a fazer mais.
  • 32:13 - 32:15
    CA: Whitney.
  • 32:15 - 32:17
    WPR: Temos uma pergunta da comunidade
  • 32:17 - 32:20
    que se prende com aquilo
    que disse há pouco.
  • 32:20 - 32:22
    Yavnika Khanna pergunta:
  • 32:22 - 32:25
    "Que países se irão mostrar
    resilientes na Grande Transformação:
  • 32:25 - 32:27
    "os que têm líderes populares
  • 32:27 - 32:30
    "ou os que têm sistemas
    financeiros sólidos?"
  • 32:30 - 32:33
    KG: Bom, as duas coisas são importantes.
  • 32:33 - 32:36
    Os países com alicerces fortes
  • 32:36 - 32:40
    vão claramente passar por esta crise
  • 32:40 - 32:47
    com menos traumas
    do que os que têm alicerces fracos.
  • 32:47 - 32:50
    E claro que a liderança é importante
  • 32:50 - 32:54
    para a mobilização de um país para a ação.
  • 32:55 - 32:59
    Na minha opinião, por outro lado,
  • 33:00 - 33:05
    os vencedores serão aqueles
    que pensem nesta crise
  • 33:06 - 33:08
    também como uma oportunidade.
  • 33:09 - 33:14
    Claramente, uma transformação digital
    é uma enorme oportunidade.
  • 33:14 - 33:19
    A mudança para a aprendizagem
    e a governação eletrónicas.
  • 33:19 - 33:22
    os pagamentos e o comércio eletrónicos,
  • 33:22 - 33:26
    a ligação de empresas pequenas e médias
  • 33:26 - 33:29
    aos consumidores,
    através da informática,
  • 33:29 - 33:30
    grande vencedor.
  • 33:31 - 33:34
    Em segundo lugar, tenho muita esperança
  • 33:34 - 33:38
    de que, por outro lado,
  • 33:38 - 33:41
    obtenhamos uma pegada
    de carbono mais baixa
  • 33:41 - 33:44
    e uma economia
    com um clima mais resiliente.
  • 33:45 - 33:47
    Os que se movimentam nesta direção,
  • 33:47 - 33:52
    reduzirão o risco
    para si mesmos e para o mundo.
  • 33:53 - 33:55
    A partir desta outra crise,
  • 33:55 - 33:57
    de que não falamos tanto nestes dias
  • 33:57 - 33:59
    mas que não levou a parte alguma.
  • 33:59 - 34:01
    E, claro, se não gostamos de pandemias,
  • 34:01 - 34:06
    também não vamos gostar
    da crise climática.
  • 34:06 - 34:09
    Os países que estão a pensar
  • 34:09 - 34:16
    em como tornar a economia do futuro
  • 34:16 - 34:17
    mais justa.
  • 34:17 - 34:19
    Por outras palavras,
  • 34:19 - 34:25
    temos vindo a assistir ao aumento
    da desigualdade antes desta crise.
  • 34:26 - 34:30
    Os meus colegas
    que investigaram a pandemia
  • 34:30 - 34:32
    dão-nos uma lição mais amarga.
  • 34:33 - 34:34
    Depois da pandemia,
  • 34:34 - 34:39
    depois da gripe do H1N1,
  • 34:39 - 34:42
    depois da SARS, depois do Zika,
  • 34:42 - 34:44
    a desigualdade aumentou.
  • 34:45 - 34:49
    Vamos permitir que a desigualdade
    continue a aumentar
  • 34:49 - 34:50
    depois desta crise?
  • 34:50 - 34:52
    Se o fizermos,
  • 34:52 - 34:55
    estamos a danificar
    o tecido das nossas sociedades
  • 34:55 - 35:01
    e eu sinto que centenas
    de milhões de pessoas, nesta crise,
  • 35:01 - 35:07
    prefeririam ter um mundo
    mais simples, mais justo,
  • 35:07 - 35:10
    mais igualitário onde viver
  • 35:10 - 35:14
    e certamente um mundo mais sustentável.
  • 35:16 - 35:19
    KG: Serão esses os vencedores.
  • 35:20 - 35:21
    WPR: Sem dúvida alguma.
  • 35:21 - 35:23
    Mais uma pergunta
    da nossa comunidade,
  • 35:23 - 35:27
    antes de voltar ao Chris,
    para as perguntas finais.
  • 35:27 - 35:30
    Esta é de Sarah Rugheimer.
  • 35:31 - 35:33
    A pergunta é:
  • 35:33 - 35:37
    "O que vê como as principais mudanças
    com potencial positivo
  • 35:37 - 35:39
    "neste mundo,
  • 35:39 - 35:42
    "depois desta pandemia,
    dentro de dois a dez anos?"
  • 35:43 - 35:47
    KG: Já dei uma pequena ideia.
  • 35:47 - 35:52
    Primeiro, espero ver uma política fiscal
  • 35:53 - 35:56
    que nos ajude a recuperar
  • 35:56 - 36:01
    e que seja dirigida
    para uma recuperação verde
  • 36:02 - 36:05
    e para uma recuperação mais igualitária.
  • 36:06 - 36:10
    Isso é uma coisa que está
    nas mãos dos políticos.
  • 36:10 - 36:12
    Pode ser feito.
  • 36:13 - 36:17
    Em segundo lugar, tenho
    muita esperança em ver
  • 36:19 - 36:23
    que integramos o que tivermos
    aprendido com a crise
  • 36:23 - 36:28
    em termos do trabalho virtual.
  • 36:28 - 36:31
    Na minha organização, o FMI,
  • 36:31 - 36:35
    podemos reduzir a nossa pegada
    de carbono, substancialmente,
  • 36:35 - 36:39
    apenas mantendo as práticas
    que estamos a implementar hoje
  • 36:39 - 36:41
    e é o que faremos.
  • 36:41 - 36:46
    Claro que espero ver, no futuro,
  • 36:46 - 36:53
    muito mais atenção a duas coisas
    que vimos serem essenciais nesta crise.
  • 36:53 - 36:56
    O acesso universal à saúde,
    de uma ou de outra forma
  • 36:56 - 36:58
    sistemas de saúde fortes
  • 36:58 - 37:03
    assim como redes
    de segurança social fortes,
  • 37:03 - 37:08
    criadas como estabilizadores automáticos
    numa época de choque.
  • 37:08 - 37:13
    A propósito, é mais barato
    se o fizermos deste modo.
  • 37:13 - 37:18
    A fatura para todos vai ser mais pequena.
  • 37:20 - 37:26
    Também tenho esperança
    de que esta noção de investir nas pessoas,
  • 37:26 - 37:31
    reconhecendo que agora que assistimos
    a esta tragédia terrível,
  • 37:31 - 37:33
    a perda de vidas,
  • 37:33 - 37:36
    que investir nas pessoas
  • 37:36 - 37:39
    é o melhor investimento
    que podemos fazer.
  • 37:42 - 37:44
    WPR: Isso é ótimo.
  • 37:44 - 37:47
    CA: Até já, Whitney.
  • 37:50 - 37:51
    Kristalina,
  • 37:54 - 37:57
    É muito animador ouvir falar
    da energia e de coisas dessas,
  • 37:57 - 37:59
    a energia que mete nisto.
  • 37:59 - 38:02
    Penso que muita gente
    que está a ouvir isto
  • 38:02 - 38:06
    não estava à espera de ouvir
    a diretora do FMI
  • 38:06 - 38:08
    a sublinhar:
  • 38:08 - 38:10
    "Vamos resolver a crise do clima,
  • 38:10 - 38:14
    "vamos abordar a desigualdade
    e a injustiça."
  • 38:16 - 38:19
    Acredita mesmo que este momento,
  • 38:19 - 38:24
    esta crise pode ajudar-nos
    a uma transformação importante?
  • 38:24 - 38:27
    As pessoas sentem
    que o seu papel é positivo,
  • 38:27 - 38:30
    tem de fazer isso.
  • 38:30 - 38:35
    Vê mesmo o caminho à nossa frente
    que podemos superar?
  • 38:35 - 38:39
    De que período de tempo
    estamos a falar, Kristalina?
  • 38:40 - 38:45
    KG: Uma coisa que aprendi
    com a transição que estamos a viver
  • 38:45 - 38:48
    a transição do planeamento
    central para os mercados,
  • 38:48 - 38:53
    é que é difícil, é demorado,
    é doloroso
  • 38:53 - 38:55
    e é uma estrada que tem desvios.
  • 38:55 - 39:00
    Não estou à espera de milagres
  • 39:01 - 39:07
    mas acredito que estamos
  • 39:07 - 39:10
    numa encruzilhada da História
  • 39:10 - 39:15
    em que as pessoas exigem aos líderes
  • 39:15 - 39:18
    segurança
  • 39:18 - 39:25
    e uma sociedade que não esteja
    dividida por conflitos.
  • 39:26 - 39:30
    Isso é uma coisa
    que não estamos habituados a ver.
  • 39:30 - 39:35
    Por isso, daria uma volta
    a essa pergunta, Chris.
  • 39:36 - 39:37
    Depois duma guerra,
  • 39:37 - 39:39
    vemos que o mundo se reúne
  • 39:39 - 39:42
    e constrói um mundo melhor.
  • 39:42 - 39:45
    Porque não fazer o mesmo
    depois de uma pandemia?
  • 39:47 - 39:54
    Sim, podemos errar e não escolher
    a estrada certa para avançar.
  • 39:56 - 40:03
    Mas certamente temos a obrigação
    de tentar escolher essa estrada.
  • 40:04 - 40:06
    CA: Se pudesse injetar...
  • 40:06 - 40:09
    KG: Toda a gente é importante.
  • 40:10 - 40:15
    CA: Se pudesse injetar uma ideia
    na cabeça de toda a gente,
  • 40:15 - 40:19
    ou nos líderes mundiais
    que a escutam,
  • 40:19 - 40:22
    que ideia seria essa, neste momento?
  • 40:24 - 40:26
    KG: O otimismo.
  • 40:26 - 40:29
    Criar um mundo melhor.
  • 40:31 - 40:35
    Possível, desejável, temos de fazer isso.
  • 40:38 - 40:40
    CA: Isso parece uma posição de otimismo
  • 40:40 - 40:42
    não apenas uma crença ingénua
    de que vai acontecer
  • 40:42 - 40:44
    mas a determinação de o fazer.
  • 40:44 - 40:45
    É aquilo que pretende.
  • 40:46 - 40:49
    Usar isso como motivação
    para nos pôr a avançar todos juntos.
  • 40:50 - 40:54
    KG: Chris, ainda tenho um minuto
    ou já acabámos?
  • 40:55 - 41:01
    CA: Se quiser dizer uma última coisa
    num minuto, ok, tudo bem.
  • 41:01 - 41:03
    KG: Quero dizer uma coisa.
  • 41:03 - 41:08
    Recomendar à audiência
    que vejam o filme
  • 41:08 - 41:10
    "A Ponte dos Espiões".
  • 41:11 - 41:13
    Há uma parte no filme
  • 41:13 - 41:19
    em que os dois atores principais,
  • 41:19 - 41:24
    o advogado e o espião russo
    falam um com o outro.
  • 41:24 - 41:28
    O advogado diz: "As coisas estão más.
    parece que podes ir parar à forca."
  • 41:28 - 41:30
    O espião está muito calmo.
  • 41:30 - 41:32
    O advogado diz: "Não estás preocupado?"
  • 41:33 - 41:36
    O espião responde: "Isso adianta?"
  • 41:36 - 41:39
    A minha mensagem é:
  • 41:40 - 41:44
    Isto está difícil, mas não adianta
    preocuparmo-nos.
  • 41:46 - 41:48
    O que ajuda é uma ação positiva.
  • 41:48 - 41:52
    Positivos, mantenham-se positivos,
    é essa a minha mensagem.
  • 41:53 - 41:55
    CA: Bom, tenho de lhe agradecer.
  • 41:55 - 41:59
    É extremamente inspirador
    ver a sua energia
  • 41:59 - 42:03
    e o seu otimismo inabalável,
    chamemos-lhe assim.
  • 42:03 - 42:06
    Acho que lhe desejamos
    tudo o que há de melhor
  • 42:06 - 42:10
    enquanto utilizar a sua posição
    para nos ajudar a sair deste problema.
  • 42:10 - 42:13
    Muito obrigado, Kristalina,
    por tirar tempo para estar aqui na TED.
  • 42:13 - 42:14
    Obrigada.
  • 42:14 - 42:16
    WPR: Obrigada, Kristalina.
Title:
Como recuperar a economia global
Speaker:
Kristalina Georgieva
Description:

A pandemia do coronavírus estilhaçou a economia global. Para a recuperar, precisamos de garantir que o dinheiro vai para os países que mais precisam — e que reconstituímos sistemas financeiros que sejam resilientes aos choques, diz Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional. Ela leva-nos ao âmago dos enormes esforços de estímulo económico que tentam orientar o mundo para a recuperação e a renovação e analisa o que será preciso para os países saírem desta "grande transformação" ainda mais fortes do que antes.
(Esta conversa virtual, orientada por Chris Anderson, administrador da TED, e por Whitney Pennington Rodgers, curadora dos assuntos correntes, foi gravada a 18 de maio de 2020)

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
42:29

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