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A bonita e árdua tarefa da coparentalidade

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    Meu nome é Joel
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    e eu sou um "coparental".
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    Enquanto eu crescia,
    nunca ouvi o termo coparental.
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    Porém ouvia muitas outras coisas,
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    para começar, "pai ausente"
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    "doador de esperma",
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    essa é boa,
  • 0:19 - 0:20
    "pai morto"
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    e, minha favorita, "papai bebê".
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    Papai bebê, para quem não sabe,
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    tem a ver com um indivíduo
    que ajuda a conceber uma criança,
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    mas não faz muito mais que isso.
  • 0:32 - 0:35
    Papai bebê também é o cara
    que não se casa legalmente
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    com a mãe dessa criança.
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    Crescendo, pensei que coparental era algo
    reservado mais para famílias brancas
  • 0:42 - 0:45
    que estrelavam nos dramas
    do horário nobre da Netflix.
  • 0:45 - 0:47
    (Risos)
  • 0:47 - 0:48
    Ainda é meio assim.
  • 0:48 - 0:50
    (Risos)
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    Mas não era usado para explicar
    o papel de um pai ou uma mãe.
  • 0:53 - 0:54
    Você tinha filhos ou não,
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    e ninguém no meu círculo social
    ou à nossa mesa de jantar
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    tinha conversas complexas sobre o papel
    que um pai desempenhava naquela conversa.
  • 1:04 - 1:08
    Uma abordagem mais equilibrada,
    aberta e amorosa à parentalidade
  • 1:08 - 1:11
    não era algo que discutíamos
    dentro de nosso círculo social.
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    Na maioria das vezes,
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    os pais que conheci enquanto crescia
    mal estavam presentes
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    ou eram completamente ausentes.
  • 1:19 - 1:23
    Coparental não era um termo
    que ouvi ou vi onde eu cresci,
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    de onde vim.
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    Eu venho da periferia,
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    Creston Avenue com a Rua 188º, no Bronx.
  • 1:31 - 1:35
    E pra uma pessoa assim...
  • 1:35 - 1:36
    (Risos)
  • 1:36 - 1:38
    Muito obrigada por isso.
  • 1:39 - 1:41
    Para muitos de nós naquele bairro,
  • 1:41 - 1:43
    havia apenas uma pessoa
    com quem podíamos contar
  • 1:43 - 1:48
    para comida, abrigo,
    calor, amor, disciplina:
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    a nossa mãe.
  • 1:50 - 1:52
    Minha mãe, que chamo
    carinhosamente de "Linda T",
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    foi meu primeiro exemplo
    de amor verdadeiro
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    e do que é ser um coparental saudável.
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    Ela era uma mãe solteira
    forte e determinada,
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    uma mulher que teria se beneficiado muito
    tendo um parceiro seguro e estável
  • 2:03 - 2:05
    como um coparental.
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    Então, jurei que, quando me casasse,
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    meu amorzinho e eu
    ficaríamos juntos para sempre.
  • 2:10 - 2:12
    (Risos)
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    Dividiríamos a mesma cama e casa,
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    dormiríamos sob as mesmas cobertas,
    discutiríamos na IKEA, coisa assim.
  • 2:18 - 2:20
    (Risos)
  • 2:20 - 2:22
    Minha parceira se sentiria
    valorizada e amada,
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    e nossos filhos cresceriam
    numa família com pai e mãe.
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    No entanto, as coisas raramente
    acontecem como as planejamos.
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    Nossa filha Lilah nunca conheceu
    uma família com pai e mãe
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    vivendo juntos sob o mesmo teto.
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    A mãe dela e eu nunca nos casamos.
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    Namoramos por vários meses antes
    de descobrirmos que ela estava grávida.
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    Até então, minha mãe
    nem sabia que ela existia.
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    Eu estava envergonhado,
    com muita vergonha,
  • 2:50 - 2:53
    e, às vezes, tinha pensamentos suicidas.
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    Eu me perguntava o que estava
    fazendo e onde estava errando.
  • 2:58 - 3:00
    Eu nunca quis o estigma ou o rótulo
  • 3:00 - 3:04
    do que alguns identificavam
    como o "pai negro" estereotipado.
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    Ou seja, ausente, confrontador,
    briguento, desinteressado.
  • 3:10 - 3:14
    Foi preciso muito trabalho,
    tempo, energia e esforço
  • 3:14 - 3:16
    para finalmente percebermos
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    que coparentalidade para nós não precisava
    significar uma casa compartilhada
  • 3:21 - 3:22
    e troca de alianças,
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    e que talvez, simplesmente talvez,
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    nos apresentarmos como coparentais
  • 3:27 - 3:30
    está não apenas nas nuances
    das camadas da nossa parceria,
  • 3:30 - 3:34
    mas na capacidade dentro de nosso coração
    de cuidar de um ser humano
  • 3:34 - 3:36
    que ajudamos a criar juntos.
  • 3:37 - 3:40
    (Aplausos)
  • 3:42 - 3:46
    Isso envolveria amor
    num ambiente afetuoso e seguro,
  • 3:46 - 3:52
    que alimentaria Lilah por muito tempo
    depois que deixássemos este planeta.
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    Avançando quatro anos,
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    a Lilah está agora no jardim da infância.
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    Ela adora bala de goma,
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    e diz coisas do tipo:
    "Meu coração está cheio de amor".
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    Ela é o ser humano mais carinhoso,
    compassivo e empático que conheço,
  • 4:10 - 4:13
    e digo tudo isso porque
  • 4:13 - 4:15
    ela voltou a morar no Bronx com a mãe.
  • 4:15 - 4:18
    Isso é coparentalidade,
  • 4:18 - 4:20
    e num mundo ideal,
  • 4:20 - 4:22
    minha mãe também
    teria tido uma coparental.
  • 4:22 - 4:24

    Ela teria tido apoio,
  • 4:24 - 4:26
    alguém para aparecer
    e dar um tempo de folga pra ela.
  • 4:26 - 4:30
    Em um mundo ideal,
    todo pai e mãe é um coparental,
  • 4:30 - 4:34
    todo pai e mãe compartilha o peso
    das tarefas de maneira adequada.
  • 4:34 - 4:36
    A mãe de Lilah e eu
    compartilhamos uma agenda.
  • 4:36 - 4:38
    Alguns dias, saio do trabalho
    e pego Lilah na escola,
  • 4:38 - 4:40
    em outros dias não.
  • 4:40 - 4:42
    A mãe de Lilah vai fazer escalada
  • 4:42 - 4:44
    ou estuda para o vestibular de Direito,
  • 4:44 - 4:49
    e me vejo numa sala cheia de mulheres
    audaciosas, dinâmicas e poderosas
  • 4:49 - 4:50
    e falamos sobre paternidade.
  • 4:52 - 4:55
    (Aplausos)
  • 4:57 - 5:00
    É uma tarefa lindamente difícil
  • 5:00 - 5:03
    desmontar os sistemas que nos faria
    acreditar que o papel principal da mulher
  • 5:03 - 5:06
    é estar na cozinha e cuidar
    das tarefas domésticas,
  • 5:06 - 5:09
    enquanto o pai infeliz se atrapalha
    sempre que tem que passar
  • 5:09 - 5:12
    um fim de semana sozinho com as crianças.
  • 5:12 - 5:15
    É uma tarefa que precisa ser feita agora.
  • 5:15 - 5:17
    Com muita frequência,
  • 5:17 - 5:20
    parece que quando ambos
    os pais estão trabalhando,
  • 5:20 - 5:23
    um deles geralmente fica encarregado
    da organização da casa
  • 5:23 - 5:24
    para mantê-la em ordem.
  • 5:24 - 5:28
    Essa pessoa é normalmente uma mulher
    ou alguém que se identifique como tal.
  • 5:28 - 5:31
    Muito frequentemente, essa mãe ou mulher
  • 5:31 - 5:35
    tem que sacrificar seus sonhos
    para cumprir esse papel.
  • 5:36 - 5:37
    Ela tem que abdicar de seus sonhos
  • 5:37 - 5:42
    para garantir que a maternidade
    terá prioridade sobre tudo mais.
  • 5:42 - 5:45
    E não estou aqui para dizer
    que não deva, e sim que:
  • 5:45 - 5:49
    como parceiros iguais e coparentais,
    é nosso dever garantir
  • 5:49 - 5:53
    que nosso parceiro de coparentalidade
    não tenha que colocar suas paixões,
  • 5:53 - 5:55
    suas atividades e seus sonhos
    em segundo plano
  • 5:55 - 5:58
    só porque somos ocupados demais
    pra nos fazermos presentes como aliados.
  • 5:58 - 6:00
    (Aplausos)
  • 6:03 - 6:06
    A coparentalidade torna o espaço
    possível para todos.
  • 6:07 - 6:08
    Como coparental,
  • 6:08 - 6:12
    curto muito o tempo que tenho
    pra compartilhar e passar com Lilah,
  • 6:12 - 6:16
    o tempo que me permitiu estar
    totalmente presente pra minha filha,
  • 6:16 - 6:20
    eliminando a noção de que a tarefa
    emocional necessária pra criar um filho
  • 6:20 - 6:21
    é coisa de mulher.
  • 6:21 - 6:24
    Como coparental, Lilah e eu
    construímos bonecos de neve,
  • 6:24 - 6:25
    nós brincamos com bolotas,
  • 6:25 - 6:28
    cantamos rap com a trilha sonora
    de "Moana", sei que vocês também.
  • 6:29 - 6:30
    (Risos)
  • 6:30 - 6:33
    Ela me acompanha enquanto
    conduzo oficinas na Columbia University,
  • 6:33 - 6:36
    quando falo sobre o cruzamento
    entre poesia, hip-hop e teatro.
  • 6:36 - 6:38
    Falamos sobre as emoções
    e os sentimentos dela
  • 6:38 - 6:40
    porque temos um tempo exclusivo juntos.
  • 6:40 - 6:42
    E esse tempo é planejado,
  • 6:42 - 6:45
    organizado não apenas na minha agenda,
    mas na agenda da mãe dela.
  • 6:45 - 6:49
    Nós dois, como coparentais,
    temos estilos parentais únicos.
  • 6:50 - 6:52
    E podemos discutir às vezes,
  • 6:52 - 6:56
    mas sempre podemos concordar
    em como criar um humano,
  • 6:57 - 6:59
    nosso serzinho humano.
  • 7:01 - 7:05
    Nunca vou compreender totalmente
  • 7:05 - 7:08
    o que significa carregar uma criança
    no meu corpo por dez meses.
  • 7:08 - 7:12
    Nunca conseguirei entender as provações
    e atribulações da amamentação,
  • 7:12 - 7:14
    o quanto isso exige,
  • 7:14 - 7:17
    a sobrecarga emocional,
    física e psicológica
  • 7:18 - 7:21
    que carregar um ser humano
    pode trazer ao corpo feminino.
  • 7:22 - 7:25
    A coparentalidade diz:
    nós podemos criar equilíbrio,
  • 7:25 - 7:28
    uma vida em casa e no trabalho
    mais equilibrada para os envolvidos.
  • 7:28 - 7:32
    A coparentalidade diz que, enquanto
    a parentalidade pode envolver sacrifício,
  • 7:32 - 7:36
    o peso dele não está apoiado
    apenas no pai ou na mãe.
  • 7:37 - 7:40
    Não importa sua dinâmica relacional
    ou como se identifica como ser humano:
  • 7:40 - 7:42
    ele, ela, eles, etc.,
  • 7:42 - 7:46
    coparentalidade diz que podemos
    criar espaço e equidade,
  • 7:46 - 7:49
    melhor comunicação, empatia,
    eu escuto e vejo você,
  • 7:49 - 7:53
    como posso me fazer presente para você
    de maneiras que beneficiem nossa família?
  • 7:53 - 7:55
    Meu objetivo:
  • 7:56 - 8:00
    quero que mais pais acolham
    a coparentalidade como modelo
  • 8:00 - 8:02
    para um amanhã melhor,
    um hoje melhor para nós mesmos,
  • 8:02 - 8:06
    pra nosso parceiro de coparentalidade,
    nossa família, nossa comunidade.
  • 8:06 - 8:08
    Quero mais pais conversando
    sobre paternidade abertamente,
  • 8:08 - 8:12
    de maneira sincera, honesta, amorosa.
  • 8:12 - 8:14
    Que mais pessoas reconheçam
    que pais negros, em particular,
  • 8:14 - 8:17
    são mais que o sistema judicial,
    do que uma pensão pra criança
  • 8:17 - 8:20
    e mais que aquilo que a mídia
    usa pra nos retratar.
  • 8:20 - 8:22
    (Aplausos)
  • 8:25 - 8:28
    Nosso papel e nosso valor
    como pais e como pai e mãe,
  • 8:28 - 8:31
    não depende dos zeros
    no final do nosso cheque,
  • 8:31 - 8:34
    mas a capacidade em nosso coração
    de estarmos presentes pra nossa família,
  • 8:34 - 8:36
    nossos entes queridos, nossas crianças.
  • 8:36 - 8:41
    Ser pai não é apenas uma responsabilidade,
    mas sim uma oportunidade.
  • 8:41 - 8:43
    Isso vai pro Dwain,
    pro Kareem "Buc" Drayton,
  • 8:43 - 8:47
    isso vai pro Biggs, pro Boola, pro Tyron,
  • 8:47 - 8:50
    e pra todos os pais negros
    que se fazem presentes no dia a dia,
  • 8:50 - 8:53
    e pro Charles Lorenzo Daniels,
    meu pai, que não tinha a língua
  • 8:53 - 8:56
    ou as ferramentas pra se fazer
    presente como ele queria.
  • 8:58 - 8:59
    Obrigado.
  • 9:00 - 9:01
    Meu nome é Joel.
  • 9:01 - 9:03
    Oi Bria, oi West.
  • 9:04 - 9:06
    (Em ioruba) Axé!
  • 9:06 - 9:08
    (Aplausos)
Title:
A bonita e árdua tarefa da coparentalidade
Speaker:
Joel Leon
Description:

A "coparentalidade" não é um chavão. É uma maneira de se mostrar presente para sua família de maneira aberta, consistente e amorosa, diz o contador de histórias e pai Joel Leon. Nesta palestra emocionante, ele desafia todos os pais a desempenharem um papel ativo e igualitário no cotidiano de seus filhos, mesmo num mundo que, muitas vezes, atribui o peso do sacrifício apenas às mães. Leon incentiva conversas sutis sobre o papel parental e lembra que ser pai não é uma responsabilidade, mas sim uma oportunidade.

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Video Language:
English
Team:
closed TED
Project:
TEDTalks
Duration:
09:25

Portuguese, Brazilian subtitles

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