Três maneiras de falar inglês

Jamila Lyiscott é uma "oradora trilingue". Neste interessantíssimo ensaio falado, intitulado "Inglês Enviesado", ela celebra — de forma provocante — os três estilos que emprega para falar: com os amigos, na escola e com os pais. Enquanto expõe a complexa história e atual identidade que cada língua representa, ela demonstra o que significa ser "eloquente".

Hoje,

Uma senhora perplexa

Observou a concha
onde habita a minha alma

E anunciou que eu sou

"Eloquente".

O que significa que,

Na enunciação e dicção,

Não tenho hesitação,

Porque sou "eloquente".

Quando o professor coloca uma questão,

E a resposta sai manchada de conotação

De urbanizada sugestão,

Não há desnorteio de intenção.

Prestem atenção,

Porque eu sou "eloquente".

Se o meu pai pergunta: "Que coisa é esta?"

A resposta "eloquente", sempre se presta:

Digo: "Pai, é o obstáculo que defrontamos"

E quando estou no bairro,

Mudo o tom, só porque posso.

E quando o meu gajo pergunta:
"Tudo fixe?", digo:

"Lixada c'uns gajo, ma que'sa lixe".

E às vezes, na aula,

Dou repouso à intelectualidade e pergunto:

"Ei!... Porqui livro
nunca fala di mi genti?"

Sim.

Decidi tratar as minhas três línguas
como iguais,

Porque sou "eloquente".

Mas quem controla a locução,

Se a língua inglesa é fluida oração,

Sujeita a infinita transformação?

Se acham ignorante
o meu inglês "estrambólico",

Saibam que até os americanos "eloquentes",

Soam ridículos ao ouvido britânico.
(Risos)

Já quando vem o Professor e diz: "Olá!",

Interrompo e digo: "É lááá...

"Está a ser ineloquente...

"É mais correto dizer: 'vai tudo'?"

Podem achar bairrismo, incorreção,

Mas saibam que até
a nossa língua tem regras.

Quando a mamã me goza, e diz:

"Ficas-tarada-indo-às-compras",

Digo: "Mamã, não,
essa frase quebra a norma,

"Nunca a palavra 'tarada'
antecede um particípio presente,

"É simplesmente assim este inglês".

Tivesse eu a capacidade vocal

E cantaria isto de cada cume,

De cada subúrbio e de cada beiral,

Porque o único Deus da língua
foi o registado no Génesis

Deste mundo, a dizer: "É bom".

Por isso, posso não apresentar

Excelência no falar,

Mas não me julguem pelo linguajar,

Nem me presumam
demasiado ignorante para ensinar.

Porque falo três línguas.

Uma para cada:

Casa, escola e amigos.

Sou oradora trilingue.

Às vezes, respeito a minha língua agora,

Depois mudo, porque distingue.

Às vezes, afasto duas delas,

Enquanto uso a terceira na aula.

E quando as misturo sem querer,

Sinto-me maluca, como
se cozinhasse na casa de banho.

Eu sei...

Que tenho de usar a vossa língua

Porque a minha ma roubaram.

Mas não queiram que vele a vossa história,

Se a minha ma interromperam.

Estas palavras são ditas,

Por alguém simplesmente farta

Dos ideais eurocêntricos da estação,

E a razão por que falo
uma versão composta da vossa língua,

É porque a minha foi violentada
em conjunto com a minha história.

Falo inglês enviesado
para que a profusão de feridas nos lembre

Que a nossa situação não é um mistério.

Estou tão cansada das imagens negativas
que enfurecem o meu povo.

Por isso, se não o viram roubar um banco,
parem de chamar o meu cabelo "mau".

Estou tão farta desta racial disparidade
sem sentido!

Por isso, não lhe chamem "bom"
se o vosso cabelo não for conhecido

Por doar a instituições de caridade,

Tanto quanto foi roubado do nosso povo.

Como querem que trate a marca
que eles deixaram na vossa língua,

Como menos do que uma igual?

Não haja confusão!

Não haja hesitação!

Isto não é uma promoção da ignorância.

Isto é uma celebração linguística!

Por isso, coloquei "trilingue"
no último currículo.

"Posso ajudar a diversificar
o vosso mercado consumista",

É tudo o que queria que soubessem

E quando for à entrevista,

Vou-lhes mostrar

Que sei dizer:

"Tudo bem?"

"Qué qui passa?'

E, claro está: "Olá!"

Porque sou "eloquente".

Obrigada.

(Aplausos)