Como apoiar testemunhas de assédio e criar locais de trabalho mais saudáveis
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0:01 - 0:02Sou a Dra. Julia Shaw,
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0:02 - 0:05pesquisadora associada
na University College London -
0:05 - 0:07e cofundadora da Spot.
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0:07 - 0:11A Spot é uma ferramenta que ajuda empresas
a lidar com assédio e discriminação -
0:11 - 0:14com melhores opções de denúncia
e melhor treinamento. -
0:14 - 0:16E, em 2019,
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0:16 - 0:19juntamente com a Dra. Camilla Elphick
e o Dr. Rashid Minhas, -
0:19 - 0:23além de algumas ONGs
e empresas beneficentes internacionais, -
0:23 - 0:26conduzimos um dos maiores
estudos da história -
0:26 - 0:30sobre testemunhas de assédio
e discriminação no trabalho. -
0:30 - 0:32Por que testemunhas?
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0:32 - 0:34Na primeira vez em que fui vitimada
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0:34 - 0:38e me tornei alvo de comportamento
inadequado no local de trabalho, -
0:38 - 0:40eu ainda nem tinha terminado a faculdade.
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0:40 - 0:43Dois acadêmicos bem mais veteranos que eu
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0:43 - 0:46investiam repetida
e incansavelmente em mim. -
0:46 - 0:50E, sempre que algo acontecia,
eu queria que alguém se manifestasse. -
0:50 - 0:53Que me dissessem
que eu não estava exagerando, -
0:53 - 0:56que eu estava sã, que podíamos fazer algo.
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0:56 - 0:57Mas, em vez disso,
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0:57 - 1:01eu me vi paralisada,
sem conseguir denunciar. -
1:01 - 1:02Eu não falei nada,
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1:02 - 1:04e a maioria das outras pessoas também não.
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1:05 - 1:07Por que eu não falei nada?
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1:07 - 1:09Eu estava preocupada
com as consequências na minha carreira, -
1:10 - 1:12porque eu amava meu trabalho.
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1:12 - 1:15Também estava preocupada
com algumas barreiras, -
1:15 - 1:18como não acreditarem em mim
ou me levarem a sério, -
1:18 - 1:20ou tudo isso não dar em nada.
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1:21 - 1:23Por sorte, nos últimos anos,
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1:23 - 1:27mais pessoas vêm tendo
coragem de denunciar, -
1:27 - 1:32e algumas conseguem se expressar agora,
já que antes não tinham voz. -
1:33 - 1:34Quando criamos a Spot,
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1:34 - 1:36as pessoas podiam enviar depoimentos
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1:36 - 1:38sobre terem vivenciado
assédio ou discriminação -
1:38 - 1:40para talktospot.com.
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1:40 - 1:42Como pesquisadores,
analisávamos as histórias, -
1:42 - 1:45e ficamos chocados quando percebemos
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1:45 - 1:51que 93% das vítimas declararam
que havia pelo menos uma testemunha. -
1:51 - 1:55Esses casos não estavam acontecendo
entre quatro paredes. -
1:55 - 1:58Desde então, mais pesquisas mostraram
que o fato continua se repetindo: -
1:58 - 2:02a maior parte dos assédios
e discriminação tem testemunhas. -
2:02 - 2:05Como mobilizar essas testemunhas?
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2:06 - 2:09Primeiramente, vamos falar
sobre a psicologia de ser uma testemunha. -
2:09 - 2:12Em 2018, duas mulheres
estavam numa Starbucks -
2:12 - 2:15e viram um barista negar
o acesso ao banheiro -
2:15 - 2:17a dois homens afro-americanos.
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2:17 - 2:20O barista chamou a polícia.
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2:20 - 2:24As duas espectadoras ativas
filmaram os homens algemados -
2:24 - 2:26e postaram na internet.
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2:27 - 2:31Essa atitude teve um efeito
positivo quase imediato. -
2:31 - 2:35A Starbucks fechou algumas portas
e implementou treinamento antipreconceito. -
2:37 - 2:39Muitos de nós achamos que seríamos
esses espectadores ativos. -
2:39 - 2:42Que seríamos esse tipo de herói.
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2:42 - 2:44Na verdade, pesquisas mostram
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2:44 - 2:47que, quando pesquisadores
apresentam cenários hipotéticos -
2:47 - 2:49e perguntam se interviriam,
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2:49 - 2:52a maioria das pessoas diz:
"Claro que eu me manifestaria". -
2:53 - 2:55Mas, quando os mesmos pesquisadores
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2:55 - 3:00apresentam uma situação física real
em que alguém precisa mesmo intervir, -
3:00 - 3:02a maioria das pessoas não faz nada.
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3:02 - 3:05Elas caem nas mãos
do conhecido efeito do espectador. -
3:06 - 3:07Por quê?
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3:07 - 3:10E quais são as barreiras
que as pessoas enfrentam? -
3:11 - 3:12Na nossa pesquisa,
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3:12 - 3:1775% das pessoas que entrevistamos
e que participaram do nosso estudo, -
3:17 - 3:19que tinha mais de mil participantes,
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3:19 - 3:23disseram que nunca denunciaram
o ocorrido ao RH, -
3:23 - 3:27nunca denunciaram para alguém
que podia tomar uma atitude. -
3:27 - 3:29E as barreiras que citaram?
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3:29 - 3:34A principal era exatamente a mesma
que as vítimas relataram: -
3:34 - 3:38o medo das consequências ou da retaliação.
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3:38 - 3:41Até as testemunhas têm medo
do que pode acontecer -
3:41 - 3:43com elas e sua carreira.
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3:44 - 3:46As pessoas também disseram
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3:46 - 3:49que não queriam interferir ou dedurar,
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3:49 - 3:52que não sabiam que podiam
denunciar ou não sabiam como. -
3:53 - 3:55Tudo isso pode ser previsto
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3:55 - 3:58com educação e procedimentos
melhores no local de trabalho. -
3:59 - 4:01A história da testemunha fica incompleta
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4:01 - 4:05se não falarmos também das consequências
para as próprias testemunhas. -
4:06 - 4:08Se você visse alguém
que acabou de testemunhar -
4:08 - 4:11um crime sendo cometido na rua,
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4:11 - 4:15você chegaria na testemunha e perguntaria:
"Você está bem? Precisa de ajuda?" -
4:15 - 4:18Talvez até ofereceria
orientação ou terapia -
4:18 - 4:20para processar o que acabaram de ver.
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4:20 - 4:23Mas, no trabalho, elas são invisíveis.
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4:23 - 4:26E, claro, o apoio a elas também é.
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4:27 - 4:30E essa invisibilidade
pode até ser internalizada. -
4:30 - 4:33Quando perguntamos
aos participantes sobre denunciar -
4:34 - 4:37e as consequências negativas disso,
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4:37 - 4:40descobrimos que, quando ouvia a pergunta:
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4:40 - 4:43"Testemunhar essa situação
teve uma repercussão negativa?", -
4:43 - 4:45a maioria das pessoas dizia:
"Não, estou bem". -
4:46 - 4:48Mas quando analisamos
os registros qualitativos, -
4:48 - 4:53o que as pessoas escreveram
sobre a experiência, -
4:53 - 4:56vimos que elas tiveram
impactos profundamente negativos. -
4:56 - 4:58Houve aumento de estresse,
ansiedade, depressão, -
4:58 - 5:03desejo de sair da empresa, perda de fé.
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5:05 - 5:07Por que essa discrepância?
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5:07 - 5:10Parece que estamos fazendo
uma avaliação comparativa. -
5:10 - 5:14"Em comparação com a vítima,
não aconteceu nada comigo." -
5:14 - 5:16Mas não é essa a questão.
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5:16 - 5:21E o apoio não deveria ser invisível
só porque somos menos afetados. -
5:21 - 5:25Porque todos somos afetados
e deveríamos apoiar uns aos outros. -
5:26 - 5:29Também encontramos
provas de contágio social. -
5:29 - 5:33Enquanto 23% dos participantes
falaram com o RH, -
5:33 - 5:37outros 46% contaram
para colegas de sua equipe -
5:37 - 5:41e 67% contaram para alguém
de fora do trabalho. -
5:42 - 5:45Isso mostra que as consequências
negativas dessa situação, -
5:45 - 5:48em que alguém sofre
assédio ou discriminação, -
5:48 - 5:49vão além do local de trabalho.
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5:50 - 5:51As pessoas carregam a história
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5:51 - 5:55e a insatisfação aumenta
conforme contam para mais pessoas, -
5:55 - 6:01e isso gera o efeito real que certamente
está ameaçando a capacidade da empresa -
6:01 - 6:05de manter e atrair candidatos
diversificados e excelentes. -
6:07 - 6:09O que fazer para acabar
com o contágio social? -
6:09 - 6:14Para derrubar essas barreiras
e dar apoio a testemunhas e vítimas? -
6:15 - 6:17Como podemos ser melhores aliados?
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6:18 - 6:20É mais fácil do que vocês pensam.
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6:20 - 6:23Na minha pesquisa, encontrei
cinco coisas específicas -
6:23 - 6:26que acho que toda empresa
pode e deve fazer -
6:26 - 6:30para enfrentar essa questão e construir
locais de trabalho mais saudáveis. -
6:30 - 6:33Primeiro: exponha seu comprometimento.
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6:34 - 6:38Se sua liderança não fala repetidamente
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6:38 - 6:40sobre a importância da diversidade
e da inclusão para ela -
6:40 - 6:43e não dá o exemplo,
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6:43 - 6:45ninguém vai acreditar em você.
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6:45 - 6:48Uma campanha conduzida
pelo RH não é suficiente. -
6:48 - 6:51Sua empresa é um espelho
da equipe de liderança dela, -
6:51 - 6:54e ela precisa ser o modelo.
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6:54 - 6:56Segundo: capacite seus gestores.
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6:57 - 7:01As pessoas que mais costumam
assediar alguém na empresa -
7:01 - 7:02são os gestores.
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7:03 - 7:04Por quê?
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7:04 - 7:06Talvez porque o poder os corrompa,
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7:06 - 7:10ou porque promovemos pessoas
para os cargos de gerência -
7:10 - 7:12por serem excelentes em seu trabalho
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7:12 - 7:14e achamos que vão melhorar
as habilidades interpessoais -
7:14 - 7:17e de gerência durante o processo.
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7:17 - 7:18Mas aí isso não acontece.
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7:19 - 7:23E a situação propicia um terreno fértil
para assédio e discriminação -
7:23 - 7:24com expectativas irreais,
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7:24 - 7:29com gestão de tempo e habilidades
de gerenciamento de conflitos ruins. -
7:29 - 7:30Capacite seus gestores.
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7:31 - 7:34Terceiro: vimos com a pesquisa
sobre as vítimas -
7:34 - 7:36que, sem a possibilidade
de denúncia anônima, -
7:36 - 7:39o medo das consequências é tão esmagador
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7:39 - 7:41que a maioria das pessoas
nunca denuncia incidentes. -
7:41 - 7:44O mesmo ocorre com as testemunhas.
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7:44 - 7:46Quando perguntamos diretamente a elas
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7:46 - 7:48se as empresas podiam fazer algo
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7:49 - 7:51para aumentar a possibilidade
de denunciarem, -
7:51 - 7:53elas disseram que o mais importante
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7:53 - 7:56era permitir que fizessem
a denúncia anônima. -
7:56 - 8:00A segunda seria poderem escolher
para quem denunciar. -
8:00 - 8:02Infelizmente, embora os gestores
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8:02 - 8:06sejam os que mais provavelmente
perpetuam o assédio e a discriminação, -
8:06 - 8:10em muitas empresas eles é que são
o primeiro contato quando algo dá errado. -
8:10 - 8:12Esse é um ponto extremamente delicado.
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8:12 - 8:15Poder escolher com quem falar é crucial.
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8:15 - 8:17Incentive a testemunha a denunciar.
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8:17 - 8:20Novamente a empresa sendo o modelo,
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8:20 - 8:22dizendo que podemos e devemos denunciar,
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8:22 - 8:24e que podemos ajudar a defender o outro.
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8:25 - 8:28Quarto: mesmo quando
tudo isso está resolvido, -
8:28 - 8:30a maioria das pessoas não fala com o RH.
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8:30 - 8:33Sabemos disso porque, na Spot,
achamos que o anonimato resolveria tudo. -
8:33 - 8:36Não resolveu: ele é uma peça
do quebra-cabeça. -
8:36 - 8:41Fazer pesquisas é buscar os funcionários,
não esperar que venham até você. -
8:41 - 8:44E perguntar a todos como se sentem
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8:44 - 8:48sobre as condições saudáveis de inclusão
e diversidade dentro da empresa. -
8:48 - 8:50E ser preciso.
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8:50 - 8:54Perguntar sobre incidentes ou casos
específicos que elas presenciaram. -
8:54 - 8:56Porque, como na nossa pesquisa,
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8:56 - 9:00se perguntar diretamente às pessoas
se elas sofreram assédio ou discriminação, -
9:00 - 9:02a resposta padrão é "não".
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9:02 - 9:06Mas, se perguntar sobre experiências
ou comportamentos específicos, -
9:06 - 9:09a maioria dirá: "Ah, sim,
eu vi isso outro dia". -
9:09 - 9:12Fazer as perguntas certas é essencial.
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9:12 - 9:14Por último, e mais importante:
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9:14 - 9:18pesquisas mostram que uma das melhores
formas de mitigar o efeito do espectador -
9:18 - 9:21é construir uma identidade
social compartilhada. -
9:21 - 9:25Não se trata de fiscalizar o outro,
nem de chamar a atenção dele, -
9:25 - 9:28e sim de ser um grupo coeso.
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9:28 - 9:30Estamos juntos nessa.
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9:30 - 9:33Se você ataca um de nós,
está atacando todos nós. -
9:33 - 9:35Isso não seria ótimo?
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9:35 - 9:38Não gostaria que alguém o apoiasse
se algo ruim acontecesse? -
9:39 - 9:42Estamos, espero, coletivamente
criando uma empresa -
9:42 - 9:46mais forte, saudável,
diversificada e inclusiva. -
9:50 - 9:52Sem meus aliados, eu não estaria aqui.
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9:53 - 9:57Quando comecei a ser alvo
de comportamento inadequado no trabalho, -
9:57 - 10:01entrei em depressão
e quase abandonei o mundo acadêmico. -
10:01 - 10:05Sem algumas pessoas que me apoiaram,
não estaria agora nesse palco. -
10:06 - 10:08E queria apresentar
um final feliz pra vocês. -
10:08 - 10:11Mas, infelizmente, esses indivíduos
continuam na ativa. -
10:12 - 10:16Em estruturas corporativas em que pessoas
trabalham dispersamente, -
10:16 - 10:22em que nem se sabe para quem denunciar,
independentemente das consequências, -
10:23 - 10:26esse tipo de comportamento tende
a se proliferar por mais tempo. -
10:26 - 10:29Mas isso não me impede
de tentar impedi-lo. -
10:29 - 10:33E posso dizer o seguinte: durante
os últimos dois anos da minha pesquisa, -
10:33 - 10:36descobri que houve
muitas mudanças positivas. -
10:36 - 10:39Mudanças na legislação, nas atitudes,
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10:39 - 10:43e empresas finalmente
levando essas questões a sério. -
10:43 - 10:48Garanto que a era dos assediadores,
agressores e discriminadores -
10:48 - 10:49está chegando ao fim.
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10:50 - 10:51Obrigada.
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10:51 - 10:53(Aplausos)
- Title:
- Como apoiar testemunhas de assédio e criar locais de trabalho mais saudáveis
- Speaker:
- Julia Shaw
- Description:
-
O que faz você se manifestar, ou não, quando vê algo que sabe que está errado? A cientista da memória Julia Shaw explica a psicologia de quem presencia discriminação e assédio no local de trabalho e compartilha medidas práticas que as empresas podem adotar para apoiar e amplificar as vozes delas.
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- English
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDTalks
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- 11:06