Porque é tão difícil falar da palavra N...
-
0:01 - 0:03No instante em que ela disse aquilo,
-
0:03 - 0:06a temperatura na minha sala de aula caiu.
-
0:07 - 0:10Os meus alunos normalmente
concentram-se muito em mim, -
0:11 - 0:14mas ficaram desconfortáveis
e desviaram os olhares. -
0:15 - 0:17Eu sou uma mulher negra
-
0:17 - 0:21que ensina as histórias do racismo
e da escravatura nos EUA. -
0:22 - 0:26Sei que a minha identidade social
está sempre exposta. -
0:26 - 0:28E os meus alunos também
são vulneráveis, -
0:28 - 0:30então tenho cuidado.
-
0:30 - 0:34Eu tento prever qual a parte
da minha aula que pode correr mal. -
0:34 - 0:36Mas sinceramente,
-
0:36 - 0:38não esperava que isto acontecesse.
-
0:38 - 0:41Nenhum dos meus anos de pós-graduação
me preparara para reagir -
0:41 - 0:43quando surgisse a palavra N...
na minha classe. -
0:44 - 0:46Eu estava no primeiro ano
como professora -
0:46 - 0:49quando a aluna disse
a palavra N... na sala de aula. -
0:50 - 0:52Ela não estava a ofender ninguém.
-
0:53 - 0:56Era entusiasmada e cheia de energia.
-
0:56 - 0:58Chegava à aula com a leitura preparada,
-
0:58 - 1:00sentava-se na fila da frente,
-
1:00 - 1:03estava sempre do meu lado.
-
1:04 - 1:05Quando ela disse aquilo,
-
1:05 - 1:07estava a comentar a minha lição,
-
1:07 - 1:12citando a fala de um filme
dos anos 70, uma comédia, -
1:12 - 1:14que tinha dois insultos racistas.
-
1:14 - 1:16Um sobre descendentes de chineses
-
1:16 - 1:19e o outro a palavra N...
-
1:19 - 1:23Assim que ela a disse, eu levantei as mãos
e disse: "Uau, uau!". -
1:23 - 1:25Mas ela tranquilizou-me:
-
1:25 - 1:27"É uma piada, do Banzé no Oeste"
-
1:27 - 1:29e depois repetiu-a.
-
1:30 - 1:32Tudo isto aconteceu há 10 anos,
-
1:32 - 1:36e o modo como eu lidei com isso
assombrou-me durante muito tempo. -
1:36 - 1:39Não foi a primeira vez
que eu analisei aquela palavra -
1:39 - 1:40num ambiente académico.
-
1:40 - 1:43Sou professora de História dos EUA.
-
1:43 - 1:46Ela aparece em muitos
documentos que eu ensino. -
1:46 - 1:48Então, tive de fazer uma escolha.
-
1:49 - 1:51Depois de consultar
alguém em quem confio -
1:51 - 1:53decidi nunca mais dizê-la.
-
1:53 - 1:54Nem mesmo como citação.
-
1:54 - 1:58em vez disso, usar o eufemismo
"a palavra N...". -
1:59 - 2:02Mesmo essa decisão foi complicada.
-
2:02 - 2:04Eu ainda não tinha estabilidade
-
2:04 - 2:06e preocupava-me
que colegas experientes pensassem -
2:06 - 2:11que, por usar este termo,
eu não fosse uma académica séria. -
2:11 - 2:14Mas dizer a palavra ainda era pior.
-
2:15 - 2:19O incidente na sala de aula forçou-me
a lidar publicamente com a palavra. -
2:20 - 2:23A história, a violência,
-
2:23 - 2:24mas também...
-
2:25 - 2:29A história, a violência, mas também
sempre que me fora dirigida, -
2:30 - 2:32dita casualmente na minha frente,
-
2:32 - 2:35todas as vezes que estava
na ponta da língua de alguém, -
2:35 - 2:38tudo veio à tona naquele momento,
-
2:38 - 2:40em frente dos meus alunos.
-
2:40 - 2:42E eu não fazia ideia do que fazer.
-
2:44 - 2:49Então comecei a chamar às histórias
como a minha "pontos de encontro". -
2:50 - 2:55Um ponto de encontro é o momento em que
se está cara a cara com a palavra N... -
2:56 - 2:59Se vocês já se se sentiram
perturbados ou provocados pela palavra, -
2:59 - 3:03seja numa situação social embaraçosa,
-
3:03 - 3:06numa conversa académica desconfortável,
-
3:06 - 3:09algo que ouviram na cultura pop,
-
3:09 - 3:11ou se foram insultados,
-
3:11 - 3:13ou testemunharam alguém a ser insultado,
-
3:13 - 3:16viveram um ponto de encontro.
-
3:16 - 3:19Consoante quem vocês são
e como acontece esse momento, -
3:19 - 3:22podem ter uma série de reações.
-
3:22 - 3:24Podem ficar um pouco confusos,
-
3:24 - 3:27ou ser incrivelmente
doloroso e humilhante. -
3:28 - 3:32Eu tive muitos desses pontos de encontro
na minha vida, -
3:32 - 3:34mas uma coisa é certa.
-
3:34 - 3:37Não há muito espaço para falar deles.
-
3:40 - 3:44Aquele dia na minha sala de aula
foi praticamente como todas as vezes -
3:44 - 3:47em que me deparei
com a palavra N... -
3:47 - 3:48Fiquei paralisada.
-
3:49 - 3:52Porque é difícil falar
sobre a palavra N... -
3:53 - 3:56Parte da razão por que é
tão difícil falar sobre ela, -
3:56 - 3:59é que normalmente
só é discutida de uma forma, -
3:59 - 4:02como figura de linguagem,
ouvimos muito isso, não é? -
4:02 - 4:04É só uma palavra.
-
4:04 - 4:07A grande questão que gira
pelas redes sociais -
4:07 - 4:10é quem pode dizê-la ou não.
-
4:11 - 4:15O intelectual negro Ta-Nehisi Coates
faz um trabalho exemplar -
4:15 - 4:17defendendo o uso da palavra
pelos afro-americanos. -
4:17 - 4:20Em contrapartida, Wendy Kaminer,
-
4:20 - 4:22defensora branca
da liberdade de expressão, -
4:22 - 4:24argumenta que,
se todos nós não a dissermos, -
4:24 - 4:26daremos poder à palavra.
-
4:26 - 4:28E muita gente concorda com ela.
-
4:29 - 4:32O Pew Center entrou
recentemente no debate. -
4:32 - 4:37Numa pesquisa chamada
"Race in America 2019", -
4:37 - 4:40investigadores perguntaram
a adultos dos EUA se achavam bem -
4:40 - 4:43uma pessoa branca
dizer a palavra N... -
4:43 - 4:4770% de todos os adultos inquiridos
disseram: "Nunca". -
4:48 - 4:50Estes debates são importantes.
-
4:51 - 4:53Mas eles acabam
ofuscando uma outra coisa. -
4:53 - 4:57Impedem-nos de debater a questão real
-
4:58 - 5:01Que a palavra N...
não é só uma palavra. -
5:01 - 5:06Não está contida
num passado racista, -
5:06 - 5:08não é uma relíquia da escravatura.
-
5:09 - 5:13Basicamente, a palavra N... é uma ideia
-
5:13 - 5:15disfarçada de palavra:
-
5:16 - 5:19que os negros são intelectualmente,
-
5:19 - 5:20biologicamente
-
5:20 - 5:25e imutavelmente inferiores aos brancos.
-
5:25 - 5:28E acho que essa
é a parte mais importante, -
5:29 - 5:33que essa inferioridade significa
que a injustiça que sofremos -
5:33 - 5:34e a desigualdade que enfrentamos
-
5:34 - 5:37é essencialmente nossa culpa.
-
5:39 - 5:42Então, sim, é...
-
5:49 - 5:52Falar da palavra
apenas como uma ofensa racista -
5:52 - 5:56ou uma obscenidade na música hip hop,
-
5:56 - 5:59faz com que pareça um tumor
-
5:59 - 6:01nas cordas vocais americanas
-
6:01 - 6:03que pode ser facilmente removido.
-
6:03 - 6:06Não é. E não pode.
-
6:07 - 6:10E eu aprendi isso
conversando com os meus alunos. -
6:10 - 6:13Então, na aula seguinte,
-
6:13 - 6:15eu pedi desculpa,
-
6:15 - 6:17e fiz um anúncio.
-
6:17 - 6:19Eu ia estipular uma nova regra.
-
6:20 - 6:24Os alunos passavam a ver a palavra
nos meus PowerPoints, -
6:24 - 6:27em filmes, em estudos que lessem,
-
6:27 - 6:32mas nunca diríamos a palavra
em voz alta na sala de aula. -
6:33 - 6:35Nunca mais ninguém a disse.
-
6:35 - 6:37Mas também não aprenderam muito.
-
6:38 - 6:40No fim, o que mais me incomodou
-
6:40 - 6:43foi que eu nem sequer expliquei aos alunos
-
6:43 - 6:47porque é que, entre todas as palavras
problemáticas no inglês americano, -
6:47 - 6:51porque é que esta palavra em particular
tinha o seu próprio escudo, -
6:51 - 6:54a expressão alternativa
"a palavra N...". -
6:54 - 6:56A maioria dos meus alunos,
-
6:56 - 7:00muitos deles nasceram
no final dos anos 90 ou depois, -
7:00 - 7:03nem sabiam que a expressão,
a palavra N... -
7:03 - 7:06é uma invenção relativamente nova
no inglês americano. -
7:06 - 7:09Na minha juventude ela não existia.
-
7:10 - 7:14Mas no final dos anos 80,
-
7:14 - 7:18os estudantes universitários,
os escritores e os intelectuais negros, -
7:18 - 7:24começaram cada vez mais a falar
dos ataques racistas que sofriam. -
7:25 - 7:28Mas, gradualmente,
ao contar estas histórias, -
7:28 - 7:31deixaram de usar a palavra.
-
7:32 - 7:34Em vez dela, reduziram-na para a inicial N
-
7:34 - 7:37e chamaram-lhe "a palavra N...".
-
7:37 - 7:40Eles sentiam que,
sempre que se dizia a palavra, -
7:40 - 7:43abriam-se velhas feridas,
e recusaram-se a dizê-la. -
7:43 - 7:47Eles sabiam que o público
ouviria a palavra na sua cabeça. -
7:47 - 7:49O problema não era esse.
-
7:49 - 7:53A questão é que eles não queriam
colocar a palavra na sua boca, -
7:53 - 7:54nem no ar.
-
7:55 - 7:57Ao fazerem isso,
-
7:57 - 8:00fizeram com que toda uma nação
começasse a autocriticar-se -
8:00 - 8:02por dizer isso.
-
8:03 - 8:06Foi uma jogada tão radical
-
8:07 - 8:09que as pessoas ainda
estão zangadas com isso. -
8:11 - 8:16Os críticos acusam aqueles que usam
o termo "a palavra N...", -
8:16 - 8:18ou as pessoas ficam indignadas
-
8:18 - 8:20só por a palavra ser dita,
-
8:20 - 8:21de sermos radicais,
-
8:22 - 8:24politicamente corretos
-
8:24 - 8:27ou, como eu li há umas semanas
no The New York Times, -
8:27 - 8:29"insuportavelmente conscientes".
-
8:29 - 8:30Certo?
-
8:30 - 8:33Então eu também entrei nesta causa,
-
8:33 - 8:36por isso, na aula seguinte
-
8:36 - 8:40eu propus um debate
sobre liberdade de expressão. -
8:41 - 8:45A palavra N... em espaços académicos:
-
8:45 - 8:47A favor ou contra?
-
8:48 - 8:50Eu estava convencida
de que os alunos estariam ávidos -
8:50 - 8:53para discutir
quem pode ou não usar a palavra. -
8:54 - 8:55Mas não estavam.
-
8:57 - 8:59Pelo contrário,
-
9:00 - 9:03os meus alunos começaram a confessar-se.
-
9:05 - 9:09Uma aluna branca de Nova Jersey
falou sobre ter presenciado -
9:09 - 9:12uma criança negra da sua escola
a ser insultada por essa palavra. -
9:12 - 9:16Ela não fizera nada,
e, anos depois, ainda carregava a culpa. -
9:17 - 9:19Outra, de Connecticut,
-
9:20 - 9:22falou sobre a dor de romper
-
9:23 - 9:25uma relação muito próxima
com um membro da família, -
9:25 - 9:29porque ele se recusava
a deixar de usar a palavra. -
9:31 - 9:36Uma das histórias mais memoráveis
veio de uma aluna negra muito sossegada -
9:36 - 9:37da Carolina do Sul.
-
9:37 - 9:40Ela não entendia todo aquele alvoroço.
-
9:40 - 9:43Disse que todos na sua escola
diziam a palavra. -
9:44 - 9:48Ela não estava a falar de crianças
a chamarem nomes no corredor. -
9:49 - 9:53Explicou que, na sua escola,
-
9:53 - 9:55quando professores e funcionários
-
9:55 - 9:59ficavam aborrecidos com
um aluno afro-americano, -
9:59 - 10:02eles insultavam-no com a palavra N....
-
10:03 - 10:06Ela disse que isso
não a incomodava nem um pouco. -
10:06 - 10:08Mas uns dias depois,
-
10:08 - 10:13ela veio procurar-me durante o expediente
e começou a chorar. -
10:14 - 10:16Ela achava que estava imune
-
10:16 - 10:19mas percebeu que não estava.
-
10:19 - 10:22Nos últimos 10 anos,
-
10:22 - 10:26eu ouvi centenas destas histórias
-
10:26 - 10:29de todos os tipos de pessoas,
de todas as idades. -
10:30 - 10:33Pessoas nos seus 50 anos
lembrando histórias do 2.º ano -
10:33 - 10:35e de quando tinham seis anos,
-
10:35 - 10:38por ofenderem alguém com a palavra
ou serem ofendidos com essa palavra, -
10:38 - 10:43mas carregando o peso dessa palavra
durante todos esses anos. -
10:43 - 10:47Ao ouvir as pessoas falarem
sobre os seus pontos de encontro, -
10:47 - 10:52o padrão que vi surgir e que,
como professora, achei o mais inquietante -
10:52 - 10:55é que o lugar mais frágil
-
10:55 - 10:57para esses pontos de encontro
-
10:57 - 10:59é a sala de aula.
-
11:00 - 11:05A maioria das crianças americanas
vai conhecer a palavra N... na aula. -
11:06 - 11:10Um dos livros mais usados
nas escolas dos EUA -
11:10 - 11:13é "As Aventuras de Huckleberry Finn",
de Mark Twain -
11:13 - 11:16onde a palavra aparece mais de 200 vezes.
-
11:16 - 11:19E não é uma acusação a "Huck Finn".
-
11:19 - 11:23A palavra está em muita da literatura
e da história dos EUA. -
11:23 - 11:26Está em toda a literatura afro-americana.
-
11:27 - 11:29Contudo, eu ouço aos alunos
-
11:29 - 11:32que, quando a palavra é dita
numa aula, -
11:33 - 11:36sem diálogo e sem contexto,
-
11:37 - 11:41envenena todo o ambiente da classe.
-
11:41 - 11:45Quebra-se a confiança
entre aluno e professor. -
11:47 - 11:51Mesmo assim, muitos professores,
-
11:51 - 11:53geralmente com a melhor das intenções,
-
11:53 - 11:56ainda dizem a palavra N... na aula.
-
11:57 - 12:02Querem mostrar e realçar
os horrores do racismo nos EUA, -
12:02 - 12:06e, por isso, usam-na
para provocar um choque. -
12:06 - 12:09Evocá-la coloca em evidência
-
12:09 - 12:12a monstruosidade do passado
da nossa nação. -
12:12 - 12:14Mas eles esquecem.
-
12:14 - 12:19As ideias estão bem vivas
no nosso tecido cultural. -
12:25 - 12:31A palavra de seis letras é como
uma cápsula de dor acumulada. -
12:33 - 12:36Todas as vezes que é dita,
todas as vezes, -
12:36 - 12:39lança na atmosfera a odiosa noção
-
12:39 - 12:42de que as pessoas negras são inferiores.
-
12:44 - 12:46Os meus alunos negros dizem-me
-
12:46 - 12:48que, quando a palavra
é citada ou dita na aula, -
12:48 - 12:52eles sentem como se
um holofote gigante incidisse neles. -
12:53 - 12:55Um dos meus alunos disse-me
-
12:55 - 12:57que os seus colegas pareciam
bonecos cabeçudos, -
12:57 - 13:00virando-se para avaliar a reação dele.
-
13:01 - 13:04Um aluno branco disse-me
que, no 8.º ano, -
13:04 - 13:07quando estavam a estudar
"Por Favor, Não Matem a Cotovia" -
13:09 - 13:10e ao lê-lo em voz alta na aula,
-
13:10 - 13:13um aluno estava tão nervoso
-
13:13 - 13:16com a ideia de ter de ler a palavra,
-
13:16 - 13:19— que o professor insistiu
que todos os alunos fizessem — -
13:19 - 13:23que acabou por passar
a maior pare do tempo -
13:23 - 13:26a esconder-se na casa de banho.
-
13:26 - 13:28Isto é grave.
-
13:28 - 13:30Alunos por todo o país
-
13:30 - 13:33falam de trocar de mestrado
e de desistir das aulas -
13:33 - 13:36por causa de um ensino deficiente
da palavra N.... -
13:36 - 13:41A questão de o corpo docente
dizer negligentemente a palavra -
13:41 - 13:43chegou a tal nível
-
13:43 - 13:47que gerou protestos em Princeton, Emory,
-
13:47 - 13:48A New School,
-
13:49 - 13:51o Smith College, onde eu leciono,
-
13:51 - 13:53e o Williams College,
-
13:53 - 13:58onde, recentemente, os alunos boicotaram
todo o departamento de inglês -
13:58 - 14:01por esta e outras questões.
-
14:01 - 14:04Estes foram só os casos
que apareceram nas notícias. -
14:05 - 14:07Isto é uma crise.
-
14:07 - 14:09Enquanto a reação dos alunos
-
14:09 - 14:12parecer um ataque
à liberdade de expressão, -
14:12 - 14:15eu garanto que isso
é um problema de ensino. -
14:16 - 14:21Os meus alunos não têm medo
de materiais que contêm a palavra N.... -
14:21 - 14:24Eles querem conhecer James Baldwin
-
14:24 - 14:25e William Faulkner
-
14:25 - 14:27e o Movimento dos Direitos Civis.
-
14:29 - 14:33Na verdade, as histórias deles mostram
-
14:33 - 14:39que esta palavra é um elemento central
da vida deles enquanto jovens, nos EUA. -
14:41 - 14:43Está na música que adoram.
-
14:43 - 14:45E na cultura popular que imitam,
-
14:45 - 14:47na comédia a que assistem,
-
14:47 - 14:50na TV e nos filmes,
-
14:50 - 14:52está imortalizada nos museus.
-
14:52 - 14:55Eles ouvem-na nos vestiários,
-
14:55 - 14:56no Instagram,
-
14:56 - 14:59nos corredores da escola,
-
14:59 - 15:01nas salas de conversa
dos videojogos que jogam. -
15:01 - 15:04Está por todo o universo
em que navegam. -
15:04 - 15:06Mas não sabem como pensar nisso
-
15:06 - 15:09nem sequer o que a palavra significa.
-
15:10 - 15:12Eu nem sequer entendia o seu significado
-
15:12 - 15:15até fazer algumas pesquisas.
-
15:15 - 15:17E fiquei admirada ao saber
-
15:17 - 15:21que os negros incorporaram inicialmente
a palavra N... no seu vocabulário -
15:21 - 15:23como um protesto político,
-
15:23 - 15:26não nos anos 70 ou 80,
-
15:26 - 15:29mas por volta dos anos 70 do século XVIII.
-
15:29 - 15:32Gostava de ter mais tempo para falar
-
15:32 - 15:36na longa e subversiva história
do uso pelos negros da palavra N.... -
15:36 - 15:38Mas vou dizer uma coisa:
-
15:39 - 15:42Muitas vezes os meus alunos
vêm ter comigo e dizem: -
15:42 - 15:46"Eu entendo as raízes virulentas
desta palavra, é a escravatura." -
15:47 - 15:49Eles estão certos apenas parcialmente.
-
15:50 - 15:55Essa palavra, que já existia
antes de se tornar um insulto, -
15:55 - 16:00torna-se ofensiva num momento
muito distinto na história dos EUA, -
16:00 - 16:05que é quando muitos negros
começam a tornar-se livres, -
16:05 - 16:08a começar pelo Norte, na década de 1820.
-
16:08 - 16:10Por outras palavras,
-
16:10 - 16:15esta palavra é fundamentalmente
um ataque à liberdade negra, -
16:15 - 16:17à mobilidade negra,
-
16:17 - 16:19e às aspirações dos negros.
-
16:20 - 16:21E mesmo agora,
-
16:21 - 16:25nada desencadeia tão depressa
um discurso sobre a palavra N... -
16:25 - 16:28como um negro que afirma os seus direitos
-
16:28 - 16:31ou que vai onde quer, ou prospera.
-
16:31 - 16:35Pensem nos ataques a Colin Kaepernick
quando ele se ajoelhou, -
16:35 - 16:38ou a Barack Obama
quando ele se tornou presidente. -
16:39 - 16:42Os meus alunos querem
conhecer essa história. -
16:43 - 16:47Mas quando fazem perguntas
mandam-nos calar e humilham-nos. -
16:48 - 16:52Ao fugirmos da discussão
sobre a palavra N..., -
16:52 - 16:56transformamo-la no derradeiro tabu,
-
16:57 - 16:59fazendo dela uma coisa
tão atormentadora -
17:00 - 17:02que, para todas as crianças americanas,
-
17:02 - 17:05seja qual for seu histórico étnico,
-
17:05 - 17:07parte do seu crescimento
é tentar entender -
17:07 - 17:09como contornar essa palavra.
-
17:09 - 17:13Tratamos as conversas sobre ela
como o sexo antes da educação sexual. -
17:14 - 17:16Somos reticentes, não os deixamos falar.
-
17:16 - 17:21Então, eles aprendem-na com os amigos
mal informados e em segredinhos. -
17:22 - 17:24Eu gostaria de poder voltar
à sala de aula naquele dia -
17:24 - 17:26e passar por cima do meu medo
-
17:26 - 17:30para falar sobre o facto de que
algo realmente aconteceu. -
17:30 - 17:33Não só a mim ou aos meus alunos negros.
-
17:33 - 17:34Mas a todos nós.
-
17:35 - 17:36Sabem,
-
17:36 - 17:39eu acho que estamos
todos interligados -
17:39 - 17:42pela nossa incapacidade
de falar nessa palavra. -
17:42 - 17:45Mas, e se explorássemos
os nossos pontos de encontro -
17:45 - 17:48e começássemos a falar sobre isso?
-
17:49 - 17:52Hoje eu tento criar condições
na sala de aula -
17:52 - 17:55para ter uma conversa
aberta e honesta sobre isto. -
17:55 - 17:58Uma dessas condições:
não dizer a palavra. -
17:59 - 18:00Podemos falar sobre ela,
-
18:00 - 18:03porque ela não aparece na sala de aula.
-
18:03 - 18:04Outra condição importante
-
18:04 - 18:07é que eu não torno responsáveis
os meus alunos negros -
18:07 - 18:10por a ensinarem aos seus colegas.
-
18:10 - 18:11Este é o meu trabalho.
-
18:11 - 18:13Então eu venho preparada.
-
18:13 - 18:16Eu levo a conversa com rigor,
-
18:17 - 18:20e estou munida
de conhecimentos históricos. -
18:20 - 18:24Eu faço sempre
as mesmas perguntas aos alunos: -
18:24 - 18:28Porque é que é difícil falar
sobre a palavra N...? -
18:28 - 18:31As respostas deles são incríveis.
-
18:32 - 18:33São incríveis.
-
18:34 - 18:37Mas, acima de tudo,
-
18:37 - 18:42eu assimilei profundamente
os meus pontos de encontro, -
18:42 - 18:45a minha história pessoal
em torno desta palavra. -
18:45 - 18:48Porque quando a palavra N...
entra na escola -
18:49 - 18:50ou em qualquer outro lugar,
-
18:51 - 18:57leva consigo toda a complicada
história do racismo nos EUA. -
18:57 - 18:59A história da nação
-
18:59 - 19:00e a minha história,
-
19:00 - 19:03aqui e agora.
-
19:04 - 19:06Não há como evitar isso.
-
19:06 - 19:08(Aplausos)
- Title:
- Porque é tão difícil falar da palavra N...
- Speaker:
- Elizabeth Stordeur Pryor
- Description:
-
A Professora Elizabeth Stordeur Pryor dirige um exame meticuloso e baseado na história sobre uma das palavras mais polémicas da língua inglesa: a palavra N.... Explica como, a partir da nossa própria experiência, refletir sobre os nossos encontros com a palavra pode ajudar a fomentar discussões produtivas e acabe por criar uma estrutura que reformule a educação no que se refere à história complicada do racismo nos EUA.
- Video Language:
- English
- Team:
- closed TED
- Project:
- TEDTalks
- Duration:
- 19:21
Margarida Ferreira approved Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Margarida Ferreira accepted Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Margarida Ferreira edited Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Mariana D Angelo edited Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word | ||
Mariana D Angelo edited Portuguese subtitles for Why it's so hard to talk about the N-word |