Estromatólitos e a origem da vida | María Eugenia Farías | TEDxRíodelaPlata
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0:18 - 0:23Sou cientista e vou contar
a história de uma descoberta. -
0:24 - 0:26Esta descoberta começou
com muitas perguntas -
0:26 - 0:28que me fazia desde miúda.
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0:28 - 0:30Por exemplo, quando acabei o catecismo
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0:30 - 0:32e ia fazer a Primeira Comunhão,
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0:32 - 0:34não fiquei muito convencida
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0:34 - 0:37porque não encontrei,
depois de ter lido todo o Génesis -
0:37 - 0:39o Antigo Testamento
e o Novo Testamento, -
0:39 - 0:41onde estavam os dinossauros!
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0:42 - 0:45O meu pai, que era cientista,
mandou-me falar com um padre. -
0:45 - 0:50Depois, aos 10 anos, apaixonei-me
pelos tubarões brancos, -
0:50 - 0:53nessa altura na revista
National Geographic. -
0:53 - 0:57Mas a minha primeira
grande crise existencialista -
0:57 - 0:59foi a ler Carl Sagan.
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0:59 - 1:02Ao ler Carl Sagan, dei-me conta
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1:03 - 1:09de que somos um ponto diminuto
no tempo e no espaço, que é infinito. -
1:10 - 1:15Como fazer para deixar rasto
da nossa existência, enquanto pessoas, -
1:15 - 1:18enquanto comunidade,
enquanto sociedade, enquanto espécie -
1:18 - 1:21num tempo e num espaço tão infinito?
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1:21 - 1:25Fechem os olhos e imaginem-se no infinito.
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1:25 - 1:30Uma coisa que não acaba, não acaba,
não acaba... - por favor, um calmante! - -
1:30 - 1:34porque ficava cheia de ansiedade
desde criança. -
1:34 - 1:36Se a isso somarmos o tempo,
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1:36 - 1:40a ideia de que há 13 000
a 15 000 milhões de anos, -
1:40 - 1:42foi a origem do Universo,
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1:42 - 1:46que a Via Láctea tem
cerca de 13 200 milhões de anos, -
1:46 - 1:51que o planeta Terra tem
cerca de 4500 milhões de anos -
1:51 - 1:55e que o primeiro registo de vida
no planeta Terra -
1:55 - 1:58tem 3800 milhões de anos.
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1:58 - 2:04Mas a vida não começou
necessariamente no planeta Terra. -
2:04 - 2:09Quando se estuda o Universo,
descobre-se que este universo infinito -
2:09 - 2:11está cheio de moléculas orgânicas.
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2:11 - 2:15Essas moléculas orgânicas
são os tijolos da vida. -
2:15 - 2:20A vida podia estar a viajar
de planeta em planeta. -
2:20 - 2:24Basta uma só célula,
uma só molécula, -
2:24 - 2:28uma só bactéria, para infetar
de vida um planeta. -
2:28 - 2:32Essa molécula, essa bactéria,
esse esporo de vida -
2:33 - 2:36podia estar a viajar
de planeta em planeta. -
2:37 - 2:39Isso podia passar-se em todo o Universo.
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2:39 - 2:42Mas vejamos o que se passa
no nosso sistema solar. -
2:42 - 2:44No nosso sistema solar,
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2:44 - 2:47o planeta mais perto da Terra
é o planeta Marte. -
2:47 - 2:50A vida podia ter vindo de Marte.
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2:50 - 2:53Porque podemos dizer isso
ou pôr essa hipótese? -
2:53 - 2:55Porque Marte, há milhares
de milhões de anos, -
2:55 - 2:58não era um planeta vermelho,
sem oxigénio -
2:58 - 3:01e, sobretudo, com água,
como a que tem neste momento, -
3:01 - 3:05com água só no estado de gelo
nas zonas polares. -
3:05 - 3:08Há milhares de milhões de anos
Marte tinha água líquida -
3:08 - 3:12e Marte podia ter sido um local
onde se originou a vida. -
3:12 - 3:15A vida em Marte podia
ter viajado para a Terra. -
3:15 - 3:17Podia ter viajado num meteorito.
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3:17 - 3:20Há meteoritos que vêm de Marte,
que caíram na Terra, -
3:20 - 3:23que têm registos de atividade orgânica.
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3:23 - 3:27Então, se eu for uma célula
ou um esporo ou uma molécula -
3:27 - 3:30que vai viajar pelo espaço,
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3:30 - 3:34tenho de ser muito resistente,
tenho de ser um extremófilo. -
3:34 - 3:39Um extremófilo é uma bactéria
que se adapta a condições extremas. -
3:39 - 3:41Mas como não podemos
viajar para Marte -
3:41 - 3:44porque ainda não existe
a tecnologia necessária, -
3:44 - 3:47- mas creio que estamos
muito perto de fazê-lo - -
3:47 - 3:50por agora, vamos estudar
como seria essa vida -
3:50 - 3:56no ambiente mais parecido com Marte
que temos na Terra, que é la Puna. -
3:56 - 3:58Nós somos microbiólogos.
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3:58 - 4:02Há 10 anos que estamos
a trabalhar em la Puna. -
4:02 - 4:06Estamos a estudar as bactérias,
os micro-organismos, -
4:06 - 4:08as formas de vida que, em la Puna,
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4:08 - 4:11aguentam uma série de condições extremas,
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4:11 - 4:14como a alta radiação ultravioleta,
dada a sua altitude, -
4:14 - 4:20a baixa pressão de oxigénio,
o grande conteúdo de arsénico, -
4:20 - 4:25um ambiente muito salino na água,
com mudanças drásticas de temperatura, -
4:26 - 4:27ventos fortes.
-
4:27 - 4:31Todas estas condições são parecidas
com as que haverá, neste momento, -
4:31 - 4:33em planetas como Marte,
-
4:33 - 4:36ou que podia ter havido
nesta Terra primitiva. -
4:36 - 4:41Neste ambiente, há dois anos,
encontrámos estromatólitos. -
4:42 - 4:46Foi de tal impacto esta notícia
que chegou à revista Nature. -
4:47 - 4:50Porquê? Porque esses estromatólitos
estavam vivos. -
4:50 - 4:53Vamos ver o que é um estromatólito.
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4:53 - 4:55Para isso, vamos fazer
uma viagem no tempo. -
4:55 - 5:00Vamos recuar 3800 milhões de anos,
a esse planeta primitivo. -
5:00 - 5:04Nesse planeta primitivo, que era a Terra,
não havia uma camada de ozono. -
5:04 - 5:08Portanto, a radiação ultravioleta
arruinava qualquer forma de vida. -
5:08 - 5:12A vida tinha de crescer escondida
no fundo dos oceanos, -
5:12 - 5:14ou escondida por baixo das rochas.
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5:14 - 5:16Nessa altura, não havia oxigénio,
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5:16 - 5:19e a vida tinha de respirar
outro tipo de moléculas -
5:19 - 5:22e crescia muito lentamente.
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5:22 - 5:26Nesse ambiente primitivo,
havia uma enorme atividade vulcânica, -
5:26 - 5:29mudanças drásticas de temperatura,
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5:29 - 5:32águas muito salinas, cheias de metais.
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5:32 - 5:33Acham parecido?
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5:34 - 5:37Estas são condições muito parecidas
com a que temos em la Puna. -
5:38 - 5:42Nesse ambiente primitivo,
surgiu a primeira molécula de ARN, -
5:42 - 5:46que conseguiu autoduplicar-se
e dar lugar a uma molécula de ADN, -
5:46 - 5:50que se envolveu numa membrana,
como uma gota de óleo -
5:50 - 5:53e começou a separar
o que entrava e o que saía. -
5:53 - 5:57Assim surgiu a primeira célula,
a primeira protocélula. -
5:57 - 6:00Essa primeira protocélula
foi-se unindo a outras células -
6:00 - 6:02e inventaram a fotossíntese.
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6:02 - 6:05Como era muito complicado
sobreviver nessas condições, -
6:05 - 6:07associaram-se.
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6:07 - 6:11Essa atividade biológica
foi precipitando minerais, -
6:11 - 6:14foi captando dióxido de carbono
que transformou em carbonato de cálcio, -
6:14 - 6:16ou seja, numa pedra,
-
6:16 - 6:20numa coisa que, quando morre
a parte viva, forma um fóssil. -
6:21 - 6:28Essa colónia de algas e bactérias
captou dióxido de carbono, -
6:28 - 6:31libertou oxigénio, ao longo
de milhares de milhões de anos, -
6:31 - 6:33criou a camada de ozono.
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6:33 - 6:37Libertou oxigénio para a atmosfera
e a vida deixou de ser anaeróbica -
6:37 - 6:39e começou a ser aeróbica.
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6:39 - 6:43Sendo aeróbica, cresceu
mais depressa, pôde evoluir, -
6:43 - 6:46deu lugar aos primeiros
organismos multicelulares, -
6:46 - 6:50aos invertebrados, aos primeiros peixes,
aos anfíbios, aos répteis, -
6:50 - 6:52que puderam conquistar a terra,
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6:52 - 6:56aos mamíferos que criaram os telescópios,
-
6:56 - 6:59que viram o Universo
e começaram a perguntar: -
6:59 - 7:01"O que é que eu estou a fazer aqui?"
-
7:02 - 7:06Os estromatólitos tiveram
um papel fundamental -
7:06 - 7:09em transformar
esse planeta hostil na Terra, -
7:09 - 7:12neste planeta azul que hoje conhecemos.
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7:12 - 7:15Há outros locais do mundo
onde se encontram estromatólitos vivos. -
7:16 - 7:18Nas Bahamas, em Cuatro Ciénagas no México,
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7:18 - 7:21um local que está a perder-se,
neste momento -
7:21 - 7:23por causa do uso intensivo
da água na agricultura, -
7:23 - 7:26na Baía Tiburón, na Austrália,
em Yellowstone. -
7:26 - 7:29Mas todos os descritos
até este momento -
7:29 - 7:32estavam ao nível do mar
e em climas quentes. -
7:33 - 7:36Os que encontrámos em la Puna,
são os primeiros que se encontram -
7:36 - 7:39nas condições
de alta radiação ultravioleta, -
7:39 - 7:42baixa pressão de oxigénio,
-
7:42 - 7:46nas condições mais parecidas
com o que foi essa Terra primitiva. -
7:47 - 7:49A descoberta dos estromatólitos em la Puna
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7:49 - 7:53não é mais do que um olhar
para o nosso passado, -
7:53 - 7:55como era a vida na Terra.
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7:56 - 7:57Esta é a Lagoa Socompa.
-
7:57 - 8:00Estas pedras que ali estão,
são os estromatólitos. -
8:00 - 8:05Se cortarmos essas pedras,
que podiam passar desapercebidas, -
8:05 - 8:08encontramos estas camadas.
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8:08 - 8:12Cada uma destas camadas
já esteve na parte superior. -
8:12 - 8:15Cada uma destas camadas
é uma linha de crescimento -
8:15 - 8:18destas pedras vivas
que são os estromatólitos. -
8:18 - 8:21Vamos ver ao microscópio eletrónico
o que é que encontramos -
8:21 - 8:23dentro de um estromatólito.
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8:23 - 8:25Assim, já acreditam que estão vivos.
-
8:25 - 8:28Estas são diatomáceas.
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8:28 - 8:30Estes são minerais.
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8:30 - 8:33Isto é um mineral com bactérias.
-
8:33 - 8:35Aquele redondinho é uma bactéria.
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8:36 - 8:38Mas não é só isso.
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8:38 - 8:42Em Socompa, para além de encontrarmos
estromatólitos vivos, -
8:42 - 8:45encontramos estromatólitos fósseis.
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8:45 - 8:48Por isso, chamamos-lhe o Parque Jurássico
microbiano, como no filme. -
8:49 - 8:52O paleontólogo,
com um crânio de dinossauro, -
8:52 - 8:57pensava como seria a socialização
dos velociraptor. -
8:58 - 9:00Depois encontrou o velociraptor vivo.
-
9:00 - 9:01Aqui é a mesma coisa.
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9:01 - 9:05Fazemos uma pergunta aos fósseis,
podemos compará-los com os modernos. -
9:05 - 9:08É um dos poucos locais,
ou mesmo o único local no mundo, -
9:08 - 9:11onde há coexistência
de estromatólitos fósseis e modernos. -
9:11 - 9:14Se observarmos ao microscópio eletrónico,
não encontramos diferenças -
9:15 - 9:17entre o que está fossilizado
e o que é moderno. -
9:17 - 9:21A parte fóssil está tão bem conservada
que não há diferença. -
9:21 - 9:24Porquê? Porque estamos
ao pé de um vulcão ativo, -
9:24 - 9:28um vulcão que elimina o silício
nas suas cinzas. -
9:28 - 9:30Isto faz-nos recordar,
por exemplo, Pompeia. -
9:30 - 9:34Como sabem, uma cidade
que ficou totalmente mumificada -
9:34 - 9:35com as cinzas de um vulcão.
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9:35 - 9:37Aqui passa-se o mesmo.
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9:37 - 9:40Temos bactérias modernas
dum estromatólito moderno -
9:41 - 9:43e de um estromatólito fóssil.
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9:43 - 9:45Mas vamos mais longe.
-
9:45 - 9:49Já contei que Marte
passou por ciclos evolutivos, -
9:49 - 9:52em que poderá ter tido condições
para albergar vida. -
9:52 - 9:57A sonda Rover tirou fotos de Marte
-
9:57 - 10:00muito intrigantes
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10:00 - 10:04que dão estas estruturas muito parecidas
com as que encontramos em Socompa, -
10:04 - 10:07estas montanhas estratificadas fósseis,
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10:07 - 10:10muito parecidas
com as partes estratificadas -
10:10 - 10:12de estromatólitos fósseis de Socompa.
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10:12 - 10:16Se observarmos ao microscópio eletrónico,
também nos chama a atenção -
10:16 - 10:19o que se encontra em Marte
com o que se encontra em Socompa. -
10:19 - 10:21Estes são estromatólitos vivos.
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10:21 - 10:26Estamos a criá-los,
como mascotes, no laboratório. -
10:26 - 10:30Cada estromatólito tem o nome
de um dos meus filhos. -
10:30 - 10:34Os estromatólitos estão vivos
desde há 3800 anos -
10:34 - 10:38- não estes, mas os estromatólitos
como forma de vida - -
10:38 - 10:41estão vivos desde há 3800 milhões de anos.
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10:41 - 10:43Houve três extinções em massa na Terra.
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10:43 - 10:47E eles conseguiram,
depois de um efeito de estufa, -
10:47 - 10:50voltar a captar o dióxido de carbono,
libertar oxigénio -
10:50 - 10:54e preparar a Terra
para uma nova forma de vida. -
10:55 - 10:59Os estromatólitos têm
muitas aplicações biotecnológicas -
10:59 - 11:02como, por exemplo, os biocombustíveis,
a medicamentação biológica. -
11:02 - 11:06Foram captadores perfeitos
do dióxido de carbono. -
11:06 - 11:09Isto faz-nos recordar
o aquecimento global. -
11:09 - 11:13Podíamos usá-los para poder
inverter os danos -
11:13 - 11:15que estamos a fazer ao meio ambiente.
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11:15 - 11:19Depois de descobrirmos
os estromatólitos em Socompa, -
11:19 - 11:22fomos, com uma sensação de contrarrelógio,
procurar outros ambientes. -
11:22 - 11:25Quando mudamos a forma de ver,
tudo se torna diferente. -
11:25 - 11:28Encontrámos estromatólitos
também em Tolar Grande. -
11:29 - 11:31Os Ojos de Mar de Tolar Grande.
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11:31 - 11:33Isto não é Caribe, isto é la Puna
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11:33 - 11:35e estes são recifes de estromatólitos.
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11:35 - 11:38Na Lagoa Diamante, dentro
da cratera do vulcão Galán, -
11:38 - 11:42a 4700 metros de altitude
está a Lagoa Diamante, -
11:42 - 11:44onde temos um pH muito alto,
-
11:44 - 11:47uma salinidade que é oito vezes
a salinidade do mar -
11:47 - 11:51e uma concentração de arsénico
nunca antes registada: 230 mg/l. -
11:52 - 11:53Nessas condições, há vida,
-
11:53 - 11:56há bactérias a formar
esta espécie de estruturas -
11:56 - 11:58muito parecidas com as da Terra primitiva.
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11:58 - 12:02Também os encontramos em Jujuy,
em Salta, em Llullaillaco, -
12:02 - 12:04no Salar de Antofalla.
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12:04 - 12:07Esta cor é natural, são bactérias.
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12:07 - 12:11A partir deste momento,
espero ter-vos convencido -
12:11 - 12:13e que tenham percebido
o que é um estromatólito. -
12:13 - 12:16Agora vou contar-vos
a minha experiência pessoal, -
12:16 - 12:19o que significou ter feito
esta descoberta. -
12:19 - 12:20Eu tinha dois caminhos:
-
12:20 - 12:23fazer o caminho típico
do cientista, que é publicar. -
12:23 - 12:26Primeiro estudá-la
- o que leva muito tempo - -
12:26 - 12:29e depois publicá-la e contá-la
a outros cientistas. -
12:30 - 12:32Mas, paralelamente,
dei-me conta que, em la Puna, -
12:32 - 12:34nos locais onde estavam
estas descobertas -
12:34 - 12:36havia problemas e eram graves.
-
12:36 - 12:38Um dos problemas era, por exemplo,
-
12:38 - 12:41a contaminação que havia
em Ojos de Mar de Tolar Grande. -
12:41 - 12:43Uma contaminação que estava a matar
-
12:43 - 12:49os estromatólitos em Ojos de Mar.
-
12:50 - 12:53Outro problema é a iminente
exportação de água -
12:54 - 12:58de la Puna para o Chile,
-
12:58 - 13:01para ser usada na exploração mineira.
-
13:01 - 13:05Levar água do Pacífico a 500 km,
dessalinizá-la e usá-la -
13:05 - 13:07é muito mais caro do que
levar a água a 45 km -
13:07 - 13:10que é água doce do lado de la Puna.
-
13:10 - 13:13Ou seja, estes ambientes
correm grandes riscos. -
13:13 - 13:14A exploração mineira.
-
13:14 - 13:18A Argentina tem a terceira reserva
mundial de lítio. -
13:18 - 13:20Não há um milímetro quadrado de la Puna
-
13:20 - 13:23que não esteja concessionado ou explorado
-
13:23 - 13:25para a exploração mineira,
sobretudo, nos Salares. -
13:25 - 13:27Todos estes ambientes
precisam de água -
13:27 - 13:31e estão associados
aos Salares de la Puna. -
13:31 - 13:33Outro problema era a pilhagem.
-
13:33 - 13:36A pilhagem para empresas biotecnológicas.
-
13:36 - 13:37Ninguém dá por isso.
-
13:37 - 13:40Um pedaço de estromatólito é pequenino,
qualquer um pode levá-lo, -
13:40 - 13:42ou um turista leva-o como recordação.
-
13:42 - 13:47Era necessário legislar,
era necessário vigiar o local, -
13:47 - 13:52era necessário determinar
áreas restritas -
13:52 - 13:54e era necessário arranjar dinheiro
para a investigação. -
13:55 - 13:56Como fazer?
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13:56 - 14:00Somos cientistas, pouco conhecidos,
estamos em Tucumán. -
14:01 - 14:05Uma pessoa que me inspirou muito
foi a Dra. Teresa Manera de Bianco, -
14:05 - 14:08que. há 20 anos, descobriu
umas pegadas em Pehuencó, -
14:08 - 14:11umas pegadas de fósseis extintos.
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14:11 - 14:14Passou 20 anos e teve de ganhar
o prémio Rolex -
14:14 - 14:16para esse local ser reconhecido,
-
14:16 - 14:22ser declarado reserva e ser preservado
dos camiões 4x4. -
14:22 - 14:26Passou 20 anos a ver como a sua descoberta
-
14:26 - 14:27se ia destruindo pouco a pouco.
-
14:27 - 14:30Tinha a minha idade quando as descobriu.
-
14:30 - 14:34Ao fim de 20 anos, pôde passar
o primeiro verão com a zona vedada. -
14:34 - 14:39Ao falar com ela, disse-me que
o cientista que descobre qualquer coisa -
14:39 - 14:41deve assumir a responsabilidade
pela sua descoberta. -
14:42 - 14:43Como fazer isso?
-
14:43 - 14:46A forma que encontrei
foi a divulgação científica. -
14:46 - 14:52A divulgação científica
requer três coisas. -
14:52 - 14:55Primeiro, que o cientista
saiba falar de uma forma clara -
14:55 - 14:59para toda a gente entender o que é,
por exemplo, um estromatólito. -
14:59 - 15:02Também requer uma sociedade
-
15:02 - 15:05que se interesse pelo que é
um estromatólito, -
15:05 - 15:08uma sociedade que não se se interesse
apenas por ver o Tinelli na TV. -
15:08 - 15:10Uma sociedade que creio
que existe agora -
15:10 - 15:13que se interesse pelo canal Encuentro,
pelo canal Discovery Channel, -
15:13 - 15:15que tenha outros interesses.
-
15:15 - 15:18Creio que a nossa sociedade
estava preparada para isto. -
15:18 - 15:21Por outro lado, são precisos
jornalistas científicos -
15:21 - 15:25que saibam divulgar as coisas
de uma forma correta. -
15:25 - 15:26Isso aconteceu.
-
15:27 - 15:29Os primeiros a inteirarem-se
da descoberta, -
15:29 - 15:34por uma questão de total respeito,
foram os habitantes de Tolar Grande. -
15:34 - 15:38Numa assembleia, contámos-lhes
o que tínhamos encontrado. -
15:38 - 15:40Pedimos autorização a Pacha Mama,
-
15:40 - 15:42antes de fazermos as investigações.
-
15:43 - 15:47Depois, saiu o diário El Tribuno,
de Salta, no dia 26 e 27 de agosto, -
15:47 - 15:51sucessivamente, foi capa
do diário El Tribuno. -
15:51 - 15:56Nessa mesma tarde, ligaram-me
da Medio Ambiente, da província de Salta -
15:56 - 15:58para me perguntarem o que se passava.
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15:58 - 16:00A tudo isso, disse muitas vezes:
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16:00 - 16:03"Cuidado, é uma coisa
muito especial, podemos perdê-la". -
16:03 - 16:05Saiu no diário, nessa mesma tarde,
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16:05 - 16:08estava eu a ir a Salta para me reunir
com as pessoas da Medio Ambiente. -
16:08 - 16:10Daí passou para o diário Clarín.
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16:10 - 16:13Foi uma explosão, num dia
dei cerca de 40 entrevistas, -
16:13 - 16:15toda a gente queria saber
dos estromatólitos. -
16:15 - 16:17Daí passou para La Nación,
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16:17 - 16:21e comecei a ter uma ideia do poder
que tinham os meios de comunicação -
16:21 - 16:26e animei-me a pedir
que era preciso mudar as leis -
16:26 - 16:29para que os estromatólitos
fossem declarados património nacional. -
16:29 - 16:32Nessa mesma tarde ligaram-me
do Senado da Nação. -
16:32 - 16:34Saiu na Wikipedia, e chegou à Nature.
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16:35 - 16:36Nature! Nós somos de Tucumán.
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16:36 - 16:40Estão a ver a emoção de ler a palavra
Tucunán na revista Nature? -
16:40 - 16:44De toda esta história,
restou-me um conceito. -
16:45 - 16:49Uma descoberta científica,
quando é divulgada pelos "media", -
16:49 - 16:51tem um impacto turístico.
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16:51 - 16:54Começou a aparecer muita gente
porque isto saiu em todo o mundo. -
16:55 - 16:59Depois de aparecer na Nature,
divulgou-se em todos os diários -
16:59 - 17:01na parte científica do mundo.
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17:01 - 17:02Tem um impacto turístico.
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17:02 - 17:04Começou a haver muito mais turismo,
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17:04 - 17:07para conhecer os estromatólitos
de Tolar Grande, de Socompa. -
17:07 - 17:15Teve um impacto na comunidade
porque traz muitos recursos económicos. -
17:15 - 17:19Tem um impacto no meio ambiente
e requer uma resposta do governo. -
17:19 - 17:23Que resposta se conseguiu
nestes dois anos, até agora? -
17:24 - 17:27Quanto às infraestruturas,
conseguimos que Tolar, -
17:27 - 17:30uma aldeia de 100 habitantes
que está a oito horas de Salta -
17:30 - 17:32e a três horas do Chile,
no meio do nada, -
17:32 - 17:35tenha uma rede de esgotos.
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17:35 - 17:38Isso ocorreu há um ano e meio.
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17:38 - 17:42Estamos na Argentina, estamos em la Puna,
estamos na província de Salta. -
17:42 - 17:47Conseguiu-se que se fizesse uma vedação
da zona de Ojos de Mar, de Tolar Grande. -
17:47 - 17:49Agora, está a fazer-se um percurso
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17:49 - 17:52para os turistas que o vão visitar
não pisarem o local. -
17:53 - 17:58Quanto ao turismo,
isto é um conceito muito claro, -
17:58 - 18:01nada se pode preservar
se não der dinheiro. -
18:02 - 18:05Então, a forma de preservar isto
é que dê dinheiro. -
18:05 - 18:08De que forma pode dar dinheiro?
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18:08 - 18:11Com o turismo extremo,
com o turismo alternativo. -
18:12 - 18:15O conceito que quero introduzir
é o turismo científico. -
18:15 - 18:19Primeiro, preparar
as pessoas de Tolar Grande -
18:19 - 18:23para poderem ser os guias
e contar o que é um estromatólito. -
18:23 - 18:28Depois, fazer uma rota de turismo,
de turismo científico. -
18:28 - 18:30A rota da origem da vida,
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18:31 - 18:35em que o turista tem de ir num camião 4x4,
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18:36 - 18:38sai de Jujuy e chega a La Rioja.
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18:38 - 18:39Tudo por la Puna,
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18:40 - 18:43fazendo uso de todas as infraestruturas
das comunidades originais, -
18:43 - 18:48promovendo o desenvolvimento económico
nas comunidades originais. -
18:49 - 18:52Também se vai fazer
um centro de interpretação -
18:52 - 18:55que vai desde
a origem da vida no Universo, -
18:55 - 18:58em conjunto com a Universidade de Córdova.
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18:58 - 19:00É um projeto do Ministério Nacional
da Ciência e da Técnica. -
19:01 - 19:03Também conseguimos resultados científicos,
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19:03 - 19:06como o orgulho de termos sequenciado
o primeiro genoma na Argentina. -
19:06 - 19:09Até há um ano,
isto era feito no estrangeiro. -
19:09 - 19:13As informações genéticas
e as aplicações biotecnológicas -
19:13 - 19:15não eram feitas no país.
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19:15 - 19:19Fez-se o primeiro metagenoma
também de estromatólitos em Socompa, -
19:19 - 19:22e conseguiu-se
um financiamento por concurso -
19:22 - 19:25para fazer investigação científica
-
19:25 - 19:29que possa sustentar
a preservação deste local. -
19:29 - 19:35Na parte da conservação, o projeto
em que estamos envolvidos, -
19:35 - 19:37é a Arca de Noé dos micro-organismos.
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19:37 - 19:41Oxalá que todos estes locais
possam ser preservados. -
19:41 - 19:44Oxalá que cheguemos a tempo
com o tema da exportação da água, -
19:44 - 19:46com os interesses mineiros.
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19:46 - 19:48Mas, no caso de não poderem
ser preservados, -
19:48 - 19:51pelo menos, recuperar, guardar,
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19:51 - 19:54ter em laboratório a coleção dos genes,
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19:54 - 19:58que podem dar-nos um montão de respostas
sobre a origem da vida -
19:58 - 20:01e sobre problemas biotecnológicos
da humanidade. -
20:01 - 20:04Outra das grandes coisas
que se conseguiram -
20:04 - 20:07e que creio é o maior orgulho
que tenho até agora, -
20:07 - 20:10depois dos meus três filhos,
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20:10 - 20:17é que foi declarada a área protegida
na Lagoa Socompa -
20:17 - 20:19e nos Ojos de Mar de Tolar Grande.
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20:20 - 20:22Há que pensar que se declarou
uma área protegida -
20:22 - 20:25numa zona de muito interesse
para a indústria mineira -
20:25 - 20:28e declarou-se uma área protegida
-
20:28 - 20:32por bactérias que só se veem
num microscópio, -
20:32 - 20:35não são flamingos, nem ursos polares,
são bactérias. -
20:35 - 20:38Conseguiu-se isso em março deste ano.
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20:38 - 20:40O projeto em que estou envolvida
-
20:41 - 20:44e estou em contacto com cientistas
que têm projetos com a NASA, -
20:44 - 20:48é declarar que os estromatólitos
de todo o mundo -
20:48 - 20:50são património científico da humanidade,
-
20:50 - 20:55porque têm muitas coisas para contar
sobre a origem da vida na Terra. -
20:55 - 20:59Finalmente, quero deixar-vos
uma mensagem: salvem as bactérias. -
20:59 - 21:00Muito obrigada.
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21:00 - 21:04(Aplausos)
- Title:
- Estromatólitos e a origem da vida | María Eugenia Farías | TEDxRíodelaPlata
- Description:
-
A Dra. María Eugenia Farías conta-nos o seu estudo da microbiologia dos salares e lagoas de la Puna andina e, em especial, a sua descoberta dos estromatólitos em la Puna, em Salta. Sublinha o papel que os cientistas têm de comunicar as suas descobertas, protegê-las e difundi-las, o que, neste caso, levou a uma melhoria considerável das condições da comunidade onde se realizou a sua investigação.
Esta palestra foi feita num evento TEDx usando o formato de palestras TED, mas organizado independentemente por uma comunidade local. Saiba mais em http://ted.com/tedx
- Video Language:
- Spanish
- Team:
closed TED
- Project:
- TEDxTalks
- Duration:
- 21:10